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Guia de carreiras: jornalismo

O repórter registra os fatos, com o compromisso da busca da verdade.


Internet ampliou as oportunidades de trabalho na área da comunicação.

Apesar do grande interesse pela leitura e a redação, Caco Barcellos, ainda na


adolescência, passou no vestibular para o curso de matemática, com o objetivo de um
dia se tornar engenheiro. A oportunidade de participar do jornal do centro acadêmico
da faculdade, porém, acabou lhe rendendo uma oferta de trabalho em um jornal
diário. "Foi meio por acaso. Como eu gostei muito do trabalho e eles gostaram de mim,
tratei de mudar rapidamente e fui fazer jornalismo", conta o repórter, que se formou
na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, já
trabalhou nos principais jornais e revistas impressos e há mais de duas décadas conta
histórias em frente às câmeras de televisão.

O repórter Caco Barcellos (Foto: Reprodução)

Jornalistas como Caco, que hoje é repórter e diretor do programa Profissão Repórter,
são profissionais dedicados a transmitir e explicar fatos e histórias de interesse público
aos leitores, ouvintes. Para isso, eles contam com técnicas de apuração das
informações, realização de entrevistas com fontes e personagens relevantes para a
notícia e produção e edição da reportagem.
E, já que depende de eventos em sua maioria imprevisíveis, a carreira também exige
paciência para conseguir a informação, flexibilidade para lidar com acontecimentos de
última hora e dinamismo quando é preciso produzir uma reportagem poucos minutos
antes de ela ir ao ar, ou à gráfica.

"Um amigo meu brinca que o jornalista é aquele que fica a vida toda esperando o nada
virar coisa. A gente nunca sabe quando vai acontecer o factual que vai nos fazer
trabalhar de madrugada ou que vai nos obrigar a trabalhar domingo", explica a
jornalista Ana Escalada, editora-chefe do Profissão Repórter.

Ana e Caco concordam que esta é justamente a graça da profissão. "Uma pessoa que
não gosta de problemas não deve ser jornalista, uma pessoa que gosta de rotina não
deve ser jornalista", afirma a editora.
"Tem que ignorar aquilo que em outras profissões é muito importante, como rotina,
jornada de trabalho... Você não sabe quando começa e, principalmente, não sabe
quando termina", disse o repórter ao G1, às 20h da segunda-feira (23). Naquele dia,
ele já tinha passado pelas Clínicas, na Zona Oeste de São Paulo, seguido para
Guarulhos, na Região Metropolitana, e retornado à Avenida Paulista, na região central
da capital, em busca de uma matéria para o programa que foi ao ar na noite de terça-
feira (31), sobre estrangeiros que moram no Brasil (assista ao programa).

"É uma profissão que combina mais com os poetas, por exemplo, com as pessoas que
gostam de outras pessoas. É fundamental ser apaixonado por gente, senão não dá
certo. E o repórter tem que ser apaixonado pelo que faz, achar graça disso, não achar
que isso é sacrifício", afirma.

O repórter tem por obrigação fazer o registro dos acontecimentos de um país"


Caco Barcellos, repórter e
diretor do Profissão Repórter

Para Caco, além de contar histórias, quem vive da reportagem também tem uma
função essencial. "O repórter tem por obrigação fazer o registro dos acontecimentos
de um país. É a partir do trabalho do jornalista que as outras profissões se
movimentam", diz. "A gente que é repórter tem que estar mais informado do que
todos os que estão à nossa volta, inclusive o dono do veículo onde a gente trabalha",
explica ele.

A responsabilidade do produto que o jornalista apresenta ao público tem implicações


que podem perdurar durante muito tempo. "Por exemplo, daqui a algum tempo, essa
história que estou contando talvez seja a história que sintetize o que é a violência
urbana na maior cidade da América Latina. Talvez daqui a dez ou 20 anos um sociólogo
vá querer interpretar por que isso estava acontecendo neste momento da história do
Brasil."

A produção da notícia
Para retratar os pequenos e grandes fatos que, a cada dia, vão construindo a história,
os jornalistas se dividem para cumprir diversas tarefas. Dentro das redações impressas
e de internet, as mais comuns são a do repórter, que busca as histórias e vai a campo
apurar as informações, e a do editor, que decide como todas as reportagens da equipe
serão expostas no veículo. Por exemplo, no jornal impresso, o editor decide qual
reportagem terá mais espaço e em que página cada texto vai entrar.

Na televisão e na rádio existe ainda a função do produtor. "É quem propõe uma pauta
e às vezes a produz, o repórter é quem vai a campo, o pessoal da rádio-escuta liga para
as delegacias, para os bombeiros, para saber se tem alguma coisa que foge da rotina.
Quando a reportagem vem da rua, ela passa pelo editor, e tem também os
apresentadores, que cada vez mais são jornalistas", explica Ana.

Ana Escalada é a editora-chefe do Profissão


Repórter (Foto: Ana Carolina Moreno/G1)
Cada editoria do veículo, como de notíciário político, internacional e de economia,
conta com uma equipe de repórteres e um editor, que pode contar com editores
assistentes para finalizar a criação das páginas. Na TV, os repórteres saem às ruas com
os cinegrafistas e os técnicos de iluminação e som para garantir a captação das
melhores imagens.

Os veículos ainda têm equipes dedicadas à produção e edição de fotografias e


profissionais de desenho e programação, que cria os infográficos, as tabelas e artes
que ajudam a explicar os fatos aos leitores. Além disso, jornalistas fazem o trabalho de
pauteiro, que organiza a distribuição das pautas --como é chamada a notícia antes da
apuração, redação e edição-- entre os repórteres.

Acima de toda a equipe estão o editor-chefe e o editor-executivo, responsáveis por


manter a coesão do conteúdo e da linha editorial.

Quatro etapas da produção de uma reportagem: a pauta, a produção, a edição no


estúdio e a veiculação (Foto: Ana Carolina Moreno/G1)

Fora das redações


As redações de jornais, revistas e portais não são o único habitat dos jornalistas. "Ser
repórter, ser roteirista de cinema, escritor de novela, trabalhar com publicidade... São
mil possibilidades para uma mesma profissão", afirma Caco, que, além das reportagens
diárias e semanais, também escreveu grandes reportagens em livros como "Rota 66 - A
história da polícia que mata", que já recebeu mais de 80 edições.

Grande parte dos jornalistas também é encontrada cumprindo a função de assessores


de imprensa, uma profissão que dividem com quem tem diploma de relações públicas,
apesar de os últimos serem minoria neste mercado. Com as mudanças que a internet
tem imposto à publicidade, ao consumo e à relação das marcas com o público, outros
leques também se abriram ao profissional de jornalismo, principalmente nos setores
de produção de conteúdo.

Camilla Salmazi, assessora de imprensa do Todos


Pela Educação (Foto: Ana Carolina Moreno/G1)

Camilla Salmazi, que se formou em 2004 pela PUC de São Paulo, entrou para o curso
de jornalismo pensando em trabalhar em uma rádio, e inclusive fez seu trabalho de
conclusão de curso usando as técnicas específicas para este veículo. Mas, ao terminar
a graduação, ela recebeu uma proposta de emprego em uma agência de comunicação,
que presta serviços de assessoria de imprensa para empresas do setor privado e do
terceiro setor.

Como ela não poderia ser contratada na editora onde fazia estágio na produção de
notícias, Camilla decidiu aceitar a oferta, e não largou mais da área. "Percebi que
gostava muito mais desse tipo de jornalismo", explica. "Você tem mais controle do
tempo, uma carga horária fixa, é difícil ter que fazer plantão de fim de semana, só
quando tem algum evento. E o salário também é melhor, além de você subir na
carreira mais rapidamente."
De acordo com o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo,
existem três pisos salariais para a categoria. O valor, referente a veículos da capital
paulista, é de R$ 2.982.89 para os profissionais de rádio e TV e R$ 3.740,53 para
assessores de imprensa. Quem trabalha em jornais e revistas recebe a partir de R$
3.321,60.

Assessores de imprensa podem atuar tanto dentro da instituição em que trabalham,


no departamento da comunicação, quanto em agências contratadas para prestar esse
serviço a empresas e ONGs.

Além de atender aos pedidos da imprensa, é função da assessoria sugerir pautas aos
repórteres e aconselhar a direção das instituições sobre estratégias de comunicação e
exposição na mídia, incluindo o 'media training', treinamento para que os porta-vozes
da empresa utilizem as mesmas técnicas dos profissionais de televisão ao dar
entrevistas, como linguagem corporal e uso da voz.

Camilla, que hoje atua no setor de comunicação do movimento Todos Pela Educação,
afirma que, nesta função, continua fazendo tarefas típicas de repórteres, como ir atrás
de pautas e histórias que possam ser contadas pela mídia. "Você tem cabeça de
jornalista, sabe se aquela pauta é interessante", diz.

Talvez o jornalismo não permaneça dessa forma, mas vai se transformar em outra
coisa"
Ana Escalada, editora-chefe
do Profissão Repórter

Novos suportes, mesmo rumo


Para Ana, do Profissão Repórter, a internet já mudou muito o jornalismo na última
década, e continuará provocando alterações, apesar de isso não colocar em risco a
necessidade do profissional. "Talvez a televisão migre para a internet, talvez a internet
se torne o veículo principal. Mas ele vai precisar daquela pessoa, daquele profissional
que saiba falar 'olha só o que eu tenho para te dizer, olha que legal'", diz. Para ela, o
jornalismo não vai morrer. "Talvez o jornalismo não permaneça dessa forma, mas vai
se transformar em outra coisa."

Desde 2009, o diploma do curso de jornalismo não é mais obrigatório para conseguir o
registro de jornalista profissional. Um projeto de lei para voltar a exigir diploma de
jornalista tramita no Congresso Nacional.

Mesmo sem a obrigação, muitas empresas ainda exigem, em suas ofertas de vagas,
pessoas formadas na faculdade de jornalismo, além de pedirem cada vez mais
habilidades, como conhecimentos de vídeo e fotografia e o domínio de programas de
edição de imagens e processamento de dados. Esses temas, assim como algumas
técnicas de assessoria de imprensa, já começam a ser incluídos nos currículos das
faculdades.

Caco afirma que, desde que começou a trabalhar com televisão, viu como a tecnologia
modificou o modo de fazer jornalismo, com câmeras cada vez mais compactas e de
maior qualidade, por exemplo. Segundo ele, o futuro da profissão é imprevisível. "Mas
com certeza posso garantir que, daqui a cinco anos, histórias maravilhosas estarão
acontecendo no cotidiano de todo mundo, e quem perder a oportunidade de
experimentar essa profissão não sabe o que estará perdendo", diz.

GUIA DO ESTUDANTE

São a procura e a divulgação de informações por meio de veículos de comunicação,


como jornais, revistas, rádio, TV e internet. O jornalista é o profissional da notícia. Ele
investiga e divulga fatos e informações de interesse público, redige e edita
reportagens, entrevistas e artigos, adaptando o tamanho, a abordagem e a linguagem
dos textos ao veículo e ao público a que se destinam. Senso crítico, capacidade de
expressão, domínio do português e de técnicas de redação são fundamentais no
exercício da profissão. Ele precisa dominar, também, os softwares de edição de textos
e de imagens. Novos focos para o Jornalismo
O Centro Universitário Belas Artes, em São Paulo, está lançando a graduação em
Jornalismo com foco em convergência de mídias, cultura e entretenimento. Também
recentes, os cursos do Ibmec-RJ e ESPM (SP, RJ e Sul) têm foco em Negócios. O
primeiro tem o objetivo de formar um profissional de comunicação que também tenha
conhecimentos sobre estratégias e administração, a fim de gerir a comunicação de
uma empresa. O curso da ESPM segue a tradição da instituição e oferece disciplinas
relacionadas aos negócios e ao marketing.

Mercado de Trabalho

“Com as rápidas mudanças nos meios de comunicação, fecham-se postos de trabalho


na imprensa tradicional, como jornais e revistas, mas abrem-se novas vagas nos meios
on-line”, afirma Letícia Barbosa Torres Americano, coordenadora do curso de
Jornalismo da UFJF, em Juiz de Fora. Assim, o bacharel agora tem de entender também
da linguagem da internet e das redes sociais, como Twitter e Facebook. As
oportunidades estão em portais, revistas on-line, blogs e sites de empresas, em geral.
No entanto, a professora salienta que o setor que se mostra mais aquecido atualmente
para o jornalista é o da comunicação corporativa. “As empresas têm investido em
assessoria de comunicação como forma de ganhar competitividade”, explica ela. É
possível, também, prestar serviços a diversas empresas, como freelancer (autônomo).
Mesmo com a não obrigatoriedade do diploma, as empresas de comunicação são
exigentes na hora de contratar e preferem candidatos com formação superior. São
Paulo, por concentrar a maioria das editoras, oferece o maior número de vagas. No Rio
de Janeiro, o mercado deve ficar aquecido nos próximos anos com a realização da
Copa do Mundo, em 2014, e das Olimpíadas, em 2016. As regiões Centro-Oeste, Norte
e Nordeste apresentam também boas oportunidades. 

Salário inicial: R$ 2.190,18 por 5 horas diárias em jornais ou revistas da capital


paulista; R$ 2.455,00 por assessoria de imprensa, na capital (fonte: Sindicato dos
Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo).
Curso

As disciplinas básicas incluem língua portuguesa, economia e teoria da comunicação. E


entre as matérias específicas constam jornalismo interpretativo e informativo, técnicas
de redação e edição de texto e novas tecnologias de comunicação. Há aulas práticas de
fotojornalismo, jornalismo impresso e on-line, rádio e TV. Na maioria das escolas, o
curso é uma habilitação do bacharelado em Comunicação Social. O estágio é
recomendado, mas não obrigatório. Mas é preciso fazer um trabalho de conclusão de
curso. 

Atenção: a Uneb, em Juazeiro (BA), oferece ênfase em multimeios. Já a Uespi, em


Teresina (PI), tem dupla habilitação, em Jornalismo e em Relações Públicas. 

Duração média: quatro anos.

Outros nomes: Comun. soc. (jornalismo e multimeios); Comun. soc. (jornalismo e rel.


públ.); Comun. soc. (jornalismo). 

O que você pode fazer

Comunicação digital multimídia


Criar, montar, implantar e cuidar da manutenção de websites, intranets e extranets.
Redigir e editar boletins e revistas eletrônicas. Administrar conteúdos na internet.
Comunicação empresarial
Promover o contato entre determinada organização com a imprensa e outros públicos-
alvo, como funcionários, fornecedores, clientes, governo, entidades, a fim de divulgar
o nome da empresa, seus valores e produtos.
Edição
Definir o enfoque e o tamanho da reportagem e escrever o texto final em veículos
impressos e na internet, selecionar fotos e ilustrações que serão usadas em rádio e TV,
combinar imagens e/ou sons numa mesma fita para dar forma final a documentários e
noticiários.
Fotojornalismo
Fotografar cenas reais, pessoas e acontecimentos para reportagens em jornais,
revistas ou internet.
Reportagem
Coletar informações e redigir textos para divulgação em rádio, televisão, jornais,
revistas ou internet.

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