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Adolf Loos (1870-1933)

Ornamento e crime
(Ornament und Verbrechen)
publicado originalmente em 1908; traduzido por Gustavo Rocha-Peixoto e Beatriz Beltrão
Rodrigues: Adolf Loos: Ornamento y delito y otros escritos. Gustavo Gili, Barcelona, 1972

Ornamento e crime.

O embrião humano passa, no ventre materno, por todas as fases evolutivas do reino
anima. Quando nasce um ser humano, suas impressões sensoriais são iguais às do cachorro
recém-nascido. Passa a infância por todas as transformações que correspondem às da história
da humanidade. Aos dois anos, vê tudo como se fosse um nativo da Papua. Aos quatro, como
um bárbaro germano. Aos seis, como Sócrates e aos oito como Voltaire. Quando tem oito
anos, percebe o violeta, cor que foi descoberta no s. XVIII, porque antes o violeta era azul e o
púrpura era vermelho. O físico assinala que há outras cores no espectro solar, que já têm
nomes, mas cuja compreensão está reservada ao homem do futuro.
O menino é amoral. O nativo da Papua também o é em relação a nós. O nativo da
Papua destroça seus inimigos e os devora. Não é um delinqüente, mas quando o homem
moderno despedaça e devora a alguém é um delinqüente, um degenerado. O nativo da Papua
se tatua e cobre de desenhos a pele, o bote que usa, os remos e tudo mais que tem a seu
alcance. Não é um delinqüente. O homem moderno que se tatua é um delinqüente ou um
degenerado. Há prisões em que 80% dos detentos apresentam tatuagens. Os tatuados que não
estão presos são criminosos latentes ou aristocratas degenerados. Se um tatuado morre em
liberdade, é sinal de que morreu alguns anos antes de cometer um assassinato.
O impulso de ornamentar o rosto e o resto do que se acha a seu alcance é a primeira
origem das artes plásticas. É o primeiro tatibitati doa pintura. Toda arte é erótica.
O primeiro ornamento que surgiu, a cruz, tem origem erótica. A primeira obra de arte, a
primeira atividade artística que o artista lambuzou na parede foi para descartar seus excessos.
Um traço horizontal: a mulher deitada. Um traço vertical: o homem que a penetra. Quem criou
essa imagem sentiu o mesmo impulso que Beethoven, esteve no mesmo céu em que
Beethoven criou a nona sinfonia.
Mas o homem do nosso tempo que, cedendo a seus impulsos interiores, lambuza as
paredes com símbolos eróticos é um delinqüente ou um degenerado. É óbvio que é nas latrinas
públicas que esse impulso invade do modo mais impetuoso as pessoas com tais manifestações
de degeneração. Pode-se medir o grau de civilização de um país contando as gravações que
aparecem nas latrinas públicas.
No menino é natural pichar as paredes. Sua primeira manifestação artística é encher as
paredes com símbolos eróticos. Mas o que é natural no nativo da Papua e no menino torna-se
no homem moderno um fenômeno de degeneração. Descobri o seguinte e o comuniquei ao
mundo: A evolução cultural equivale à eliminação do ornamento do objeto usual.
Acreditava proporcionar assim à humanidade algo novo que pudesse alegrá-la, mas a
humanidade não me agradeceu. Ficaram tristes e desanimados. O que lhes preocupava era
saber que não se podia produzir um ornamento novo. Como não seria possível para nós,
homens do século XIX aquilo que todo negro sabe, que todos os povos e épocas anteriores à
nossa souberam. O que a humanidade criou a milhares de anos atrás sem ornamentos foi
depreciado e se destruiu.
Não temos bancos de carpintaria da época carolíngia, mas o menor objeto sem valor mas
ornamentado se conservou, foi cuidadosamente limpo e pomposos palácios foram erguidos
para abrigá-los. Os homens passeiam tristemente diante das vitrines envergonhado com sua
impotência atual. Cada época tem seu estilo. A nossa também precisaria de um que lhe fosse
próprio? Estilo queria dizer ornamento. Portanto eu disse: Não chorem! O que constitui a
grandeza da nossa época é sua incapacidade de inventar um ornamento novo. Vencemos o
ornamento. Dominamo-nos a tal ponto que já não há ornamentos. Vejam, já se aproxima o
tempo, o objetivo nos espera. Em pouco as ruas das cidades brilharão como muros brancos.
Como Sião, a cidade santa, a capital do céu. Teremos então conseguido.
Mas há os maus espíritos incapazes de tolerar. A seu juízo, a humanidade deveria
continuar curvada à escravidão do ornamento. Os homens estavam bem adiantados em não
mais deleitar-se com o ornamento, e um rosto tatuado não aumentava mais sua sensação
estética, como entre os nativos da Papua, ao contrário diminuía. Os bem adiantados se
alegravam com uma cigarreira não ornamentada e preferiam comprar a lisa mesmo podendo
pelo mesmo preço adquirir uma adornada. Estavam felizes com suas roupas, contentes de não
ter que ir de um lado ao outro como os macacos com calças de veludo com festões dourados.
Eu disse: O quarto em que Goethe morreu é mais fantástico que toda a pompa renascentista e
um móvel liso é mais bonito que todas as peças de museu incrustadas e esculpidas. A
linguagem de Goethe e muito mais bonita que todos os ornamentos dos pastores do Pegenitz.
Os maus espíritos ouviram isso com desagrado, e o Estado, cuja missão é atrasar os
povos em sua evolução cultural, considerou como seu o problema da evolução e do
desnudamento ornamental. Pobre do Estado cujas revoluções são dirigidas por conselheiros!
Pude ver no Museu das Artes Decorativas de Viena um buffet denominado A pesca rica, houve
armários chamados A princesa encantada ou algo no gênero, coisa que se referia aos ornamentos
com que estavam decorados esses infelizes móveis. O Estado Austríaco levou tão a sério seu
trabalho que se preocupou que as polainas de tecido desaparecessem das fronteiras da
monarquia austro-húngara. Obrigou todo homem culto que tivesse vinte anos a usar por três
anos polainas em vez de sapato eficiente. Já que todo Estado parte do suposto que um povo
fora de forma é mais fácil de governar.
Pois bem, a epidemia ornamental tem reconhecimento de Estado e é subvencionada
com dinheiro público. Apesar disso vejo nela um retrocesso. Não posso admitir que o
ornamento aumente a alegria de viver de um homem culto, não posso admitir tão pouco a que
se disfarça dizendo: “Mas quando o ornamento é bonito...!” O ornamento não aumenta em
mim e nem nos demais homens cultos a alegria de viver, se quiser comer um pedaço de alujú,
escolho um que seja completamente liso e não um que esteja sobrecarregado de ornamentos,
que represente um coração, um menino de fraldas ou um cavaleiro. O homem do s. XV não me
entenderia, mas todos os homens modernos poderiam compreender. O defensor do
ornamento crê que meu impulso em direção à singeleza equivale a uma mortificação. Não, caro
senhor professor da Escola de Artes Decorativas, não me mortifico! Prefiro assim. Os pratos
dos séculos passados, que apresentam ornamentos para parecer mais apetitosos os perus,
faisões e lagostas me causam o efeito contrário. Vou com repugnância a uma exposição de
artes culinárias, sobretudo se penso que teria de comer esses cadáveres de animais recheados.
Como rosbife.
Poder-se-ía esquecer facilmente o enorme dano e as devastações ocasionados pelo
ressurgimento da ornamentação na evolução estética, já que ninguém, ou nenhuma força do
Estado pode deter a evolução da humanidade. Mas é um crime contra a economia de um povo
que, através dele, se perca o trabalho, o dinheiro e o material humanos. O tempo não pode
compensar esses danos.
O ritmo da evolução cultural sofre por causa dos atrasos. Eu vivo, talvez, em 1908; meu
vizinho entretanto, mais ou menos em 1900; o outro adiante em 1880. É uma desgraça para o
Estado que a cultura de seus habitantes abarque um período de tempo tão amplo. O camponês
das regiões afastadas vive no s.XII. E na procissão da festa do jubileu tomaram parte pessoas
que já na época das grandes migrações dos povos seriam consideradas atrasadas. Feliz o país
que não apresente tais atrasos. Feliz América! Entre nós mesmo há nas cidades, homens que
não são nada modernos, atrasados do século XVIII que se horrorizam diante de um quadro
com sobras violetas, porque ainda não sabem ver o violeta. Gostam da cigarreira com
ornamentos renascentistas muito mais que da lisa. E no campo? Os vestidos e adereços são de
séculos anteriores. O camponês não é cristão, é ainda pagão.
Os atrasos detêm a evolução cultural dos povos e da humanidade, já que o ornamento
não é só produzido por delinqüentes, mas comete um crime por prejudicar enormemente os
homens, atentando contra sua saúde, ao patrimônio nacional e, por isso mesmo, a evolução
cultural. Quando dois homens vivem perto um do outro e têm as mesmas exigências, as
mesmas pretensões e a mesma renda, entretanto pertencem a civilizações diferentes, pode-se
observar o seguinte sob o ponto de vista econômico de um povo: o homem do século XX será
cada vez mais rico, o do século XVIII cada vez mais pobre. Suponhamos que cada um viva
conforme suas inclinações. O homem do século XX pode cobrir suas exigências com um
capital muito menor e assim poupar. A verdura de que gosta é fervida água e temperada com
manteiga. O outro homem prefere quando se acrescenta mel e nozes e quando sabe que outra
pessoa passou horas a fio para cozinhá-las. Os pratos ornamentados são muito caros, enquanto
que a tigela branca de que o homem gosta é barata. Ele poupa enquanto outro se endivida. É
assim com nações inteiras. Pobre do povo que fique atrasado na evolução cultural! Os ingleses
ficarão cada vez mais ricos e nós cada vez mais pobres...
Entretanto, muito maior é o dano que sofre o povo produtor por causa do ornamento,
já que o ornamento não é um produto natural da nossa civilização, quer dizer que representa
um retrocesso ou uma degeneração; o trabalho do ornamentista já não é pago como devido.
É conhecida a situação nas oficinas de entalhe e adorno, os ordenados criminosamente
baixos que se pagam às bordadeiras e rendeiras. O ornamentista tem que trabalhar vinte horas
para conseguir a mesma renda de um operário moderno que trabalhe oito horas. O ornamento
encarece, em geral, o objeto; no entanto acontece o paradoxo que uma peça ornamentada com
igual custo material que de um objeto liso e que precisa do triplo das horas de trabalho para
sua realização, quando é vendido, paga-se pelo ornamentado a metade do outro. A carência de
ornamento tem como conseqüência uma redução das horas de trabalho e um aumento de
salário. O entalhador chinês, trabalha 16 horas, o americano, oito apenas. Se por uma caixa lisa
se paga o mesmo que por outra ornamentada, a diferença de horas de trabalho e aumento de
salário beneficia o operário. Se não houvesse tipo algum de ornamento – situação que se dará,
na melhor hipótese – dentro de milhares de anos – o homem, em vez de ter que trabalhar oito
horas poderia trabalhar só quatro, já que a metade do trabalho hoje é de ornamentação.
Ornamento é força de trabalho desperdiçada. Por ela saúde desperdiçada. Sempre foi
assim, hoje significa além disso, material desperdiçado e ambas as coisas significam capital
desperdiçado.
Como o ornamento já não pertence à nossa civilização, do ponto de vista orgânico.
Também não é mais expressão dela. O ornamento que se cria no presente não tem mais
relação alguma conosco ou com nada humano, isto é, não tem relação alguma com a atual
ordenação do mundo. Não é capaz de evoluir. O que aconteceu com a ornamentação de
Eckmann, com a de Van de Velde? Sempre o artista sadio e vigoroso no ponto mais alto da
humanidade. O ornamentista moderno é um retardado ou uma ocorrência patológica. Renega
seus produtos depois de três anos. As pessoas cultas os consideram imediatamente
insuportáveis; os outros só se dão conta disto depois de anos. Onde se encontram hoje as
obras de Otto Eckmenn? Onde estarão as obras de Olbrich daqui a dez anos? O ornamento
moderno não tem pais nem descendentes, não tem passado nem futuro. Só é saudado com
entusiasmo por pessoas incultas, para quem a grandeza de nossa época é um livro com sete
selos que após algum tempo eles renegam.
Na atualidade, o gênero humano é mais sadia que antes, só uns poucos estão doentes.
Esses poucos, no entanto, tiranizam o operário, que está tão sadio que não pode inventar
ornamento algum. Obrigam-no a realizar, em diferentes materiais, os ornamentos inventados
por eles.
A mudança do ornamento traz como conseqüência uma imediata desvalorização do
produto do trabalho. O tempo do trabalhador, o material empregado, são capitais que se
desperdiçam. Enunciei a idéia seguinte: A forma de um objeto deve ser tolerável enquanto ele
dure fisicamente. Tentarei explicar: Uma roupa mudará muito mais vezes sua forma que uma
pele valiosa. O traje de baile criado para uma única noite, mudará de forma muito mais
depressa que um de escritório. Como seria ruim, entretanto se o traje de escritório devesse
mudar tão rapidamente como o de baile pelo fato de que sua forma parecesse a alguém
insuportável; então se perderia o dinheiro gasto nesse escritório.
O ornamentista sabe bem disso e os ornamentistas austríacos tentam resolver o
problema. Dizem: ‘Preferimos o consumidor que a cada dez anos não agüenta mais o
mobiliário que possui, vendo-se obrigado a adquirir novos móveis a cada decênio, ao que só
compra móveis para substituir os gastos. A indústria o requer. Milhões de homens têm
trabalho graças à mudança rápida’. Parece que este é o mistério da economia nacional austríaca:
tantas vezes diante de um incêndio ouvem-se as palavras: ‘Graças a Deus, agora vamos ter o
que fazer!’ Proponho um bom sistema: Se incendeia uma cidade, se incendeia um império, e
então todo mundo ficará imerso em bem estar e abundância. Que se fabriquem móveis que, ao
cabo de três anos, possam ser incinerados; Façam-se enfeites que se possam fundir depois de
quatro anos, já que nos leilões não se consegue nem a décima parte do que custou a mão-de-
obra e o material, e assim ficaremos mais e mais ricos.
A perda não só afeta os consumidores, mas também, sobre tudo, aos produtores. Hoje
em dia, o ornamento, aquelas coisas, graça a evolução, pode privar-se dele, significa força de
trabalho desperdiçada e material profanado. Se todos os objetos pudessem durar tanto desde o
ângulo estético como o físico, o consumidor poderia pagar um preço que possibilitaria que o
trabalhador ganhasse mais dinheiro e tendo trabalhado menos. Por um objeto que estou
seguro que vou utilizar e obter o máximo de rendimento, pago com gosto quatro vezes mais
que por outro que tenha menos valor por causa de sua forma ou material. Pelas minhas botas
pago com gosto 40 coroas, apesar de que em outra loja encontraria botas por 10 coroas. Mas,
os ofícios perdem o vigor baixo a tirania dos ornamentistas, não se valoriza o trabalho bom ou
ruim. O trabalho sofre por que ninguém esta disposto a pagar o seu verdadeiro valor.
E isto não deixa de estar bem dessa forma, já que tais objetos ornamentados só resultam
toleráveis em sua execução mais miserável.
Posso suportar um incêndio mais facilmente se ouço dizer que só queimaram coisas sem
valor. Posso alegrar-me das absurdas e ridículas decorações montadas com motivos de baile de
disfarces de artistas, porque os montaram em poucos dias e derrubaram em um momento. Mas
tirar moedas de ouro em vez de seixos, acender um cigarro com um bilhete de banco,
pulverizar e se beber uma pérola é algo antiestético.
Verdadeiramente, os objetos ornamentados produzem um efeito antiestético, sobre tudo
quando realizados com o melhor material e com o máximo de cuidado, requerendo muito
tempo de trabalho. Eu não posso deixar de exigir de tudo trabalho de qualidade, mas, desde
logo, não para coisas deste tipo.
O homem moderno, que considera sagrado o ornamento, como sinal de superioridade
artística das épocas passadas, reconhecerá de imediato, que os ornamentos modernos, o
tortura, o pena e o inferniza por eles mesmos. Alguém que vive em nosso nível cultural não
pode criar nenhum ornamento.
Ocorre de distinta maneira com os homens e povos que não alcançaram esse grau.
Predico para o aristocrata. Refiro-me ao homem que se acha acima da humanidade e
que, entre tanto, compreende profundamente os rogos e exigências do interior. Compreende
muito bem o cafre, que entretece ornamentos na tela segundo um ritmo determinado, que só
se descobre ao se desfazer, ao persa que ata seus tapetes; a camponesa eslovaca que borda sua
renda; a senhora anciã que realiza objetos maravilhosos em contas de cristal e seda. O
aristocrata lhes deixa fazer, sabe que, para eles, as horas de trabalho são sagradas.
O revolucionário diria: ‘Tudo isso carece de sentido’. O mesmo que apartaria a uma
anciãzinha da vizinhança de uma imagem sagrada e lhe diria: ‘Não há Deus’. No entanto o ateu
– entre os aristocratas – ao passar em frente de uma igreja retira o chapéu.
Meus sapatos estão cheios de ornamentos por todas as partes, constituídos por pintas e
orifícios, trabalho que foi executado pelo sapateiro e não lhe foi pago. Vou ao sapateiro e o
digo: ‘O senhor pede por um par de sapatos de 30 coroas. Eu te pagarei 40’. Com isto levei ao
estado anímico deste homem, coisa que me agradecerá com trabalho e material, que em quanto
a qualidade, não estão de modo algum relacionados com a sua sobre abundância. É feliz. Raras
são as vezes que chega a felicidade a sua casa. Diante ele há um homem que entende, que
aprecia seu trabalho e sem dúvida o honra. Em sonhos já vê os sapatos terminados enfrente a
si. Sabe onde pode encontrar a melhor pele, sabe a que trabalhador deve confiar os sapatos e
estes terão tantas pintas e orifícios como os que só aparecem nos sapatos mais elegantes.
Então lhe digo: ‘ Mas imponho uma condição. Os sapatos tem que ser inteiramente lisos.’
Agora é quando o lancei às alturas mas espirituais ao Tártaro. Terá menos trabalho, mas
arrebatou toda a alegria.
Predico para os aristocratas. Suporto os ornamentos no meu próprio corpo se estes
constituem a felicidade do meu próximo. Neste caso também chegam a ser, para mim, motivo
de contentamento. Suporto os ornamentos do cafre, do persa, da camponesa eslovaca, os de
meu sapateiro, já que todos eles têm outro meio de alcançar o ponto culminante de sua
exigência. Temos a arte que borrou o ornamento. Depois do trabalho do dia vamos ao
encontro de Beethoven ou de Tristão. Isto não pode fazer o meu sapateiro. Não posso
arrebatar sua alegria, já que não tenho nada a lhe oferecer em troca. Aquele que, em troca, vai
escutar a Nona Sinfonia e logo se senta a desenhar uma amostra de tapetes é um hipócrita ou
um degenerado.
A carência de ornamento conduziu as demais artes a uma altura imprevista. As sinfonias
de Beethoven não foram escritas nunca por um homem vestido de seda, veludo e encaixes.
Aquele que, hoje em dia, leva um veludo americano não é um artista, senão um palhaço o um
pintor de broxa gorda. Nós voltamos mais refinados, mais sutis. Os gregários teriam que
diferenciar por cores distintas, o homem moderno necessita seu vestido impessoal como
máscara. Sua individualidade é tão monstruosamente vigorosa que já não a pode expressar em
prendas de vestir. A falta de ornamentos é um sinal de força espiritual. O homem moderno
utiliza os ornamentos de civilizações anteriores e estranhas a seu desejo. Sua própria invenção
concentra em outros objetos.

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