Um dia, enfrentando meus devaneios eu percebi que há mais vida no
teatro do que possamos supor. Pense em alguém que é estrela da própria vida. Atua, rouba a cena, encanta, conquista, arranca suspiros e aplausos. São todos? Não. Há aqueles que cedem o papel principal, aqueles que preferem cuidar apenas do roteiro, ou um papel sem muitas falas. O fato é que somos todos autores da própria história.
Quantas vezes passamos o mesmo roteiro varias vezes em nossa
cabeça, esperando o dia da estreia, mas imprevistos acontecem e muitas vezes não sai como esperado. Aí improvisamos, contamos com a sensibilidade dos colegas de palco e fazemos de tudo para o publico não perceber que algo deu errado. As vezes falhas tiram o ápice da apresentação, outras passam despercebidas. O importante é não parar, aconteça o que acontecer, tem que continuar.
Em nossos corações escrevemos muitos roteiros para a mesma peça,
enquanto criamos imaginamos em nossa cabeça os atores ideais para cada papel. Nem sempre encontramos os atores idealizados, outros nos surpreendem. Juntar a equipe ideal requer tempo, análise, substituições e muita paciência. Alguns irão desistir e ir embora, outros, você percebe que não se encaixam e manda sair, coloca nos bastidores, figuração, apoio... A maioria dos roteiros nunca sairá do papel.
Ver o teatro como pura encenação e como ver na vida apenas o
propósito de sobreviver. Há sonhos, alegria, encantamento, mensagens ocultas, brilho, luzes, musica e drama. Tudo para reproduzir a própria vida em suas escalas mais sutis. Há quem chore, há quem ria, mas não há quem fique indiferente. O Teatro é a representação da vida, a sétima arte criada pelos romanos para exaltar suas divindades, representando suas próprias existências. A dualidade representada com duas máscaras (uma triste e outra feliz), evidenciando as dualidades da vida. Alegria e tristeza, bem e mal, luz e sombra, dor e bem-estar, a bondade e a crueldade... Todas as facetas da vida, dos deuses e do teatro. E quando a cortina fechar não haverá como voltar e fazer diferente. O teatro é assim, nunca uma peça sai igual á outra. Quando a cortina se fecha e as luzes se apagam podemos ouvir aplausos ou vaias. Podemos sair realizados com a sensação de dever cumprido ou frustrados sabendo que não nos saímos bem. Aquela deixa da fala que perdemos, aquele gesto que mudaria o contexto, o figurino ruim, a entrega que não tivemos... São tantos fatores, impossível atingir todos.
Portanto, façamos de cada queda uma dramatização, de cada piada
uma oportunidade para rir, de cada canção um encanto, de cada ator um aliado, de cada lágrima a oportunidade de entrega. Escolhamos nosso melhor roteiro na certeza de haver apenas uma chance. E dizem os mais experientes, ‘o segredo não é tentar agradar ao público e sim ignorá-los de tal forma que sua entrega seja convincente e satisfatória apenas a você’. Que o primeiro aplauso parta de você e que possa estar sorrindo quando a cortina finalmente cair.