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Ja SEMANÁRIO GRATUITO

ANO I • N.º 23 • 24 Dezembro 2010


Director: Vlademiro Marçal
Propriedade: Medi@Capital, SA

Bom Natal
e Feliz Mudança de 2010 para 2011

Grande reportagem

O povo não aguenta


custo de vida
aumenta
Pág. 3

Grande entrevista

O protesto de Tito
cor partidária
não é lepra
Centrais

Isto vimos

Wikileaks crioulo
estoira
na América
Pág. 12
2 • Já • Sexta-feira 24 Dezembro 2010

editorial
com os pontos nos iii

Electra ameaça cortar energia à Praia

Consoada Vlademiro

comprometida Osvaldo Marçal


semanarioja@gmail.com

Electra ameaça cortar fornecimento de energia e água à Câmara Municipal da Praia (CMP)
se a edilidade não aceitar que alegada dívida de quase 40 mil contos lhe seja debitada nos
duodécimos do Fundo de Financiamento Municipal – FFM, transferidos pelo Tesouro.
A CMP reage: a empresa de eletricidade e água é a primeira devedora
saiu, imediatamente, reação reconhecendo o montante da
dívida, na qual dois terços remontam à gestão de
Felisberto Vieira, que nunca pagava à Electra e, mesmo
Se rima, é verdade
N
assim, não recebia ameaças de corte de energia. “A atal é a expressão da Esperança. Este ano, por razões
Electra estima que o valor da dívida, resultante do con- diversas, temos acrescidas razões para a Esperança, a tal
sumo corrente, seja de 39.645.383$00. Ela é tão recor- ponto que a esperança se faz corpo e espírito e ganha a
rente e ameaçadora em fazer cortes, que dias depois à solidez das certezas. Se, nesta quadra, ao encontro da tradição
posse desta equipa camarária, suspendeu o fornecimento cristã, cabe pensar nos que sofrem de injustiça, nos que vivem no
de energia. No entanto, esqueceu-se que é a primeira desespero que o desemprego sempre acarreta, nos que padecem da
caloteira da CMP. Acumula dívidas a esta edilidade no triste pobreza neste txon, que será de Deus e não de qualquer
valor de 54 mil contos, relativas a abertura de valas, outra tutela, por muito que os que se supõem dela donos o não
aluguer de postos de transformação, coimas e aluguer de queiram, este ano (que já se aproxima velozmente do fim) temos
espaços. Esta empresa tem ainda uma dívida para com a razões para, de maneira ativa, lhes podermos dizer: estamos

E
m tom ameaçador, a acreditar no teor da missiva CMP de 500 mil contos, resultante da ocupação de
da Electra, os munícipes da Praia podem ser con- convosco, há motivos para acreditar que o ano que está chegando
espaço aéreo e de subsolo”, esclarece Ulisses Correia e
frontados com mais um apagão nos próximos virá atenuar os vossos/nossos tormentos. E dizemo-lo sem a
Silva, alertando os munícipes para mais uma manobra da
dias e passarem a consoada à luz da vela. Como se não hipocrisia das esmolas. Dizemo-lo com vontade firme de tudo
Electra tentando ofuscar a opinião pública.
bastasse, a insegurança e o medo que atormentam as po- De acordo com Correia e Silva, a demonstração de mús- fazer para que o novo ano traga ao nosso País, ao nosso povo, a
pulações podem infernizar a quadra natalícia. “Tendo em culos por parte da Electra vem na sequência das recentes Mudança para melhor, para muito melhor.
conta os altos custos que a ELECTRA tem vindo a supor- declarações do primeiro ministro, José Maria Neves, que Há uma maneira de falar dos antigos: “rima e é verdade”.
tar com a disponibilização desses bens, reforçamos que na tentativa de desresponsabilizar-se dos constantes Esperança e Mudança rimam. Portanto… Portanto, são dois
com a não-aceitação da proposta estaremos impossibili- apagões que a cidade da Praia enfreta, tentou imputar luzeiros que nós queremos implantar na tradicional árvore
tados de continuar com os fornecimentos”, diz o comuni- responsabilidades à CMP, por dívidas àquela empresa. natalícia.
cado. Para o edil praiense, a atitude da Electra denota, clara- Sabemos que muitos e muitos lares cabo-verdianos não terão
mente, subserviência ao ‘chefe’ do Executivo cabo-ver- árvore de Natal: não porque a não desejem. Mas porque não
Electra é a primeira caloteira diano, com isso penalizando, sobremaneira, a economia podem. Porque a árvore, ainda que comprada a preço de “moia”
Dos punhos do presidente da Câmara Municipal da Praia da cidade e, naturalmente, os praienses. na “loja do chinês”, representa dinheiro que não se tem em casa.
Sabemos que em muitos lares cabo-verdianos a panela não irá ao
lume para a consoada a que, como o cimbrão, cada cristão deve

Autêntico “cancro” num dos cilindros, dando sinal de alerta ao técnico de


ter direito. E isso dói-nos. Como ferrete em brasa marca de
indignidade os responsáveis por esta situação.
É por isso que, com a nossa vontade cidadã, desejamos erguer, em
cada platô, em cada cutelo, em cada achada deste País cabo-
verdiano, deste País de todos os cabo-verdianos, uma árvore mais
serviço que, imediatamente, chamou o responsável de
alta do que aquele pináculo de metal e má memória que, em
produção. Este mandou parar, imediatamente, o grupo.
Entretanto, diz a fonte, o próprio responsável resolveu tempos idos, houve no Platô de Praia-Maria para lá colocar os
arrancar, depois, o grupo, sem as devidas inspeções. “O dois luzeiros que nenhum apagão anulará: o da Esperança e o da
chefe de turno, ao aperceber-se da dimensão do proble- Mudança.
ma, tentou agir para impedi-lo, parando, por lapso, o Cat Sabemos que está nas mãos de todos nós, e de cada um de nós,
– 3 em vez do Cat – 4”, conta a nossa fonte. Esta decisão que tal venha a ser possível. Em 2010, por força das coisas, isso
provocou a quebra de uma das válvulas que, ao atraves- ainda acontecerá como exercício de imaginação. Em 2011, por

J
á não é novidade que a situação na Electra é de ver- sar a turbina, fez com que esta se partisse, originando a força da razão e da tal vontade cidadã, queremos que isso
dadeiro caos. Aliás, foi o próprio primeiro ministro paragem das bombas, e isso provocou o blackout. aconteça na realidade. Depende apenas de nós, cabo-verdianos,
quem, há bem pouco tempo, a considerou “um Segundo a nossa fonte, que é também técnico da Electra, homens de boa vontade. 
cancro” a precisar de excelente fármaco para o combater. a peça partida está avaliada em mais de 60 mil contos. Na
O que ele, se calhar, não conhece (ou sonega informações sua opinião, o responsável de produção da Electra não
aos cabo-verdianos) são as causas desta efemeridade poderia cometer erro tão crasso que acabou por lesar os
maligna.
Já está em condições de avançar que a crise que aflige
munícipes da Praia nesse dia. Por isso, estranha que
depois aparecesse o engenheiro Pina, porta-voz da
Entrevistas de campanha
aquela empresa resulta de incompetência técnica associ- Electra, na comunicação social omitindo estas infor- Por razões a que Já é alheio, não é possível dar continuidade nesta
ada ao clima de tensão que se vive lá dentro, em virtude mações e afirmando que o blackout se devia exclusiva- edição à publicação de entrevistas com os candidatos a Primeiro
de medidas persecutórias contra os que não alinham na mente ao teste nos grupos de TRC, recentemente instala- Ministro propostos pelos partidos com assento parlamentar:
cartilha de desmandos e inépcias de alguns responsáveis. dos no Parque Fotovoltaico, em Palmarejo. António Monteiro, líder da UCID, já se predispôs a concedê-la, mas
A situação é de tal sorte que, por mais graves que fossem A nossa fonte pergunta o porquê de não se ter feito devido a deslocações relacionadas com os preparativos da campa-
as frequentes avarias nos grupos de geradores, muitas nenhum inquérito sobre este caso, para apurar as causas nha do seu partido, ainda não foi possível realizá-la. Quanto ao
vezes provocadas pela incúria de alguns técnicos, do apagão e identificar os verdadeiros responsáveis. Este PAICV e a José Maria Neves, embora a entrevista tivesse sido soli-
ninguém ousa denunciar quem quer que seja, com medo técnico assegurou-nos que, se o Governo estivesse citada pelo nosso jornal, ainda não houve resposta. Aguardamos.
de represálias. interessado em apurar responsabilidades e causas das fre-
Vejamos: a 11 de Dezembro, dia da “Festa Facebook 5000 quentes avarias na Electra, através de um meticuloso
Telefone: (00238) 2623817
amigos de Carlos Veiga” – inesperado, um blackout dei-
xou os presentes na Gamboa furibundos. Foi provocado
inquérito, teria facilmente resultados, pois existem
condições técnicas que o permitem fazê-lo. Desde logo, Já SEMANÁRIO GRATUITO E-mail: semanarioja@gmail.com
Propriedade: Medi@capital, SA
por um dos técnicos do turno de serviço das 16 às 24 horas. as câmaras – CMG – que registam todas as informações Administração e Redação: Director: Vlademiro Marçal
De acordo com fonte na Electra, um grupo de maior de avarias nos grupos, bem como os movimentos dos téc- Largo Eusébio da Silva Ferreira, Design e Paginação: Medi@capital, SA
potência, Caterpillar 4 (Cat – 4), subiu de temperatura nicos durante todo o turno de serviço. Achada de Santo António, Cidade da Praia, Impressão: Grafedisport SA
Ilha de Santiago, Cabo Verde C.P. 669 Tiragem: 20.000 exemplares
Já • Sexta-feira 24 Dezembro 2010 • 3

na rota dos dias


Orlando Delgado denuncia governo Má criação como regra na UNICV

Direção do ex-ISE
“Chegou a hora também dispensada

do julgamento” por e-mail


O governo tem apostado em asfixiar Santo Antão. As últimas chuvas deixaram
avultados prejuízos na ilha: estradas cortadas, agricultores sem parcelas de terra,
entre outras situações. O primeiro-ministro prometeu, em 2003, reabilitar (em 15
dias) o cais da Boca de Pistola (Na Ponta de Sol) e, até então, nada se fez.
Os problemas sociais persistem e a ilha já contabiliza 27 por cento de desemprego

A
situação socioeconómica da Figueira Alta. Chegou o PAICV ao
ilha de Santo Antão é, neste poder em 2001, a partir daí, nunca
momento, bastante precária. mais se ouviu falar do projeto.
Esta é a análise do Presidente da
Câmara Municipal da Ribeira Grande Aeroporto adiado
(CMRG) de Santo Antão, que pede ao Delgado mostra-se igualmente pre-
governo para deixar de asfixiar a ilha. ocupado com o projeto de construção
“Nos últimos anos perdemos cerca de do aeroporto. “Estamos perante uma
3 mil habitantes, tudo reflexo de uma Na UNICV continuam a ser dispensados quadros
outra situação duvidosa, uma vez que
política que o governo adotou para não se sabe em que pé está este proje- dirigentes por e-mail. Agora, coube a vez à Comissão
asfixiar Santo Antão”, revela, to, não se conhece por ora os resulta- Colegial Interina da Delegação do Departamento de
avançando que a ilha tinha oito de- dos do estudo que recomenda ou não a
putados na última legislatura, e que, a
Ciências Sociais e Humana, ex-ISE. Na Universidade
construção do aeroporto, o que, a Pública a máquina, decididamente, substitui as relações
partir de 2011, só vai ter seis. nosso ver, é importante e determinante
Em declarações ao Já, Orlando Del-
Orlando Delgado no desenvolvimento de Santo Antão”.
interpessoais: a má-criação tornou-se método
gado revelou que Santo Antão tem, “É bom os cabo-verdianos lerem o
neste momento, uma taxa de desem-
prego à volta dos 27%, e o governo
avançou ao Já ter
enviado ao governo um
estudo produzido pelo Ministério da
Descentralização que traz indicadores
O s membros da Comissão gnação” pela forma como os ele-
Colegial Interina da mentos foram tratados. “Houve
Delegação do Departamento de falta de respeito e consideração por
tem-se mostrado pouco solidário em dos últimos 4 anos, relativamente aos Ciências Sociais e Humanas da pessoas que têm dedicado muitos
relação aos reais problemas da ilha, plano de urgência, contratos-programa assinados com os UNICV, ex-ISE, foram também anos da sua vida ao ISE”- comen-
essencialmente agrícola, abandonada municípios, e onde se vê o grau de dis-
à sua sorte. “O ministro do Ambiente orçado em cerca de 89 dispensados por… e-mail. Isadora ta-se. As pessoas dizem que
criminação que o governo está a fazer Fortes, que presidia à comissão, estavam à espera de um tratamento
e Recursos Marinhos (José Maria mil contos, em relação às câmaras municipais de
Veiga) anunciou o projeto de realiza- Marina Ramos e Olavo foram sur- normal: “que fossemos informados
cor política diferente da do poder cen- preendidos por e-mail dirigido a pessoalmente do fim da comissão.
ção de 16 furos, e três barragens, mas mas o governo nem tral”, estranhando a falta de soli-
é meu entender que é uma estratégia “toda a gente”, colocando fim à Mas, o que fizeram, foi enterrar o
eleitoralista”, até porque não há
sequer dignou responder dariedade do executivo para com os comissão de gestão que, desde 3 de morto antes de comunicar que fale-
santantonenses. As últimas chuvas Setembro, dirigia o Departamento. ceu”. E no ex-ISE considera-se que
equipamentos para perfuração e olha ao pedido da CMRG, o deixaram estragos avultados, deixa- “esta postura de
desconfiado para a possibilidade de o Os membros da
que para o autarca ram os agricultores sem parcelas de Comissão conside- desrespeito não é
governo incrementar a modernização terra, os motoristas a circularem em “O que fizeram,
ram “normal o fim aceitável”. Não
do setor. “Os campos vão sendo aban- constitui uma autêntica estradas em péssimas condições, lo- da sua gestão, até foi enterrar fazem paralelo com
donados, não há uma linha de crédito calidades isoladas e, perante todo este
afronta para o povo de porque era interina, o morto antes o que aconteceu
para os agricultores, e estes, desani- cenário, o governo não “tugiu nem por isso temporária. com a direção do
mados, estão entregues à sua sorte”, Santo Antão mugiu”. de comunicar que
Sabiam que haveria ex-ISECMAR,
revela.
O autarca é de opinião que a pobreza de chegar ao fim”. faleceu”. mas “a falta de
Mas ficaram choca- E no ex-ISE respeito no trata-
tende a alastrar-se na ilha, e o governo
seu olhar crítico é o das pescas. “O
Governo ignora
dos com a forma mento das pessoas
pouco ou nada tem feito para debelar
primeiro-ministro, aquando da real- problemas de Santo Antão como as relações
considera-se que foi a mesma.”
a situação. “O perfil social da ilha é
essencialmente constituído por mul-
ização do Conselho de Ministros, rea- Orlando Delgado avançou ao Já ter interpessoais, numa “esta postura Como já vem sen-
lizada em Santo Antão, em 2003, disse enviado ao governo um plano de instituição como a de desrespeito não é do hábito, depois
heres chefes de família, e a questão da
que no espaço de 15 dias iam enviar urgência, orçado em cerca de 89 mil UNICV, foram dos estragos morais
habitação é um dos problemas mais
técnicos da ENAPOR para efetuar contos, com vista a colmatar tais estra- substituídas por
aceitável” causados pelo e-
graves”, sugerindo que se o governo,
estudos, a fim de reabilitarem o cais gos, mas o governo nem sequer dig- uma máquina “e -mail, veio um
pelo menos, ajudasse em matéria de
de Boca de Pistola que foi tragado nou responder ao pedido da CMRG, o ainda por cima tiveram conheci- pedido de desculpas por telefone.
construção de habitação social, segu-
pelo mar. Até hoje, o cais continua que para o autarca constitui uma mento ao mesmo tempo que toda a Pode não haver semelhanças com o
ramente a pobreza seria reduzida,
como estava: os pescadores têm imen- autêntica afronta para o povo de Santo comunidade escolar”. caso da ISECMAR, mas é estranho
substancialmente.
sas dificuldades para se fazerem ao Antão. “Com tais opções, quem paga Esta atitude do presidente do que as direções de dois departa-
mar”, recordando que havia um proje- é o povo, não é Orlando Delgado que Departamento de Ciências Sociais mentos da UNICV no Mindelo
Setor das Pescas to financiado para um cais em Ponta está sendo asfixiado, mas sim o povo, e Humanas, vinda em mais um e- sejam afastadas por… correio ele-
bloqueado de Sol, que iria servir toda a região e cabe ao povo julgar quando chegar a mail com origem na cidade da trónico, no espaço de quinze dias.
Um outro setor a que Delgado lança o norte, desde Paúl, Janela, Sinagoga e hora”, conclui. Praia, causou “mal-estar e indi- Ou não será?
4 • Já • Sexta-feira 24 Dezembro 2010

na rota dos dias

Cinco anos depois do motim na Cadeia de São Martinho

Engavetado processo
contra Carlos Graça
Completam-se, este sábado, dia 25, cinco anos sobre o célebre motim da Cadeia Central de São Martinho, que provocou a morte do recluso António Henrique Vaz
de Carvalho e deixou vários feridos. Carlos Graça, na altura tenente das Forças Armadas e diretor do estabelecimento prisional, foi acusado de ter provocado a
revolta e ordenado a repressão, com a colaboração de guardas prisionais, agentes da Polícia de Intervenção e Judiciária

D
ecorridos cinco anos, os revolta que foi consequência da sua a demora da justiça neste crime que não se quis identificar, o Natal processo mandado instruir pela
familiares das vítimas estão ordem a proibir nesse dia visitas dos hediondo cometido na Cadeia de São deste ano traz-lhe à memória os tristes Procuradoria da Comarca da Praia, a
profundamente desapontados familiares. Na sequência desta Martinho é Manuel Faustino, presi- acontecimentos de 25 de Dezembro de cujo conteúdo tivemos acesso, os pre-
com a Justiça cabo-verdiana, pois acusação, Carlos Graça fugiu para os dente de Associação Zé Moniz. Para 2005. “Não é fácil para um pai presen- sos, na ocasião, foram retirados das
tanto quanto Já sabe, o Ministério EUA, onde foi julgado e condenado este ativista dos direitos humanos e ciar o espancamento do seu filho e não celas e levados para o pátio, onde
Público deu por concluído o processo por “mentir perante um juiz de imi- responsável associativo, em circuns- poder fazer nada”, protesta ele por sofreram bárbaros espancamentos por
de instrução deste caso. De acordo gração norte-americano que nunca tâncias normais o processo já deveria entender que a justiça já deveria ter policiais e guardas prisionais, tendo
com fonte do Tribunal da Comarca da tinha sido detido ou acusado de qual- ter chegado ao fim, até para se encon- sido feita, até para acalmar os ânimos inclusive alguns deles ficado inanima-
Praia, que confirma a conclusão do quer crime noutro país”. trar os verdadeiros culpados daquele dos familiares. “É preciso que a justiça dos. Perante esta situação, Carlos
processo, este encontra-se engavetado Kylly S. A. Fernandes, a Procuradora motim. “Desde o início, fomos claros se faça para que possamos saber quem Graça foi afastado do cargo pela então
sem data marcada para julgamento. da República que teve a seu cargo a em afirmar que era necessário que fos- são os verdadeiros culpados desse ministra da Justiça, Cristina Fontes,
Carlos Graça, recentemente deportado investigação deste caso, confirma que sem apuradas as responsabilidades e triste acontecimento que manchou o tida até aí como protetora e madrinha
dos EUA depois de ter cumprido nesse o processo em Cabo Verde ainda não punidos os autores, em nome da justiça nosso Natal de 2005 e deixou o País do então diretor. O caso foi ao tribunal
país três anos de prisão, incriminado foi a julgamento, mas descarta qual- e da tranquilidade social”, disse aquele mergulhado numa profunda dor e cons- em Março de 2006: Graça e mais qua-
por prática de sete crimes de falsifi- quer possibilidade da sua prescrição. responsável, que se mostra algo pre- ternação”, remata, triste e indignado. tro guardas prisionais foram detidos e
cação de documentos e quatro de per- “Este processo tem 15 anos para pres- ocupado com a demora do julgamento, O motim, recorde-se, remonta ao dia acusados de crime de tortura, por
júrio, encontra-se recolhido no esta- crever, portanto ainda vai a tempo do uma vez que as vítimas clamam por de Natal de 2005, quando o ex-director determinação da Procuradoria da
belecimento prisional militar de Jaime seu julgamento”, garantiu a magistrada justiça. decidiu impedir visitas aos reclusos da República.
Mota, em S. Vicente, à espera do julga- do Ministério Público, desmentindo os No entendimento de Manuel Faustino, Cadeia de São Martinho o que gerou a Entretanto, o juiz decretou que
mento, uma vez que goza do estatuto rumores de que o arguido Carlos o uso da força pelas autoridades para confusão. Revoltados, os reclusos aguardassem em liberdade, mediante
de militar de carreira. Graça estaria livre e a viver no repor a ordem em São Martinho, per- puseram-se aos gritos e a bater no termo de identidade e residência, as
Graça, recorde-se, foi acusado pelo Mindelo. turbada pela revolta, foi claramente gradeamento. O piquete de guardas foi démarches do processo. O que
Ministério Público por “crime de tor- desproporcional, já que os agentes de chamado para restabelecer a ordem e ninguém consegue explicar é o porquê
Julgamento urge para a segurança, na altura, tinham a situação disparou sobre os presos, provocando da morosidade deste julgamento, con-
tura”, cometido por vingança ao
motim de presos decorrido na prisão tranquilidade social controlada. um morto e vários feridos. cluído que foi, há mais de quatro anos,
de São Martinho, no Natal de 2005: Quem também não está satisfeito com Para um familiar de uma das vítimas, De acordo com as testemunhas do o processo de instrução.
Já • Sexta-feira 24 Dezembro 2010 • 5

sem perdão
Polícias indignados com “falsa acusação”

Monstro de
S. Domingos:
assassino e necrófilo
Ao que parece, Evanildo, o “Monstro de S. Domingos”, não
terá sido agredido por policiais. Os traumas físicos nos
genitais terão sido causados por contato sexual com o
cadáver da jovem assassinada

O s elementos da brigada anti-


crime que participaram na prisão
de Evanildo, autor confesso da morte
Segundo a mesma fonte, Evanildo terá
confessado o crime e fornecido deta-
lhes aos elementos da brigada, sem
da jovem Carla Patrícia, omitir nada. Aliás, o
21 anos, ocorrida em S. mesmo Evanildo manteve
Domingos, estão indigna- as suas declarações na
dos com as declarações audiência judicial que
dos familiares do alegado determinou a prisão pre-
homicida. ventiva.
Em declarações prestadas Na origem da sua deslo-
à imprensa, a família havia cação ao hospital, estará o
acusado os policiais de facto de lhe ter sido deteta-

O caso do advogado agredido terem usado de violência


injustificável na detenção
e de se terem deslocado à Cadeia de S.
da infeção no pénis,
durante inspeção médica
na cadeia de São Martinho. A mesma
Martinho para agredir o ex-fuzileiro fonte adianta que tal infeção se deveu

Mera desavença
que se encontra em prisão preventiva – ao facto de Evanildo ter tido contatos
o que, supostamente, estaria na origem sexuais com a vítima, depois desta já
da sua passagem pelas urgências do estar morta.
Hospital Agostinho Neto. Para os elementos do BAC, “estamos
Segundo fonte próxima ao BAC, estes na presença de uma tentativa medíocre

de vizinhos… ou…
policiais “em momento algum usaram de desculpabilizar e de desviar as
de violência no decurso da prisão e atenções da verdadeira dimensão do
interrogatório do alegado criminoso”. horror que este crime comporta”.

Advogado praiense queixou-se de agressão por alegados militantes do


Por causa de um telemóvel
PAICV. Indignados, ex-vizinhos desmentem-no e afirmam não haver
nenhuma relação política. Replicando, o causídico confirma tudo
Adolescente
A
denúncia, feita pelo advogado
Laurindo Neves neste sema-
nário (edição de 10 de Outu-
alegada conduta causava ao con-
domínio mas, diz Rosa, em vão: o
causídico continuou com as suas práti-
tra a lei, o próprio ministério da Saúde
o aconselha como forma de afugentar
os mosquitos”. Quanto aos líquidos,
esfaqueado
Meliantes passaram a atacar nas imediações de escolas, quan-
bro), em que acusava um grupo de mi- cas. “Tudo o que conseguimos foi um alega serem “água com creolina que
litantes do PAICV de persegui-lo e ata- papel por ele colocado na porta de sempre ordenei à minha empregada do a polícia está ausente. E andam armados com facas
cá-lo à porta de casa, foi alvo de des-
mentido por parte dos vizinhos do ju-
rista, no prédio da Achada de S. Filipe.
casa, ordenando que ninguém o inco-
modasse”.
Várias queixas apresentadas na polícia
que utilizasse na lavagem das es-
cadas”.
Laurindo Neves reafirma o que havia
U m rapaz de 16 anos é acusado de
esfaquear um aluno da Escola
Jorge Barbosa, de 15, para lhe roubar o
avançam com queixa-crime junto do
Tribunal.
O estado psicológico do adolescente
Segundo eles, o que tem vindo a pas- não surtiram efeito e causou surpresa dito ao Já: “o que eles dizem é tudo telemóvel. Aconteceu na subida de atacado não é bom, como frisa a mãe:
sar-se nada tem de política, ou com aos moradores a notícia publicada no mentira! Eu e a minha esposa fomos Cruz de João, Mindelo. Segundo a mãe “perdeu a concentração e ficou com
processos que porventura o advogado Já: “estranhamos que ele tente dar surpreendidos por este grupo que esta- da vítima, “cerca das 13H40, o meu problemas durante o sono”. Tem medo
tenha defendido. Adianta uma vizinha conotação política a factos que de va à nossa espera. E esta não foi a filho descia a estrada de Cruz de andar sozinho e a pé, agora só vai de
- em declarações ao Já, corroboradas política nada têm” - é ainda a nossa primeira vez”. E, por recear pela sua (Assomada) e foi intercetado por três autocarro para a escola, “uma situação
por um outro - que Neves cria mau interlocutora quem o afirma, ao segurança, ao que nos diz, o advogado rapazes. Pediram-lhe os pertences, o que lhe retira liberdade”.
ambiente e não se dá com ninguém. mesmo tempo que exibe cópia da últi- (assessor jurídico da Polícia Municipal meu filho resistiu e um deles puxou da Apesar da PN marcar presença na saí-
“O problema é que este senhor tem por ma queixa apresentada na Esquadra da Praia) mudou de casa, livrando-se faca. Atingiu-o no pulso direito. Depois da dos alunos das escolas de São Vicen-
hábito práticas religiosas que pertur- Policial de S. Filipe, com a data aposta de uma vizinhança em rota de colisão. fugiu, levando o telemóvel”. te, estes transformam-se em alvo fácil
bam a tranquilidade dos moradores e de 4 de Julho deste ano (e que se À despedida, Neves ainda remata: “no A vítima foi socorrida pelo pai, que para os meliantes, que atacam nas horas
põem em causa o bem-estar de todo o encontra em nossa posse). momento certo, tudo será clarificado e mora nas imediações. O jovem esfa- em que não existe vigilância policial.
condomínio”, alega Rosa (nome fictí- Naturalmente, confrontámos o advo- as pessoas compreenderão melhor o queado, assistido no Medicentro, rece- Como neste caso, em que o aluno foi
cio). E acrescenta: “essas práticas vão gado Laurindo Neves com a versão que venho afirmando”. beu aí curativos. Os pais apresentaram atacado quando seguia para a escola.
desde defumadores no vão das es- dos agora ex-vizinhos – é que, entre- Independentemente de uma ou de queixa no Comando da Polícia Na- Os relatos de esfaqueamentos mostram
cadas, indo até ao ponto de deitar líqui- tanto, o causídico mudou de residên- outra versão, uma coisa é certa: quer o cional. mudança no comportamento dos
dos mal cheirosos nos espaços comuns cia. Neves começou por dizer desco- advogado quer a esposa aparentavam O telemóvel foi recuperado, pois o assaltantes de São Vicente. O ladrão
do prédio, perturbando o bem-estar nhecer as queixas alegadas por aqueles marcas de agressão. E, quer uma quer agressor foi identificado por pessoas que se limitava a surripiar coisas já não
coletivo”. que agora o contradizem, e que nunca outra versão tem, no plano da lógica, o que passavam no local: é filho de uma existe: os assaltantes andam agora
Por diversas vezes, segundo dizem, os foi chamado a prestar declarações. mesmo grau de exequibilidade. colega de trabalho do jovem esfaquea- armados de facas e não hesitam em
moradores tentaram sensibilizar o Quanto às acusações de utilização de Quem fala verdade? É a interrogação do. O alegado agressor não ficou deti- usá-las, mesmo para roubar apenas…
advogado para o transtorno que a sua defumadores, diz-nos que “não é con- que fica. do por ser menor, mas os pais da vítima um telemóvel.
6 • Já • Sexta-feira 24 Dezembro 2010

cá se fazem

Os novos agentes vão poder agora fiscalizar o trânsito rodoviário e pedonal (embora não tenham competência
para aplicar coimas), o comércio público e privado, e assegurar o cumprimento dos regulamentos municipais

Novos guardas municipais tomaram posse

Praia mais segura


Com seriedade e trabalho a obra nasce. Parece ser este o sentido da vereação da capital que, com olhos de ver, revela uma nova cidade que se constrói
com novas práticas e uma vontade firme


A
Guarda Municipal (GM) é um amigo nham competência para aplicar coimas), o a porte de arma.
que vem ajudar-nos a tornar a cidade
mais segura, mais atrativa e com
mais qualidade de vida”, assegurou no sábado,
comércio público e privado, e assegurar o
cumprimento dos regulamentos municipais.
Com a ajuda da polícia, podem ainda fiscalizar
O acto de investidura dos agentes da GM, con-
tou com a presença de vários convidados, entre
eles, o presidente da Câmara Municipal de
A obra nasce
o presidente da Câmara Municipal da Praia, no o comércio ambulante, verificar as licenças de Água Grande, São Tomé e Príncipe. A cerimó- A Câmara da Praia não pára. Bem pelo con-
acto de posse de 45 elementos da nova corpo- táxi, promover a remoção de veículos, advertir nia iniciou-se com a parada da Guarda trário, com seriedade e competência a autar-
ração, que vai estabelecer e assegurar maior para a violação do Código de Postura Mu- Municipal e revista, efetuada por Ulisses quia tem vindo a trabalhar, juntamente com
autoridade pública na capital do país. nicipal e fiscalizar a publicidade nas viaturas. Correia e Silva, seguindo-se a entrega de a empresa MSF, para concluir a rua pedonal
Os novos agentes vão poder agora fiscalizar o Apesar do poder administrativo que lhe foi prémios e diplomas e o juramento prestado 5 de Julho, que avança a bom ritmo, faltan-
trânsito rodoviário e pedonal (embora não te- conferido, a Guarda Municipal não tem direito pelos novos elementos. do apenas a iluminação e outros equipamen-
tos urbanos.
As obras do novo urinol e piso da Praça
Alexandre Albuquerque já estão pratica-
mente concluídas e, na segunda semana de
Janeiro, irá nascer a nova Esplanada, no
mesmo local que tantas saudades deixou aos
praienses.
A Praia parece ter mesmo solução.
Já • Sexta-feira 24 Dezembro 2010 • 7

Tempo de programas

Quem
vê caras,
vê corações
F
oi importante evento político. Mas foi também acontecimento
social aquele que ocorreu no Salão Nobre da Assembleia Joana e Lélis: cabeças no feminino
Nacional no passado domingo, dia 19. Tratava-se da apresen-
tação do Manifesto Eleitoral do Movimento para a Democracia (“As
pessoas primeiro”) e os nomes mais sonantes da tribo ventoinha com-
pareceram em peso, a par de ativistas em destaque nas diversas zonas de
ação. E muitos jovens. Rostos alegres: o Manifesto, sendo exposição das
ideias fundamentais do seu projeto, implicava a assunção clara da dis-
posição à luta e de compromissos. Fazê-lo com alegria é bom sinal –
onde há alegria, não haverá ideias reservadas.
Ali vimos, com Veiga, os anteriores líderes: Agostinho Lopes, Jorge
Santos. Ex-dissidentes agora remando no mesmo barco. Muitos autarcas:
Orlando Delgado, Amadeu Cruz, Ulisses Correia e Silva, Manuel de
Pina, Fernando Jorge Borges, João Domingos, João Duarte. A nova ge-
ração: Miguel Moreira, Milton Paiva, Carlos Monteiro, Luís Carlos
Silva… A afirmação feminina: Filomena Delgado, Eunice Silva, Orlanda
Ferreira, Janine Lélis… Deputados que foram: Rui Figueiredo,
Humberto Cardoso, Jorge Nogueira, José Luís Santos, Joel Barros,
Francisco Dias, Mário Fernandes, Mário Silva, Fernando Elísio, Miguel
Sousa… Responsáveis regionais e locais: José Filomeno, João Cabral…
Um anunciado candidato à Presidência da República: Amílcar Spencer Atento às vozes Agostinho e Abraão, a importância de ser A
Lopes. Alguns diplomatas: da China, da Rússia…
Ali vimos aqueles que, muito em breve, seriam anunciados candidatos-
surpresa a deputados: como Abraão Vicente, rosto que salta dos écrans
televisivos para a ribalta da política; ou David Lima Gomes, que por esta
via regressa à sua DjaBrava.
E mais centenas de rostos, uns mais conhecidos, outros menos. Mas
todos sorridentes – que a jornada era também de festa. De comício não
era tempo, embora se mostrassem imagens (um longo vídeo) de muitos
comícios por que Carlos Veiga já passou nesta sua campanha. Era (sim)
tempo de ideias, de projeto, de palavras e, por isso, o líder falou, ao por-
menor, do seu programa (indubitavelmente inovador), com o claro
propósito de explicar os porquês, os para quês e os comos.
No palco ressaltavam cores de verde, sinal de renovação. E Veiga,
aparentando boa forma física e não beliscado pelo cansaço, recolheu no
fim os aplausos, os vivas, as solidariedades. Nem faltou o comovido
abraço de Lurdes Miranda – foi sua professora e quis estar ali para se Mário Silva e Miguel Sousa Autarcas vigilantes
congratular com o seu antigo pupilo.

Preparados para a corrida final

O abraço de Nha Lurdes: a comoção Juventude agarra o futuro Ulisses e Santos, vices ombro a ombro
8 • Já • Sexta-feira 24 Dezembro 2010

grande reportagem
custo
de vida
aumenta
Carla Fernandes (texto) | José Ramos (fotos)
O povo não aguenta

Sem alarde, pela calada obscura – estratégia de cobardes e vendedores de


ilusões – o aumento do custo de vida agrava-se e incide sobre os bens
essenciais. Quem sente a crise são os pobres e a classe média baixa. Os
ricos, os “eleitos” das benesses do Estado – a troco de fidelidade partidária –,
pavoneiam a sua arrogância alarve numa afronta à miséria alheia.
O Natal não é para os pobres…
ircunstância muito enfatiza- oportunidades e de desenvolvimento de assalto pelos avençados do partido. verno falou do 13º, mas, pelos vistos,

C da pela propaganda do
governo, Cabo Verde é um
país de “desenvolvimento
médio”, mas o aumento do custo de
vida tem acelerado mais que o próprio
para todos os cabo-verdianos, o gover-
no manifesta-se impotente e sem outro
recurso que não seja a propaganda e a
falácia eleiçoeira.
O queixume de Eloísa não pára. As
palavras saem em catadupa num grito
de revolta: “o pior é que o nosso venci-
mento é sempre a mesma coisa, nunca
muda, enquanto o preço da comida
nunca sairá do papel. Quanto ao Natal,
a enfermeira não vai olhar para os pre-
ços: “vou comprar presentes para os
meus dois filhos, meus pais, meu ma-
rido… nestas épocas acabamos sempre
progresso, e o salário da maioria dos Salários de miséria aumenta todos os dias. Nesta época na- por exagerar”.
cabo-verdianos não consegue acom- Para Eloísa Semedo, de 29 anos, talícia a situação não será diferente,
panhar este ritmo porque a economia empregada de limpeza, que ganha como tem sido hábito terei de poupar o Vidas por um fio
está estagnada há anos e os salários menos de dez mil escudos, “o custo de máximo que puder”. Para Ana Tavares, 43 anos, a vida tem minhas refeições têm sido uma sopa de
estão, na prática, congelados - princi- vida está muito alto porque todos os “Em Cabo Verde o custo de vida é sido cruel. Cabeleireira de profissão, pacote, que é vendido por cinquenta es-
palmente na função pública. dias aumenta o preço dos produtos, e bom, principalmente Ana considera que “o cudos, e graças às senhoras que vendem
O custo dos bens essências, tais como quem não tem condições de comprar na cidade da Praia, é só Os pequenos custo de vida é muito comida na rua é que não passamos fo-
gás, arroz, leite entre outros, tem fica passando necessidades”. Segundo saírem às ruas e consta- comerciantes estão a difícil, muito complica- me. Aqui, com cinquenta escudos con-
aumentado exponencialmente, o que Eloísa, “estes preços só estão acessí- tar que os cabo-verdia- segues comer um pedaço de peixe frito,
contrasta com a fraco poder de compra veis para quem tem dinheiro, nós que nos têm tido poder de
perder clientes para o do mesmo. Há dias que
não tenho nada para papa com leite, ou mesmo pastéis”.
dos cidadãos. Num país onde o poder somos pobres, ninguém olha para nos- compra, e isto mostra o chamado comércio comer, e quem me es- E, enquanto alguns gastam fortunas em
político empata legislação que contem- sa situação. Acabei de sair do super- nível de vida das pes- informal, que para tende a mão é a minha prendas e na ceia, o Natal de Ana vai
ple o salário mínimo, trabalhadores mercado, gastei metade do meu salário soas. Para mim o nível patroa. Eu não vivo, ser um dia como os outros. ”Não posso
muitas famílias se
sem qualificação são os que mais sen- e não vejo nada no carrinho. O preço de vida melhorou mui- sobrevivo. Meus filhos poupar o que não tenho, meu Natal vai
tem a carestia. do leite, arroz, e gás está exagerado, o to, e as pessoas conse- revela solução imediata vivem com a minha ser triste como os outros passados, sem
Os pequenos comerciantes estão a governo tem de fazer alguma coisa guem jogar com o que para fintar a fome irmã porque não tenho ceia, sem presentes. O que me entriste-
perder clientes para o chamado comér- para resolver este problema”. têm”, diz Paula (nome condições financeiras ce, é que o meu filho me pediu uma bi-
cio informal, que para muitas famílias As queixas são mais que muitas, e o fictício), de 38 anos, enfermeira, classe para os sustentar” – desabafa à equipa cicleta e não vou poder lhe oferecer”.
se revela solução imediata para fintar a governo é visto como o grande respon- média alta. Para ela “o aumento de pre- de reportagem.
fome. Sem um plano de combate à sável pela situação. Os mais pobres é ço é natural, o único senão é em rela- Num contexto destes, a alimentação Comércio informal
pobreza, sem visão política que permi- que pagam e sustentam a ostentação ção ao salário dos funcionários públi- não é adequada para quem trabalha e
ta mobilizar a sociedade para a cons- fútil dos poderosos que vivem à som- cos que continua sempre a mesma coi- precisa de uma dieta equilibrada. “Faz
mitiga fome
trução de um modelo de igualdade de bra (e à conta) de um Estado tomado sa, está estagnado”. E adianta: “o go- muito tempo que não como carne, as A desigualdade social é de tal modo
Já • Sexta-feira 24 Dezembro 2010 • 9

Lurdes Tavares Eloísa Semedo


Ana Tavares José Carvalho

evidente, que quem andar pelas ruas da moradores mais carenciados estão a do e dono de uma mercearia. Para o co- camente vazias e, sem produtos os alguma coisa, mas quando pago os
cidade da Praia depara com mulheres, recorrer ao chamado “comércio infor- merciante, a barragem construída fez clientes procuram noutro sítio. impostos não sobra muito”.
crianças, idosos na mais extrema mal” para alimentarem a sua família. E baixar os preços da mandioca, banana e Segundo a comerciante Lurdes Tava- Quem passeie pelas ruas da Praia - e
pobreza. Neusa da Veiga 31 anos, está o bairro do Brasil não é exceção. Por lá tomate. E acrescenta res, “as pessoas têm re- faça fé nos outdoors do governo - pen-
Acentuam-se as
desempregada e consegue driblar a encontram-se senhoras vendendo um que “os produtos mais clamado muito porque sa ter aterrado no “país das maravi-
pobreza graças à boa vontade dos vizi- pouco de tudo, e quase sempre os ali- caros são os impor- desigualdades sociais, não têm poder de com- lhas”. São as “17 barragens” – quando
nhos. “Gás, hoje em dia é um luxo, nem mentos são confecionados ali mesmo, tados, como gás, arroz, aumentam os casos de pra e os preços dos pro- todos sabemos só haver uma; é a elec-
todos conseguem compra, e, por isso, na rua. E não falta quem compre - leite - e, infelizmente, miséria extrema e, ao dutos estão altos. Os trificação de “95 por cento” do país –
tenho recorrido a lenha para cozinhar. garantem os vendedores. Os pequenos não podemos fazer na- meus clientes estão a coisa para rir, já nem falando nos apa-
Os vizinhos dão-me sempre alguma comerciantes queixam-se da dificul- da em relação ao preço. mesmo tempo, há desaparecer, e se as coi- gões…
coisa para comprar nas vendedeiras, dade em manter o negócio, não con- Antigamente existia a toda uma burguesia sas continuarem neste Mas a realidade é bem diferente e, em
aqui na rua, porque nas mercearias os seguem ter lucros, porque o pouco que EMPA que ia buscar alapada à sombra do ritmo…” – deixa no ar matéria de carestia, acentuam-se as de-
produtos estão demasiados caros”. ganham é usado para pagar os impos- produtos ao estrangeiro a frase incompleta, co- sigualdades sociais, aumentam os ca-
O seu Natal vai ser como o de Ana: tos extremamente altos. e nos vendia mais bara-
Estado que se mo que apelando a al- sos de miséria extrema e, ao mesmo
“Não tenho nada para gastar, meu de- “A reforma que recebo é muito pouco, to, mas fecharam a em- pavoneia guém que resolva a tempo, há toda uma burguesia alapada
sejo seria cozinhar alguma coisa para e quando pago a luz e a água, o que presa e ficamos nesta situação”. Com o desdita e dê qualidade de vida ao povo. à sombra do Estado que se pavoneia,
ceia, mas não tenho condições. Espero sobra não dá para nada. A minha mu- olhar perdido no vazio, Carvalho E diz-nos que, para reabastecer a mere- num misto de imoralidade e arrogância
que os vizinhos ou as minhas irmãs me lher tem 59 anos e ainda trabalha com desabafa ainda: “como podem ver, de- ceria, compra a grosso num determina- tola, nos seus topo de gama e nas rou-
convidem para passar a ceia com eles”. enxada na agricultura para ajudar em vido ao aumento dos produtos, as pra- do valor “e para revender aumento cer- pas de marca compradas nas lojas de
Na maioria dos bairros, nota-se que os casa”, afirma José Carvalho, reforma- teleiras da minha mercearia estão prati- ca de 20 escudos para poder ganhar Lisboa ou Londres.
10 • Já • Sexta-feira 24 Dezembro 2010

pela boca grande entrevista


É, sem dúvida,
um dos grandes
embaixadores
da cultura
cabo-verdiana.
Aos 47 anos,
o crioulo Tito
Paris, cidadão
de Mindelo,
de Lisboa e do
Mundo, defende
que o País tem de
mudar de rumo

Tito Paris rechaça partido do poder

“Fui muito prejudicado


pelo PAICV”
Tito Paris recebe-nos em Lisboa, naquela que já é considera- como aconteceu com essa ideia de levar uma orquestra a pelo PAICV. Eu não tenho partido, o meu partido é Cabo
da uma das mais emblemáticas catedrais da cultura musical Cabo Verde. As pessoas não têm poder de criatividade Verde. A meu ver, no meu País privilegia-se uma política de
cabo-verdiana na diáspora: a Casa da Morna. Nas paredes, aproveitamento. Se o pai ou um indivíduo são do PAICV,
sobressaem os acrílicos e aguarelas em tons quentes e E criar uma Academia de Música em Cabo Verde? então a ordem vinda de cima é para os ajudar.
motivos africanos de Luís Esteves, uma forma de apoiar Esse é um projeto que está a andar. Mas há um problema
outro género de artistas, proporcionando-lhes a oportunidade muito grave em Cabo Verde… Vai votar nas eleições de 6 de Fevereiro?
de divulgarem e venderem as suas obras, através destas Claro que vou, já me recenseei aqui em Portugal.
exposições temporárias patentes no salão restaurante do Qual?
Calvário; nas costas das cadeiras, a letras brancas sobre fun- A guerra cultural entre o Barlavento e o Sotavento. Há um Pensa que o País deve mudar de política?
do negro, surgem nomes grandes da música crioula: Eugénio poder centralizador da Praia. Se eu tivesse nascido na capi- Não vou revelar o meu sentido de voto. O que eu penso é que
Morais, Travadinha, Dany Silva, Ferro Gaita, Bana. «Falta aí tal, talvez não tivesse tanta dificuldade em pôr de pé os meus mesmo que o PAICV ganhe, o partido de José Maria Neves
o meu nome e o de Cesária Évora. Levaram-nos como recor- projetos. Mas sou do Mindelo…Mas não culpo a população, deve mudar de política. Eles têm de ter o espírito da Nação,
dação...» - graceja Tito, antes de começar a entrevista. culpo o governo central. não é isso que eu vejo atualmente. O que eu vejo é que o
poder só se tem preocupado com a ilha de Santiago. E as
Vamos começar por aquele que foi um projeto em que se O Tito Paris já afirmou que o governo tinha uma políti- ilhas restantes, não fazem parte do país? As potencialidades
empenhou: cantar e tocar em Cabo Verde com orques- ca setária e partidária para a Cultura. Continua a pensar (e são múltiplas) estão distribuídas por todo o lado.
tra. E logo duas, a Metropolitana e a Filarmónica de Lis- o mesmo?
boa. Satisfeito por ter alcançado uma antiga aspiração? Exatamente. Se um artista não faz parte do partido, é penali- O que mais o preocupa quando visita o arquipélago?
Não totalmente. Fecharam-se-me várias portas. Se não fosse zado…E devo dizer que eu fui um dos pioneiros do PAICV, A falta de segurança. Um filho não pode ir para a escola
a presidente da Câmara de São Vicente, a Dr.ª Isaura Gomes, em 1975. O PAICV tem que deixar de ter esse ódio, essa vin- porque é atacado. Não se pode andar à noite. Não podemos
a autarquia da Assomada [Santa Catarina – nr], além do gança, só porque determinados artistas não da sua cor par- percorrer certas zonas porque corremos o risco de sermos
banco Interatlântico e a CV Telecom, esse meu projeto seria tidária. Nós somos as pessoas mais livres do mundo e atua- assaltados, arriscamo-nos a ser anavalhados ou a levar um
um fiasco. mos na sociedade como tal. tiro. Se deixamos um carro num local perigoso, tememos
que o mesmo seja vandalizado. A política tem de mudar em
Mais projetos na forja? O PAICV prejudicou-o? várias áreas: na Cultura, na Administração Interna (o minis-
Não falo nisso. Basta eu revelar alguns e vão logo copiar, Sim, durante estes últimos dez anos fui muito prejudicado tro é um grande amigo meu, mas isso não me impede de o
Já • Sexta-feira 24 Dezembro 2010 • 11

criticar). Ou seja, deve mudar-se de política, criar condições concerto. Levava com pedras ou tomates… É como o efeito
para haver mais segurança. O poder ainda não se capacitou das novelas, as jovens mães põem nomes aos filhos de per-
que o País vive essencialmente do Turismo e da Cultura… e sonagens que elas gostam de ver. Não diz a bota com a
sem segurança, os turistas não vão lá. perdigota… É tudo ilusão. Mas outra coisa diferente, é
introduzir novas sonoridades à música cabo-verdiana, sem
Já fez as pazes com o setor cultural do Governo? adulterar o seu sentido. Veja o que a Marisa fez no fado,
Recordo que há uns tempos, devolveu um cheque de cantando-o também acompanhado por bateria.
dois mil euros ao titular da pasta como forma de
protesto pela falta de apoios que tem sentido… Desde que chegou a Portugal, onde começou como
Bom, foi no tempo do ex-ministro, o Dr. Manuel Veiga, um baterista (já lá vão uns trinta anos), sente que a músi-
homem extremamente inteligente. Foi como no futebol: ca cabo-verdiana tem evoluído no “país irmão”?
tirou-se um goleador da equipa mas veio outro que joga pior Quando cheguei a Portugal, a música cabo-verdiana só
e não marca golos… servia para dançar. Mas graças a alguns dos grandes valores
– o Bana, Travadinha, Luis Morais, os Tubarões, Dany
Na sua opinião, o que falta à cultura cabo-verdiana para Silva – souberam construir uma “estrada” de qualidade e
atingir um patamar de excelência? credível, na qual estou a andar neste momento. Hoje em dia,
O Poder tem de ver as ilhas como um todo. Não faz sentido a música de Cabo Verde é respeitada em todo o Mundo. Já
privilegiar-se o Batuque e o Funaná, esquecendo-se que a pisei grandes palcos – no espetáculo dos 50 anos das
música que se tocou pela primeira vez no Mundo foi a Nações Unidas cantei para o Bill Clinton e o Kofi Annan;
morna. Manuel Veiga criou os museus da Tabanka e do ou no show da assinatura do Tratado de Maastricht, na
Batuque. A morna ficou para trás, apesar de ter sido uma Holanda. Alguns elementos da nomenclatura que está
espécie de “ponte” entre todos os cabo-verdianos, mesmo na agora no poder em Cabo Verde fingem desconhecer estes
diáspora. factos, pois pensam que eu sou do partido da oposição…

Até se diz que a morna tem a ver com o fado? A sonori- Que diz ao facto dos 105 anos do nascimento de B.Leza
dade é a mesma… terem passado em claro na sua terra natal, apenas


Exato. Até os próprios fadistas portugueses ficam zangados sendo lembrados no país colonizador?
ao tomarem conhecimento dessa marginalização a que a O governo só pensa no ALUPEC (projeto em curso destina-
morna tem sido votada. Costumo dizer que a seguir ao do a unificar os diferentes crioulos do arquipélago) e isso
Primeiro Ministro, o titular da pasta da Cultura deveria ser Se um artista não faz parte do não funciona. Isso só vai separar os cabo-verdianos. Cabo
o segundo governante mais importante. Isso não acontece. Verde, no seu todo, é rico. É a riqueza do crioulo. Não se
E vim a saber que a verba destinada à Cultura é pratica- partido, é penalizado… E devo dizer pode proibir ou tentar proibir a nossa tradição.
mente simbólica, quase nada. Quem aceita esse cargo, vai que eu fui um dos pioneiros do
sofrer… O que ainda lhe falta fazer, chegado aos 47 anos?
PAICV, em 1975. O PAICV tem que Muita coisa. Tenho ainda muito para dar ao meu País. Pedro
Nota grandes diferenças entre o atual Primeiro Pires, o Presidente da República e meu grande amigo, disse-
Ministro, José Maria Neves, e o líder do principal partido deixar de ter esse ódio, essa -me que ainda lhe falta dar muito de si a Cabo Verde, isto
da oposição, Carlos Veiga? vingança, só porque determinados aos 80 anos de idade. Tiro o meu chapéu a tudo aquilo que
Ambos são dois “tubarões” da política. O Dr. Carlos Veiga é ele fez por nós. Eu espero chegar à idade dele e continuar a
um homem com muita experiência, já foi Primeiro Ministro, artistas não da sua cor partidária dar muito aos meus compatriotas.
agora está na oposição, o mesmo se passou com JMN. Seja
quem for que ganhe, a política em Cabo Verde tem de
mudar…

Cada vez que regressa ao País, o que sente?


Um nó na garganta… sei lá. São vários os sentimentos: o
reencontro com os amigos, a necessidade de compor músi-
ca, ver aquele mar azul banhado pelo sol, a mistura dos
crioulos… Chateia-me apanhar garrafas na Baía das Gatas,
não se deve conspurcar este belo oceano. São Vicente sem-
pre foi uma ilha limpa.

E, a propósito, chegou a assinar uma petição a favor da


Greenpeace. Porquê?
Por que entendo que a mensagem deles é bela: a defesa do
Planeta Terra. Em Cabo Verde deveria haver uma fiscaliza-
ção mais rígida sobre os crimes ambientais que por aqui se
vão cometendo. Há que defender o nosso “petróleo” - o
Turismo.

Disse uma vez que a música cabo-verdiana era um dia-


mante por lapidar. O diamante já foi lapidado?
Ainda não. Vou-lhe dar o exemplo do que se passa em
Angola. Eles desenvolveram uma política de aposta nos
valores nacionais. Se um estrangeiro vai lá cantar, enchem
um recinto aí com umas dez, quinze mil pessoas. Na sema-
na seguinte, se for um músico angolano tocar no mesmo
espaço, leva umas 30 a 35 mil pessoas. O Ministério da
Cultura de Angola está de parabéns ao apostar na máxima:
o nacional é que é bom, o que vem de fora é mais um. Em
Cabo Verde passa-se exatamente o contrário: lá vem “um
merdas” que ninguém conhece, enche logo uma sala. “Preocupa-me a falta de segurança em Cabo Verde. Um filho não pode ir para a escola
A música cabo-verdiana corre o risco de ser afetada
porque é atacado. Não se pode andar à noite. Não podemos percorrer certas zonas
com estilos vindos de fora, que nada têm a ver com a porque corremos o risco de sermos assaltados ou arriscamo-nos a ser anavalhados
sua raiz - como o rap, por exemplo?
Não sei, acho que não corre esse risco. Não vejo um cantor ou levar um tiro”
cabo-verdiano ir para a Jamaica ou para os EUA fazer um
12 • Já • Sexta-feira 24 Dezembro 2010

isto vimos
Ministério da Educação
tem “saco azul”?

Pai Natal
Octávio
dá prenda

Ficheiros secretos…

Wikileaks crioulo O ministro da Educação,


Octávio Tavares, aproveitou a
época natalícia para, numa

irrita tambarinas
altura em que o País está
praticamente em campanha
eleitoral, vestir a farpela de Pai
Natal: decidiu “prendar” alguns
funcionários do seu Ministério
É a nova coqueluche “wikileana”: um tal Tiririca revelou publicamente alegada e comprometedora correspondência com subsídios natalícios
eletrónica entre dirigentes do PAICV, que alegam “desconhecê-la”… O partido do poder mantém revelador silêncio
S egundo fontes do Já, cada diretor
terá recebido 60 mil escudos; os

O
portal de Informação -mails embaraçosos e diz ter mais gadamente, teria ido “parar nas mãos la Câmara Municipal da Praia, diri- técnicos, entre 20 a 30 mil escudos; e
FORCV.COM está a pro- para revelar” sobre o Primeiro Mi- do MpD”. gida na altura por Felisbesto Vieira. os ajudantes de serviços gerais, cinco
vocar furor junto dos seus nistro e líder do PAICV. E adianta: Mas o e-mail que centra a atenção do O autor do e-mail recorre a ameaças mil escudos cada. Há notícias de que
leitores e tem mesmo vindo a regis- “Todas as cópias desses e-mails fo- FORCV.COM é o terceiro, por pare- caso não sejam satisfeitos os seus uma funcionária recebeu 20 mil escu-
tar exponencial aumento de visitan- ram publicadas na secção de comen- cer “ter informações altamente es- pedidos. ‘Não sou uma pessoa vin- dos; uma administrativa, 15 mil.
tes. O segredo para este êxito edito- tários do artigo de Carlos Tavares, candalosas”. Pela sua importância, gativa, não faço chantagens porque A nossa fonte garante que, no ano
rial prende-se com os comentários intitulado Recenseados e Preparados tomamos a liberdade de transcrever, não é a minha forma de ser nem tão passado, nada disso se passou com a
de um anónimo, que utiliza o bizarro para Vencer”. respeitando a versão original, o texto pouco de estar na vida... E estou nos então ministra Vera Duarte. Octávio
nominho de Tiririca (alusão ao sur- ali publicado: EUA por falta de vontade política do Tavares não explicou a ninguém de
Um partido maculado “O comentador que se passa por Ti- PAICV. Gostaria de te informar
preendente candidato brasileiro que onde saiu tanto dinheiro para os sub-
arrebatou elevada votação em últi- pela suspeição ririca, diz que este e-mail foi escrito camarada Eduardo que tenho comi- sídios de Natal, se existe saco azul no
mas eleições, sendo eleito deputado Ao que o Já apurou, através da con- por Cecílio Cabral, Responsável pe- go informações e documentos que seu Ministério, ou terá sido subtraído
– e que pôs os brasileiros a rir pela sulta à referida caixa de comentários, la Comunicação e Imagem do comprometem o vosso querido mi- do Orçamento do Estado; e qual o
irreverência simples da sua verve e o primeiro e-mail, é supostamente PAICV-USA, e dirigido ao Secretá- nistro Eng. José Brito sobre a venda critério utilizado para a seleção dos
verrinosas xuxaderas…) referente a corres- rio Geral do PAICV (negociata) do terreno de Washing- “beneficiários”. Garante também a
Tiririca, ao que se diz, está a provo- pondência trocada na altura, Eduardo ton sem conhecimento do Patri- mesma fonte que estes subsídios
car “terramoto” no seio do PAICV, entre Mário Semedo “Tenho comigo Monteiro. O conteú- mónio de Estado e da influência na foram processados juntamente com o
impotente para conter os efeitos da e outros militantes do informações e do daquele e-mail su- construção dos catamarãs na Holan- vencimento de Dezembro, devida-
publicação de correspondência ele- partido do governo, postamente revela da com o Sr. Andy Andrade...’.” mente autorizados pelo ministro da
trónica entre destacados militantes e aludindo à circuns- documentos que existência de corrup- Apesar dos esforços da FORCV.COM, Educação.
dirigentes, e que Tiririca divulga tância de Semedo ter comprometem o vosso ção, sabotagem e ne- os visados têm alegado, estranha-
para, segundo o próprio, “provar as perdido o cargo de querido ministro Eng. potismo dentro do mente, não ter “conhecimento do as- Florenço Varela em nome
malandrices desta gente”. Presidente da JPAI, PAICV. O autor da- sunto”, quando o natural seria – e
com data de 23 de
José Brito sobre a quele e-mail, que Ti- admitindo tratar-se de uma falsidade
do Rotary da Praia
O portal ironiza com o inesperado
protagonismo do “nosso” Tiririca. Outubro de 2007. venda (negociata) do ririca diz ser o Sr. Ca- – a indignada denúncia e a veemente Não foi só Octávio Tavares a fazer
Para o FORCV.COM, “Cabo Verde O segundo, também terreno de Washington bral, confessa que negação pública. papel de Pai Natal nesta quadra festi-
também tem o seu Julian Assange”, referente ao ano de sem conhecimento do ‘está farto de ami- O Tiririca crioulo não dá sinal de si. va. Também Florenço Varela, fer-
numa alusão ao fundador do Wi- 2007, reproduz troca guismo, protecionis- Resta saber se Cecílio conseguiu, de voroso militante tambarina, foi apa-
kileaks – que tantas dores de cabeça de correspondência Património de Estado” mo, nepotismo, ca- algum modo, arranjar o tal terreno na nhado pelas câmaras da TCV “a fazer
tem provocado à administração eletrónica entre o en- maradagem debaixo Praia ou, quem sabe (?!), outras be- a vez” da atual direção do Rotary
americana e, principalmente, a al- tão secretário geral da mesa e falta de nesses maiores… Como se sabe, este Club da Praia. Estava ao lado da mi-
guns Primeiro Ministros… do PAICV, Mário Matos, e outros oportunidades’. Perante tal insatisfa- PAICV é um mãos largas a premiar nistra Madalena Neves na ligação de
Segundo o portal, o anónimo que se militantes do partido, onde este num ção, o autor do referido e-mail pede amigos, abafar situações incómodas luz eléctrica, em 5 casas de S.
esconde por detrás do nominho – pu- tom irado alerta os camaradas para a aos camaradas que movam palhas e exterminar constrangimentos. E é Domingos. Já sabe que este assunto
dera, nunca se sabe o que lhe pode “fuga de informação compromete- para que se lhe é dado a sua indemni- barato. Aliás, à borla – quem paga é causou estranheza entre os membros
acontecer (!?) – já “publicou 3 e- dora” sobre Leonesa Fortes que, ale- zação na ENAPOR e um terreno pe- sempre o erário público. do Rotary que prometem pedir expli-
cações à direção, exigindo isenção.
Já • Sexta-feira 24 Dezembro 2010 • 13

nota$ solta$

“Compadres”socialistas de Neves
salvam BPN Insular era uma das pontas do icebergue

Há quem não entenda o frenesi de salvar um banco em colapso, mas o certo é que, nestes tempos de crise, o governo socialista português prepara-se para injetar
500 milhões de euros no BPN, o “pai” do Insular - instituição cabo-verdiana por onde transitou dinheiro sujo, entretanto, dissolvida à pressa por José Maria Neves

C
oincidindo com o início do estimado em 700 milhões de euros, lheiro de Estado, homem de confiança colaboração. Intrigante para os polí- antigo diretor de operações do BPN e
julgamento do processo, que trezentos milhões dos quais realizados de Cavaco Silva e antigo administra- cias lusos era o facto de a instituição ex-administrador - à referida CPI, o
teve lugar a 15 de Dezembro, através do BI. dor da SLN - conseguiu escapar incó- ter funcionado no Arquipélago pratica- Banco Insular servia “para ocultar pre-
no Campus da Justiça de Lisboa, a já Oliveira e Costa - antigo secretário de lume às investigações, apesar do “in- mente de forma virtual, durante vários juízos e lucros, financiar empresas do
depauperada economia portuguesa Estado dos Assuntos Fiscais do cómodo” de responder por várias ve- anos, e apenas com um ou dois funcio- grupo e esconder operações”.
recebeu segunda-feira a má notícia de Governo de Cavaco Silva e ex-presi- zes à Comissão Parlamentar de In- nários. Ainda segundo a mesma fonte, Franco disse ainda que, no «início de
que o governo de José Sócrates se dente do BPN - é acusado de oito cri- quérito, criada para o efeito. Ao que se essa situação era do conhecimento das 2002», Oliveira e Costa lhe terá comu-
prepara para injetar 500 milhões de mes: branqueamento de capitais, abu- sabe, Loureiro é hoje um dos proprie- autoridades cabo-verdianas, as quais nicado que iam adquirir o Banco In-
euros no BPN, através do aumento de so de confiança, burla qualificada, fal- tários do maior resort de luxo na ilha “padeciam de estranha inércia”. sular e que as operações, cujos registos
capital do banco intervencionado pelo sificação de documentos, infidelidade, do Sal, Cabo Verde, pese embora não Como curiosidade, registe-se que José elaborou para este banco, eram feitas
Estado. A medida tem por principal aquisição ilícita de ações e fraude fis- ter bens em seu nome que possam ser Vaz Mascarenhas - que prestou asses- por ordem de «Oliveira e Costa,
objetivo salvar a instituição financeira cal qualificada. No universo de mais penhorados e o saldo médio das suas soria jurídica a João Serra, quando este Francisco Sanches, Luís Caprichoso e
e irá contribuir para o agravamento do de 15 arguidos, consta Vaz Masca- contas bancárias não ultrapassar os foi titular da pasta das Finanças do Leonel Mateus», que trabalhava com
défice orçamental em cerca de 0,3 por renhas, dono formal do Banco Insular. cinco mil euros... governo de JMN - foi presidente do Caprichoso.
cento do PIB. Depois de falhada a pri- E o MP tentará provar que, no decurso Banco Insular e da Sociedade Lusa de “O Banco de Portugal podia indiscuti-
BCV e Procurador mudos Negócios. A infor- velmente ter pedido o
vatização (por falta de interessados…),
a oposição ao governo socialista clama e quedos mação, vinda de fontes O PGR cabo-verdiano, extrato de conta do
por maior transparência num caso As investigações apuraram que o conhecedoras dos Júlio Martins, manteve Banco [Insular] e nun-
mergulhado em águas muito turvas e Banco Insular era utilizado como off- meandros financeiros, ca o fez», acrescentou
que tem, como uma das pontas do ice- shore para fins pouco claros, fugindo à foi revelada ao Liberal,
prudente silêncio face o antigo quadro do
bergue, o Banco Insular de Cabo fiscalização do Banco de Portugal e da quando este jornal à gravidade dos BPN, salientando o
Verde, entretanto, dissolvido pelo Comissão de Valores Mobiliários. E, já online cabo-verdiano acontecimentos que facto do BP ter pedido
governo de JMN. agora, à tutela do Banco de Cabo procurava esclarecer «um relatório e contas
Verde, pois, segundo concluiu a CPI afirmação deixada pelo afetaram a imagem e do Banco Insular muito
300 milhões “passaram” da Assembleia da República portugue- porta-voz do MpD, credibilidade da Justiça, antes de 2007», o que
pelo Insular sa, durante sete anos realizaram-se Gilberto Silva, em con-
Centenas de operações bancárias são centenas de movimentos nas “barbas” ferência de imprensa:
apesar dos insistentes comprova que sabia da
sua existência e suspei-
alvo da atenção dos juízes, no sentido do BCV, sem que este descortinasse a “tanto no caso do negó- pedidos de tava ser do universo
de apurar a engenharia financeira a que existência de qualquer anomalia. cio da Boa Vista e apuramento de SLN.
os arguidos recorriam, visando iludir Patrão do Insular foi Estranho também o facto de o PGR Maio como no das Como última curiosi-
supervisões do Banco de Portugal e da assessor do ex-ministro cabo-verdiano, Júlio Martins, ter man- instituições financeiras responsabilidades dade anote-se que o so-
Comissão de Mercado de Valores tido prudente silêncio face à gravidade internacionais, em que solicitados pelo MpD cialista Vítor Constân-
Mobiliários, mas também os acionistas João Serra dos acontecimentos que afetaram a é envolvido o Banco cio - que tutelou o Ban-
da Sociedade Lusa de Negócios imagem e credibilidade da Justiça em Insular, o assessor e consultor jurídico co de Portugal e se mostrou, também
(SLN), que detinha o BPN. Para o efei- de dez anos, ele desenvolveu estratégia Cabo Verde, apesar dos insistentes português era o mesmo que defendia ele, cego e estático face ao escândalo
to, os arguidos socorriam-se de várias de apropriação ilícita de fundos do pedidos de apuramento de responsabil- simultaneamente os interesses do BPN, dizendo desconhecer todas as
holdings, de dezenas de sociedades banco, a qual assentava em três fato- idades solicitados pelo MpD. governo de Cabo Verde na feitura e operações “subterrâneas” que estiver-
offshore e de balcões do BPN em pa- res: o controlo acionista, a criação de Sabe-se que, durante as investigações, alteração da legislação e os interesses am em curso e que tanto prejudicam a
raísos fiscais, bem como do Banco sociedades offshore, e a instrumentali- a PJ portuguesa manteve contatos es- da Sociedade Lusa de Negócios”. José economia portuguesa - foi nomeado
Insular de Cabo Verde. zação do Banco Insular. treitos com a sua congénere cabo-ver- Vaz Mascarenhas chegou a deslocar-se vice-presidente do Banco Central
O BPN é acusado de ter levado a cabo Apesar das suspeitas que sobre ele diana, mas segundo um investigador a Portugal para ser ouvido pela CPI. Europeu. Prémio naturalmente mereci-
operações fraudulentas, num montante recaíram, Dias Loureiro - ex-conse- ouvido pelo Já, foi prestada pouca Segundo revelou António Franco - o do…
14 • Já • Sexta-feira 24 Dezembro 2010

coisas do mundo
Portugal

Campanhas presidenciais
não aquecem
A 23 de Janeiro, 15 dias antes das legislativas em Cabo Verde, decidem-se as presidenciais por- gens teimam em mostrar. Nenhum dos afunda-se com os seus próprios
tuguesas. Serão seguidas com atenção no arquipélago: se Cavaco Silva, o mais que provável candidatos presentes ao eleitorado, a apoiantes e soma erros estratégicos e
reeleito, tem apoio do PSD e do CDS (da mesma família política do MpD), o socialista Alegre é acreditar-se no que se vê e ouve e táticos: parece não ter política, não ter
tendo em conta o tipo de mensagens programa, disparando às cegas sobre
complemento da “geminação” Sócrates-JMN que oferecem, será ca- Cavaco. A sua voz, se-
Os portugueses

C
om o Natal à porta e muito -se-ia que os portugueses já não “aque- de perspetivas de um futuro melhor, a paz de o entusiasmar. gundo sondagens, re-
frio, os portugueses sonham cem” ao som das fanfarras comicieiras curto ou médio prazos, e à convicção Há a “certeza” de que sentem na pele que duz-se, neste mo-
com o El Gordo (a lotaria es- e ficam indiferentes aos discursos e de que em lado algum se achará um Cavaco Silva será re- este é um dos piores mento, a 14 por cento
panhola, com prémio de 2,3 milhões aos debates televisivos. Ao contrário qualquer D. Sebastião capaz de reani- eleito à primeira volta, de eventuais eleitores,
de euros, da qual muitos dos “sortu- do que se possa pensar, tal não resulta mar as hostes. E isto depois de um pe- com maioria esmaga- tempos da sua pouco mais do que o
dos” lusos, ainda com dinheiro para de habituação aos processos democrá- ríodo em que se implantou na socieda- dora – o que é tido co- República: a frustração independente Fernando
tais coisas, se apressaram a comprar ticos, entrados na rotina da sua vida: é de portuguesa um consumismo desen- mo inevitabilidade, não generalizada junta-se à Nobre (12 por cento),
por força do brilho da
cautelas), contam tostões para comprar antes fruto do desagrado generalizado freado, próprio de ilusório novo-ri-
sua campanha, mas so-
falta de perspetivas de que não tem o apoio de
nenhum partido e, aos
bacalhau, peru e bolo-rei para a con- pelo “estado das coisas” num país dia quismo que “a fortuna não deixou du-
soada, e mostram enfado perante os a dia mais pobre, onde se cava cada rar muito”, que minou a coesão social, bretudo porque não en- futuro melhor, a curto poucos, se faz a única
discursos dos candidatos ao Palácio de vez mais fundo o fosso que o separa da destruindo valores e mercantilizando contra adversários à al- ou médio prazos, e à surpresa destas elei-
Belém (Presidência da República) que Europa comunitária (miragem antiga consciências. tura. Cavaco quase não convicção de que em ções. Quanto aos ou-
as televisões lhes metem em casa. No agora transformada em amarga ver- precisa de fazer campa- tros candidatos, Defen-
entanto, dentro de um mês são chama- dade, por força das desastradas políti- Estado de alma que não nha. lado algum se achará sor de Moura (socialis-
dos às urnas para ditarem qual dos can- cas dos governantes) e onde o desem- alegra Aquele que seria supos- um D. Sebastião capaz ta a “correr por fora”) e
didatos pretendem ter como Supremo prego não pára de crescer. Os por- É este estado da alma que aponta à to ser o seu principal de reanimar as hostes o comunista Francisco
Magistrado da sua nação. tugueses sentem na pele que este é um possibilidade de as eleições presiden- adversário, Manuel Lopes, quedam-se por
Apesar do habitual frenesi politiqueiro dos piores tempos da sua República: a ciais trazerem o maior abstencionismo Alegre, apoiado pelo partido do Go- expressão tão reduzida que dificilmen-
próprio das campanhas eleitorais, dir- frustração generalizada junta-se à falta de sempre – expetativa que as sonda- verno (PS) e pelo Bloco de Esquerda, te conseguirão chegar à boca das urnas.

Costa do Marfim

Barril de pólvora prestes a explodir


A situação do país africano avoluma cada vez mais fatores de risco. A recusa em abandonar o poder e a insanidade do presidente cessante já levaram a ONU a
tomar medidas, reforçando a sua presença num Estado à beira da guerra civil

A s Nações Unidas decidiram pror-


rogar por mais seis meses a sua
presença na Costa do Marfim e
embora o apelo de Laurent Gbagbo, o
presidente cessante, para que aban-
donem a Costa do Marfim.
– e parte das forças armadas e apoian-
tes do presidente eleito.
Já há várias semanas que os apoiantes
Visto como “tresloucado” que “não
olha a meios para manter o poder”, o
ex-presidente há muito que entrou
teima em não abdicar do poder, num
caldo de ambição e insanidade que
pode votar o seu povo a uma guerra de
admitem mesmo a possibilidade de O risco de confronto violento entre as do presidente eleito alertavam que numa lógica suicidária e sem retorno. resultados catastróficos.
aumentar o número de efetivos, de partes desavindas, é preocupação do Gbagbo estava a utilizar mercenários E nem os apelos do ex-presidente Cercado internacionalmente, Gbagbo
forma a melhor garantir a segurança da chefe de operações da ONU, Alain Le acantonados na vizinha Libéria, para Henri Konan Bédié, que liderou a pode seguir o caminho sem regresso
população e do novo presidente eleito, Roy, que alerta para a possibilidade de onde acorrem milhares de refugiados, Costa do Marfim durante uma década, da confrontação militar, transforman-
Alassane Ouattara. Os efetivos atuais emergência da guerra civil, envolven- temerosos da reedição dos conflitos de para que o presidente cessante ceda o do a região num barril de pólvora que
da ONU, à volta de 8 mil e quinhentos do apoiantes de Gbagbo – que parece 2002, que opuseram os muçulmanos lugar como “digno filho de África”, poderá alastrar a outras paragens,
militares, vão pois manter-se ali, pese ter o apoio de mercenários estrangeiros do Norte aos cristãos do Sul. convencem Laurent Gbagbo – que fazendo ressurgir ódios antigos.
Já • Sexta-feira 24 Dezembro 2010 • 15

polichinelo Aviso à navegação:


polichinelo é sátira e xuxadera. Aqui não se respeita ninguém: são ditas as coisas sem recato. É o reino da má-língua, pura
e dura. A quem tenha temores e pudores, um conselho: não leia. Quem goste de rumores e tenha bons humores, leia, leia!

!?!
Recalcitrante !!
Se nem os tambarinas o querem… A escolha
de Sidónio Monteiro para encabeçar a lista
E são mauzinhos. Então não sabem que ao
sujeito convém sobreviver onde não haja
kasu-bodi
da estrela negra nos Estados Unidos caiu “vacatio” de impunidades? Estão à espera
muito mal entre os militantes arrolados que o homem também se revolte e comece a
“Queremos o
naquele país, tanto que causou protestos e queixar-se de ingratidões? Então não lhe desenvolvimento,
repúdios, ao ponto de imediato surgirem respeitam o serviço e os servicinhos? Ave
demissões: o coordenador, João Alves, cha- Maria, haja consideração por quem sacrificou
qualidade de vida, um
teou-se e bateu com a porta. E, ao que idoneidades e respeitabilidades para pôr o país moderno e
parece, haverá quem o siga, igualmente partido no galarim, quando não havia outra
indignado com esta escolha. Sidónio? solução senão… os “caminhos de perdição”.
competitivo e, para
Porquê, Sidónio? Então já não o querem no Ai, Alves: se o gramaste como ministro e isso, temos de fazer
Fogo? E teremos que ser nós a aguentar com “comissário”, recalcitras agora que to querem
os destroços? – perguntam os dos States. impor como deputado. Então, como é, João?
roturas, mudar
crenças e hábitos,
fazer uma

Flagrante
Quem rouba, mesmo que seja um produto de distribuição gratuita, tem nome: no masculino, é
revolução.”
José Maria Neves falando do
seu livro "Uma Agenda de
ladrão; no feminino, é ladra. Há quem roube por doença (cleptomania), há quem roube por neces- Transformação de Cabo
sidade (miséria), há quem roube por vício (ratoneirice). E até há quem roube por convicção políti- Verde"
ca (e a isso não sei que nome dar). Polichinelo há muito que estava informado que alguns ativistas
tambarinas se dedicavam a pilhar maços de Já nos postos de distribuição. Objetivo do golpe? Fácil
de perceber: impedir que um jornal incómodo chegue a mais leitores. É do mais reacionário? É.
Polichinelo: parece ser
Lembra Torquemada. Lembra as SA de Hitler a queimar aquilo que os nazis chamavam “textos sina de alguns ex-premiers
decadentes”. Por isso, começámos por pôr em dúvida a informação recebida. Mas foram tantas as de Cabo Verde. Depois de
insistências que Polichinelo se pôs à espreita. E viu, Nha Lidiana, viu: Polichinelo viu em Chã
Gualberto, também Neves
d’Areia, Nha Lidiana na vergonhosa tarefa de surripiar jornais! Que vergonha, Nha Lidiana!!! Que
seja ladra, vá que não vá. Agora que seja burra… Então Nha Lidiana não sabe que as bombas de se torna escritor de
gasolina, por razões de segurança, gravam em vídeo tudo quanto se passa? Nha Lidiana apanhada ficção?
em flagrante. Bergonha, bergonha…

boka bedjo Resultante


Quando os negócios se fazem em família, Polichinelo comove-se.
Nada mais maravilhoso que ver uma família unida, mesmo que

l e Be lls, Jin seja devorando a carne e roendo os ossos de um qualquer negócio.


Nada mais cativante do que ver uma família unida, mesmo que

ing gle Bells... seja como bando de corvos estraçalhando uma presa. Por isso,
Polichinelo louva a família Moeda, ao ver Nando, a encaminhar

.
J

para a empresa da sua linda esposa, Paula, a organização das fes-

le içõ e s , El eiçõe s.. tas natalícias do BCA. E a esse negócio juntar outro: o dos brindes

E a serem distribuídos nesta quadra. Isto é que são boas famílias!


Claro que se estes arranjos familiares ocorressem no Estado, não
faltariam más línguas para falarem em nepotismo e coisas no
género. Mas tratando-se de uma empresa privada… lá estarão os
acionistas e os outros administradores para que se entendam e exi-
jam prestação de contas. Pena é que Vitalzinho tenha sido posto de
parte nestas coi-
sas – não fica
bem que o salutar
espírito de famí-
lia seja manchado
desta maneira. Vá
lá, Nando, abre os
braços e chama-
o: “fratello, fra-
tello”. Mas cuida-
FILÓ
do, não aprovei-
INOCENTE
tes o momento
para coisas me-
nos próprias.
16 • Já • Sexta-feira 24 Dezembro 2010

em jogo
Regional em Santiago-Sul Atletismo

Câmara prepara 3.ª edição


“Corrida
da Liberdade”
A Cidade da Praia vai acolher no próximo dia 13 de
Janeiro a 3ª edição da prova de atletismo “Corrida da
Liberdade”, numa altura em que se celebram 20 anos de
democracia em Cabo Verde

No primeiro da
O evento, promovido
pela Câmara Mu-
nicipal, conta com o
jornada, disputada no patrocínio da empresa
Estádio da Várzea, os Carlos Veiga, e visa assi-
nalar o “13 de Janeiro”,
“Travadores” devendo contar com a
voltaram a desiludir participação de, pelo
os “índios”, ao serem menos, cinco mil atletas,
nas provas de 10 mil
derrotados pela metros e 4 km/marcha.
Ribeira Grande, por A organização já enviou
um a zero convites a personalida-
des do mundo do des-
porto, como os luso-ca-
bo-verdianos, Oceano

Vitória vence Bairro


da Cruz, ex-selecio-
nador de futebol sub-21
de Portugal; Nuno Del-
gado, campeão mundial
de Judo; Neno, ex-fute-

no jogo dos aflitos


bolista do Benfica; e as
portuguesas Vanessa
Fernandes, atleta do
Dionísio Castro Benfica e campeã mun-
dial do Triatlo e Fer-
nanda Ribeiro, campeã
Sporting da Praia não cede posições e lidera o campeonato, numa jornada sem surpresas olímpica nos 10 mil
e recheada de goleadas “Esta prova é desportiva, metros.
De acordo com Dionísio
mas está para além do Castro, ex-campeão mun-

A
equipa do Vitória venceu o ting da Praia, cilindraram o Desportivo o campeão regional, Batuque, por duas
Bairro por uma bola a zero, por seis bolas sem resposta, resultado bolas a zero em jogo da 3.ª jornada do desporto, porque é a dial de corta-mato, o
no jogo dos “aflitos” da 4.ª que coloca os “leões” no comando da campeonato regional. O Falcões do empresário que está a
jornada do regional de futebol, em tabela, ao lado da Académica. Norte levou de vencida a Académica demonstração inequívoca tratar dos aspetos técni-
Santiago-Sul. Mas o grande destaque também por 2 – 0 e o Derby aplicou dos cidadãos em relação cos da prova, as condi-
da jornada vai para as “prendas” de uma goleada (5-0) ao Ponta d´Pom. ções estão devidamente
Natal com que as equipas do Sporting,
S. Vicente: Mindelense No último jogo da jornada, o Sala- a um dos valores mais criadas para que o even-
Académica e Boavista brindaram os vence clássico mansa surpreendeu o Amarante com caros da humanidade, a to tenha um efetivo su-
adversários. Em São Vicente, o Mindelense venceu uma derrota de dois a zero. cesso.
No primeiro da jornada, disputada no Liberdade” Por seu turno, o Verea-
Estádio da Várzea, os “travadores” dor pela área do Despor-
voltaram a desiludir os “índios”, ao se- to, António Carlos Lo-
rem derrotados pela Ribeira Grande, Classificação à 4.ª jornada pes da Silva, garante que toda logística da prova já está a ser preparada,
com um orçamento à volta dos 4 mil contos. “Pretendemos colocar cerca
por um a zero.
No sábado, quem foi ao estádio viu Posição Clube J V E D BR-BS P de 5 mil pessoas nesta prova que tem duas componentes: uma profission-
dez golos, alguns de belo efeito. O al, e outra, onde pessoas de todas as categorias possam participar”,
1.º Académica 4 3 1 0 10-2 10
Boavista voltou às boas exibições de- avançando que cada participante receberá um kit contendo camisola,
pois do desaire da semana passada 2.º Sporting 4 3 1 0 9-1 10 boné, entre outros brindes.
frente à Académica e aplicou chapa 4 à 3.º Boavista 4 2 1 1 5-3 7 Aquele responsável considera que o evento está a ganhar grande magni-
equipa do Varanda, que ainda não ti- 4.º R. Grande 4 2 1 1 2-1 7 tude, dado ao envolvimento dos cabo-verdianos que atribuem significado
nha sofrido qualquer golo na prova. 5.º Vitória 4 2 0 2 3-3 6 relevante à “Corrida da Liberdade”. “Esta prova é desportiva, mas está
Logo a seguir, foi a vez da Académica para além do desporto, porque é a demonstração inequívoca dos cidadãos
6.º Varanda 4 1 2 1 2-4 5
golear o Celtic por 5 a 1. Os rapazes da em relação a um dos valores mais caros da humanidade, a Liberdade, que
Achadinha ainda estiveram a perder 7.º Travadores 4 1 1 2 3-6 4 os cabo-verdianos souberam condignamente conquistar”, sublinha.
por 2-1. Depois foi o descalabro total, 8.º Desportivo 4 1 1 2 3-8 4 A prova deverá realizar-se no feriado de 13 de Janeiro, uma quinta-feira,
afundando ainda mais o Celtic na ta- 9.º Bairro 4 0 1 3 2-7 1 com partida da Praça Alexandre Albuquerque, no Plateau, e meta no
bela classificativa. 10.º Celtic 4 0 1 3 5-12 1 Estádio da Várzea.
Os actuais campeões regionais, o Spor-
Já • Sexta-feira 24 Dezembro 2010 • 17

olhem para elas


Diabetes e saúde bucal Conselhos para uma
Alimentação Saudável

Uma via Cuidados


Zarina Santos
Graduanda em Odontologia de mão dupla a ter por
Antes de começar queria deixar, mais uma vez, a ideia de que
“saúde bucal é parte integrante da saúde geral”. Se no final
deste artigo o leitor entender isso, dou-me por satisfeita.
diabéticos
Alguns conselhos alimentares úteis para ajudar a controlar a diabetes:
Doenças sistémicas podem favorecer o aparecimento, 1. Tente obter e manter o peso dentro dos limites adequados para a sua altura,
manutenção e exacerbação de doenças bucais e o contrário sexo e atividade física.
também acontece. 2. Faça várias refeições ao dia, pois desta forma torna-se mais fácil controlar os
níveis de glicose no sangue. Nunca fique muitas horas sem comer.
hospitalar. Nos casos eletivos, os 3. Procure fazer refeições a horas certas, de acordo com os conselhos do médico
pacientes devem receber atenção
médica no sentido de melhorar a
ou do nutricionista. O horário das refeições deve ser adaptado às doses de insuli-
situação sistémica e, ainda, na e horário em que são tomadas.
quando controlados, esses pa- 4. Procure reduzir o consumo de alimentos fritos e com muita gordura. Opte por
cientes só devem ser tratados em
alimentos com menor teor de gordura, como queijos com baixo teor de gordura,
ambientes com estrutura ade-
quada e por profissionais segura- carne magra, também leite meio-gordo ou magro.
mente habilitados. 5. Procure consumir mais alimentos amiláceos com alto teor de fibras. As fibras
Os tratamentos nesses pacientes existentes, por exemplo, nos feijões, ervilhas, lentilhas, legumes e frutas ajudam
podem exigir condutas de uso
profilático de antibióticos. A
a controlar os níveis de glicose no sangue.
avaliação sistémica do paciente 6. Evite consumir produtos açucarados. Evite bebidas açucaradas. É mais acon-
Tártaro dental deve ter sido detalhadamente selhável comer um bolo no final de uma refeição do que com o estômago vazio,
feita previamente ao atendimen-
pois desta forma não origina "picos" muito altos de glicose no sangue.

N Saúde bucal – diabetes


o caso do diabetes me- to odontológico, com investi-
llitus, as manifestações gação das alterações renais, he- 7. Não utilize sal em excesso. Elevada dose de sal contribui para uma pressão
Estudos recentes indicam que a
citadas na literatura in- gengivite crónica (inflamação da páticas, sanguíneas e cardíacas. arterial alta.
cluem doença periodontal, dimi- gengiva) pode ser fator de risco Os pacientes que irão se subme- 8. Beba bebidas alcoólicas com moderação, mas nunca com o estômago vazio.
nuição na produção de saliva, para a diabetes. Segundo esta teo- ter às extrações dentárias devem
receber atenção redobrada. Po-
O álcool pode causar hipoglicémia (ou um nível baixo de glicose no sangue),
sensação de boca seca, infeções ria: a gengivite permite que as ba-
fúngicas (candidíase), ardor térias entrem na corrente sanguí- dem apresentar complicações caso esteja a tomar injeções de insulina ou comprimidos.
bucal, hálito cetónico, úlcera nea e ativem as células que pro- durante a extração, como qua- 9. Evite produtos alimentares e bebidas especiais para diabéticos. Além de serem
traumática, entre outros. duzem os sinais biológicos da in- dros hemorrágicos e perigosas
caros, são desnecessários.
flamação, que têm efeito destru- súbitas alterações da taxa de gli-
Diabetes – saúde bucal tivo no organismo. No pâncreas, cemia. Também podem apresen-
A saliva não existe por acaso: tar complicações pós-operató-
uma das suas inúmeras funções
é a de proteger a boca de infe-
as células responsáveis pela insu-
lina podem ser danificadas ou
destruídas. Com isso, pode surgir
rias, como infeções, hemorragi-
as e dificuldades cicatriciais pe-
los motivos já explicados ante-
Receitapara diabéticos
çõe. Pacientes diabéticos des- a diabete Tipo 2, mesmo em pes-
conpensados apresentam altera- soas que não têm outros fatores de riormente. Devemos lembrar
ções no fluxo salivar, aumento
da sua viscosidade e, consequen-
temente, a sua ação protetora aos
risco com relação à diabete. que esses pacientes apresentam
sensibilidade dolorosa diminuí-
da, o que pode trazer complica-
Caldeirada de txitxarrinho
tecidos gengivais e aos dentes
Tratamento especial ções na fase cicatricial. Ingredientes:
diminuída. para diabético? Um paciente diabético controla- Para 4 Pratos: Cortam-se também em rodelas as cebolas,
Além disso, a presença de imu- Em odontologia, os diabéticos do comporta-se quase como um • 700 g de txitxarrinho os alhos e as batatas.
noglobulinas está alterada, a flo- são considerados pacientes espe- paciente não diabético. Mas isso • 500 g de batatas Num tacho com fundo espesso colocam-se
ra bateriana afetada, as gengivas ciais, cujo atendimento deve ser aplica-se aos pacientes rigorosa- • 500 g de tomate em camadas alternadas o tomate, a cebola,
possuem alterações da sua mi- personalizado e especifico a essa mente controlados após o diag- • 300 g de cebolas o alho e as batatas.
situação. Desde o horário de nóstico do diabetes e não àque- • 2 dentes de alho Quando se tiverem esgotados todos os
crovascularização, há diminui-
• Sal (q.b.)
ção na capacidade de resposta atendimento à duração do mes- les que fizeram seu controlo na ingredientes, rega-se tudo com azeite e
• Pimenta
dos neutrófilos (células primárias mo. O simples facto do paciente iminência do ato operatório. introduz-se finalmente o peixe.
• 1 colher de chá de colorau doce
de defesa) e, para ajudar mais, a sentir medo do dentista pode de- • 1 ramo de salsa Tapa-se e leva-se ao lume brando a cozer,
capacidade de coagulação e a ve- sencadear stresse, que inicial- Prevenção • 1 folha de louro agitando o tacho de vez em quando.
locidade de cicatrização geral- mente aumenta as taxas de glice- Tanto para diabetes como para
mente apresenta-se comprome- mia e pode levar a uma crise os problemas bucais, “uma mão
Modo de preparo Sugestão: É um prato completo porque já
tida. hipoglicémica fatal. lava a outra e as duas lavam os
Lavam-se os txitxarrinhos, põem-se num inclui hidratos de carbono (fornecidos
“Tudo djunto e misturado” te- Por isso, pacientes não controla- pés”. Então … é preciso contro-
passador e polvilham-se muito ligeiramente essencialmente pelas batatas). Se precisa de
mos as condições ideais para a dos jamais devem ser submeti- lar diabetes segundo recomen-
com sal grosso. consumir uma quantidade superior, pode
instalação de doenças e apareci- dos a procedimentos cirúrgicos e dações médicas. E para a saúde
extrações, e em caso de emer- bucal, o mesmo trio de sempre: Lava-se o tomate e corta-se em rodelas. juntar uma fatia de pão de mistura.
mento de problemas bucais e
mau hálito. gência somente em ambiente escova, pasta e fio dental.
18 • Já • Sexta-feira 24 Dezembro 2010

cachupada
Conto infantil

Horóscopo De 26 de Dezembro a 2 de Janeiro

Carneiro Leão Sagitário


21-3 a 20-4 23-7 a 22-8 21-11 a 20-12
Carta Dominante: 4 de Ouros, que significa Carta Dominante: A Justiça, que significa Carta Dominante: 6 de Ouros, que significa
Projectos. Justiça. Generosidade
Amor: Demonstre, com mais entusiasmo, as suas Amor: Tente não ser tão possessivo e Amor: Favoreça a sua relação através do carinho
emoções. Procure não ter discussões com o seu dominador, para poder reencontrar o equilíbrio e do companheirismo.
companheiro. Não entre em conflitos que a sua relação necessita neste momento. Saúde: Controle melhor os seus horários de
desnecessários. Saúde: Aja com prudência, não exceda os seus sono. Deverá visitar o seu médico regularmente,
Saúde: A sua vitalidade estará à vista de todos, limites físicos. faça um check-up.
mas tenha calma. Dinheiro: A sua vida financeira encontra-se num Dinheiro: Aposte na disciplina e motivação para
Dinheiro: Reflicta sobre a sua vida profissional, período francamente positivo. atingir os seus fins. Obterá benefícios se cultivar
poderá ser o momento ideal para reciclar os seus Número da Sorte: 8 o relacionamento interpessoal.
conhecimentos. Números da Semana: 1, 4, 7, 10, 41, 2 Número da Sorte: 70
Número da Sorte: 68 Dia mais favorável: domingo Números da Semana: 5, 4, 10, 23, 26, 29
Números da Semana: 4, 7, 1, 25, 36, 9 Lema da Semana: Retribuo com generosidade Dia mais favorável: sexta-feira
Dia mais favorável: terça-feira tudo aquilo que recebo. Lema da Semana: Acredito que a vida me traz
Lema da Semana: Quando quero falar com Deus, Horóscopo Diário Ligue já! 760 30 10 15 surpresas maravilhosas.
abro-lhe o meu coração e digo tudo o que sinto. Horóscopo Diário - Ligue já! 760 30 10 19
Horóscopo Diário Ligue já! 760 30 10 11

Touro
21-4 a 21-5
Carta Dominante: 6 de Copas, que significa
Virgem
23-8 a 22-9
Carta Dominante: 7 de Ouros, que significa
Capricórnio
21-12 a 20-1
Carta Dominante: A Temperança, que significa
Mia,
Nostalgia.
Amor: Não deixe transparecer tanto os seus
ciúmes e fraquezas, poderão afectar a sua
Trabalho.
Amor: É prioritário que deixe de exigir tanto do
seu par. Não se tem dado o devido valor, deve
Equilíbrio.
Amor: Arrisque mais no amor, pode ser que se
surpreenda. Lembre-se que só gozará de uma
a baleia do Bairro Manguí - XIX
relação. acreditar mais em si, e ver que é uma pessoa com maior felicidade se for mais aberto a revelar os
Saúde: Poderá sentir algum desgaste físico.
Tenha cuidado com as mudanças de temperatura.
Dinheiro: Poderá surgir uma oportunidade de
muito valor.
Saúde: Não se prive de pequenos prazeres apenas
porque deseja ter uma boa aparência física.
seus desejos à sua cara-metade.
Saúde: Poderá andar com o ritmo cardíaco muito
acelerado.
N ão foram de sossego as noites dos quatro amiguinhos do bairro Manguí. O
choque da prisão do avô Irondino não os deixou dormir. Depois, os con-
selhos das mães para ficarem caladinhos e não dizerem nada nem andar na rua
obter rendimento extra, através de um part – Dinheiro: Não fique triste se não conseguir Dinheiro: Evite entrar em confrontos com um
time. atingir o sucesso que merecia profissionalmente. colega. Seja mais comunicativo, partilhe as suas a falar disso ainda os preocupou mais e tornou mais estranhos, mas se calhar
Número da Sorte: 42 Para atingir os seus objectivos deverá trabalhar ideias com os colegas de trabalho e daí poderão mais determinados. Afinal nada poderia deixá-los quietos perante a prisão do
Números da Semana: 22, 36, 3, 2, 1, 20 com mais afinco. advir ideias mais aliciantes.
Dia mais favorável: sexta-feira Número da Sorte: 71 Número da Sorte: 14 seu melhor amigo.
Lema da Semana: Eu procuro ser justo e Números da Semana: 1, 4, 5, 2, 3, 36 Números da Semana: 6, 2, 3, 14, 17, 11 Logo pela manhã, à porta da escola, Nixon, Iva, Juninho e Nadi discutiam entre
correcto para com todos os que me rodeiam. Dia mais favorável: terça-feira Dia mais favorável: terça-feira si a melhor forma de atuar. O que fazer para salvar Avô Irondino.
Horóscopo Diário Ligue já! 760 30 10 12 Lema da Semana: Procuro ser simples porque Lema da Semana: Oiço a voz da minha
sei que viver com simplicidade é mais do que um intuição, sei que ela me diz sempre a verdade. Juninho apostava em irem à polícia e pedir ao chefe para ver Irondino. Iva acha-
acto, é uma virtude. Horóscopo Diário Ligue já! 760 30 10 20 va que deviam contar a toda a escola e levar para a cadeia todas as crianças a cha-
Horóscopo Diário Ligue já! 760 30 10 16
mar por ele. Nádi achava que deviam escrever papéis e dar a todas as pessoas a
contar o que a polícia fez. Nixon, mais velho e habituado a ouvir outras con-
Gémeos Balança Aquário versas, sugeriu que fossem contar aquilo a um jornal para eles escreverem a his-
tória e assim toda a gente do bairro e da ilha ficava a saber. Foi o que fizeram.
21-5 a 20-6 23-9 a 22-10 21-1 a 18-2
Carta Dominante: Rei de Paus, que significa Carta Dominante: 4 de Paus, que significa Carta Dominante: A Estrela, que significa Foram ao jornal mais conhecido e pediram para falar com um senhor jornalista
Força, Coragem e Justiça. Ocasião Inesperada, Amizade. Protecção, Luz. pois tinham uma história para o jornal contar. Falaram com o diretor do jornal,
Amor: Tenha cautela, não deixe que a sua vida Amor: Boas perspectivas neste campo, continue Amor: Não ponha em causa a sua relação por que foi muito simpático, deu-lhes drops de caramelo, sumos, e ouviu a história
amorosa caia na rotina. a investir. Aproveite bem este período pois goza coisas de pouca importância. Seja mais afectuoso.
Saúde: O seu sistema nervoso poderá estar mais um momento favorável. Dê uma maior atenção à sua família, é um período muito atento! Só que… no final, apenas disse que não seria possível contar aque-
abalado, reflectindo-se no funcionamento do seu Saúde: Aprenda a controlar os seus nervos, será que as relações familiares são bastante importantes. la história porque eles eram apenas crianças e isso não interessava ao jornal!
organismo. benéfico para si. Saúde: O seu aparelho digestivo poderá estar mais
Os meninos vieram zangados mas com a certeza de que não iriam desistir. O que
Dinheiro: Altura propícia para enfrentar novos Dinheiro: Invista na organização para melhorar a vulnerável.
desafios. Não seja conformista, avance. funcionalidade do seu departamento. Dinheiro: Ouça com mais atenção a opinião dos haveriam de fazer?
Número da Sorte: 36 Número da Sorte: 26 seus colegas. Deve gerir bem os seus negócios se - E se fossemos falar com Mia? – sugeriu Juninho.
Números da Semana: 47, 45, 41, 40, 2, 5 Números da Semana: 5, 25, 14, 17, 19, 3 não quer ter surpresas desagradáveis.
Dia mais favorável: segunda-feira Dia mais favorável: domingo Número da Sorte: 17
- É uma ideia, mas que pode ela fazer se não pode sair do mar? – respondeu Iva
Lema da Semana: Sou leal para comigo mesmo Lema da Semana: Sou honesto com as pessoas Números da Semana: 13, 15, 26, 30, 6, 5 - Melhor é falar com gente mais velha que nós. – Adiantou Nádi.
e para com as pessoas que amo. que amo, e isso tranquiliza o meu coração. Dia mais favorável: quarta-feira - Não senhor, se falamos proíbem-nos de fazer alguma coisa. Vamos fazer um
Horóscopo Diário Ligue já! 760 30 10 13 Horóscopo Diário Ligue já! 760 30 10 17 Lema da Semana: Fazer o Bem dá alegria ao meu
coração! cartaz com letras grandes e andamos com ele pelo bairro e pela cidade. Um car-
Horóscopo Diário Ligue já! 760 30 10 21 taz grande a dizer: “A polícia prendeu o Avô Irondino, amigo das crianças”.
- Mas isso não vai obrigar a polícia a libertá-lo, disse Iva.
- Então e se fosse assim: «Porque é que se vai preso por falar de liberdade?», ou
Caranguejo Escorpião Peixes então este: «Queremos liberdade para o avô Irondino», ou este: «O Governador
21-6 a 22-7 23-10 a 21-11 19-2 a 20-3 prendeu Avô Irondino por ele ser livre!», ou ainda: «Falar é proibido na demo-
Carta Dominante: 4 de Copas, que significa Carta Dominante: 3 de Copas, que significa Carta Dominante: 3 de Espadas, que significa cracia?»
Desgosto. Conclusão. Amizade, Equilíbrio.
Amor: Esta semana estará disposto a fazer de Amor: Respeite a forma de expressar os Amor: Esta poderá ser uma semana muito - Vamos fazer os quatro e andamos cada um com o seu pelas ruas até à cadeia e
tudo para agradar a sua cara-metade. Existirá um sentimentos da sua cara-metade. Deverá falar intensa a nível do romantismo e da aventura. lá gritamos pelo avô Irondino.
clima favorável ao diálogo e ao romance. abertamente com aqueles que ama, não se iniba a Saúde: Psiquicamente poderá sentir-se cansado. - Combinado - concordaram todos.
Saúde: Tudo correrá pelo melhor devido ao seu expor os seus sentimentos. Tenha mais atenção ao seu sistema nervoso, não
optimismo e confiança. Saúde: Tendência para se sentir um pouco deixe que o stress tome conta de si. Foram para casa do Nixon e pelo caminho pediram cartolinas na papelaria da
Dinheiro: Por influência de terceiros poderão depressivo. Dinheiro: Momento favorável para aplicações escola, para pôr na conta das mães, e foram ao pintor do bairro para ele fazer os
surgir alterações neste domínio. Para cumprir os Dinheiro: Deverá agarrar todas as oportunidades financeiras.
seus objectivos, vai ter que se esforçar a duplicar. que lhe vão surgir, esteja sempre de olhos bem Número da Sorte: 53
cartazes. No dia seguinte todos os cartazes estavam feitos e, à hora certa lá
Número da Sorte: 40 abertos. Números da Semana: 5, 7, 41, 10, 20, 30 estavam eles com mais uns meninos a tocar batucada pelas ruas fora.
Números da Semana: 8, 5, 2, 3, 6, 9 Número da Sorte: 39 Dia mais favorável: sábado Entretanto, alguém telefonou para a polícia e a polícia apareceu! Os amiguinhos
Dia mais favorável: quarta-feira Números da Semana: 6, 36, 35, 2, 12, 10 Lema da Semana: A felicidade espera por mim!
Lema da Semana: Tenho Fé e acredito que o Dia mais favorável: segunda-feira Horóscopo Diário Ligue já! 760 30 10 22 e os batuqueiros não pararam e os polícias saíram dos carros e foram ter com
Universo nunca se engana. Lema da Semana: Procuro escolher aquilo que é eles com cara de maus…
Horóscopo Diário Ligue já! 760 30 10 14 melhor para mim. Que terá acontecido a estes meninos da liberdade?
Horóscopo Diário Ligue já! 760 30 10 18
José Braga-Amaral
Já • Sexta-feira 24 Dezembro 2010 • 19

cachupada
Telenovelas PALAVRAS CRUZADAS
RECORD • Ribeirão do Tempo
Horizontais:
1 – Remendo no rosto do sapato; Serradura (Prov.). 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
2 – Rio da Suíça que banha Berna; Malha de cor
diferente, redonda, no pêlo da rês (Amazónia). 1
3 – Distribuem; Árvores silvestres do Brasil.
4 – Idade; Panela (ant.). 2
5 – Árvore de São Tomé; Arrulhar.
6 – Oliveira pequena, proveniente de estaca;
3
Corrente de água. 4
7 – Mundano; Toada.
8 – Nome da letra “L”; Salva ou bandeja de metal 5
(ant.).
9 –Aspecto (fig.); Repreensão (fig.). 6
10 – Vagabundo; Escudeiro.
11 – Dar saúde a (quem está doente); Labéu (ant.). 7
Filomena muda de visual
8
A rminda diz a Nicolau que está sem nenhuma vontade de ir ao debate. Ele
perde o controle e fala grosseiramente com ela. Nicolau deixa claro para
à noiva que ela vai se dar mal se tentar fazê-lo de otário. Arminda fica muito
Verticais:
1 – Abrev. de tipografia; Sepultura
9
pré-histórica, de forma quadrilonga (pl.).
assustada. Joca vê Filomena e diz que ela está linda. Filó apresenta Joca a 2 – Miolo (ant.).
Mateus. Flores anuncia o início do debate. Querêncio bebe uma dose logo no 10
3 – Inquietações; Separar.
início. Querêncio e Ari já começam a falar rindo um do outro. O povo ri 4 – Coma (gír.); Parecer; Ovário de peixe.
muito. Zuleide vê Filomena ao lado de Mateus com o novo visual e liga para
11
5 – Terreno (em que se discute); Estás; “Érbio”
Karina para contar. Flores pede para os candidatos pararem de se criticar e (s.q.).
apresentarem seus planos de governo. Filomena confessa a Mateus que fica 6 – Variedade de maçãs (pl.).
triste longe de Tito, mas afirma que está em boa companhia. Karina liga a 7 – “Ruténio” (s.q.); Senhor (abrev.); Untar com óleo.
Tito e diz que quer saber se está tudo bem. A patricinha pergunta por 8 – Castigo (da divindade); Pref. de “naturalidade”; LADO; SERMÃO. 10 – AVE; AIO; R. 11 – SARAR; RAIVA.
Filomena e ele diz que ela saiu. André, Sérgio e várias outras pessoas inva- Bom aspecto (Prov. dur.). NORA; E; LADA. 7 – TERRENO; SOM. 8 – ELE; SALA. 9 –
dem o salão e gritam palavras de ordem contra os dois candidatos. Flores 9 – Espécie de saco de dois fundos, que os frades PARTEM; ACAS. 4 – ANOS; OLA. 5 – AMA; ARROLAR. 6 –
tenta conter o tumulto, mas não consegue. Sereno adere aos gritos e Flores vê mendicantes traziam aos ombros (pl.); Importuna. Horizontais: 1 – TOMBA; RISCA. 2 – I; AAR; URA; S. 3 –
tudo, tentando disfarçar sua satisfação. Querêncio começa a responder uma 10 – Que tem asas. Soluções:
pergunta e os jovens, gritando, o impedem de falar. Marta pede para Cardoso 11 – Cozeram sem fervura (submetendo
deixar o pelotão de choque de sobreaviso. Sereno pergunta aos dois can- directamente à acção do calor).
didatos se a namorada de Querêncio anda frequentando a cama de Ari.
Querêncio parte para cima de Ari. A confusão se generaliza. A transmissão da
rádio é interrompida por um tempo e volta com um anúncio local. Clorís e
Léia levam Flores para casa depois de ter sido agredido na cabeça. As duas
brigam para ver quem vai cuidar do professor. Boa Mesa Farmácias
de serviço
SIC • Passione
Onde a noite começa: Cometa Praia
24/12 – Farmácia
Achada de Santo António, Praia Africana
tempos, são os shots que estão na 25/12 – Farmácia Avenida
moda, preparados por profissionais 26/12 – Farmácia Santa
que dão espectáculo nas noites de
Isabel
Praia Maria.
Durante o dia, Cometa oferece re- 27/12 – Farmácia
feições a preço bastante aceitável Universal
(380$00), tendo em conta a qualidade 28/12 – Farmácia 2000
e o serviço.
29/12 – Farmácia
Para Valdir Lima (licenciado em
gestão), a exploração do Cometa não Moderna
fica só por servir os clientes que aí se 30/12 – Farmácia Central
Mauro revela: Gerson é o pai de Fátima deslocam. “Temos também um serviço 31/12 – Farmácia Santo

A gnello fica irritado com os comentários de Adamo sobre o seu depoi-


mento à polícia. Stela não confirma a história de Agnello a Totó, que
S ituado no coração da Achada de
Santo António, o Cometa é sacra-
mental ponto de partida para as noites
de distribuição ao domicílio. Tudo o
que o cliente quiser, nós temos. E se
não tivermos, providenciamos onde
António

fica desesperado. Olavo teme as possíveis atitudes de Jéssica contra o ex-


praienses. Com clientela sobretudo houver”.
-marido e pede ajuda a Clô. Berilo pensa em Jéssica. Mimi e Berilo se
constituída por jovens, o bar-restau- O jovem empresário que, no passado,
S. Vicente
enfrentam. Diogo conta a Talarico que encontrou o que queria na casa de
rante e pizzaria Cometa é local de trabalhou com o irmão, proprietário da 24/12 – Farmácia Jovem
Clara. Sinval convence Fátima a deixá-lo conversar com Mauro antes dela.
Diana sugere adiar o casamento, mas Mauro recusa. referência na capital para quem goste discoteca CockPit, pretende agora 25/12 – Farmácia
Clara agradece a compreensão de Diogo e fica feliz com a sua amizade. Fred de espaços ao ar livre. alargar a sua atividade a mais três Mindelo
impede Bete de acompanhar Melina até a clínica. Gerson conversa sobre Sempre inovando, há cerca de três espaços, todos na capital. Os Limas
anos que tem nova gerência e renova- são hoje referência de jovens em- 26/12 – Farmácia
Diana com o psicanalista. Gerson fica desconfiado depois de descobrir que
Stela e Agnello são amantes. Totó implora que Agnello lhe conte onde esta- da oferta. Depois de várias obras de presários de sucesso, com atividades Avenida
va na noite em que Saulo morreu. Alfredo visita Kelly no abrigo. melhoramento, este espaço oferece ao que envolvem a restauração e o en- 27/12 – Farmácia Leão
Gerson descobre que o álibi de Stela e Arthurzinho é falso. Clô repreende público um ambiente descontraído, tretenimento, entre outros.
28/12 – Farmácia Nena
Fortunato por fazer um churrasco com os seus amigos. Jéssica entra na sala com enorme variedade de bebidas - Espaço versátil, com perfil diferente
de Berilo furiosa ao saber que ele vai sair do país. Fátima revela a Felícia desde os sumos naturais à cerveja de consoante o dia da semana, o Cometa 29/12 – Farmácia Higiene
que já sabe quem é o seu pai. Mauro conta a Gerson que ele é o pai de pressão, culminando com cocktails da merece nota alta na nossa classifi- 30/12 – Farmácia Jovem
Fátima. mais diversificada gama. Nos últimos cação.
Já SEMANÁRIO GRATUITO

bai-bai
Sexta-feira 24 Dezembro 2010
Escreva-nos:
semanarioja@gmail.com

Mário Lúcio
andarilho crioulo
O menino órfão do Tarrafal, entregue ao cuidado de militares, começou cedo no caminho das letras e desco-
briu, espantado, o fascínio da música e dos sons multicolores do Mundo. Agora, ao mesmo tempo que dá à
estampa livro novo, apresenta-nos o fantástico Kreol – uma viagem musical pelas estradas da crioulização…

É viajante do Mundo, cami-


nhante à procura de remi-
niscências crioulas. Via-
gem que começou cedo,
muito cedo, numa altura em que a
inexistência de livros se fazia substituir
por rótulos de embalagens de banha, de
disse, pelo mundo de letras e palavras,
gizando até novas interpretações e sig-
nificados. “Lda.’ [de Limitada], que
surgia no rótulo da banha junto a um
braço forte, era para nós ‘braço forte li-
da’, de lidar, pelejar. Havia muita via-
gem na minha cabeça”, diz, com o
manteiga ou de azeite que Mário, ho- olhar de quem ainda se interroga do
menzinho precoce de 5 anos, do Tarra- porquê dessa peregrinação incessante
fal de Santiago, reproduzia no chão tér- pelos caminhos da vida que, num pri-
reo, utilizando como caneta o pequeno meiro tempo, o levaram até Cuba e a
dedo que aí, nesse ato criativo, adquiria um curso de Direito.
a dimensão de verdadeiro instrumento Regressado ao chão pátrio, advogado de
da escrita – pronúncio de aventuras fu- escritório e placa à porta, empreende a
turas pelo universo mágico das letras? viagem pelo mundo da música que, já
Adiante… antes – muito antes, nos tempos em que
Viajante – dizíamos - por mero acaso, viveu num quartel sob tutela do Exérci-
por circunstâncias imponderáveis, pelo to, era órfão de 12 anos -, lhe havia bati-
traço indelével, definitivo do “desti- do de mansinho, despertando nele a cha-
no”? E viajante primeiro, como já se ma que, mais tarde, o levou ao virtuoso
Simentera, no início da década de 90.
A prosa, a poesia, o teatro arrumam-se “Viver no planeta
também na vida agitada do músico que,
ainda muito jovem, ensaia passagem mais pequeno do
pelo jornalismo, corriam os tempos
agitados da independência e a explosão
sistema solar e
inevitável de criatividade que todas as confinar-me a uma
revoluções comportam e transportam.
As viagens, sempre as viagens: “viver esquina, seria muito
no planeta mais pequeno do sistema so- triste”
lar e confinar-me a uma esquina, seria
muito triste”. E a tristeza é coisa de que livro, lançado em simultâneo com Kre-
não padece o corpo franzino e rijo que ol – e primeira obra literária sua a ser
se nos apresenta de branco, numa ima- editada em Portugal -, é revisitação pe-
gem inicial de serenidade e paz. los mistérios da existência de Cristo e
“Kreol” – que a cidade da Praia ouviu conta a história da sua ressurreição em
deslumbrada, faz hoje uma semana -, é corpo de mulher. Um livro onde a
o último trabalho do músico, que tem inexistência de pontos finais decorre,
como companheiros de viagem Milton segundo o autor, por a expressão oral
Nascimento, Pablo Milanés, Harry Be- não contemplar essa pontuação em par-
lafonte, Pedro Joia, Teresa Salgueiro, ticular, e este “O Novíssimo Testa-
Cesária, entre outros, numa viagem in- mento” pretender ser conversa entre o
cessante pela rota da escravatura, regis- escritor e o universo heterogéneo desta
tando um a um os momentos, confir- mestiçagem que todos somos.
mando a dimensão universal do Ser cri- “Os portugueses não descobriram estas
oulo. ilhas, descobriram-se nestas ilhas”. E
“Somos poucos, somos pequeninos e estas palavras de Mário Lúcio
temos, necessariamente, de aprender adquirem força maior, porque são pre-
com os outros e absorver. Foi isso que nhes desse espírito de aventura que mo-
me levou, hoje em dia, a falar aberta- ve a Humanidade desde tempos ime-
mente com os africanos para que acei- moriais e que, pese embora os crimes e
tem que não somos só africanos. E falar as malfeitorias de todas as épocas, aca-
abertamente com os europeus, para que bam sempre por desembocar na parti-
aceitem que nós também somos de ori- lha das diferenças e no respeito pelo
gem europeia. É este o fenómeno de Outro.
crioulização”, atira como que a expli- É a aventura, a necessidade endémica
car o pano de fundo de Kreol – fantás- de descoberta e o eterno fascínio do es-
tica viagem pelas nossas diferenças co- panto perante o Mundo que faz mover
letivas que, por si só e na mistura de o crioulo do Tarrafal, homem precoce,
elas todas, tingem de cor este nosso menino escritor de rótulos e amante da
Mundo. vida e das pessoas, de seu nome
“O Novíssimo Testamento”, seu último completo Mário Lúcio Sousa?

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