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É claro que em teoria isso já passa acontecer a partir da Proclamação da República, porém é
apenas mais adiante com a implantação de práticas burocráticas que essa distinção fica mais
clara. Vamos detalhar melhor essa ideia a seguir sempre tendo a história como norteadora de
nossa discussão.
Como prática não democrática do período podemos citar o Decreto-Lei 1.938 de 2 de janeiro de
1940, que dentre outros aspectos taxou a importação de papel feita pela imprensa, bem como
submeteu a importação de papel à autorização feita pelo governo por meio do Departamento de
Imprensa e Propaganda. Assim, podemos perceber que tais práticas favorecem a manutenção de
características patrimonialistas na administração pública brasileira, conforme vimos no post
anterior, principalmente por meio do amplo uso de decretos-lei substituindo a atuação
legislativa do Congresso: é como se Getúlio fosse o Rei e a “música tocasse” conforme seus
mandos e desmandos.
Por outro lado, mais especificamente em termos de gestão, temos uma pretensa mudança na
forma de conduzir a administração pública. Tal pretensão se concretiza com a criação do
Departamento Administrativo do Serviço Público – DASP, em 1938, que tinha dentre outros
objetivos implementar na administração pública brasileira os princípios da estrutura
burocrática. Dentre esses princípios destaca-se a profissionalização dos serviços, seja com o
ingresso dos funcionários nos quadros da administração pública por meio de concursos
públicos, seja por meio da substituição de critérios políticos por critérios técnicos na condução
da máquina pública. Tudo parece ótimo, certo? Pois bem, na prática as coisas não funcionaram
bem como se pretendia…
EU SEI, TU NÃO SABES, ELE NÃO SABE… NÓS SABEMOS, VÓS NÃO SABEIS, ELES
NÃO SABEM…
O que precisa ser mencionado, no entanto, é que muitas vezes essa inexistência de conflitos era
falsa. Os conflitos existiam sim, porém eles eram reprimidos pelo governo, que perseguia
aqueles que não se alinhavam ao espírito corporativista. Com o tempo, a ideia de
corporativismo foi se transformando e passou a ser entendida também como uma forma de
determinado grupo profissional defender seus próprios interesses. Ou seja, o Estado deixa de
ser protagonista e muitas vezes passa a ser visto até mesmo como antagonista, seja pela classe
empresarial, seja pela classe dos trabalhadores. Na prática da administração pública, isso vai se
configurar muitas vezes em ações ilícitas por parte de alguns funcionários públicos em relação
a seus próprios colegas, como: encobrir faltas, arquivar processos de sindicância, fazer vistas
grossas por irregularidades cometidas, etc (vai um dedo de silicone para bater o ponto?)
Durante o Regime Militar, que finaliza na segunda metade da década de 1980, houve uma série
de tentativas de se modernizar a administração pública brasileira, como foi o caso da edição do
Decreto-Lei nº 200 de 1967, que trata da Reforma Administrativa do Estado, que estabeleceu
como princípios fundamentais da Administração Federal: o planejamento, a coordenação, a
descentralização, a delegação de competência e o controle. A grande ressalva que se faz em
relação à administração pública no período diz respeito ao retrocesso político com a instauração
de um regime autoritário de governo, repressão aos adversários e às correntes político-
ideológicas contrárias às daqueles que detinham o poder. Por consequência, as ações e medidas
durante o Regime Militar traziam à tona, ainda que de forma implícita, muitas características
observadas durante a prevalência do modelo patrimonialista de administração pública, quando a
vontade do soberano era a lei.
Vimos, portanto, que uma série de iniciativas foram tomadas pelos governos que se sucederam
a partir da República Nova no sentido de modernizar a administração pública brasileira. O
objetivo era dar conta das transformações pelas quais o país atravessou ao longo do século XX
em busca do desenvolvimento econômico, tendo o Estado como principal indutor. Por esse
motivo a estrutura da administração pública cresceu, porém em desalinho com práticas
eficientes e eficazes de gestão e principalmente que garantissem o atendimento das demandas
dos cidadãos.