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Política Educacional

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Universidade Federal de Minas Gerais
Reitor: Clélio Campolina Diniz
Vice-Reitora: Rocksane de Carvalho Norton
Pró-Reitoria de Graduação
Pró-Reitora: Antônia Vitória Soares Aranha
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Vice-Diretor: Roberto Alexandre do Carmo Said

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Márcio Gomes Soares
Maria das Graças Santa Bárbara
Maria Helena Damasceno e Silva Megale
Paulo Sérgio Lacerda Beirão
Roberto Alexandre do Carmo Said
Alexandre Borges Miranda

Política Educacional

Belo Horizonte
Editora UFMG
2009
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© 2009, Alexandre Borges Miranda
© 2009, Editora UFMG
Este livro ou parte dele não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização escrita do Editor.

Miranda, Alexandre Borges.


M672p Política educacional / Alexandre Borges Miranda. – Belo Horizonte : Editora
UFMG, 2009.

103 p. : il. (Educação a Distância)

Inclui referências.
ISBN: 978-85-7041-802-9

1. Educação. 2. Educação e Estado. I. Título. II. Série.

CDD: 370
CDU: 37

Elaborada pela DITTI – Setor de Tratamento da Informação


Biblioteca Universitária da UFMG

Este livro recebeu apoio financeiro da Secretaria de Educação a Distância do MEC.

COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO DE TEXTOS DE MATEMÁTICA Dan Avritzer


ASSISTÊNCIA EDITORIAL Eliane Sousa e Euclídia Macedo
EDITORAÇÃO DE TEXTOS Maria do Carmo Leite Ribeiro
REVISÃO E NORMALIZAÇÃO Márcia Romano
REVISÃO DE PROVAS Angelli de Castro, Danivia Wolff e Renata Passos
PROJETO GRÁFICO Eduardo Ferreira
FORMATAÇÃO E CAPA Sérgio Luz
PRODUÇÃO GRÁFICA Warren Marilac

Editora UFMG PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO


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Este livro é dedicado à Júlia e à Rosimar,
com amor.

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Os Cursos de Graduação da UFMG, modalidade a distância, foram
concebidos tendo em vista dois princípios fundamentais. O primeiro
se refere à democratização do acesso à educação superior; o segundo
consiste na formação de profissionais de alto nível, comprometidos
com o desenvolvimento do país.
A coletânea da qual este volume faz parte visa dar suporte aos estu-
dantes desses cursos. Cada volume está relacionado a um tema, eleito
como estruturante na matriz curricular. Ele apresenta os conhecimentos
mínimos que são considerados essenciais no estudo do tema. Isto não
significa que o estudante deva se limitar somente ao estudo do volume.
Ao contrário, ele é o ponto de partida na busca de um conhecimento
mais amplo e aprofundado sobre o assunto. Nessa direção, cada volume
apresenta uma bibliografia, com indicação de obras impressas e virtuais
que deverão ser consultadas à medida que se fizer necessário.
Cada volume da coletânea está dividido em aulas, que consistem
em unidades de estudo do tema tratado. Os objetivos, apresentados
em cada início de aula, indicam as competências e habilidades que o
estudante deve adquirir ao término de seu estudo. As aulas podem se
constituir em apresentação, reflexões e indagações teóricas, em expe-
rimentos ou em orientações para atividades a serem realizadas pelos
estudantes.
Para cada aula ou conjunto de aulas, foram elaboradas Atividades
Complementares com o objetivo de levar o estudante a avaliar o seu
progresso e a desenvolver estratégias de metacognição ao se conscien-
tizar dos diversos aspectos envolvidos em seus processos cognitivos.
Essas atividades auxiliarão o estudante a tornar-se mais autônomo,
responsável, crítico, capaz de desenvolver sua independência intelec-
tual. Caso elas mostrem que as competências e habilidades indicadas
nos objetivos não foram alcançadas, o aluno deverá estudar com mais
afinco e atenção o tema proposto, reorientar seus estudos ou buscar
ajuda dos tutores, professores especialistas e colegas.
Agradecemos a todas as instituições que colaboraram na produção
desta coletânea. Em particular, agradecemos às pessoas (autores, coor-
denador da produção gráfica, coordenadores de redação, desenhistas,
diagramadores, revisores) que dedicaram seu tempo, e esforço na
preparação desta obra que, temos certeza, em muito contribuirá para
a educação brasileira.

Maria do Carmo Vila


Coordenadora do Centro de Apoio à Educação a Distância
UFMG

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Sumário

Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Aula 1 - Políticas sociais e educação no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
Aula 2 - A educação na Constituição Federal de 1988 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
Aula 3 - Os sistemas de ensino na LDB/96, o Conselho Nacional de
Educação (CNE) e os Planos de Educação: PNE, PDE, CONAE,
Plano Decenal de MG . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
Aula 4 - Os níveis, as etapas e as modalidades de ensino na LDB/96. . . . . . . . . . . 59
Os níveis. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
Educação infantil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
Ensino fundamental. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
Ensino médio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
Educação de Jovens e Adultos (EJA). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
Educação Profissional. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
Educação Especial. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
Educação a Distância. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
Educação Indígena. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
Educação superior. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
Aula 5 - Situação da educação brasileira. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
Diagnósticos, tendências e perspectivas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
Aula 6 - As políticas de avaliação dos sistemas de ensino. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
Aula 7 - As políticas de formação e gestão de professores para a educação básica.87
A Lei do Piso Salarial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
A escassez de professores no ensino médio e as ações governamentais
para a formação de professores. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
Aula 8 - O Projeto Político-Pedagógico e aspectos da gestão democrática
da escola, previstos na CF/88. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
Considerações finais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
Sobre o autor. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103

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Apresentação

Caro(a) aluno(a),
O objetivo deste livro didático é apresentar e desenvolver, em oito
aulas, o conteúdo proposto pela disciplina Política Educacional, de 30
horas, equivalente a 2 créditos, do curso de Licenciatura em Matemá-
tica, na modalidade a distância, oferecido pelo Instituto de Ciências
Exatas da Universidade Federal de Minas Gerais (ICEX/UFMG), o qual
está transcrito a seguir:

• Políticas sociais e educação no Brasil;


• Organização do sistema educacional brasileiro: níveis, etapas e
modalidades de ensino;
• Projetos político-pedagógicos;
• Políticas de gestão e avaliação dos sistemas de ensino;
• Profissionais da educação e formação.

Na AULA 1 – Políticas sociais e educação no Brasil, partiremos das


noções teóricas de Estado e de governo para, em seguida, discutirmos
aspectos relativos às políticas públicas no âmbito do Estado capitalista
e do federalismo brasileiro.
O principal objetivo desta aula inicial é fornecer-lhe alguns elementos
teóricos que constituem um “pano de fundo” para o seu estudo de polí-
tica educacional.
Na AULA 2 – A educação na Constituição Federal de 1988, focali-
zaremos as disposições sobre educação da nossa Constituição.
Essa aula possui dois objetivos:
1º) Estudar os princípios estabelecidos pela Constituição de 1988 para
a educação, como a gratuidade plena da educação em estabelecimentos
públicos, a obrigatoriedade do ensino fundamental, a figura jurídica
do direito público subjetivo, a colaboração entre os entes da federação,
a gestão democrática da educação;
2º) estudar a vinculação estabelecida no texto original da Constituição
e a posterior subvinculação, através de emendas à Constituição, de
recursos orçamentários para a educação, efetivados por meio da política
de criação de fundos contábeis obrigatórios (o Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magis-
tério (FUNDEF), em 1996, pela Emenda nº 14, e o Fundo de Manu-
tenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
Profissionais da Educação (FUNDEB), em 2006, pela Emenda nº 53).

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Na AULA 3 – Os sistemas de ensino na LDB/96, o Conselho


Nacional de Educação (CNE) e os Planos de Educação – PNE,
PDE, CONAE, Plano Decenal de MG –, estudaremos os sistemas de
ensino na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, o CNE e os
Planos de Educação.
O objetivo desta aula é analisar as disposições da LDB sobre sistemas
de ensino (Art. 8º a 20), confrontando-as com as discussões sobre um
sistema nacional de educação, a partir do estudo dos seguintes temas:
1º) O Conselho Nacional de Educação (CNE) e o seu papel no sistema
educacional brasileiro;
2º) o Plano Nacional de Educação (PNE), Lei nº 10.172, de 9 de janeiro
de 2001, situando-o no âmbito das discussões atuais sobre o sistema
nacional de educação, que ocorrem em torno da Conferência Nacional
de Educação de 2010 (CONAE 2010) –, processo de elaboração do
próximo plano nacional de educação;
3º) o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), proposto pelo
Ministério da Educação (MEC), em abril de 2007, que reúne a suas
ações no contexto do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC);
4º) o Plano Decenal de Educação do Estado de Minas Gerais, projeto de
lei em tramitação na Assembleia Legislativa;
Na AULA 4 – Os níveis, as etapas e as modalidades de ensino na
LDB/96, estudaremos as disposições do Título V da Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional, que compreende os Art. 21 a 60.
O objetivo desta aula é analisar os dispositivos da LDB para os dois
níveis de ensino (educação básica e educação superior), focalizando
prioritariamente o estudo das três etapas da educação básica (educação
infantil, que compreende a creche e a pré-escola, o ensino fundamental
e o ensino médio) e apresentando as diferentes modalidades de ensino
(Educação de Jovens e Adultos (EJA), Educação Especial, Educação a
Distância, Educação Profissional, Educação Indígena).
Na AULA 5 – Situação da educação brasileira: diagnósticos,
tendências e perspectivas, discutiremos aspectos da realidade
educacional brasileira.
O objetivo desta aula é conhecer e discutir a situação da educação
brasileira, a partir do estudo das estatísticas do Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP/MEC) – Censo
da Educação Básica, Censo da Educação Superior e outros –, do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e de um relatório publicado
recentemente pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).
Na AULA 6 – As políticas de avaliação dos sistemas de ensino,
abordaremos algumas noções teóricas e os principais instrumentos
das políticas de avaliação dos sistemas de ensino no Brasil.

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apresentação

Os objetivos desta aula são:


1º) Estudar alguns aspectos teóricos das políticas de avaliação no
Estado capitalista neoliberal, discutindo a noção de “quase mercado”;
2º) conhecer o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB)
e os impactos de sua adoção, pelo MEC, no atual governo;
3º) apresentar o site do INEP, onde é possível obter informações sobre
outros instrumentos de avaliação da educação básica e superior.
Na AULA 7 – As políticas de formação e gestão de professores
para a educação básica, discutiremos os dispositivos da LDB/96
sobre profissionais da educação (Art. 61 a 67 e 87, parágrafo 4º) e as
políticas mais recentes para a formação e a carreira dos docentes da
educação básica.
Constituem objetivos desta aula:
1º) Apresentar os dispositivos da LDB/96 sobre políticas de formação
de professores para a educação básica (Art. 61 a 67 e 87, parágrafo 4º);
2º) conhecer a Lei do Piso Salarial para os profissionais da educação
básica e estudar a sua implementação, que enfrenta resistências de
prefeitos e governadores, sendo que alguns dispositivos dessa lei foram
suspensos, provisoriamente, pelo Supremo Tribunal Federal (STF);
3º) discutir a escassez de professores no ensino médio e conhecer as
ações governamentais para a formação de professores, tais como a
criação da Universidade Aberta do Brasil (UAB) e da Nova Capes, e
o recente Plano Nacional de Formação dos Professores da Educação
Básica, em implementação pelo MEC, em 2009.
Na AULA 8 – O Projeto Político-Pedagógico e aspectos da
gestão democrática da escola, previstos na CF/88, concluindo o
nosso curso, focalizaremos a escola, abordando projetos e programas
voltados mais diretamente para ela.
São objetivos desta aula:
1º) Discutir a gestão democrática da escola, prevista na Constituição, e
o papel do Projeto Político-Pedagógico (PPP) nesse processo;
2º) conhecer alguns projetos voltados para a escola, como o de fortale-
cimento do conselho escolar e o do dinheiro direto na escola.
Além da exposição da matéria, foram propostas Atividades Comple-
mentares, para aprofundamento das aulas e avaliação da aprendi-
zagem. O cronograma da disciplina, com a proposta de avaliação,
encontra-se disponível na página do curso na internet.
Concluindo esta apresentação, importa observar que este livro não tem
a pretensão de esgotar plenamente a abordagem de todas as temáticas
da Política Educacional, um vasto e complexo campo de investigação,

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mas apenas espera-se contribuir para sistematizar uma introdução


ao seu estudo, considerando a ementa e a carga horária de apenas 30
horas desta disciplina específica.
Espero que este material impresso contribua para organizar os seus
estudos da disciplina Política Educacional, servindo-lhe como um guia
didático para as aulas via internet, neste momento, mas que também
possa vir a abrir os seus caminhos para futuras aprendizagens nesta
área.
Um abraço do autor e sinceros votos de sucesso profissional na
carreira do magistério!

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AULA 1
Políticas sociais e educação no Brasil

Nesta aula inicial, nosso tema central é o Estado; veremos algumas


noções teóricas de Estado e de governo. A partir dessa análise, discu-
tiremos aspectos relativos às políticas públicas no âmbito do Estado
capitalista e características do federalismo brasileiro e suas implica-
ções para a organização da educação.
O objetivo desta primeira aula é fornecer-lhe alguns elementos teóricos
que constituem o que podemos chamar de “pano de fundo” para o seu
estudo de Política Educacional. São noções básicas de ciência política
e de direito constitucional, essenciais para a compreensão das discus-
sões mais específicas da Política Educacional.
O que você entende quando se depara com a palavra estado (não
importa se grafada com a letra inicial maiúscula ou minúscula) em um
texto?
Vejamos o que nos diz o Dicionário Aurélio século XXI sobre os signifi-
cados da palavra estado (do latim statu), que possui tantas acepções
diferentes:

estado [Do lat. statu.]

S. m.

1. Modo de ser ou estar.

2. Situação ou disposição em que se acham as pessoas ou as coisas em


um momento dado: estado de saúde; estado de espírito; estado de
abandono; “A tudo se habitua o homem, a todo o estado se afaz”
(Almeida Garrett, Viagens na minha terra, p. 178).

3. Modo de existir na sociedade; situação social ou profissional;


condição: estado militar; estado eclesiástico; estado de escravidão;
“Eu sou Lereno, / De baixo estado, / Choça nem gado / Dar poderei.”
(Domingos Caldas Barbosa, ap. Sérgio Buarque de Holanda, Anto-
logia dos poetas brasileiros da fase colonial, I, p. 296).

4. Conjunto das condições físicas e morais de uma pessoa: No seu


estado, a jovem só pensava no filho que ia nascer.

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5. Luxo, pompa, fausto, ostentação, magnificência: O magnata vivia


em grande estado.

6. Lista enumerativa; inventário; registro: o estado das despesas, dos


bens.

7. Cada uma das classes ou categorias do corpo social, especialmente


as que se reportam à divisão tradicional adotada no antigo regime
monárquico francês (clero, nobreza e povo). [V. estados-gerais.]

8. O conjunto dos poderes políticos de uma nação; governo: estado


republicano; estado democrático; estado totalitário.

9. Divisão territorial de certos países: O Brasil tem 26 estados e um


distrito federal.

10. Dir. Nação politicamente organizada. [Nesta acepç., com cap.]

11. Organismo político administrativo que, como nação soberana ou


divisão territorial, ocupa um território determinado, é dirigido por
governo próprio e se constitui pessoa jurídica de direito público,
internacionalmente reconhecida.

12. Sociedade politicamente organizada.

13. Cronol. Estado absoluto de um relógio (q. v.).

14. Fís. Estado de agregação (q. v.).

15. Fís. Conjunto de valores das grandezas físicas de um sistema,


necessário e suficiente para caracterizar univocamente a situação
física deste sistema.

16. Grav. Cada uma das fases da execução de uma gravura, de que se
tira prova para verificação do trabalho: primeiro estado, segundo
estado etc.

17. Ant. Situação estacionária; parada.

18. Ant. Altura ordinária de um homem.

19. Ant. Ofício de defuntos.

Estado absoluto de um relógio. Cronol.

1. Intervalo de tempo que se deve adicionar algebricamente à hora


marcada por um relógio para se ter a hora correta. [Tb. se diz
apenas estado.]

Estado assistencial.

1. V. welfare State.

Estado civil.

1. Situação jurídica de uma pessoa em relação à família ou à socie-


dade, considerando-se o nascimento, filiação, sexo etc. (solteiro,
casado, desquitado, viúvo etc.).

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Aula 1

Estado coloidal. Fís.-Quím.

1. Estado de subdivisão das partículas da fase dispersa de um coloide.

Estado de agregação. Fís.

1. Uma das formas de agregação (sólida, líquida ou gasosa) que pode


apresentar uma substância. [Tb. se diz apenas estado.]

Estado de choque. Psiq.

1. Estado em que, de modo súbito e em consequência de emoção


violenta, ou de acontecimento psiquicamente muito traumati-
zante, se instala depressão (9) ou perda de autodomínio.

Estado de coisas.

1. Circunstâncias, conjunturas.

Estado de coma.

1. Coma 2.

Estado de direito. Polít.

1. Estado (8) regulado por uma constituição que prevê uma plurali-
dade de órgãos dotados de competência distinta explicitamente
determinada.

Estado de graça. Rel.

1. O de inocência, oposto ao de pecado.

Estado de inocência.

1. Desconhecimento do bem e do mal.

Estado de necessidade. Jur.

1. Situação em que se acha alguém que sacrifica direito alheio para


salvar direito próprio ou alheio de um perigo atual, ao qual não deu
causa, e que não pôde evitar.

Estado de sítio.

1. Suspensão temporária de certos direitos e garantias individuais.

Estado de transição. Quím.

1. Arranjo atômico que se forma no curso de uma reação, quando


a energia chega a um valor máximo. [Tanto as ligações que se
rompem quanto as que se formam na reação estão distendidas.]

Estado dubleto. Fís.

1. Dubleto (3).

Estado estacionário. Quím.

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política educacional

1. Situação em que a concentração de uma substância não varia com


o tempo, apesar de estar ela sendo formada e consumida simulta-
neamente.

Estado excitado. Fís.

1. Estado de um sistema em que a energia é superior à do estado


fundamental.

Estado fundamental. Fís.

1. Em um átomo ou num grupamento de átomos, a configuração


correspondente à energia potencial mínima.

Estado gasoso. Fís.

1. Estado de agregação de uma substância no qual as moléculas ou os


átomos estão relativamente distantes uns dos outros e as forças
atrativas ou repulsivas são, em média, pequenas.

Estado interessante. Pop.

1. A gravidez.

Estado ligado. Fís. Part.

1. Sistema coeso formado por duas ou mais partículas e que é mantido


pela energia de ligação (q. v.).

Estado líquido. Fís.

1. Estado de agregação de uma substância no qual as moléculas ou


os átomos estão, em média, muito mais próximos uns dos outros
que no estado gasoso, havendo uma ordenação espacial local e
transitória, e uma interação relativamente intensa das partículas
vizinhas.

Estado metaestável.

1. Fís. Estado em que uma substância ou um sistema pode perma-


necer, apesar de não ser estável nas condições físicas em que se
encontra.

2. Fís. Nucl. Estado excitado do núcleo ou do átomo que tem uma vida
média apreciável.

Estado político.

1. Situação jurídica da pessoa em relação ao Estado (cidadania e


nacionalidade).

Estado religioso.

1. Na religião católica, a ligação, mediante os três votos, de pobreza,


castidade e obediência, com uma congregação, instituto ou ordem
religiosa.

Estado singleto. Fís.

1. Singleto (2).

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Aula 1

Estado sólido. Fís.

1. Estado de agregação de uma substância cujas partículas consti-


tutivas (moléculas, íons, átomos) se acham arrumadas ordenada-
mente no espaço, formando uma rede cristalina, e em que há uma
forte interação das partículas vizinhas.

Estado tripleto. Fís.

1. Tripleto (2).

Em estado de graça.

1. Estado em que se encontra quem goza ou como que goza da graça


divina, ou por ela foi tocado.

Mudar de estado.

1. V. tomar estado (1).

No estado.

1. No estado (2) em que se encontra um objeto, sem alteração,


melhoria ou restauração.

Terceiro estado. Hist.

1. Designação dada outrora ao povo, em relação aos outros dois


estados, que eram o clero e a nobreza. [V. estado (7).]

Tomar estado.

1. Casar-se, matrimoniar-se; mudar de estado: “Casou-se, não por


amor, mas para tomar estado, para casar-se, como todas.” (Mário
Donato, A parábola das 4 cruzes, p. 71.)

2. Pôr casa.

3. Tomar um modo de vida.

4. Bras. S. Ficar em boas condições. [Us. nesta acepç. especialmente


com relação ao cavalo de corrida ou ao galo de rinha que se tornaram
aptos para os respectivos esportes.]

No nosso caso, estado significará, basicamente, duas coisas: o Estado


brasileiro, “organismo político administrativo que, como nação sobe-
rana ou divisão territorial, ocupa um território determinado, é dirigido
por governo próprio e se constitui pessoa jurídica de direito público,
internacionalmente reconhecida” e o estado-membro, a divisão terri-
torial do país (o Brasil tem 26 estados e um distrito federal). No
primeiro caso, o adjetivo correspondente é “estatal” e para a segunda
acepção, “estadual”.
Desse modo, quando falamos da “política estadual” ou de um “banco
estadual”, estamos nos referindo à ação ou a uma instituição de um
governo de estado-membro, como Minas Gerais, por exemplo, e quando

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usamos “estatal”, referimo-nos ao estado no seu sentido mais amplo.


Vale observar, porém, que esse adjetivo “estatal” serve para designar,
por exemplo, uma empresa municipal ou estadual, qualificando-a de
“estatal”, até porque não podemos confundir “estatal” com “federal”,
termo que diz respeito ao governo da União, já que o Estado brasi-
leiro, conforme definido pelo Art. 1º da nossa Constituição Federal
de 1988 (CF/88), é a “República Federativa do Brasil, formada pela
união indissolúvel dos estados e Municípios e do Distrito Federal”,
que “constitui-se em Estado Democrático de Direito”. A organização
político-administrativa da República, compreendendo a União, os
estados, o Distrito Federal e os municípios, é reafirmada no Art. 18
da CF/88. E quando falamos em “governo da União” não estamos nos
referindo apenas ao Poder Executivo, já que esse âmbito de governo,
assim como o dos estados-membros, compreende também os poderes
Legislativo e Judiciário. Os municípios tecnicamente não contam com
um “governo”, pois possuem somente os poderes Executivo (prefeito
municipal) e Legislativo (Câmara Municipal), não existindo o Poder
Judiciário municipal.1

ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 1

Elabore um texto, de aproximadamente duas páginas, fazendo uma


apresentação pessoal, refletindo sobre a sua trajetória acadêmico-
-profissional, com ênfase na discussão de sua opção pela carreira
de professor e nas razões da escolha deste curso, comentando a sua
experiência profissional no magistério, se houver.

ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 2

Saiba mais sobre a Organização do Estado e sobre a Organização


dos Poderes, lendo os Títulos III e IV da nossa CF/88, os quais
compreendem os Art. 18 a 43 e 44 a 135.
Após a leitura, registre as principais características da organização
jurídica e política do Estado brasileiro.
Dica: se você ainda não tem a Constituição, baixe o texto completo e
atualizado, disponível em:
<www.presidencia.gov.br/legislacao>
ou diretamente pelo link
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.
1
Vale lembrar que temos htm>.
os Tribunais de Contas
em alguns municípios,
mas estes são órgãos de
assessoramento do Poder
Aproveitando que mencionamos, anteriormente, a palavra governo,
Legislativo e, apesar do ao fazer referência ao governo da União e ao governo dos municípios,
nome de “tribunal”, não vamos agora confrontar Estado e governo, que muitas vezes aparecem
integram o Judiciário.
como sinônimos, mas não são.

20

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Aula 1

Você já sabe diferenciar o Estado brasileiro, que tem personalidade jurí-


dica internacional, do estado-membro, ou simplesmente chamado de
estado, que é uma parte da nossa República Federativa – a UF, Unidade
da Federação, que preenchemos nos formulários diariamente –, a qual
possui personalidade jurídica interna.
Mas como poderemos compreender Estado e governo? É muito
simples: pense em um condomínio de um prédio residencial que possui
um síndico. O síndico é eleito, periodicamente, para administrar os
recursos financeiros e gerir os problemas do condomínio desse prédio,
por um determinado período de tempo. Podemos, para simplificar,
entender o síndico como o “governo” e o condomínio como “Estado”. O
condomínio é um pacto jurídico, um acordo entre pessoas, que possui
um espaço físico delimitado (território), pode possuir funcionários
etc., é permanente (ao menos enquanto dure, pois o prédio pode cair,
assim como os Estados acabam, como a antiga União Soviética, por
exemplo, e se transformam em outros Estados). O síndico é transi-
tório, tem um mandato, administra o que é comum em nome de todos
e a estes deve prestar contas e por eles pode ser destituído.
Pois bem, a comparação acima é para ilustrar, de modo direto, a dife-
rença entre Estado e governo, certo de que, neste caso, a situação do
Estado é mais complexa do que a de um síndico e de seu condomínio
residencial.
O Estado possui o monopólio da “vis”, expressão latina que significa
“força”. O Brasil não adota a pena de morte, mas alguns estados a
utilizam como a expressão máxima de sua “força”. Entretanto, o Estado
brasileiro pode, através de decisão fundamentada do Poder Judiciário,
determinar a perda da liberdade, ou confiscar os bens de uma pessoa,
ou exercer tantos outros poderes decorrentes de sua soberania.
Apenas os Estados nacionais possuem “soberania”, que, nas últimas
décadas, vem sendo diminuída, por vontade desses Estados, para
transferir parte dos seus poderes para uma organização regional. Por
exemplo, podemos citar o caso dos Estados que integram a União
Europeia e que decidiram adotar uma moeda comum, o Euro, abrindo
mão de uma prerrogativa relevante da sua soberania, que é o poder de
emissão da moeda circulante no seu território, e de tomarem sozinhos
todas as decisões sobre política monetária. De modo mais tímido,
temos aqui o Mercosul.
O Estado nacional precisa ser administrado por pessoas, que são o
governo. No Brasil, atualmente, o governo é eleito periodicamente, de
acordo com as regras previstas na CF/88. No caso do Executivo e do
Legislativo, os governantes são eleitos para mandatos de quatro anos
(presidente da República, governadores, deputados estaduais e fede-
rais, prefeitos e vereadores) e de oito anos (senadores). Os membros
do Judiciário não são eleitos. A noção de governo traz consigo a ideia
de uma bandeira ideológica, de “partido”, ou seja, de uma plataforma

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política educacional

de ações a serem implementadas naquele período de mandato em que


essas pessoas estarão administrando o Estado. E os eleitores, que se
identificam com essa ou com aquela proposta, levam esse grupo para o
poder, por determinado tempo.
Essa discussão nos remete às teorias que buscam explicar o surgimento
do Estado moderno e justificá-lo. O que funda o Estado é a soma da
parcela da liberdade que cada cidadão renuncia. Em outras palavras:
estabelecemos um “pacto social”, conferindo a um terceiro, o Estado,
poderes para arbitrar os conflitos entre os cidadãos e exercer a justiça
e o bem comum. Assim, é o Estado que garante que você possui algo,
que lhe confere o direito de propriedade deste livro, por exemplo, ou de
qualquer outra coisa. Outro tipo de Estado poderia, por exemplo, esta-
belecer a propriedade coletiva de todos os bens. Quando abrimos mão
de parte de nossa liberdade e passamos a fazer ou deixar de fazer algo
em observância da lei, é porque reconhecemos um ordenamento jurí-
dico como válido e nos submetemos a ele. De outro modo, teríamos a
“guerra de todos contra todos”, que seria o cenário descrito por Thomas
Hobbes como anterior ao surgimento do Estado, e, assim, todos pode-
riam matar, roubar, quebrar, estuprar etc. livremente, na ausência do
Estado. É o Estado que diz o que é crime, como se procede à investi-
gação, que determina a punição e a reparação do dano etc. É o mesmo
Estado que determina que você deve pagar impostos (e no Brasil são
muitos) para financiá-lo. E o Estado vai retornar esses impostos, pagos
por todos, em políticas públicas, ou seja, ações estatais para todos, no
sentido de garantir os direitos civis, sociais e políticos.
Antes, porém, de abordar as noções de políticas e direitos, retorna-
remos ao conceito de Estado, para diferenciar Estado unitário de
Estado federativo.
Como mencionado acima, por definição da nossa Constituição, o Brasil
é uma “República Federativa”. O que isso significa? Em primeiro lugar,
nem todo Estado se organiza como república, já que temos reinos e
impérios. E nem toda república é federativa. E nem toda federação é
igual, existindo Estados que são mais uma confederação, cujos estados-
-membros gozam de mais ou de menos autonomia do que outros.
O Brasil, portanto, é hoje um Estado federativo, ou federado, para
alguns autores. Nem sempre foi assim: no início de nossa existência
como Estado independente, a partir de 1822, fomos reino, por curto
período, e império. Éramos um Estado unitário, ou seja, o poder não
era dividido em esferas administrativas (federal, estadual e municipal)
como atualmente. Nos períodos de ditadura (Vargas, após 1937, e
militar, a partir de 1964) vivemos, de fato, um Estado unitário, com
o governo central (federal) controlando também as esferas estaduais
e municipais.
Ser um Estado federativo significa que o poder é exercido por dife-
rentes instâncias de governo, que podem ser (e são, atualmente)

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Aula 1

eleitas separadamente. Assim, temos um prefeito do partido “A”, um


governador do partido “B”, um presidente do partido “C”, legislativos
com maiorias de outros partidos. O que caracteriza uma federação é
que um governo não interfere em outro governo. A cada esfera admi-
nistrativa correspondem recursos (tributos, que podem ser impostos,
taxas e contribuições) e atribuições específicos. O presidente da Repú-
blica não pode exonerar um servidor municipal, por exemplo, nem
decidir sobre questões relativas ao IPTU, que é um imposto municipal.
Da mesma forma, só o Congresso Nacional pode legislar sobre deter-
minadas matérias, como direito penal, direito processual e tantas
outras. No caso da educação, por exemplo, a CF/88 estabelece, no seu
Art. 22, Inciso XXIV, como competência privativa da União, legislar
sobre as diretrizes e bases da educação nacional, sendo que a União,
os estados e o Distrito Federal podem legislar concorrentemente2
sobre educação, conforme prevê o Art. 24, Inciso IX. Já aos municípios
compete “suplementar a legislação federal e estadual no que couber”
(Art. 30, II).
A própria CF/88, conforme veremos mais detalhadamente na Aula
2, estabelece, para o caso da educação, que “A União, os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração
seus sistemas de ensino” (caput do Art. 211), detalhando as responsa-
bilidades de cada um dos entes da federação.
Se no Estado federativo existem vários níveis de governo, com partidos
e propostas diferenciadas, no Estado unitário o governo é um só e,
com isso, o Estado não se debate com entraves internos, conflitos de
legislação, necessidade de acordos, adesões, contratos, convênios,
disputas partidárias e outras dificuldades. E aqui entram outras ques-
tões: o Estado unitário é mais autoritário que o federativo? Por ser
mais centralizado, o Estado unitário é necessariamente um Estado De acordo com
2

autoritário? Por ser mais descentralizado administrativamente, o CUNHA (2002, p. 50),


Estado federativo seria mais democrático que o Estado unitário? A um competência privativa
Estado federativo deve corresponder um sistema presidencialista, e a é a competência
exclusiva, ou seja, aquela
um Estado unitário um sistema parlamentarista? que exclui qualquer outra
com o mesmo conteúdo,
Vamos examinar, mais adiante, essas questões. O binômio centrali- e competência
zação/descentralização vai nos interessar para jogar luz na discussão concorrente é a que se
sobre a municipalização do ensino fundamental, uma decorrência do exerce simultaneamente
sobre a mesma matéria,
FUNDEF, criado em 1996. por mais de uma
autoridade ou órgão.
Já a questão do parlamentarismo ou presidencialismo marcou a elabo-
ração da CF/88, que foi pensada na direção do parlamentarismo, mas Dica: sempre que você
acabou adotando o presidencialismo. Nos Estados que adotam o parla- tiver dúvidas sobre
o significado de uma
mentarismo (monarquia ou república), há uma separação entre o chefe expressão, termo ou
de governo e o chefe de Estado, como na Inglaterra, por exemplo, onde conceito, procure
temos a rainha como chefe de Estado e um primeiro-ministro como consultar um dicionário
específico de direito ou
chefe de governo. Nesses sistemas, há um fortalecimento dos partidos, de ciência política, ou um
e os governos podem mudar mais facilmente antes das eleições. dicionário comum.

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política educacional

Em muitos casos, o sistema eleitoral é diferente, com voto distrital ou


distrital misto, em geral facultativo.
No Brasil, com um sistema fortemente presidencialista, encontramos
um Poder Executivo forte, que inclusive legisla mais que o próprio
Poder Legislativo, cuja agenda vive a reboque do primeiro.3
Retomemos a discussão sobre Estado e políticas públicas. É impres-
cindível considerar que um Estado não existe abstratamente, ou seja,
o Estado é uma construção política, tem historicidade, determinantes
econômicos, culturais, dentre outros. Existem diferentes tipos de
Estado, por exemplo, o Irã, atualmente em evidência na mídia, é um
Estado teocrático, em que as instituições do poder civil se confundem
com as do poder religioso. De modo geral, os Estados atuais são desvin-
culados das Igrejas, são instituições civis, laicas.
No caso brasileiro, a CF/88, no seu Art. 19, I, prevê expressamente
essa separação entre Igreja e Estado, vedando à União, aos estados, ao
Distrito Federal e aos municípios “estabelecer cultos religiosos ou igrejas,
subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles
ou seus representantes relações de dependência ou aliança” (Art. 19, I).
Mas nem sempre foi assim: no Brasil, durante o Império, a Igreja e
o Estado estavam vinculados, sendo o imperador chefe de Estado, de
governo e também chefe da Igreja, sendo esta responsável pelo registro
de nascimentos, casamentos e óbitos, que só a partir da Proclamação
da República, instituída pelo golpe militar de 1889, passaram a ser de
responsabilidade do Estado. Ainda hoje encontramos resquícios dessa
união: símbolos da religião católica, como cruz e capelas, em escolas
públicas, fóruns e casas legislativas.4
Além desse aspecto cultural, que também poderia ser abordado a partir
3
Sobre esse ponto, ver
o livro de Rosimar de da questão linguística, por exemplo, pretendo enfatizar os determi-
Fátima Oliveira, baseado nantes econômicos, ou seja, estamos falando, no caso brasileiro, de
na pesquisa da sua tese um Estado inserido na economia capitalista. Foge aos objetivos desta
de doutorado na USP, em
2005, que analisou o papel
aula aprofundar análises sobre o capitalismo. De qualquer modo,
do Congresso Nacional recomendo-lhes que leiam sobre o tema, procurando compreender um
em matéria educacional, pouco mais sobre a educação no modo de produção capitalista. Sendo
após a LDB de 1996 um produtor de desigualdades, e alimentando-se destas, o capitalismo
(OLIVEIRA, 2009).
não funciona com o pressuposto da igualdade entre as pessoas, não
4
Recentemente, em maio tem esse objetivo. Não falo da igualdade jurídica de todos perante a lei,
de 2009, na abertura
dos trabalhos do Fórum
mas da igualdade de oportunidades, de condições de acesso aos bens
sobre o Plano Decenal de consumo, ao trabalho, à própria educação. Dessa desigualdade, ou
de Educação de Minas para minimizá-la, decorrem políticas de ações afirmativas, como cotas
Gerais, por exemplo, a e bônus, por exemplo, em que o Estado assume um papel de “equali-
deputada que presidia a
Comissão de Educação da zador”, digamos assim, das diferenças.
Assembleia Legislativa do
Estado de Minas Gerais E a escola pública hoje, no Brasil? Quem são os seus alunos? Qual a
rezou um Pai-nosso na remuneração de um professor de educação infantil? Ou de ensino
abertura do evento. fundamental e médio? Qual o papel da escola no capitalismo? Muitas

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Aula 1

dessas questões são estudadas por outras disciplinas, como a sociologia


da educação ou a filosofia da educação, mas devemos ter consciência
de que, ao estudarmos Política Educacional, estamos lidando com um
Estado concreto, específico, o Estado capitalista, e que essa condição
é determinante de uma dada concepção de educação, condicionando a
formulação das políticas para esse setor. É nesse sentido que Eloísa de
Mattos Höfling inicia o seu artigo “Estado e políticas (públicas) sociais”:5
Para além da crescente sofisticação na produção de instrumentos de
avaliação de programas, projetos e mesmo de políticas públicas é funda-
mental se referir às chamadas “questões de fundo”, as quais informam,
basicamente, as decisões tomadas, as escolhas feitas, os caminhos de
implementação traçados e os modelos de avaliação aplicados, em relação a
uma estratégia de intervenção governamental qualquer.
E uma destas relações consideradas fundamentais é a que se estabelece
entre Estado e políticas sociais, ou melhor, entre a concepção de Estado e
a(s) política(s) que este implementa, em uma determinada sociedade, em
determinado período histórico.6

Logo a seguir, a autora faz a diferenciação entre Estado e governo:


Torna-se importante aqui ressaltar a diferenciação entre Estado e governo.
Para se adotar uma compreensão sintética compatível com os objetivos
deste texto, é possível se considerar Estado como o conjunto de institui-
ções permanentes – como órgãos legislativos, tribunais, exército e outras
que não formam um bloco monolítico necessariamente – que possibilitam
a ação do governo; e Governo, como o conjunto de programas e projetos
que parte da sociedade (políticos, técnicos, organismos da sociedade civil
e outros) propõe para a sociedade como um todo, configurando-se a orien-
tação política de um determinado governo que assume e desempenha as
funções de Estado por um determinado período.
Políticas públicas são aqui entendidas como o “Estado em ação” (GOBERT;
MULLER, 1987); é o Estado implantando um projeto de governo, através
de programas, de ações voltadas para setores específicos da sociedade.7

No mesmo texto, Höfling discute características do Estado capitalista


e das teorias liberais e neoliberais.

ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 3

Leia o artigo “Estado e políticas (públicas) sociais”.8


Dica: baixe o texto, acessando a página do Portal Scielo, disponível
em: <www.scielo.br>,
ou diretamente pelo link: 5
HÖFLING, 2001,
<http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v21n55/5539.pdf>. p. 30-41.
Após a leitura, faça uma síntese, de aproximadamente uma página, HÖFLING, 2001, p. 31.
6

dos principais conceitos trabalhados no texto pela autora.


HÖFLING, 2001, p. 31.
7

HÖFLING, 2001,
8

Discutindo o Estado federativo e a descentralização das políticas p. 30-41.


sociais, Marta Arretche trata da distribuição da autoridade política dos ARRETCHE, 2002,
9

Estados nacionais no artigo “Relações federativas nas políticas sociais”.9 p. 25-48.

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política educacional

A autora discute a municipalização da oferta de matrículas no ensino


fundamental, ocorrida no governo Fernando Henrique, focalizando
a educação ao lado de outras políticas sociais, como saúde, habitação
e saneamento. Este texto e o anterior, apesar de não serem textos
recentes, são complementares e trazem conceitos teóricos relevantes
para o nosso estudo.

ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 4

Leia o artigo “Relações federativas nas políticas sociais”.10


Dica: baixe o texto acessando a página do Portal Scielo, disponível
em: <www.scielo.br>,
ou diretamente no link:
<http://www.scielo.br/pdf/es/v23n80/12922.pdf>.
Após a leitura, faça uma síntese do texto de no máximo uma página.

Outros autores, como Cleiton de Oliveira, por exemplo, também


discutem a municipalização do ensino e nos trazem interessantes
discussões teóricas sobre centralização e descentralização, concen-
tração e desconcentração, analisando o impacto da municipalização do
ensino fundamental decorrente do FUNDEF.
Se você tiver interesse em ler mais sobre Estado, recomendo-lhe Os
clássicos da política, um livro didático, em dois volumes, organizado por
Francisco Carlos Weffort, que traz fragmentos de textos e comentários
sobre a vida e a obra de autores clássicos (Maquiavel, Hobbes, Locke,
Montesquieu, Rousseau e O federalista, no vol. 1, e Burke, Kant, Hegel,
Tocqueville, Stuart Mill e Marx, no vol. 2).
Outra indicação que não pode faltar é a do Dicionário de política, orga-
nizado por Norberto Bobbio e outros, em dois volumes. Leia especial-
mente os verbetes estado contemporâneo e governo, ambos no vol. 1.
Concluindo esta aula, faça uma revisão dessas “questões de fundo” rela-
tivas a Estado e políticas sociais, lendo outro artigo de Marta Arretche
sobre políticas sociais e federalismo, conforme indicado a seguir.

ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 5

10
ARRETCHE, 2002,
“Federalismo e políticas sociais no Brasil: problemas de coordenação
p. 25-48. e autonomia”.11
Dica: baixe o texto, acessando a página do Portal Scielo, disponível
11
ARRETCHE, 2004,
p. 17-26. em: <www.scielo.br>,
ou diretamente no link
<http://www.scielo.br/pdf/spp/v18n2/a03v18n2.pdf>.

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Aula 1

Na próxima aula, iremos estudar as disposições sobre educação na


Constituição de 1988.

ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 6

Com relação ao artigo “Relações federativas nas políticas sociais”, 12


responda as seguintes questões:

1. Discutir as relações entre centralização e autoritarismo,


comentando a situação do Brasil, conforme apontado pela
autora, fazendo as distinções entre Estados unitários e
Estados federativos.
2. “Entre 1997 e 2000, ocorreu no Brasil uma significativa redis-
tribuição das matrículas no nível fundamental de ensino” (p.
38). Discutir esse processo de municipalização, com base no
texto.
3. Comentar as conclusões da autora sobre a “capacidade de veto
dos governos locais” em relação à implementação de políticas
de descentralização.
4. Expressar a sua opinião em relação às políticas de descentra-
lização, mais especificamente em educação (p. 31 e p. 48, na
última linha do texto).

ARRETCHE, 2002,
12

p. 25-48.

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AULA 2
A educação na Constituição
Federal de 1988

Nesta aula, focalizaremos as disposições sobre educação da nossa


Constituição, procurando desenvolver dois objetivos:
1º) Estudar os princípios estabelecidos pela Constituição Federal de
1988 (CF/88) para a educação, como a gratuidade plena da educação
em estabelecimentos públicos, a obrigatoriedade para o ensino funda-
mental, a figura jurídica do direito público subjetivo, a colaboração
entre os entes da federação, a gestão democrática da educação;
2º) estudar a vinculação, no texto original, e a posterior subvincu-
lação, através de emendas à Constituição, de recursos orçamentários
para a educação, efetivados por meio da política de criação de fundos
contábeis obrigatórios (o FUNDEF, em 1996, pela Emenda nº 14, e o
FUNDEB, em 2006, pela Emenda nº 53).
A CF/88 dedicou a primeira Seção do terceiro Capítulo do seu Título
VIII para a educação, que compreende os Art. 205 a 217. No seu Ato
das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), a Constituição
de 1988 dedica um importante dispositivo para a educação, o Art. 60
do ADCT, cuja redação foi alterada em 1996 e em 2006, pelas Emendas
à Constituição nº 14 e nº 53, respectivamente, que criaram o FUNDEF
e o FUNDEB. Além desses artigos acima mencionados e transcritos a
seguir, muitos outros dispositivos da CF/88 tratam da educação, ao
longo do seu texto.

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política educacional

ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 7

Leia com atenção os Art. 205 a 214 da Seção da Educação e o Art.


60 do ADCT da CF/88. Faça uma síntese de como a Constituição de
1988 traça as linhas gerais para a organização da educação brasileira.

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

TÍTULO VIII – Da Ordem Social

CAPÍTULO III – DA EDUCAÇÃO, DA CULTURA E DO DESPORTO


Seção I – DA EDUCAÇÃO

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família,


será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando
ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento,


a arte e o saber;

III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de


instituições públicas e privadas de ensino;

IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;

V - valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos,


na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por
concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas; (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)

VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei;

VII - garantia de padrão de qualidade;

VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação


escolar pública, nos termos de lei federal. (Incluído pela Emenda Consti­
tucional nº 53, de 2006)

Parágrafo único. A lei disporá sobre as categorias de trabalhadores


considerados profissionais da educação básica e sobre a fixação de prazo
para a elaboração ou adequação de seus planos de carreira, no âmbito
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)

Art. 207. As universidades gozam de autonomia didático-científica,


administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao
princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.

§ 1º - É facultado às universidades admitir professores, técnicos e


cientistas estrangeiros, na forma da lei. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 11, de 1996)

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Aula 2

§ 2º - O disposto neste artigo aplica-se às instituições de pesquisa


científica e tecnológica. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 11,
de 1996)

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a


garantia de:

I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, assegurada, inclusive,


sua oferta gratuita para todos os que a ele não tiveram acesso na idade
própria; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 14, de 1996)

II - progressiva universalização do ensino médio gratuito; (Redação


dada pela Emenda Constitucional nº 14, de 1996)

III - atendimento educacional especializado aos portadores de defi­


ciência, preferencialmente na rede regular de ensino;

IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco)


anos de idade; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de
2006)

V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação


artística, segundo a capacidade de cada um;

VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;

VII - atendimento ao educando, no ensino fundamental, através de


programas suplementares de material didático-escolar, transporte,
alimentação e assistência à saúde.

§ 1º - O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público


subjetivo.

§ 2º - O não oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público,


ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade
competente.

§ 3º - Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino


fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou respon­
sáveis, pela frequência à escola.

Art. 209. O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as seguintes


condições:

I - cumprimento das normas gerais da educação nacional;

II - autorização e avaliação de qualidade pelo Poder Público.

Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental,


de maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores
culturais e artísticos, nacionais e regionais.

§ 1º - O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina


dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental.

§ 2º - O ensino fundamental regular será ministrado em língua


portuguesa, assegurada às comunidades indígenas também a utilização
de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem.

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política educacional

Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios


organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino.

§ 1º - A União organizará o sistema federal de ensino e o dos territórios,


financiará as instituições de ensino públicas federais e exercerá, em
matéria educacional, função redistributiva e supletiva, de forma a
garantir equalização de oportunidades educacionais e padrão mínimo
de qualidade do ensino mediante assistência técnica e financeira aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios; (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 14, de 1996)

§ 2º - Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental


e na educação infantil. (Redação dada pela Emenda Constitucional
nº 14, de 1996)

§ 3º - Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no


ensino fundamental e médio. (Incluído pela Emenda Constitucional
nº 14, de 1996)

§ 4º - Na organização de seus sistemas de ensino, os Estados e os


Municípios definirão formas de colaboração, de modo a assegurar
a universalização do ensino obrigatório. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 14, de 1996)

§ 5º - A educação básica pública atenderá prioritariamente ao ensino


regular. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)

Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os


Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no
mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente
de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino.

§ 1º - A parcela da arrecadação de impostos transferida pela União


aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, ou pelos Estados
aos respectivos Municípios, não é considerada, para efeito do cálculo
previsto neste artigo, receita do governo que a transferir.

§ 2º - Para efeito do cumprimento do disposto no caput deste artigo,


serão considerados os sistemas de ensino federal, estadual e municipal
e os recursos aplicados na forma do art. 213.

§ 3º - A distribuição dos recursos públicos assegurará prioridade ao


atendimento das necessidades do ensino obrigatório, nos termos do
plano nacional de educação.

§ 4º - Os programas suplementares de alimentação e assistência à saúde


previstos no art. 208, VII, serão financiados com recursos provenientes
de contribuições sociais e outros recursos orçamentários.

§ 5º - A educação básica pública terá como fonte adicional de finan-


ciamento a contribuição social do salário-educação, recolhida pelas
empresas na forma da lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional
nº 53, de 2006) (Vide Decreto nº 6.003, de 2006)

32

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Aula 2

§ 6º - As cotas estaduais e municipais da arrecadação da contribuição


social do salário-educação serão distribuídas proporcionalmente ao
número de alunos matriculados na educação básica nas respectivas
redes públicas de ensino. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53,
de 2006)

Art. 213. Os recursos públicos serão destinados às escolas públicas,


podendo ser dirigidos a escolas comunitárias, confessionais ou
filantrópicas, definidas em lei, que:

I - comprovem finalidade não lucrativa e apliquem seus excedentes


financeiros em educação;

II - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra escola comu-


nitária, filantrópica ou confessional, ou ao Poder Público, no caso de
encerramento de suas atividades.

§ 1º - Os recursos de que trata este artigo poderão ser destinados a bolsas


de estudo para o ensino fundamental e médio, na forma da lei, para os
que demonstrarem insuficiência de recursos, quando houver falta de
vagas e cursos regulares da rede pública na localidade da residência do
educando, ficando o Poder Público obrigado a investir prioritariamente
na expansão de sua rede na localidade.

§ 2º - As atividades universitárias de pesquisa e extensão poderão


receber apoio financeiro do Poder Público.

Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração


plurianual, visando à articulação e ao desenvolvimento do ensino em
seus diversos níveis e à integração das ações do Poder Público que
conduzam à:

I - erradicação do analfabetismo;

II - universalização do atendimento escolar;

III - melhoria da qualidade do ensino;

IV - formação para o trabalho;

V - promoção humanística, científica e tecnológica do País.

TÍTULO X - Ato das Disposições Constitucionais Transitórias

Art. 60. Até o 14º (décimo quarto) ano a partir da promulgação desta
Emenda Constitucional, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
destinarão parte dos recursos a que se refere o caput do art. 212 da
Constituição Federal à manutenção e desenvolvimento da educação
básica e à remuneração condigna dos trabalhadores da educação,
respeitadas as seguintes disposições: (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 53, de 2006)

I - a distribuição dos recursos e de responsabilidades entre o Distrito


Federal, os Estados e seus Municípios é assegurada mediante a criação,
no âmbito de cada Estado e do Distrito Federal, de um Fundo de

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política educacional

Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização


dos Profissionais da Educação (FUNDEB), de natureza contábil;
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)

II - os Fundos referidos no inciso I do caput deste artigo serão


constituídos por 20% (vinte por cento) dos recursos a que se referem os
incisos I, II e III do art. 155; o inciso II do caput do art. 157; os incisos
II, III e IV do caput do art. 158; e as alíneas a e b do inciso I e o inciso
II do caput do art. 159, todos da Constituição Federal, e distribuídos
entre cada Estado e seus Municípios, proporcionalmente ao número de
alunos das diversas etapas e modalidades da educação básica presencial,
matriculados nas respectivas redes, nos respectivos âmbitos de atuação
prioritária estabelecidos nos §§ 2º e 3º do art. 211 da Constituição
Federal; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)

III - observadas as garantias estabelecidas nos incisos I, II, III e IV do


caput do art. 208 da Constituição Federal e as metas de universalização
da educação básica estabelecidas no Plano Nacional de Educação, a lei
disporá sobre: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)

a) a organização dos Fundos, a distribuição proporcional de seus


recursos, as diferenças e as ponderações quanto ao valor anual por
aluno entre etapas e modalidades da educação básica e tipos de
estabelecimento de ensino; (Incluído pela Emenda Constitucional
nº 53, de 2006)

b) a forma de cálculo do valor anual mínimo por aluno; (Incluído pela


Emenda Constitucional nº 53, de 2006)

c) os percentuais máximos de apropriação dos recursos dos Fundos


pelas diversas etapas e modalidades da educação básica, observados os
arts. 208 e 214 da Constituição Federal, bem como as metas do Plano
Nacional de Educação; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53,
de 2006)

d) a fiscalização e o controle dos Fundos; (Incluído pela Emenda


Constitucional nº 53, de 2006)

e) prazo para fixar, em lei específica, piso salarial profissional nacional


para os profissionais do magistério público da educação básica; (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)

IV - os recursos recebidos à conta dos Fundos instituídos nos termos do


inciso I do caput deste artigo serão aplicados pelos Estados e Municípios
exclusivamente nos respectivos âmbitos de atuação prioritária,
conforme estabelecido nos §§ 2º e 3º do art. 211 da Constituição
Federal; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)

V - a União complementará os recursos dos Fundos a que se refere o inciso


II do caput deste artigo sempre que, no Distrito Federal e em cada Estado,
o valor por aluno não alcançar o mínimo definido nacionalmente, fixado
em observância ao disposto no inciso VII do caput deste artigo, vedada a
utilização dos recursos a que se refere o § 5º do art. 212 da Constituição
Federal; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)

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Aula 2

VI - até 10% (dez por cento) da complementação da União prevista no


inciso V do caput deste artigo poderá ser distribuída para os Fundos
por meio de programas direcionados para a melhoria da qualidade da
educação, na forma da lei a que se refere o inciso III do caput deste
artigo; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)

VII - a complementação da União de que trata o inciso V do caput deste


artigo será de, no mínimo: (Incluído pela Emenda Constitucional
nº 53, de 2006)

a) R$ 2.000.000.000,00 (dois bilhões de reais), no primeiro ano de


vigência dos Fundos; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de
2006)

b) R$ 3.000.000.000,00 (três bilhões de reais), no segundo ano de


vigência dos Fundos; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de
2006)

c) R$ 4.500.000.000,00 (quatro bilhões e quinhentos milhões de


reais), no terceiro ano de vigência dos Fundos; (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 53, de 2006)

d) 10% (dez por cento) do total dos recursos a que se refere o inciso II
do caput deste artigo, a partir do quarto ano de vigência dos Fundos;
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)

VIII - a vinculação de recursos à manutenção e desenvolvimento do


ensino estabelecida no art. 212 da Constituição Federal suportará,
no máximo, 30% (trinta por cento) da complementação da União,
considerando-se para os fins deste inciso os valores previstos no inciso
VII do caput deste artigo; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53,
de 2006)

IX - os valores a que se referem as alíneas a, b e c do inciso (Incluído


pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) VII do caput deste
artigo serão atualizados, anualmente, a partir da promulgação desta
Emenda Constitucional, de forma a preservar, em caráter permanente,
o valor real da complementação da União; (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 53, de 2006)

X - aplica-se à complementação da União o disposto no art. 160 da


Constituição Federal; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de
2006)

XI - o não cumprimento do disposto nos incisos V e VII do caput deste


artigo importará crime de responsabilidade da autoridade competente;
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)

XII - proporção não inferior a 60% (sessenta por cento) de cada Fundo
referido no inciso I do caput deste artigo será destinada ao pagamento
dos profissionais do magistério da educação básica em efetivo exercício.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)

§ 1º - A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão


assegurar, no financiamento da educação básica, a melhoria da qualidade

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política educacional

de ensino, de forma a garantir padrão mínimo definido nacionalmente.


(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)

§ 2º - O valor por aluno do ensino fundamental, no Fundo de cada Estado


e do Distrito Federal, não poderá ser inferior ao praticado no âmbito do
Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de
Valorização do Magistério (FUNDEF), no ano anterior à vigência desta
Emenda Constitucional. (Redação dada pela Emenda Constitucional
nº 53, de 2006)

§ 3º - O valor anual mínimo por aluno do ensino fundamental, no âmbito


do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de
Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB), não poderá ser
inferior ao valor mínimo fixado nacionalmente no ano anterior ao da
vigência desta Emenda Constitucional. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 53, de 2006)

§ 4º - Para efeito de distribuição de recursos dos Fundos a que se refere


o inciso I do caput deste artigo, levar-se-á em conta a totalidade das
matrículas no ensino fundamental e considerar-se-á para a educação
infantil, para o ensino médio e para a educação de jovens e adultos 1/3
(um terço) das matrículas no primeiro ano, 2/3 (dois terços) no segundo
ano e sua totalidade a partir do terceiro ano. (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 53, de 2006)

§ 5º - A porcentagem dos recursos de constituição dos Fundos, conforme


o inciso II do caput deste artigo, será alcançada gradativamente nos
primeiros 3 (três) anos de vigência dos Fundos, da seguinte forma:
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)

I - no caso dos impostos e transferências constantes do inciso II do caput


do art. 155; do inciso IV do caput do art. 158; e das alíneas a e b do inciso
I e do inciso II do caput do art. 159 da Constituição Federal: (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)

a) 16,66% (dezesseis inteiros e sessenta e seis centésimos por


cento), no primeiro ano; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53,
de 2006)

b) 18,33% (dezoito inteiros e trinta e três centésimos por cento), no


segundo ano; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)

c) 20% (vinte por cento), a partir do terceiro ano; (Incluído pela


Emenda Constitucional nº 53, de 2006)

II - no caso dos impostos e transferências constantes dos incisos I e III


do caput do art. 155; do inciso II do caput do art. 157; e dos incisos II e
III do caput do art. 158 da Constituição Federal: (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 53, de 2006)

a) 6,66% (seis inteiros e sessenta e seis centésimos por cento), no


primeiro ano; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)

b) 13,33% (treze inteiros e trinta e três centésimos por cento), no


segundo ano; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)

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Aula 2

c) 20% (vinte por cento), a partir do terceiro ano. (Incluído pela


Emenda Constitucional nº 53, de 2006)

§ 6º - (Revogado). (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53,


de 2006)

§ 7º - (Revogado). (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53,


de 2006)

Dica: se você ainda não tem a Constituição, baixe o texto completo


e atualizado, que está disponível em: <www.presidencia.gov.br/
legislacao>.

Ou diretamente pelo link


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>.

Observação: nessa página da Presidência você acessa o texto atualizado


que vem acompanhado das versões anteriores, já revogadas (trecho
riscado). Essa leitura dos textos revogados muitas vezes é interessante
no nosso estudo de política educacional, para situarmos em que
momento uma determinada política foi implementada, verificando se
vem da redação original de 1988, ou se foi inserida na Constituição,
por exemplo, no governo Fernando Henrique, ou no governo Lula. Além
disso, podemos observar o conteúdo das alterações na legislação, se
reduzem ou se ampliam determinados direitos, por exemplo.

De acordo com Evaldo Vieira, no artigo “A política e as bases do direito


educacional”, as disposições sobre educação da CF/88 formam o que
denominou “regime jurídico da educação”. Segundo esse autor,
Constitucionalmente, a educação brasileira deve ser direito de todos e
obrigação do Estado; deve acontecer em escolas; deve seguir determi-
nados princípios; deve ratificar a autonomia universitária; deve conservar
a liberdade de ensino; e principalmente deve converter-se em direito
público subjetivo, com a possibilidade de responsabilizar-se a autoridade
competente.1

Nesse texto, Vieira trata da “relação entre sociedade, estado e direito,


tendo como elemento mediador a educação”,2 comentando três
momentos marcantes da política social no século XX, no Brasil, procu-
rando demonstrar que “o Direito Educacional não se limita à simples
exposição da legislação do ensino, pois a educação é um bem jurídico,
individual e coletivo, embora as determinações constitucionais nem
sempre sejam cumpridas”.3 Um dos conceitos abordados pelo autor é
o do direito público subjetivo, previsto no Art. 208, Inciso I, combi-
nado com o parágrafo 1º, da CF/88: VIEIRA, 2001, p. 19.
1

CF/88 – Art. 208: VIEIRA, 2001, p. 9.


2

§ 1º - O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo. VIEIRA, 2001, p. 9.


3

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política educacional

Trata-se de uma norma “em branco”, que reforça o direito do cidadão


de pleitear junto ao Estado o cumprimento do seu dever de oferecer o
ensino obrigatório.
Pela redação atual da CF/88, a obrigatoriedade recai apenas sobre o
ensino fundamental, antigamente conhecido como “1º grau”, hoje com
nove anos de duração, oferecido para a faixa etária de 6 a 14 anos de
idade. Na redação original da CF/88, o ensino fundamental iniciava-se
aos sete anos de idade e tinha oito anos de duração. Recentemente
o MEC anunciou que estuda ampliar ainda mais a obrigatoriedade,
para abranger também o ensino médio e a pré-escola, ou seja, para
estudantes de 4 a 17 anos. Nesse caso, a figura do direito público
subjetivo automaticamente protegeria além do ensino fundamental,
já que a norma não se refere a esse nível de ensino, mas ao “ensino
obrigatório”.

ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 8

Leia o artigo de Evaldo Vieira, “A política e as bases do direito


educacional”.4
Dica: baixe o texto, acessando a página do Portal Scielo, disponível
em: <www.scielo.br>,
ou diretamente pelo link
<http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v21n55/5538.pdf>.
Faça uma síntese do texto, procurando complementar as leituras
anteriores de Höfling e Arretche sobre Estado, governo e políticas
sociais, e ao mesmo tempo aprofundar a discussão sobre direito
educacional, examinando o regime jurídico da educação na CF/88.

Considerando a relevância desse tema, vamos aprofundar a discussão


sobre as relações entre a figura jurídica do direito público subjetivo e
a política educacional, a partir do artigo “Direito público subjetivo e
políticas educacionais”, de Clarice Seixas Duarte. Segundo essa autora,
[...] o direito público subjetivo confere ao indivíduo a possibilidade de
transformar a norma geral e abstrata contida num determinado ordena-
mento jurídico em algo que possua como próprio. A maneira de fazê-lo é
acionando as normas jurídicas (direito objetivo) e transformando-as em
seu direito (direito subjetivo).
O interessante é notar que o direito público subjetivo configura-
-se como um instrumento jurídico de controle da atuação do poder estatal,
pois permite ao seu titular constranger judicialmente o Estado a executar
o que deve.5

Mais adiante, Duarte afirma que


Na acepção larga do conceito de garantia, pode-se incluir, no caso da
4
VIEIRA, 2001. educação, a consideração de certos princípios, como o da obrigatorie-
5
DUARTE, 2004, p. 113.
dade do ensino (entendida como a imposição de um dever ao Estado) e
o da sua gratuidade em estabelecimentos oficiais, além da vinculação

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Aula 2

constitucional de receitas. Todo esse conjunto deve ser interpretado de


forma a assegurar a fruição do direito ao ensino fundamental.6

Como vimos, há uma tríplice dimensão de direitos para o cidadão, que


se impõem como deveres para o Estado: a obrigatoriedade, a gratui-
dade e a vinculação de receitas orçamentárias.
A relação jurídica sempre encerra essa bilateralidade: o direito de um
é o dever de outro. O interessante no direito público subjetivo é que
se estabelece um caminho eficaz para o cidadão processar o Estado
judicialmente, a fim de obrigá-lo a cumprir os seus deveres, no caso a
realização de políticas públicas que garantam um direito social; não se
trata, simplesmente, de uma prestação individualizada.

ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 9

Leia o artigo “Direito público subjetivo e políticas educacionais”.7


Faça uma síntese do texto, procurando delimitar o conceito de
direito público subjetivo e sua relação com as políticas educacionais.
Dica: baixe o texto, acessando a página do Portal Scielo, disponível
em: <www.scielo.br>,
ou diretamente pelo link <http://www.scielo.br/pdf/spp/v18n2/
a12v18n2.pdf>.

Sobre a obrigatoriedade do ensino fundamental, importa registrar


que nosso ordenamento jurídico trata da matéria na legislação federal
ordinária, por exemplo, no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)
e no Código Penal, prevendo punições para os pais ou responsáveis
que não matricularem ou não enviarem regularmente as crianças para
frequentar a escola. A obrigatoriedade é tanto para o Estado oferecer
a vaga quanto para os pais ou responsáveis encaminharem as crianças
para a escola.
Outro aspecto relevante do tratamento da CF/88 dispensado à educação
é a “gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais”, esta-
belecida pelo Art. 206, IV. A gratuidade foi prevista plenamente, pela
primeira vez em nossa história constitucional, para todos os níveis,
modalidades e tipos de instituição pública, de educação básica ou
superior. Recentemente, em 2008, o Supremo Tribunal Federal (STF)
reafirmou esse princípio, extinguindo a cobrança de qualquer tipo de
taxa de matrícula em universidades públicas. Burlando a regra, estão
à margem dessa norma, muitas vezes, os cursos de especialização, que
são oferecidos como projetos de extensão e não se enquadrariam na
gratuidade, que se aplica apenas a atividades de “ensino”.
No Art. 211, alterado em 1996 pela Emenda nº 14, a CF/88 estabe- DUARTE, 2004, p. 116,
6

lece um regime de competências para organizar o regime de colabo- grifos meus.


ração entre os entes federados, definindo os papéis da União – que DUARTE, 2004, p. 113-
7

administra o sistema federal de ensino e exerce função redistributiva 118.

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política educacional

e supletiva, mediante a prestação de assistência técnica e financeira


aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios (parágrafo 1º) –, dos
municípios, que atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na
educação infantil (parágrafo 2º), e dos estados e do Distrito Federal,
que atuarão prioritariamente no ensino fundamental e no ensino
médio (parágrafo 3º). Nota-se que as competências são definidas como
prioridades, ou seja, aquilo que se deve fazer primeiro, e não como
exclusividades, ou seja, apenas um ente da federação seria responsável
por determinado nível de ensino, sendo impedido de atuar em outros,
o que não ocorre.
Por outro lado, essa função supletiva da União em relação aos demais
entes federados é mais antiga que a própria União, existindo antes dela,
no Império, cuja Constituição de 1824 previa essa função, na época
denominada de “supletória”, do então governo central em relação às
províncias. É o duplo papel exercido hoje pelo MEC e pelo Conselho
Nacional de Educação (CNE), em relação ao sistema federal de ensino,
administrado pela União, e aos sistemas de ensino dos estados, do
Distrito Federal e dos municípios. Esse assunto será tratado na Aula 4,
quando estudaremos os sistemas de ensino.
Aspecto importantíssimo das disposições sobre educação da CF/88 é
a vinculação e a posterior subvinculação de recursos orçamentários,
previstas, respectivamente, no Art. 212, caput (transcrito a seguir) e
no Art. 60 do ADCT.
Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no
mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente
de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino.

Importante ressaltar que esses percentuais atuais da CF/88 são os


maiores percentuais vinculados de recursos para a educação, em toda
a história constitucional do país.
Deve-se observar, entretanto, que o percentual de recursos da União,
desde meados da década de 1990, tem sido menor que os 18%
previstos na CF/88, em razão da atualmente denominada Desvincu-
lação de Receitas da União (DRU), um mecanismo que permite uma
redução provisória de todos as vinculações de recursos da União, na
ordem de 20%. Tramita no Congresso Nacional, em 2009, proposta de
eliminação ou redução gradual da DRU.
Por meio do Art. 60 do ADCT foi criado, em 1996, o FUNDEF, subs-
tituído, em 2006, pelo FUNDEB. Considerando que a ementa desta
disciplina não prevê o estudo das políticas de financiamento, nosso
objetivo, em relação a esse assunto, é compreender, em linhas
gerais, essa política de fundos estabelecida pela CF/88. O primeiro
fundo (FUNDEF) destinava-se apenas ao ensino fundamental e
tinha duração prevista para dez anos, subvinculando 15% de alguns
impostos. O segundo fundo (FUNDEB) foi ampliado em relação ao

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Aula 2

primeiro, para atender a toda a educação básica (além do ensino


fundamental, também a educação infantil e o ensino médio), rece-
bendo, também, maior percentual de subvinculação (20%) de um
maior número de impostos.
Deve-se observar que são apenas impostos o objeto da vinculação e da
subvinculação, e não todo o orçamento público, que é formado por
tributos em geral (que compreendem impostos, taxas e contribuições)
e outras receitas (lucros de empresas estatais, aluguéis, rendimentos
de títulos, doações recebidas etc.). Outro aspecto a se observar é que os
fundos (FUNDEF e FUNDEB) não trazem dinheiro novo, mas apenas
redirecionam o dinheiro já existente, dentro do percentual de 25%
de impostos dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, e de
18% da União. Nesse sentido, uma das consequências do FUNDEF foi
a municipalização do ensino fundamental, principalmente das séries
iniciais (antiga 1ª a 4ª séries do 1º grau).
Outros assuntos relevantes são tratados pela CF/88, como o reconhe­
cimento do ensino privado, da liberdade de cátedra e da gestão
democrática do ensino público, o padrão de qualidade, o piso salarial,
a autonomia universitária.

ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 10

Para concluir esta aula, releia os artigos da Seção da Educação da


CF/88 e procure ler em jornais, revistas ou na internet notícias
recentes de política educacional, selecionando algumas que tratem
de assuntos relacionados com esses dispositivos, comentando-as no
nosso fórum de discussões.

Na próxima aula estudaremos a organização do sistema educacional


brasileiro na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a LDB,
analisando os seus dispositivos sobre níveis, etapas e modalidades de
ensino.

ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 11

Responder as seguintes questões:


1. Em linhas gerais, quais são as principais disposições da
CF/88 sobre educação?
2. O que você entende por Estado, governo e políticas
públicas?
3. O que é direito público subjetivo e como ele se aplica à
educação na atual Constituição?
4. O que você encontrou nas notícias recentes sobre
política educacional? Qual assunto te interessou mais?

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AULA 3
Os sistemas de ensino na LDB/96, o
Conselho Nacional de Educação (CNE) e
os Planos de Educação:
PNE, PDE, CONAE, Plano Decenal de MG

Nesta aula, estudaremos os sistemas de ensino na Lei de Diretrizes e


Bases da Educação Nacional, o Conselho Nacional de Educação (CNE)
e os Planos de Educação.
O objetivo desta Aula é analisar as disposições da LDB sobre sistemas
de ensino (Art. 8º a 20), confrontando-as com as discussões sobre um
sistema nacional de educação, a partir do estudo dos seguintes temas:
1º) O Conselho Nacional de Educação (CNE) e o seu papel no sistema
educacional brasileiro;
2º) o Plano Nacional de Educação (PNE), de 2001, situando-o no
âmbito das discussões atuais sobre o sistema nacional de educação,
que ocorrem em torno da Conferência Nacional de Educação de 2010
(CONAE 2010), processo de elaboração do próximo plano nacional de
educação;
3º) o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), proposto pelo
MEC em abril de 2007, que reúne a suas ações no contexto do PAC;
4º) o Plano Decenal de Educação do Estado de Minas Gerais, projeto de
lei em tramitação na Assembleia Legislativa.
Você conhece a LDB? Pois bem, estudando política educacional é
preciso conhecê-la. Então, o seu primeiro passo, agora, é ler essa lei, na
íntegra. Ou relê-la, se você já a conhece.

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política educacional

A LDB não é muito extensa e estrutura-se em títulos, capítulos e


seções, como a Constituição. Veja, a seguir, como proceder para
obtê-la pela internet:
Acesse a página da Presidência da República, disponível em:
<www.presidencia.gov.br/legislacao>.
Clique em leis e, após, em leis ordinárias. Selecione o ano (1996) e, a
seguir, o número da lei (9394).
Ou diretamente pelo link
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm>.
Desse modo, você terá o texto atualizado da LDB, inclusive com
a redação original revogada dos textos já modificados. O ideal é
imprimi-la, para tê-la sempre em mãos, ao longo do curso, para
consultas e anotações.
Dica: caso opte por ler a LDB por empréstimo, de uma biblioteca ou
de uma pessoa conhecida, observe se a edição é recente (2009 ou
2008, pelo menos). O texto da lei sofre constantes alterações.

A LDB dispõe sobre os sistemas de ensino no seu Título IV, denomi-


nado “Da Organização da Educação Nacional”, que compreende os Art.
8º a 20, transcritos a seguir:

ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 12

Leia, com atenção, os Art. 8º a 20 da LDB. Em seguida, faça uma


síntese das disposições dessa Lei sobre a organização da educação
nacional, procurando compreender os conceitos relativos aos
sistemas de ensino.
LDB/96

TÍTULO IV

Da Organização da Educação Nacional

Art. 8º. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios orga-


nizarão, em regime de colaboração, os respectivos sistemas de ensino.

§ 1º - Caberá à União a coordenação da política nacional de educação,


articulando os diferentes níveis e sistemas e exercendo função norma-
tiva, redistributiva e supletiva em relação às demais instâncias educa-
cionais.

§ 2º - Os sistemas de ensino terão liberdade de organização nos termos


desta lei.

Art. 9º. A União incumbir-se-á de:

I - elaborar o Plano Nacional de Educação, em colaboração com os


Estados, o Distrito Federal e os Municípios;

II - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais do


sistema federal de ensino e o dos Territórios;

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Aula 3

III - prestar assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito


Federal e aos Municípios para o desenvolvimento de seus sistemas de
ensino e o atendimento prioritário à escolaridade obrigatória, exer-
cendo sua função redistributiva e supletiva;

IV - estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e


os Municípios, competências e diretrizes para a educação infantil, o
ensino fundamental e o ensino médio, que nortearão os currículos e
seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar formação básica comum;

V - coletar, analisar e disseminar informações sobre a educação;

VI - assegurar processo nacional de avaliação do rendimento escolar no


ensino fundamental, médio e superior, em colaboração com os sistemas
de ensino, objetivando a definição de prioridades e a melhoria da quali-
dade do ensino;

VII - baixar normas gerais sobre cursos de graduação e pós-graduação;

VIII - assegurar processo nacional de avaliação das instituições de


educação superior, com a cooperação dos sistemas que tiverem respon-
sabilidade sobre este nível de ensino;

IX - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar, respecti-


vamente, os cursos das instituições de educação superior e os estabele-
cimentos do seu sistema de ensino.

§ 1º - Na estrutura educacional, haverá um Conselho Nacional de


Educação, com funções normativas e de supervisão e atividade perma-
nente, criado por lei.

§ 2º - Para o cumprimento do disposto nos incisos V a IX, a União terá


acesso a todos os dados e informações necessários de todos os estabele-
cimentos e órgãos educacionais.

§ 3º - As atribuições constantes do inciso IX poderão ser delegadas aos


Estados e ao Distrito Federal, desde que mantenham instituições de
educação superior.

Art. 10. Os Estados incumbir-se-ão de:

I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais dos


seus sistemas de ensino;

II - definir, com os Municípios, formas de colaboração na oferta do


ensino fundamental, as quais devem assegurar a distribuição propor-
cional das responsabilidades, de acordo com a população a ser atendida
e os recursos financeiros disponíveis em cada uma dessas esferas do
Poder Público;

III - elaborar e executar políticas e planos educacionais, em consonância


com as diretrizes e planos nacionais de educação, integrando e coorde-
nando as suas ações e as dos seus Municípios;

IV - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar, respecti-


vamente, os cursos das instituições de educação superior e os estabele-
cimentos do seu sistema de ensino;

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política educacional

V - baixar normas complementares para o seu sistema de ensino;

VI - assegurar o ensino fundamental e oferecer, com prioridade, o


ensino médio.

VII - assumir o transporte escolar dos alunos da rede estadual. (Incluído


pela Lei nº 10.709, de 31.7.2003)

Parágrafo único. Ao Distrito Federal aplicar-se-ão as competências refe-


rentes aos Estados e aos Municípios.

Art. 11. Os Municípios incumbir-se-ão de:

I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais dos


seus sistemas de ensino, integrando-os às políticas e planos educacio-
nais da União e dos Estados;

II - exercer ação redistributiva em relação às suas escolas;

III - baixar normas complementares para o seu sistema de ensino;

IV - autorizar, credenciar e supervisionar os estabelecimentos do seu


sistema de ensino;

V - oferecer a educação infantil em creches e pré-escolas, e, com priori-


dade, o ensino fundamental, permitida a atuação em outros níveis de
ensino somente quando estiverem atendidas plenamente as necessi-
dades de sua área de competência e com recursos acima dos percentuais
mínimos vinculados pela Constituição Federal à manutenção e desen-
volvimento do ensino.

VI - assumir o transporte escolar dos alunos da rede municipal.


(Incluído pela Lei nº 10.709, de 31.7.2003)

Parágrafo único. Os Municípios poderão optar, ainda, por se integrar


ao sistema estadual de ensino ou compor com ele um sistema único de
educação básica.

Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns


e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de:

I - elaborar e executar sua proposta pedagógica;

II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros;

III - assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas aula estabelecidas;

IV - velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente;

V - prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento;

VI - articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de


integração da sociedade com a escola;

VII - informar os pais e responsáveis sobre a frequência e o rendimento


dos alunos, bem como sobre a execução de sua proposta pedagógica.

VIII - notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao juiz competente da


Comarca e ao respectivo representante do Ministério Público a relação

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Aula 3

dos alunos que apresentem quantidade de faltas acima de cinquenta


por cento do percentual permitido em lei.(Inciso incluído pela Lei
nº 10.287, de 20.9.2001)

Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de:

I - participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento


de ensino;

II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagó-


gica do estabelecimento de ensino;

III - zelar pela aprendizagem dos alunos;

IV - estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de menor


rendimento;

V - ministrar os dias letivos e horas aula estabelecidos, além de participar


integralmente dos períodos dedicados ao planejamento, à avaliação e ao
desenvolvimento profissional;

VI - colaborar com as atividades de articulação da escola com as famílias


e a comunidade.

Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrá-


tica do ensino público na educação básica, de acordo com as suas pecu-
liaridades e conforme os seguintes princípios:

I - participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto


pedagógico da escola;

II - participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares


ou equivalentes.

Art. 15. Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares


públicas de educação básica que os integram progressivos graus de auto-
nomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira, observadas
as normas gerais de direito financeiro público.

Art. 16. O sistema federal de ensino compreende:

I - as instituições de ensino mantidas pela União;

II - as instituições de educação superior criadas e mantidas pela inicia-


tiva privada;

III - os órgãos federais de educação.

Art. 17. Os sistemas de ensino dos Estados e do Distrito Federal


compreendem:

I - as instituições de ensino mantidas, respectivamente, pelo Poder


Público estadual e pelo Distrito Federal;

II - as instituições de educação superior mantidas pelo Poder Público


municipal;

III - as instituições de ensino fundamental e médio criadas e mantidas


pela iniciativa privada;

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política educacional

IV - os órgãos de educação estaduais e do Distrito Federal, respectiva-


mente.

Parágrafo único. No Distrito Federal, as instituições de educação


infantil, criadas e mantidas pela iniciativa privada, integram seu
sistema de ensino.

Art. 18. Os sistemas municipais de ensino compreendem:

I - as instituições do ensino fundamental, médio e de educação infantil


mantidas pelo Poder Público municipal;

II - as instituições de educação infantil criadas e mantidas pela iniciativa


privada;

III - os órgãos municipais de educação.

Art. 19. As instituições de ensino dos diferentes níveis classificam-se


nas seguintes categorias administrativas:

I - públicas, assim entendidas as criadas ou incorporadas, mantidas e


administradas pelo Poder Público;

II - privadas, assim entendidas as mantidas e administradas por pessoas


físicas ou jurídicas de direito privado.

Art. 20. As instituições privadas de ensino se enquadrarão nas seguintes


categorias:

I - particulares em sentido estrito, assim entendidas as que são institu-


ídas e mantidas por uma ou mais pessoas físicas ou jurídicas de direito
privado que não apresentem as características dos incisos abaixo;

II - comunitárias, assim entendidas as que são instituídas por grupos de


pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas jurídicas, inclusive coope-
rativas de pais, professores e alunos, que incluam em sua entidade
mantenedora representantes da comunidade; (Redação dada pela Lei
nº 11.183, de 2005)

III - confessionais, assim entendidas as que são instituídas por grupos


de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas jurídicas que atendem a
orientação confessional e ideologia específicas e ao disposto no inciso
anterior;

IV - filantrópicas, na forma da lei.

Você observou que a LDB não organiza, propriamente, um sistema


nacional de ensino, mas há uma constatação, entre os estudiosos
do tema, de que esse sistema existiria de fato, diante do papel que
a União exerce em relação à educação nacional, ao cumprir a sua
função normativa, supletiva e redistributiva, prevista na CF/88, e
reafirmada no parágrafo 1º do Art. 8º da LDB e que precisaria ser
melhor regulamentado.

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Aula 3

LDB, Art. 8º, § 1º - Caberá à União a coordenação da política nacional de


educação, articulando os diferentes níveis e sistemas e exercendo função
normativa, redistributiva e supletiva em relação às demais instâncias
educacionais.

É nessa direção que a 1ª Conferência Nacional de Educação (CONAE)


iniciou os seus trabalhos preparatórios em abril de 2009, propondo a
construção de um “sistema nacional articulado de educação” (grifo
meu). Para autores como Saviani, esse adjetivo articulado soa redun-
dante, já que todo sistema de ensino é articulado com os demais
sistemas, formando um sistema nacional justamente pela articulação
entre esses. Se não fosse articulável não seria sistema.

ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 13

Assista, pela internet, ao vídeo da edição especial do Programa Um


salto para o futuro, produzido pela TV Escola, do MEC, que foi exibido
no dia 24 de abril de 2009, sobre o lançamento da 1ª Conferência
Nacional de Educação (CONAE), com apresentação do professor
Luiz Dourado e entrevistas com o professor Carlos Roberto Jamil
Cury, o professor Dermeval Saviani e um representante do MEC.
Para ver o vídeo, de aproximadamente uma hora de duração, acesse
a página da Universidade Federal de Viçosa (UFV), disponível em:
<www.ufv.br>. Faça a busca no site pela palavra CONAE. Selecione o
primeiro resultado, que corresponde ao item de Notícias intitulado
18/06/2009 – Programa Um salto para o futuro – CONAE.
Acesse o Portal do MEC na internet para saber mais sobre a 1ª
CONAE 2010, disponível em: <www.mec.gov.br> ou diretamente
pelo link: <http://portal.mec.gov.br/conae/>.
Conheça o livro do Documento Referência da CONAE, disponível na
mesma página, ou diretamente no link:
<http://portal.mec.gov.br/conae/images/stories/pdf/doc_base_
conae_revisado2.pdf>.
Faça uma síntese, de aproximadamente uma página, das principais
considerações dos autores sobre sistema nacional de ensino, planos
de educação e a CONAE.

Para o professor Carlos Roberto Jamil Cury, que discute o assunto


no artigo “Sistema nacional de educação: desafio para uma educação
igualitária e federativa”, “o Brasil jamais logrou êxito em instituir um
sistema nacional de educação tal como outros países o fizeram”.1
No texto, esse autor “pretende indicar, seja do ponto de vista histó-
rico-social, seja do ponto de vista jurídico-político, as barreiras”
enfrentadas pelo país para a instituição de um sistema nacional de
educação. Concluindo, entende que “a busca por um sistema nacional
de educação deve enfrentar, sobretudo, a barreira jurídico-política”,
CURY, 2008, p. 1.187-
1
ou seja, “a forma histórica com que se revestiu nosso federalismo”, 1.209.
o que “gerou uma interpretação de que tal sistema ofenderia a

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política educacional

autonomia dos entes federativos estaduais e municipais”.2 Retor-


namos, portanto, às “questões de fundo” que foram focalizadas na
primeira aula, encontrando na nossa organização federativa alguns
elementos para a compreensão das atuais políticas educacionais. Como
organizar um sistema nacional sem ofender a autonomia dos estados e
municípios? Este é o desafio, redesenhar as competências federativas
em matéria educacional.

ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 14

Leia o artigo de Carlos Roberto Jamil Cury, intitulado “Sistema


nacional de educação: desafio para uma educação igualitária e
federativa”,3 e faça uma síntese das considerações do autor sobre o
tema.
Dica: baixe o texto, acessando a página do Portal Scielo, disponível
em: <www.scielo.br>,
ou diretamente no link <http://www.scielo.br/pdf/es/v29n105/
v29n105a12.pdf>.

Retomando os dispositivos da LDB sobre sistemas de ensino, encon-


tramos um ponto a observar: as instituições particulares não cons-
tituem um “sistema particular”, já que os sistemas de ensino devem
ser apenas públicos, não cabendo ao particular editar normas jurí-
dicas para a população, apenas o Poder Público possui tal atribuição.
Desse modo, as escolas particulares integrarão um dos três sistemas
de ensino (municipal, estadual ou federal), conforme o nível ou etapa
de ensino em que atuem.
Outro aspecto importante é que os sistemas de ensino municipais são
facultativos, podendo o município optar por se integrar ao sistema
estadual de ensino ou compor com ele um sistema único de educação
básica, conforme previsto no parágrafo único do Art. 11.
A LDB também caracteriza e diferencia as instituições na perspectiva
das categorias administrativas, em públicas ou privadas, estabele-
cendo os requisitos legais para o enquadramento de cada uma delas
nos respectivos sistemas. No caso das privadas, a lei estabelece, ainda,
dois subtipos (lucrativas e não lucrativas), agrupando as últimas em
três categorias (comunitárias, confessionais e filantrópicas), conforme
disposto nos Art. 19 e 20.
No Art. 9º, a LDB impõe à União, pelo disposto no Inciso I, a incum-
bência de “elaborar o Plano Nacional de Educação”, previsto na CF/88,
Art. 214:
2
CURY, 2008, p. 1.187.
Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração
3
CURY, 2008, p. 1.187-
plurianual, visando à articulação e ao desenvolvimento do ensino em seus
1.209.
diversos níveis e à integração das ações do Poder Público que conduzam à:

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Aula 3

I - erradicação do analfabetismo;
II - universalização do atendimento escolar;
III - melhoria da qualidade do ensino;
IV - formação para o trabalho;
V - promoção humanística, científica e tecnológica do País.

O PNE foi aprovado em 9 de janeiro de 2001, pela Lei nº 10.172, com


prazo de vigência de dez anos. A concepção desse plano, que percorreu
os processos de elaboração da CF/88 e da LDB/96 e as transformações
políticas e sociais vividas pelo país, nesse período histórico, ficou dura-
mente marcada pelos vetos presidenciais opostos a nove dispositivos
do projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional.
Tais vetos retiraram do texto a garantia de financiamento para o
cumprimento das metas previstas, retirando-lhe, dentre outras coisas,
a previsão de crescimento do volume de recursos para a educação,
em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), de modo a se chegar ao
patamar de, no mínimo, 7% em uma década, como constava em um
dos dispositivos vetados, transcrito a seguir:
Item 11.3.1 - Financiamento, meta 1. Elevação, na década, através
de esforço conjunto da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, do
percentual de gastos públicos em relação ao PIB, aplicados em educação,
para atingir o mínimo de 7%. Para tanto, os recursos devem ser ampliados,
anualmente, à razão de 0,5% do PIB, nos quatro primeiros anos do Plano e
de 0,6% no quinto ano. (VETADO)

Como se sabe, o Brasil é um dos países que menos investe em educação


no mundo, quando se compara o gasto público com o PIB do país, não
atingindo, atualmente, o patamar de 4%. Sem aumento dos gastos
públicos não é possível ofertar uma educação de qualidade para todos,
já que o limite mínimo (não máximo) da vinculação orçamentária de
impostos, prevista na CF/88 (25% para estados, DF e municípios e
18% para a União, sujeito ao desconto da DRU), revela-se insuficiente.

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política educacional

ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 15

Leia o Plano Nacional de Educação (PNE), aprovado pela Lei nº


10.172, de 9 de janeiro de 2001.
Acesse a página da Presidência da República, disponível em:
<www.presidencia.gov.br/legislacao>, clique em leis e, após, em
leis ordinárias. Selecione o ano (2001) e, a seguir, o número da lei
(10.172).
Ou diretamente no link a seguir:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LEIS_2001/L10172.
htm>.
Os vetos ao PNE, contidos na Mensagem nº 9, de 09/01/2001, na
prática tornaram esse Plano uma “letra morta”, incapaz de induzir
transformações efetivas na educação brasileira, constituindo-se
num conjunto de diagnósticos, diretrizes, objetivos e metas, porém
sem o correspondente financiamento. Conheça, também, o teor
dos dispositivos do PNE que foram vetados pelo então presidente
Fernando Henrique e as suas respectivas razões de veto, disponíveis
na mesma página da Presidência, ou diretamente no link:
< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/Mensagem_
Veto/2001/Mv0009-01.htm>.
Faça uma síntese das principais disposições do PNE, aprovadas e
vetadas.
Considere os diagnósticos para os diferentes níveis, etapas e
modalidades de ensino apenas como referência, pois estão baseados
em dados já antigos; as estatísticas são de 1998. Na próxima Aula
apresentaremos dados mais recentes, a partir de 2006, 2007.

Retornando ao Art. 9º da LDB, encontramos referências às diretrizes


curriculares e ao processo de avaliação das Instituições de Educação
Superior (IES), dentre as incumbências da União, assim como a
previsão da existência do Conselho Nacional de Educação (CNE), no
seu parágrafo 1º:
LDB
Art. 9º- [...]
§ 1º Na estrutura educacional, haverá um Conselho Nacional de Educa-
ção, com funções normativas e de supervisão e atividade permanente,
criado por lei.
Na verdade, a LDB veio convalidar uma norma já existente, a Lei
nº 9.131, de 24 de novembro de 1995, que criou o atual Conselho
Nacional de Educação, em substituição ao anterior Conselho Federal
de Educação (CFE), que havia sido extinto pelo presidente anterior,
Itamar Franco, diante de suspeitas de fraudes e irregularidades
administrativas.

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Aula 3

ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 16

Conheça mais sobre o Conselho Nacional de Educação (CNE),


suas atribuições e principais deliberações, acessando a página na
internet, disponível em: <www.mec.gov.br/cne> ou pelo link:
<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=
article&id=12449&Itemid=754>.
Conheça as Diretrizes Curriculares para a Educação Básica,
disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=
article&id=12992&Itemid=866>.
Veja, também, alguns dos outros itens de seu interesse, dentre as
Normas classificadas por assunto, no link:
<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=
article&id=12812&Itemid=866>.
Faça uma síntese do papel, das atribuições e das principais
deliberações do CNE.

Ainda sobre o CNE, é importante observar, conforme previsão legal


(Lei nº 9.131/95, Art. 2º), que “as deliberações e pronunciamentos do
Conselho Pleno e das Câmaras deverão ser homologados pelo Ministro
de Estado da Educação”. Sem essa publicação da homologação minis-
terial no Diário Oficial da União, as decisões do Conselho não se
revestem de eficácia normativa. Com isso, temos um Conselho, que,
de fato, exerce uma função de Estado, mas subordina-se a um órgão de
governo, não tendo uma atuação independente deste. O CNE tem “atri-
buições normativas, deliberativas e de assessoramento ao Ministro de
Estado da Educação”, de acordo a lei que o criou. A distinção entre o
CNE e o MEC, como órgãos de Estado e de governo, respectivamente,
nos remete, mais uma vez, às “questões de fundo”, abordadas na
primeira aula.
Dentre os dispositivos da LDB, em exame nesta aula, devemos consi-
derar o Art. 14, que trata do princípio fixado pela CF/88 (Art. 206,
VI): “gestão democrática do ensino público na educação básica”, cujas
normas serão definidas pelos sistemas de ensino, com base em dois
princípios: a “participação dos profissionais da educação na elabo-
ração do projeto pedagógico da escola” (Inciso I) e a “participação
das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equiva-
lentes”. Abordaremos o projeto pedagógico da escola, também conhe-
cido como Projeto Político-Pedagógico (PPP), e os conselhos escolares
no encerramento deste curso, na Aula 8.
Temos, ainda, dois outros assuntos para tratar nesta Aula: o Plano de
Desenvolvimento da Educação (PDE) e o Plano Decenal de Educação
do Estado de Minas Gerais.

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política educacional

No artigo intitulado “O Plano de Desenvolvimento da Educação: análise


do projeto do MEC”, o professor Dermeval SAVIANI se propõe a
analisar globalmente a proposta do MEC, visando responder à seguinte
pergunta: Em que medida esse novo plano se revela efetivamente capaz
de enfrentar a questão da qualidade do ensino das escolas de educação
básica? Para tanto, serão considerados os seguintes pontos: 1. A confi-
guração do PDE, procurando entender sua composição e identificar
cada uma das 30 ações em que ele se desdobra; 2. Análise da singulari-
dade do plano em confronto com os planos anteriores, em especial com
o vigente Plano Nacional de Educação; 3. A singularidade do PDE diante
do problema da qualidade da educação básica; 4. As bases de sustentação
do plano, visando verificar o grau em que está apto a assegurar a quali-
dade da educação básica; 5. Finalmente, à guisa de conclusão, sugere-se
um caminho para superar as limitações do PDE.4

Apresentado inicialmente ao país em 15 de março de 2007, o PDE foi


lançado pelo MEC em 24 de abril do mesmo ano, ocasião em que foi
baixado o Decreto nº 6.094, que
dispõe sobre a implementação do Plano de Metas Compromisso Todos
pela Educação, pela União Federal, em regime de colaboração com Muni-
cípios, Distrito Federal e Estados, e a participação das famílias e da comu-
nidade, mediante programas e ações de assistência técnica e financeira,
visando a mobilização social pela melhoria da qualidade da educação
básica.5

Como bem assinala SAVIANI em relação ao Plano de Metas Compro-


misso Todos pela Educação,
Este é, com efeito, o carro-chefe do Plano. No entanto, a composição global
do PDE agregou outras 29 ações do MEC. Na verdade, o denominado
PDE aparece como um grande guarda-chuva que abriga praticamente
todos os programas em desenvolvimento pelo MEC. Ao que parece, na
circunstância do lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento
(PAC) pelo governo federal, cada ministério teria que indicar as ações que
se enquadrariam no referido Programa. O MEC aproveitou, então, o ensejo
e lançou o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) e a ele
atrelou as diversas ações que já se encontravam na pauta do Ministério,
ajustando e atualizando algumas delas. Trata-se, com efeito, de ações
que cobrem todas as áreas de atuação do MEC, abrangendo os níveis e
modalidades de ensino, além de medidas de apoio e de infraestrutura.
As 30 ações apresentadas como integrantes do PDE aparecem no site do
MEC de forma individualizada, encontrando-se justapostas, sem nenhum
critério de agrupamento. Contudo, de modo geral, as ações podem ser
distribuídas da seguinte maneira:
No que se refere aos níveis escolares, a educação básica está contem-
4
SAVIANI, 2007, p. 1.231. plada com 17 ações, sendo 12 em caráter global e cinco específicas
5
A citação é ementa aos níveis de ensino. Entre as ações que incidem globalmente sobre
do Decreto no 6094. a educação básica situam-se o “FUNDEB”, o “Plano de Metas do
Publicado no DOU de PDEIDEB”, duas ações dirigidas à questão docente (“Piso do
25 abr. 2007, p. 5, grifos Magistério” e “Formação”), complementadas pelos programas de
meus. apoio “Transporte Escolar”, “Luz para Todos”, “Saúde nas Escolas”,
“Guias de tecnologias”, “Censo pela Internet”, “Mais educação”,
6
SAVIANI, 2007, p. 1.233,
grifos meus. “Coleção Educadores” e “Inclusão Digital”.6

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Aula 3

O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) será objeto


da Aula 6, dedicada ao estudo das políticas de avaliação, e as duas ações
dirigidas à questão docente (“Piso do Magistério” e “Formação”) serão
abordadas na Aula 7. Interessa-nos, neste momento, dialogar com o
texto anterior, de Cury, discutindo a perspectiva do PDE em relação
ao PNE. Nas páginas 1.237 a 1.242, Saviani reflete sobre o sentido
da palavra plano, desenvolvendo uma perspectiva histórica dos planos
de educação no país, desde o plano proposto pelo “Manifesto dos
Pioneiros da Educação Nova”, de 1932, para concluir que
constata-se que, na verdade, o PDE não se configura como um Plano
de Educação propriamente dito. É, antes, um programa de ação.
Assim sendo, o nome “plano” evoca, aí, mais alguma coisa como o “Plano
de Metas” de Juscelino Kubitschek do que a ideia dos planos educacionais
como instrumentos de introdução da racionalidade na ação educativa,
entendida esta como um processo global que articula a multiplicidade dos
seus aspectos constitutivos num todo orgânico. Com certeza, trata-se
de uma coincidência, mas não deixa de ser curioso observar que também
o plano de metas de Juscelino se definiu pelo número 30, já que a última
meta, a de número 31, a construção de Brasília, foi definida como “meta-
síntese".7

ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 17

Leia o artigo intitulado “O Plano de Desenvolvimento da Educação:


análise do projeto do MEC”.8
Faça uma síntese das considerações de Saviani sobre o PDE e o PNE,
procurando dialogar com as considerações que Cury teceu sobre o
sistema nacional de educação no artigo anterior (“Sistema nacional
de educação: desafio para uma educação igualitária e federativa”).
Considere, também, as declarações de ambos na entrevista que
concederam ao programa Um salto para o futuro, edição especial de
lançamento da CONAE, de abril de 2009.
Dica: baixe o texto de Saviani, acessando a página do Portal Scielo,
disponível em: <www.scielo.br>,
ou diretamente pelo link:
<http://www.scielo.br/pdf/es/v28n100/a2728100.pdf>.

Além de um Plano Nacional de Educação, a LDB arrola, no seu Art. 10,


III, dentre as incumbências dos estados, a de “elaborar e executar polí-
ticas e planos educacionais, em consonância com as diretrizes e planos
nacionais de educação, integrando e coordenando as suas ações e as
dos seus Municípios”. Cumprindo essa determinação legal, encontra-
-se em tramitação na Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
(ALMG) o Projeto de Lei nº 2.215/08, de autoria do governador, que
dispõe sobre o Plano Decenal de Educação do Estado de Minas Gerais. SAVIANI, 2007, p. 1242,
7

Além de promover oito encontros regionais e abrir consulta pública pela grifos meus.
internet, a ALMG realizou um Fórum Técnico para receber sugestões SAVIANI, 2007, p. 1231-
8

para o Plano Decenal de Educação, no dias 11 a 15 de maio de 2009. 1255.

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política educacional

ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 18

Conheça a proposta do Plano Decenal de Educação de MG, em


tramitação no Legislativo, acessando a página da ALMG, disponível
em: <www.almg.gov.br>.
Você pode acompanhar a tramitação no PL nº 2.215/5008 em
“atividade parlamentar” e após “tramitação de projetos”, ou pelo
link a seguir:
<http://www.almg.gov.br/index.asp?grupo=atividade_parlamentar
&diretorio=mate&arquivo=projetos>.
Sobre o Fórum Técnico do Plano Decenal, acesse pela página inicial
ou em: <http://www2.almg.gov.br/hotsites/planoEducacao/index.
html>.
Faça uma breve síntese sobre os aspectos que julgar mais relevantes
do Plano Decenal em tramitação na Assembleia.

Para concluir esta Aula e o nosso estudo dos Planos de Educação,


gostaria apenas de mencionar a existência do Plano Decenal de
Educação para Todos – 1993-2003, apresentado na gestão do Ministro
Murílio Hingel, durante a presidência de Itamar Franco, cuja versão
inicial foi elaborada por uma Comissão, instituída Ministro da Educação,
pela Portaria nº 489, de 18 de março de 1993. Esse Plano decorreu do
compromisso assumido pelo Brasil na Conferência Mundial sobre
Educação para Todos, realizada em Jomtien, na Tailândia, em 1990.
Essa Conferência havia sido convocada pela Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), pelo Fundo
das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), pelo Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e pelo Banco Mundial.9
Apresentado em um momento de grave crise institucional – impeachment
do presidente anterior – esse plano contém elementos que suscitariam
outras análises, não previstas na nossa ementa, no que diz respeito ao
posicionamento dos organismos internacionais (ONU, Banco Mundial,
FMI e outros) e a influência exercida junto aos Estados nacionais, em
relação à educação, sobretudo nos anteriormente chamados “países
do terceiro mundo”, como o Brasil, hoje elevado à categoria de “emer-
gente”. Encontramos aqui, apesar de algumas diferenciações entre
bancos e não bancos, relação com os estudos sobre Estado, na Aula 1,
ao constatarmos a defesa desses organismos internacionais no sentido
de que a oferta da educação básica se dê pela ação dos governos locais
(também chamados subnacionais), no caso brasileiro, municípios e
estados, assim como do distanciamento do Poder Público da oferta da
educação superior gratuita.
Digo isso para mostrar-lhes que muitas metas e intenções presentes
neste Plano Decenal de 1993 só bem mais tarde foram implementadas,
9
Plano Decenal de Educação
ou ainda estão em fase de implementação, no ano de 2009, como o
para Todos, 136 p.
piso salarial.

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Aula 3

Naquele momento, havia um acordo para o piso salarial, firmado no


final do governo Itamar, que não foi honrado pelo presidente que o
sucedeu, seu ex-ministro da Fazenda, Fernando Henrique, que criou o
FUNDEF e propôs apenas a média salarial, não o piso, como previsto
antes, para propiciar a “valorização do magistério”.
Somente com o FUNDEB, em 19/12/2006, é que foi estabelecida a obri-
gatoriedade do piso salarial na CF/88 (Art. 206, VIII, com a redação
da EC nº 53), e, bem mais recentemente, em 2008, é que ocorreu a
promulgação da Lei do Piso Salarial, que regula esse dispositivo e
enfrenta uma batalha judicial no STF.
E o FUNDEF, que foi criado em 1996 e implementado em 1998, já
encontrou a oferta do ensino fundamental praticamente quase univer-
salizada, em patamares bem acima dos 90% – a taxa de atendimento
desse nível de ensino, em 1994, já era de 93%, conforme afirmou o
atual Ministro da Educação em artigo de jornal.10 O FUNDEF (conhe-
cido inicialmente como “Fundão”) gerou reais consequências na distri-
buição de competências federativas, ao promover uma rápida, intensa
e irreversível municipalização do ensino fundamental, pelo signifi-
cativo aumento da presença dos municípios na oferta desse nível de
ensino. Justamente correspondendo às exigências das cartilhas neoli-
berais dos organismos internacionais, no sentido da descentralização
do Estado para a oferta da educação básica.

ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 19

Releia o texto de Evaldo Vieira,11 que você estudou na Aula 2,


especialmente o item III desse artigo, em que o autor faz referência
à Declaração da Tailândia (p. 17) e a outros pactos internacionais
que o Brasil assinou.

Na Aula seguinte estudaremos a organização da educação escolar


brasileira, examinando os dispositivos da LDB que tratam dos níveis,
das etapas e das modalidades de ensino.

HADDAD, 2005, p. A3.


10

VIEIRA, 2001, p. 9-29.


11

57

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política educacional

ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 20

Responda as seguintes questões:


1. Como a LDB organiza os sistemas de ensino?
2. O que é o CNE? Comente sobre suas atribuições e
principais deliberações.
3. Quais são as considerações de Saviani sobre o PDE e o
PNE, no texto “O Plano de Desenvolvimento da Educação:
análise do projeto do MEC”, e de Cury, sobre o sistema
nacional de educação, no artigo “Sistema nacional
de educação: desafio para uma educação igualitária e
federativa”? Considere, também, as declarações de ambos
na entrevista que concederam ao programa Um salto para
o futuro, edição especial de lançamento da CONAE, de
abril de 2009, para fazer a sua síntese.

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AULA 4
Os níveis, as etapas e as
modalidades de ensino na LDB/96

Nesta aula, estudaremos as disposições do Título V da Lei de Diretrizes


e Bases da Educação Nacional (LDB), o maior deles, que compreende
os Art. 21 a 60, ou seja, é a parte central da norma, abrigando 40 dos
92 artigos dessa lei (43,47% dos artigos). Não apenas pela quantidade
de dispositivos, mas por sua destinação, esse Título é o que, de fato,
caracteriza a educação brasileira.
O objetivo desta aula é analisar esses dispositivos da LDB para os
dois níveis (educação básica e educação superior), focalizando, prio-
ritariamente, o estudo das três etapas da educação básica (a educação
infantil, que compreende a creche e a pré-escola, o ensino fundamental
e o ensino médio) e apresentando as diferentes modalidades de ensino
(Educação de Jovens e Adultos (EJA), Educação Especial, Educação a
Distância, Educação Profissional, Educação Indígena).
Considero que você já leu a LDB na íntegra, conforme proposto
anteriormente, e tenha esse texto em mãos, obtido de acordo com
a indicação.

Os níveis

A LDB dispõe sobre níveis, etapas e modalidades de ensino no seu


Título V, denominado “Da Organização da Educação Nacional”, que
vamos analisar por partes, começando pela composição dos níveis
escolares, definida em apenas um Art., o 21:
Art. 21. A educação escolar compõe-se de:
I - educação básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental
e ensino médio;
II - educação superior.

Essa grande divisão marca a introdução de conceitos novos: educação


básica e educação superior. Mais do que simplesmente mudar a

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política educacional

denominação anterior, que classificava a educação em graus, desde


a Lei nº 5.692, de 1971 (1º grau, 2º grau, 3º grau), a LDB inovou
ao propor princípios comuns para os diferentes momentos de uma
grande fase, que denominou etapas da educação básica (educação
infantil, ensino fundamental e ensino médio), assim como superou
a noção de “ensino de 3º grau” ou de “ensino superior” para adotar
o conceito de “educação superior”. Observe que a lei faz uma dife-
renciação entre “ensino” e “educação”. Portanto, é incorreto falar
“ensino infantil”, o que simplesmente não existe na LDB, já que
o conceito é de “educação infantil”, em que não há avaliação para
fins de aprovação, repetência, pré-requisitos etc., e o foco não é
o processo ensino-aprendizagem, mas o cuidar. Já para o funda-
mental e o médio, sim, a lei os denomina de “ensino”. A “educação
superior”, por sua vez, abrange não apenas o ensino, mas também
as atividades de pesquisa e de extensão.
Educação básica
A LDB apresenta as disposições gerais para a educação básica nos Art.
22 a 28, começando por anunciar as suas finalidades, no caput do Art.
22: “desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispen-
sável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir
no trabalho e em estudos posteriores”. Comentando os fins da educação
básica, Cury afirma que
Trata-se, pois, de um conceito novo, original e amplo em nossa legis-
lação educacional, fruto de muita luta e de muito esforço por parte de
educadores que se esmeraram para que determinados anseios se forma-
lizassem em lei. A ideia de desenvolvimento do educando nestas etapas
que formam um conjunto orgânico e sequencial é o do reconhecimento
da importância da educação escolar para os diferentes momentos destas
fases da vida e da sua intencionalidade maior já posta no Art. 205 da
Constituição Federal:
“A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promo-
vida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e
sua qualificação para o trabalho.”
Mas o Art. 22 da LDB, a fim de evitar uma interpretação dualista entre
cidadania e trabalho e para evitar o tradicional caminho no Brasil de
tomar a qualificação do trabalho como uma sala sem janelas que não a
do mercado, acrescenta como próprios de uma educação cidadã tanto o
trabalho quanto o prosseguimento em estudos posteriores.1

1
CURY, 2002, p. 170,
grifos meus.

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Aula 4

ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 21

Leia o artigo de Carlos Roberto Jamil Cury intitulado “A educação


básica no Brasil”.2 Faça uma síntese das considerações do autor
sobre o tema.
Dica: baixe o texto, acessando a página do Portal Scielo, disponível
em: <www.scielo.br>,
ou diretamente no link
<http://www.scielo.br/pdf/es/v23n80/12929.pdf>.

Veremos, a seguir, um pouco mais sobre cada uma das etapas da


educação básica.

Educação infantil

A LDB dispõe sobre a educação infantil em três Art. (29, 30 e 31),


transcritos a seguir:
Da Educação Infantil
Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como
finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade,
em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando
a ação da família e da comunidade.
Art. 30. A educação infantil será oferecida em:
I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até três anos de
idade;
II - pré-escolas, para as crianças de quatro a seis anos de idade.
Art. 31. Na educação infantil a avaliação far-se-á mediante acompanha-
mento e registro do seu desenvolvimento, sem o objetivo de promoção,
mesmo para o acesso ao ensino fundamental.

A grande inovação da LDB de 1996, em relação à educação infantil,


foi a regulamentação do Inciso IV do Art. 208 da CF/88, trazendo as
crianças de zero a três anos de idade para o âmbito da educação escolar,
já que passou a incluir a creche como parte da educação básica.
Historicamente, no Brasil, o atendimento das crianças pequenas, em
creches, era feito fora do sistema escolar, em instituições de assistência
social ou vinculadas ao mercado de trabalho. A LDB/96 mantém o equi-
vocado nome de pré-escola, adotado pela CF/88, para denominar a insti-
tuição que hoje acolhe as crianças de quatro e cinco anos (antes, de quatro
a seis), apesar de considerá-la escola, ou seja, parte da educação escolar.
Como vimos anteriormente, o MEC está propondo uma alteração na
CF/88, para ampliar a obrigatoriedade do ensino e abranger também
a pré-escola, beneficiando crianças a partir de quatro anos de idade, o CURY, 2002, p. 168-200.
2

que poderá trazer um novo impulso para essa etapa.

61

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política educacional

Ensino fundamental

O ensino fundamental é tratado pelos Art. 32 a 34 da LDB, transcritos


a seguir:
Do Ensino Fundamental
Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com duração de 9 (nove)
anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade,
terá por objetivo a formação básica do cidadão, mediante: (Redação dada
pela Lei nº 11.274, de 2006)
I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios
básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo;
II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da
tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade;
III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista
a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e
valores;
IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade
humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social.
§ 1º - É facultado aos sistemas de ensino desdobrar o ensino fundamental
em ciclos.
§ 2º - Os estabelecimentos que utilizam progressão regular por série
podem adotar no ensino fundamental o regime de progressão continuada,
sem prejuízo da avaliação do processo de ensino-aprendizagem, obser-
vadas as normas do respectivo sistema de ensino.
§ 3º - O ensino fundamental regular será ministrado em língua portu-
guesa, assegurada às comunidades indígenas a utilização de suas línguas
maternas e processos próprios de aprendizagem.
§ 4º - O ensino fundamental será presencial, sendo o ensino a distância
utilizado como complementação da aprendizagem ou em situações
emergenciais.
§ 5o - O currículo do ensino fundamental incluirá, obrigatoriamente,
conteúdo que trate dos direitos das crianças e dos adolescentes, tendo
como diretriz a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990, que institui o Esta-
tuto da Criança e do Adolescente, observada a produção e distribuição de
material didático adequado. (Incluído pela Lei nº 11.525, de 2007)
Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante
da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais
das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diver-
sidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proseli-
tismo. (Redação dada pela Lei nº 9.475, de 22.7.1997)
§ 1º - Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para a defi-
nição dos conteúdos do ensino religioso e estabelecerão as normas para a
habilitação e admissão dos professores.
§ 2º - Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas dife-
rentes denominações religiosas, para a definição dos conteúdos do ensino
religioso.

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Aula 4

Art. 34. A jornada escolar no ensino fundamental incluirá pelo menos


quatro horas de trabalho efetivo em sala de aula, sendo progressivamente
ampliado o período de permanência na escola.
§ 1º - São ressalvados os casos do ensino noturno e das formas alterna-
tivas de organização autorizadas nesta lei.
§ 2º - O ensino fundamental será ministrado progressivamente em tempo
integral, a critério dos sistemas de ensino.

O ensino fundamental foi o alvo das políticas educacionais por,


pelo menos, uma década, entre 1996 e 2006, durante a vigência do
FUNDEF. Com a criação do FUNDEB, rompe-se com essa focalização,
antes restrita ao ensino fundamental, para abranger a educação básica
como um todo.
Antes previsto para crianças a partir dos sete anos de idade, com
duração mínima de oito anos, o ensino fundamental teve a sua idade
de ingresso reduzida para seis anos de idade, em 2005 (Lei nº 11.114),
e no ano seguinte, 2006, teve a sua duração ampliada para nove anos
(Lei nº 11.274). Observe que grifei a expressão mínima, presente no
texto original da LDB, para sinalizar que os sistemas de ensino pode-
riam adotar tempo maior para a duração do ensino fundamental – já
que era, de, no mínimo, oito anos –, como de fato ocorreu, por exemplo,
aqui no estado de Minas Gerais, que ampliou-o para nove anos, por
meio de uma Resolução da Secretaria da Educação, antes da alteração
na legislação federal.

Ensino médio

A LDB dispõe sobre o ensino médio nos Art. 35 e 36, transcritos a


seguir:
Do Ensino Médio
Art. 35. O ensino médio, etapa final da educação básica, com duração
mínima de três anos, terá como finalidades:
I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no
ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos;
II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para
continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibili-
dade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores;
III - o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a
formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensa-
mento crítico;
IV - a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos
processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de
cada disciplina.
Art. 36. O currículo do ensino médio observará o disposto na Seção I
deste Capítulo e as seguintes diretrizes:

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política educacional

I - destacará a educação tecnológica básica, a compreensão do significado


da ciência, das letras e das artes; o processo histórico de transformação da
sociedade e da cultura; a língua portuguesa como instrumento de comu-
nicação, acesso ao conhecimento e exercício da cidadania;
II - adotará metodologias de ensino e de avaliação que estimulem a inicia-
tiva dos estudantes;
III - será incluída uma língua estrangeira moderna, como disciplina obri-
gatória, escolhida pela comunidade escolar, e uma segunda, em caráter
optativo, dentro das disponibilidades da instituição.
IV - serão incluídas a Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigatórias
em todas as séries do ensino médio. (Incluído pela Lei nº 11.684, de 2008)
§ 1º - Os conteúdos, as metodologias e as formas de avaliação serão orga-
nizados de tal forma que ao final do ensino médio o educando demonstre:
I - domínio dos princípios científicos e tecnológicos que presidem a
produção moderna;
II - conhecimento das formas contemporâneas de linguagem;
§ 3º - Os cursos do ensino médio terão equivalência legal e habilitarão ao
prosseguimento de estudos.
(Nota: foram excluídos os dispositivos revogados)

Analisando a situação do ensino médio na LDB, Cury menciona a


sua “progressiva obrigatoriedade” e assinala as suas três funções
clássicas, concluindo que essa etapa da educação básica “tem uma
finalidade em si”:
A lei assegura o ensino médio como a etapa conclusiva da educação
básica, com três anos de duração e com um mínimo de 2.400 horas de
60 minutos. O ensino médio, assim entendido, tornou-se constitucional-
mente gratuito e também, por lei ordinária, “progressivamente obriga-
tório”. A indicação do “progressivamente obrigatório” era constitucional
e foi desconstitucionalizada pela Emenda nº 16/96. Uma alteração ainda
não devidamente analisada...
Legalmente, então, o ensino médio – gratuito no âmbito do ensino público
– deixou de ser independente do conjunto da educação básica, compondo-
-se com ela e tornando-se progressivamente obrigatório.
Assim, do ponto de vista jurídico, consideradas as três funções clássicas
atribuídas ao ensino médio: a função propedêutica, a função profis-
sionalizante e a função formativa, é esta última que agora, conceitual e
legalmente, predomina sobre as outras. Legalmente falando, o ensino
médio não é, como etapa formativa, nem porta para o ensino supe-
rior e nem chave para o mercado de trabalho. Ele tem uma finali-
dade em si, embora seja requisito tanto do ensino superior quanto
da educação profissional de nível técnico.3

Na sequência dos dispositivos, a LDB trata de duas modalidades, a


3
CURY, 2002, p. 181-182, Educação de Jovens e Adultos, conhecida como EJA, e a Educação
grifos meus. Profissional.

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Aula 4

Educação de Jovens e Adultos (EJA)

A EJA está regulamentada nos Art. 37 e 38 da LDB, transcritos a seguir:


Da Educação de Jovens e Adultos
Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não
tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e
médio na idade própria.
§ 1º - Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos
adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportu-
nidades educacionais apropriadas, consideradas as características do
alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos
e exames.
§ 2º - O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a permanência
do trabalhador na escola, mediante ações integradas e complementares
entre si.
§ 3º - A educação de jovens e adultos deverá articular-se, preferencial-
mente, com a educação profissional, na forma do regulamento. (Incluído
pela Lei nº 11.741, de 2008)
Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e exames supletivos, que
compreenderão a base nacional comum do currículo, habilitando ao pros-
seguimento de estudos em caráter regular.
§ 1º - Os exames a que se refere este artigo realizar-se-ão:
I - no nível de conclusão do ensino fundamental, para os maiores de
quinze anos;
II - no nível de conclusão do ensino médio, para os maiores de dezoito
anos.
§ 2º - Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos educandos por
meios informais serão aferidos e reconhecidos mediante exames.

A concepção de EJA da LDB procura superar a noção anterior de


suplência ou de ensino supletivo, para constituir-se como uma moda-
lidade de educação, num processo mais amplo de formação daqueles
que não tiveram acesso à escola na idade própria para cursar o ensino
fundamental ou o ensino médio.

ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 22

Saiba mais sobre a EJA, acessando a Reveja – Revista de Educação


de Jovens e Adultos, disponível em: <www.reveja.com.br>, lendo
algum artigo de um dos quatro números disponíveis, por exemplo,
o de Miguel Arroyo, intitulado “Balanço da EJA: o que mudou nos
modos de vida dos jovens-adultos populares?”, que foi publicado
no número zero dessa Revista, que é publicada pelo Núcleo de
Educação de Jovens e Adultos (Neja) da Faculdade de Educação da
UFMG (disponível em: <http://www.fae.ufmg.br/neja/>).

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política educacional

Educação Profissional

Na redação original da LDB, a Educação Profissional estava tratada nos


Art. 39 a 42. Em 2008, a Lei nº 11.741 revogou, alterou e acrescentou
dispositivos, conforme disposto a seguir:
Seção IV-A
Da Educação Profissional Técnica de Nível Médio
Art. 36-A. Sem prejuízo do disposto na Seção IV deste Capítulo, o ensino
médio, atendida a formação geral do educando, poderá prepará-lo para o
exercício de profissões técnicas.
Parágrafo único. A preparação geral para o trabalho e, facultativamente, a
habilitação profissional poderão ser desenvolvidas nos próprios estabele-
cimentos de ensino médio ou em cooperação com instituições especiali-
zadas em educação profissional.
Art. 36-B. A educação profissional técnica de nível médio será desenvol-
vida nas seguintes formas:
I - articulada com o ensino médio;
II - subsequente, em cursos destinados a quem já tenha concluído o ensino
médio.
Parágrafo único. A educação profissional técnica de nível médio deverá
observar:
I - os objetivos e definições contidos nas diretrizes curriculares nacionais
estabelecidas pelo Conselho Nacional de Educação;
II - as normas complementares dos respectivos sistemas de ensino;
III - as exigências de cada instituição de ensino, nos termos de seu projeto
pedagógico.
Art. 36-C. A educação profissional técnica de nível médio articulada,
prevista no inciso I do caput do art. 36-B desta Lei, será desenvolvida de
forma:
I - integrada, oferecida somente a quem já tenha concluído o ensino
fundamental, sendo o curso planejado de modo a conduzir o aluno à
habilitação profissional técnica de nível médio, na mesma instituição de
ensino, efetuando-se matrícula única para cada aluno;
II - concomitante, oferecida a quem ingresse no ensino médio ou já o
esteja cursando, efetuando-se matrículas distintas para cada curso, e
podendo ocorrer:
a) na mesma instituição de ensino, aproveitando-se as oportunidades
educacionais disponíveis;
b) em instituições de ensino distintas, aproveitando-se as oportunidades
educacionais disponíveis;
c) em instituições de ensino distintas, mediante convênios de inter-
complementaridade, visando ao planejamento e ao desenvolvimento de
projeto pedagógico unificado.

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Aula 4

Art. 36-D. Os diplomas de cursos de educação profissional técnica de


nível médio, quando registrados, terão validade nacional e habilitarão ao
prosseguimento de estudos na educação superior.
Parágrafo único. Os cursos de educação profissional técnica de nível médio,
nas formas articulada concomitante e subsequente, quando estruturados
e organizados em etapas com terminalidade, possibilitarão a obtenção de
certificados de qualificação para o trabalho após a conclusão, com aprovei-
tamento, de cada etapa que caracterize uma qualificação para o trabalho.
[...]
Da Educação Profissional e Tecnológica
Art. 39. A educação profissional e tecnológica, no cumprimento dos obje-
tivos da educação nacional, integra-se aos diferentes níveis e modalidades
de educação e às dimensões do trabalho, da ciência e da tecnologia.
§ 1º - Os cursos de educação profissional e tecnológica poderão ser orga-
nizados por eixos tecnológicos, possibilitando a construção de diferentes
itinerários formativos, observadas as normas do respectivo sistema e
nível de ensino.
§ 2º - A educação profissional e tecnológica abrangerá os seguintes cursos:
I - de formação inicial e continuada ou qualificação profissional;
II - de educação profissional técnica de nível médio;
II - de educação profissional tecnológica de graduação e pós-graduação.
§ 3º - Os cursos de educação profissional tecnológica de graduação e pós-
-graduação organizar-se-ão, no que concerne a objetivos, características e
duração, de acordo com as diretrizes curriculares nacionais estabelecidas
pelo Conselho Nacional de Educação.
Art. 40. A educação profissional será desenvolvida em articulação com o
ensino regular ou por diferentes estratégias de educação continuada, em
instituições especializadas ou no ambiente de trabalho.
Art. 41. O conhecimento adquirido na educação profissional e tecno-
lógica, inclusive no trabalho, poderá ser objeto de avaliação, reconheci-
mento e certificação para prosseguimento ou conclusão de estudos.
Art. 42. As instituições de educação profissional e tecnológica, além dos
seus cursos regulares, oferecerão cursos especiais, abertos à comunidade,
condicionada a matrícula à capacidade de aproveitamento e não necessa-
riamente ao nível de escolaridade.

Essa lei introduziu, portanto, uma nova Seção na LDB, a IV-A, denomi-
nando-a de “Educação Profissional Técnica de Nível Médio”, que reúne
os novos Art. 36-A, 36-B, 36-C e 36-D, além de renomear o Capítulo
da Educação Profissional para “Educação Profissional e Tecnológica”,
alterando a redação dos Art. 39, 41 e 42.
Vejamos um pouco sobre outras modalidades de ensino: Educação
Especial, Educação a Distância, Educação Indígena.

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política educacional

Educação Especial

A Educação Especial encontra-se disciplinada pelos Art. 58 a 60 da


LDB, transcritos a seguir:
Da educação especial
Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a
modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede
regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais.
§ 1º - Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola
regular, para atender às peculiaridades da clientela de educação especial.
§ 2º - O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços
especializados, sempre que, em função das condições específicas dos
alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino
regular.
§ 3º - A oferta de educação especial, dever constitucional do Estado, tem
início na faixa etária de zero a seis anos, durante a educação infantil.
Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessi-
dades especiais:
I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização espe-
cíficos, para atender às suas necessidades;
II - terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível
exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas defi-
ciências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar
para os superdotados;
III - professores com especialização adequada em nível médio ou superior,
para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular
capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns;
IV - educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na
vida em sociedade, inclusive condições adequadas para os que não reve-
larem capacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante articu-
lação com os órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam
uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual ou psicomotora;
V - acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares
disponíveis para o respectivo nível do ensino regular.
Art. 60. Os órgãos normativos dos sistemas de ensino estabelecerão
critérios de caracterização das instituições privadas sem fins lucrativos,
especializadas e com atuação exclusiva em educação especial, para fins de
apoio técnico e financeiro pelo Poder Público.
Parágrafo único. O Poder Público adotará, como alternativa preferencial, a
ampliação do atendimento aos educandos com necessidades especiais na
própria rede pública regular de ensino, independentemente do apoio às
instituições previstas neste artigo.

A novidade trazida pela LDB é a preferência pela oferta da Educação


Especial na rede regular de ensino. Isso significa a inserção do “educando
portador de necessidades especiais”, como a lei denomina o destinatário
dessa política, nas escolas comuns da rede regular de ensino.
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Aula 4

Educação a Distância

A Educação a Distância encontra-se prevista no Art. 80 da LDB:


Art. 80. O Poder Público incentivará o desenvolvimento e a veiculação
de programas de ensino a distância, em todos os níveis e modalidades de
ensino, e de educação continuada.
§ 1º - A educação a distância, organizada com abertura e regime especiais,
será oferecida por instituições especificamente credenciadas pela União.
§ 2º - A União regulamentará os requisitos para a realização de exames e
registro de diploma relativos a cursos de educação a distância.
§ 3º - As normas para produção, controle e avaliação de programas de
educação a distância e a autorização para sua implementação caberão aos
respectivos sistemas de ensino, podendo haver cooperação e integração
entre os diferentes sistemas.
§ 4º - A educação a distância gozará de tratamento diferenciado, que
incluirá:
I - custos de transmissão reduzidos em canais comerciais de radiodifusão
sonora e de sons e imagens;
II - concessão de canais com finalidades exclusivamente educativas;
III - reserva de tempo mínimo, sem ônus para o Poder Público, pelos
concessionários de canais comerciais.

Neste caso, a novidade trazida pela LDB é a abertura e o incentivo


legal para os programas de ensino a distância “em todos os níveis
e modalidades de ensino, e de educação continuada”. Até então
restrita, sobretudo, aos supletivos dos antigos níveis de 1º e 2º graus
(hoje fundamental e médio), a Educação a Distância – EaD – chegou
à educação superior, embalada pelo avanço da internet, a partir do
final da década de 1990.

Educação Indígena

A Educação dos povos indígenas mereceu a atenção da LDB nos Art.


78 e 79:
Art. 78. O Sistema de Ensino da União, com a colaboração das agências
federais de fomento à cultura e de assistência aos índios, desenvolverá
programas integrados de ensino e pesquisa, para oferta de educação
escolar bilíngue e intercultural aos povos indígenas, com os seguintes
objetivos:
I - proporcionar aos índios, suas comunidades e povos, a recuperação de
suas memórias históricas; a reafirmação de suas identidades étnicas; a
valorização de suas línguas e ciências;
II - garantir aos índios, suas comunidades e povos, o acesso às informa-
ções, conhecimentos técnicos e científicos da sociedade nacional e demais
sociedades indígenas e não índias.

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política educacional

Art. 79. A União apoiará técnica e financeiramente os sistemas de ensino


no provimento da educação intercultural às comunidades indígenas,
desenvolvendo programas integrados de ensino e pesquisa.
§ 1º - Os programas serão planejados com audiência das comunidades
indígenas.
§ 2º - Os programas a que se refere este artigo, incluídos nos Planos Nacio-
nais de Educação, terão os seguintes objetivos:
I - fortalecer as práticas socioculturais e a língua materna de cada comu-
nidade indígena;
II - manter programas de formação de pessoal especializado, destinado à
educação escolar nas comunidades indígenas;
III - desenvolver currículos e programas específicos, neles incluindo os
conteúdos culturais correspondentes às respectivas comunidades;
IV - elaborar e publicar sistematicamente material didático específico e
diferenciado.

Atualmente, muitas universidades, dentre elas a UFMG, oferecem


cursos de formação de professores indígenas.

Educação superior

A LDB/96 rompeu com o modelo institucional da Reforma Univer-


sitária de 1968, estimulando a diversificação do campo da educação
superior e fortalecendo o setor privado lucrativo, diferenciando-o do
segmento não lucrativo, constituído pelas instituições filantrópicas,
confessionais e comunitárias.
A educação superior no país experimentou uma fase de forte expansão
quantitativa na primeira década de vigência da LDB, com a criação de
novos cursos de graduação, de novas IES, e, nos últimos anos, também
de novos cursos e programas de pós-graduação lato sensu e stricto
sensu. Durante o governo de FHC a educação superior expandiu-se
principalmente pela via privada; o setor federal cresceu em termos de
matrículas e concluintes e ofertou novos cursos, mas a quantidade de
IFES – instituições federais de educação superior – permaneceu prati-
camente inalterada e o financiamento foi reduzido.
No governo Lula esse quadro começou a se alterar, com a criação de
novas universidades federais e a instalação de novos campi das IFES já
existentes, com a realização de concursos públicos para professores e
servidores técnico-administrativos das IFES, que estavam suspensos
no governo anterior, e com a adoção de outras medidas visando ao
fortalecimento do setor federal de educação superior. No segundo
mandato, novas políticas visando a expansão da educação superior
federal foram tomadas, como o REUNI e a reestruturação da rede de
educação profissional e tecnológica, com a criação dos Institutos Fede-
rais (IFETs).

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Aula 4

Ainda no âmbito das ações do PDE, lançado em abril de 2007, o


governo Lula apresentou propostas de alteração do PROUNI e do
Fundo de Financiamento Estudantil (FIES), por meio de projeto de lei,
ambas voltadas para o setor privado, como medidas de reforço para as
políticas de acesso à universidade.

ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 23

Leia, a seguir, os Art. 43 a 57 da LDB/96 sobre a educação superior.

Da educação superior
Art. 43. A educação superior tem por finalidade:
I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico
e do pensamento reflexivo;
II - formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para
a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvi-
mento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua;
III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o
desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cul-
tura, e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio
em que vive;
IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e téc-
nicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber
através do ensino, de publicações ou de outras formas de comunicação;
V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e pro-
fissional e possibilitar a correspondente concretização, integrando os
conhecimentos que vão sendo adquiridos numa estrutura intelectual
sistematizadora do conhecimento de cada geração;
VI - estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em
particular os nacionais e regionais, prestar serviços especializados à
comunidade e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade;
VII - promover a extensão, aberta à participação da população, visando
à difusão das conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da
pesquisa científica e tecnológica geradas na instituição.
Art. 44. A educação superior abrangerá os seguintes cursos e programas:
I - cursos sequenciais por campo de saber, de diferentes níveis de abran-
gência, abertos a candidatos que atendam aos requisitos estabelecidos
pelas instituições de ensino, desde que tenham concluído o ensino
médio ou equivalente;
II - de graduação, abertos a candidatos que tenham concluído o ensino
médio ou equivalente e tenham sido classificados em processo seletivo;
III - de pós-graduação, compreendendo programas de mestrado e douto-
rado, cursos de especialização, aperfeiçoamento e outros, abertos a can-
didatos diplomados em cursos de graduação e que atendam às exigências
das instituições de ensino;

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política educacional

IV - de extensão, abertos a candidatos que atendam aos requisitos esta-


belecidos em cada caso pelas instituições de ensino.
Parágrafo único. Os resultados do processo seletivo referido no inciso
II do caput deste artigo serão tornados públicos pelas instituições de
ensino superior, sendo obrigatória a divulgação da relação nominal dos
classificados, a respectiva ordem de classificação, bem como do crono-
grama das chamadas para matrícula, de acordo com os critérios para pre-
enchimento das vagas constantes do respectivo edital.
Art. 45. A educação superior será ministrada em instituições de ensino
superior, públicas ou privadas, com variados graus de abrangência ou
especialização.
Art. 46. A autorização e o reconhecimento de cursos, bem como o
credenciamento de instituições de educação superior, terão prazos
limitados, sendo renovados, periodicamente, após processo regular de
avaliação.
§ 1º - Após um prazo para saneamento de deficiências eventualmente
identificadas pela avaliação a que se refere este artigo, haverá reavalia-
ção, que poderá resultar, conforme o caso, em desativação de cursos e
habilitações, em intervenção na instituição, em suspensão temporária
de prerrogativas da autonomia, ou em descredenciamento.
§ 2º - No caso de instituição pública, o Poder Executivo responsável por
sua manutenção acompanhará o processo de saneamento e fornecerá
recursos adicionais, se necessários, para a superação das deficiências.
Art. 47. Na educação superior, o ano letivo regular, independente do
ano civil, tem, no mínimo, duzentos dias de trabalho acadêmico efetivo,
excluído o tempo reservado aos exames finais, quando houver.
§ 1º - As instituições informarão aos interessados, antes de cada período
letivo, os programas dos cursos e demais componentes curriculares, sua
duração, requisitos, qualificação dos professores, recursos disponíveis e
critérios de avaliação, obrigando-se a cumprir as respectivas condições.
§ 2º - Os alunos que tenham extraordinário aproveitamento nos estu-
dos, demonstrado por meio de provas e outros instrumentos de avalia-
ção específicos, aplicados por banca examinadora especial, poderão ter
abreviada a duração dos seus cursos, de acordo com as normas dos sis-
temas de ensino.
§ 3º - É obrigatória a frequência de alunos e professores, salvo nos pro-
gramas de educação a distância.
§ 4º - As instituições de educação superior oferecerão, no período noturno,
cursos de graduação nos mesmos padrões de qualidade mantidos no
período diurno, sendo obrigatória a oferta noturna nas instituições
públicas, garantida a necessária previsão orçamentária.
Art. 48. Os diplomas de cursos superiores reconhecidos, quando regis-
trados, terão validade nacional como prova da formação recebida por seu
titular.
§ 1º - Os diplomas expedidos pelas universidades serão por elas próprias
registrados, e aqueles conferidos por instituições não universitárias
serão registrados em universidades indicadas pelo Conselho Nacional de
Educação.

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Aula 4

§ 2º - Os diplomas de graduação expedidos por universidades estrangei-


ras serão revalidados por universidades públicas que tenham curso do
mesmo nível e área ou equivalente, respeitando-se os acordos interna-
cionais de reciprocidade ou equiparação.
§ 3º - Os diplomas de Mestrado e de Doutorado expedidos por univer-
sidades estrangeiras só poderão ser reconhecidos por universidades que
possuam cursos de pós-graduação reconhecidos e avaliados, na mesma
área de conhecimento e em nível equivalente ou superior.
Art. 49. As instituições de educação superior aceitarão a transferên-
cia de alunos regulares, para cursos afins, na hipótese de existência de
vagas, e mediante processo seletivo.
Parágrafo único. As transferências ex officio dar-se-ão na forma da lei.
Art. 50. As instituições de educação superior, quando da ocorrência de
vagas, abrirão matrícula nas disciplinas de seus cursos a alunos não regu-
lares que demonstrarem capacidade de cursá-las com proveito, mediante
processo seletivo prévio.
Art. 51. As instituições de educação superior credenciadas como uni-
versidades, ao deliberar sobre critérios e normas de seleção e admissão
de estudantes, levarão em conta os efeitos desses critérios sobre a orien-
tação do ensino médio, articulando-se com os órgãos normativos dos
sistemas de ensino.
Art. 52. As universidades são instituições pluridisciplinares de forma-
ção dos quadros profissionais de nível superior, de pesquisa, de extensão
e de domínio e cultivo do saber humano, que se caracterizam por:
I - produção intelectual institucionalizada mediante o estudo sistemá-
tico dos temas e problemas mais relevantes, tanto do ponto de vista
científico e cultural, quanto regional e nacional;
II - um terço do corpo docente, pelo menos, com titulação acadêmica de
Mestrado ou Doutorado;
III - um terço do corpo docente em regime de tempo integral.
Parágrafo único. É facultada a criação de universidades especializadas
por campo do saber.
Art. 53. No exercício de sua autonomia, são asseguradas às universida-
des, sem prejuízo de outras, as seguintes atribuições:
I - criar, organizar e extinguir, em sua sede, cursos e programas de educa-
ção superior previstos nesta Lei, obedecendo às normas gerais da União
e, quando for o caso, do respectivo sistema de ensino;
II - fixar os currículos dos seus cursos e programas, observadas as dire-
trizes gerais pertinentes;
III - estabelecer planos, programas e projetos de pesquisa científica, pro-
dução artística e atividades de extensão;
IV - fixar o número de vagas de acordo com a capacidade institucional e
as exigências do seu meio;
V - elaborar e reformar os seus estatutos e regimentos em consonância
com as normas gerais atinentes;

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política educacional

VI - conferir graus, diplomas e outros títulos;


VII - firmar contratos, acordos e convênios;
VIII - aprovar e executar planos, programas e projetos de investimentos
referentes a obras, serviços e aquisições em geral, bem como administrar
rendimentos conforme dispositivos institucionais;
IX - administrar os rendimentos e deles dispor na forma prevista no ato
de constituição, nas leis e nos respectivos estatutos;
X - receber subvenções, doações, heranças, legados e cooperação finan-
ceira resultante de convênios com entidades públicas e privadas.
Parágrafo único. Para garantir a autonomia didático-científica das uni-
versidades, caberá aos seus colegiados de ensino e pesquisa decidir, den-
tro dos recursos orçamentários disponíveis, sobre:
I - criação, expansão, modificação e extinção de cursos;
II - ampliação e diminuição de vagas;
III - elaboração da programação dos cursos;
IV - programação das pesquisas e das atividades de extensão;
V - contratação e dispensa de professores;
VI - planos de carreira docente.
Art. 54. As universidades mantidas pelo Poder Público gozarão, na
forma da lei, de estatuto jurídico especial para atender às peculiaridades
de sua estrutura, organização e financiamento pelo Poder Público, assim
como dos seus planos de carreira e do regime jurídico do seu pessoal.
§ 1º - No exercício da sua autonomia, além das atribuições asseguradas
pelo artigo anterior, as universidades públicas poderão:
I - propor o seu quadro de pessoal docente, técnico e administrativo,
assim como um plano de cargos e salários, atendidas as normas gerais
pertinentes e os recursos disponíveis;
II - elaborar o regulamento de seu pessoal em conformidade com as nor-
mas gerais concernentes;
III - aprovar e executar planos, programas e projetos de investimentos
referentes a obras, serviços e aquisições em geral, de acordo com os
recursos alocados pelo respectivo Poder mantenedor;
IV - elaborar seus orçamentos anuais e plurianuais;
V - adotar regime financeiro e contábil que atenda às suas peculiaridades
de organização e funcionamento;
VI - realizar operações de crédito ou de financiamento, com aprovação do
Poder competente, para aquisição de bens imóveis, instalações e equipa-
mentos;
VII - efetuar transferências, quitações e tomar outras providências de
ordem orçamentária, financeira e patrimonial necessárias ao seu bom
desempenho.
§ 2º - Atribuições de autonomia universitária poderão ser estendidas
a instituições que comprovem alta qualificação para o ensino ou para a
pesquisa, com base em avaliação realizada pelo Poder Público.

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Aula 4

Art. 55. Caberá à União assegurar, anualmente, em seu Orçamento


Geral, recursos suficientes para manutenção e desenvolvimento das ins-
tituições de educação superior por ela mantidas.
Art. 56. As instituições públicas de educação superior obedecerão ao
princípio da gestão democrática, assegurada a existência de órgãos cole-
giados deliberativos, de que participarão os segmentos da comunidade
institucional, local e regional.
Parágrafo único. Em qualquer caso, os docentes ocuparão setenta por
cento dos assentos em cada órgão colegiado e comissão, inclusive nos
que tratarem da elaboração e modificações estatutárias e regimentais,
bem como da escolha de dirigentes.
Art. 57. Nas instituições públicas de educação superior, o professor
ficará obrigado ao mínimo de oito horas semanais de aulas.

Concluindo esta aula, vale ressaltar que alguns aspectos da educação


superior na LDB serão discutidos também nas Aulas 5, 6 e 7.

ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 24

Responda as seguintes questões:


1. Considerando o artigo de Carlos Roberto Jamil Cury “A
educação básica no Brasil”:
1.1. Comentar, uma a uma, as quatro preliminares que
o autor apresenta no início do texto, discutindo mais
especificamente a situação do ensino fundamental
no cenário da educação básica no Brasil, logo após a
LDB/96.
1.2. Discutir a situação do ensino médio e da educação infantil
nesse período imediatamente após a promulgação da
atual LDB.
1.3. Considerando que o texto é relativamente antigo (foi
publicado em 2002), procure identificar aspectos novos
das políticas anunciadas, ou seja, aponte as políticas,
dados estatísticos, programas etc. mencionados pelo
autor, que você considera terem sido objeto de revogação
ou de modificações no período subsequente à publicação
do artigo.
2. Quais as principais disposições da LDB sobre a educação
superior?

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AULA 5
Situação da educação brasileira

Diagnósticos, tendências e perspectivas

Nesta aula, discutiremos aspectos da realidade educacional brasileira.


O objetivo desta aula é conhecer e discutir a situação da educação
brasileira, a partir do estudo das estatísticas educacionais mais
recentes (UNICEF, INEP/MEC e IBGE).
Vamos iniciar a nossa reflexão a partir do texto “Educação e exclusão”,
de Sérgio Haddad. Logo no início desse texto, o autor apresenta a
grande contradição da educação brasileira:
a educação pública abriga a maior parte das matrículas da Educação Básica
e responde pela escolarização de mais de 90% da população brasileira. No
Ensino Superior ocorre o inverso: cerca de 85% estão sob a responsabili-
dade da iniciativa privada.1

Um dos pontos marcantes do texto é a crítica, em vários momentos, à


ideia de que universalizamos o ensino fundamental no país. Segundo
Sérgio Haddad,
a universalização do atendimento escolar, mesmo para os anos
obrigatórios, ainda não ocorreu. Mais de dois milhões de crianças
entre 5 e 14 anos estão fora da escola. Os índices de evasão (8,7%) e
repetência (11,7%) permanecem igualmente elevados, provocando um
aumento significativo na taxa de distorção idade-série. De cem alunos que
ingressam na Educação Básica, apenas 59 conseguem terminar a 8ª série
do Ensino Fundamental e somente 40 chegam ao final do Ensino Médio
de forma regular. Este funil se agrava nas regiões mais pobres. Na maioria
dos estados do Nordeste, o índice de conclusão do Ensino Fundamental é
inferior a 40%. Para todas as regiões, quanto maior a série frequentada,
maior a defasagem média dos alunos.
Muitas são as causas deste insucesso. Uma delas é a necessidade de buscar
trabalho. Entre os jovens, 16% dos que terminam o Ensino Fundamental
HADDAD, 2008.
1
não ingressam no Ensino Médio. E entre os que ingressam, mais da
metade concluirá a Educação Básica depois de atingir a maioridade.2 HADDAD, 2008, grifos
2

meus.

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política educacional

Mais adiante o autor retoma essa crítica, ao mencionar os analfabetos


funcionais:
Esta realidade aponta para uma falsa ideia corrente na sociedade
brasileira: a de que universalizamos o Ensino Fundamental. No
Brasil, grande parte das pessoas de 7 a 14 anos está estudando, mas a
baixa qualidade do ensino, unida à baixa qualidade de vida dessa popu-
lação, fazem com que os alunos não consigam completar sua escolari-
dade, criando um novo tipo de exclusão social e educacional, provocada
não mais pela ausência de vagas, mas sim pela incapacidade de adquirir a
escolaridade, mesmo frequentando os bancos escolares, transformando
grande parte da população jovem e adulta incapaz de ler e escrever com
autonomia.3

E a situação do analfabetismo ainda é grave, apesar de o índice estar


caindo (de 39,6%, em 1960, para 10,38%, em 2006, o que correspondia
a 14,4 milhões de pessoas, entre brasileiros com 15 anos de idade ou
mais, chegando a 10% em 2007).

ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 25

Leia o artigo de Sérgio Haddad, intitulado “Educação e exclusão”.


Acesse o Portal da ONG Ação Educativa, e baixe o texto a partir de
um dos links a seguir:
<http://www.acaoeducativa.org.br/portal/index.php?option=
com_content&task=view&id=1218&Itemid=149>
ou
<http://www.bdae.org.br/dspace/bitstream/123456789/2300/
1/educacao_exclusao_brasil2.pdf>.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) divulgou, em


9 de junho de 2009, um relatório intitulado Situação da Infância e
da Adolescência Brasileira 2009 – O Direito de Aprender: Poten-
cializar Avanços e Reduzir Desigualdades. Nesse documento, de
199 páginas, o UNICEF faz uma análise sobre o direito de aprender
no Brasil, a partir das estatísticas mais recentes, focalizando as
desigualdades educacionais no Brasil – especialmente as regio-
nais, étnico-raciais e socioeconômicas, bem como as relacionadas
à inclusão de crianças com deficiência. São essas desigualdades que
impedem que parcelas mais vulneráveis da população brasileira
tenham garantido seu direito de aprender, sobretudo nas regiões
do semiárido, da Amazônia Legal e nas comunidades populares
dos centros urbanos. O relatório conclui que o Brasil obteve impor-
tantes avanços nos indicadores de acesso, aprendizagem, perma-
nência e conclusão da educação básica
De acordo com os dados apresentados, 97,6% das crianças e adoles-
3
HADDAD, 2008, grifos centes entre 7 e 14 anos estão matriculados na escola, o que repre-
meus. senta cerca de 27 milhões de estudantes. Esses 2,4% restantes, que
podem parecer pouco, representam 680 mil crianças fora da escola.
E desse total de crianças fora da escola, 66% (450 mil) são negras, e
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Aula 5

o percentual de crianças fora da escola na Região Norte é duas vezes


maior do que o mesmo percentual na Região Sudeste.
Veja, a seguir, alguns dos principais dados sobre atendimento em dife-
rentes níveis e modalidades de ensino, apresentados no relatório O
Direito de Aprender, baseados em síntese elaborada pelo UNICEF, na
ocasião da apresentação dessa publicação, que traçam um diagnóstico
mais recente da educação brasileira:4
Educação infantil: no Brasil, o atendimento das crianças de até três
anos de idade ainda é muito baixo: 17,1% em 2007, mas vem aumen-
tando em relação aos anos anteriores, passando de 7,6 % em 1995,
para 10,6% em 2001. O atendimento de crianças de quatro a seis anos
também foi ampliado, passou de 53,5% em1995, para 65,6% em 2001,
chegando a 77,6% em 2007. Importante lembrar que a faixa de idade
de zero a três anos, hoje atendida pela creche, no âmbito da educação
infantil, só veio integrar, de fato, a educação regular muito recen-
temente, a partir da LDB de 1996. Além disso, a educação infantil
(creche e pré-escola) foi muito prejudicada em função da preferência
do FUNDEF e de outras políticas da década de 1990 e início dos anos
2000 pelo ensino fundamental.
Ensino fundamental: do total de crianças entre 7 e 14 anos,5 97,6%
estão matriculadas na escola, o que representa cerca de 26 milhões de
estudantes. O percentual de 2,4% de crianças e adolescentes fora da
escola pode parecer pouco, mas representa cerca de 680 mil crianças
entre 7 e 14 que têm seu direito de acesso à escola negado. As mais
atingidas são as negras, indígenas, quilombolas, pobres, sob risco de
violência e exploração, e com deficiência. Desse contingente fora da
escola, cerca de 450 mil são crianças negras e pardas.
Ensino médio: segundo uma análise da Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios (PNAD) feita pelo Instituto de Pesquisa Econô-
mica Aplicada (IPEA), 82,1% dos adolescentes entre 15 e 17 anos
frequentam a escola. Entretanto, 44% dos adolescentes ainda não
concluíram o ensino fundamental e apenas 48% cursam o ensino
médio dentro da faixa etária adequada para esse nível. No Nordeste,
apenas 34% dos adolescentes de 15 a 17 anos frequentam o ensino
médio, e no Norte o dado é semelhante: são 36%. A média nacional, de
acordo com a PNAD, é de 48%. Na Região Sudeste, esse percentual fica
em 58,8% e, no Sul, em 55%.
Desigualdade racial: o número de pessoas brancas matriculadas no UNICEF. Brasil melhora,
4

ensino médio é 49,2% maior do que o mesmo número entre a popu- mas desigualdades ainda
lação negra. Percebe-se uma significativa melhora na adequação idade- criam barreiras.
-série entre os adolescentes negros. Lembrando que a idade
5

de entrada no ensino
Anos de estudo: enquanto a população urbana possui, em média, fundamental foi reduzida
8,5 anos de estudo concluídos com sucesso, a rural tem apenas 4,5. recentemente para seis
Em relação à população branca, os negros possuem, em média, dois anos.

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política educacional

anos de estudo a menos. A população nordestina acima de 15 anos é a


menos escolarizada do país. Essa parcela da população possui apenas
seis anos de escolaridade, enquanto a média nacional é de 7,3 anos.
Analfabetismo: do total de crianças com 10 anos de idade no
Nordeste, 12,8% não sabem ler, mais que o dobro da média nacional,
que é de 5,5%. Já no Sul o indicador é de 1,2%. Embora importantes
conquistas tenham sido obtidas nos últimos 15 anos, os estados da
Amazônia Legal brasileira ainda têm mais de 90 mil adolescentes anal-
fabetos e cerca de 160 mil crianças entre 7 e 14 anos fora da escola.
Segundo a PNAD de 2007, 82,7% dos analfabetos de 15 anos ou mais
do Norte são pretos ou pardos, o que evidencia a desigualdade racial.
Educação no campo: nas zonas rurais encontram-se as maiores
taxas de analfabetismo e o maior contingente de crianças fora da escola.
De maneira geral, os currículos estão desvinculados das realidades, das
necessidades, dos valores e dos interesses dos estudantes que residem
no campo, o que impede que o aprendizado, de fato, se transforme em
um instrumento para o desenvolvimento local. A escolaridade média
da população rural de 15 anos ou mais corresponde a menos da metade
do índice entre a população da área urbana. Enquanto a população
urbana possui, em média, 8,5 anos de estudos concluídos com sucesso,
a rural tem apenas 4,5. No Nordeste, a situação é mais grave: a popu-
lação rural da região tem, em média, apenas 3,1 anos de escolaridade:
menos da metade da população urbana. Do total da população rural
com 15 anos ou mais, 25,8% são analfabetos. Esse indicador entre os
habitantes da área urbana é de 8,7%. Apenas pouco mais de um quinto
dos adolescentes da área rural está matriculado no ensino médio. No
Nordeste, esse índice é de 11,6%. Nas escolas do campo, a defasagem
idade-série nas séries iniciais do ensino fundamental é de 41,4%. Nos
anos finais é de 56%, e no ensino médio sobe para 59,1%.
Crianças com deficiência: há muitos obstáculos físicos e sociais
que impedem o livre acesso das crianças com deficiência à escola e à
educação inclusiva. Os dados do Censo Escolar 2007 confirmam essa
dificuldade: enquanto 70,8% cursam o ensino fundamental, apenas
2,5% estão no ensino médio. O número de estudantes nesse nível de
ensino é muito mais baixo do que na Educação de Jovens e Adultos
(11,2%). Por exemplo, há poucas escolas de ensino médio que oferecem
atendimento e salas de recursos aos estudantes com deficiência. De
acordo com dados do Censo Escolar, houve um crescimento de 94%
nas matrículas na Educação Especial, que passou de 337.326 em 1998,
para 654.606 em 2007. Em relação ao ingresso em classes comuns do
ensino regular, o aumento foi de cerca de 597%, ou seja: de 43.923 em
1998, para 304.882 em 2007.
Educação indígena: foi registrado um aumento de 50,8%, entre
2002 e 2007, do número de estudantes indígenas: de 117.171 para
176.714. Nesse mesmo período, o crescimento de matrículas de alunos

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Aula 5

indígenas no ensino médio subiu 665%. Oitenta por cento das 2.480
escolas indígenas do Brasil estão localizadas nos estados da Amazônia
Legal (Sistema Educacenso 2007). Dez por cento dos professores indí-
genas em atuação não concluíram o ensino fundamental e nunca rece-
beram nenhuma formação para atuar como professores. Na Região
Norte, 18,4% dos docentes indígenas têm apenas o ensino funda-
mental incompleto, o que evidencia a necessidade contínua de investi-
mentos específicos na área.6
Educação quilombola: até dezembro de 2008 havia 1.305 comuni-
dades remanescentes de quilombos reconhecidas no país. Em 2006,
o número de escolas localizadas nessas áreas cresceu 94,4%. O Mara-
nhão é o estado com maior número de escolas em áreas quilombolas:
423.
Infraestrutura escolar: das mais de 58 mil escolas do Semiárido,
51% não são abastecidas pela rede pública de água, 14% não dispõem
de energia elétrica e 6,6% não têm sanitários. A grande maioria (80%)
não possui biblioteca ou sala de leitura, computador (75,8%) e muito
menos acesso à internet (89,2%).

ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 26

Leia o relatório do UNICEF Situação da Infância e da Adolescência


Brasileira 2009 – O Direito de Aprender: Potencializar Avanços e
Reduzir Desigualdades. Disponível em: <http://www.unicef.org/
brazil/pt/resources_14927.htm>.

Aproveitando o último ponto da síntese do relatório do UNICEF, sobre


a infraestrutura escolar, vale comentar duas coisas: que o Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP)
está desenvolvendo uma pesquisa para desenvolver um levantamento
mais detalhado dessa situação e que, em Minas Gerais, o Sindicato
Único dos Trabalhadores em Educação (SIND-UTE) publicou, em feve-
reiro de 2009, uma revista especial em comemoração aos 30 anos de
sua fundação, intitulada Radiografia da Educação Mineira, em que apre-
senta, com fotos e depoimentos de professores e alunos, a situação das
instalações físicas de algumas escolas estaduais em Minas Gerais, em
diversas regiões do estado.

ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 27

Leia a revista Radiografia da Educação Mineira, disponível em:


<http://www.sindutemg.org.br/docs/revistas/radiogeducm
infev2009.pdf>. Estatísticas sobre
6

Educação Escolar
O INEP é o responsável pela produção das estatísticas sobre Indígena no Brasil, INEP
2007, com base nos dados
educação no Brasil. Visite a página do INEP (disponível em: <www. do Censo Escolar 2005.
inep.gov.br>.) e conheça os dados mais recentes.

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política educacional

ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 28

Leia o “Texto introdutório” da Sinopse Estatística da Educação Básica


2007, disponível em:
<http://www.inep.gov.br/basica/censo/Escolar/Sinopse/sinopse.
asp>.

Para concluir esta aula, vale ressaltar um ponto sobre a situação da


educação brasileira: a partir da CF/88, o município ganhou mais
evidência na federação brasileira, passando a ocupar lugar relevante
na política educacional. Parte da receita de impostos dos municípios
é vinculada (e subvinculada) para a educação, pela própria CF/88, que
determinou a sua competência prioritária para o ensino fundamental
e a educação infantil. De acordo com a LDB/96, o município pode
constituir um sistema municipal de ensino próprio ou integrar-se ao
sistema estadual. Em 2006, o IBGE dedicou o quarto capítulo da sua
pesquisa Perfil dos Municípios Brasileiros – MUNIC 2006 para analisar
a política de educação em todos os municípios do Brasil, examinando
a capacidade institucional local de formular e gerir políticas públicas
educacionais, desenvolver ações, programas e projetos, entre outros
aspectos relacionados ao tema.

ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 29

Leia o Capítulo 4 da MUNIC 2006, disponível em:


<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/perfilmunic/
2006/munic2006.pdf>.

ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 30

Responda a seguinte questão:


Como está a educação básica brasileira? Considerando o texto de
Haddad, o Relatório do UNICEF, a publicação do SIND-UTE e os
dados do INEP e do IBGE, vistos nesta Aula, escreva um pequeno
texto, de aproximadamente duas páginas, discutindo os aspectos
que julgar mais relevantes sobre a realidade da educação básica
brasileira.

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AULA 6
As políticas de avaliação
dos sistemas de ensino

Nesta aula, abordaremos algumas noções teóricas e os principais


instrumentos das políticas de avaliação dos sistemas de ensino no
Brasil.
Os objetivos desta Aula são:
1º) Estudar alguns aspectos teóricos das políticas de avaliação no
Estado capitalista neoliberal, discutindo a noção de “quase mercado”;
2º) conhecer o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB)
e os impactos de sua adoção, pelo MEC, no atual governo;
3º) apresentar o site do INEP, onde é possível obter informações sobre
outros instrumentos de avaliação da educação básica e superior.
Iniciando nossa abordagem das políticas de avaliação, vamos retomar
o tema da Aula 3, na qual estudamos os sistemas de ensino e as compe-
tências dos entes da federação na LDB. Como visto, no Art. 9º, incisos
VI e VIII da LDB, incumbe à União
assegurar processo nacional de avaliação do rendimento escolar
no ensino fundamental, médio e superior, em colaboração com os
sistemas de ensino, objetivando a definição de prioridades e a melhoria
da qualidade do ensino [e] assegurar processo nacional de avaliação das
instituições de educação superior, com a cooperação dos sistemas
que tiverem responsabilidade sobre este nível de ensino (grifos meus).

De acordo com a LDB, portanto, a União exercerá essa atribuição de


avaliar a educação com a colaboração ou a cooperação dos sistemas de
ensino.
É preciso, no entanto, voltarmos um pouco para que possamos
compreender o lugar da avaliação dos sistemas de ensino, tal como
aparece na LDB de 1996. Na verdade, a LDB vem consolidar um
movimento iniciado no final da década de 1980, que em 1991 vem
a ser denominado SAEB. Parece evidente, mas é preciso ressaltar que
estamos falando aqui das políticas de avaliação dos sistemas de ensino,

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política educacional

não do instrumento didático, da avaliação do processo ensino-apren-


dizagem que o professor realiza em sala de aula. Alguns autores, como
Romualdo Portela de Oliveira e Sandra Záquia de Souza, identificam
reflexos das transformações do Estado na adoção dessas políticas,
partindo da noção de “quase mercado”, em práticas de gestão do setor
privado que são incorporadas ao Estado.1

ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 31

Leia o texto indicado a seguir, procurando compreender o conceito


de “quase mercado” e as relações entre as transformações do Estado
capitalista e a origem das políticas de avaliação da educação. É
importante advertir que o texto é antigo (2003) e as políticas ali
descritas já sofreram alterações; interessa-nos, aqui, o aspecto
histórico das políticas de avaliação.
“Políticas de avaliação da educação e quase mercado no Brasil”.2
Texto disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/es/v24n84/a07v2484.pdf>.

Vamos ao segundo objetivo desta aula: o IDEB. Você já reparou em


uma propaganda no MEC, exibida com frequência nos intervalos da
televisão, sobre o IDEB? Sabe do que se trata?

ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 32

Assista ao vídeo do comercial do IDEB, versão 2009, na página do


MEC.
Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=
article&id=12221&Itemid=791>.

O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) foi criado em


2007 para medir a qualidade de cada escola e de cada rede de ensino.
O indicador é calculado com base no desempenho do estudante em
avaliações do INEP e em taxas de aprovação. O IDEB é, portanto,
um indicador de qualidade educacional que combina informações de
desempenho em exames padronizados (Prova Brasil ou SAEB) – obtido
pelos estudantes ao final das etapas de ensino (4ª e 8ª séries do ensino
fundamental e 3ª série do ensino médio) – com informações sobre
rendimento escolar (aprovação). A novidade do IDEB é a perspectiva
de se atribuir uma nota para cada escola e para cada sistema de ensino,
1
SOUZA; OLIVEIRA,
2003, p. 873-895. gerando, assim, a possibilidade de execução de políticas de metas, a
partir de adesão, ou seja, de convênios entre o MEC, os estados, os
2
SOUZA; OLIVEIRA,
2003, p. 873-895.
municípios e as escolas.

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Aula 6

ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 33

Saiba mais sobre o IDEB, acessando a página do MEC, onde você


encontrará a nota técnica, disponível em:
<http://www.inep.gov.br/download/Ideb/Nota_Tecnica_n1_
concepcaoIDEB.pdf>, o artigo (disponível em: <http://www.
publicacoes.inep.gov.br/arquivos/%7B9C976990-7D8D-4610-
AA7C-FF0B82DBAE97%7D_Texto_para_discussão26.pdf>.)
e outras informações.

O IDEB integra o PDE, como vimos na Aula 3.


O INEP é o órgão responsável pela execução das políticas de
avaliação. Visite a página do Instituto (disponível em: <www.inep.
gov.br>) para conhecer detalhes dos diferentes instrumentos de
avaliação da educação básica e da educação superior.
Concluindo esta aula, vale observar que neste ano de 2009 encontra-se
em andamento uma reformulação do Exame Nacional do Ensino
Médio (ENEM), com vistas à redefinição tanto dos processos seletivos
para as universidades federais quanto do currículo do ensino médio.
Este exame possui características próprias: o estudante se inscreve,
facultativamente, sendo mais voltado para o mercado de trabalho e o
ingresso na educação superior, diferenciando-se do SAEB e da Prova
Brasil, com finalidades de avaliação do sistema.
Alguns estados possuem instrumentos próprios de avaliação dos seus
sistemas de ensino, como é o caso de Minas Gerais – Sistema Mineiro
de Avaliação da Educação Pública (SIMAVE) e de São Paulo – Sistema
de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (SARESP),
por exemplo.

ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 34

Responda as seguintes questões:


1. O que você entende pelo conceito “quase mercado”?
Comentar as relações entre políticas de avaliação e
Estado.
2. O que é o IDEB? Apresente o IDEB, discutindo-o no
contexto atual da política educacional.

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AULA 7
As políticas de formação e gestão de
professores para a educação básica

Nesta aula, discutiremos os dispositivos da LDB/96 sobre profis-


sionais da educação (Art. 61 a 67 e 87, parágrafo 4º) e aspectos das
políticas mais recentes para a formação e a carreira dos docentes da
educação básica.
Constituem objetivos desta aula:
1º) Apresentar os dispositivos da LDB/96 sobre políticas de formação
de professores para a educação básica (Art. 61 a 67 e 87, parágrafo 4º);
2º) conhecer a Lei do Piso Salarial para os profissionais da educação
básica pública e estudar a sua implementação, que enfrenta resistên-
cias de prefeitos e governadores, sendo que alguns dispositivos dessa
lei foram suspensos, provisoriamente, pelo Supremo Tribunal Federal
(STF);
3º) discutir a escassez de professores no ensino médio e conhecer as
ações governamentais para a formação de professores, tais como a
criação da Universidade Aberta do Brasil (UAB) e da Nova CAPES e
o recente Plano Nacional de Formação dos Professores da Educação
Básica, em implementação pelo MEC, em 2009.
A LDB/96
A LDB/96 dispõe sobre os profissionais da educação nos Art. 61 a 67 e
no Art. 87, parágrafo 4º, transcritos a seguir:
Dos Profissionais da Educação
Art. 61. A formação de profissionais da educação, de modo a atender aos
objetivos dos diferentes níveis e modalidades de ensino e às características
de cada fase do desenvolvimento do educando, terá como fundamentos:
I - a associação entre teorias e práticas, inclusive mediante a capacitação
em serviço;
II - aproveitamento da formação e experiências anteriores em instituições
de ensino e outras atividades.

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política educacional

Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em


nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em univer-
sidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação
mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro
primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na
modalidade Normal.
Art. 63. Os institutos superiores de educação manterão:
I - cursos formadores de profissionais para a educação básica, inclusive o
curso normal superior, destinado à formação de docentes para a educação
infantil e para as primeiras séries do ensino fundamental;
II - programas de formação pedagógica para portadores de diplomas de
educação superior que queiram se dedicar à educação básica;
III - programas de educação continuada para os profissionais de educação
dos diversos níveis.
Art. 64. A formação de profissionais de educação para administração,
planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a
educação básica será feita em cursos de graduação em pedagogia ou em
nível de pós-graduação, a critério da instituição de ensino, garantida,
nesta formação, a base comum nacional.
Art. 65. A formação docente, exceto para a educação superior, incluirá
prática de ensino de, no mínimo, trezentas horas.
Art. 66. A preparação para o exercício do magistério superior far-se-á em
nível de pós-graduação, prioritariamente em programas de mestrado e
doutorado.
Parágrafo único. O notório saber, reconhecido por universidade com curso
de doutorado em área afim, poderá suprir a exigência de título acadêmico.
Art. 67. Os sistemas de ensino promoverão a valorização dos profissio-
nais da educação, assegurando-lhes, inclusive nos termos dos estatutos e
dos planos de carreira do magistério público:
I - ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos;
II - aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com licenciamento
periódico remunerado para esse fim;
III - piso salarial profissional;
IV - progressão funcional baseada na titulação ou habilitação, e na
avaliação do desempenho;
V - período reservado a estudos, planejamento e avaliação, incluído na
carga de trabalho;
VI - condições adequadas de trabalho.
§ 1º - A experiência docente é pré-requisito para o exercício profissional de
quaisquer outras funções de magistério, nos termos das normas de cada
sistema de ensino.
§ 2º - Para os efeitos do disposto no § 5º do Art. 40 e no § 8º do Art.
201 da Constituição Federal, são consideradas funções de magistério as
exercidas por professores e especialistas em educação no desempenho de
atividades educativas, quando exercidas em estabelecimento de educação

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Aula 7

básica em seus diversos níveis e modalidades, incluídas, além do exercício


da docência, as de direção de unidade escolar e as de coordenação e asses-
soramento pedagógico. (Incluído pela Lei nº 11.301, de 2006)
[...]
Das Disposições Transitórias
Art. 87. É instituída a Década da Educação, a iniciar-se um ano a partir da
publicação desta Lei. [...]
§ 4º - Até o fim da Década da Educação somente serão admitidos profes-
sores habilitados em nível superior ou formados por treinamento em
serviço.

A principal novidade da LDB/96 no campo da formação de professores


foi a criação de um novo tipo de instituição (o Instituto Superior de
Educação) e de um novo curso de formação de professores (o Normal
Superior). Além disso, pode-se ressaltar a manutenção da formação
de professores em nível médio (a antiga Habilitação Magistério de 1º
grau foi renomeada Normal de nível médio) e uma tentativa de afasta-
mento do curso de Pedagogia da formação de docentes.
A política de criação dos institutos e do Normal Superior, com intuito
de retirar a formação de professores da universidade (transferindo-a
para institutos isolados) e também afastá-la do curso de Pedagogia,
ficou circunscrita ao período do governo Fernando Henrique. Com
o governo Lula essa orientação foi revista. Foram definidas as novas
diretrizes curriculares para o curso de Pedagogia, por meio das quais
a formação de professores para a educação infantil e séries iniciais do
ensino fundamental passou a ser a sua principal finalidade. No mesmo
sentido, foram desestimulados os cursos Normais Superiores, que
continuam existindo, porém não ocupando a prioridade (ou a exclu-
sividade, como pretendia o governo Fernando Henrique, por meio de
decreto) no campo da formação de professores para a educação infantil
e as séries iniciais do ensino fundamental, abrindo-se a possibilidade
de transformação desses cursos em Pedagogia. Da mesma forma, não
se investiu mais na criação de institutos para retirar a formação de
professores da universidade, como se pretendia. Ao contrário, ações
governamentais vêm sendo implementadas no sentido de se fortalecer
as licenciaturas na universidade. Outra mudança verificada a partir do
governo Lula é o fortalecimento e a expansão da universidade pública
federal e a contenção da forte expansão do setor privado da educação
superior, que ocorria logo após a LDB/96.
A novidade, implementada em 2009, é a proposta do MEC para a alte-
ração da redação do Art. 62 da LDB, com dois objetivos: restringir a
formação de nível médio, no curso Normal, exclusivamente para profes-
sores da educação infantil, e estabelecer uma nota mínima no Exame
Nacional do Ensino Médio (ENEM) como pré-requisito para ingresso em
cursos de graduação para formação de docentes. Desse modo, o professor
das séries iniciais do ensino fundamental passaria a ser formado apenas

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política educacional

em nível superior. É o que consta no Projeto de Lei nº 5.395, de 20 de


abril de 2009, em tramitação no Congresso Nacional.

A Lei do Piso Salarial

A Lei nº 11.738, de 16 de julho de 2008, regulamentou a alínea “e” do


inciso III do caput do Art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias da CF/88, para instituir o piso salarial profissional nacional
para os profissionais do magistério público da educação básica.

ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 35

Leia o texto integral da Lei nº 11.738, disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/
L11738.htm>.

Em 1994, no governo do presidente Itamar Franco, foi assinado um


acordo para a criação do piso salarial para o magistério, com valor
de R$ 300,00 (trezentos reais). Entretanto, no governo seguinte, de
Fernando Henrique, esse acordo não teve prosseguimento, optando-
-se, no mecanismo do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento
do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF),
apenas pela adoção de uma média salarial, de R$ 300,00, não mais
de um piso. A LDB de 1996 e o PNE de 2001 não dispuseram sobre
o piso salarial.
Com o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica
e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB) e as ações
do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), em março de 2007,
o governo Lula retoma a ideia do piso salarial, enviando um projeto
de lei nesse sentido para o Congresso Nacional, que veio a apensar-
-se a projeto semelhante em tramitação no Senado, originando a Lei
nº 11.738, de 16 de julho de 2008, que estabelece um piso salarial no
valor inicial de R$ 950,00 (novecentos e cinquenta reais), a ser implan-
tado progressivamente, cujo valor será corrigido anualmente.1 O piso
é uma referência inicial apenas para a remuneração dos professores
da rede pública, com formação de nível médio (curso Normal), para
jornada de, no máximo, 40 (quarenta) horas semanais, sendo propor-
cional no caso de outras jornadas. O acréscimo na remuneração dos
professores com graduação e pós-graduação ocorrerá nos planos de
carreira do respectivo sistema de ensino.
1
O valor do piso durante
a tramitação do projeto, A lei inova ao estabelecer como referência a jornada de 40 horas e,
mencionado em alguns
textos, era de R$
sobretudo, ao adotar um “limite máximo de 2/3 (dois terços) da
850,00, mas na versão carga horária para o desempenho das atividades de interação com os
final da lei foi fixado em educandos” (Lei nº 11.738, de 16 de julho de 2008), ou seja, tende
R$ 950,00.
a diminuir a carga didática, para ampliar, no mínimo, para 1/3 (um
terço) o tempo do professor fora da sala de aula. Com isso, pode-se

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Aula 7

entender uma tentativa de sinalização em direção à mudança no


regime de trabalho, para a desejável fixação do professor da educação
básica em uma única escola, e à futura adoção de um modelo de escola
de tempo integral.
Mas a lei enfrenta muitas resistências, de governadores e prefeitos,
que alegam falta de recursos para implementá-la. A constitucionali-
dade dessa Lei do Piso Salarial vem sendo discutida no STF, por meio
da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN) nº 4.167, ajuizada por
governadores de cinco estados (MS, PR, SC, RS e CE). O Supremo já
julgou o pedido de liminar nessa Ação, em 17 de dezembro de 2008,
decidindo que o “piso” deve ser entendido como a soma do vencimento
básico, gratificações e vantagens, até o julgamento final, e suspen-
dendo o parágrafo 4º do Art. 2º da lei, que limitava em 2/3 a carga
horária em sala de aula. Tal decisão judicial, ainda que provisória e
passível de alteração, enfraquece a aplicação da Lei do Piso Salarial,
reduzindo-lhe a abrangência.
O MEC reforçou a perspectiva de que o mecanismo do FUNDEB vai
cobrir as eventuais dificuldades dos estados e municípios na imple-
mentação do piso salarial, com recursos da União, na busca de garantir
a aplicação da lei.

A escassez de professores no ensino médio e as ações


governamentais para a formação de professores

Atualmente, a política de formação de professores para a educação


básica está pautada pelo Decreto nº 6.755, de 29 de janeiro de 2009,
que institui a Política Nacional de Formação de Profissionais do
Magistério da Educação Básica, disciplina a atuação da Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) no fomento
a programas de formação inicial e continuada, e dá outras provi-
dências. Essa política atual é uma resposta do MEC, que abriu vagas
públicas, gratuitas, em cursos presenciais e a distância, para superar
um problema verificado em diagnósticos anteriores, que apontavam
a falta de professores, sobretudo em algumas disciplinas das escolas
do ensino médio, e a necessidade de investimentos na formação de
professores. Sobre isso, Helena Freitas afirma que
A “escassez” de professores para a educação básica, apontada pelo rela-
tório do CNE, apresentado em sua reunião de julho de 2007, não pode,
portanto, ser caracterizada como um problema conjuntural e nem mesmo
exclusivamente emergencial. Ao contrário, é estrutural, um problema
crônico, produzido historicamente pela retirada da responsabilidade do
Estado pela manutenção da educação pública de qualidade e da formação
de seus educadores.2
FREITAS, 2007, p. 1203-
2

1230.

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política educacional

ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 36

Leia o texto integral do Decreto nº 6.755, de 29 de janeiro de 2009,


disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
2010/2009/Decreto/D6755.htm>.

No ano seguinte, em julho de 2008, a revista Ciência Hoje publicou


a reportagem “Procuram-se mestres”, discutindo a existência, na rede
pública, de “um déficit de mais de 350 mil professores qualificados”.3
Sabe-se que o problema não é apenas na formação, mas sobretudo na
carreira, cujos baixíssimos salários e péssimas condições de trabalho
nas escolas públicas não representam atrativo ou incentivo para
ingresso no magistério, contribuindo para a baixa procura e a grande
evasão nos cursos de licenciatura ou a baixa inserção dos formados no
mercado de trabalho, especialmente em áreas nas quais os egressos
contam com outras possibilidades de atuação profissional além do
magistério, com melhores salários e condições de trabalho, e de desen-
volvimento profissional mais favorável.
Concluindo, com a criação da Universidade Aberta do Brasil (UAB)
o MEC pretende intervir na formação, ao impulsionar a criação de
cursos de licenciatura na modalidade a distância, além de abrir vagas
em cursos presenciais também. Do mesmo modo, como vimos, o piso
salarial pretende, ainda que de modo tímido, intervir na carreira, pela
garantia de uma remuneração mínima para o professor.

ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 37

Leia o texto “A (nova) política de formação de professores: a


prioridade postergada”,4 disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/
es/v28n100/a2628100.pdf>.

ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 38

Responda as seguintes questões:


1. Como a LDB/96 dispõe sobre a formação de professores?
Comentar os Art. 61 a 67 e o Art. 87, parágrafo 4º, dessa
lei.
2. Diferenciar as linhas gerais das políticas de formação
de professores dos governos Fernando Henrique e Lula,
comentando as medidas que estão sendo implementadas
3
PROCURAM-se mestres, atualmente.
2008, p. 48 a 51. 3. Discutir a modalidade de educação a distância como uma
4
FREITAS, 2007, p. 1203- opção complementar no campo da política de formação
1230. de professores no Brasil.

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AULA 8
O Projeto Político-Pedagógico
e aspectos da gestão democrática da
escola, previstos na CF/88

Nesta aula, concluindo o nosso curso, focalizaremos a escola, abor-


dando projetos e programas voltados mais diretamente para ela.
São objetivos desta aula:
1º) Discutir a gestão democrática da escola, prevista na Constituição, e
o papel do Projeto Político-Pedagógico (PPP) nesse processo;
2º) conhecer alguns projetos do MEC voltados para a escola, como o
Programa de Fortalecimento de Conselhos Escolares e o Programa
Dinheiro Direto na Escola (PDDE).
A gestão democrática do ensino público é um princípio inscrito
na CF/88 (Art. 206, VI) e reafirmado na LDB/96 (Art. 3º, VIII),
que também incumbiu os estabelecimentos de ensino de cuidar da
elaboração e da execução da sua proposta pedagógica (Art. 12, I), e
os docentes de participarem da elaboração dessa proposta (Art. 13,
I). Nos artigos 14 e 15, a LDB faz referência ao projeto pedagógico
da escola e disciplina o papel dos sistemas de ensino para garantir a
gestão democrática, como visto a seguir:
LDB/96
Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e
as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de:
I - elaborar e executar sua proposta pedagógica; [...]
Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de:
I - participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento
de ensino; [...]
Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrá-
tica do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculia-
ridades e conforme os seguintes princípios:

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política educacional

I - participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto


pedagógico da escola;
II - participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares
ou equivalentes.
Art. 15. Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públi-
cas de educação básica que os integram progressivos graus de autonomia
pedagógica e administrativa e de gestão financeira, observadas as nor-
mas gerais de direito financeiro público.
É importante que o PPP seja realmente reflexo de um processo de cons-
trução coletiva de uma proposta da escola, não apenas um documento
formal, desvinculado do dia a dia do estabelecimento de ensino e da
rotina de trabalho dos professores. Sabemos que ainda estamos longe
desses “progressivos graus” da proclamada “autonomia pedagógica e
administrativa e de gestão financeira” da escola, como prevê a LDB, o
que, na prática, dificulta o planejamento pedagógico, administrativo e
financeiro da escola, já que esta depende em tudo, ou em quase tudo,
das decisões da respectiva secretaria ou órgão de educação do sistema
a que pertence.
Outro aspecto importante a observar é a “participação das comuni-
dades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes”, prevista
no Inciso II do Art. 14 da LDB. O que parece dificultar ou inviabilizar,
ou, pelo menos, desestimular a participação de pais, professores e
alunos nesses “conselhos escolares ou equivalentes” é o caráter mera-
mente consultivo ou quando muito homologatório dos mesmos, sem
poder efetivo de decisão, geralmente concentrada na figura do diretor
da escola ou do gestor do sistema de ensino (secretário municipal ou
estadual de educação ou equivalente).
Sobre o diretor da escola, durante o período da ditadura militar o cargo
era ocupado por indicação política da autoridade local. Com a rede-
mocratização do país, o diretor passou a ser escolhido por eleição ou
por concurso, sendo que em algumas localidades ainda hoje é cargo de
confiança, indicado pelo Executivo. No caso das eleições para escolha
do diretor de escola, a discussão é em torno do peso do voto dos profes-
sores em relação aos alunos e pais de alunos, o que às vezes gera distor-
ções e interferências político-partidárias no processo. Há caso, ainda,
de combinação de duas fases (prova e eleição).
Além dos conselhos de escola, temos nos municípios os conselhos
fiscais do FUNDEB e os conselhos municipais de educação (onde o
município optou por constituir sistema próprio, conforme lhe faculta
a LDB), locais onde também é possível a participação da comunidade
escolar, para o exercício da gestão democrática do ensino público.
Abordando aspectos da gestão financeira e dos conselhos na escola,
Luiz Fernandes Dourado apresenta e comenta alguns projetos do
MEC, como o Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos
Escolares e o Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), além do

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Aula 8

Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE), que é um dos programas


centrais do Fundo de Fortalecimento da Escola (FUNDESCOLA), este
último restrito às regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.1
Segundo o autor,
O Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) consiste no repasse anual
de recursos por meio do FNDE às escolas públicas do ensino fundamen-
tal estaduais, municipais e do Distrito Federal e às do ensino especial
mantidas por organizações não governamentais (ONGs), desde que
registradas no Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS).
Os recursos, oriundos predominantemente do “salário-educação”, são
destinados à aquisição de material permanente e de consumo necessá-
rios ao funcionamento da escola; à manutenção, conservação e peque-
nos reparos da unidade escolar; à capacitação e ao aperfeiçoamento de
profissionais da educação; à avaliação de aprendizagem; à implementa-
ção de projeto pedagógico; e ao desenvolvimento de atividades educacio-
nais. Um dos limites interpostos ao Programa refere-se à estruturação
de unidades executoras nas unidades escolares, o que, em muitos casos,
tem resultado na instituição de entes privados como gestores de
recursos das escolas públicas, em detrimento de outros atores,
como conselhos escolares, fortemente referendados por outro pro-
grama da SEB/MEC.2
Já o Programa de Fortalecimento de Conselhos Escolares, segundo o
mesmo autor,
tem por objetivo contribuir com a discussão sobre a importância de
conselhos escolares nas instituições e visa, ainda, ao fortalecimento
dos conselhos existentes. Os conselhos escolares configuram-se, histo-
ricamente, como espaços de participação de professores, funcionários,
pais, alunos, diretores e comunidade nas unidades escolares. Em alguns
casos, constituem-se em espaços coletivos de deliberação, assumindo,
desse modo, o papel de órgão corresponsável pela gestão administrativa
e pedagógica das escolas e, em outros, em razão de sua atuação restrita
à aprovação da prestação de contas e medidas disciplinares, em determi-
nadas situações, foram transformados em unidades executoras em razão
do PDDE.3
Segundo relato de Dourado, pesquisas comprovam que a criação de
unidades privadas para a execução de recursos públicos não contri-
buiu para a gestão democrática da escola, resultando em pouca partici-
pação da comunidade na operação dos recursos repassados.

ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 39
DOURADO, 2007, p. 921-
1

946.
Leia o texto de Dourado, “Políticas e gestão da educação básica no
Brasil: limites e perspectivas”,4 disponível em: <http://www.scielo. DOURADO, 2007, p. 932-
2

993, grifos meus.


br/pdf/es/v28n100/a1428100.pdf>.
DOURADO, 2007, p. 934-
3

935.

DOURADO, 2007, p. 921-


4

946.

95

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política educacional

ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 40

Faça uma síntese da sua leitura do texto de Dourado, “Políticas


e gestão da educação básica no Brasil: limites e perspectivas”,
escrevendo um texto de, aproximadamente duas páginas, com
ênfase no tema da gestão democrática do ensino público.

96

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Considerações finais

ATIVIDADE COMPLEMENTAR Nº 41

Visite uma escola pública estadual ou municipal da sua cidade e leia


o texto de um PPP.
Procure conhecer como foi o processo de elaboração desse docu-
mento. Procure saber, também, se o seu município já possui o Plano
Municipal de Educação e leia esse documento, se houver. Nesse
caso, verifique como foi o processo de elaboração do plano.
Se não houver um plano municipal, veja os dispositivos sobre edu-
cação na Lei Orgânica Municipal e procure saber sobre a preparação
para a CONAE 2010 na sua cidade.
Escreva um texto de, no máximo, duas páginas, comentando esses
textos.

AUTOAVALIAÇÃO

(TAMANHO E FORMATO LIVRES – SEM VALOR PARA PONTUAÇÃO)


Fazer uma autoavaliação da sua aprendizagem nesta disciplina de
Política Educacional, avaliando também as aulas, o trabalho do
professor e este livro didático.

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política educacional

Caro(a) aluno(a),
Chegamos ao final da nossa disciplina!! Espero que você tenha se
envolvido e gostado das discussões da política educacional, a partir
desta breve introdução na área. Certamente, o curso foi um tanto
“pesado”, pois a disciplina é de apenas 30 horas, e o conteúdo extenso
e complexo.
Creio que cumprimos bem a ementa da disciplina, mas, obviamente,
não esgotamos a temática da política educacional. O mais importante
é que você tenha encontrado, aqui, algumas referências que possam
contribuir para a abertura de caminhos futuros, por meio dos quais
você possa prosseguir nos seus estudos sobre política educacional.
Agradeço a sua atenção e a sua participação no desenvolvimento desta
disciplina, que espero tenha sido significativa e contribuído de alguma
forma para a sua formação.
Reitero os votos iniciais de sucesso na carreira do magistério.
Abraço do autor.

98

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Referências

Documentos oficiais
IBGE. Perfil dos Municípios Brasileiros: MUNIC 2006. Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/perfilmunic/
2006/default.shtm>.

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base nos dados do Censo Escolar 2005. Educacenso 2007. Disponível
em: <www.inep.gov.br>.

INEP. Texto Introdutório. In: Sinopse Estatística da Educação Básica 2007.


Brasília, 2008. Versão atualizada em 08 maio 2009. 18 p. Disponível em:
<http://www.inep.gov.br/basica/censo/Escolar/Sinopse/sinopse.asp>.
Acesso em: 25 jul. 2009.

MEC. IDEB: nota técnica. Disponível em: <http://www.inep.gov.br/


download/Ideb/Nota_Tecnica_n1_concepcaoIDEB.pdf>. Acesso em: 25
jul. 2009.

MEC. Plano Decenal de Educação para Todos. Brasília, 1993, versão acres-
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MEC. Vídeo do IDEB: versão 2009. Disponível em: <http://portal.mec.


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barreiras. 09 jun. 2009. Disponível em: <http://www.unicef.org/brazil/
pt/media_14931.htm>. Acesso em: 25 jul. 2009.

UNICEF. Situação da infância e da adolescência brasileira 2009 – o direito de


aprender: potencializar avanços e reduzir desigualdades. Brasília, 2009.
Disponível em: <http://www.unicef.org/brazil/pt/resources_14927.
htm>. Acesso em: 25 jul. 2009.

Legislação
BRASIL. Constituição (1988). Constituição brasileira, 1988. Texto consti-
tucional de 5 de outubro de 1988 com alterações posteriores. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.
htm>. Acesso em: 25 jul. 2009.

BRASIL. Decreto n. 6.094 de 24 de abril de 2007. Dispõe sobre a imple-


mentação do Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação, pela

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política educacional

União Federal, em regime de colaboração com municípios, Distrito


Federal e estados, e a participação das famílias e da comunidade,
mediante programas e ações de assistência técnica e financeira, visando
a mobilização social pela melhoria da qualidade da educação básica.
Diário Oficial da União, 25 abr. 2007. p. 5. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Decreto/D6094.htm>.
Acesso em: 25 jul. 2009.

BRASIL. Decreto n. 6.755 de 29 de janeiro de 2009. Institui a Política


Nacional de Formação de Profissionais do Magistério da Educação
Básica, disciplina a atuação da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior – CAPES no fomento a programas de formação
inicial e continuada, e dá outras providências. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Decreto/D6755.
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BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as dire-


trizes e bases da educação nacional. Disponível em: <http://www.
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Nacional de Educação e dá outras providências. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LEIS_2001/L10172.htm>. Acesso
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referências

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WEFFORT, Francisco Carlos. Os clássicos da política. 6. ed. São Paulo:


Ática, 1995. 2 vol.

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Sobre o autor

Alexandre Borges Miranda é doutor em Educação pela Universidade


de São Paulo (USP) e professor adjunto do Departamento de Adminis-
tração Escolar da Faculdade de Educação da Universidade Federal de
Minas Gerais (FAE/UFMG).

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A presente edição foi composta pela Editora UFMG,
em caracteres Chaparral Pro e Optima Std, e impressa
pela Gráfica Del Rey, em sistema offset 90g e cartão
supremo 250g, em novembro de 2009.

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