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DO HABEAS CORPUS
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO
Tem como fim este trabalho apresentar alguns aspectos sobre o Hab eas Corpus,
desde suas noções históricas até os dias de hoje. Observamos que o remédio heróico,
realmente está sendo usado inclusive em muitos casos em que, em tese, não seria
possível. Isso se constata pela eficiência e celeridade que a presente ação apresenta.
Percebemos impetração da <Xdem de habeas corpus praticamente para tudo
dentro da matéria penal, inclusive, em alguns casos, em verdadeira substituição are-
cursos de um modo geral.
De forma bem sucinta, tentamos elucidar algumas dúvidas sobre o tema, fun-
damentado principalmente nas obras de Pontes de Miranda e Heráclito Antônio Mossim,
dentre outros citados na bibliografia ao final exposta.
2. NOÇÕES illSTÓRICAS
Platão, no entanto, já àquela época, achava que a lei também era para o
governante, que este deveria SlJbmeter-se ao império daquela sob pena de o Estado
cair numa verdadeira anarquia.
Não obstante a expressão habeas corpus ser de origem latina (habeas corpus
ad subjiciendum que sua tradução seria mais ou menos "tornai o corpo para submeter
o homem e o caso ao tribunal) o instituto ganhou forma de remédio contra a violação
ao direito de liberdade, de ir, vir e permanecer no direito inglês, com a Magna Charta
Libertatum imposta pelos barões ingleses ao rei João Sem Terra em 1215 (writ of
habeas corpus ).
1, GRECO F JLHO, Vicente. Tutela conslilucional das liberdades. São Paulo: ed. Saraiva, 1989, p. 25
2. MOSSIN, Heráclito Antônio. Habeas corpus. São Paulo: Editora Atlas, JD ed. 1997.
Visava esta Carta assegurar os direitos mínimos ao indivíduo, de forma que cessasse
as arbitrariedades sem a devida apreciação pelo judiciário. Observa-se assim, que o
habeas corpus tem corno paladino evitar que prisões arbitrárias ou demasiadamente
prolongadas continuassem existindo sem nenhum controle. Segundo Heráclito Anto-
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nio Mossin , citando Florêncio Abreu o habeas corpus "decorre da commonLaw, em
virtude dos preceitos da Magna Carta, capítulo XXIX, onde se detennina que nenhum
homem livre pode ser detido, nem preso (nullus liber home capiatur vel imprisionetur),
sem que seja condenado por seus pares ou pelas leis do país".
Com essas considerações já é possível observar que foi realmente no direito
inglês que o instituto do habeas corpus ganhou forma e se espalhou ao mundo, sem-
pre com o mesmo fim, sanar os excessos nas prisões impostas aos homens comuns.
5 Curso de direito constitucional positivo, 9Q ed. São Paulo: Editora Malheiros, 1994.
Brasil para aquém de 1822." Como se observa, a Carta de 1937 foi omissa com rela-
ção ao habeas corpus. Assim, observa-se que, os direitos individuais sofreram grande
supressão com a Carta do Estado Novo. Pontes de Miranda, no entanto, sustenta que
mesmo com a vigência da Constituição não havia suspensão do habeas corpus. "Nem
o estado de guerra, nem o estado de emergência suspendem o direito público subjetivo
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ao habeas corpus. " Não era de se esperar algum beneficio aos direitos individuais,
as circunstâncias políticas não eram favoráveis, regime ditatorial, verdadeiro golpe
nas instituições democráticas. O habeas corpus não seria a exceção, como realmente
não o foi.
vigência, é a seguinte: "Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar
na eminência de sofrer violência ou coação ilegal na sua liberdade de ir e vir, salvo nos
casos de punição disciplinar".
A atual Carta Política consagra o instituto do habeas corpus no artigo 5°, inciso
LXVII verbis: "conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar
ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegali-
dade ou abuso de poder". Praticamente a mesma redação da Constituição anterior. No
entanto, o próprio texto constitucional, no artigo 142, § 2° "Não caberá habeas corpus
em relação a punições disciplinares militares." Ousamos discordar, pois o princípio do
habeas corpus é sanar as punições ilegais, e .se a punição disciplinar for injusta ou
quando se emanada de autoridade incompetente? Não haveria motivo para a não con-
cessão. É claro que nestes casos, precisa-se de um exame mais acurado em cada caso.
É apenas nossa opinião, nos tribunais, evidentemente que para este pensamento não
há nenhum espaço. Pois uma Constituição nascida com ares democráticos inegáveis,
cheia de esperanças de liberdade ao povo que desde 1%4 mergulhara numa escuridão
de liberdade por mais de vinte anos, poderia no máximo ser omissa, mas proibir ex-
pressamente, cremos que o legislador constituinte foi demasiadamente rigoroso.
'Pinro Ftrrdra, Teoria t prática do habeas corpus, 2" ed. Edirora Saraiva, 1982.
5. DA NATUREZA JURÍDICA
6. DA CAPACIDADE POSTULATÓRIA
Qualquer pessoa poderá impetrar a ordem, inclusive pessoa jurídica. A lei não
faz nenhuma exigência para sua impetração. No entanto, para interpor recurso em
habeas corpus, exige-se capacidade postulatória, ou para se fazer a sustentação oral
em determinados casos. Nessas situações, há de ser feito por advogado. Vê-se que
pode impetrar, a pessoa jurídica, o menor, o analfabeto, contanto que alguém assine a
rogo, no último caso. Não existem limitações ao direito de impetração.
Até recentemente havia discussão, a nosso ver inútil, sobre a capacidade do
membro do Ministério Público impetrar o writ na condição de Promotor. Ora, o que
nos leva achar inútil tal discussão é pelo simples fato, de ser o Ministério Público o
guardião das leis, e se alguém está sofrendo ou ameaçado de sofrer algum constrangi-
mento ilegal com que senso de justiça poderia impedir o Promotor de impetrá-lo?
Hoje, é pacífico o entendimento na jurisprudência pátria sobre a condição de qualquer
membro do Parquet impetrá-lo, principalmente os Tribunais Superiores, verbis:
VOTAÇÃO: UNÂNIME.
RESULTADO:CONHECIDO E PROVIDO.
Origem: SP • SÃO PAULO
Publicação: DJDATA-18110/85 PG-18454EMENT VOL-01396-01 PG-
00189
Nome do Relator. OSCAR CORREA
Sessão: OI - PRIMEIRA TURMA
O juiz não tem a capacidade postulatória por questões óbvias. Primeiro pode
conceder ex ojjicio, segundo não tem sentido lógico o juiz impetrar uma ação para ele
mesmo decidir. Evidente que o simples fato de ser juiz não o impede de impetrá·lo,
pois na condição de cidadão comum nada impede que o faça, em seu favor ou em de
terceiro.
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Processo penal, vol. 4 Editora Saraiva, 19" ed. 1997
corpus, quando ... algum cidadão, oficial de justiça, ou autoridade pública, tivesse
ilegalmente alguém sob sua guarda ou detenção". Assim, se na época do império não
havia limitação, nada justificaria, nos nossos dias, esse impedimento.
A lei não a admite, também não proíbe, assim nada impede que seja concedida.
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No dizer de Tourinho Filho "Uma das mais belas criações da nossa jurisprudência
foi a da liminar em pedido de habeas corpus, assegurando de maneira mais eficaz o
direito de liberdade". A não previsão da liminar na lei, parece-nos um equívoco
legislativo sem precedente. Se pensarmos que a pessoa está sofrendo ou ameaçada de
sofrer a coação ilegal e ainda esperarmos, as informações da autoridade apontada
como coatora para se decidir, evidente que os prejuízos sofridos pelo paciente só au-
mentariam. Então depertdendo do caso concreto deve realmente ser concedida, nada
impedindo que quando do julgamento em definitivo da ordem ela possa ser cassada. É
claro que o pensamento do legislador não foi o de causar prejuízo ao paciente, supu-
nha-se que quando fosse o caso levado ao Juiz ou ao Tribunal, já fosse instruído de
forma que fosse possível a decisão de imediato.
Consta que a primeira liminar em habeas corpus foi concedida na Justiça Mi-
litar pelo Almirante José Espinola quando da impetração de writ preventivo. Hoje a
liminar no habeas corpus já está consagrada nos tribunais brasileiros, de forma que a
exceção é quando não é pedida.
11 Op. cit. p. 5 59
dente que este prazo tem que ser razoável, normalmente a autoridade que as requisita
não estipula prazo algum. Mas quando o faz, fá-lo em prazo razoável, de forma que
seja possível a autoridade coatora fornecê-las e que não seja muito dilatado para que
não aumente os prejuízos ao paciente. Claro que este prazo depende também das con-
dições de se fornecer, do caso concreto, etc.
Às vezes, o impetrante não tem condições de apontar com clareza quem seja o
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coator, nestes casos, conforme lição de Ary Franco as informações devem ser requi-
sitadas ao carcereiro ou ao detentor do preso.
11
Antonio Moudo de Campos, Habeas COtpUS, doutriml,prática, legislaçlio, EdiçãoJalovi, JG edição, 1979
11
Op. cit. p . 203
poder ou má-fé. Evidente, que na prática não se vê condenação nestes casos, pois
como realmente provar se houve má-fé na coação. Outro ponto que depõe desfavora-
velmente a possível condenação da autoridade coatora, é o próprio interesse do paci-
ente para acionar a máquina judiciária. Pois, nestes casos, sua principal meta é ver
sanada a coação por que está passando ou ameaçado de passar.
Claro que o principal objetivo do paciente é se livrar do incômodo da coação.
Poucos são os casos em que após um cbnstrangimento de tal natureza, vá o paciente
procurar provar a ilegalidade do ato sofrido.
Th.nto no texto do artigo 5°, inciso LXVIII, como no texto do art. 647 do Códi-
go de Processo Penal, encontramos a expressão" ... sempre que alguém sofrer ou se
achar ameaçado de sofrer violência... " Pode perceber-se, assim, que é possível que
seja impetrada a ordem para prevenir possível coação ilegal. Neste caso, é expedido o
salvo-conduto em favor do possível paciente, que visa impedir a prisão do beneficiário.
O habeas corpus é liberatório quando o paciente já está coagido, privado de
sua liberdade de locomoção. Neste caso é expedido pela autoridade conhecedora e
julgadora do writ o alvará de soltura.
Observação;
VOTACÃO: Unânime.
RESULTADO: Indeferido.
Origem: MG - MINAS GERAIS
Publicação: DJ DATA-19/l2196 PP-51768
Nome do Relator: ILMAR GALVÃO
Sessão: Ol - Primeira Thnna"
Impetrado habeas corpus por Rui Barbosa, em favor de David Ben Obill e ou-
tros, brasileiros e estrangeiros civis, num total de 48, presos por militares cumprindo
ordem do Vice-Presidente da República, Marechal Floriano Peixoto, a bordo do navio
mercante "Júpiter'', capturado no litoral de Santa Catarina. Presos por crime militar
inafiançável, juntamente com todos os ocupantes do navio, ficam retidos ilegalmente,
conforme alegação do advogado, nas Fortalezas de Santa Cruz e Lage, no Rio de Janei-
ro, sem nota de culpa e à disposição da Justiça Militar, incompetente para julgá-los.
Rui Barbosa impetra habeas corpus em favor do Senador João Cordeiro e ou-
tros. desterrados na Ilha de Fernando de Noronha, por crime de conspiração, em virtu-
de de decretos do Marechal Floriano Peixoto. Vice-Presidente da República. Matéria
análoga à do Habeas Corpus no 300, é alegado constrangimento ilegal por continua-
rem os pacientes desterrados após término do estado de sítio, cessados os seus efeitos.
Ao receber tropas legais que regressaram de Canudos. na Bahia. terminada a insurrei-
ção naquele local. o Presidente da República, Prudente de Moraes, sofre um atentado,
e o Ministro da Guerra, ao protegê-lo, é ferido mortalmente pelo agressor. Caracteri-
zado o fato como conspiração contra a estabilidade do Governo, é decretado estado de
sítio. no Distrito Federal e em Niterói, e aberto inquérito policial. em que os pacientes
são apontados responsáveis pelo atentado.
19. CONCLUSÃO
raros os casos em que são impetrados. Como exemplo, podemos citar habeas corpus
para progressão de regime prisional, habeas corpus objetivando trancamento de ação
penal.
VImos que, o habeas corpus tomou-se o meio mais popular de coibir viola-
ções aos direitos básicos do cidadão. Apesar de sua estreita via, seu uso alargou-se no
meio jurídico brasileiro.
Isso ocorreu, principalmente pela facilidade encontrada na impetração da or-
dem. Não se exigindo para tal nenhuma habilitação técnico-profissional.
Com tais características, percebemos o valor do writ no nosso ordenamento
jurídico, apresentando-se, em alguns casos como a verdadeira tábua de salvação, no
saneamento de arbitrariedades cometidas, principalmente contra os menos abastados.
BIBLIOGRAFIA
CAMPOS, Antonio Macedo de. Habeas corpus. t• ed. Editora Jalovi Ltda. 1979.
FERREIRA, Pinto, Teoria e Prática do Habeas Corpus. 2" ed. Editora Saraiva, 1982.
GRECO FILHO, Vicente. Tutela constitucional das liberdades. Editora Saraiva, São
Paulo, 1989.
MIRANDA, Pontes de. Hist6ria e Prática do Habeas Corpus.8• ed. Editora Saraiva,
1974.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional. 9• ed. Editora Malheiros,
1994.
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R. Dout. Jurisp .• Bras(iia, (62): 11-75, jan.-abr. 2000 75