Entretiens sur l’architecture (Conversas sobre arquitetura)
publicado originalmente em 1863; traduzido por Gustavo Rocha-Peixoto a partir da versão
italiana contida na antologia: PATETTA, L. Storia dell’Architettura – antologia critica. Milão: RCS Libri & Grandi Opere, 1996.
Pelo uso “sincero” do ferro nas construções
Temos em mãos um material precioso quando se trata de construções e em
particular de muros de pedra a saber o ferro seja fundido, seja forjado.[...] O problema é aperfeiçoar o sistema de equilíbrio admitido pelos mestres da Idade Média, com a ajuda do ferro, mas tendo em conta as qualidades deste material e evitando um acoplamento muito íntimo do muro e do metal, pois este último seria não apenas uma causa de deterioração da pedra, mas se altera rapidamente se não for deixado livre... Ora o ferro é chamado a desempenhar um papel mais importante nos nossos edifícios[...] Apoderemo-nos francamente dos meios fornecidos pelo nosso tempo. Apliquemo- los sem fazer intervir tradições que hoje não são mais vitais e somente então poderemos inaugurar uma nova arquitetura.[...] Se o ferro é destinado a assumir uma posição importante nas nossas construções, estudemos as suas propriedades e o utilizemos francamente, com aquele rigor de juízo que os mestres de todos os tempos puseram nas suas obras... O ferro permite ousadias diante dos quais parece que nós recuamos. Pareceria que nós só confiamos pela metade nas propriedades desse material; só o empregamos como um meio adicional ou com reserva. Assim, em vez de obter economia, se acaba por despender mais. [...] Do momento em que o público vê aparecer o ferro em um monumento, como meio principal de estrutura é sobretudo levado a comparar essa estrutura à empregada nas estações ferroviárias, nos mercados ou nas fábricas. Seria talvez escondendo estes materiais, como muitos de nós tentaram fazer, que se conseguirá evitar a crítica? Não creio, mas sustento, ao contrário, que se deva reconhecer francamente a verdadeira função própria desse material...