Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
− Introdução −1
Introdução:
Assim, os Credos da Reforma e que surgiram por sua inspiração, tinham três ob-
jetivos específicos:
1
Estudo ministrado na Escola Dominical da Igreja Presbiteriana em São Bernardo do Campo, SP., no
dia 15 de março de 2009.
2
Vd. Jack B. Rogers, Autoridade e Interpretação da Bíblia na Tradição Reformada: In: Donald K. Mc-
Kim, ed. Grandes Temas da Tradição Reformada, São Paulo: Pendão Real, 1998, p. 41.
A Ortodoxia Protestante e as Confissões Protestantes: Introdução – Rev. Hermisten – 15/03/09 – 2
1. Definindo Termos:
Até onde se sabe, foi Inácio, bispo de Antioquia o primeiro escritor cristão a usar a
expressão “heterodoxia” para se referir aos falsos ensinamentos (c. 110 AD). Na
Carta aos Magnésios, VIII.1, diz: “Não vos deixeis iludir pelas doutrinas hetero-
5
doxas, nem pelos velhos mitos sem utilidade”. Na Carta aos Esmirnenses, VI.2,
escreve: “Considerai bem como se opõem ao pensamento de Deus os que
se prendem a doutrinas heterodoxas a respeito da graça de Jesus Cristo,
6
vinda a nós”.
3
Encontramos apenas o verbo “o)rqodo/cein” em Aristóteles (384-322 a.C.), com o sentido de “reta o-
pinião”. (Aristóteles, Ética a Nicômaco, São Paulo: Abril Cultural, (Os Pensadores, Vol. IV), 1973, VI-
I.8. 1151a19. p. 368). Platão (427-347 a.C.) nos fala do “reto juízo” (= “mente reta”) (nou=j o)rqo/j).
(Fedro, São Paulo: Abril Cultural, (Os Pensadores, Vol. III), 1972, 73a. p. 82). Eusébio de Cesaréia, c.
325 AD., usou a palavra “ortodoxia” com alguma freqüência, referindo-se a Irineu, Clemente e Oríge-
nes, como aqueles que representavam a “ortodoxia da Igreja” [Eusebio de Cesarea, Historia Eclesi-
ástica, Madrid: La Editorial Catolica, S.A. (Biblioteca de Autores Cristianos, Vols. 349 e 350), 1973, II-
I.23.2/VI.2.14; VI.36.4; Eusébio também fala da “verdadeira ortodoxia” (HE., III.25.7); “ortodoxia apos-
tólica” (Historia Eclesiastica, III.31.6; 38.5); “ortodoxia da santa fé” (HE., IV.21/V.22); “ortodoxia ecle-
siástica” (HE., VI.18.1); “autores ortodoxos” (HE., V.27).
Dionísio – convertido pela instrumentalidade de Paulo em Atenas, que se tornara bispo de Corinto
–, escreve carta às Igrejas, as quais Eusébio diz que eram “catequeses de ortodoxia” (HE., IV.23.2).
Berilo, bispo de Bostra, entre os árabes, “opinava retamente” (HE., VI.33.2).
4
”....o)rqopodou=sin pro\j th\n a)lh/qeian tou= eu)aggeli/ou....”. O Novo Testamento oferece-nos outros
Textos que insistem no ensino do verdadeiro Evangelho, conforme o estabelecido por Deus em Sua
Palavra. (Vd. Rm 16.17;1Co 15.1-11; 2Co 11.2; Gl 1.6-9; 2Tm 2.15; 4.3-4).
5
In: Cartas de Santo Inácio de Antioquia, 3ª ed. Petrópolis, RJ.: Vozes, 1984, p. 53.
6
In: Cartas de Santo Inácio de Antioquia, p. 80. Mais tarde, c. 325, Eusébio de Cesaréia usaria a ex-
pressão aludindo aos ensinamentos de Paulo de Samosata (Vd. Eusebio de Cesarea, HE., VII.28.2;
29.1; 30.1) e àqueles que se desviaram das Escrituras para ensinos “heterodoxos” (HE., VI.12.2). O
bispo de Roma Vitor tentando disciplinar as Igrejas da Ásia, alegou que elas eram heterodoxas (HE.,
V.24.9).
A Ortodoxia Protestante e as Confissões Protestantes: Introdução – Rev. Hermisten – 15/03/09 – 3
7
nodo de Cartago (397)], quando a Igreja decidia as questões pertinentes à fé con-
forme os padrões adotados; deste modo, o que se harmonizasse com este padrão
8
era considerado “ortodoxo”, o que era contrário, era “heterodoxo”. Posteriormente,
9
a Igreja Oriental se declarou “Santa Ortodoxa Apostólica”.
2) A verdade é conhecida;
2. Conceituando:
7
Vd. Hermisten M.P. Costa, A Inspiração e Inerrância das Escrituras: Uma Perspectiva Reformada,
2ª Ed. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2008.
8
Vd. Orthodoxy: In: Rev. John M’Clintock & James Strong, eds. Cyclopaedia of Biblical, Theological,
and Ecclesiastical Literature, New York, Harper & Brothers, Publishers, Franklin Square, 1894, Vol.
VII, p. 460. (Doravante, citado como CBTEL). Devemos nos lembrar que os Pais da Igreja e alguns
Concílios usavam com certa freqüência a expressão “cânon” (kanw/n) para distinguir os ensinamentos
da Igreja cristã das heresias que surgiam. Para uma substancial documentação sobre isto, Vd. Her-
misten M.P. Costa, A Inspiração e Inerrância das Escrituras: Uma Perspectiva Reformada, passim.
9
Vd. Orthodoxy: In: Philip Schaff, ed. Religious Encyclopaedia: Or Dictionary of Biblical, Historical,
Doutrinal, and Practical Theology, Chicago: Funk & Wagnalls, Publishers, (revised edition), 1887,
Vol. II, p. 1707a. (Doravante citado como RED); Orthodoxy: In: CBTEL., VII, p. 460b. J.I. Packer, Or-
todoxia: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, São Paulo: Vida
Nova, 1988-1990, Vol. III, p. 70. (Doravante citado como EHTIC).
10
Hugh Trevor-Roper, A Formação da Europa Cristã, Lisboa: Editorial Verbo, [s.d], p. 143.
A Ortodoxia Protestante e as Confissões Protestantes: Introdução – Rev. Hermisten – 15/03/09 – 4
uma preocupação profunda e sistemática pelo rigor doutrinário, elaborando com ri-
queza de detalhes os posicionamentos teológicos da igreja, conforme a compreen-
são da amplitude da revelação bíblica. Podemos dizer que este período consistiu na
sistematização das doutrinas da Reforma. Normalmente a Ortodoxia Luterana é
11
colocada a partir do Livro da Concórdia (1580), livro que contém todos os símbo-
los aceitos pela Igreja Luterana; e a Ortodoxia Reformada, como tendo sido ar-
quitetada a partir dos escritos de Teodoro de Beza (1519-1605), e H. Zanchi (1516-
12
1590).
Todavia, se isso ocorreu, não foi porque os teólogos dessa época ensinaram tal
prática, mas sim devido a um desvirtuamento da ênfase apresentada. Não pode-
mos simplesmente identificar a ênfase num ponto, como se significasse a exclusão
dos demais. Em outras palavras, a ênfase na fidelidade doutrinária não equivale a
um desmerecimento da piedade cristã. Por outro lado, devemos estar atentos ao
fato de que a visão preconceituosa desse período, tem feito com que não consi-
gamos enxergar as contribuições positivas da teologia sistematizada nessa época,
das quais somos herdeiros diretos ou indiretos. W. Robert Godfrey, observa acerta-
damente, que “o desenvolvimento da teologia escolástica não pode ser cari-
caturizado como um exercício acadêmico, árido e irrelevante, em conflito
13
com a vida e a piedade da Igreja”.
Acredito que um exame mais detido deste período, revelará a sua importância
como elemento fundamental para que a Reforma pudesse ter sobrevivido e final-
11
Cf. Bengt Hägglund, História da Teologia, Porto Alegre, RS.: Casa Publicadora Concórdia, 1973,
p. 259, 263; Arthur C. Piepkorv, Orthodoxy: In: Encyclopaedia Britannica, 1973, Vol. 16, p. 1126a;
Carl E. Braaten, Prolegômenos à dogmática cristã: In: Carl E. Braaten & Robert W. Jenson, eds.
Dogmática Cristã, São Leopoldo, RS.: Sinodal, Vol. I, 1990, p. 57. Veja-se: Jan Rohls, Reformed
Confessions: theology from Zurich to Barmen, Louisville, Kentucky: Westminster John Knox Press,
1998, p. 9.
12
Cf. Arthur C. Piepkorv, Orthodoxy: In: Harry S. Ashmore, Editor in Chief. Encyclopaedia Britannica,
Chicago: Encyclopaedia Britannica, INC. 1973, Vol. 16, p. 1126b. Leith, McGrath e Piepkorv tomam
como ponto de partida para a definição deste período o ano da morte de Calvino (1564) (Vd. John H.
Leith, A Tradição Reformada: Uma maneira de ser a comunidade cristã, São Paulo: Pendão Real,
1997, p. 171; Alister E. McGrath, Christian Theology: An Introduction, Cambridge, Massachusetts:
Blackwell Publishers, 1994, p. 69; Arthur C. Piepkorv, Orthodoxy: In: EB., 1973, XVI, p. 1126b). Mc-
Grath acentua que o período entre 1559-1622 é caracterizado pelo ênfase doutrinária. (Alister E. Mc-
Grath, Christian Theology: An Introduction, p. 70). Estes pequenos contrastes, servem para ilustrar a
observação do luterano Braaten, de que “a ortodoxia do cristianismo reformado estava definida
com muito menos clareza do que a luterana” (Carl E. Braaten, Prolegômenos à dogmática cris-
tã: In: Dogmática Cristã, Vol. I, p. 57). Segundo Muller, a Ortodoxia pode ser dividida em três perío-
do: Ortodoxia Primitiva: (c. 1565-1640); Alta Ortodoxia: (c. 1640-1700) e Ortodoxia Tardia: (c. 1700-
1790). (Richard A. Muller, Post-Reformation Reformed Dogmatics, Grand Rapids, Michigan: Baker
Book House, 1987, Vol. 1, p. 14ss; 42-52).
13
W. Robert Godfrey, Calvino e o Calvinismo nos Países Baixos: In: W. Stanford Reid, ed. Calvino e
Sua Influência no Mundo Ocidental, , São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1990, p. 133.
A Ortodoxia Protestante e as Confissões Protestantes: Introdução – Rev. Hermisten – 15/03/09 – 5
Paul Tillich (1886-1965), mesmo não sendo um teólogo “ortodoxo”, enfatiza em di-
ferentes lugares, a importância do Escolasticismo Protestante:
3. Elementos Geradores:
Para que possamos fazer uma análise objetiva deste período, temos que con-
siderar alguns pontos ligados ao seu contexto histórico.
14
Paul Tillich, História do Pensamento Cristão, São Paulo: ASTE., 1988, p. 251. Do mesmo modo,
entende John H. Leith. (Vd. Creeds of the Churches, New York: Anchor Books, 1963, Vol. I, p. 308-
309).
15
Paul Tillich, Perspectivas da Teologia Protestante nos Séculos XIX e XX, São Paulo: ASTE., 1986,
p. 36.
16
Bernhard Lohse, A Fé Cristã Através dos Tempos, 2ª ed. São Leopoldo, RS.: Sinodal, 1981, p.
231.
A Ortodoxia Protestante e as Confissões Protestantes: Introdução – Rev. Hermisten – 15/03/09 – 6
17
Vd. Alister E. McGrath, The Intellectual Origins of The European Reformation, Cambridge, Massa-
chusetts: Blackwell Publishers, 1993, p. 191ss. Abbagnano coloca a questão nesses termos: “Os
platônicos viam no platonismo a síntese do pensamento religioso da Antigüidade e, por con-
seguinte, no regresso ao platonismo, a condição do renascimento religioso. Os aristotélicos
viam no aristotelismo o modelo de ciência naturalista e, por conseguinte, no regresso ao na-
turalismo, o renascimento da pesquisa na natureza” (Nicola Abbagnano, História da Filosofia,
3ª ed. Lisboa: Editorial Presença, 1984, Vol. 5, § 360, p. 109).
18
Vd. Guillermo Fraile, Historia de la Filosofia, Madrid: La Editorial Catolica, 1966, Vol. III, p.
101ss.; Johannes Hirschberger, História da Filosofia Moderna, p. 26ss.; Nicola Abbagnano, Histó-
ria da Filosofia, Vol. 5, § 353, p. 90ss.; § 360, p. 109ss; Federico Klimke & Eusebio Colomer, Historia
de la Filosofía, 3ª ed. Barcelona: Editorial Labor, 1961, p. 385ss.
19
G. Fraile, História da Filosofia Moderna, p. 139. Mesmo havendo dúvida em determinados círcu-
los protestantes a respeito do humanismo, Melanchthon insistia: “Quem quer que hoje, sob pre-
texto da religião, abomina as boas letras, é mais feroz do que um urso e mais ímpio do que
jamais foram os epicureus turcos” (Apud N. Abbagnano & A. Visalberghi, Historia de la Pedagog-
ía, Novena reimpresión, México: Fondo de Cultura Económica, 1990, p. 260). Kristeller afirma que
“Melanchton, o defensor da retórica contra a filosofia que, sob muitos aspectos da Alema-
nha luterana, teve mais influência do que o próprio Lutero e foi responsável pela tradição
humanística nas escolas protestantes alemãs até ao século XIX” (Paul Kristeller, Tradição Clás-
sica e Pensamento do Renascimento, Lisboa: Edições 70, (1995), p. 90).
20
Cf. René Hubert, História da Pedagogia, 2ª ed. (refundida), São Paulo: Companhia Editora Na-
cional, 1967, p. 44.
21
Sob a influência de Beza, a Lógica Silogística de Aristóteles veio a ser um componente essencial
no currículo da Academia de Genebra. (Vd. Alister E. McGrath, The Intellectual Origins of The Euro-
pean Reformation, p. 194). Beza exerceu uma influência considerável sobre os Reformados; ele que
sucedeu a Calvino na Academia de Genebra, lecionando teologia durante quarenta anos (1559-
1599) e escrevendo entre outras obras, Tractationes Theologicae (1570-1582) (3 Vols.), na qual ex-
pôs a Teologia Reformada, usando a lógica aristotélica. (Vd. Alister E. McGrath, Christian Theology:
An Introduction, p. 72).
A Ortodoxia Protestante e as Confissões Protestantes: Introdução – Rev. Hermisten – 15/03/09 – 7
22
mesmo modo Escolástico.
2) A CONTROVÉRSIA PROTESTANTE:
3) A CONFIANÇA NA RAZÃO:
22
Cf. R.J. Vandermolen, Escolasticismo Protestante: In: Walter A. Elwell, ed. EHTIC., Vol. II, p. 43.
23
John H. Leith, A Tradição Reformada: Uma maneira de ser a comunidade cristã, p. 172.
24
Vd. Alister E. McGrath, Christian Theology: An Introduction, p. 70.
25
"Reagindo contra a explosão violenta do heroísmo dos homens da Renascença, o jesui-
tismo pregava a doutrina da submissão e proclamava a obediência sistemática (...). Mas es-
ta abdicação formal da vontade, assim pregada, não era simplesmente uma regra de
consciência religiosa; pois o jesuitismo soubera conciliar a transcendência com a realidade,
e dar ao misticismo um caráter prático. Era uma ordem da moral positiva, e o primeiro prin-
cípio da educação: o sacrifício da vontade é uma abdicação real, nas mãos dos confesso-
res e ministros de Deus, padres da Companhia" (J.P. Oliveira Martins, Historia de Portugal, 6ª ed.
Lisboa: Parceria Antonio Maria Pereira Livraria Editora, 1901, Tomo II, p. 86).
26
Earle E. Cairns, O Cristianismo Através dos Séculos, p. 284. (Vd. W. Robert Godfrey, Calvino e
o Calvinismo nos Países Baixos: In: W. Stanford Reid, ed. Calvino e Sua Influência no Mundo Ociden-
tal, , São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1990, p. 133).
A Ortodoxia Protestante e as Confissões Protestantes: Introdução – Rev. Hermisten – 15/03/09 – 8
27
reduzir a vida cristã à razão, esquecendo-se que ela é mais do que isso. Todavia
não nos parece que era este o seu desejo; antes, partindo do princípio de que Deus
é senhor de todo o saber, de toda a verdade, lançaram-se em sua busca, compre-
endendo que tal tarefa é uma prerrogativa do homem.
4) A PRESERVAÇÃO DA SÃ DOUTRINA:
O objetivo dos teólogos desse período, foi preservar a doutrina bíblica de he-
resias, principalmente das heresias romanas, apresentando um todo sistematizado
que pudesse servir de manual doutrinal e confessional da Igreja. “O elemento
doutrinário tornou-se muito mais importante para a ortodoxia do que para a
Reforma, onde o elemento espiritual sempre teve mais valor do que as dou-
28
trinas fixas”. “Os limites entre as diversas confissões foram definitivamente
colocados. Cada igreja estava particularmente ocupada com a doutrina
29
pura”. De um modo especial na Alemanha, três grandes denominações se conso-
lidaram – Luteranos, Católicos e Calvinistas –, considerando, portanto, a grande ne-
cessidade de distinguirem-se entre si, apresentando o seu sistema doutrinário de
30
forma precisa e razoável.
27
Vd. John H. Leith, A Tradição Reformada: Uma maneira de ser a comunidade cristã, p. 172-173.
Em 1675, Spener (1635-1705) escreveria: “Quando o homem deixa que o paladar se acostu-
me a outras coisas atraentes à razão, aquelas [a simplicidade e os ensinamentos de Cristo]
tornam-se-lhe insípidas” (Phillip J. Spener, Mudança Para o Futuro: Pia Desideria, Curitiba, PR./
São Bernardo do Campo, SP.: Encontrão Editora/Instituto Ecumênico. Pós-Graduação em Ciências
da Religião, 1996, p. 48).
28
Paul Tillich, História do Pensamento Cristão, São Paulo: ASTE., 1988, p. 253.
29
B. Lohse, A Fé Cristã Através dos Tempos, p. 231.
30
Ver: Alister E. McGrath, Teologia, sistemática, histórica e filosófica: uma introdução à teologia cris-
tã, p. 113ss.
31
Vd. Bengt Hägglund, História da Teologia, p. 262; L. Berkhof, Introduccion a la Teologia, Grand
Rapids, Michigan: The Evangelical Literature League, © 1932, p. 80.
A Ortodoxia Protestante e as Confissões Protestantes: Introdução – Rev. Hermisten – 15/03/09 – 9
certas posições intransigentes eram tomadas no calor da disputa, que tinham por
fim, preservar a Igreja do que era considerado herético. Contudo, apesar dos ide-
ais nobres, com muita freqüência, o que restava era um ministério vazio e um en-
fraquecimento espiritual da Igreja.
Nichols comenta:
5) “A FÉ EXPLÍCITA”:
32
Robert Hastings Nichols, História da Igreja Cristã, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1978
(edição revisada), p. 198.
33
Que chama de “espectro papista” [J. Calvino, Exposição de Romanos, São Paulo: Paracletos,
1997, (Rm 10.17), p. 375] e, “fé forjada e implícita inventada pelos papistas. Pois por fé implíci-
ta eles querem dizer algo destituído de toda luz da razão” [João Calvino, As Pastorais, (Tt 1.1),
p. 299], que “separa a fé da Palavra de Deus” [J. Calvino, Exposição de Romanos, (Rm 10.17),
p. 375].
A Ortodoxia Protestante e as Confissões Protestantes: Introdução – Rev. Hermisten – 15/03/09 – 10
34
com a Igreja. Com este pretexto, porém, adornar com o nome de fé à
ignorância temperada com humildade, é o cúmulo do absurdo. Ora, a fé
jaz no conhecimento de Deus e de Cristo (Jo 17.3), não na reverência à
35
Igreja”. (grifos meus).
Em outro lugar:
34
Foi com este espírito que Calvino nos advertiu diversas vezes: "As cousas que o Senhor deixou
recônditas em secreto não perscrutemos, as que pôs a descoberto não negligenciemos, pa-
ra que não sejamos condenados ou de excessiva curiosidade, de uma parte, ou de ingrati-
dão, de outra" (J. Calvino, As Institutas, III.21.4). "Nem nos envergonhemos em até este ponto
submeter o entendimento à sabedoria imensa de Deus, que em Seus muitos arcanos su-
cumba. Pois, dessas cousas que nem é dado, nem é lícito saber, douta é a ignorância, a a-
videz de conhecimento, uma espécie de loucura" (As Institutas, III.23.8). ”Que esta seja a
nossa regra sacra: não procurar saber nada mais senão o que a Escritura nos ensina. Onde o
Senhor fecha seus próprios lábios, que nós igualmente impeçamos nossas mentes de avan-
çar sequer um passo a mais” [João Calvino, Exposição de Romanos, São Paulo: Edições Para-
cletos, 1997, (Rm 9.14), p. 330].
35
João Calvino, As Institutas, III.2.3. (Vd. também III.2.5ss). Em outras passagens, Calvino discorreu
sobre a fé; cito aqui algumas delas: "Fé verdadeira, é aquela que o Espírito de Deus sela em
nosso coração" (J. Calvino, As Institutas, I.7.5). “A fé não consiste na ignorância, senão no co-
nhecimento; e este conhecimento há de ser não somente de Deus, senão também de sua
divina vontade” (As Institutas, III.2.2). “É um conhecimento firme e certo da vontade de
Deus concernente a nós, fundamentado sobre a verdade da promessa gratuita feita em Je-
sus Cristo, revelada ao nosso entendimento e selada em nosso coração pelo Espírito Santo”
(As Institutas, III.2.7). “Nossa fé repousa no fundamento de que Deus é verdadeiro. Além do
mais, esta verdade se acha contida em sua promessa, porquanto a voz divina tem de soar
primeiro para que possamos crer. Não é qualquer gênero de voz que é capaz de produzir
fé, senão a que repousa sobre uma única promessa. Desta passagem, pois, podemos dedu-
zir a relação mútua entre a fé dos homens e a promessa de Deus. Se Deus não prometer,
ninguém poderá crer” [J. Calvino, Exposição de Hebreus, São Paulo: Edições Paracletos, 1997,
(Hb 10.23), p. 270]. "Fé verdadeira é aquela que ouve a Palavra de Deus e descansa em sua
promessa" [João Calvino, Exposição de Hebreus, (Hb 11.11) p. 318]. "Nossa fé não tem que estar
fundamentada no que nós tenhamos pensado por nós mesmos, senão no que nos foi pro-
metido por Deus" (Calvino, Sermones Sobre la Obra Salvadora de Cristo, Jenison, Michigan: TELL,
1988, "Sermon nº 13", p. 156).
36
João Calvino, Gálatas, (Gl 1.2), p. 25.
37
“A Escritura é a escola do Espírito Santo, na qual, como nada é omitido não só necessá-
rio, mas também proveitoso de conhecer-se, assim também nada é ensinado senão o que
convenha saber” (J. Calvino, As Institutas, III.21.3).
A Ortodoxia Protestante e as Confissões Protestantes: Introdução – Rev. Hermisten – 15/03/09 – 11
Essa necessidade, determina o uso cada vez mais evidente da razão, a fim de
apresentar de forma mais razoável possível a doutrina, e ao mesmo tempo, de for-
ma simples. Eis dois marcos do ensino ortodoxo: amplitude e simplicidade. O ser
humano é responsável diante de Deus; ele dará contas de si mesmo ao seu Cria-
dor; portanto, tendo oportunidade, ele precisa conhecer devidamente a Palavra de
Deus em toda a sua plenitude revelada.
Nesse período são compostas diversas “Confissões”, que além de visar preservar
a sã doutrina, objetivavam tornar clara e objetiva a fé dos crentes. Essas declara-
ções de fé precisavam ser, até certo ponto, completas. Entretanto, precisavam ao
mesmo tempo ser simples, para que o crente comum (não iniciado nas questões teo-
lógicas) pudesse entender o que estava sendo dito. Confrontando este ensinamento
com a Palavra de Deus, o crente teria, assim, uma compreensão bíblica da sua fé.
Nesse contexto e, com objetivos eminentemente didáticos, surgem os catecismos
(Gr. Kathxe/w = “ensinar”, “instruir”, “informar”. Cf. Lc 1.4; At 18.25; 21.21,24; Rm
2.18; 1Co 14.19; Gl 6.6.), constituídos, ainda que não exclusivamente, com pergun-
tas e respostas. Os catecismos visavam servir para instruir as crianças e os adul-
39
tos; este é o motivo que contribuiu decisivamente para a proliferação de catecis-
mos, sendo que a maioria deles jamais passou da forma manuscrita, visto que mui-
tos pastores os elaboravam apenas para a sua congregação local, visando atender
40
às suas necessidades doutrinárias.
pre inicia dizendo: "Como o chefe de família deve ensiná-lo à sua casa" ou: "Como o
chefe de família deve ensiná-lo com toda a simplicidade à sua casa" e expressões
similares.
***
É fato também, que a Ortodoxia Protestante num estágio posterior, mesmo sem
jamais ter ensinado isso, impulsionou a preocupação puramente doutrinária, acar-
retando uma estagnação espiritual, marcada por um formalismo vazio: ortodoxia
doutrinária e heterodoxia vivenciada.
Por certo, insistimos, este não era o desejo dos Reformadores, nem dos teólo-
gos ortodoxos do século XVII, mas o fato é que a Ortodoxia contribuiu na pavimen-
tação do caminho para o racionalismo. Por outro lado, todos os movimentos teoló-
gicos posteriores, sempre estiveram dependentes da ortodoxia clássica. O Pietis-
mo, como veremos, tentará subjetiva-la; O Liberalismo – cada grupo com sua ên-
fase específica – tentará superá-la, tendo a razão como elemento norteador de toda
a sua teologia. Nós, Reformados, somos herdeiros de muitíssimos de seus concei-
tos, os quais devem ser preservados, sempre em atenção ao Verbo Divino, susten-
tando uma fé viva em Cristo, que se manifeste em nossa doutrina e vida.
41
Lutero viajou pela Saxônia Eleitoral e por Meissen, entre 22/10/1528 e 09/01/1529.
42
Catecismo Menor: In: Os Catecismos, p. 363.
43
Paul Tillich, História do Pensamento Cristão, São Paulo: ASTE., 1988, p. 251.
A Ortodoxia Protestante e as Confissões Protestantes: Introdução – Rev. Hermisten – 15/03/09 – 13
44
De Chandieu estudou em Toulouse e Genebra, sendo pastor da Igreja Reformada em Paris
(1556-1562). Depois do Massacre de São Bartolomeu (23-24/08/1572), ele fugiu para Suiça, indo re-
sidir em Genebra, Lausanne e Aubonne.
45
Cf. P. Schaff, The Creeds of Christendom, 6ª ed. revised and enlarged, Grand Rapids, Michigan:
Baker Book House, 1977, Vol. I, p. 494; III, p. 356; E.E. Cairns, O Cristianismo Através dos Séculos:
Uma História da Igreja Cristã, São Paulo: Vida Nova, 1984, p. 257; W. Walker, História da Igreja Cris-
tã, São Paulo: ASTE, 1967, Vol. II, p. 111; K.S. Latourette, História del Cristianismo, 3ª ed. Buenos
Aires: Casa Bautista de Publicaciones, 1977, Vol. II, p. 117; Pierre Courthial, A Idade de Ouro do
Calvinismo na França: (1533-1633): In: W. Stanford Reid, ed. Calvino e sua Influência no Mundo O-
cidental, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1990, p. 93.
46
Cf. P. Schaff, The Creeds of Christendom, Vol. III, p. 356; N.V. Hope, Confissão Gaulesa: In: Wal-
ter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, I, p. 332.
47
Cf. W. Walker, História da Igreja Cristã, Vol. II, p. 111.
48
Cf. E.E. Cairns, O Cristianismo Através dos Séculos, p. 257.
49
Cf. dados de Coligny, citados por Jean Delumeau, A Civilização do Renascimento, Lisboa: Es-
tampa, 1984, Vol. I, p. 129
50
Cf. Jean Delumeau, O Nascimento e Afirmação da Reforma, São Paulo: Pioneira, 1989, p. 149-
150. Delumeau e Mcgrath citam estatística de Coligny, constando a França, em 1562, de mais de
2150 “comunidades” reformadas. (Jean Delumeau, A Civilização do Renascimento, Vol. I, p. 129; A-
lister E. Mcgrath, A Vida de João Calvino, p. 221).
51
Ver: Alister E. Mcgrath, A Vida de João Calvino, p. 221-222.
A Ortodoxia Protestante e as Confissões Protestantes: Introdução – Rev. Hermisten – 15/03/09 – 14
52
morto durante "O massacre de São Bartolomeu", 23-24/08/1572. Neste Sínodo, a
Confissão foi revisada, reafirmada e solenemente sancionada por Henrique IV, pas-
53
sando, desde então a ser também chamada de "Confissão de Rochelle". A Confis-
são Gaulesa influenciou profundamente a Confissão Belga (1561) e a Confissão dos
Valdenses (1655).
Esta Confissão foi escrita sob a liderança de John Knox (1505-1572), em qua-
tro dias por seis homens que tinham como prenome “John”: Spottiswoode, Millock,
Rowe, Douglas, Winram e Knox. A Confissão Escocesa foi adotada pelo Parlamento
escocês em 17 de agosto de 1560, sendo ratificada em 1567, quando o Parlamento
54
a adotou por decreto. Em 1572, todos os Ministros tiveram de subscrevê-la. Ela
permaneceu como Confissão Oficial da Igreja Reformada Escocesa até 1647, quan-
55
do então, a Igreja adotou a Confissão de Westminster.
52
Vd. W.S. Reid, Coligny: In: J.D. Douglas & Philip W. Comfort, eds. Who’s Who in Christian History,
Wheaton, Illinois: Tyndale House Publishers, Inc. 1992, p. 170; G. Bromiley, Beza: J.D. Douglas &
Philip W. Comfort, eds. Who’s Who in Christian History, p. 83; P. Schaff, The Creeds of Christendom,
Vol. I, p. 495; Pierre Courthial, A Idade de Ouro do Calvinismo na França: (1533-1633): In: W. Stan-
ford Reid, ed. Calvino e sua Influência no Mundo Ocidental, p. 97.
53
Vd. N.V. Hope, Confissão Gaulesa: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da I-
greja Cristã, I, p. 332; P. Schaff, The Creeds of Christendom, Vol. III, p. 356; Brian G. Armstrong,
French Confession: In: Donald K. McKim, ed. Encyclopedia of the Reformed Faith, Louisville, Ken-
tucky: Westminster/John Knox Press, 1992, p. 146.
54
Cf. P. Schaff, The Creeds of Christendom, Vol. I, p. 682.
55
Vejam-se: R. Kyle, Confissão Escocesa: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica
da Igreja Cristã, I, p. 300-301; K. S. Latourette, História del Cristianismo, I, p. 121; P. Schaff, The Cre-
eds of Christendom, Vol.I, p. 681-682; III, 437; W. Walker, História da Igreja Cristã, Vol. II, p. 98ss.
56
Cf. I. Breward, Saravia: In: J.D. Douglas, ed. ger. The New International Dictionary of the Christian
Church, 3ª ed. Grand Rapids, Michigan: Zondervan,1979, p. 878.
57
Frans Leonard Schalkwijk, Igreja e Estado no Brasil Holandês, (1630-1654), Recife, PE: FUNDAR-
TE, (Coleção Pernambucana, 2ª Fase, Vol. 25), 1986, p. 27. Quanto à parte do teor da carta, Vd.
Jorge P. Fisher, Historia de la Reforma, Barcelona: CLIE., (1984), p. 291.
A Ortodoxia Protestante e as Confissões Protestantes: Introdução – Rev. Hermisten – 15/03/09 – 15
5) CATECISMO DE HEIDELBERG:(1563)
Esta Confissão foi escrita por dois jovens teólogos: Caspar Olevianus (1536-c.
1587) – quem recebeu influência de Melanchton (1497-1560) e de Peter Martyr Ver-
58
Cf. Frans Leonard Schalkwijk, Igreja e Estado no Brasil Holandês, (1630-1654), p. 27.
59
Cf. J.P. Fisher, Historia de la Reforma, p. 291.
60
Cf. M. Eugene Osterhaven, Belgic Confession: Donald K. McKim, ed. Encyclopedia of the Reformed
Faith, p. 31.
61
Vd. P. Schaff, The Creeds of Christendom, Vol. I, p. 502-508; III, p. 383; J. Van Engen, Confissão
Belga: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, I, p. 330.
62
Cf. K.S. Latourette, História del Cristianismo, II, p. 167.
63
Quanto à origem e alterações do Livro de Oração Comum, vd. Hermisten M.P. Costa, Nossa He-
rança Litúrgica Reformada, São Paulo: 1990, p. 11-12.
64
David S. Schaff, Nossa Crença e a de Nossos Pais, 2ª ed. São Paulo: Imprensa Metodista, 1964, p.
31.
A Ortodoxia Protestante e as Confissões Protestantes: Introdução – Rev. Hermisten – 15/03/09 – 16
Este Catecismo tem como dois de seus pontos fortes o seu aspecto não polêmico
– com exceção da pergunta 80 –, e o tom pastoral com o qual ele foi escrito, usando
muitas vezes a primeira pessoa do singular, sendo as suas respostas uma declara-
ção pessoal de fé, tendo as verdades teológicas uma aplicação bem direta às ne-
cessidades cotidianas do povo de Deus.
65
Quanto à expressão, Ver: D.K. McKim, Criptocalvinismo: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia His-
tórico-Teológica da Igreja Cristã, Vol. I, p. 370-371.
66
P. Schaff, The Creeds of Christendom, Vol. I, p. 534. J.T. McNeill diz a mesma coisa com outras
palavras, Vd. J.T. McNeill, The History and Character of Calvinism, New York: Oxford University
Press, 1954, p. 270: “Ele (Olevianus) era dois anos mais jovem que Ursinus, mais eloqüente e
menos erudito”.
67
Sobre o seu testemunho evangélico, Vd. a “Introduccion” do El Catecismo de Heidelberg, 3ª ed.
Rijswijk, (Z.H.), Países Bajos: Fundacion Editorial de Literatura Reformada, 1982, p. 11-12.
68
Em outras palavras, ele foi o primeiro príncipe alemão a abraçar fé Reformada. (Vd. Shirley C.
Guthrie, Heidelberg Catechism: Donald K. McKim, ed. Encyclopedia of the Reformed Faith, p. 167.
69
Vd. R.V. Schnucker, Catecismo de Heidelberg: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-
Teológica da Igreja Cristã, Vol. I, p. 247-248; K.S. Latourette, História del Cristianismo, II, p. 102; Phi-
lip Schaff, The Creeds of Christendom, Vol. I, p. 529-538; W. Walker, História da Igreja Cristã, II, p.
122; Clair Davis, A Igreja Reformada da Alemanha: Calvinistas, uma influente minoria: In: W. Stan-
ford Reid, ed. Calvino e sua Influência no Mundo Ocidental, p. 168; Manuel Gutiérrez-Marin, Prólogo
ao Catecismo de Heidelberg: In: Catecismo de la Iglesia Reformada, Buenos Aires: La Aurora, 1962,
p. 127-142; Eduard Günder, Heidelberg Catechism: In: Philip Schaff, ed. Religious Encyclopaedia: or
Dictionary of Biblical, Historical, Doctrinal, and Practical Theology, Vol. II, p. 959-960; Fred H. Kloost-
er, A Short History of the Heidelberg Catechism prepared for the new Pslater Hymnal Handbook
(2/20/87), texto datilografado, 8p.
A Ortodoxia Protestante e as Confissões Protestantes: Introdução – Rev. Hermisten – 15/03/09 – 17
Ele foi traduzido para todas as línguas da Europa e muitas Asiáticas, sendo am-
plamente usado. Devido a esta amplitude de traduções, Schaff (1819-1893) diz que
70
Heidelberg “tem o dom pentecostal de línguas em um raro grau”.
71
6) SEGUNDA CONFISSÃO HELVÉTICA: (1562-1566)
70
P. Schaff, The Creeds of Christendom, Vol. I, p. 536. Há aqui um dado importante; como sabe-
mos, os Holandeses estiveram no Brasil no período de 1630 a 1654; ainda que não fosse o âmbito re-
ligioso o seu principal trabalho, não deixaram de atuar também nesta área. Em 1656 Antônio Parau-
paba pede socorro aos Estados Gerais em favor da nação indígena do Brasil que havia abraçado a
religião Reformada; a certa altura diz: “Ajudem agora! A luz da Palavra de Deus será apagada
por falta de pastores” [Apud Frans Leonard Schalkwijk, Igreja e Estado no Brasil Holandês: 1630-
1654, p. 312]. O trabalho dos holandeses na publicação de um Catecismo trilingue (holandês, portu-
guês e tupi), intitulado: “Uma instrução simples e breve da Palavra de Deus nas línguas brasiliana,
holandesa e portuguesa, confeccionada e editada por ordem e em nome da Convenção Elcesial
Presbiterial no Brasil, com formulários para batismo e santa ceia acrescentados” –, não deixa de ser
extremamente interessante considerando as suas vicissitudes, já que o Presbitério de Amesterdã não
o aprovara, não pelo que dissera, mas pelo que omitira, além de uma possível suspeita, certamente
infundada, de algum viés arminiano. Na realidade o seu autor, o Rev. David à Doreslaer com a ajuda
do Rev. Vincentius J. Soler confessou ter problemas em expressar determinados conceitos teológi-
cos em línguas bárbaras. O que ele desejava era fazer um resumo do Catecismo de Heidelberg
(1563) adotado pela Igreja Reformada Holandesa. Assim o Catecismo que tinha como alvo principal
os índios evangelizados, foi impresso na Holanda em 1641 chegando em Recife em 1642. Ao que pa-
rece ele não teve grande utilidade devido aos debates provocados entre o Sínodo da Holanda e a
Companhia das Índias Ocidentais. Schalkwijk, conclui: “Provavelmente, os catecismos ficaram
empilhados em algum lugar, falados demais para serem usados, santos demais para serem
queimados” (Frans Leonard Schalkwijk, Igreja e Estado no Brasil Holandês: 1630-1654, p. 324).
71
L. Berkhof tem razão ao dizer que esta é “a mais completa declaração oficial sobre a posi-
ção Reformada acerca da doutrina de Cristo” (L. Berkhof, História das Doutrinas Cristãs, São
Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1992, p. 106).
72
Vd. P. Schaff, The Creeds of Christendom, Vol. I, p. 390-395; Vol. III, p. 233; R.V. Schnucker, Con-
fissões Helvéticas: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, I, p. 341-
342; K.S. Latourette, História del Cristianismo, II, p. 99; Archibald A. Hodge, Esboços de Theologia,
Lisboa: Barata Sanches, 1895, p. 110; D. S. Schaff, Nossa Crença e a de Nossos Pais, p. 30.
73
O G. Oliver Jr., Bullinger: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã,
I, p. 216.
A Ortodoxia Protestante e as Confissões Protestantes: Introdução – Rev. Hermisten – 15/03/09 – 18
O Sínodo de Dort reuniu-se por autoridade dos Estados Gerais dos Países Bai-
xos, em Dordrecht, Holanda, no período de 13/11/1618 a 9/5/1619, tendo 154 ses-
sões. O Sínodo foi constituído de 35 pastores, um grupo de presbíteros das igrejas
holandesas, cinco catedráticos de teologia dos Países Baixos, dezoito deputados
dos Estados Gerais e 27 estrangeiros, de diversos países da Europa, tais como: In-
glaterra, Alemanha, França e Suíça.
74
Dort rejeitou os cinco pontos apresentados pelos arminianos, conhecidos como
75
os “Cinco Pontos do Arminianismo”. Seguindo J.I. Packer podemos resumir o sis-
tema arminiano e calvinista, da seguinte forma:
74
Discípulos de James Arminius (1560-1609), antigo aluno de Theodore de Beza (1519-1605), su-
cessor de Calvino em Genebra.
75
J.I. Packer, O “Antigo” Evangelho, São Paulo: Fiel, 1986, p. 6.
A Ortodoxia Protestante e as Confissões Protestantes: Introdução – Rev. Hermisten – 15/03/09 – 19
graça, conservando a sua fé; aqueles Deus, até que eles cheguem à glória.
que falham nesse ponto, desviam-se e
se perdem.
Os Cânones de Dort foram aceitos por todas as Igrejas Reformadas como ex-
76
pressão correta do sistema calvinista.
76
Sobre Dort, Vd. P. Schaff, The Creeds of Christendom, Vol. I, p. 508-517; M.E. Osterhaven, Dort,
Sínodo de: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, I, p. 503-504. Os
Cânones de Dort foram traduzidos para o português (Os Cânones de Dort, São Paulo: Casa Editora
Presbiteriana, 1995).
77
Vd. P. Schaff, The Creeds of Christendom, Vol. I, p. 753; Archibald A. Hodge, Confissão de Fé
Westminster Comentada por A.A. Hodge, São Paulo: Editora os Puritanos, 1999, p. 44; Guilherme
Kerr, A Assembléia de Westminster, São Paulo: E.F. Beda – Editor, 1984, p. 18.
78
Cf. Douglas F. Kelly, The Westminster Shorter Catechism: In: John L. Carson & David W. Hall, eds.
To Glory and Enjoy God: A Commemoration of the 350th Anniversary of the Westminster Assembly,
Carlisle, Pennsylvania, The Banner of Truth Trust, 1994, p. 107; Archibald A. Hodge, Confissão de Fé
Westminster Comentada por A.A. Hodge, São Paulo: Editora os Puritanos, 1999, p. 43.
79
Archibald A. Hodge, Confissão de Fé Westminster Comentada por A.A. Hodge, São Paulo: Editora
os Puritanos, 1999, p. 41.
80
Cf. G. Kerr, A Assembléia de Westminster, p. 12. Os que tomaram assento, foram: Ministros: Ale-
xander Henderson, George Gillespie, Samuel Rutherford e Robert Baillie. Presbíteros: Lord John
Maitland e Sir Archibald Johnston (Cf. Archibald A. Hodge, Confissão de Fé Westminster Comentada
por A.A. Hodge, p. 42).
81
R. T. Kendall, A Modificação Puritana da Teologia de Calvino: In: W. Stanford Reid, ed. Calvino e
sua Influência no Mundo Ocidental, p. 264.
A Ortodoxia Protestante e as Confissões Protestantes: Introdução – Rev. Hermisten – 15/03/09 – 20
Estes Credos foram logo aprovados pela Assembléia Geral da Igreja da Escócia
[Confissão (27/08/1647); Catecismos Maior e Menor (28/07/1648)], sendo este ato
84
homologado pelo Parlamento Escocês em 07/02/1749. Eles tiveram e têm uma
grande influência no mundo de fala inglesa, máxime entre os Presbiterianos – embo-
85
ra também tenham sido adotados por diversas igrejas batistas e congregacionais.
No Brasil, estes Credos são adotados pela Igreja Presbiteriana do Brasil, Presbiteri-
ana Independente e Presbiteriana Conservadora.
82
Cf. Archibald A. Hodge, Confissão de Fé Westminster Comentada por A.A. Hodge, p. 42.
83
Veja-se: Mark A. Noll, Momentos Decisivos na História do Cristianismo, São Paulo: Cultura Cristã,
2000, p. 197.
84
Cf. P. Schaff, The Creeds of Christendom, Vol. I, p. 759 e 784.
85
Vd. P. Schaff, The Creeds of Christendom, Vol. I, p. 727ss.; D.F. Wright, Catecismos: In: Walter A.
Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, Vol. I, p. 251-252; J.M. Frame, Confissão
de Fé de Westminster: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, Vol.
I, p. 331-332; J.M. Frame, Catecismos de Westminster: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Históri-
co-Teológica da Igreja Cristã, Vol. I, p. 252; G. Kerr, A Assembléia de Westminster, 31 p.; A.A. Hodge,
Esboços de Theologia, 111-112.