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Max Bill (1908-1994)

Eine Bilanz über die Formentwiklung um die Mitte des XX. Jahrhunderts
(Um balanço sobre o desenvolvimento da forma na metade do século XX)
publicado originalmente em 1952; traduzido por Gustavo Rocha-Peixoto a partir de:
Oakman, J. Architecture culture 1943-1968, a documenteary anthology. Columbia Books of
Architecture/Rizzoli: Nova Iorque, 1993.

Educação e projeto

Apesar de que todo ser humano com sensibilidade normal pode reconhecer formas
boas e agradáveis no primeiro relance, há notável evidência de que a maioria da população
raramente compra coisas que respondem a essa descrição. Muitos artigos de projeto novo e
bom são mais caros que outros do mesmo tipo que o consumidor médio se acostumou a
comprar e os bons projetos1 mais antigos não são mais fabricados. Mas a maior razão é
que ele é instintivamente tímido de comprar qualquer coisa que não reflita uma ‘demanda
popular’ indefinida, e mesmo indefinível, mesmo se ele gosta da coisa e não a encontra
mais cara.
Portanto o mito do gosto do público, ou melhor, a crença convencional na sua
existência, é um dos principais obstáculos à difusão do bom projeto1. O cultivo persistente
desse mito é o terreno fértil dos fabricantes e intermediários inescrupulosos que empregam
todos os meios da publicidade para persuadir o consumidor (que nesse caso significa todo
mundo) que o mito é realidade. Tem sido freqüentemente difundido que o consumidor é,
no fundo, muito mais receptivo às formas boas e agradáveis do que se poderia supor pela
sua relutância em aceitá-las, sendo essa relutância devida à sua própria insegurança ou
ignorância e ao modo comercial ágil como ambos são continuamente explorados. Assim
pois, o que é vendido é o que é anunciado. E o que é anunciado é o que o consumidor
‘deveria’ comprar. As colunas de anúncios de qualquer jornal ou periódico estão cheias de
reclames absurdamente exagerados que o consumidor não tem meios possíveis de testar. O
objeto de todos esses anúncios ambiciosos é continuar lançando novas modas a cada
estação. Modas que saltitam como pulgas adestradas das formas tradicionais às arrojadas e
daí de volta ao estilo rústico fingido ou clássico super-ornamentado conforme o caso. Esse
jogo insano de cadeiras musicais apresenta uma barreira insuperável à qualquer demanda
efetiva do público por bom projeto1. Mas a barreira é de fato a propaganda. E o único
jeito de enfrentar tal publicidade é pela educação.
Quero deixar bem claro que uso ‘educação’ no sentido original da palavra: o
desenvolvimento de capacidades naturais do aluno e não o emprego usual de forçá-lo a um
molde predeterminado. Todos sabemos que o conjunto do sistema educacional clama por
uma reforma radical. Mas, apesar de que a consideração de seus defeitos e remédios não
está entre os meus propósitos aqui, a influência exercida pelos campos mais restritos de
educação relativa ao projeto1 tem ligação muito estreita com o objetivo deste livro.
Não houve falta de esforços educacionais para atrair o auxílio da beleza para a
civilização da humanidade, mas muitos deles fracassaram em confronto com as realidades

1 Traduzimos nesse texto todas as ocorrências de design no original inglês por ‘projeto’ e designer por
‘projetista’. (N. do T.)
da vida moderna. Foi há muito reconhecido que o ambiente físico tem uma influência
formativa profunda, em sentido estético, no desenvolvimento espiritual e moral. Ruskin e
Morris, que viam a industrialização como o maior inimigo da felicidade humana,
acreditavam que um renascimento cultural poderia advir pelo reavivamento do artesanato.
Foi graças a eles que a Inglaterra abriu o caminho da pregação da apreciação do bom
projeto1 e da qualidade da manufatura, mas no começo do presente século a liderança
passou para a Alemanha.
Um projetista1 moderno famoso, Henry van de Velde, atuou nesse tempo como
consultor para as indústrias e oficinas tradicionais do Grão Ducado de Sachsen-Weimar.
Em 1902 ele abriu seu ‘Kunstgewerbe-Seminar’ (Escola técnica de artesãos) em Weimar, e
em 1906 uma ‘Kunstgewerbeschule’ (Escola de artes e ofícios) na mesma cidade. Ele
dirigiu ambos pessoalmente. Essas instituições se encarregaram de formar projetistas1
conscienciosos com treinamento técnico adequado e de prestar consultoria industriais e
artesãos manuais em todas as questões de projeto1. Dois anos depois um núcleo dos
projetistas1 alemães mais progressivos fundou a ‘Deutscher Werkbund’ com o objetivo de
promover o melhor entendimento da necessidade de bom projeto1 entre o público em
geral. Comunicações feitas nos seus primeiros encontros por Van de Velde, Muthesius e
Naumann, e o fundamento de seus relatórios anuais estabeleceram os pontos-de-vista que
nada perderam de sua atualidade até o dia de hoje. Instituições similares e fortemente
aliadas se formaram na Áustria, Suíça e Suécia e a medida do sucesso dos esforços
alcançados nesses países está agora universalmente reconhecida.
Por recomendação de Van de Velde, Walter Gropius foi escolhido para sucedê-lo ao
final da primeira Guerra Mundial no que se tornara uma Weimar republicana. Foi aí que,
depois de publicar seu famoso ‘Manifesto’, Gropius fundiu o ‘Kunstgewerbe-Seminar’ com
a ‘Kunskgewwerbeschule’ numa única instituição estatal renomeada ‘Bauhaus’. Em 1925
condições locais fizeram necessária a transferência da Bauhaus para Dessau, onde Gropius
pode construir os edifícios notáveis que projetou para abrigar suas atividades expandidas.
Com a renúncia de Gropius em 1928, Hannes Meyer tornou-se o diretor e foi sob seu
sucessor, Ludwig Mies van der Rohe, que a Bauhaus foi fechada à força pelos nazistas em
1933. A existência da República de Weimar foi breve mas, enquanto durou, nenhuma
escola de projeto1 conseguiu maior prestígio ou teve o mesmo alcance de influência. Isso
porque a Bauhaus concentrou esforços em atingir os requisitos práticos do presente e do
futuro imediato e os que lá trabalharam em protótipos para coisas de uso diário estavam,
como o Mundo percebeu mais tarde, entre os mais extraordinários projetistas1 de sua
geração.
Enquanto o treinamento dado na Bauhaus colocava a mais completa ênfase na
responsabilidade criativa do projetista1 para com a sociedade, um princípio muito diferente
era adotado em Taliesin nos E. U. A., onde Frank Lloyd Wright sempre incentivou seus
alunos a se tornarem individualistas. Ele ainda os põe a trabalhar no tipo de problemas que
são um reflexo direto de sua própria filosofia unilateral de projeto1. Essa promoção do
individualismo não tem lugar, entretanto, nem no currículo do Instituto de Projeto1 nem
na Escola de Arquitetura ligada ao Illinois Institute of Technology em Chicago. O primeiro
é conforme ao modelo da Bauhaus. Já o segundo reflete naturalmente bastante a concepção
de arquitetura de seu diretor atual Ludwig Mies van der Rohe.
Muitos resultados de bom êxito foram conseguidos nos últimos anos para estabelecer
escolas do tipo Bauhaus ou para transformar as existentes de acordo com as mesmas
diretrizes. A ‘Hochschule für Gestaltung’ (Escola Superior para o Projeto)2, que a

2Hochschule für Gestaltung: literalmente: Escola Superior para a Criação da Forma. Na tradução inglesa
consta High School for Design. (N. do T.)
‘Geschwister Scholl Stiftung’3 planejou construir nas encostas superiores de Kuhberg em
Ulm, em memória da irmã de Frau Inge Aicher-Scholl assassinada pelos nazistas é uma das
que prometeram ser um desenvolvimento suplementar luminoso às tradições da Bauhaus.
Graças ao vivo interesse nesse projeto ambicioso exposto pelo antigo Alto Comissário
Americano na Alemanha, Sr. John J. McCloy, e sua equipe, além da sua ajuda ativa de
contribuições para o fundo de construção, sua realização inicial agora se torna possível.
O prospecto da ‘Hochschule für Gestaltung’ de Ulm começa assim:
Esta escola é uma continuação da Bauhaus mas inclui alguns novos departamentos
de projeto que há vinte ou trinta anos não tinham a importância que adquiriram desde
então. Seu princípio fundamental é a combinação de um treinamento técnico amplo e
profundo com uma educação geral sólida de linhas racionais modernas. Desse modo o
espírito empreendedor e construtivo da juventude pode ser infundido com um sentido
adequado de responsabilidade social e pode ser ensinado que o trabalho cooperativo nos
problemas do projeto contemporâneo é a tarefa mais urgente do presente: a humanização
da nossa civilização cada vez mais mecanizada.
O ensino e a pesquisa, experimentos individuais e trabalho de equipe serão
complementares entre si. A manutenção do justo equilíbrio entre conhecimento teórico e
sua aplicação prática são as bases do treinamento através do curso. Em cada estágio os
estudantes serão chamados a explicar e justificar seu trabalho individual de modo a
acostumá-los ao pensamento lógico e encorajar auto-confiança. Viver em contato próximo
com seus professores, e trabalhar junto com eles em grupos vai assegurar que cada
estudante receba uma educação compreensiva em projeto e um fundamento amplo em
outros assuntos.
A distribuição interna da escola é um arranjo livre de oficinas, laboratórios e ateliês
intercomunicantes, com alojamento para os estudantes e a equipe de professores.

3 Geschwister Scholl Stiftung: Fundação Irmã Scholl (N.doT.)

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