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NOÇÕES SOBRE DIREITOS AUTORAIS

INTRODUÇÃO

1 ESPECIALIDADE E CARACTERÍSTICAS
1. Breve histórico
2. Obras protegidas: aspectos relevantes
1. Conceito
2. Definições
3. Obras protegidas
4. Autoria das obras intelectuais
5. Registro das obras intelectuais
6. Principais aspectos dos direitos morais e patrimoniais do autor
1. Direitos morais do autor
2. Direitos patrimoniais do autor e de sua duração
7. Limitações aos direitos do autor
2 PROGRAMA DE COMPUTADOR: aspectos relevantes

3 REPRODUÇÃO DE OBRAS PROTEGIDAS

SEMINÁRIO

BIBLIOGRAFIA

ANEXO: "violação" aos direitos autorais e a internet - uma lei à margem


da sociedade
INTRODUÇÃO

Esta aula tem por objetivo abordar os principais aspectos das normas
relacionadas aos direitos autorais.
Assim como a propriedade industrial (direito industrial), o direito autoral é
classificado como propriedade imaterial. Contudo, este último diferencia-se
significativamente daquela, justificando-se, por isso, o estudo separado de
ambos.
Não obstante, vale mencionar que o direito industrial (já por nós
estudado) e o autoral são espécies do gênero direito intelectual - caracterizado
pelo exercício de aptidões de criatividade pelos titulares dos respectivos
direitos.
No capítulo primeiro serão analisados alguns aspectos importantes da
Lei de Direito Autorias (Lei n. 9.610, de 1998). No segundo, abordaremos a
proteção da propriedade intelectual dos programas de computador. No capítulo
terceiro estudaremos as sanções às violações dos direitos autorais, nas esferas
cível e penal.
Ao final, haverá um seminário para ser realizado individualmente, de
acordo com a leitura do texto.
1 ESPECIALIDADE E CARACTERÍSTICAS

1.1 Breve histórico

No Brasil, a primeira lei a tratar de forma específica o direito autoral foi a


Lei n. 496, de 1898. Antes desta, a obra intelectual, no Brasil, era terra de
ninguém.
Essa Lei (496/1898), porém, foi revogada pelo Código Civil de 1916, que
classificou o direito do autor como bem móvel e regulou alguns aspectos da
matéria.
A Lei n. 5.988, de 1973 (Lei 5.988/1973), tornou a regular direitos
autorais de forma específica, vez que a regulação da matéria pelo Código Civil
(promulgado no início do século XX) não correspondia mais às imposições dos
meios modernos de comunicação.
Atualmente a matéria é regulada pela Lei de Direitos Autorais (LDA), Lei
n. 9.610, de 1998, que revogou a referida Lei 5.988/1973.
Contudo, embora recente, a LDA tem sua eficácia desafiada ante os
avanços tecnológicos, em especial, a internet. Basta lembrar que em 2006, a
International Federation of the Phonographic Industry (IFPI - Federação
Internacional da Indústria Fonográfica) e a Associação Brasileira de Produtores
de Discos (ABPD), no intuito de incutir medo naqueles que participam de redes
de compartilhamento de músicas, anunciaram a intenção de processar
judicialmente usuários da internet que disponibilizem grande número de
músicas na rede1. A estratégia parece não ter funcionado, essa prática
continua, talvez mais intensa.

1
Informações disponíveis em: <http://www.overmundo.com.br/overblog/inaugurado-o-
marketing-do-medo>.
1.2 Obras protegidas: aspectos relevantes

1.2.1 Conceito

Em primeiro lugar, cumpres esclarecer que a Lei de Direitos Autorais


(LDA) visa a proteção da criação intelectual, ou seja, a proteção à obra pessoal,
criativa, exteriorizada e de natureza imaterial, cuja essência é de caráter
artístico e/ou literário (DIAS, 2007, p. 39).
Segundo definição de Eduardo Vieira Manso (2002, p. 7) "direito autoral
é o conjunto de prerrogativas de ordem patrimonial e de ordem não patrimonial
atribuídas ao autor de obra intelectual que, de alguma maneira, satisfaça algum
interesse cultural de natureza artística, científica, didática, religiosa, ou de mero
entretenimento".
Semelhantemente, Antônio Chaves (p. 107) define o direito de autor
"como o conjunto de prerrogativas de ordem não patrimonial e de ordem
pecuniária que a lei reconhece a todo criador de obras literárias, artísticas e
científicas, de alguma originalidade, no que diz respeito à sua paternidade e ao
seu ulterior aproveitamento, por qualquer meio durante toda a sua vida, e aos
seus sucessores, ou pelo prazo que ele fixar".
A LDA, no artigo 3º, prescreve que, para efeitos legais, os direitos
autorais são considerados bens móveis, bens esses que são definidos pelo
Código Civil, nos artigos 82 a 84. Com efeito, direitos autorais, embora
imateriais, possuem valor econômico e podem ser objeto de comercialização.

1.2.2 Definições

O art. 5º da LDA estabelece várias definições; ex.: "I - publicação - o


oferecimento de obra literária, artística ou científica ao conhecimento do
público, com o consentimento do autor, [...] por qualquer forma ou processo";
[...] "IV - reprodução - a cópia de um ou vários exemplares de uma obra
literária, artística ou científica ou de um fonograma, de qualquer forma tangível,
incluindo qualquer armazenamento permanente ou temporário por meios
eletrônicos ou qualquer outro meio de fixação que venha a ser desenvolvido";
"VII - contrafação - a reprodução não autorizada".
Vale observar que, ao estabelecer essas definições no artigo 5º, o
legislador deu sentido específico a esses termos, para os efeitos da LDA.
No mesmo artigo 5º, inciso VIII, a LDA define o que é obra em vários
sentidos, de forma que verifica-se no inciso VIII, alínea "a", obra "em coautoria -
quando é criada em comum, por dois ou mais autores", a obra anônima como
aquela em que não se indica o nome do autor (alínea "b"), obra pseudônima
quando o autor sob nome suposto (alínea "c"), dentre várias outras definições,
tais como editor, produtor, artistas intérpretes (incisos X, XI e XIII).

1.2.3 Obras protegidas

O conceito de obras intelectuais também é estabelecido na LDA, que em


seu artigo 7º prescreve:

Art. 7º São obras intelectuais protegidas as criações do


espírito, expressas por qualquer meio ou fixadas em
qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que
se invente no futuro, tais como:
I.- os textos de obras literárias, artísticas ou científicas;
II.- as conferências, alocuções, sermões e outras obras da
mesma natureza;
III.- as obras dramáticas e dramático-musicais;
IV.- as obras coreográficas e pantomímicas, cuja
execução cênica se fixe por escrito ou por outra qualquer
forma;
V.- as composições musicais, tenham ou não letra;
VI.- as obras audiovisuais, sonorizadas ou não, inclusive
as cinematográficas;
VII.- as obras fotográficas e as produzidas por qualquer
processo análogo ao da fotografia;
VIII.- as obras de desenho, pintura, gravura, escultura,
litografia e arte cinética;
IX.- as ilustrações, cartas geográficas e outras obras da
mesma natureza;
X.- os projetos, esboços e obras plásticas concernentes à
geografia, engenharia, topografia, arquitetura, paisagismo,
cenografia e ciência;
XI.- as adaptações, traduções e outras transformações de
obras originais, apresentadas como criação intelectual
nova;
XII.- os programas de computador;
XIII.- as coletâneas ou compilações, antologias,
enciclopédias, dicionários, bases de dados e outras obras,
que, por sua seleção, organização ou disposição de seu
conteúdo, constituam uma criação intelectual.

O legislador, ao definir as obras protegidas pela LDA, teve duas grandes


preocupações: (i) enfatizar a necessidade de a obra, criação do espírito, ter
sido exteriorizada; (ii) minimizar a importância do meio pelo qual a obra foi
exteriorizada. Isso fica evidente pela simples leitura do caput do art. 7º, no qual
se lê "... criações do espírito, expressas por qualquer meio ou fixadas em
qualquer suporte..." Ou seja, ideias não são passíveis da proteção autoral, a
criação do espírito tem que ser expressa. Não obstante, pouco importa a forma
com ela é expressa, exceto para que se prove essa criação.
A doutrina aponta os requisitos para que uma obra seja considerada sob
a proteção estabelecida pela LDA (PARANAGUÁ; BRANCO, 2009, p. 20):

i)"pertencer ao domínio das letras, das artes ou das


ciências, conforme prescreve o inciso I do art. 7º da LDA,
que determina, exemplificativamente, serem obras
intelectuais protegidas os textos de obras literárias,
artísticas e científicas";
ii)"originalidade: esse requisito não deve ser entendido
como "novidade" absoluta, e sim como elemento capaz de
diferenciar a obra de determinado autor das demais. Cabe
ressaltar que não se leva em consideração o respectivo
valor ou mérito da obra";
iii)"exteriorização, por qualquer meio, obedecendo-se
assim ao mandamento legal previsto no art. 7º, caput, da
LDA";
iv)"achar-se a obra no período de proteção fixado pela lei,
que é de 70 anos contados a partir da morte".
Cumpre observar que esse rol de obras intelectuais previsto no art. 7º da
LDA é exemplificativo e não taxativo, uma vez que faz menção a obra "que se
invente no futuro, tais como", e lista as obras (art. 7º, caput). Ou seja, admite-
se como autorais outras obras intelectuais que apresentem as características
identificadoras da espécie, ainda que não descritas nesse rol.
É importante destacar que o artigo 8º da LDA encarrega-se de listar o
que não é objeto de proteção do direito autoral.

Art. 8º Não são objeto de proteção como direitos autorais


de que trata esta Lei:
I.- as ideias, procedimentos normativos, sistemas,
métodos, projetos ou conceitos matemáticos como tais;
II.- os esquemas, planos ou regras para realizar atos
mentais, jogos ou negócios;
III.- os formulários em branco para serem preenchidos por
qualquer tipo de informação, científica ou não, e suas
instruções;
IV.- os textos de tratados ou convenções, leis, decretos,
regulamentos, decisões judiciais e demais atos oficiais;
V.- as informações de uso comum tais como calendários,
agendas, cadastros ou legendas;
VI.- os nomes e títulos isolados;
VII.- o aproveitamento industrial ou comercial das ideias
contidas nas obras.

Sobre esse grupo não abrangido pela garantia da LDA, Elisângela Dias
Menezes (2007, p. 41) defende tratar-se, também, de rol exemplificativo,
servindo apenas para citar "exemplos de situações nas quais a ausência de
originalidade ou da devida exteriorização impedem a proteção autoral".
Pedro Paranaguá e Sérgio Branco (2009, p. 27), tecem importantes
comentários sobre esse artigo 8º da LDA: "As ideias são de uso comum e, por
isso, não podem ser aprisionadas pelo titular dos direitos autorais. Se não fosse
assim, não seria possível haver filmes com temas semelhantes, realizados
próximos uns dos outros, como aliás é comum acontecer. Armageddon, dirigido
por Michael Bay em 1998, tratava da possibilidade de a Terra ser destruída por
um meteoro, mesmo tema de seu contemporâneo Impacto profundo - Deep
impact, de Mimi Leder, dirigido no mesmo ano".
1.2.4 Autoria das obras intelectuais

Por tratar-se de obra intelectual, o autor será, necessariamente, pessoa


física (ser humano), pois a pessoa jurídica (criação do Direito) não possui essa
capacidade. O artigo 11 da LDA é categórico nesse sentido que "Autor é a
pessoa física criadora de obra literária, artística ou científica".
Não obstante, a pessoa jurídica, por ser sujeito de direito (capaz de
exercer direitos e assumir obrigações) poderá ser titular dos direitos autorais.
Equivale dizer que a pessoa jurídica poderá usufruir dos direitos patrimoniais da
obra intelectual, pois o autor (pessoa física) pode transferir a titularidade de
seus direitos a terceiros, pessoa física ou jurídica, conforme o disposto no art.
49 da LDA2.
Por exemplo, o conhecido autor Augusto Cury pode transferir os direitos
de exploração econômica de um seus livros à editora XYZ, responsável pela
publicação da obra. Nesse caso, Augusto Cury continua figurando como autor
da obra, mas não exercerá pessoalmente o direito sobre ela, vez que transferiu
o direito de utilizar, fruir e dispor da obra literária.

1.2.5 Registro das obras intelectuais

Um aspecto importante da LDA é que a proteção assegurada aos direitos


autorais independe de registro. Ou seja, o registro é desnecessário, consoante
disposição expressa do artigo 183 da Lei.
Não obstante, o artigo 19 da LDA dispõe que o autor poderá registrar
sua obra, caso o queira, no órgão público definido no caput e no § 1º da Lei n.
5.988, de 1973 (antiga lei de direitos autorais), cuja redação é a que se segue:

2
" Art. 49. Os direitos de autor poderão ser total ou parcialmente transferidos a terceiros, por ele
ou por seus sucessores, a título universal ou singular, pessoalmente ou por meio de
representantes com poderes especiais, por meio de licenciamento, concessão, cessão ou por
outros meios admitidos em Direito, obedecidas as seguintes limitações: [...]"
3
"Art. 18. A proteção aos direitos de que trata esta Lei independe de registro."
Art. 17. Para segurança de seus direitos, o autor da obra
intelectual poderá registrá-Ia, conforme sua natureza, na
Biblioteca Nacional, na Escola de Música, na Escola de
Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, no
Instituto Nacional do Cinema, ou no Conselho Federal de
Engenharia, Arquitetura e Agronomia.
§ 1º Se a obra for de natureza que comporte registro em
mais de um desses órgãos, deverá ser registrada naquele
com que tiver maior afinidade.
§ 2º O Poder Executivo, mediante Decreto, poderá, a
qualquer tempo, reorganizar os serviços de registro,
conferindo a outros Órgãos as atribuições a que se refere
este artigo.

Embora facultativo, o registro pode ser útil para eventual necessidade de


se provar a anterioridade da obra.
Nesse sentido, cabe uma importante observação (PARANAGUÁ;
BRANCO, 2009, p. 25): "É importante destacar que o registro não constitui
nenhum direito, ou seja, não é o fato de se ter o registro de uma obra que seu
titular será considerado autor. Em uma disputa judicial, o juiz analisará o
registro como qualquer outra prova e, caso se convença de que o titular do
registro não é o autor, poderá decidir em favor daquele que não é detentor do
registro".

1.2.6 Principais aspectos dos direitos morais e patrimoniais do autor

1.2.6.1 Direitos morais do autor

Os direitos do autor subdividem-se em duas espécies, quais sejam,


direitos morais e direitos patrimoniais (art. 22, da LDA).
Sobre essa dicotomia dos direitos do autor, Antônio Chaves (1987, p.
17) ensina:
Distinguem-se, no Direito de Autor, duas esferas de
atribuições: de um lado, as que pertencem ao
denominado direito moral, que consiste no direito ao
reconhecimento à paternidade da obra, no direito inédito,
no direito à integridade da sua criação, no de modificar a
obra, de acabá-la, de opor-se a que outrem a modifique,
etc.; de outro lado, as de natureza patrimonial, que se
cifram na prerrogativa exclusiva de retirar da sua
produção todos os benefícios que ela possa proporcionar,
principalmente pela publicação, reprodução,
representação, execução, tradução, recitação, adaptação,
arranjos, dramatização, adaptação ao cinema, à
radiodifusão, à televisão, etc.

A LDA trata dessas duas espécies de direito autoral separadamente. Nos


artigo 24 a 27 são abordados aspectos do direito moral, e nos artigos 28 e
seguintes, a Lei disciplina o direito patrimonial do autor.
Os direitos morais do autor são, portanto, aqueles elencados no artigo
24 da LDA:

Art. 24. São direitos morais do autor:


I.- o de reivindicar, a qualquer tempo, a autoria da obra;
II.- o de ter seu nome, pseudônimo ou sinal convencional
indicado ou anunciado, como sendo o do autor, na
utilização de sua obra;
III.- o de conservar a obra inédita;
IV.- o de assegurar a integridade da obra, opondo-se a
quaisquer modificações ou à prática de atos que, de
qualquer forma, possam prejudicá-la ou atingi-lo, como
autor, em sua reputação ou honra;
V.- o de modificar a obra, antes ou depois de utilizada;
VI.- o de retirar de circulação a obra ou de suspender
qualquer forma de utilização já autorizada, quando a
circulação ou utilização implicarem afronta à sua
reputação e imagem;
VII.- o de ter acesso a exemplar único e raro da obra,
quando se encontre legitimamente em poder de outrem,
para o fim de, por meio de processo fotográfico ou
assemelhado, ou audiovisual, preservar sua memória, de
forma que cause o menor inconveniente possível a seu
detentor, que, em todo caso, será indenizado de qualquer
dano ou prejuízo que lhe seja causado.
Esses direitos morais visam defender a relação do autor com sua própria
obra, e dividem-se em três grandes direitos (PARANAGUÁ; BRANCO, 2009, p.
43-44):

i)"indicação da autoria (incisos I e II) - o autor sempre terá


o direito de ter seu nome vinculado à obra. Por isso,
qualquer remontagem de peça de Shakespeare deve
fazer referência ao fato de a obra ter sido elaborada pelo
escritor inglês, apesar de toda a sua obra já ter caído em
domínio público";
ii)"circulação da obra (incisos III e IV) - o autor tanto pode
manter a obra inédita quanto retirar a obra de circulação";
iii)"alteração da obra (incisos IV e V) - compete ao autor
modificar sua obra sempre que lhe convier ou vetar
qualquer modificação a ela".

Cumpre, ainda, mencionar que consoante inteligência do artigo 274 da


LDA, os direitos morais do autor são absolutos, inalienáveis, irrenunciáveis e
perpétuos.

1.2.6.2 Direitos patrimoniais do autor e de sua duração

O comércio relacionado à indústria dos direitos autorais cresce a passos


largos, e não deveria ser ignorada por aqueles que têm potencial para a criação
artística, científica ou literária (lembrando que a proteção da propriedade
intelectual de programa de computador - abordada adiante - compõe esse
grupo). O jornal Valor Econômico noticiou que "com o PIB mundial de mais de
US$ 380 bilhões, o comércio de bens culturais foi multiplicado por quatro num
período de duas décadas - em 1980, totalizava US$ 95 bilhões".
(PARANAGUÁ; BRANCO, 2009, p. 47, apud BORGES, 2004,
p. 10)5.

4
"Art. 27. Os direitos morais do autor são inalienáveis e irrenunciáveis."
5
A quantia mencionada refere-se ao comércio de bens culturais apenas, já que o PIB mundial
ultrapassa os US$ 70 trilhões. (Disponível em: <
http://datos.bancomundial.org/indicador/NY.GDP.MKTP.CD/countries/1W?display=graph>)
Os direitos patrimoniais do autor consistem na sua faculdade
É assegurado ao autor da obra o direito exclusivo de utilizar, fruir e
dispor da obra literária, artística ou científica (art. 28 da LDA).
Além disso, o artigo 29 da LDA traz uma lista de atos cuja execução
depende da autorização prévia e expressa do autor (se ele o quiser), in verbis:

Art. 29. Depende de autorização prévia e expressa do


autor a utilização da obra, por quaisquer modalidades, tais
como:
I - a reprodução parcial ou integral;
II - a edição;
III.- a adaptação, o arranjo musical e quaisquer outras
transformações;
IV.- a tradução para qualquer idioma;
V.- a inclusão em fonograma ou produção audiovisual;
VI.- a distribuição, quando não intrínseca ao contrato
firmado pelo autor com terceiros para uso ou exploração
da obra;
VII.- a distribuição para oferta de obras ou produções
mediante cabo, fibra ótica, satélite, ondas ou qualquer
outro sistema que permita ao usuário realizar a seleção da
obra ou produção para percebê-la em um tempo e
lugar previamente determinados por quem formula a
demanda, e nos casos em que o acesso às obras ou
produções se faça por qualquer sistema que importe em
pagamento pelo usuário;
VIII.- a utilização, direta ou indireta, da obra literária,
artística ou científica, mediante:
a) representação, recitação ou declamação;
b) execução musical;
c) emprego de alto-falante ou de sistemas análogos;
d) radiodifusão sonora ou televisiva;
e)captação de transmissão de radiodifusão em locais de
frequência coletiva;
f) sonorização ambiental;
g)a exibição audiovisual, cinematográfica ou por
processo assemelhado;
h) emprego de satélites artificiais;
i) emprego de sistemas óticos, fios telefônicos ou não,
cabos de qualquer tipo e meios de comunicação similares
que venham a ser adotados;
j) exposição de obras de artes plásticas e figurativas;
IX - a inclusão em base de dados, o armazenamento em
computador, a microfilmagem e as demais formas de
arquivamento do gênero;
X - quaisquer outras modalidades de utilização existentes
ou que venham a ser inventadas.

O direito patrimonial do autor está diretamente ligado ao direito à sua


exclusiva exploração econômica, bem como ao direito de transferir, no todo ou
em parte, a título oneroso ou não, esses direitos a terceiros, conforme o artigo
49 e seguintes da LDA.
O prazo de duração dos direitos patrimoniais do autor perduram durante
toda a sua vida, acrescidos de 70 anos, contados a partir de 1º de janeiro do
ano subsequente ao da sua morte (art. 41 da LDA), período esse em que os
direito serão exercidos pelos herdeiros e sucessores do autor. Após esse prazo,
a obra cai em domínio público e qualquer pessoa poderá dela se utilizar,
inclusive patrimonialmente, mas sem exclusividade, sem precisar de
autorização do titular dos direitos autorias.

1.2.7 Limitações aos direitos do autor

Há, no artigo 46 da LDA, um rol de atos que não constituem ofensa aos
direitos do autor. Tratam-se de limitações aos direitos autorais, pelas quais
admite-se o uso de obras de terceiros, em estritas hipóteses previstas na Lei,
sem que isso caracterize violação aos direitos do autor.
Equivale dizer que são hipóteses em que o autor é obrigado a tolerar o
uso de sua obra por terceiros, independentemente de autorização, tendo em
vista interesses e direitos maiores (MENEZES, 2007, p. 95).
Essas hipóteses estão previstas no artigo 46 da LDA, e são taxativas,
vale dizer, não se admite o uso da obra sem o consentimento do autor além dos
casos indicados explicitamente no referido artigo.

Art. 46. Não constitui ofensa aos direitos autorais:


I - a reprodução:
a) na imprensa diária ou periódica, de notícia ou de artigo
informativo, publicado em diários ou periódicos, com a
menção do nome do autor, se assinados, e da publicação
de onde foram transcritos;
b)em diários ou periódicos, de discursos pronunciados em
reuniões públicas de qualquer natureza;
c)de retratos, ou de outra forma de representação da
imagem, feitos sob encomenda, quando realizada pelo
proprietário do objeto encomendado, não havendo a
oposição da pessoa neles representada ou de seus
herdeiros;
d)de obras literárias, artísticas ou científicas, para uso
exclusivo de deficientes visuais, sempre que a
reprodução, sem fins comerciais, seja feita mediante o
sistema Braille ou outro procedimento em qualquer
suporte para esses destinatários;
II.- a reprodução, em um só exemplar de pequenos
trechos, para uso privado do copista, desde que feita por
este, sem intuito de lucro;
III.- a citação em livros, jornais, revistas ou qualquer outro
meio de comunicação, de passagens de qualquer obra,
para fins de estudo, crítica ou polêmica, na medida
justificada para o fim a atingir, indicando-se o nome do
autor e a origem da obra;
IV.- o apanhado de lições em estabelecimentos de ensino
por aqueles a quem elas se dirigem, vedada sua
publicação, integral ou parcial, sem autorização prévia e
expressa de quem as ministrou;
V.- a utilização de obras literárias, artísticas ou científicas,
fonogramas e transmissão de rádio e televisão em
estabelecimentos comerciais, exclusivamente para
demonstração à clientela, desde que esses
estabelecimentos comercializem os suportes ou
equipamentos que permitam a sua utilização;
VI - a representação teatral e a execução musical, quando
realizadas no recesso familiar ou, para fins
exclusivamente didáticos, nos estabelecimentos de
ensino, não havendo em qualquer caso intuito de lucro; VII
- a utilização de obras literárias, artísticas ou
científicas para produzir prova judiciária ou administrativa;
VIII - a reprodução, em quaisquer obras, de pequenos
trechos de obras preexistentes, de qualquer natureza, ou
de obra integral, quando de artes plásticas, sempre que a
reprodução em si não seja o objetivo principal da obra
nova e que não prejudique a exploração normal da obra
reproduzida nem cause um prejuízo injustificado aos
legítimos interesses dos autores.
Em comentário à norma acima transcrita, Paranaguá e Branco (2009, p.
67) afirmam: "O denominador comum das limitações indicadas no art. 46 da
LDA parece ser o uso não comercial da obra, ainda que haja exceções, tais
como as previstas nos incisos III e VIII, que permitem a exploração comercial
da obra nova em que se inserem trechos de obra preexistente.
Concomitantemente a esse requisito, a lei valoriza o uso de caráter informativo,
educacional e social".
Vale mencionar que causa polêmica o disposto no inciso II desse artigo
46, pelo qual admite-se "a reprodução, em um só exemplar de pequenos
trechos, para uso privado do copista, desde que feita por este, sem intuito de
lucro;". Verifica-se que esse dispositivo deixa em aberto a interpretação do que
signifique pequenos trechos. É comum o entendimento, especialmente nas
universidades, que tal hipótese signifique que 10% ou 20% da obra seria o
máximo a ser permitido copiar por aluno, sem incorrer-se na violação dos
direitos autorais. Contudo, não há consenso nesse sentido.
2 PROGRAMA DE COMPUTADOR: aspectos relevantes

A proteção da propriedade intelectual de programa de computador é


regulada por duas leis, quais sejam, a lei específica destinada aos programas
de computados, Lei n. 9.609, de 1998 (Lei 9.609/1998), e a Lei dos Direitos
Autorais (LDA), Lei n. 9.610, de 1998.
Com efeito, os direitos autorais sobre programas de computador são
regulados primeiramente por sua lei própria, a Lei n. 9.609, e, no que não seja
contrário a esta, aplica-se a Lei n. 9.610 (LDA). Isso porque, conforme as
regras de hermenêutica jurídica, havendo conflito entre normas gerais e
especiais, prevalecem estas últimas.
Apelidada de Lei de software, a Lei 9.609/1998, inicia-se definindo
programa de computador, conforme seu artigo 1º:

Art. 1º Programa de computador é a expressão de um


conjunto organizado de instruções em linguagem natural
ou codificada, contida em suporte físico de qualquer
natureza, de emprego necessário em máquinas
automáticas de tratamento da informação, dispositivos,
instrumentos ou equipamentos periféricos, baseados em
técnica digital ou análoga, para fazê-los funcionar de
modo e para fins determinados.

O glossário da OMPI (Organização Mundial da Propriedade Intelectual)


propõe uma definição mais simples para o termo, considerando programa de
computador como o "conjunto de instruções que, quando se incorpora a um
suporte legível por máquina com capacidade para tratamento da informação,
indique, realize ou consiga uma função, tarefa ou resultado determinado"
(OMPI, 1980, p. apud MENEZES, 2007, p. 175).
A doutrinadora Elisângela Dias Menezes (2007, p. 175) afirma que "o
programa de computador - ou software, como é conhecido em sua origem, em
Língua Inglesa - é a materialização de instruções e regras articuladas e
organizadas sob a linguagem da computação, cujo resultado é a criação de
uma ferramenta de trabalho virtual que permite ao usuário a consecução de
determinada tarefa ou atividade".
A Lei de software dispõe no art. 2º, § 1º, que ao programa de
computador as normas relativas aos direitos morais da LDA, ressalvando-se
apenas o direito do autor reivindicar a paternidade do programa de computador
e o direito de opor-se a alterações não autorizadas por ele, alterações essas
que resultem em deformação, mutilação ou outra modificação do programa de
computador, quando sua honra ou reputação possam virem a ser prejudicadas
em razão de tais alterações.
Equivale dizer que, salvo essas expressas hipóteses do art. 2º, § 1º, não
se aplicam ao detentor da propriedade intelectual de programa de computador
as disposições sobre os direitos morais do autor, prescritas nos arts. 24 a 27 da
LDA (cujo tema foi abordado no item 1.2.6.1, acima).
O prazo de duração da proteção da propriedade intelectual de software é
de 50 anos, iniciando-se a contagem do dia 1º de janeiro do ano subsequente
ao da publicação do software, ou se não houve publicação, da data da criação
do programa (conforme art. 2º, § 2º da Lei de software).
A proteção aos direitos assegurados pela Lei de software independe de
registro (cf. art. 2º, § 3º). É facultado, porém, ao autor registrar o programa de
computador, nos termos do art. 3º, caput, da Lei, registro esse que será
efetuado no INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial), conforme o
estabelecido pelo Decreto n. 2.556, de 1998.
É titular dos direitos sobre o programa de computador quem o criou, e
considera-se como momento da criação a data em que o programa se tornou
capaz de atender plenamente as funções para as quais foi concebido (cf.
Resolução INPI n. 58).
O pedido de registro, se solicitado, deverá conter as seguintes
informações: " I - os dados referentes ao autor do programa de computador e
ao titular, se distinto do autor, sejam pessoas físicas ou jurídicas; II - a
identificação e descrição funcional do programa de computador; e III - os
trechos do programa e outros dados que se considerar suficientes para
identificá-lo e caracterizar sua originalidade, ressalvando-se os direitos de
terceiros e a responsabilidade do Governo." (cf. art. 3º, § 1º, incisos I a III da Lei
9.609/1998). Vale mencionar que as informações exigidas no item III do pedido
de registro (acima transcritas), são de caráter sigiloso, não podendo ser
reveladas, salvo por ordem judicial, ou mediante requerimento expresso do
próprio titular dos direitos (§ 2º, do art. 3º). O INPI, que atua como depositário
da documentação técnica referente ao programa de computador, responderá
por eventual quebra de sigilo, se ocorrida nesse órgão.
Diferentemente da Lei de Direitos Autorais, que não disciplina os direitos
autorais decorrentes de contrato de trabalho ou relação de emprego, a Lei de
Software dispõe expressamente sobre essa matéria.
O artigo 4º, da Lei de Software, prevê que, salvo estipulação em
contrário, pertencerão exclusivamente ao empregador, contratante de serviços
ou órgão público, os direitos relativos ao programa de computador,
desenvolvido e elaborado durante a vigência do contrato de trabalho ou de
vínculo estatutário6, expressamente destinados à pesquisa e desenvolvimento,
ou em que a atividade do empregado, contratado de serviço ou servidor seja
prevista, ou ainda, que decorra da própria natureza dos encargos concernentes
a esses vínculos.
Esse artigo 4º visa proteger o contratante de serviços7, empregador ou
órgão da Administração Pública que investe na contratação de serviços para
desenvolvimento de softwares. Com efeito, os direitos à exploração econômica
do softwares, em determinados casos, não serão de quem os desenvolveu,
mas daquele que contratou os serviços destinados à criação do programa de
computador.
Para que os direitos relativos ao programa de computador pertençam
exclusivamente ao contratante dos serviços, empregador ou órgão público, é
necessário que se observe os seguintes requisitos: (i) não haja cláusula
contratual garantindo ao prestador de serviços, empregado ou servidor público
os direitos relativos ao desenvolvimento do programa de computador (no

6
Modalidade de serviço público, prestado por pessoa física a Administração Pública, regido por
normas de direito público, denominado regime de serviço público estatutário.
7
Contato de trabalho sem vínculo empregatício. Tanto o contratante quanto o contratado
podem ser pessoas físicas ou pessoas jurídicas.
silêncio contratual, os direitos pertencerão ao contratante, empregador ou
órgão público); (ii) a atividade de pesquisa e desenvolvimento de programas de
computador por parte do empregado, contratado ou servidor público deve estar
prevista no contrato de trabalho, ou decorrer da natureza dos encargos
concernentes a esse vínculo de trabalho.
Observe-se que, atendidas essas hipóteses, a compensação do
trabalhador pela criação do software será a remuneração salarial
convencionada, salvo se estipulado contratualmente forma de remuneração
adicional.
Vale mencionar que no § 2º do mesmo artigo 4º, há disposição em favor
do desenvolvedor do software, caso não observadas as disposições previstas
no caput desse artigo 4º, in verbis:

Art. 4º ...

§ 2º Pertencerão, com exclusividade, ao empregado,


contratado de serviço ou servidor os direitos concernentes
a programa de computador gerado sem relação com o
contrato de trabalho, prestação de serviços ou vínculo
estatutário, e sem a utilização de recursos, informações
tecnológicas, segredos industriais e de negócios,
materiais, instalações ou equipamentos do empregador,
da empresa ou entidade com a qual o empregador
mantenha contrato de prestação de serviços ou
assemelhados, do contratante de serviços ou órgão
público.

Sobre esse dispositivo (art. 4º, § 2º, da Lei de Software) merece


destaque o comentário de Elisângela Dias Menezes (2007, p. 176), a qual
afirma: "Se, o contrário, tratar-se de uma criação independente e
completamente desvinculada das atividades previstas no contrato de trabalho,
mesmo sendo criada no ambiente profissional e com os recursos do contratante
ou empregador, os direitos decorrentes da criação pertencerão exclusivamente
a quem idealizou a obra".
Por fim, ainda sobre a Lei de Software, cabe mencionar que o art. 6º
desta estabelece limitações ao direito do titular do programa de computador,
conforme abaixo transcrito:
Art. 6º Não constituem ofensa aos direitos do titular de
programa de computador:
I.- a reprodução, em um só exemplar, de cópia
legitimamente adquirida, desde que se destine à cópia de
salvaguarda ou armazenamento eletrônico, hipótese em
que o exemplar original servirá de salvaguarda;
II.- a citação parcial do programa, para fins didáticos,
desde que identificados o programa e o titular dos direitos
respectivos;
III.- a ocorrência de semelhança de programa a outro,
preexistente, quando se der por força das características
funcionais de sua aplicação, da observância de preceitos
normativos e técnicos, ou de limitação de forma
alternativa para a sua expressão;
IV.- a integração de um programa, mantendo-se suas
características essenciais, a um sistema aplicativo ou
operacional, tecnicamente indispensável às necessidades
do usuário, desde que para o uso exclusivo de quem a
promoveu.

Pelo dispositivo acima, não viola o direito do titular, dentre outras


hipóteses contidas na norma, quem faz um único backup, para uso pessoal, de
programa legalmente adquirido.
3 REPRODUÇÃO DE OBRAS PROTEGIDAS

Se uma obra autoral é utilizada sem a autorização do titular - salvo as


exceções previstas no art. 46 da LDA (cf. supra) - há violação às normas dos
direitos autorais, havendo ou não fins lucrativos, vez que a finalidade comercial
apenas torna a punição mais grave (MENEZES, 2007, p. 126).
As formas mais comuns de violação aos direitos do autor são a pirataria,
a contrafação, o plágio e a reprografia (MENEZES, 2007, p. 126).
O termo piratear pode ser compreendido das seguintes formas: "Copiar
(programa de computador, material audiovisual ou fonográfico, etc.), sem
autorização do autor ou sem respeito aos direitos de autoria e cópia, para fins
de comercialização ilegal ou para uso pessoal" (Aurélio); "Chama-se
vulgarmente de pirataria à atividade de copiar ou reproduzir, bem como utilizar
indevidamente - isto é, sem a expressa autorização dos respectivos titulares -
livros ou outros impressos em geral, gravações de sons e/ou imagens, software
de computadores, ou ainda, qualquer outro suporte físico que contenha obras
intelectuais legalmente protegidas." (GANDELMAN, 2001, p. 86, apud
MENEZES, 2007, 127).
No Decreto (federal) n. 5.244, de 2004, art. 1º, parágrafo único, pirataria
é definida como a violação aos direitos autorais de que tratam as Leis 9.609
(softwares) e 9.610 (LDA).
Nos termos da LDA, art. 5º, inciso VII, contrafação é "a reprodução não
autorizada"8. Grande parte da doutrina entende contrafação como sinônimo de
pirataria. Com efeito, quem pratica a reprodução não autorizada é considerado
como contrafator. O contrafator está sujeito a sanções cíveis e penais.
Comentando o plágio, Elisângela Dias Menezes (2007, p. 132) afirma:
Quem usa trechos de obras de outrem sem lhes atribuir a devida autoria estará

8
O termo reprodução é definido no mesmo art. 5º, inciso VI, como "a cópia de um ou vários
exemplares de uma obra literária, artística ou científica ou de um fonograma, de qualquer forma
tangível, incluindo qualquer armazenamento permanente ou temporário por meios eletrônicos ou
qualquer outro meio de fixação que venha a ser desenvolvido;" (LDA, art. 5º, inciso VI).
cometendo plágio. Inclusive não é necessário que se trate de uma reprodução
fiel, bastando a apropriação das elementos criativos".
Reprografia, segundo o Dicionário Aurélio, consiste no "conjunto dos
processos de reprodução que, em vez de recorrerem aos métodos tradicionais
de imprimir, recorrem às técnicas de fotocópias, eletrocópia, termocópia,
microfilmagem, heliografia, xerografia, etc."
Pela definição acima, infere-se que reprografia não caracteriza-se, por si
só, como ilícito. Contudo, esse método "tem sido largamente empregado para
reproduzir livros inteiros, bem como apostilas e outras obras impressas
protegidas pelo Direito do Autor. Nesses casos, trata-se de uma vertente da
pirataria voltada especificamente para o mercado editorial." (MENEZES, 2007,
p. 134).
A violação aos direitos autorais, acima citadas, podem gerar implicações
jurídicas nos âmbitos do direito civil e do direito penal, conforme as disposições
legais abaixo mencionadas.
O Código Penal, estabelece a violação ao direito autoral como crime
contra a propriedade intelectual, os quais são prescritos em seu artigo 184, in
verbis:

Art. 184. Violar direitos de autor e os que lhe são conexos:


Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou
multa.
§ 1o Se a violação consistir em reprodução total ou
parcial, com intuito de lucro direto ou indireto, por
qualquer meio ou processo, de obra intelectual,
interpretação, execução ou fonograma, sem autorização
expressa do autor, do artista intérprete ou executante, do
produtor, conforme o caso, ou de quem os represente:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
§ 2o Na mesma pena do § 1o incorre quem, com o intuito
de lucro direto ou indireto, distribui, vende, expõe à venda,
aluga, introduz no País, adquire, oculta, tem em depósito,
original ou cópia de obra intelectual ou fonograma
reproduzido com violação do direito de autor, do direito de
artista intérprete ou executante ou do direito do produtor
de fonograma, ou, ainda, aluga original ou cópia de obra
intelectual ou fonograma, sem a expressa autorização dos
titulares dos direitos ou de quem os represente.
§ 3o Se a violação consistir no oferecimento ao público,
mediante cabo, fibra ótica, satélite, ondas ou qualquer
outro sistema que permita ao usuário realizar a seleção da
obra ou produção para recebê-la em um tempo e lugar
previamente determinados por quem formula a demanda,
com intuito de lucro, direto ou indireto, sem autorização
expressa, conforme o caso, do autor, do artista intérprete
ou executante, do produtor de fonograma, ou de quem os
represente:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
§ 4o O disposto nos §§ 1o, 2o e 3o não se aplica quando se
tratar de exceção ou limitação ao direito de autor ou os
que lhe são conexos, em conformidade com o previsto na
Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, nem a cópia de
obra intelectual ou fonograma, em um só exemplar, para
uso privado do copista, sem intuito de lucro direto ou
indireto.

As penas do Código Penal para a violação dos direitos do autor aplicam-


se aos direitos protegidos pela LDA, e não aos violações dos direitos do autor
de programa de computador, pois estas últimas são regidas pela própria Lei de
Software (Lei 9609/1998), no artigo 12 desta lei:

Art. 12. Violar direitos de autor de programa de


computador:
Pena - Detenção de seis meses a dois anos ou multa.
§ 1º Se a violação consistir na reprodução, por qualquer
meio, de programa de computador, no todo
ou em parte, para fins de comércio, sem autorização
expressa do autor ou de quem o represente:
Pena - Reclusão de um a quatro anos e multa.
§ 2º Na mesma pena do parágrafo anterior incorre quem
vende, expõe à venda, introduz no País,
adquire, oculta ou tem em depósito, para fins de
comércio, original ou cópia de programa de computador,
produzido com violação de direito autoral.
§ 3º Nos crimes previstos neste artigo, somente se
procede mediante queixa, salvo:
I.- quando praticados em prejuízo de entidade de direito
público, autarquia, empresa pública,
sociedade de economia mista ou fundação instituída pelo
poder público;
II.- quando, em decorrência de ato delituoso, resultar
sonegação fiscal, perda de arrecadação
tributária ou prática de quaisquer dos crimes contra a
ordem tributária ou contra as relações de consumo.
§ 4º No caso do inciso II do parágrafo anterior, a
exigibilidade do tributo, ou contribuição social e
qualquer acessório, processar-se-á independentemente
de representação.

As sanções civis estão previstas na LDA, artigos 102 e seguintes, cujo


objetivo é, em suma, a reparação de danos ao autor, que se resolve em
pagamento de indenização em dinheiro, bem como a apreensão de obras
reproduzidas sem permissão, ou impedir a circulação destas.
SEMINÁRIO

1) Quais as diferenças entre direitos morais e direitos patrimoniais do autor?

2)José Afonso, engenheiro de produção, trabalhou na empresa XPTO no setor


de criação e desenvolvimento de programas de computador, cujo objetivo era o
aperfeiçoamento das técnicas de produção. Ao desligar-se da empresa, José
Afonso reclama direitos de propriedade intelectual sobre programa de
computador por ele desenvolvimento, durante a constância de seu contrato de
trabalho com a XPTO. Como argumento, José Afonso afirma que o contrato de
trabalho firmado entre ele e sua empregadora (XPTO) silenciava a respeito de a
quem caberiam os direitos de propriedade sobre software desenvolvido em sua
atividade laboral.
Com base no presente estudo sobre direitos autorais, bem como nas leis que
disciplinam a propriedade intelectual responda: José Afonso tem ou não direito
a propriedade intelectual do software em questão? Justifique e fundamente sua
resposta.
BIBLIOGRAFIA

CHAVES, Antonio. Criador de obra intelectual - direito de autor. São Paulo: LTr,
1995.

MANSO, Eduardo Vieira. Direito autoral. São Paulo: José Bushasky, 1980.

MENEZES, Elisângela Dias. Curso de direito autoral. Belo Horizonte: Del Rey,
2007.

PARANAGUÁ, Pedro; BRANCO, Sérgio. Direitos autorais. Rio de Janeiro: FGV,


2009 (livro digital).

REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial, 1º volume. São Paulo: Saraiva.


ANEXO9: "violação" aos direitos autorais e a internet - uma lei à margem
da sociedade

Sobre violações aos direitos autorais, trazemos as importantes lições de


Pedro Paranaguá e Sérgio Branco (2009, p. 122 a 128 - notas de rodapé
omitidas), a seguir transcritas.

"Infrações

Baixar arquivos da internet é crime? As ações da IFPI e seus aspectos legais

Se você, leitor, gosta de música, sabe que a tecnologia está a seu favor.
Nunca na história da humanidade foi possível ter acesso a tão grande
variedade de artistas e de canções, com tanta rapidez e qualidade. Mas o
avanço tecnológico abriu um abismo entre o mundo da teoria e o mundo dos
fatos.
As práticas que vêm sendo adotadas nesse crescente fechamento do
direito autoral tangencia perigosamente diversos direitos. A Federação
Internacional da Indústria Fonográfica (International Federation of the
Phonographic Industry - IFPI) e a Associação Brasileira de Produtores de
Discos (ABPD) anunciaram, em fins de 2006, a intenção de processar
judicialmente os usuários da internet que disponibilizam grande número de
músicas na rede. Naturalmente, o anúncio da decisão causou polêmica.
Sabe-se que a prática de processar usuário da internet foi utilizada sem
sucesso nos Estados Unidos. Em um país em que uma percentagem muito
maior de pessoas tem acesso a internet de qualidade, é evidente que um
número muito maior de pessoas se utilize da internet para ter acesso a músicas
gratuitamente. Dessa forma, processos em massa, que abranjam todos os
usuários que de fato estejam copiando na íntegra músicas protegidas por
direitos autorais, são absolutamente impossíveis. Isso só pode levar a um

9
O texto deste anexo constitui-se de cópia literal da obra de Pedro Paranaguá e Sérgio
Branco, p. 122 a 128 (ver bibliografia).
caminho: o da discricionariedade e da caça a bodes expiatórios. Além disso, é
indispensável haver uma compreensão econômica da propriedade intelectual
como um todo para que o sistema seja estruturado a partir de novos modelos
de negócios condizentes com os novos tempos.
O que o Brasil não precisa é de processos judiciais. Considerando nosso
Judiciário, abarrotado de demandas (sem falar na deficiência de infraestrutura e
na insuficiência de pessoal), e nosso povo carente de acesso a fontes culturais,
o processo judicial é, no mínimo, um erro duplo. O Brasil precisa, na verdade,
da criação de novos modelos de exploração de direitos autorais que
efetivamente remunerem o autor a partir do pagamento de valores acessíveis
aos consumidores. Precisa também de uma lei que esteja em conformidade
com a vida contemporânea e com as novas tecnologias. Isto porque o que
presenciamos hoje não é a atuação de uma sociedade à margem da lei;
vivemos, isso sim, o melancólico drama de uma lei à margem da sociedade.

As condutas típicas da Lei de Direitos Autorais

O art. 102 da LDA determina que o titular cuja obra seja


fraudulentamente reproduzida, divulgada ou de qualquer forma utilizada pode
requerer a apreensão dos exemplares reproduzidos ou a suspensão da
divulgação, sem prejuízo da indenização cabível. Já o art. 104 estipula que
quem vender, expuser a venda, ocultar, adquirir, distribuir, tiver em depósito ou
utilizar obra ou fonograma reproduzidos por meio de fraude, com a finalidade de
vender, obter ganho, vantagem, proveito, lucro direito ou indireto, para si ou
para outrem, é solidariamente responsável com o contrafator. De acordo com
esse artigo, a conduta das camelôs que vendem obras "pirateadas" está sujeita
a sanção civil.

[...]
O que prevê o art. 184 do Código Penal?

O Código Penal brasileiro, em seu art. 184, prevê as penas aplicáveis no


caso de violação de direitos autorais e conexos. Vejamos seu teor:

Art. 184. Violar direitos de autor e os que lhe são conexos:


Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.
§ 1o Se a violação consistir em reprodução total ou parcial, com intuito de lucro
direto ou indireto, por qualquer meio ou processo, de obra intelectual,
interpretação, execução ou fonograma, sem autorização expressa do autor, do
artista intérprete ou executante, do produtor, conforme o caso, ou de quem os
represente:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
§ 2o Na mesma pena do § 1o incorre quem, com o intuito de lucro direto ou
indireto, distribui, vende, expõe à venda, aluga, introduz no País, adquire,
oculta, tem em depósito, original ou cópia de obra intelectual ou fonograma
reproduzido com violação do direito de autor, do direito de artista intérprete ou
executante ou do direito do produtor de fonograma, ou, ainda, aluga original ou
cópia de obra intelectual ou fonograma, sem a expressa autorização dos
titulares dos direitos ou de quem os represente.
§ 3o Se a violação consistir no oferecimento ao público, mediante cabo, fibra
ótica, satélite, ondas ou qualquer outro sistema que permita ao usuário realizar
a seleção da obra ou produção para recebê-la em um tempo e lugar
previamente determinados por quem formula a demanda, com intuito de lucro,
direto ou indireto, sem autorização expressa, conforme o caso, do autor, do
artista intérprete ou executante, do produtor de fonograma, ou de quem os
represente:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
§ 4o O disposto nos §§ 1o, 2o e 3o não se aplica quando se tratar de exceção ou
limitação ao direito de autor ou os que lhe são conexos, em conformidade com
o previsto na Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, nem a cópia de obra
intelectual ou fonograma, em um só exemplar, para uso privado do copista, sem
intuito de lucro direto ou indireto.
Em análise muito feliz deste artigo, Ronaldo Lemos (2005:160-166)10
indica os elementos interpretativos que devem ser levados em consideração,
sobretudo no que diz respeito à troca de arquivos por meio de redes p2p (peer-
to-peer).
Observa-se que o § 4º do art. 184, incluído na edição da Lei nº 10.695,
de 1º de julho de 2003, determina a não aplicação da pena agravada quando se
tratar de cópia de obra intelectual integral, em um só exemplar, para uso
privado do copista, sem intuito de lucro direto ou indireto.
Nos termos do referido parágrafo, duas questões se põem: a) deve,
ainda assim, ser aplicado o caput do artigo, quando presentes os elementos
indicados no § 4º?; b) a troca de arquivos pela internet caracteriza hipótese de
lucro direto ou indireto? A relevância dessas questões é evidente: se o caput
deve, a despeito do disposto no § 4º, continuar a ser aplicado, ou ainda, se a
troca de arquivos pela internet configurar hipótese de lucro direto ou indireto, no
preciso dizer de Ronaldo Lemos (2005:162)11, "então centenas de milhares de
usuários nacionais no Brasil estariam cometendo a infração penal descrita pela
lei".
Diante desse cenário, é evidente que a análise da situação torna-se
absolutamente relevante. Sobretudo porque a impossibilidade de
processamento criminal de todos os que violam tal dispositivo acarretaria
elevado grau de discricionariedade das entidades que viessem a propor ação
penal contra determinados indivíduos, que poderiam vir a ser verdadeiros
bodes expiatórios para a persecução de efeitos políticos ou aplicação das leis
para atender a interesses particulares.
Por isso, Ronaldo Lemos (2005:164)12 afirma categoricamente que:

Assim, argumentos favoráveis à não-crimininalização do compartilhamento de


arquivos através de redes peer-to-peer podem ser relevantes socialmente, uma
vez que reduzem o escopo de aplicação da lei penal, atribuindo a repressão a
esta atividade, quando violadora de direitos autorais, ao campo dos ilícitos

10
LEMOS, Ronaldo. Direito, tecnologia e cultura. Rio de Janeiro: FGV, 2005.
11
Idem, ibidem.
12
Idem.
civis. Nesse sentido, a interpretação de lucro direto ou indireto pode e deve ser
restringida, para compreender lucros apenas como resultado econômico de
atividade empresarial, tal como o conceito é tratado, por exemplo, na legislação
tributária ou na legislação societária. Assim, a interpretação razoável é de que o
lucro corresponde ao resultado da atividade do empresário, que obtendo ganho
que supera o investimento organizacional. Ele é direto quando auferido pelo
próprio empresário e indireto quando beneficia outrem. Em ambos os casos, o
compartilhamento de arquivos em redes peer-to-peer não se inclui.

Essa questão continua em aberto no Brasil, esperando a oportunidade


para ser decidida nos tribunais. Alguns países já tiveram a oportunidade de se
pronunciar sobre o assunto, como bem informa Ronaldo Lemos (2005:165)13:

No Canadá, o Copyright Board considerou que baixar arquivos musicais pela


internet não infringe a legislação canadense e, por isso, estabeleceu a criação
de uma taxa sobre diversos produtos utilizados para a manipulação desses
arquivos, destinada a remunerar os autores por essa atividade. Na Holanda, o
Tribunal de Recursos de Amsterdã estabeleceu que a utilização e a distribuição
de programas peer-to-peer não violam direitos autorais. Por fim, os tribunais
dos Estados Unidos consideram ilegais as medidas tomadas pela Associação
da Indústria Fonográfica no sentido de obrigar provedores de internet a fornecer
o nome de seus usuários que participam de redes peer-to-peer, para serem
subsequentemente por ela processados.

De toda sorte, é extremamente relevante demonstrar que "as


considerações expostas têm por objetivo argumentar que, dependendo da
forma como seja interpretado, o regime penal proposto no Brasil será um dos
mais severos do mundo quanto à proteção de direitos relativos à propriedade
intelectual, gerando consequências políticas e econômicas, além de [ser] um
fator que prejudica a inovação e o acesso legítimo à informação"."

13
Idem, ibidem.

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