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34º Congresso Anual de Celulose e Papel

34th Annual Pulp and Paper Meetig


22 a 25 de Outubro de 2001 / October 22nd – 25th, 2001

ABTCP 2001

Modernização do sistema elétrico da Cenibra

Modernization of Cenibra’s electrical system

Adilson J. Ferraz
Eugênio A. Melo
(Celulose Nipo-Brasileira S/A – Cenibra)

Paulo Fernandes Costa


Jacqueline Braz Piuzana
(Senior Eng. e Serviços Ltda.)

Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel


Rua Ximbó,165 – Aclimação CEP 04108-040 - São Paulo / SP – Brasil
Fone: (11) 5574-0166 - Fax: (11) 5571-6485 / 5549-1844 E-mail: expo@abtcp.com.br
Modernização do Sistema Elétrico da CENIBRA

Adilson J. Ferraz – Celulose Nipo-Brasileira S.A. – Belo Oriente. Brasil


Eugênio A. Melo – Celulose Nipo-Brasileira S.A. - Belo Oriente. Brasil
Paulo Fernandes Costa – Senior Eng. e Serv. Ltda. Belo Horizonte. Brasil
Jacqueline Braz Piuzana – Senior Eng. e Serv. Ltda. Belo Horizonte. Brasil

1- RESUMO

A CENIBRA é uma moderna fábrica de celulose, situada em Belo Oriente, município do estado de
Minas Gerais, Brasil.
Iniciou sua operação no ano de 1977 e atualmente produz 818.000 toneladas/ano de celulose que
atende principalmente ao mercado exterior.
Notadamente nos últimos 10 (dez) anos a CENIBRA investiu significativamente na modernização do
seu sistema elétrico, composto basicamente de dois turbos geradores de respectivamente 47MVA e 70MVA
que trabalham em paralelo e geram em 13,8kV.
Os investimentos realizados tem contribuído para garantir uma excelente performance da CENIBRA
quanto a disponibilidade do seu sistema elétrico e quanto aos custos de manutenção, sendo, neste particular,
uma das firmas de menor custo entre as empresas de fabricação de celulose.
Este trabalho tem por objetivo apresentar as principais modificações que foram introduzidas no
sistema elétrico da CENIBRA, que ajudaram a alcançar o desempenho atual.

Palavras Chaves: Proteção Elétrica Digital, Confiabilidade, Redução de Custos, Manutenção.

1 - ABSTRACT

CENIBRA is a modern factory of pulpe’s located in Belo Oriente, state of Minas Gerais, Brazil.
It started its operation in 1977. CENIBRA produces 818.000 tons of pulpe a year; moast of it supplies
foreing markets.
Specially in the last ten years CENIBRA has noticely invested in the modernization of its electrical
system, implemented by two turbo-generators 47MVA and 70MVA, 13,8kV, with operation in parallel.
The investments accomplished have contributed a great deal to assure excellence in performance
when it comes to the availably of its electrical system and reduction of maintenance costs.
The great amount of investments accomplishd by the company have contributed to assume excellence
in efficiency of its electrical system and keeping the low cost of maintenance, which is considered one of the
lowest cost among the companies of its sector (CENIBRA is one of the companies of lowest cost among the
plants that manufactures pulpe).
This present article, aims to feature the most important changes that were inserted in CENIBRA’s
electrical system and that have helped to reach the current performance.

Key words: Digital Electrical Protection, Full safety, Cost reduction, Maintenance
2 - INTRODUÇÃO

As empresas produtoras de celulose como a Cenibra possuem um sistema de geração e distribuição


de energia complexo, sendo o processo bastante compacto, com plantas interligadas e de alta demanda.
Os sistemas de utilidades devem prover os clientes de vapor e energia elétrica da forma mais estável
possível para manter o ciclo operacional. Desta forma distúrbios como curto circuitos, falta de uma das fontes,
falta de vapor e outros, principalmente ligados ao sistema elétrico, podem causar a instabilidade do processo
como um todo. No momento destes possíveis transitórios a proteção deve atuar de forma confiável, seletiva, e
com velocidade suficiente para eliminar a falta e restabelecer o sistema o mais rápido possível evitando
maiores danos e perdas de produção. O operador do sistema de distribuição deve estar informado em tempo
real para tomar as medidas corretas e em tempo hábil, e o mais importante, o diagnostico da falta deve ser de
fácil acesso.
Considerando algumas características particulares do sistema elétrico, que são comuns entre as
empresas de celulose, será muito importante e vantajoso operar o sistema com tecnologia avançada,
principalmente no aspecto segurança e disponibilidade.
Para atender estas expectativas o sistema de proteção elétrica de geração e distribuição da Cenibra
teve que passar por uma modernização. Foram feitas varias modificações no sistema elétrico no decorrer dos
últimos anos, estas são citadas de forma resumida nos próximos capítulos. Principais vantagens, melhorias e
dificuldades, serão discutidas com detalhes, objetivando contribuir com sua experiência a outras empresas
que inevitavelmente passaram ou estão passando por este processo de modernização.

3 - O Sistema Elétrico da Cenibra

3.1 – A Geração de Energia Elétrica

A Cenibra conta com dois turbogeradores operando em paralelo, o primeiro com capacidade de
geração de 40 MVA e o segundo com capacidade para 70 MVA.
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A turbina recebe o vapor de 65 Kg/cm a 450ºC numa vazão necessária para manter sua rotação em
3.600 rpm, e assim manter as características da energia elétrica gerada (Freqüência = 60Hz e Tensão =
13,8KV). A admissão de vapor em relação a carga do gerador é feita automaticamente por um sistema de
auto controle de velocidade denominado governor. O vapor atravessa as palhetas da turbina provocando sua
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rotação e saindo por três pontos. No primeiro o vapor é extraído com 13 kg/cm de pressão, no segundo com
2
3kg/cm e no terceiro há um condensador que condensa o restante do vapor.
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As extrações de 13 e 3 kg/cm alimentam os coletores de respectivamente 13 e 3 kg/cm dos quais é
feita a distribuição de vapor para toda a fábrica. Existe ainda a possibilidade de reduzir a pressão do vapor
através de válvulas redutoras, no by-pass da turbina.
A energia gerada é conduzida aos barramentos dos quadros principais de 13,8kV (Figura 01) de onde
é feita a distribuição para toda a fábrica através de 32 disjuntores, 16 na linha 1, 14 na linha 2 e 02 nos filtros
de harmônicos.
Para atender as necessidades de partida da fábrica existe ainda a alimentação da concessionária
CEMIG em 69 KV, proveniente da subestação do Bairro Iguaçu em Ipatinga. Chegando na Cenibra esta
tensão é baixada para 13,8kV, através de um transformador com comutador automático de taps.

3.2 - Distribuição de Energia Elétrica

Cada disjuntor citado anteriormente é conectado eletricamente a duas seccionadoras, uma


seccionadora é conectada a barra da Concessionária (BC) e a outra a barra principal (BP).
Existem ainda, conectados nestes barramentos, dois equipamentos elétricos denominados Clips, que
fazem a conexão entre as fontes, caso haja necessidade, favorecendo assim maior segurança e mobilidade
do sistema.
O Clip 1 conecta a barra BC a BP, e fica localizado no extremo esquerdo da barra. O Clip 2 conecta
BP1 a BP2, uma vez que esta é bipartida, para atender a linha 1 e a linha 2 (Figura 01).

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Figura 01 - Tela do Supervisorio de Monitoração do Sistema Elétrico ilustrado o Diagrama Unifilar de
Distribuição de Energia em 13,8KV (geral).

Toda a energia proveniente dos geradores e concessionária é entregue aos barramentos, passa pêlos
disjuntores alimentadores e é transmitidas às áreas em 13,8KV. Ao chegar ao seu destino, painéis elétricos
de alta tensão distribuem esta energia em vários transformadores, com diferentes níveis de tensão, de acordo
é claro, com a aplicação.
Para alimentação de motores, a tensão de 13,8KV é transformada em 440V e 4160V.
Para alimentação de iluminação e serviços auxiliares a tensão de transmissão é de 4160V e nas
áreas elas são convertidas para 220V. A conversão inicial de 13,8KV para 4160V é feita próximo aos
geradores, onde se tem os painéis de distribuição de iluminação chamados MC12 e QD 12.

3 - ASPECTOS BÁSICOS DA MODERNIZAÇÃO DO SISTEMA ELÉTRICO

A modernização do sistema elétrico da fábrica foi processada paulatinamente, com a alteração de


algumas filosofias vigentes no período de implantação e com a introdução de novos equipamentos.
As principais modificações ocorreram no sistema de alimentação de cargas em 440V e no sistema de
geração e distribuição em 13,8kV, embora também o sistema de 4160V tenha sofrido alterações de pequeno
porte.
Basicamente as modificações foram as seguintes [3]:
ü Modificação do regime de aterramento do neutro em 440V, passando de solidamente aterrado (TT) para
aterrado com impediência de valor elevado (IT);
ü Introdução da detecção de segunda falta à terra nos alimentadores principais de 440V;
ü Redução dos ajustes das proteções instantâneas e de curto tempo dos disjuntores de CCMs e QDs de
440V após introdução de impedância elevada no neutro. O objetivo foi o de proteção dos mesmos contra
arcos entre fases;
ü Introdução recente de CCMs inteligentes em 440V;
ü Introdução do dispositivo de limitação de curto entre fases Clip (Current Limiter Protector) que permitiu o
paralelismo dos turbos geradores de 47MVA e 70MVA sem necessidade de alteração da capacidade de
suportabilidade de curto-circuito dos equipamentos de 13,8kV (incluindo-se quadros de 13,8kV com seus
respectivos disjuntores);
ü Separação (isolação galvânica) das linhas aéreas de 13,8kV, cuja alimentação parte das barras de
distribuição 13,8kV internas da fábrica, separação esta utilizando transformadores de isolação
13,8/13,8kV;
ü Substituição dos resistores de aterramento do neutro dos turbos geradores e do transformador da
concessionária, passando-os de 400A para 100A;

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ü Substituição dos transformadores de corrente de proteção de fase, que saturavam durante curto entre
fases, por outros adequados. Estes TCs eram em grande número;
ü Introdução de transformadores de corrente toroidais (Ground Sensor) de alta sensibilidade nos ramais de
13,8kV e neutro nos geradores;
ü Introdução da técnica de seletividade lógica para curto entre fases, em todo sistema elétrico de geração e
distribuição em 13,8kV, ainda quando o sistema utilizava relés eletromecânicos. Esta técnica permitiu
uma notável redução dos tempos de operação das proteções de fase, levando a uma significativa
melhoria da estabilidade dos turbos geradores durante curto-circuitos;
ü Introdução de técnicas digitais de identificação de curto fase-terra nos quadros de distribuição de 13,8kV
com barramentos duplos, e considerando a possibilidade de paralelismo simultâneo das três fontes de
geração (concessionária, TG1 e TG2).
Atualmente este sistema foi substituído, estando associado à digitalização do sistema de 13,8kV.
Recentemente, a introdução do sistema de digitalização na geração e quadros principais de
distribuição em 13,8V, com substituição completa dos relés eletromecânicos e eletrônicos por relés digitais
associados em rede, possibilitando o registro de eventos com estampa de tempo, oscilografia e outras
particularidades.
As vantagem obtidas com cada uma destas medidas são registradas no quadro a seguir, onde estão
indicadas outras medidas efetivadas. Algumas medidas são melhor comentadas em itens seguintes,
particularmente o aspecto da digitalização, uso do aterramento por alta impedância em 440V, uso do
dispositivo de limitação de alta capacidade (Clip) e utilização da técnica dos instantâneos seletivos
(seletividade lógica).
Deve ser observado que paralelamente as mudanças apontadas, a CENIBRA mantém uma constante
revisão dos estudos de engenharia, tais como curto-circuito, seletividade, fluxo de carga, harmônicos,
transitórios e outros, que se tornam necessários a medida que o sistema elétrico evolui.

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Quadro de Melhorias

Descrição Sucinta das Melhorias Efetuadas Principais Vantagens e Melhorias Adquiridas


Notável aumento da segurança pessoal em 440V com eliminação do arco de
fase para massa;
Aumento da segurança dos equipamentos de 440V principalmente QDs e
CCMs, pelo mesmo motivo;
Modificação do regime de aterramento do neutro em 440V de solidamente Como o sistema não é desligado imediatamente após uma falta fase-terra, o
aterrado (TT) para aterrado com valor elevado de impedância (IT). desligamento intempestivo do processo produtivo é evitado nesta situação;
São evitadas operações monofásicas, quando os circuitos são protegidos por
fusíveis;
Um curto de fase para massa não desligando o sistema, evita a queda do
controle dos motores.
Ocorrendo duplo curto a terra em fases diferentes de CCMs diferentes
Proteção de Segunda falta à terra em 440V. (situação rara) a proteção de falta a terra individual do ramal de alimentação
dos mesmos opera, evitando destruição por arco elétrico.
Permite aumento da segurança pessoal e dos equipamentos de 440V (QDs e
Redução dos Ajustes dos elementos instantâneos e de curto tempo de fase
CCMs) na ocorrência rara de curtos entre fases com, a presença do arco
dos disjuntores de força em 440V.
elétrico.
Permitiu expandir o sistema de geração incorporando um novo turbo gerador
Introdução do dispositivo limitador de corrente para curto entre fases de alta
e possibilitou o paralelismo dos dois turbos entre si e com a fonte da
capacidade (Clip-Corrent Limiter Protector) entre fontes de geração, no
concessionária, sem alterar os níveis de curto-circuito do sistema elétrico com
sistema de 13,8kV.
notável economia na expansão do mesmo.
Alteração do valor dos resistores de aterramento dos turbo geradores e do Permitiu implementar o paralelismo das três fontes de energia sem que o
transformador da concessionária de 400A-10 segundos para 100A-10 curto fase-terra se tornasse prejudicial para o sistema elétrico e
segundos. principalmente para as chapas magnéticas dos geradores e transformadores.
A substituição evita que os transformadores de corrente saturem durante
Alteração da relação de transformação dos transformadores de corrente de curto-circuitos entre fases. São evitadas operações falsas e lentas da
fase do sistema de 13,8kV. proteção (ausência de seletividade) e a própria possibilidade da proteção não
operar.
Alteração da relação de transformação dos transformadores de corrente de Permitiu obter sensibilidade para curtos fase-terra com arco e com
terra (Ground Sensors) impedância no ponto de defeito.
Possibilitou a redução dos tempos de operação da proteção para curtos entre
fases dos alimentadores e dos geradores, da ordem de segundos para de
Introdução da técnica de instantâneos seletivos (seletividade lógica) na
100 a 150ms.
proteção de fase do sistema de 13,8kV
Houve notável melhoria da estabilidade dos turbos geradores, bem como
incremento da segurança pessoal e dos equipamentos.
Permitiu isolar galvanicamente as linhas aéreas de 13,8kV do sistema de
Introdução dos transformadores de isolação 13,8/13,8kV nas interfaces do
distribuição interno onde estão ligados os turbo geradores. Dessa forma
sistema de distribuição interno de 138kV com linhas aéreas.
surtos de tensão provocados por descargas atmosféricas e chaveamentos

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nas linhas aéreas não atingem os turbos geradores e o sistema interno de
13,8kV da fábrica.
Foram substituídos os antigos e instalados novos, em nova posição, com a
Alteração dos conjuntos de proteção de surtos de tensão dos turbo
utilização de pára-raios e capacitores de surtos específicos, permitindo
geradores.
proteção correta contra surtos de tensão nos turbo geradores.
Permitiu liberar energia dos turbos geradores e resolver os inconvenientes de
Instalação de bancos de capacitores em 13,8kV com sua posterior
distorções harmônicas causadas pela introdução de inversores de freqüência
transformação em filtros de harmônicos.
e presença de conversores ca/cc na fábrica.
Devido a lentidão da proteção temporizada do primário para operar como
proteção de curtos entre fases que ocorrem em garras de contatores de
Introdução de relé específico de proteção no primário dos transformadores de média tensão e disjuntores de baixa tensão foi introduzido no primário a
13,8/4,16kV e 13,8/0,44kV para proteção contra falta entre fases com arco no função PS (Proteção Secundária) que permitiu reduzir os tempos de
secundário (QD ou CCM) dos referidos transformadores. operação especificamente para curtos com arco no lado secundário com isto
a recuperação dos painéis e o retorno a proteção se processa em tempo
reduzido.
Devido a que os quadros de distribuição principais possuem barramentos
duplos, e com a possibilidade de paralelismo, a identificação do local do
defeito fase-terra era tarefa difícil com relés eletromecânicos e eletrônicos.
Foi instalado um sistema de identificação digital, utilizando um PLC de alta
Introdução de sistema digital de identificação do defeito fase-terra nos
velocidade (AUTOMAX) associado a operação de relés de terra e a contatos
quadros de distribuição principais de 13,8kV
de seccionadoras e disjuntores, que permitiam identificar a configuração
vigente e abrir os disjuntores corretos, eliminando o defeito com o mínimo de
prejuízo para o sistema elétrico;
O sistema de digitalização atual suprimiu tal esquema.
O duto de barramento de 13,8kV foi causa de acidente grave que provocou a
Substituição dos barramentos de força de conexão dos terminais do turbo
queima do turbo TG1. Tendo em vista evitar a possibilidade de novos
gerador TG1 de 13,8kV ao quadro de distribuição por cabos isolados, classe
acidentes, o duto foi substituído por cabos isolados, conectados aos terminais
15kV.
do gerador por meio de muflas especiais encurtadas.
Permite o controle digitalizado dos motores de 440V;
Introdução de CCMs inteligentes em 440V. A aquisição de dados dos motores de forma individual;
Proteção digital dos motores e outras facilidades.
A recente digitalização do sistema de geração e de distribuição em 13,8kV,
substituindo-se os relés eletromecânicos e eletrônicos por relés digitais
associados em rede trouxe os seguintes benefícios:
Maior rapidez de operação da proteção de fase e de terra;
Digitalização do sistema de geração e de distribuição principal em 13,8kV.
Registro de eventos com estampa de tempo;
Oscilografia de tensão e correntes durante distúrbios;
Rapidez no diagnóstico de distúrbios;
Reduzido tempo de retorno à operação após distúrbios.

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4 - APLICAÇÃO DE IMPEDÂNCIA DE ALTO VALOR NO NEUTRO DOS
TRANSFORMADORES DE 440V
A operação com os neutros dos transformadores de 13,8-0,48kV solidamente aterrados, ocasiona a
circulação de elevadas correntes na ocorrência de um curto-circuito fase-terra [5]. Os inconvenientes desta
configuração do sistema são:
Danos consideráveis ao sistema, principalmente devido a arcos em painéis e equipamentos de uma
forma geral;
ü Atuação da proteção do lado de fase do 13,8kV em tempo longo, (se houver atuação) para curto-
circuitos fase-terra no secundário do transformador;
ü Parada do transformador e dos equipamentos alimentados pelos mesmos;
ü Falta de segurança a pessoas e equipamentos;
ü Evolução do curto para curto entre fases.

Uma alternativa para sanar esses inconvenientes seria o aterramento do neutro dos transformadores
através de resistor de alto valor (sistema LIMITER para baixa tensão).
As vantagens deste tipo de solução são as seguintes:
ü Limitação completa das avarias no interior de motores e painéis;
ü Possibilita a identificação do local da ocorrência através de sistema de supervisão, mais
econômico do que a utilização de TC’s e relés na conexão “Ground-Sensor”;
ü Evita a ionização (presença de arco) no local do defeito e a propagação e evolução do curto fase-
terra;
ü Não é necessário o desligamento na ocorrência da primeira falta à terra, possibilitando a
programação da parada e a adoção de medidas que minimizam o tempo de paralisação do
equipamento defeituoso;
ü Elimina sobretensões transitórias durante o curto à terra;
ü Permite desligamento do curto fase-terra pelo contator, se necessário.

A seguir é descrita a forma operacional de um sistema de limitação de falta à terra em baixa tensão,
bem como sua aplicação e desempenho nos circuitos de baixa tensão.

4.1 - Fundamentos Teóricos para Aplicação do Sistema ao Aterramento do Neutro em


B.T.

As formas usuais mais empregadas para o aterramento do neutro em sistemas elétricos de Baixa
Tensão (particularmente 380V e 480V) até então eram:

Sistemas Isolados x Sistemas Aterrados Solidamente


No primeiro caso, ocorrendo uma falta para a terra, o retorno da corrente se dá via capacitâncias
através das outras duas fases sãs e, embora o sistema continue operando normalmente, podem surgir
sobretensões transientes da ordem de 5 a 7 vezes o valor da tensão nominal do sistema. Além disso, a
localização do ponto onde ocorreu a falta é extremamente difícil exigindo, em geral, desligamentos
sucessivos.
No segundo caso, como o ponto neutro é conectado diretamente ao potencial de terra, as
sobretensões transitórias são eliminadas, porém podem surgir curtos francos de elevado valor ou curtos com
arco (de resistência não linear, desenvolvendo, em conseqüência disto, energia e temperatura
elevadíssimas). O sistema deve ser desligado imediatamente após a ocorrência da falta e, ainda assim, é
comum ocorrerem acidentes pessoais, e ainda a destruição de equipamentos.
Estudos recentes nas formas de aterramento do neutro em sistemas elétricos de B.T. mostraram que,
inserindo-se uma impedância entre o ponto neutro e a terra - impedância essa de valor adequadamente
dimensionado para fazer circular uma corrente resistiva retornando para o neutro com um valor um pouco
superior ao da corrente capacitiva resultante do sistema - as sobretensões transitórias são eliminadas.
Adicionalmente, o sistema continuaria operando normalmente após a ocorrência da falta, isso porque
há apenas um deslocamento do neutro, mantendo-se entre as três fases a mesma diferença de potencial.
Além do mais, como o valor da corrente para a terra é reduzido, consegue-se operar em condições de
maior segurança pessoal e para os equipamentos. E mais ainda, através de técnicas simples, rápidas e
eficientes, consegue-se detectar nesta forma de aterramento o local onde ocorreu a falta.

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A partir dos fundamentos teóricos aqui apresentados (de forma simplificada), a SENIOR
ENGENHARIA desenvolveu um sistema comercialmente designado “Sistema LIMITER”, o qual elimina os
efeitos indesejáveis apresentados tanto na filosofia com o neutro isolado como também com o neutro
fortemente aterrado e que incorpora as vantagens de ambas. O diagrama da figura 02 ilustra o princípio de
funcionamento do Sistema LIMITER para aplicação no neutro dos sistemas de baixa tensão.

Figura 02 – Diagrama Trifilar da Montagem do Limiter

4.2 – O Desempenho do Sistema nos Circuitos de B.T.

Em sistemas elétricos industriais de 380 ou 440V solidamente aterrados, são comuns ocorrências dos
tipos:
ü curto-circuito para terra de forma franca (sem arco) onde o nível de corrente é bastante elevado,
ü curto-circuito para terra através de arco, onde o nível de corrente é reduzido porém a energia
desenvolvida é elevada.

Em ambos os casos, os acidentes pessoais e as perdas de equipamentos são preocupantes:


acidentes pessoais podem provocar conseqüências indesejáveis uma vez que o simples manuseio de uma
ferramenta em um CCM ou QD pode ocasionar um curto com a explosão e ejeção de gases quentes e
fragmentos metálicos de painéis.
Mais preocupante ainda se torna o problema quando se sabe que, estatisticamente, cerca de 90%
das faltas ocorrem entre fase e terra.
Estudos recentes sobre as formas de aterramento dos sistemas elétricos concluíram que, se a
corrente de curto-circuito em B.T. for limitada a um nível tal que elimine as sobretensões transitórias que
aparecem durante esta ocorrência, consegue-se, além de afastar os perigos que foram acima mencionados,
manter o sistema em operação mesmo na presença do curto-circuito, pois as fases sãs apenas alteram o seu
potencial de referência, de maneira uniforme.
Esta limitação é feita a partir da introdução de limitadores entre o ponto neutro do sistema e o
potencial de terra respectivo.
O LIMITER é constituído de dois módulos (Figura 03): um que limita a corrente de defeito e outro que
supervisiona a ocorrência, permitindo, de forma bastante simples e rápida a localização do ponto onde se
deu a falta, através de, por exemplo, um amperímetro alicate.

Figura 03 – Diagrama de Bloco do Limiter

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5 - SISTEMA DE INSTANTÂNEOS SELETIVOS

A adoção do sistema instantâneos seletivos em um sistema elétrico tem como objetivo principal a
redução do tempo de operação dos relés de sobrecorrente temporizados presentes em uma cadeia longa de
proteção, característica encontrada principalmente em sistemas elétricos radiais [1].
Normalmente, os tempos de operação destes relés são ajustados em valores cada vez maiores a
medida que os mesmos se aproximam da fonte, tornando a seletividade da concessionária com a indústria
impraticável.
O sistema de instantâneos seletivos é aplicado aos casos em que, em um mesmo nível de tensão, os
níveis de curto-circuito nas diversas barras de distribuição são praticamente iguais, exigindo o bloqueio das
unidades instantâneas de alguns relés de sobrecorrente, de modo a se obter um sistema seletivo.
Desta forma a proteção fica assegurada apenas pelos relés temporizados.
A redução dos tempos de atuação das proteções temporizadas traz benefícios significativos, pois a
eliminação mais rápida do curto-circuito evita maiores danos aos cabos, barramentos, painéis, e
equipamentos em geral, e, mais importante, promove substancial aumento na segurança de pessoas.
Nos relés microprocessados os elementos instantâneos são associados a um temporizador. A
regulagem para a operação com instantâneos seletivos é feita em cerca de 100ms. Desta forma, quando
ocorre um curto-circuito em uma região do sistema elétrico, ocorre a seguinte seqüência (Figura 04):
O relé instantâneo do local de defeito emite um sinal de bloqueio para o relé instantâneo a montante.
Este relé, por sua vez, emitirá sinal de bloqueio para o próximo da cadeia e assim por diante, de tal forma que
todos os elementos instantâneos a montante, cuja entrada esteja preparada para o bloqueio, receberão tal
comando;
Como o relé do local do defeito não recebe bloqueio do relé instantâneo a jusante (o qual não
percebe o curto-circuito), haverá desligamento apenas do disjuntor local após a operação do elemento
instantâneo.
Naturalmente que o primeiro relé instantâneo da cadeia (situado no primário dos transformadores das
áreas de produção) não necessita ser habilitado para receber bloqueio.
No sistema elétrico da CENIBRA, esta filosofia foi aplicada para a proteção de fase e terra, onde
apresentam instalados relés microprocessados que apresentam facilidades para implantação destes recursos.

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Figura 04 – Diagrama Elétrico do Instantâneo Seletivo

Desta forma, os ajustes dos instantâneos dos reles de sobrecorrente em linha (ou ramal), num
mesmo nível de tensão, podem ser utilizados e ajustados ao contrário do que acontece com os reles
tradicionais. Como conseqüência o tempo total de eliminação de defeitos, fica bastante reduzido, com
evidentes resultados benéficos aos componentes do sistema.
Na Cenibra a utilização deste recurso baixou o tempo da cadeia de seletividade de 300ms para
100ms. Um ganho enorme no aspecto segurança de equipamentos e pessoas.

6 - LIMITADOR DE CORRENTE PARA CURTOS ENTRE FASES DE ALTA


CAPACIDADE (CLIP)
Este item objetiva descrever os princípios de funcionamento do dispositivo de limitação -
"CLIP" (Current Limiting Protector) - bem como as suas condições de operação no sistema elétrico CENIBRA
[4].

6.1 - Aplicabilidade do CLIP no Sistema Elétrico da CENIBRA


A CENIBRA, possui atualmente dois turbo-geradores, um de 47MVA e outro de 70,6MVA, ligados
diretamente a barra de distribuição em 13,8kV. Quando somente um gerador está disponível e a planta
vai iniciar sua operação, é necessário a entrada em paralelismo com a concessionária, por um período
temporário. Para atender a esta condição e tendo em vista a proximidade do gerador, os disjuntores de
13,8kV deveriam possuir capacidade de ruptura próxima de 750MVA.
A instalação do turbo gerador de 70,6MVA, 13.8kV foi uma exigência da recente ampliação da
fábrica. Do ponto de vista da topologia da rede de 13,8kV, estudos a respeito da operacionalidade da
planta apontaram como melhor forma de funcionamento, aquela em que todas as fontes de geração
(CEMIG, GI-47MVA, G2-70MVA) pudessem operar em paralelismo simultâneo, temporariamente ou
indefinidamente, na tensão de 13,8kV.

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A Figura 05 a seguir mostra esta situação de maneira simplificada já que os barramentos são
duplos.

Figura 05 – Diagrama Unifilar da Localização dos Clips

Atender a esta nova situação sem o emprego de nenhum dispositivo de limitação seria
tecnicamente impossível, já que os disjuntores existentes teriam suas capacidades de ruptura e
fechamento (estabelecimento) superadas em larga margem, sendo necessária a sua substituição. Por esta
mesma razão os novos disjuntores (cerca de 60 unidades) teriam que ser adquiridos com elevada
capacidade de ruptura (capacidade superior a 1400MVA em 13,8kV). Ainda que fosse efetuada uma
consulta no mercado internacional, seria extremamente difícil a aquisição destes disjuntores. O
emprego de reatores como dispositivos de limitação mostrou-se inviável devido as quedas de tensão
inaceitáveis que os mesmos provocariam, além de interferir na estabilidade dos geradores. Desta
forma optou-se pela utilização de um novo dispositivo de limitação, denominado “CLIP” sigla do termo
“Current Limiting Protector”.

6.2 - Princípio de Operação

O CLIP é um dispositivo "pirotécnico", isto é, com base em explosivo controlado, cujo princípio de
operação pode ser compreendido através das Figuras 06a e 06b.
A barra principal de alta capacidade de corrente, transporta a corrente do circuito em regime normal.
Esta barra possui uma série de estrangulamentos sob os quais situam-se cargas de corte (explosivos
controlados).
Durante um curto-circuito, o sensor eletrônico de disparo, alimentado por TC situado na própria
barra, detona as cargas de corte, as quais seccionam o barramento principal formando múltiplos “Gaps”.
Nestes Gaps formam-se arcos, cujas resistências inseridas no circuito transferem a corrente de curto-
circuito para um fusível limitador, constituído de pequena seção transversal e capacidade de ruptura
adequada.

Figura 06b – Clip Detonado


Figura 06 a – Clip em Operação

A Figura 07 mostra a operação do CLIP para uma onda de curto-circuito simétrica e outra
assimétrica, supondo-se um sensor de disparo de 6kA. Nota-se que os tempos de fusão e extinção do arco

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situam-se, no máximo, em 1/4 e 1/2 ciclo, respectivamente. Isto significa que a componente de curto-circuito
que passa pelo CLIP, não necessita ser levada em conta nem na capacidade de ruptura nem na
capacidade de fechamento (estabelecimento) dos disjuntores que são submetidos aquela componente, no
caso específico do sistema CENIBRA.

Figura 07 – Curva de Atuação do Clip

Na Figura 08 são mostradas as características de limitação e indicados os valores instantâneos de


pico que o CLIP deixa passar (Let Thru Current), em função da corrente de curto-circuito simétrica
presumida e que teoricamente passaria pelo mesmo (prospective current ). Pode-se observar que o ajuste
da corrente de disparo influência acentuadamente no valor da corrente de pico passante, mas em todas
as situações a operação do CLIP (estabelecimento do arco e extinção do mesmo) se processa no máximo
em 1/2 ciclo.

Figura 08 – Curva de tempo - Corrente

6.3 - Expectativas de Operação

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Os dispositivos "CLIP's" existentes na CENIBRA foram projetados para operar somente para as
situações de curto-circuito trifásico e bifásico no sistema de 13,8kV, com apenas duas exceções relativas
ao "CLIP 1" situado entre a barra alimentada para CEMIG e a barra alimentada pelo Gerador G1.
As exceções relativas ao dispositivo "CLIP 1" situado entre a barra alimentada pela CEMIG e a
barra alimentada pelo Gerador G1 são as seguintes:
Abertura do CLIP 1 devido a um curto-circuito trifásico ou bifásico no sistema de 69kV da CEMIG,
com o sistema interligado;
Abertura do CLIP 1 devido a um curto-circuito trifásico ou bifásico no sistema de 4,16kV, única
e especificamente situado no secundário do transformador de 5MVA da barra alimentada pela CEMIG.
Deve ser observado que, estando os neutros do sistema de 13,8kV limitados em 100A, por meio
de resistor, a corrente de falta à terra é insuficiente para provocar a operação dos " CLIP's".

6.4 - Sistema de Inibição dos Clips

Os dispositivos limitadores "CLIP" foram inseridos no sistema elétrico CENIBRA de 13,8kV para
limitação do curto-circuito entre fases quando existirem fontes em paralelo.
Sua presença é desnecessária quando as fontes estão separadas. Além disto eles são sensíveis
a níveis elevados de correntes de "Inrush" e transitórios de energização.
Para evitar sua operação desnecessária, principalmente quando da entrada em operação da
fábrica, eles são circunstancialmente desativados via sistema de controle (SDCD). No sistema
Supervisorio (SDCD) existe indicação clara da situação dos “Clips”, isto é, se estão ativados ou
desativados.

6.5 – Conseqüências da Operação dos “CLIPS”


O tempo de duração do curto-circuito, enquanto um determinado “Clip” está operando é
extremamente curto, podendo atingir no máximo ½de ciclo para onda totalmente assimétrica.
Durante este período, a tensão no sistema de 13,8kV que alimenta o local de ocorrência de curto
entre fases, será extremamente baixa, se aproximando do valor nulo.
Equipamentos de controle que não possuem armazenamento de energia (principalmente
contatores de motores) poderão eventualmente serem desligados. A CENIBRA deverá avaliar esta
situação, caso ela se torne prejudicial à operação e deverá ser estudada a parte.

7 - A EXPERIÊNCIA COM A DIGITALIZAÇÃO DA PROTEÇÃO ELÉTRICA 13,8 KV

7.1 - A PROTEÇÃO DIGITAL

Com o advento dos microcomputadores e com eles, é claro, os microprocessadores, surgiu também
uma nova classe de dispositivos, os reles microprocessados, também chamado de reles digitais ou reles
numéricos. Estes novos e avançados dispositivos trouxeram a multifuncionalidade. O microprocessador
permite a utilização de vários programas em um mesmo relé, condensando assim varias funções e
propiciando uma economia de espaço, de serviços e também de material, já que em um mesmo dispositivo
acumula-se várias necessidades.
As grandes vantagens técnicas e econômicas dos reles digitais serão mostradas a seguir, o que
justificam plenamente sua tendência.

7.2 - Princípios Básicos


A família de reles digitais microprocessados usados na proteção de sistemas de potência, utiliza a
amostragem das formas de onda das tensões e correntes de entrada. Os valores dos sinais amostrados são
manipulados por algoritmos e vários microprocessadores que fazem a implementação das funções de
proteção e de medição [2].
Alguns reles digitais utilizam a transformada discreta de Fourier para separar quantitativamente os
valores de tensão e corrente em cada nível harmônico. Nessa condição, o relé perfaz por ciclo 256 amostras
das tensões e correntes. Se necessário, os sinais processados podem passar por filtros para a retirada de
qualquer sinal DC presente nas formas de onda.
A memória é outra grande vantagem deste relé, pois permite a sua evolução, em termos de upgrades
de software, mantendo o relé sempre atualizado sem necessidade de trocá-lo. O novo programa, contendo as

13
inovações pode ser carregado no relé via portas seriais RS232 ou RS485/RS422. A reprogramação
constante, mantém o relé sempre atualizado [2].
Os módulos de entrada das tensões e correntes são dotados de filtros anti-aliasing. O efeito "Aliasing"
é um erro provocado por sinais de alta-frequência que comumente aparecem nas amostragens efetuadas dos
sinais de corrente e tensão. São utilizados filtros que possuem freqüências de corte maiores do que a
freqüência de amostragem.
Os ajustes podem ser feitos através do teclado do painel frontal ou via microcomputador.

7.3 - Recursos de um Relé Digital


O uso dos microprocessadores nos reles digitais resulta numa grande versatilidade dos mesmos,
permitindo a efetivação de funções e/ou características nunca antes viáveis em um relé eletrônico e, muito
menos, nos reles eletromecânicos.
A seguir serão descritas algumas destas funções e/ou características.

Manipulação
Todas as informações relativas as entradas e saídas dos reles, bem como suas funções são
parametrizadas, isto é, programáveis. Portanto, é possível habilitar ou inibir uma função, alterar ajuste,
monitorar grandezas, salvar e carregar parâmetros, substituir firmaware através de um computador (Figura
09).

Figura 09 – Tela do software responsável pelo ajuste da função de sobrecorrente

FlexCurves
Em alguns casos, tais como motores acionando cargas de grande inércia, não se consegue uma
proteção seletiva para com os outros reles do sistema utilizando as curvas tempo X corrente fornecidas pelo
fabricante, seja dos reles, seja dos motores. Para este casos, definiu-se, no relé microprocessado, a
FlexCurve, onde o usuário pode definir a sua curva de atuação, simplesmente definindo os seus pontos de
atuação em corrente X tempo.
Por um processo de regressão linear, estes pontos são ligados formando uma curva bem definida que
atenda perfeitamente à seletividade requerida entre os reles do sistema (Figura 10).

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Figura 10 – Curva definida pelo usuário

Comunicação
Um relé, efetivamente versátil, é aquele que pode se comunicar, através da utilização de protocolos
de comunicação abertos, com os principais sistemas Supervisórios existentes no mercado e que, ao mesmo
tempo, possa permitir alterar o ajuste da proteção bem como monitorar on-line as principais grandezas do
sistema.
Hoje, consegue-se formar uma rede de reles interligados entre si, de modo que todos possam se
intercomunicar, aliado a facilidade de se poder manter uma supervisão através das equipes de engenharia e
operação.
Com a tecnologia digital, obteve-se possibilidade de transmitir maior numero de dados, com maior
velocidade, maior simplicidade e menor custo, quando comparado com a comunicação convencional.
O relé numérico pode se comunicar diretamente com o operador através de sua interface homem –
maquina, por intermédio de programas instalados em uma estação central (Figura 11), ou mesmo num laptop,
mantendo uma comunicação mais especifica.
Esta vantagem das unidades microprocessadas permite a coleta de dados com grande velocidade e
confiabilidade, trazendo uma nova vertente à engenharia de proteção, já que envia dados tais como eventos
de partida, disparo, eventos de falta (V,I), medições (A,KV,KW,KVAr,KWh) e outras.

Figura 11 – Rede de comunicação da Cenibra

Na Cenibra as informações provenientes dos reles dos alimentadores são armazenadas em um CLP
(Controlador Lógico Programável) e as provenientes dos relés das fontes em outro CLP, sendo que o meio
físico utilizado é o disponível no relé, ou seja par trançado RS485 19200Bps. Os CLPs são conectados a duas
estações de operação com o Supervisório através de fibra óptica e cabo coaxial no padrão Ethernet.
Existe também uma Segunda rede RS485 19200 Bps em par trançado para manutenção.
Existe ainda dois sistemas GPS (General Padronized System) para sincronização do relógio dos reles
por satélite conseguindo uma precisão de +-1ms.

Oscilografia
É extremamente importante que um relé possa registrar dados que permitiam avaliar os efeitos
provocados no caso de ocorrência uma falta ou de um evento de importância no sistema. É por este motivo
que a oscilografia foi desenvolvida, para os reles digitais microprocessados, a qual permite registrar as formas
de onda das correntes e tensões alguns ciclos antes da falta, alguns ciclos durante alguns ciclos após a falta.
Esse sistema é particularmente útil no caso do diagnóstico da falta e na determinação de medidas
preventivas.
Podemos observar na Figura 12a a corrente nas três fases no momento de um curto circuito. Os
períodos subtransitório, transitório e permanente estão bem ilustrados.
Na Figura 12b, observa-se as correntes nas três fases no momento do fechamento de um disjuntor
que esta alimentando um transformador. Nesta oscilografia verifica-se a corrente de Inrush do transformador.

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Figura 12a – Oscilografia de um curto circuito. Figura 12b – Oscilografia da partida de disjuntor.

Observa-se nos casos acima que a oscilografia é uma ferramenta muito útil para análise e
identificação de possíveis problemas.

Localização da falta
Informando ao relé as características da linha e/ou alimentador a ser protegido (resistências e
reatâncias de seqüências positiva e zero por km), o mesmo é capaz de determinar a distância em relação ao
ponto de geração e/ou barra no qual ocorreu a falta.
Este recurso é muito útil para linhas de transmissão. Em empresas de celulose onde as distancias
são pequenas é possível que ele não tenha tanta precisão.

Falha do Disjuntor
No caso da ocorrência de uma falha de abertura de um disjuntor, solicitado a desligar um circuito com
defeito, os reles digitais podem monitorar esta situação, através dos contatos auxiliares do disjuntor e pela
medição da corrente circulante no ramal a ser desligado.
Quando esta situação ocorrer, o relé digital poderá enviar um sinal para que os reles a montante
desliguem o respectivo disjuntor eliminando o defeito. Este recurso aumenta ainda mais a confiabilidade dos
desligamentos.

Simulação
Os reles digitais, por sua própria natureza construtiva, permitem a simulação de situações variadas de
falta pela geração de sinais internos que corresponderiam aos sinais que seriam recebidos pelo relé de um
sistema em falta, afim de se verificar sua operação adequada. Isto pode ser feito com os reles instalados, via
teclado frontal ou usando um microcomputador.
Todas as situações podem ser simuladas, tais como: sobrecorrente, subtensão, subfrequência,
desbalanço ou controle de banco de capacitores.
As unidades micropocessadas possuem auto supervisão/diagnostico também chamado auto teste.
Caso ocorra algum defeito interno no relé, algumas unidades soam um alarme, juntamente com a indicação
de um código, que permite identificar em qual parte do relé esta o defeito, junto com a sinalização há o
bloqueio de saída de disparo dos reles, evitando uma situação erronia.

Medição Utilizando os Reles Microprocessados


Assim como a oscilografia, existe nos reles microprocessados o recurso de medir os dados elétricos
em tempo real ou histórico disparado por um evento. Estas informações podem estar disponíveis no LapTop
conectado no frontal do relé ou via rede RS485 para um Supervisorio remoto.
Na Figura 13 a, observa-se uma corrente de terra da ordem de 150 A na fase A, que causou uma
subtensão nesta e conseqüente elevação nas outras duas. Este evento permaneceu por 12 ciclos.
Na Figura 13 b, observa-se uma corrente de curto simétrica envolvendo as três fases, que causou
uma subtensão em todo o sistema, seguido de um desligamento da fonte. Este evento permaneceu por 12
ciclos.

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Figura 13 a – Medição das correntes e tensões no Figura 13 b - Medição das correntes e tensões no
momento de um curto Fase-Terra. momento de um curto Fase-Fase e retirada da Fonte.

Lista de Eventos
Outro recurso muito utilizado, é a lista de eventos por ordem cronológica. Estes são disponíveis na
rede ou no frontal do relé com precisão de milisegundos (Figura 14).

Figura 14 – Lista de Eventos por ordem cronológica

Como no caso da Cenibra, esta ferramenta é muito útil em processos rápidos e interligados. Na
ocorrência de uma falta, esta fica registrada por mais rápida que seja, garantindo um diagnóstico preciso da
ordem cronológica dos fatos.

7.4 - Escopo do Projeto


O Projeto de digitalização das proteções consistiu na substituição dos relés de proteção
eletromecânicos e eletrônicos por digitais, no primeiro nível de distribuição de energia, em 13.800 Volts,
formado pelas três fontes de energia (Geradores 1, 2 e Cemig), dois disjuntores de acoplamento (Clip 1 e 2) e
dos disjuntores de saída para cada área, compreendendo um total de 36 disjuntores.
Complementando esta substituição, foi necessário:
ü Implantação de todo um sistema de seletividade de instantâneos de fase e neutro, substituição ou
implantação de relés no nível secundário (Subestações de áreas) de forma localizada para corrigir
deficiências sistêmicas;
ü Implantação de sistema Supervisorio para interface homem-máquina com a operação e para manuseio de
armazenamento de informações sobre eventos;
ü Revisão e ajustes de todos os relés de proteção localizados nas áreas;
ü Testes físicos nos cabos dos instantâneos seletivos das áreas para os alimentadores;
ü Revisão do estudo de seletividade abrangendo os coordenogramas (gráficos de verificação visual da
seletividade), tabelas de ajustes dos relés, diagramas unifilares e outros documentos associados.

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7.5 - Benefícios do Projeto

O principal benefício é a redução dos tempos de operação da proteção para ocorrência de curto
circuitos fase-fase e fase-terra. O tempo médio de permanência do curto no sistema anterior estava entre 300
milisegundos. No novo sistema este tempo é de 100 ms e a retaguarda (em caso do primeiro nível de
proteção falhar) é de 300 ms. A diferença de tempos entre o sistema antigo e o novo pode parecer pequena,
mas é essencial para reduzir danos a equipamentos e ao tempo de exposição aos efeitos do curto a pessoas
que eventualmente estejam envolvidas no acidente.
Outro benefício é a facilidade para análise de eventos. É essencial em um sistema de proteção que
todos os eventos sejam analisados com profundidade para uma avaliação da performance da proteção, para
estudo de melhorias e detecção de pontos deficientes, os quais nem sempre são conhecidos no projeto
inicial. No sistema antigo esta análise era feita apenas pela observação das bandeirolas dos reles, análise
visual do local de curto e danos causados, e finalmente uma dedução baseada na experiência, de forma a
conjugar todos estes dados. No novo sistema temos, na memória dos reles, dados de oscilografia das
variáveis elétricas antes, durante e após o evento, além do registro sincronizado da operação de todos os
reles envolvidos em tempo real, sincronizados por GPS.

7.6 - EXECUÇÃO DO PROJETO

Aproveitando estas características, a Cenibra, baseada na experiência de outras empresas pioneiras


nesta tecnologia, resolveu investir na segurança e na disponibilidade do seu sistema de geração e distribuição
de energia em 13,8KV.
Após o desenvolvimento do projeto, as cotações e aprovação do fornecedor do Supervisorio e outras
definições, a equipe técnica da Cenibra tinha duas opções para execução dos serviços; ou empreitava o
serviço ou assumia com recursos próprios.
Para empreitar o serviço existia alguns fatores considerados positivos e outros negativos:
Positivos:
ü Não haveria necessidade de relocar mão de obra interna de execução, apenas de acompanhamento,
item muito importante uma vez que o quadro pessoal da Cenibra está bem otimizado.
Negativos:
ü Os desenhos da fábrica 1 já aviam passado por outras modificações, logo deveriam ser conferidos para
plena confiança;
ü O volume de modificações considerando eliminação de painéis antigos e interferências com outros
equipamentos era grande (Figura 15);
ü A fábrica deveria ficar parada a disposição do serviço muitos dias onerando o custo da implantação;
ü Deveria investir maior tempo em treinamento uma vez que o envolvimento dos técnicos seria menor.

Para que a Cenibra assumisse a execução:


Positivos:
ü O executante implantaria as modificações ao mesmo tempo que ia corrigindo os possíveis
inconvenientes;
ü As interferências com outros equipamentos eram contornadas com o conhecimento e autoridade de
usuário;
ü As modificações eram feitas em oportunidade de parada programada das fábricas. Este fato foi de suma
importância uma vez que minimizou custos e favoreceu os testes e melhorias, sempre aproveitando as
oportunidades;
ü Os técnicos participavam de todas as etapas ativamente, podendo opinar e inferir modificações antes da
conclusão, evitando retrabalho.
Negativos:
ü Desfalcou a equipe de manutenção preventiva de um técnico.
ü O tempo de implantação aumentou consideravelmente, cerca de 2 anos para o término.

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Figura 15 – Painel Elétrico com reles de sobrecorrente

O Que foi Realizado em 1999 e 2000


ü Foram substituídos todos reles analógicos por digitais nas fontes e alimentadores (Figura 01).
ü Foram reestudados e parametrizados os novos ajustes para estes novos relés.
ü Foram substituídos cabos, aterramentos, bandejas, tubulações para adequar as instalações ao
novo equipamento, uma vez que este é mais sensível por se tratar de um elemento
microprocessado.
ü Foram desenvolvidos e instalados transformadores de corrente toroidais especialmente
fabricados nos geradores, Cemig e acopladores, de forma a possibilitar a efetivação da
seletividade de terra.
ü Foi montado a rede de comunicação Serial RS485 interligando os relés aos CLPs para trafegar as
informações elétricas que ficaram disponíveis no Supervisório
ü Foi montado a rede Ethernet para comunicar os CLPs aos Supervisórios.
ü Foram testados as proteções e a seletividade de forma simulada e até mesmo provocando curtos
reais em alguns casos, para verificar as direcionalidades, a seletividade e a operação correta.
ü Foi revista toda a documentação referente a sistema de proteção e iniciado as aferições dos relés
das áreas.

O que esta sendo realizado em 2001


ü Serão concluídas as aferições dos reles das áreas.
ü Serão concluídos os testes finais de direcionalidade já que estes não foram concluídos por falta
de disponibilidade de parada dos equipamentos no ano de 2000.

7.7 - Dificuldades na Implantação

As maiores dificuldades encontradas na implantação do projeto foram inerentes à alta tecnologia


envolvida. Os novos reles digitais são extremamente sensíveis a interferências eletromagnéticas.
Abaixo são citados alguns itens que causaram contratempos:

Aterramento
A tecnologia analógica necessitava sinal elétrico trafegando entre painéis e a tecnologia
microporocessada é toda digital com sinais trafegando em rede. Todo o sistema teve que passar por estudos
de compatibilidade eletromagnética.
Inicialmente ocorreram muitas queimas de portas de comunicação e amostradores de corrente. Com
a instalação de supressores de surto e modificações no aterramento estas diminuíram significativamente.

Experiência com o Equipamento


Considerando que esta tecnologia ainda não esta totalmente dominada, os reles microprocessados
passam por modificações no “software” ou no “hardware” toda vez que se encontra um problema. Até que se
conheça totalmente o equipamento pode haver desarme falso.
Percebeu-se após um desarme falso na planta, que os técnicos deveriam ter visitado outras
aplicações em outras fábricas, para troca de experiências, absorver conhecimentos relativo aos pontos fortes
e fracos do equipamento.

Supervisório

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Assim como citado acima com o equipamento, o software Supervisorio foi passível de alguns
inconvenientes que poderiam ter sido evitados com mais troca de experiência. Ocorreu no inicio muitos
problemas com travamento e lentidão na comunicação do Supervisorio com os CLP’s.

Erros de montagem
Considerando o volume de serviços e as interferências é muito importante o acompanhamento
através de mais de um técnico para minimizar erros de montagem. Neste projeto, em algumas das fases
houve necessidade da participação de até três técnicos e dois consultores além dos eletricistas de montagem.

Desenhos atualizados
Devido ao grande número de interferências e modificações de campo, a tarefa de lidar e atualizar
desenhos foi bastante árdua. Percebeu-se que vale a pena investir mais tempo em pré-projeto para
formulação e desenvolvimento dos desenhos. Caso isto não seja plenamente possível, haverá necessidade
de trabalhar com maior número de correções manuscritas até que a revisão fique pronta.

Testes Simulados e Teste Reais


A fase considerada mais importante do projeto, devido à sua complexidade e importância, são os
teste de instantâneos seletivos e direcionalidade. Os testes de instantâneos seletivos podem ser simulados e
por isso podem ser realizados sem necessidade de parada de fábrica, sendo que, inclusive, existem ordens
de serviços para a realização de testes periódicos para garantir a integridade do sistema. O teste de
direcionalidade é feito apenas na implantação e a “quente”, ou seja, é um teste real, devido as dificuldades
para simulação deste tipo de falta. Desta forma com a fábrica parada injeta-se uma falta para terra em
qualquer ponto no sistema de 13,8KV e através da oscilografias obtem-se os tempos de desligamentos e as
curvas.
O que permite que se faça este teste com segurança é a limitação de corrente de falta à terra feita no
neutro do sistema, garantindo que esta não exceda 100 A no momento do curto.
Por se tratar de testes complexos que envolvem um certo risco de falha humana é muito importante
que este seja bem programado principalmente nos quesitos de segurança, evitando contratempos e
garantindo pleno funcionamento do sistema.
As dificuldades foram muitas conforme citadas. Acreditamos porém que todas estas etapas fizeram
parte do processo de adaptação a novas tecnologias e troca de experiências, e o grande benefício final é o
fato de termos um sistema atualizado tecnologicamente no qual podemos usufruir de seus benefícios.

8 - RESULTADOS
Além dos benefícios oferecidos pelos reles microprocessados citado em capitulo anterior ressalta-se
outros como conseqüência e contribuições de significativa importância, entre elas:
ü Identificação e Critica de Ajustes Incorretos.
ü Identificação de “agarramento” e problemas de Disjuntores.
ü Verificação de Sincronismo para os Disjutores das Fontes “Sincrocheck”.
ü Estudo da Direcionalidade.
ü Estudo das Subtensões Transitórias.
ü Estudo de Corrente de Arco Elétrico.
ü Estudo da Qualidade de Energia.
ü Estudo da Estabilidade Transitória.
ü Estudo de Corrente de “Inrush” de Alguns Equipamentos.
ü Relatório de Energia Otimizado.
ü Analise dos Tempos de Abertura de Disjuntores e Cadeia de Seletividade.
ü Monitoração em tempo real e Histórico de todas as variáveis elétricas do sistema de geração e
distribuição.

Percebe-se, de posse destas informações que até então não eram disponíveis, o inicio de uma nova
etapa para o sistema elétrico da Cenibra. Um sistema otimizado, seletivo, seguro e confiável e o mais
importante passível de estudos permanentes.

9 - CONCLUSÃO

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O objetivo deste trabalho foi o de reunir e divulgar informações sobre a modernização do sistema
elétrico da Cenibra, relatando as principais medidas tomadas nos últimos anos, para se atingir tal objetivo.
Considera-se que as medidas efetivadas contribuíram para uma significativa melhoria no
desempenho do sistema elétrico, reduzindo os custos de manutenção e aumentando sua disponibilidade e
confiabilidade.
Espera-se que a experiência da Cenibra possa servir para auxiliar outras plantas de celulose a
alcançar resultados semelhantes.

10 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] Costa, Paulo F.; “Sistema de Instantâneos Seletivos”; Revista Eletricidade Moderna. Ed.MM. Março,
1997.

[2] Dias, Adenilson. Ribeiro, Patrícia. Rennó, Francisco N. “Reles Digitais Microprocessados”; Rennó
Tecnologia e Representações Ltda. Fevereiro, 1997.

[3] Manual de Proteção do Sistema Elétrico da CENIBRA – Documento CNB: MO-000-70-0001.

[4] Costa, P. C. e Santos, I. M. – “Vantagens do Protetor por Limitação de Corrente – Clip” Revista
Eletricidade Moderna, Ed. MM, Dezembro 1990.

[5] Costa, P. C. – “Aterramento de Neutro com Resistor de alto Valor”. Revista Eletricidade Moderna, Ed.
MM, Julho 1989.

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