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Uma introdução à relatividade restrita centrada na

interpretação geométrica de Minkowski para o plano


hiperbólico

Telmo Ricardo Costa Luís

Dissertação para obtenção do grau de Mestre em

Engenharia Electrotécnica e de Computadores

Orientadores: Professor Doutor Carlos Manuel dos Reis Paiva

Professora Doutora Filipa Isabel Rodrigues Prudêncio

Júri

Presidente: Professor Doutor José Eduardo Charters Ribeiro da Cunha Sanguino

Orientador: Professor Doutor Carlos Manuel dos Reis Paiva

Vogal: Professor Doutor Paulo Sérgio de Brito André

Novembro 2016
“Daqui em diante os conceitos de espaço e de tempo, considerados como autónomos, vão
desvanecer-se como sombras e somente se reconhecerá existência independente a uma
espécie de união entre os dois.” – Hermann Minkowski
i
AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, ao ilustre Professor Doutor Carlos Paiva por me ter proporcionado a honra de
poder realizar esta dissertação. Um eterno obrigado por todo o apoio incansável e disponibilidade
prestada. Em segundo lugar, à Professora Doutora Filipa Prudêncio pela ajuda dispensada e pela sua
imensa receptividade em colaborar nesta dissertação.

Aos meus pais e à minha irmã, pelo apoio incondicional ao longo de toda a minha vida académica e
em todos os maus e bons momentos da vida.

À minha namorada Bruna, por tudo o que fez e tem feito por mim. Foi um grande apoio ao longo de
todo o meu percurso universitário, por isso, estou-lhe eternamente agradecido.

Às minhas primas, Cátia Neves e Andreia Neves, pelo apoio e carinho que me têm prestado.

Aos meus grandes amigos e colegas da faculdade João Maurício e Francisco Pires que conheci
numa fase decisiva do curso à qual me ajudaram a ultrapassar e a partir da qual foi estabelecida uma
verdadeira amizade.

Aos meus grandes amigos Ricardo Marçal, Ivan Sang, João Luís, Sabino Santana, Mário Araújo,
Gonçalo Freitas, por tudo o que já fizeram por mim ao longo da vida. São sem dúvida os melhores.

Aos meus ilustres colegas Diogo Fernandes, Ricardo Caetano, Filipe Futuro, Fábio Silva, João Lima,
André Martins, Marco Neves.

Por fim, a todos aqueles que se cruzaram ao longo da minha vida e contribuíram positivamente para
o meu crescimento enquanto estudante e pessoa.

ii
iii
ABSTRACT

Einstein’s special relativity has introduced a radical transformation in our interpretation of space and
time. In contemporaneous physics, namely in quantum field theory, special relativity is a fundamental
tool. Both classical and quantum electrodynamics strongly depend on this new vision.

The main goal of this dissertation is to develop a new vector approach, based on a direct geometric
construction, of the hyperbolic plane as a bi-dimensional simplification of the whole four-dimensional
Minkowskian spacetime. It is intended to create a visual and intuitive interpretation of the relativity of
simultaneity, thereby allowing to directly read off both length contraction and time dilation. This
geometric algebra, therefore, makes almost irrelevant the usual emphasis on passive coordinate
transformations. Obviously, then, those effects that strictly depend on the whole four-dimensional
construction – such as Thomas rotation – are beyond the present approach.

Several typical examples of classical paradoxes are considered: the pole-in-barn paradox; the twin (or
clock) paradox. The previously developed method is used, thereby clearly showing its soundness and
applicability. Also, this alternative approach has another usefulness: more than exploring what is
relative (like space and time, when considered separately), it stresses what is absolute and invariant –
like the spacetime interval invariance underneath the new metric which prohibits a Euclidean
interpretation of spacetime plots. Finally, the twin paradox is herein addressed with parabolic and
hyperbolic paths, to stress that acceleration can (and should) be included in special relativity.

Key words: Minkowskian spacetime, Hyperbolic plane, Boost / Active Lorentz transformation, Doppler
effect, Hyperbolic motion, Twin paradox, Geometric algebra of the hyperbolic plane.

iv
v
RESUMO

A teoria da relatividade restrita de Einstein provocou uma transformação radical da nossa


interpretação do espaço e do tempo. Na física contemporânea, nomeadamente nas teorias quânticas
de campo, esta teoria constitui uma ferramenta fundamental. Tanto a electrodinâmica clássica como a
electrodinâmica quântica dependem fortemente desta nova visão da física.

O principal objectivo desta dissertação é o de desenvolver uma formulação vectorial, com uma
interpretação geométrica directa, do plano hiperbólico como a simplificação bidimensional do espaço-
tempo quadridimensional de Minkowski. Pretende-se criar uma visualização gráfica intuitiva da
relatividade do conceito de simultaneidade, que implica não só a dilatação do tempo mas também a
contracção do espaço. Esta álgebra geométrica vem tornar (quase) irrelevante o papel tradicional
desempenhado pela transformação passiva de coordenadas. Naturalmente que os efeitos que
dependem da construção quadridimensional, como a rotação de Thomas, escapam a esta construção
estritamente bidimensional.

São abordados vários exemplos típicos de paradoxos clássicos: a vara e o celeiro; o paradoxo dos
gémeos. A visualização gráfica, previamente desenvolvida, desempenha aqui um papel determinante.
Esta visão alternativa tem, também, um outro aspecto positivo: mais do que explorar o que é relativo
(como o espaço e o tempo), acentua o que (agora) é absoluto – como a invariância do intervalo
inscrita na nova métrica e que proíbe uma leitura euclidiana das figuras. O paradoxo dos gémeos é
aqui especialmente investigado quer com um troço parabólico quer através de três troços
hiperbólicos, de forma a ilustrar como a aceleração pode (e deve) ser incluída num estudo (apenas)
dedicado à relatividade restrita.

Palavras-chave: Espaço-tempo de Minkowski, Plano hiperbólico, Boost / Transformação de Lorentz


activa, Efeito Doppler, Movimento hiperbólico, Paradoxo dos gémeos, Álgebra geométrica do plano
hiperbólico.

vi
vii
LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1 - Referenciais de inércia S e S  . ....................................................................................... 15

Figura 2.2 - Diagrama espaço-tempo.................................................................................................... 16

Figura 2.3 - Transformação de Galileu num diagrama espaço-tempo. ................................................ 17

Figura 2.4 - Representação de dois sinais electromagnéticos. ............................................................ 18

Figura 2.5 - Observador dentro de um vagão. ...................................................................................... 19

Figura 2.6 - Observador na estação. ..................................................................................................... 20

Figura 2.7 - Construção da equitemp x . ............................................................................................. 21

Figura 2.8 - Equilocs e equitemps de S  . ............................................................................................ 23

Figura 2.9 - Sequência temporal de acontecimentos. ........................................................................... 23

Figura 2.10 - Parâmetro  em função de  . ........................................................................................ 25

Figura 2.11 - Representação geométrica das hipérboles e assimptotas. ............................................. 28

Figura 2.12 - Geometria euclidiana vs geometria hiperbólica. .............................................................. 29

Figura 2.13 - Diagrama de Minkowski. .................................................................................................. 33

Figura 2.14 – Duas naves espaciais A e B . .................................................................................. 34

Figura 3.1 - Dilatação do tempo. ........................................................................................................... 38

Figura 3.2 - Contracção do espaço. ...................................................................................................... 40

Figura 3.3 - Reciprocidade da dilatação do tempo. .............................................................................. 41

Figura 3.4 - Reciprocidade da contracção do espaço. .......................................................................... 42

Figura 3.5 - “Paradoxo” da vara e do celeiro......................................................................................... 45

Figura 3.6 - Sinais supra-luminosos. ..................................................................................................... 46

Figura 3.7 - Velocidades supra-luminosas. ........................................................................................... 47

Figura 3.8 - Variação de umax c no intervalo 0    1. ........................................................................ 49

Figura 3.9 - Variação de u c para   4 5 e 0    90 . ..................................................................... 50

Figura 4.1 - Método do radar de Bondi. ................................................................................................ 52

Figura 4.2 - Método do radar de Bondi(2). ............................................................................................ 53

Figura 4.3 - Intervalo espaço-tempo. .................................................................................................... 55


viii
Figura 4.4 - Sinal electromagnético comum a três observadores. ........................................................ 57

Figura 4.5 - Velocidade relativa entre os referenciais. .......................................................................... 58

Figura 4.6 - Efeito de Doppler. .............................................................................................................. 59

Figura 4.7 - Linhas de universo de Alice e Bob. ................................................................................... 61

Figura 4.8 - Vectores unitários de Alice e Bob. ..................................................................................... 62

Figura 4.9 - Emissão de um sinal electromagnético em A. ................................................................... 63

Figura 4.10 - Sinais electromagnéticos emitidos e recebidos por cada um dos gémeos. .................... 64

Figura 4.11 - Linha de universo de Alice com troço parabólico. ........................................................... 65

Figura 5.1 - Movimento hiperbólico. ...................................................................................................... 73

Figura 5.2 - Linha de universo de Alice constituída por troços hiperbólicos. ........................................ 74

Figura 5.3 - Variação de   t  . ............................................................................................................. 78

Figura 5.4 - Variação de T  T com  ................................................................................................... 78

LISTA DE TABELAS

Tabela B.1 – Tabuada C 1,1 ................................................................................................................. 90

ix
SÍMBOLOS

c Velocidade da luz

n Índice de refracção

E Vector campo eléctrico

B Vector campo magnético

F Força de Lorentz

q Carga eléctrica

v Velocidade instantânea

Ex Componente do campo eléctrico segundo o eixo x

Ey Componente do campo eléctrico segundo o eixo y

Ez Componente do campo eléctrico segundo o eixo z

Bx Componente do campo magnético segundo o eixo x

By Componente do campo magnético segundo o eixo y

Bz Componente do campo magnético segundo o eixo z

Ey Componente do campo eléctrico segundo o eixo y

Ez Componente do campo eléctrico segundo o eixo z

S Referencial próprio

S Referencial relativo

 Ângulo (euclidiano) entre referenciais

 Velocidade relativa normalizada

L0 Comprimento próprio

L Comprimento relativo

T0 Tempo próprio

T Tempo relativo

 Factor de transformação de Lorentz

x
 Rapidez do boost de Lorentz

e0 Vector unitário do tipo tempo do espaço-tempo de Minkowski

e1 Vector unitário do tipo espaço do espaço-tempo de Minkowski

r Vector acontecimento do espaço-tempo de Minkowski

k Factor de Bondi

I Intervalo espaço-tempo

 Medida do intervalo espaço-tempo

D Distância euclidiana

 Tempo próprio

f Frequência

f Frequência relativa

u Velocidade própria de uma particula

a Aceleração relativa

 Valor da aceleração própria

xi
ÍNDICE
Agradecimentos .................................................................................................................................... ii

Abstract ................................................................................................................................................. iv

Resumo.................................................................................................................................................. vi

Lista de figuras ................................................................................................................................... viii

Lista de tabelas ..................................................................................................................................... ix

Símbolos................................................................................................................................................. x

Capítulo 1 Introdução ...................................................................................................................... 1

1.1 Enquadramento ....................................................................................................................... 2

1.2 Motivações e objectivos ........................................................................................................ 10

1.3 Estrutura da dissertação ........................................................................................................ 11

1.4 Contribuições originais .......................................................................................................... 12

Capítulo 2 Simultaneidade, diagramas de Minkowski e invariância do intervalo ................... 13

2.1 Os postulados de Einstein ..................................................................................................... 14

2.2 Transformação de Galileu ..................................................................................................... 14

2.3 Relatividade da simultaneidade............................................................................................. 19

2.4 Construção geométrica dos referenciais ............................................................................... 20

2.5 Transformação de Lorentz .................................................................................................... 24

2.6 Invariância do intervalo espaço-tempo.................................................................................. 26

2.7 O espaço quadrático de Minkowski ....................................................................................... 30

2.7.1 Aplicação ....................................................................................................................... 33

Capítulo 3 Dilatação do tempo, contracção do espaço e causalidade .................................... 37

3.1 Dilatação do tempo ................................................................................................................ 37

3.2 Contracção do espaço ........................................................................................................... 39

3.3 Reciprocidade da dilatação do tempo ................................................................................... 41

3.4 Reciprocidade da contracção do espaço .............................................................................. 42

3.5 O “paradoxo” da vara e do celeiro ......................................................................................... 43

3.6 Causalidade ........................................................................................................................... 46

3.7 Velocidades supra-luminosas aparentes .............................................................................. 47

xii
Capítulo 4 Cálculo de Bondi ......................................................................................................... 51

4.1 Cálculo do factor k de Bondi .............................................................................................. 52

4.2 A “distância” na relatividade restrita ...................................................................................... 55

4.3 Composição de velocidades.................................................................................................. 57

4.4 Efeito de Doppler ................................................................................................................... 59

4.5 O “Paradoxo” dos gémeos .................................................................................................... 60

4.5.1 O “paradoxo” dos gémeos com um troço parabólico .................................................... 65

Capítulo 5 Movimento hiperbólico e aplicações ......................................................................... 69

5.1 Movimento hiperbólico ........................................................................................................... 70

5.2 O “paradoxo” dos gémeos com movimento hiperbólico ........................................................ 74

Capítulo 6 Conclusões e perspectivas de trabalho futuro ........................................................ 79

6.1 Conclusões ............................................................................................................................ 80

6.2 Perspectivas de trabalho futuro ............................................................................................. 81

Referências .......................................................................................................................................... 83

Anexo A Tempo próprio................................................................................................................... 87

Anexo B Álgebra (geométrica) de clifford C 1,1


........................................................................ 89

xiii
xiv
xv
Capítulo 1

INTRODUÇÃO

Este capítulo contém uma breve introdução e um enquadramento histórico sobre a teoria da
relatividade restrita. Posteriormente são apresentados os motivos que levaram à realização desta
dissertação, bem como os seus objectivos. É, também, apresentada a estrutura e forma como a
dissertação se encontra organizada. Por fim, são relatados os principais contributos originais deste
trabalho.

1
1.1 Enquadramento

Até a época de Galileu (1564-1642) haviam grandes dúvidas a respeito da luz. Galileu tentou medir a
velocidade da luz, mas sem sucesso, concluindo apenas que era excessivamente grande. Descartes
(1596-1650) ao estudar os eclipses da lua, concluiu que a velocidade da luz era infinita [1]. Excluindo
assim a hipótese da luz ser constituída por partículas, pois nenhuma partícula poderia ter velocidade
infinita, isso significaria que o tempo que levaria a propagar-se era nulo, i.e., a partícula estaria em
todos os lugares ao mesmo tempo.

Influenciado pelo trabalho desenvolvido pelos gregos, o físico inglês Isaac Newton (1642-1727)
formulou um modelo para explicar a natureza da luz, conhecido hoje como a teoria da natureza
corpuscular da luz. Este modelo consiste num fluxo de partículas microscópicas que são emitidas por
fontes luminosas a grande velocidade. Com isto pôde criar um modelo mecânico, determinista, de
corpos materiais em movimento, onde seria possível determinar várias grandezas ao mesmo tempo.
Portanto, de acordo com Newton, o princípio da relatividade também se deveria de aplicar à luz. No
entanto havia autores que discordavam.

Em 1675, Olaus Römer (1644-1710), concluiu que a luz levaria um certo tempo a propagar-se. Ele
estudou os eclipses dos satélites de Júpiter e percebeu que esses eclipses aconteciam antes do
previsto quando a Terra se estava a aproximar de Júpiter e depois do previsto quando se estava a
afastar. Deste estudo ele concluiu que a luz demorava aproximadamente 22 minutos para percorrer
uma distância igual ao diâmetro da orbita terrestre [2].

Uma vez que a propagação da luz não era instantânea, então poderia a luz ser constituída por
partículas como Newton veio a confirmar. No entanto Christiaan Huygens (1629-1695) sugeriu que a
luz também poderia ser constituída por ondas que se propagavam num meio transparente que
preenche o espaço - o éter [3].

As preocupações com o princípio da relatividade acentuaram-se no século XIX devido a experiências


que tentaram medir a velocidade da Terra em relação ao éter que não conseguiram.

No início do século XIX houve uma mudança nas teorias sobre a natureza da luz. Até aqui quase
todos os físicos aceitavam a teoria corpuscular e a partir do seculo XIX começaram a por como
hipótese a teoria ondulatória. Thomas Young (1773-1829) e Augustin Jean Fresnel (1788-1827) foram
os principais responsáveis por essa mudança. Fresnel admitia um éter em repouso, portanto, o éter
não seria afectado pelo movimento da terra e seria capaz de atravessar todos os objectos, por mais
densos que fossem [4].

Em 1845, George Gabriel Stokes (1819-1903) propôs uma nova teoria do éter. A teoria de Stokes
sugeria que o éter comportava-se como um líquido viscoso, que aderia à superfície dos corpos,
sendo quase totalmente arrastado pela Terra, ficando em repouso em relação a ela na região próxima
ao solo. Uma vez que o éter estaria em repouso junto ao solo, resultaria que qualquer experiência
óptica puramente terrestre era independente do movimento da Terra [4].

2
No final do século XIX, a maioria dos físicos acreditavam que o éter era uma identidade física que
preenchia todo o espaço e que transmitia a luz. No entanto, a própria teoria do éter previa algumas
dificuldades em medir a velocidade da Terra em relação ao éter. Em particular, em experiências que
usassem apenas fenómenos luminosos com propagação rectilínea, reflecção e refracção, deviam de
surgir diversos efeitos que se cancelariam, impedindo a detecção do movimento da Terra em relação
ao éter.

Mas isso não queria dizer que se deveria de descartar a hipótese da existência de éter. Pois
proporcionava uma explicação qualitativa para as forças electromagnéticas e para a propagação da
luz no vácuo. Assim como uma teoria quantitativa do éter, desenvolvida por Fresnel, propunha que
um corpo material transparente (como vidro ou água) em movimento pudesse arrastar parte do éter
consigo. A proporção  de éter arrastado dependia do índice de refracção n do material, sendo dada

por   1  1 n 2 [5].

Em 1851, Armand-Hippolyte-Louis Fizeau (1819-1896), pôs em prática a previsão teórica de Fresnel.


A experiência consistiu na medição (indirectamente) da velocidade da luz dentro de um tubo onde
havia água em movimento com uma velocidade v .

De acordo com um resultado obtido por uma experiência anterior realizada pelo próprio Fizeau e
Jean-Bernard-Leon Foucault (1819-1869), a velocidade da luz com a água em repouso era c n [6].

Portanto a nova experiência pretendia determinar a velocidade da luz com a água em movimento.
Havia três possibilidades:

1. Se a água não arrastasse o éter, então a velocidade da luz era independente da velocidade da
água e deveria de ser c n .

2. Se a água arrastasse o éter na sua totalidade, então a velocidade da luz deveria ser a soma da
velocidade da água v com a velocidade da luz em relação à água c n .

3. Se a água arrastasse parcialmente o éter (como previsto por Fresnel), então a velocidade da luz
deveria de ser a soma da velocidade da luz em relação à água c n com uma parte  da

velocidade da água, portanto seria  v  c n .

O resultado obtido por Fizeau foi o da terceira hipótese, confirmando a teoria do éter de Fresnel [6].
Portanto, para alguns fenómenos (como para a refracção) a teoria resultava. Mas para outros tipos de
fenómenos a teoria era inconclusiva.

Houveram experiências durante o século XIX, através de fenómenos de polarização e de difracção,


que pareciam ter detectado deslocamento de éter causado pelo movimento da Terra. Posteriormente,
foram repetidas as mesmas experiências e obtiveram resultados diferentes dos anteriores. James
Clerk Maxwell (1831-1879) acreditava na existência de éter, onde efectuou diversas experiências
para medir a velocidade da Terra em relação ao éter. Os testes mais famosos foram realizados por
Albert Abraham Michelson (1852-1931) em 1881 (e, depois, novamente por Michelson em conjunto
com Edward Williams Morley (1838-1923) em 1887 [7]), utilizando um interferómetro óptico, não

3
conseguiram observar os efeitos previstos pela teoria do éter de Fresnel. Até à data haviam dois
excelentes resultados, o de Fizeau e o de Michelson e Morley. Um confirmava a teoria de Fresnel
para o arrastamento do éter por corpos transparentes, o outro contrariava a teoria de Fresnel para o
éter em repouso. Aparentemente não era possível explicar com apenas uma única teoria dois
resultados que eram contraditórios entre si. Parecia necessário elaborar uma nova teoria do éter.

Poucos anos depois da experiência de Michelson e Morley, George Francis FitzGerald (1851-1901) e
Hendrik Antoon Lorentz (1853-1928) propuseram, independentemente, uma solução para a teoria do
éter de Fresnel. Eles concluíram que o interferómetro em movimento através do éter produziria uma
contração do seu comprimento. Na época não havia nenhum motivo físico para imaginar que o
movimento dos corpos através do éter devesse mudar as suas dimensões. Tanto Fitzgeral como
Lorentz, do resultado da experiência de Michelson e Morley, deduziram que alguma coisa poderia
estar a cancelar o efeito do vento de éter, atribuindo a essa coisa o efeito de contracção [9].

Nesta altura, meados de 1900, a explicação da existência do éter era bastante confusa. As duas mais
importantes teorias do éter – a de Fresnel e a de Stokes – apenas permitiam explicar uma parte dos
resultados experimentais. A teoria de Fresnel não era coerente com a experiência de Michelson e
Morley de 1887, no entanto, se admitíssemos a contracção dos objectos já havia uma compatibilidade
entre eles. Foi nesta direcção que alguns importantes investigadores, como Lorentz e Poincaré,
desenvolveram os seus trabalhos.

Maxwell desenvolveu todas as equações da sua teoria electromagnética supondo que os fenómenos
eram analisados do ponto de vista de um referencial parado em relação ao éter. Em princípio, quando
se procedesse ao estudo de fenómenos electromagnéticos num sistema em movimento em relação
ao éter, poderiam surgir novos efeitos. Pondo-se a hipótese de poder medir a velocidade de um corpo
em relação ao éter através de uma experiência electromagnética. No entanto Maxwell percebeu que,
pelo menos no caso de alguns fenómenos electromagnéticos, apenas os movimentos relativos dos
corpos produzem efeitos. Ele mostrou isso com a experiência de Faraday (indução electromagnética):
quando um íman é aproximado ou afastado de um enrolamento, surge uma corrente eléctrica no
condutor; se o íman ficar parado e o enrolamento é que possuir movimento, aparece exactamente o
mesmo efeito. Concluindo assim que o aparecimento da corrente apenas depende do movimento
relativo entre o íman e o condutor.

Um físico alemão, August Föppl (1854-1924), comentou que o efeito da indução electromagnética só
depende do movimento relativo do íman e do condutor, i.e., se eles se moverem em conjunto não
ocorrerá nenhum efeito. Föppl, baseando-se no estudo de Maxwell, diz que para todos os fenómenos
electromagnéticos apenas poderiam ser importantes os movimentos relativos.

De acordo com o historiador Gerald Holton, Einstein estudou o livro de Föppl (“Introdução à teoria da
electricidade de Maxwell”) e foi inspirado nele que escreveu o inicio do seu artigo de 1905 [10].

Em 1887, Waldemar Voigt (1850-1919) publicou um trabalho sobre o efeito de Doppler para a luz, i.e.,
a variação da frequência e do comprimento de onda da radiação, quando ela (fonte) ou o observador

4
se movem em relação ao éter. Ele começou por estudar as propriedades das ondas luminosas em
diferentes sistemas de referência. A equação de propagação da onda, em relação ao éter, era:

 2U  2U  2U 1  2U
   0 (1.1)
x 2 y 2 z 2 c 2 t 2

Voigt impôs que essa equação deveria de ser covariante, i.e., ter a mesma forma em todos os
referenciais. No entanto, isso exigia a utilização de um tipo especial de transformação de
coordenadas. Considerando dois referenciais S ( x, t ) e S ( x, t ) que se movem um em relação ao

outro, com uma velocidade v , na direcção x . A posição de um objecto, na direcção x , relaciona-se


da seguinte forma:

x  x  vt (1.2)

onde x é a posição do objecto em relação a S  , x é a posição do objecto em relação a S , e t é o


tempo decorrido a partir do instante em que as origens de S e S  se cruzam. Esta é uma relação já
bem conhecida da mecânica clássica.

Utilizando a equação anterior supondo que y  y , z  z e t   t , a equação de onda não mantém a

mesma forma quando se muda de referencial. De forma a que a equação de onda fosse covariante,
Voigt determinou as seguintes transformações de coordenadas [11]:

 x   x  vt

  v2
 y  y 1 
c2

 v2 (1.3)
 z  z 1  2
 c
 x
t   t  v 2
 c

Apenas a relação entre as coordenadas x tinham um significado físico. As restantes transformadas


eram apenas manipulações matemáticas com o intuito de com a mudança de referencial a equação
de onda manter a mesma forma. Note-se que Voigt deduziu as suas transformações segundo duas
condições. A primeira foi que a equação de onda fosse covariante, e a segunda que a transformação
da coordenada x fosse como já conhecida da mecânica clássica. Sem a segunda condição haveria
muitos outros conjuntos de equações que obedeciam à primeira condição.

Em 1893, Joseph Larmor (1857-1942) publicou um trabalho a respeito da teoria do éter. Ele tentou
justificar, partindo das equações de Maxwell, os resultados obtidos nas experiências ópticas.
Considerando que a luz era um fenómeno electromagnético, a impossibilidade de medir a velocidade
da Terra em relação ao éter podia significar que todos os fenómenos electromagnéticos ocorriam
exactamente da mesma forma. Seja num referencial parado em relação ao éter ou num referencial
em movimento. Larmor tentou desenvolver as transformações de coordenadas semelhantes às que
posteriormente Lorentz desenvolveu, mas estas eram incorrectas.

5
Em 1895, partindo das equações de Maxwell, Lorentz propõe a teoria do electromagnetismo para
sistemas em movimento. As equações de Maxwell que são escritas na actualidade na verdade foram
escritas pela primeira vez por Oliver Heaviside (1850-1925). Mas ambos assumiram que essas
equações eram válidas para fenómenos ocorridos num referencial em repouso em relação ao éter.

Lorentz assumiu que essas equações deveriam de ser válidas em relação a outros referenciais, caso
não fossem, deveriam ocorrer fenómenos diferentes num referencial parado e num referencial em
movimento em relação ao éter, que permitiam detectar o movimento da Terra em relação ao éter.

Lorentz provou que as equações de Maxwell eram válidas em qualquer referencial desde que fossem
usadas as seguintes transformações de coordenadas:

 x  x  vt
 y  y

 z  z

x
 t  t  v 2 (1.4)
 c
 E  E  v  B

 B  B  v  E
 c2

À semelhança de Voigt, Lorentz utilizou inicialmente a transformação clássica da coordenada x e


supôs que as restantes coordenadas espaciais não sofriam nenhuma alteração. Em relação à
transformação no tempo ele intitulou-a de tempo local, apesar de não ver um significado físico [12].
Em relação às transformações dos campos eléctricos e magnéticos, a primeira foi obtida através da
força de Lorentz, F  q E  v  B , a segunda é uma consequência da primeira.

Em 1895, Henri Poincaré (1854-1912) publicou um artigo no qual discutia a ideia de Larmor. Nesse
artigo ele afirma que é impossível medir o movimento absoluto da matéria, i.e, o movimento relativo
da matéria em relação ao éter. Apenas se podia medir movimento da matéria em relação à matéria.

Em 1899 Poincaré voltou ao assunto publicando um artigo intitulado de lei da relatividade onde refere
que apenas os movimentos entre os corpos materiais podem produzir efeitos. Comentou que todos
os efeitos que pudessem depender do movimento de um sistema em relação ao éter dever-se-iam
cancelar de tal forma que seria impossível detectar o movimento do sistema em relação ao éter.
Poincaré comentou que a contracção dos corpos materiais, formulada por Lorentz e Fitzgerald, era
uma explicação ad hoc, inventada apenas para justificar o resultado da experiência de Michelson e
Morley. Era então necessário desenvolver uma teoria universal, aplicável a todos os fenómenos,
compatível com a lei da relatividade.

Em 1900, Poincaré publicou um novo artigo, intitulado de princípio do movimento relativo. Nesse
artigo ele dá uma interpretação física para o tempo local de Lorentz, mostrando que essa
transformação no tempo representava o tempo medido quando os relógios eram sincronizados com
recurso a sinais luminosos.

6
Finalmente dois anos mais tarde Poincaré publica, no seu livro Ciência e hipótese, o princípio de
relatividade. Para ele a justificação da existência desse princípio era apenas devido aos resultados
obtidos nas experiências efectuadas durante o seculo XIX. Nenhuma conseguiu revelar a velocidade
da Terra em relação ao éter. Apenas movimentos relativos entre corpos materiais podem ser
medidos. De acordo com dois amigos de Einstein, Maurice Solovine e Carl Seelig, Einstein leu o livro
de Poincaré entre os anos 1902 e 1903. Portanto, Einstein conhecia o princípio da relatividade de
Poincaré e outras ideias desse autor, quando escreveu o seu artigo em 1905.

Em 1900 Larmor publica um livro intitulado Éter e matéria no qual, ao contrário do artigo que publicou
em 1893, formula correctamente as transformações de espaço e tempo que mantêm as equações de
Maxwell invariantes. Os resultados que ele chegou foram a primeira versão correcta das
transformações de Lorentz. As transformações obtidas por Larmor foram [13]:

 x  vt
 x 
 1  v2 c2
 y  y
 (1.5)
 z  z

 t   t 1  v 2 c 2  x v c 2

Substituindo x em t  obtém-se a transformação de Lorentz para o tempo. Mas, actualmente, tais


transformações são denominadas por transformações de Lorentz. À partida parece estranho uma vez
que Larmor descobriu-as primeiro que Lorentz. No entanto essas equações só se tornam uteis, no
electromagnetismo, quando são acompanhadas pelas transformações correctas das grandezas
electromagnéticas. Larmor não conseguiu chegar a esse conjunto de equações.

Quatro anos depois, em 1904, Lorentz publicou um artigo onde propõe uma teoria exacta do
electromagnetismo dos corpos em movimento. Nesse artigo Lorentz apresenta a sua transformação
de espaço e tempo em duas etapas. Na primeira etapa ele passa de um sistema S parado em
relação ao éter para um sistema S  em movimento, utilizando as transformações da física clássica,
i.e.:

 x   x  vt
 y  y

 (1.6)
 z  z
 t  t

Seguidamente, na segunda etapa, ele transforma o espaço e tempo do sistema de referência em


movimento, utilizando as seguintes relações:

7
 x
 x  
 1  v2 c2
 y   y 

 (1.7)
 z   z 
 x v c 2
 t   t  1  v 2 c 2 
 1  v2 c2

Combinando os dois conjuntos de equações obtém-se a forma usual das transformações de Lorentz:

 x  vt
 x  
 1  v2 c2
 y   y

 (1.8)
 z   z
 t  vx c 2
 t  
 1  v2 c2

No entanto, é importante referir o motivo pelo qual Lorentz faz essas transformações em duas etapas.
Para ele, a verdadeira transformação de coordenadas é as que constam na primeira etapa (que é
usualmente designado de transformações de Galileu). As transformações formuladas na segunda
etapa eram apenas um conjunto de transformações artificiais puramente matemáticas, sem qualquer
significado físico, que permitiam tonar as leis de Maxwell covariantes.

Lorentz também obteve as transformações dos campos electromagnéticos, que podem ser escritas
da seguinte forma:

 E  E
 x x

  E y  v  Bz
 Ey 
 1  v2 c2
 E  v By
E z
 z
1  v2 c2

 (1.9)
 B x  B x

 B   B y  Ez  v c
2

 y
1  v2 c2

 B  E y  v c2
 B z  z
 1  v2 c2

Com esse conjunto de equações Lorentz mostrou que é impossível medir o movimento da Terra em
relação ao éter por fenómenos electromagnéticos (e ópticos). Analisando a alteração das forças
electromagnéticas quando os corpos se movem através do éter e supondo que as forças que mantêm
a forma dos objectos sólidos se transformam do mesmo modo, Lorentz provou que os objectos
sofrem uma contracção dos seus comprimentos quando estes se movem através do éter. Portanto, a
contracção de Lorentz deixou de ser uma explicação inventada sob a justificação dos resultados

8
obtidos na experiencia de Michelson e Morley, tornando-se uma consequência das mudanças das
forças entre as partículas que compõem cada corpo.

Em 1905, Einstein publicou dois artigos que tiveram um grande impacto na teoria da relatividade [14].
Um deles foi intitulado Sobre a electrodinâmica dos corpos em movimento e contém essencialmente
o que é conhecido agora por Teoria da Relatividade Restrita. Nesse artigo Einstein obtém
essencialmente os mesmos resultados que já haviam sido obtidos por outros autores, porém de uma
forma muito mais simples e clara. No outro artigo, como suplemento do anterior, ele deduz em menos
de três páginas a provavelmente formula mais famosa da física: E  mc 2 .

Sob o ponto de vista de novos resultados científicos, o trabalho de Einstein de 1905 não trouxe
muitas contribuições. Pode-se dizer que quase todas as equações obtidas por Einstein já haviam sido
obtidas antes. No entanto, os trabalhos que foram desenvolvidos até aqui tinham como base a
existência de éter. O éter era considerado um conceito útil, capaz de proporcionar uma compreensão
dos fenómenos, embora nunca conseguiram provar a sua existência.

Para Einstein, o éter era um conceito inútil, uma vez que não era possível ser detectado. No artigo
publicado em 1905, ele adoptou o conceito de que o que não fosse detectável deveria de ser excluído
da física.

A teoria da relatividade de Einstein é geralmente famosa por ser extremamente complexa e difícil de
compreender. Mas, na verdade, a sua exposição por parte de Einstein foi bastante clara e sucinta. O
mesmo já não acontece nos trabalhos realizados por Lorentz e Poincaré. Estes autores não
apresentavam uma versão final e didáctica das suas ideias. Mostravam uma construção gradual,
através de várias tentativas, de uma teoria que sofria constantemente diversas alterações. Eles não
tinham com clareza sobre o que deveria de ser tomado como ponto de partida. Não tinham um
conjunto de postulados e um método de dedução dos resultados. Cada caso particular era estudado
por um novo método.

Em contraste, Einstein apresenta os seus pressupostos com muito mais clareza. Parte de dois
postulados tornando as deduções mais simples e claras, tanto sob o ponto de vista conceptual como
matemático. Há um método geral que é transversal a todos os casos. Esse foi um aspecto em que
Einstein impressionou e foi apreciado por toda a comunidade científica. Mesmo para aqueles que não
concordaram com os aspectos conceituais e epistemológicos da teoria de Einstein perceberam que a
sua metodologia era bastante aliciante.

Em 1908, Hermann Minkowski (1864-1909) proferiu a sua famosa palestra Espaço e Tempo numa
conferência de cientistas alemães de diversas áreas. Ele viu-se perante o seguinte problema: como
explicar aos presentes, muitos dos quais não eram físicos nem matemáticos, a teoria da relatividade
restrita introduzida por Einstein em 1905 cujo tratamento matemático envolvia conceitos matemáticos
(tensores, geometria não-euclidiana). Minkowski fê-lo falando somente da alteração que a teoria da
relatividade restrita introduzia nos conceitos de espaço e de tempo, mas sem recorrer a Matemática
sofisticada.

9
A fim de explicar o significado da Relatividade e do espaço-tempo, Minkoski teve a ideia de
representar o movimento de objectos ao longo deste ultimo através daquilo que agora se designa por
diagramas de Minkowski.

Minkowski também aproveitou os seus diagramas para representar, para cada observador, dois
cones: o cone dos acontecimentos futuros relativos a esse observador e o cone dos acontecimentos

passados. Também introduziu a distinção, agora clássica, entre vectores r  4


do tipo tempo e
vectores do tipo espaço.

Sobre o tema, a teoria da relatividade restrita, existe uma vasta bibliografia que pode ser consultada.
Desde bibliografia de nível introdutório [16-24], assim como bibliografia de nível médio [25-32], até a
bibliografia de nível avançado [33-37].

1.2 Motivações e objectivos

O ponto de partida para o desenvolvimento desta dissertação de Mestrado foi dado na disciplina de
Fotónica presente no plano curricular do Mestrado Integrado em Engenharia Electrotécnica e de
Computadores (MEEC), na qual me despertou curiosidade e interesse em aprofundar os conceitos
resultantes da Teoria da Relatividade Restrita de Einstein.

À partida pode parecer estranho a apresentação deste tema para uma dissertação final do curso
MEEC. Contudo existe uma relação íntima entre a teoria da relatividade restrita e o
Electromagnetismo.

Na teoria da relatividade restrita, Einstein formulou dois postulados em que o segundo traduz que a
velocidade da luz, c  299 792 458 m  s 1 , representa o limite máximo para a velocidade cósmica. Uma

consequência desta realidade é a do campo electrostático radial, que varia com o inverso do
quadrado da distância, dar origem (na zona distante de uma carga eléctrica acelerada) a um campo
de radiação, que ao contrário do campo electrostático, é transversal e varia inversamente com a
distância [15].

Outra consequência é a experiencia de um enrolamento (aberto) de um fio condutor a deslocar-se


sobre um campo magnético estático. Do ponto de vista do campo magnético, que vê o fio em
movimento, vê cargas em movimento sobre o campo magnético que segundo a força de lorentz,
F  qv  B , existe uma força magnética provocando uma corrente e portanto existirá uma tensão no
fio. Agora, do ponto de vista do fio condutor, este vê o campo magnético em movimento, i.e., vê um
campo magnético a variar no tempo e portanto de acordo com a lei geral da indução,
 E   B  t , existe electromagnetismo.

10
1.3 Estrutura da dissertação

Esta dissertação é composta por seis capítulos, cada um subdividido em várias secções. O primeiro
capítulo inicia-se com uma secção de enquadramento onde é realizado um resumo histórico sobre a
Teoria da relatividade restrita. Desde o que era considerado, pela comunidade científica, antes desta
teoria até ao seu aparecimento. Relata os cientistas envolvidos e as suas contribuições. Na secção
seguinte, são apresentados os motivos e objectivos que levaram à realização desta dissertação.
Posteriormente é apresentada de forma sumária a estrutura e organização da dissertação, bem como
as principais contribuições originais associadas a esta.

No segundo capítulo, começa-se por enunciar os postulados que Einstein usou como partida no seu
artigo sobre a Teoria da relatividade restrita. Seguidamente é deduzida a transformada de Galileu.
Tendo em conta que a transformada de Galileu afirma que o tempo é absoluto e a relatividade vai
contra tal afirmação, sucedesse a revisão do conceito de simultaneidade. Como consequência são
determinadas as equilocs e equitemps de dois referenciais que possuem uma velocidade relativa
entre eles. É também deduzida a transformação de Lorentz, quer a forma passiva quer a activa. Por
fim, mostra-se a existência de um absoluto na relatividade restrita, que é a invariância do intervalo.

No terceiro capítulo começa-se por abordar, formalmente, duas das consequências mais conhecidas
da teoria da relatividade restrita – a dilatação do tempo e a contracção do espaço. Em seguida,
mostra-se que a dilatação do tempo como, também, a contracção do espaço são um efeito real e
reciproco. É apresentado o “paradoxo” da vara e do celeiro. Por fim, estuda-se a causalidade e a
possibilidade de existirem velocidades supra-luminosos, que, no entanto, não passam de uma
aparência.

O capítulo 4 inicia com a determinação do factor k de Bondi a partir do método do radar de Bondi.
Com o valor de k determinado é definida a nova lei de composição de velocidades assim como o
efeito de Doppler. Por fim, é apresentado o “paradoxo” dos gémeos de duas formas. A primeira é o
caso em que a linha de universo do gémeo viajante é constituída por dois troços rectilíneos. A
segunda é para o caso em que à linha de universo do viajante é adicionado um troço caracterizado
por um arco de parábola.

No capítulo 5 é estudado o movimento hiperbólico. Por fim, é realizado (novamente) o estudo do


“paradoxo” dos gémeos em que a linha de universo do viajante é agora constituída por troços de
hipérboles.

Por fim, no capítulo 6 são resumidas as conclusões obtidas ao longo deste trabalho e são sugeridos
alguns temas e assuntos a serem explorados no futuro, permitindo, eventualmente, dar seguimento a
este trabalho.

11
1.4 Contribuições originais

O tema desta dissertação tem uma ampla e vasta abordagem pela comunidade científica, sendo
facilmente encontrado em diversos artigos e livros da especialidade. No entanto, a esmagadora
maioria desses trabalhos centra-se na transformação passiva de Lorentz, i.e., em determinar de que
forma as coordenadas de um acontecimento se transformam entre diferentes referenciais de inércia.
Resultando num estudo da teoria da relatividade restrita mais analítico.

A principal contribuição desta dissertação assenta numa interpretação geométrica, gráfica e intuitiva
de todos os efeitos da relatividade restrita sem recorrer às coordenadas, baseando-se
essencialmente numa análise vectorial. A abordagem desenvolvida é essencialmente uma álgebra
geométrica do plano hiperbólico. Assim, parte da transformação activa de Lorentz que transforma os
vectores que caracterizam um dado referencial noutros vectores que caracterizam um outro
referencial.

Salienta-se ainda a análise do paradoxo dos gémeos segundo a perspectiva clássica de referenciais
com movimento relativo uniforme mas também considerando referenciais uniformemente acelerados.
No entanto, esta ultima análise, raramente é considerada, mesmo na literatura clássica.

12
Capítulo 2

SIMULTANEIDADE, DIAGRAMAS DE
MINKOWSKI E INVARIÂNCIA DO INTERVALO

Neste capítulo começa-se por formular os postulados que Einstein usou como partida no seu artigo
sobre a teoria da relatividade restrita. Seguidamente começa-se por estudar a transformação de
Galileu evidenciando no que dela está errado motivando para uma formulação de uma nova teoria – a
teoria da relatividade restrita. É revisto o conceito de simultaneidade e por consequência uma
construção rigorosa do diagrama espaço-tempo (diagrama de Minkowski). Deduz-se a transformação
de Lorentz, tanto na forma passiva como na forma activa. Por fim, chega-se a um resultado de
elevada importância que é a invariância do intervalo espaço-tempo.

13
2.1 Os postulados de Einstein

A essência da teoria da relatividade restrita, formulada por Albert Eintein em 1905, radica na revisão
do conceito de simultaneidade. De acordo com a transformação de Galileu, o tempo é universal e
absoluto, i.e., não depende do referencial de inercia em que é medido. A teoria da relatividade restrita
de Einstein parte de dois postulados que de acordo com a mecânica newtoniana são puramente
contraditórios entre si.

 Primeiro postulado (principio da relatividade): as leis da física são as mesmas em todos os


referenciais de inércia.

 Segundo postulado (invariância de c): a velocidade da luz no vácuo não depende da


velocidade da sua fonte.

Um referencial de inércia é um referencial (um sistema de referência matematicamente equivalente a


um sistema de coordenadas) em que a estrutura não só do espaço, mas também do tempo, é
homogénea e isotrópica. Existe, então, a classe de equivalência dos referenciais de inércia. Aqui, a
relação de equivalência é o movimento relativo entre referenciais (fixado, pelo menos, um referencial
de inércia): entre dois referenciais de inércia distintos existe sempre um movimento relativo uniforme
e rectilíneo.

2.2 Transformação de Galileu

De acordo com a física pré-relativista, existe uma incompatibilidade entre os dois postulados
enunciados anteriormente. Na mecânica newtoniana não existe um limite superior para a velocidade
de uma partícula, como será possível verificar no seguinte caso.

Considerando dois referenciais de inércia S  x, y, z  e S  x, y, z . Em que S  se afasta em

relação a S com velocidade v . Admite-se que o movimento relativo apenas se efectua ao longo do
eixo x - tal como descrito na Figura 2.1.

14
Figura 2.1 - Referenciais de inércia S e S .

De acordo com a transformação de Galileu tem-se:

 x  x  vt  x  x  vt 
 y  y  y  y
 
   (2.1)
 z  z  z  z
 t   t  t  t 

A ultima equação do sistema de equações (2.1), t  t  , mostra precisamente o preconceito


newtoniano de que o tempo é universal e absoluto, independentemente do referencial inercial em que
é medido. Assim sendo, propõe-se o caso de um fotão com velocidade c em relação a S  , tal que
x  ct  . De acordo com a lei da adição de velocidades, contemplada pela transformação de Galileu,
a velocidade w do fotão em relação a S é:

x  wt  x  vt   ct   vt    c  v  t    c  v  t w cv (2.2)

Verifica-se então que a velocidade do fotão é superior à velocidade da luz ( c  299 792 458 m  s 1 ). Mas
este resultado está em total contradição com o segundo postulado, segundo o qual w  c , i.e., a
adição de velocidades não se aplica. Do ponto de vista relativista o resultado de (2.2) está errado pois
a transformação de Galileu parte de um pressuposto falso: o de que t   t , i.e., o tempo é absoluto,
também, quer dizer que, a simultaneidade tem um significado universal – independente do referencial
medido.

Em relatividade é habitual usar diagramas de espaço-tempo em que o eixo horizontal representa o


eixo do espaço e o eixo vertical o do tempo. Nestas condições está-se a reduzir o espácio-temporal
contínuo quadridimensional a um espácio-temporal contínuo bidimensional, onde existe uma única
direcção espacial. A este sistema espaço-tempo bidimensional será designado por S  x, t  tal como

se pode ver na Figura 2.2.

15
x
Figura 2.2 - Diagrama espaço-tempo.

Num diagrama espaço-tempo, como se pode observar da figura anterior, um dado ponto C deste
plano é designado por acontecimento a que corresponde o par ordenado  xC , tC  . Uma trajectória
(linha) deste plano é designada por linha de universo. Portanto, na Figura 2.2, é possível encontrar os
acontecimentos A , B e C ; e as linhas de universo u0 , u1 e u 2 . Uma linha de universo é uma

sequência contínua de acontecimentos. A linha de universo u0 corresponde à equação x  x0 para

todos os instantes, i.e., refere-se a uma partícula que se encontra estacionada na posição x0 . Já a

linha de universo u1 representa uma partícula animada de movimento uniforme, i.e., a partícula viaja

com uma velocidade constante. Por fim, a linha de universo u 2 representa uma partícula animada de

movimento acelerado, uma vez que está sujeita a uma força variável no tempo. Ainda referente à
figura convém definir o seguinte: o eixo temporal t corresponde à equação x  0 , i.e., todos os
acontecimentos ao longo deste eixo ocorrem na mesma posição x  0 . Por essa razão um eixo
temporal designa-se por equiloc. Já o eixo espacial x corresponde à equação t  0 , i.e., todos os
acontecimentos ao longo deste eixo ocorrem no mesmo instante t  0 . Por essa razão um eixo
espacial designa-se por equitemp. Todas as equilocs são paralelas entre si, o mesmo acontece para
as equitemps. As equilocs são, por definição, ortogonais às equitemps. A intersecção de uma equiloc
com uma equitemp resulta num acontecimento, p.e., o acontecimento B resulta da intersecção da
equiloc x  x0 com a equitemp t  tC . Os acontecimentos B e C são simultâneos. Os acontecimentos

A e B ocorrem na mesma posição.

Uma forma de tratar a transformação de Galileu é a de a representar num diagrama espaço-tempo,


como é possível ver na Figura 2.3.

16
Figura 2.3 - Transformação de Galileu num diagrama espaço-tempo.

Na Figura 2.3 estão representados os referenciais S  x, t  e S  x, t  . No referencial S o


acontecimento A tem coordenadas  xA , tA  e, no referencial S  , coordenadas  xA , tA  . Note-se que

as equitemps dos dois referenciais coincidem, pois como a transformação de Galileu nos diz, em (2.1)
, t   t e portanto tA  tA . O mesmo não acontece para as equilocs, sendo xA  xA  vtA . O eixo t 

corresponde à equiloc x  0 (em S  ) dada pela equação x  vt (em S ) e que intersecta a equiloc
x  0 (o eixo t ) na origem dos dois sistemas de coordenadas. Como não existe um limite para a
velocidade relativa entre os referenciais, o ângulo  da figura pode tomar valores de   2     2 .

Caso em que a velocidade entre eles seja nula ( v  0 ) tem-se   0 .

Note-se que, até agora, na apresentação de um diagrama espaço-tempo persiste um problema de


unidades: o eixo temporal e o eixo espacial não têm as mesmas unidades SI. No entanto é possível
ultrapassar esse problema introduzindo unidades geométricas atribuindo (por definição) c  1 . Assim,
por exemplo, o tempo é medido em segundos e o espaço em segundos-luz. Nestas condições,
   4 quando v  c  1 . E,

tan     (2.3)

em que  representa a velocidade (normalizada) relativa entre dois referenciais e é dado por:

v
 (2.4)
c

Como c  1 , então   v . Na transformação de Galileu tem-se      .

17
De acordo com as unidades geométricas definida anteriormente, um sinal luminoso (ou, mais geral,
um sinal electromagnético) descrito num diagrama espaço-tempo é representado por uma recta com
uma inclinação de  45 , como se indica na Figura 2.4.

Figura 2.4 - Representação de dois sinais electromagnéticos.

O sinal electromagnético 1 é caracterizado pela equação t  x  a e o sinal electromagnético 2 é

caracterizado pela equação t   x  b .

Todos os sinais electromagnéticos são, em qualquer referencial de inércia, paralelos a um dos sinais
apresentados na Figura 2.4. Isto é uma imposição do segundo postulado. Uma das consequências
imediatas do segundo postulado é corrupção da universalidade do conceito de simultaneidade. Como
se verá adiante, as equitemps de um referencial de inércia não podem ser paralelas às equitemps
doutro referencial de inércia (distinto do anterior). É aqui que a relatividade restrita diverge
profundamente da transformação de Galileu, apresentada na Figura 2.3. Uma vez que a
transformação de Galileu está errada é necessário deduzir uma nova transformação de coordenadas.
Essa nova transformação é designada por transformação de Lorentz. O correspondente diagrama de
espaço-tempo designa-se por diagrama de Minkowski.

18
2.3 Relatividade da simultaneidade

O conceito de simultaneidade absoluta é incompatível com o segundo postulado de Einstein. Em


seguida vai-se proceder à revisão do conceito de simultaneidade, com recurso a diversos problemas
geométricos.

Consideremos um observador O  que viaja num comboio em movimento, com velocidade  , descrito

pelo sistema de coordenadas S  , como se pode ver na Figura 2.5.

Figura 2.5 - Observador dentro de um vagão.

A experiência efectuada, e que a Figura 2.5 descreve, é a seguinte: o viajante (observador O  ), que
está dentro e exactamente a meio do vagão ( m ) de comprimento L 0 . No instante de tempo t   0

(acontecimento M ) emite simultaneamente (do seu ponto de vista) dois sinais electromagnéticos em
sentidos diametralmente opostos. Um dos sinais alcança o extremo esquerdo do vagão ( e1 ) no

acontecimento A e o outro sinal alcança o extremo direito do vagão ( e2 ) no acontecimento B . Como

os sinais percorrem a mesma distância ( L 0 2 ) com a mesma velocidade ( c ), o viajante vê os dois

sinais a chegarem às extremidades do vagão em simultâneo, tA  tB .

No decorrer da experiência descrita na Figura 2.5, encontra-se um observador O que se encontra na


estação de comboios, descrito pelo sistema de coordenadas S , que vê o comboio em andamento da
esquerda para a direita. A Figura 2.6 mostra a perspectiva do observador O em relação à
experiência efectuada pelo viajante.

19
Figura 2.6 - Observador na estação.

Do ponto de vista do observador O , que vê o comboio a andar a partir da estação de comboios, os


acontecimentos A e B não são simultâneos. A Figura 2.6 mostra, com efeito, que A é anterior a B,
pois tA  t B . Em conclusão desta experiência, do ponto de vista do observador O  os acontecimentos

A e B são simultâneos, mas do ponto de vista do observador O não são. Conclui-se então que a
simultaneidade de acontecimentos é um conceito relativo, i.e., depende do referencial de inércia
medido. Isto implica então que o tempo não é absoluto, i.e., o tempo não flui de igual forma para
referenciais distintos. Uma consequência disto é que as equitemps de referenciais distintos, num
diagrama espaço-tempo, já não coincidem, como se pode ver na secção seguinte.

2.4 Construção geométrica dos referenciais

Resta agora determinar a equação, do ponto de vista de S , que descreve a equitemp de um


referencial S  em que este possui uma velocidade relativa  em relação a um referencial S . Expõe-

se, então, a seguinte experiência: num vagão de um comboio (referencial S  ), de comprimento L 0 (

L para S ), em movimento (com velocidade  ) encontram-se dois indivíduos: a Alice e o Bob. A Alice

encontra-se na extremidade esquerda do vagão ( e1 ) e o Bob na extremidade direita do vagão ( e2 ). Em

simultâneo, no instante t   0 , enviam um sinal electromagnético um para o outro. Uma vez que
enviam os sinais ao mesmo tempo então irão ver os seus sinais a cruzarem-se um com o outro
precisamente a meio do vagão (acontecimento M), tal como mostra a Figura 2.7.

20
Figura 2.7 - Construção da equitemp x .

Pela geometria da Figura 2.7 é fácil descobrir que os acontecimentos A e B representam o momento
em que são emitidos os sinais electromagnéticos pela Alice e pelo Bob, respectivamente. Uma vez
que emitiram os sinais em simultâneo, então, do ponto de vista da Alice e Bob (de S  ), os
acontecimentos A e B são simultâneos. Portanto, a linha que trespassa estes dois acontecimentos é,
por definição, uma equitemp de S  . A esta equitemp corresponde o eixo x uma vez que contém a
origem do referencial.

Já com o eixo x determinado graficamente, vai-se em seguida determinar a equação que o descreve
(do ponto de vista de S ).

Comecemos por determinar as coordenadas do acontecimento M. Analisando a Figura 2.7, o


acontecimento M ocorre na intersecção de 2 tx, 1 t  x  b e m x   t  L 2 . Então,

 L
t  x  xM  2 1   
 
M  L   (2.5)
 x   t  2 t  L
 2 1   
M

Conhecendo as coordenadas de M é, agora, possível determinar o valor de b em 1 , ficando

1 t   x  L 1    .

Agora é necessário calcular as coordenadas do acontecimento B. Este é intersectado por

1 t   x  L 1    , e2 x   t  L e x t  tA  m  x  xA  (é o que se quer descobrir).

Então,

21
 L
 L  xB  1   1   
t   x  
B  1    (2.6)
x   t  L t  L
  B 1   1   

Finalmente, com as coordenadas dos acontecimentos A  0, 0 e B  xB ,tB  conhecidas é agora


possível determinar a equação que descreve o eixo x (do ponto de vista de S ). O declive m de x é
dado por:

tB  tA
m  tan     (2.7)
xB  xA

Assim o eixo x é descrito, do ponto de vista de S , pela seguinte equação:

tx (2.8)

Posto isto, fica assim demonstrada a equação dos eixos  x , t  do diagrama de Minkowski. Como os

declives dos eixos x e t  são recíprocos um do outro, o ângulo entre os eixos t e t  (ver Figura 2.3)
é o mesmo que o ângulo entre os eixos x e x . Esse ângulo é designado por  . Uma vez que S vê
S  a afastar-se com velocidade  , então S  vê S a afastar-se com velocidade  . Em resumo,
mostra-se as seguintes equivalências:

eixo x (equitemp de S ) t0 t     x


eixo t (equiloc de S ) x0 x    t 
(2.9)
eixo x (equitemp de S ) t  0 tx
eixo t  (equiloc de S ) x  0 xt

Assim, fica demonstrado que as equitemps de S não são paralelas às equitemps de S  . Confirmando
que na relatividade restrita a simultaneidade é um conceito relativo, i.e., o tempo é relativo. O ângulo
entre uma equitemp de S e uma equitemp de S  é  e depende da velocidade relativa  .

Agora com os eixos x e t  bem conhecidos é fácil determinar qualquer outra equiloc ou equitemp de
S  . Bastando apenas, no diagrama de Minkowski, traçar sucessivas rectas paralelas aos seus eixos
de S   x, t  , tal como se apresenta na Figura 2.8.

22
Figura 2.8 - Equilocs e equitemps de S  .

A seguinte situação, ilustrada na Figura 2.9, pretende mostrar como uma dada sequência temporal de
acontecimentos depende do observador (ou sistema de coordenadas) considerado. Assim, para este
caso, existem dois observadores: um primeiro observador, denominado O , com equiloc também
assim designada e equitemp O  ; um segundo observador, denominado P , com equiloc também

assim designada e equitemp P  .

Figura 2.9 - Sequência temporal de acontecimentos.

23
Na Figura 2.9, que representa o espaço-tempo de Minkowski, existem cinco acontecimentos:
A,B,C,D,E . A sequência temporal destes acontecimentos depende do observador: é determinada
pela forma como as linhas equitemp desse observador intersectam esses acontecimentos. Assim, de
acordo com o observador O , a sequência temporal é a seguinte: A  B  C  E  D . Mas, por
outro lado, de acordo com o observador P , a sequência temporal é a seguinte:
B  A  C  D  E . Portanto os observadores O e P não vêem os acontecimentos a
sucederem-se pela mesma ordem. Isto é uma consequência directa do conceito de simultaneidade
ser relativo.

2.5 Transformação de Lorentz

A transformação (passiva) de Lorentz tem como objectivo deduzir uma relação de transformação
entre um sistema de coordenadas  x , t  e um sistema de coordenadas  x , t  . Quer isto dizer que,

conhecendo as coordenadas de um dado acontecimento num certo referencial, com a transformação


de Lorentz é possível obter as coordenadas desse mesmo acontecimento noutro referencial.

A questão que se põe é: qual será a relação de transformação entre os referenciais S e S  . A


transformação (ou, com mais rigor, o boost) de Lorentz deverá ter, assim, a seguinte forma:

t   1 t   x 
(2.10)
x   2  x   t 

Resta, apenas, determinar  1 e  2 . Com efeito, a transformação é linear (transforma linhas de

universo rectilíneas em linhas de universo, também, rectilíneas) e tem que ser tal que satisfaça as
equações de (2.9).

Se um laser emitir um feixe luminoso descrito, em relação a S , pela equação x  t , o mesmo feixe
luminoso terá de ser descrito, em relação a S  , pela equação x  t  . Logo, após substituir estas duas
últimas equações de propagação nas equações de transformação (2.10), obtém-se

 t    1 1    t t
     1 1      2 1    (2.11)
 t   2 1    t t

pelo que deve ser, necessariamente,

t
1   2      1    (2.12)
t

em que  é o factor de transformação de Lorentz. Assim, vem

 t   1    t 
       (2.13)
x    1  x
24
A inversa desta transformação dá (invertendo a matriz anterior):

t 1 1    t 
  2    (2.14)
   1     
x 1   x 

Mas, de acordo com o principio da relatividade (primeiro postulado), a transformação em (2.14) deve
ser idêntica à de (2.13) (à parte de  trocar de sinal), ficando

t 1    t 
     (2.15)
 x  1   x 

Isto implica que deverá ter-se

1 1
    (2.16)
 1   2
 1  2

Observando a expressão de  em (2.16) terá que se excluir a solução negativa, pois para   0 terá

de se ter   1 , i.e., quando S e S  estão em repouso, um em relação ao outro, os seus eixos

coincidem. Assim, tem-se

1
  (2.17)
1  2

Quando se tem 1    1 (imposição do segundo postulado, note-se que se está sempre a

considerar unidades geométricas, c  1 ), vem   1 . A Figura 2.10 representa a função       .

Figura 2.10 - Parâmetro  em função de  .

25
Portanto, em síntese, um boost de Lorentz – que corresponde a transformar os eixos x e t em
novos eixos x e t  , tal como indicado (geometricamente) na Figura 2.8 – escreve-se analiticamente
da seguinte forma:

1 t    t   x  t    t    x 
  (2.18)
1  2 x    x   t  x    x   t  

E na forma matricial, tem-se:

 t   1    t  t 1   t  
               (2.19)
 
x   1  x   
x  1  x  

2.6 Invariância do intervalo espaço-tempo

Facilmente se prova que a teoria da relatividade desmonta o seguinte mito popular: na teoria da
relatividade tudo é relativo. Com efeito, encontra-se aqui um invariante. Qual? É o que se vai
descobrir em seguida.

Da trigonometria hiperbólica, sabe-se que, cosh 2    sinh 2    1 . Agrupando esta equação com

(2.16) tem-se:

cosh2    sinh2    1
cosh2    sinh2    1
1  (2.20)
   2   2 2  1
 1   2 

Assim deduz-se, que

 e   e
   cosh   
 e   e
  = tanh   
2
 (2.21)
    sinh    e 
 e e   e

 2

O parâmetro  designa-se por rapidez do boost de Lorentz.

Assim, o boost de Lorentz também se pode apresentar da seguinte forma:

 t   t   x   t   cosh   t  sinh   x
    
 x   x  t  x   sinh   t  cosh   x
(2.22)
 t    cosh    sinh     t 
    
 x     sinh   cosh     x 

26
Pelo que

 t   x  cosh    sinh     t  x   t   x  e    t  x 
  
 t   x  cosh    sinh     t  x   t   x  e  t  x 

(2.23)

  t   x  t   x    t  x  t  x   t    x   t  x
2 2 2 2

Acaba-se, em (2.23), de obter um resultado de especial relevância na relatividade que é a invariância


do intervalo de espaço-tempo. Com base neste resultado pode-se afirmar que a geometria do
espaço-tempo de Minkowski não é euclidiana: o plano  x , t  tem uma geometria hiperbólica. O
conceito de “distância” é, desta forma, revisto, na teoria da relatividade restrita. Enquanto que no
plano euclidiano o lugar geométrico dos pontos que se encontram a uma distância fixa de um dado
ponto (centro) é uma circunferência. No plano hiperbólico, o lugar geométrico dos acontecimentos
que se encontram a uma “distância” (intervalo de espaço-tempo) fixa de um dado acontecimento é
uma hipérbole.

Recorde-se que, do ponto de vista de geometria euclidiana, existe um ângulo formado entre os eixos
t e t  que é igual ao ângulo formado entre os eixos x e x . Esse ângulo foi designado por  , sendo
(como se viu) tan     . Este ângulo é, portanto, unicamente determinado pela velocidade relativa

entre dois referenciais de inércia ( S e S  ). Uma vez que este ângulo é euclidiano, então é “impróprio”
para (verdadeiramente) representar um ângulo no plano de Minskowski. O ângulo  é então
substituído por um ângulo (hiperbólico) designado por  (rapidez do boost de Lorentz).

Num sistema de coordenadas S todas as equilocs são paralelas entre si. O mesmo acontece em
relação às respectivas equitemps. As equilocs são, por definição, ortogonais às equitemps. Porém,
ortogonalidade não significa, na relatividade restrita, o mesmo que perpendicularidade (no seu usual
sentido euclidiano).

Como consequência do intervalo de espaço-tempo ser invariante, mostra-se na próxima secção, que
a física relativista implica uma geometria que não é euclidiana.

O plano  x , y  2
euclidiano, com x 2  y 2  r 2  0 (em que r  0 quando x  y  0 ), tem de ser

substituído pelo plano x, t 2


hiperbólico, com t 2  x2  . Onde, de (2.23), resultam as

seguintes possibilidades:

t 2  x2   2
t  x  s
2 2 2
t 2  x2  0 (2.24)
x2  t 2   2

Resultam, portanto, duas hipérboles e duas rectas (assimptotas). As hipérboles do tipo tempo e do
tipo espaço são descritas por t 2  x2   2 e x 2  t 2   2 , respectivamente. E as rectas (assimptotas)

do tipo luz são descritas por t   x . Seguem as suas representações geométricas na Figura 2.11.

27
Figura 2.11 - Representação geométrica das hipérboles e assimptotas.

De maneira a esclarecer a diferença entre a geometria euclidiana e a geometria hiperbólica expõe-se


o caso da Figura 2.12. Nesta figura estão presentes dois observadores: o observador O  x, t  em
que se designa o eixo t por O e o eixo x por O  e o observador P  x, t  em que se designa
o eixo t  por P e o eixo x por P  . A hipérbole H  de equação t 2  x2   2 corresponde ao lugar

geométrico dos acontecimentos A  x, t  em que o intervalo entre os acontecimentos A e O  0, 0  é

I   2 . A hipérbole H  de equação x2  t 2   2 corresponde ao lugar geométrico dos


acontecimentos B  x, t  em que o intervalo entre os acontecimentos B e O  0, 0  é I    2 . A

hipérbole degenerada de equação t 2  x2  0 corresponde ao lugar geométrico dos acontecimentos

C  x, t  em que o intervalo entre os acontecimentos C e O  0, 0  é I 0. As hipérboles

identificadas representam a geometria hiperbólica que é onde assenta a relatividade restrita. Para
comparação, o equivalente na geometria euclidiana, tem-se uma circunferência (a tracejado) que é o
lugar geométrico dos pontos P  x, t  cuja distância (euclidiana) entre os pontos P e O  0, 0  é

D r.

28
Figura 2.12 - Geometria euclidiana vs geometria hiperbólica.

Considerando dois acontecimentos E1  x1 , t1  e E2  x2 , t2  . O intervalo entre eles é definido por

I E1 , E2   t2  t1 2   x2  x1 2 (2.25)

E a medida deste intervalo, por definição, é

 E1 , E2    t2  t1    x2  x1 
2 2
(2.26)

Assim, na Figura 2.12, a medida correspondente à hipérbole H  é    e a medida correspondente

à hipérbole H  é    . O conceito de medida é, portanto, um conceito do plano hiperbólico que

corresponde ao conceito de distância do plano euclidiano. A distância euclidiana entre O  0, 0  e

A  x, t  é dada por

D  tA2  xA2  r (2.27)

Do ponto de vista de O , tem-se:

O  x ,t   t ,t 
A  (2.28)
A A A A

Infere-se que

D  tA2  xA2  tA 1   2  r (2.29)

Note-se que o acontecimento A pertence à equiloc P , à circunferência (a tracejado) e à hipérbole


H  . E, do ponto de vista de O , a equiloc P é descrita pela equação x   t . Mas,
29
tA 1  2
   tA2  xA2  tA 1  2  r (2.30)
 1  2

Assim, tem-se

 1  2
 (2.31)
r 1  2

em que  é a medida do intervalo ( métrica lorentziana) e r a distância (métrica euclidiana). Note-se

que, só quando se tem   0 é que a distância euclidiana coincide com a medida do intervalo, i.e.,

      r . Para   1, obtém-se   0 – é o caso da hipérbole degenerada.

2.7 O espaço quadrático de Minkowski

Um espaço quadrático de Minkowski é um espaço vectorial (ou linear) ao qual é adicionado uma
métrica, designada de métrica lorentziana. Convém aqui salientar o seguinte: está-se a considerar
uma simplificação do espaço-tempo, reduzindo-o a um espaço quadrático bi-dimensional. Nesta
simplificação apenas se considera uma única dimensão espacial, identificando este modelo de
1,1
espaço-tempo com o plano hiperbólico . Porém, quando se estuda todo o espaço-tempo (i.e., sem
4
esta simplificação) começa-se (necessariamente) por considerar um espaço vectorial e, de
seguida, munir este espaço com uma forma quadrática (tornando-o, eventualmente, no espaço
1,3
quadrático ). No entanto, muitos aspectos relevantes do espaço quadrático de Minkowski são
tratáveis no âmbito do espaço quadrático bi-dimensional (plano hiperbólico). Por isso, sempre que
1,3
não haja a necessidade de recorrer ao espaço de Minkowski completo (i.e., ), a análise decorre
no plano hiperbólico.

2
Do ponto de vista do espaço vectorial (ou linear) um acontecimento do plano hiperbólico ou um
ponto do plano euclidiano são, um vector

r  t e 0  x e1 (2.32)

Este vector é, apenas, uma forma de especificar o par ordenado t , x   2


. Mas, aqui, o intuito é

definir uma base

B  e 0 , e 1  (2.33)

linearmente independente e completa. Por exemplo, a base canónica ( e0   t  1, x  0  ,

e1   t  0, x  1 ). Até aqui, não há o conhecimento sobre a eventual ortogonalidade dos dois

vectores desta base (muito menos sobre o “comprimento” de cada um destes vectores). Só quando
se estabelece uma métrica é que entra a noção de espaço quadrático. Uma métrica é a matriz
30
e e e 0  e1 
G  0 0  (2.34)
 e1  e 0 e1  e1 

É, então, é necessário determinar o produto interno entre os vectores. Só aqui é que entra a noção de
ortogonalidade (assim como a noção de “comprimento”).

Na métrica euclidiana tem-se:

e e e 0  e1   1 0 
G  0 0   (2.35)
 e1  e 0 e1  e1   0 1 

Contudo, esta métrica euclidiana é fisicamente incompatível com a teoria da relatividade, porque a
sua adopção implicaria que a invariância teria que ser

r 2  r  r   t e0  x e1    t e0  x e1   t 2 e 02  2 t x e0  e1   x 2e 12 (2.36)

Na métrica euclidiana, tem-se

e 02  e 0  e 0  1
e 12  e1  e1  1 (2.37)
e 0  e1  e1  e 0  0

o que implica a invariância da forma quadrática

r 2  t 2  x 2  t    x
2 2
(2.38)

A métrica lorentziana diverge da métrica euclidiana. Na métrica lorentziana, tem-se

e e e 0  e1   1 0 
G  0 0   (2.39)
 e1  e 0 e 1  e 1   0  1

Pelo que

e 02  e 0  e 0  1
e 12  e1  e1  1 (2.40)
e 0  e1  e1  e 0  0

o que implica a invariância de

relatividade plano métrica


r 2  t 2  x 2   t     x 
2 2
(2.41)
restrita hiperbólico lorentziana

Assim, a invariância do intervalo está correcta, como se pode verificar em (2.23). A métrica euclidiana
não tem existência física no contexto do espaço-tempo. É o plano hiperbólico que corresponde à
física relativista, tendo-se:

e e e 0  e1   1 0 
G  0 0   (2.42)
 e1  e 0 e 1  e 1   0  1

31
Neste capítulo já foi deduzida a transformação (passiva) de Lorentz. Vai-se agora deduzir a
transformação (activa) de Lorentz, que resulta em deduzir de que forma se transforma a base

B  S   e 0 , e 1 B  S   f 0 , f 1 (2.43)

num boost de Lorentz.

Tendo em conta a seguinte analogia

 t , x   t  , x 
 (2.44)
  e 0 , e 1  f 0 , f1 

então

r  t e0  x e1  t  f 0  x f1 (2.45)

Portanto, o mesmo vector r é visto no sistema de coordenadas S como r  t e 0  x e1 e, no sistema

de coordenadas S  , como r  t  f 0  x f1 . Mas como se viu em (2.19): t     t   x  e x    x   t  .

Assim, infere-se que

r  t  f 0  x f1    t   x  f 0    x   t  f1
   f 0   f1  t    f1   f 0  x (2.46)
 t e 0  x e1

Pelo que se obtém

e 0    f 0   f1   e0   1    f0 
     (2.47)
e1    f1   f 0   e1    1   f1 

Note-se, porém, que

1
  1   1 1  1 
        (2.48)
   1   1   2
  1  1

Portanto, a transformação (activa) de Lorentz tem a seguinte forma:

f0    e0   e1  e0    f0   f1 
 (2.49)
f1    e1   e0  e1    f1   f0 

E na forma matricial, tem-se:

 f0  1    e0   e0   1     f0 
             (2.50)
 f1   1   e1   e1    1   f1 

Repare-se que, deste modo, vem

32
f f f 0  f1   e 0  e 0 e 0  e1   1 0 
G  0 0    (2.51)
 f1  f 0 f1  f1   e1  e 0 e 1  e 1   0  1

Com o produto interno dos vectores cruzados obtém-se:

e f e 0  f1     
M  0 0 
e 1  f 1   

 
(2.52)
 e1  f 0

Na Figura 2.13 apresenta-se um diagrama de Minkowski.

Figura 2.13 - Diagrama de Minkowski.

O mais importante da Figura 2.13 é a sua natureza não-euclidiana. Os quatro vectores e 0 , e1 , f 0 , f1

são vectores unitários, portanto, tem o mesmo “comprimento”. Note-se que um vector unitário do tipo
tempo ( e 0 ou f 0 ) define uma família de equilocs e um vector unitário do tipo espaço ( e1 ou f 1 ) define

uma família de equitemps. Um boost (activo) de Lorentz transforma e 0 , e 1  em f 0 , f 1  . O ângulo 

é hiperbólico. A hipérbole t 2  x2  1 é o lugar geométrico dos afixos dos vectores do tipo tempo,
centrados na origem, com medida (lorentziana) unitária. Por sua vez, a hipérbole x2  t 2  1 é o lugar
geométrico dos afixos dos vectores do tipo espaço, centrados na origem, com medida (lorentziana)
unitária. Qualquer vector sobre a recta t  x tem medida (lorentziana) nula.

2.7.1 Aplicação

De forma a por em prática os vectores referidos nesta secção, veja-se a seguinte aplicação. Numa
estação espacial S x , t duas naves tripuladas A e B são lançadas em sentidos

33
diametralmente opostos. Do ponto de vista de S a nave espacial A tem uma velocidade  e a

nave espacial B tem uma velocidade   . Quando o relógio da estação espacial marca t  0 , as

duas naves encontram-se (do ponto de vista da estação espacial) a uma distância L e os respectivos
relógios (também) marcam zero. Quando o relógio de A marca T , é emitido um sinal
electromagnético de A em direcção a B . A questão que se põe é: qual é o tempo T  que o
relógio de B marca quando este sinal chega a B ?

Uma boa maneira de examinar o caso descrito é recorrer a um diagrama de Minkowski, como se
pode ver na seguinte figura.

Figura 2.14 – Duas naves espaciais A eB .

Pretende-se, apenas, determinar o tempo T  em termos da velocidade relativa  bem como do


tempo T e da distância L . Do quadrilátero A BCD da figura, obtém-se a identidade vectorial

CD  CA  AB  BD  T g 0   L e1  T f 0  BD  e 0  e1  (2.53)

O valor BD é aqui desconhecido – mas é irrelevante para a resolução deste problema. Note-se, com
efeito, que

e0  e1    e0  e1   e0  e1   e02  2 e0  e1   e12  0


2
(2.54)

dado que e02  1 , e12   1 e e0  e1  0 . Mas, não podia deixar de ser de outra forma: como BD é um

sinal electromagnético, o seu intervalo (de espaço-tempo) é necessariamente nulo. Portanto, fazendo
o produto interno de ambos os membros da equação (2.53) por e0  e1 , obtém-se

T  g 0   e0  e1    L e1   e0  e1   T f0   e0  e1   BD  e0  e1 
2

(2.55)
 T  g 0   e0  e1    L e1   e0  e1   T f0   e0  e1   T  g 0   e 0  e1   L  T f 0   e 0  e1 
34
Logo, como

 f0  e0  
 f0    e0   e1   f0  e1   
   (2.56)
 g 0    e0   e1   g 0  e0  

 g 0  e1   

infere-se que

1 1 
 1    T   L   1    T  T  L T (2.57)
 1    1 

Desta forma, chega-se à expressão pretendida

1  1 
T  L T (2.58)
1  1 

35
36
Capítulo 3

DILATAÇÃO DO TEMPO, CONTRACÇÃO DO


ESPAÇO E CAUSALIDADE

Neste capítulo começa-se por abordar, formalmente, duas das consequências mais conhecidas da
teoria da relatividade restrita – a dilatação do tempo e a contracção do espaço. Trata-se de duas
consequências da relatividade do conceito de simultaneidade. Em seguida, mostra-se que a dilatação
do tempo como, também, a contracção do espaço são um efeito real e reciproco. É apresentado o
“paradoxo” da vara e do celeiro. Por fim, estuda-se a causalidade e a possibilidade de existirem
velocidades supra-luminosos, que, no entanto, não passam de uma aparência.

3.1 Dilatação do tempo

Consideram-se, na Figura 3.1, dois observadores O  x, t  e P  x, t   . Em que o observador


O tem uma equiloc designada por O e equitemps designadas por O e O 1 e o observador P tem
uma equiloc designada por P . O observador O vê o observador P a afastar-se de si com uma
velocidade relativa  . Os dois observadores cruzam-se no acontecimento O e sincronizam os seus

relógios, tO  tO  0 . O observador P a dada altura (acontecimento B) observa o seu relógio e lê um

tempo próprio (i.e., um tempo medido no referencial em que o relógio se encontra em repouso) de
tB  T0 . O observador O procura ler o seu relógio ao mesmo tempo que P (acontecimento A),

37
lendo um tempo de tA  T . Repare-se que do ponto de vista de O , os acontecimentos A e B são
simultâneos, pois pertencem à mesma equitemp (O 1 ). Portanto, a questão que agora se põe é: será

que T é igual a T0 ?

Figura 3.1 - Dilatação do tempo.

Para responder a esta pergunta utilizam-se os conceitos vectoriais deduzidos na Secção 2.7. De
acordo com a descrição da Figura 3.1 tem-se

OA  T e0 , OB  T0 f0 (3.1)

Então,

OB  OA  AB  T0 f 0  T e 0  L e 1 (3.2)

Note-se que o termo AB  L e 1 , da equação anterior, é desconhecido. No entanto é possível fazer

desaparecer esse termo fazendo o produto interno de ambos os membros pelo vector e0 pois

e 1  e 0  0 . Ficando,

T0  f 0  e 0   T  e 0  e 0  (3.3)

Sabendo de (2.51) e (2.52) que

1
f0  e 0     1, e02  e 0  e 0  1 (3.4)
1  2

Deduz-se, assim, a dilatação do tempo

T   T0  T0 (3.5)

38
De uma forma mais sucinta tem-se

T  e 0  OB  T0  f 0  e 0    T0 (3.6)

Conclui-se assim que, o observador O verifica que o relógio de P (que está em movimento, do seu
ponto de vista, marcando um tempo T0 ) se atrasa em relação ao seu próprio relógio (que marca, para

o mesmo intervalo de espaço-tempo, um tempo T ).

3.2 Contracção do espaço

Veja-se, agora, a contracção do espaço ilustrado na Figura 3.2. Consideram-se, novamente, dois
observadores O e P . Em que o observador P tem equilocs designadas por P 1 e P 2 e equitemp

designada por P  e o observador O tem equitemp designada por O  . Do ponto de vista de P uma

régua com um comprimento (próprio) L 0 encontra-se em repouso. A extremidade esquerda da régua

é dada pela equiloc P 1 enquanto que a extremidade direita corresponde à equiloc P 2 . Repare-se

que o comprimento da régua, do ponto de vista de P , é medido com recurso à equitemp P  pois

permite fixar um instante de tempo. Do ponto de vista de O , que vê o observador P (e, com ele, a
régua) a afastar-se de si, com uma velocidade relativa  , o comprimento dessa mesma régua mede

L. Portanto, a questão que se põe é: será que L é igual a L 0 ?

39
Figura 3.2 - Contracção do espaço.

Naturalmente, que o observador O para efectuar uma medição correcta da régua tem que medir as

suas extremidades em simultâneo, i.e., sobre uma mesma equitemp O  . De acordo com a descrição

da Figura 3.2 tem-se

OA  L e1 , OB  L 0 f1 (3.7)

Então,

OB  OA  AB  L 0 f1  L e 1  T f 0 (3.8)

Uma vez que AB  T f 0 é desconhecido, é possível eliminar este termo fazendo o produto interno de

ambos os membros da equação pelo vector f1 , já que f0  f1  0 . Obtendo-se,

L0  f1  f1   L  e 1  f1  (3.9)

Sabendo de (2.51) e (2.52) que

e 1  f1   , f12  f1  f1  1 (3.10)

Deduz-se, assim, a contracção do espaço

L0
L  L0 (3.11)

De uma forma mais sucinta tem-se

L 0  f1  OA   L  e1  f1    L (3.12)

40
Conclui-se assim que, o observador O verifica que a régua que P transporta (que está em
movimento, com comprimento próprio L 0 ), do seu ponto de vista aparece contraída de comprimento

L.

3.3 Reciprocidade da dilatação do tempo

Tanto a dilatação do tempo como a contracção do espaço são um efeito real e reciproco. Ambos os
pontos de vista (o de O e o de P ) estão correctos. De forma a clarificar esta afirmação mostra-se,
na Figura 3.3, em que sentido a dilatação do tempo é um efeito reciproco.

Figura 3.3 - Reciprocidade da dilatação do tempo.

Na Figura 3.3 estão representados dois observadores O e P , em que o observador O vê o


observador P a afastar-se de si com uma velocidade relativa  . Estão também representadas duas

hipérboles do tipo tempo (introduzidas na secção 2.6) H e H 0 cujas suas equações são:

H t 2  x2  T 2
(3.13)
H0 t 2  x 2  T0 2

Começa-se por considerar a perspectiva do observador O . O intervalo de tempo que decorre entre
os acontecimentos O e A é OA  T como prova a hipérbole H . Do ponto de vista de O o
acontecimento de P que é simultâneo com A é o acontecimento B pois  A,B O 1 . Porém,

B  H 0 , i.e., OB  T0 . Logo o relógio de P marca T0  T em B . É esta a dilatação do tempo na

41
perspectiva do observador O . Veja-se, agora, a outra perspectiva – a do observador P . O intervalo

de tempo que decorre entre os acontecimentos O e A  é OA  T como prova a hipérbole H . Do

ponto de vista de P o acontecimento de O que é simultâneo com A  é o acontecimento B pois

A ,B P  . Porém B  H 0 , i.e., OB  T0 . Logo o relógio de O marca T0  T em B. É esta a


dilatação do tempo na perspectiva do observador P . De facto, a conclusão é sempre a mesma: os
relógios em movimento atrasam-se em relação ao relógio estacionário. Não poderia ser de outra
forma. Com efeito, o princípio da relatividade (primeiro postulado) afirma que as leis da física são as
mesmas em todos os referenciais de inércia. Se se observa a dilatação do tempo do ponto de vista
de O , o mesmo efeito tem de se verificar do ponto de vista de P .

3.4 Reciprocidade da contracção do espaço

Na Figura 3.4 mostra-se em que sentido a contracção do espaço é (tal como a dilatação do tempo)
um efeito (também) reciproco.

Figura 3.4 - Reciprocidade da contracção do espaço.

Na Figura 3.4 estão representados dois observadores O e P , em que o observador O vê o


observador P a afastar-se de si com uma velocidade relativa  . Estão também representadas duas

hipérboles do tipo espaço (introduzidas na secção 2.6) H e H 0 cujas suas equações são:

H x 2  t 2  L2
(3.14)
H0 x 2  t 2  L02

42
Do ponto de vista do observador O uma régua de comprimento (próprio) L 0 encontra-se em

repouso, sendo as suas extremidades delimitadas pelas equilocs O x  0 e O1 x  L 0 . Com

efeito, o comprimento da régua é medido sobre a equitemp O  entre os acontecimentos O e B  H 0

. No entanto, o observador P , vê esta régua em movimento medindo um comprimento L sobre a


equitemp P  que corresponde ao comprimento entre os acontecimentos O e A   H . As hipérboles

do tipo espaço H e H 0 mostram, claramente, que existe uma contracção do espaço pois L  L 0 .

Agora, do ponto de vista do observador P existe (também) uma régua de comprimento (próprio) L 0 ,

em repouso, delimitada pelas equilocs P x  0 e P 1 x  L 0 . Com efeito, o comprimento da

régua é medido sobre a equitemp P  entre os acontecimentos O e B  H 0 . No entanto, o

observador O , vê esta régua em movimento medindo um comprimento L sobre a equitemp O 

que corresponde ao comprimento entre os acontecimentos O e A  H . As hipérboles do tipo espaço


H e H 0 mostram, novamente, que existe uma contracção do espaço pois L  L 0 . De facto, a
conclusão é sempre a mesma: a régua que se encontra em movimento é maior em relação à régua
que está em repouso. Este efeito é reciproco, se se observa a contracção do espaço do ponto de
vista de O , o mesmo efeito tem de se verificar do ponto de vista de P .

3.5 O “paradoxo” da vara e do celeiro

Uma das manifestações práticas da relatividade do conceito de simultaneidade é a contracção do


espaço. Mas, tal como a dilatação do tempo, trata-se de um efeito recíproco. Porém, se mal
interpretado, pode dar origem a (aparentes) paradoxos. O termo paradoxo está associado a situações
onde ocorrem contradições lógicas. Mas, como se irá constatar, nada existe de contraditório na sua
logica. O que ocorre é, pura e simplesmente, um choque em relação ao senso ou intuição comuns.
Pois, quase todos os resultados mais importantes da relatividade restrita correspondem a um desvio
em relação ao senso comum. Um exemplo desse tipo de “paradoxos” é o exemplo conhecido na
literatura por “paradoxo” da vara e do celeiro, que é apresentado de seguida.

Suponha-se que a Alice corre, com uma vara na mão disposta paralelamente ao chão, em direcção à
porta frontal (aberta) de um celeiro. No referencial da Alice a vara tem um comprimento 0 (dito

próprio, pois é medido no mesmo referencial em que a vara está em repouso). O celeiro, por sua vez,
tem um comprimento (também) próprio L 0 . Mas então, se se admitir que 0  L 0 , dir-se-ia que a vara

nunca poderia caber no interior do celeiro. Pelo menos quando a vara está em repouso no referencial
do celeiro.

43
Mas, a Alice corre com uma velocidade  na direcção do celeiro. Portanto, de acordo com a

relatividade restrita, é necessário ter em consideração a contracção do espaço. Para fixar ideias
admite-se que:   0.8 , 0  2.5 e L 0  2 . No referencial do celeiro, a vara tem um comprimento

 0
 1  2  1.5  L0 (3.15)

0

Portanto, do ponto de vista do celeiro, a vara sofre uma contracção cabendo neste pois  L0 .

Porém, a contracção do espaço é um efeito reciproco. Assim, no referencial da Alice é o celeiro que
regista uma contracção, tendo um comprimento

L0
L  1   2 L 0  1.2  (3.16)

0

Portanto, do ponto de vista da Alice, a vara não cabe no celeiro pois 0  L.

Parece que, assim, a reciprocidade da contracção do comprimento da vara conduz, de facto, a uma
quebra de reciprocidade quanto ao resultado final: do ponto de vista do celeiro a vara cabe; mas, do
ponto de vista da Alice, a vara não cabe. Quem tem razão?

O problema só é resolvido se, mais uma vez, se atender à relatividade do conceito de simultaneidade.
A vara tem uma extensão, não é um ponto. Em qualquer referencial nunca a vara se poderá reduzir a
um único acontecimento. Ela corresponde, isso sim, a um intervalo finito de acontecimentos. E, se se
tiver isto em linha de conta, não existe qualquer contradição.

Para facilitar a análise considera-se que o celeiro tem duas portas: uma porta frontal e uma traseira.
Cada porta abre-se assim que a vara da Alice entra (pela porta frontal) ou sai (pela porta traseira) do
celeiro.

De forma a clarificar toda esta situação recorre-se a um diagrama de Minkowski – como é possível
ver na Figura 3.5.

44
Figura 3.5 - “Paradoxo” da vara e do celeiro.

Nesta figura é apresentado um diagrama de Minkowski que esclarece o que (realmente) se passa no
“paradoxo” da vara e do celeiro. O celeiro é representado pelo referencial C  x, t  e a Alice
representada pelo referencial A  x, t  . Neste diagrama o celeiro é representado pela região do
espaço-tempo compreendida entre as equilocs C x0 x    t  (porta frontal) e

C1 x  L0 x     t   L (porta traseira), i.e., pela área a sombreado a cinza. Por sua vez, a vara

é representada pela região do espaço-tempo compreendida entre as equilocs (de Alice)


A x  0 x   t (ponta traseira) e A 1 x  0 x  t  (ponta dianteira), i.e., pela área

sombreada a azul. Note-se que os segmentos de recta que correspondem às equilocs do celeiro C
e C 1 são contínuos quando a respectiva porta se encontra fechada e a tracejado quando a

respectiva porta se encontra aberta.

No referencial do celeiro estão indicadas duas equitemps: C t  0 e C 1 t  t0 . A equitemp C 

corresponde ao instante em que a ponta traseira da vara entra no celeiro e mostra que, nesse mesmo
instante, a ponta dianteira ainda está no interior do celeiro (a porta traseira está fechada). A equitemp
C 1 corresponde ao instante em que a ponta dianteira da vara está a começar a sair do celeiro e
mostra que, nesse mesmo instante, a ponta traseira da vara ainda está no interior do celeiro (a porta
frontal está fechada). Portanto, do ponto de vista do celeiro existe, de facto, um intervalo de tempo,
0  t  t0 , em que a vara se encontra (totalmente) dentro do celeiro. No referencial da Alice estão

indicadas duas equitemps: A  t  0 e A 1 t   t0  0 . A equitemp A  1 indica o instante em

que a ponta dianteira da vara começa a sair do celeiro e mostra que, nesse mesmo instante, a ponta
traseira ainda se encontra do lado exterior do celeiro (a porta frontal está aberta). A equitemp A 

indica, por sua vez, o instante em que a ponta traseira da vara entra finalmente no celeiro e mostra
45
que, nesse mesmo instante, a ponta dianteira já se encontra fora do celeiro (a porta traseira está
aberta). Portanto, mesmo no intervalo t0  t   0 , do ponto de vista da Alice a vara não cabe dentro do

celeiro.

Assim, o (aparente) paradoxo da vara e do celeiro consiste na aparente contradição entre o facto de a
vara caber toda dentro do celeiro, do ponto de vista do celeiro, e, por outro lado, a vara nunca caber
toda dentro do celeiro, do ponto de vista da Alice. Mas não há, de facto, qualquer contradição: o que
o celeiro entende como toda a vara num dado instante (i.e., sobre uma equitemp do celeiro) não
coincide – dada a relatividade da simultaneidade – com o que a Alice entende ser toda a vara num
dado instante (i.e., sobre uma equitemp de Alice).

3.6 Causalidade

Esta secção aborda a questão da relação entre o princípio da causalidade e a teoria da relatividade
restrita. Basicamente pretende-se mostrar que sinais supra-luminosos (i.e., sinais com velocidade
superior à da luz) violam o princípio da causalidade. Deforma a respeitar este princípio (toda a causa
procede o respectivo efeito), apenas sinais luminosos ou sub-luminosos (i.e., sinais com velocidade
inferior à da luz) são admissíveis. De forma a mostrar que assim o é, veja-se o caso da Figura 3.6.

Figura 3.6 - Sinais supra-luminosos.

Nesta figura estão representados dois observadores: a Alice e o Bob. A Alice é representada pelo
referencial A  x, t  e o Bob representado pelo referencial B  x, t  . No acontecimento
A  0,tA  Alice envia uma mensagem supra-luminosa que se propaga ao longo da linha de universo

u1 x   1  t  tA  . Como este sinal, que transporta a mensagem de Alice, é supra-luminoso, tem-se

46
 1  1 . Este sinal atinge Bob no acontecimento B  xB ,tB  e Bob instantaneamente reenvia a

mensagem de volta para Alice através (também) de um sinal supra-luminoso (pois  2  1 ) que se

propaga segundo a linha de universo u2 x   2  t  tC  . O sinal que Bob envia atinge Alice no

acontecimento C  0,tC  que – tanto do ponto de vista de Alice como do ponto de vista de Bob – é um

acontecimento anterior a A  0,tA  , i.e., tC  tA . Ou seja: Bob recebe uma mensagem de Alice e, assim

que recebe esta mensagem, reenvia-a (instantaneamente) de volta atingindo a Alice no passado em
relação ao envio (por Alice) desta mensagem. Para clarificar apresenta-se o seguinte facto impossível
(mas compatível) com esta sequência de acontecimentos: Alice toma conhecimento de um número
premiado na lotaria em A  0,tA  , envia esta mensagem para Bob que, de seguida, a envia para o

passado (antes do sorteio) da Alice – de forma que Alice toma conhecimento do número premiado
antes deste ser sorteado… Mas, naturalmente, esta violação da causalidade só foi possível através
da possibilidade da existência de sinais supra-luminosos (um primeiro, de Alice para Bob, seguido de
um segundo, de Bob para Alice). Conclui-se, que não é possível a propagação de informação com
velocidades supra-luminosas e, portanto, todas as acções físicas só se propagam com velocidades
luminosas ou sub-luminosas.

3.7 Velocidades supra-luminosas aparentes

Coloca-se, por fim, uma questão: são mesmo todas as velocidades supra-luminosas proibidas? Na
verdade, existem velocidades que são efectivamente supra-luminosas mas, no entanto, nenhuma
acção física se propaga com velocidade supra-luminosa. Veja-se o seguinte exemplo, ilustrado na
Figura 3.7.

Figura 3.7 - Velocidades supra-luminosas.

47
Esta figura descreve a propagação de uma certa quantidade de material luminoso, proveniente de
uma explosão, que se propaga ao longo da recta , com velocidade v , no sentido P1  P2 . No
instante t1 , o material encontra-se no ponto P1 e, no instante t2 , no ponto P2 . A recta possui uma

inclinação de  em relação à direcção P1 O que liga o ponto P1  a um observador muito distante,


com uma distância d 1 . Ao fim de um intervalo de tempo  t , o material estelar que se encontrava em

P1 encontra-se, agora, em P2 , com t2  t1   t , tendo percorrido a distância v  t . No entanto, o

observador distante, situado no ponto O , regista uma velocidade transversal u aparente em que o
material parece progredir, na direcção perpendicular a P1 O , uma distância L  v sin    t num

intervalo de tempo T , tal que (em unidades SI)

 d   d   d  d2  d1  d 2
T   t2  2    t1  1    t2  t1    1   t  (3.17)
 c   c   c  c

Uma vez que o observador está a uma grande distância do que se está a suceder, admite-se a
aproximação segundo a qual a direcção P2 O é praticamente paralela a P1 O , sendo

d1  d2  v cos    t (3.18)

Assim, infere-se que

T   t 1   cos    (3.19)

Daqui resulta que a tal velocidade (aparente) transversal u , que o observador regista, é dada por
L v sin    t  sin  
u   uc (3.20)
T  t 1   cos    1   cos  

Uma vez que

1   cos      cos       sin   


2
u
c  0   cos     2  0 (3.21)
 1   cos   
2

Assim, o máximo desta velocidade transversal aparente umax ocorre para um ângulo  0 tal que

1
cos 0    sin  0   1  2  (3.22)

Logo,

 1  2 umax 
umax  c    (3.23)
1  2
c 1  2

48
Em particular, obtém-se

lim  u max    (3.24)


vc

De facto, esta velocidade umax ultrapassa a velocidade da luz (no vácuo) desde que

umax  1
 1   (3.25)
c 1  2
2

Assim, confirmando-se na Figura 3.8, a partir de uma velocidade   1 2 o valor máximo da

velocidade (aparente), umax , que o observador vê a luz a expandir-se num círculo centrado em P1

sobre o plano perpendicular à direcção P1 O , ultrapassa efectivamente o valor c . Note-se que, para

 1 
2 , tem-se  0  cos 1
1

2  45 .

Figura 3.8 - Variação de umax c no intervalo 0    1 .

49
A seguinte figura mostra a variação de u c para   4 5  0.8 e 0    90 .

Figura 3.9 - Variação de u c para   4 5 e 0    90 .

50
Capítulo 4

CÁLCULO DE BONDI

Neste capítulo começa-se por determinar o factor k de Bondi a partir do método do radar de Bondi. É
revisitado o conceito de intervalo, agora, com mais rigor. Em seguida é deduzida a nova lei de
composição de velocidades usando o método do radar de Bondi, assim como também é deduzido o
efeito de Doppler. Por fim, é exposto o “paradoxo” dos gémeos através do efeito de Doppler de duas
formas diferentes. A primeira é o caso em que a linha de universo do gémeo viajante é constituída por
dois troços rectilíneos. A segunda é para o caso em que à linha de universo do viajante é adicionado
um troço caracterizado por um arco de parábola.

51
4.1 Cálculo do factor k de Bondi

Considere-se um observador arbitrário designado por O  x, t  . A equiloc O é uma linha recta

caracterizada pela equação x  0 . O observador O pretende determinar as coordenadas  xA , tA  do

acontecimento A. Para tal utiliza-se o método do radar de Bondi. O observador O envia um sinal
electromagnético, emitido no instante t (acontecimento S  0, t  ), em direcção a A. Assim que este

sinal é recebido em A, é reflectido de volta para o observador O sendo aí recebido no instante t

(acontecimento S  0, t  ). Assim, a questão é a seguinte: quais são as coordenadas  xA , tA  do


acontecimento A em função dos instantes t e t ? A Figura 4.1 ilustra esta situação.

Figura 4.1 - Método do radar de Bondi.

De forma a responder à pergunta note-se que, o sinal electromagnético teve dois percursos. O
primeiro percurso corresponde à viagem de ida até ao acontecimento A. O segundo percurso
corresponde à viagem de volta ao observador O . Como o acontecimento A está a uma distância fixa
de O , o tempo que o sinal demora no percurso de ida é o mesmo que o sinal demora no percurso de
volta, isto porque a velocidade dos sinais electromagnéticos é (em unidades geométricas) c  1 .
Assim, o acontecimento A encontra-se a meia distância total percorrida pelo sinal electromagnético.
Então,

1
xA   t  t  (4.1)
2

52
Assim, o acontecimento sobre o eixo O que é simultâneo com o acontecimento A  xA , tA  é o

acontecimento B  0, t B  tA  que está no ponto médio entre os acontecimentos S  0, t  e S  0, t  ,

logo

1
tA   t  t  (4.2)
2

Como do ponto de vista do observador O os acontecimentos A e B são simultâneos, então A e B


pertencem a uma equitemp de O (neste caso a O  ).

As equações (4.1) e (4.2) permitem, inversamente, calcular t e t a partir das coordenadas xA e tA .

Adicionando e subtraindo (ordenadamente) uma equação pela outra, obtém-se

t   t A  xA
(4.3)
t   t A  xA

Agora, relativamente ao caso anterior, é adicionado um novo observador, o observador P  x, t   ,


definido pela equiloc P . Como é possível ver na Figura 4.2, este contém o acontecimento A.

Figura 4.2 - Método do radar de Bondi(2).

53
Logo, os acontecimentos S  , B e S  pertencem exclusivamente ao observador O e o

acontecimento A ao observador P . O acontecimento origem O  0, 0  é o único acontecimento que

pertence simultaneamente aos dois observadores. Existe, portanto, uma velocidade relativa  que

indica o progressivo afastamento entre O e P , sendo

xA t  t
  (4.4)
t A t  t

Ora, como já se viu anteriormente, a simultaneidade é um conceito relativo, i.e., o tempo não é
absoluto. Assim, o acontecimento A do ponto de vista do observador O tem como coordenadas

O  x ,t 
A  (4.5)
A A

Mas do ponto de vista de P tem como coordenadas

P   x , t     0, 
A  (4.6)
A A A

em que  A representa o tempo próprio de A. Com as coordenadas do acontecimento A para cada

observador definidas, vai-se agora proceder à introdução do chamado factor k de Bondi. Como
descrito na Figura 4.2, o observador O envia um sinal electromagnético no instante t

(acontecimento S  ) para P . O observador P recebe o sinal, pelo seu relógio, no instante  A

(acontecimento A) e devolve-o de imediato a O que o recebe em t (acontecimento S  ). Portanto de

acordo com Bondi, existe um factor k (que se vai determinar) que relaciona os instantes t , t O e

 A P da seguinte forma:

A  k t 
 t  k 2 t (4.7)
t  k  A

Relacionando com (4.3) obtém-se o valor de k que é dado por:

t tA  xA tA   tA 1   1 
k2      k (4.8)
t tA  xA tA   tA 1   1 

54
4.2 A “distância” na relatividade restrita

Nesta secção vai-se revelar, com rigor, de que forma o conceito de “distância” é revisto na teoria da
relatividade restrita. No plano euclidiano o lugar geométrico dos pontos que se encontram a uma
distância fixa de um dado ponto (centro) é uma circunferência. A Figura 4.3 revela que, no plano
hiperbólico, o lugar geométrico dos acontecimentos que se encontram a uma “distância” fixa de um
dado acontecimento é uma hipérbole. Na verdade, em relatividade, uma vez que se usa diagramas
espaço-tempo, essa “distância” entre acontecimentos é um intervalo de espaço-tempo (e não, como
no plano euclidiano, como uma mera distância espacial entre dois pontos do espaço).

Figura 4.3 - Intervalo espaço-tempo.

Note-se que a Figura 4.3 é análoga à Figura 4.1. Assim, o observador O tem uma equiloc definida
pela sequência de acontecimentos S  0, t   B  0, tA   S  0, t  . Os acontecimentos A  xA , tA  e

C   xA , tA  são simultâneos com B. Portanto, a sequência de acontecimentos

C   xA , tA   B  0, tA   A  xA , tA  define a equitemp O  . Põe-se, agora, a seguinte questão: onde se

encontram os acontecimentos S  x, t  cujo intervalo de espaço-tempo em relação ao acontecimento

S  0, t  é sempre igual ao intervalo de espaço-tempo entre B  0, tA  e S  0, t  ?

De forma a responder a esta pergunta começa-se por relembrar que: o intervalo entre dois

acontecimentos ao longo de um sinal electromagnético é nulo. De facto, o intervalo  A  tA2  xA2

torna-se nulo quando xA  tA .

55
Define-se, então, os seguintes vectores:

 v  S B  v  w  S A
  (4.9)
 w  B A  v  w  S C

Como se pode verificar na Figura 4.3, os novos vectores v  w e v  w pertencem a sinais


luminosos. Logo o respectivo intervalo espaço-tempo é tal que

  v  w 2  S A 2
0
 

 (4.10)
  v  w   S C
2
0
2

Ora, por outro lado, tem-se

  v  w 2   v  w    v  w   v 2  2  v  w   w 2  0
 (4.11)
  v  w    v  w    v  w   v 2  2  v  w   w 2  0
2

donde, adicionando e subtraindo ordenadamente, vem

  v  w 2   v  w 2  2 v 2  2 w 2  0 w2  v2
  (4.12)
  v  w    v  w   4  v  w   0 vw  0
2 2

Seja, agora,

u  S S  f  s  v  s w (4.13)

onde s . A pergunta atrás colocada tem, então, a seguinte formulação algébrica:

  f  s  v  s w   f 2  s  v 2  2 s f  s   v  w   s 2 w 2  v 2
2 2
u 2  S S (4.14)

Portanto, infere-se que

f 2  s  v2  s2 v2  v2  f 2  s   1  s2  f  s   1 s2 (4.15)

Em conclusão, obtém-se

u  s   S S  1  s 2 v  s w, u2  s   v2 (4.16)

O lugar geométrico descrito pelos vectores u  s  , quando   s   , é a hipérbole H desenhada

na Figura 4.3 e que passa pelo acontecimento B  0, tA  . Todos os acontecimentos S  x, t   H têm o

mesmo intervalo em relação ao acontecimento S  0, t  que o acontecimento B  0, tA  . Repare-se

que o acontecimento B  0, tA  corresponde a fazer s  0 na equação de H .

56
4.3 Composição de velocidades

Na secção 2.2 constatou-se que a mecânica newtoniana tinha que ser revista. Pois, segundo a
transformação de Galileu, a adição de velocidades para o caso proposto nessa secção seria:
w  c  v  c . Mas, de acordo com o segundo postulado da teoria da relatividade restrita de
Einstein, esta composição de velocidades não pode ser simplesmente uma adição: w  c  v . Na
teoria da relatividade restrita vai-se designar essa composição de velocidades por: w  c  v  c  v .
De facto, de acordo com o segundo postulado, esta nova composição de velocidades, neste caso,
deverá obter-se w  c  v  c . No entanto, para pequenas velocidades, quer a composição de
velocidades de Einstein como a de Galileu se aproximam do mesmo resultado, i.e.,
w  v1  v2  v1  v2 .

De forma a deduzir a nova lei de composição de velocidades veja-se um caso concreto. Considere-se
três observadores: O S  x, t  , P S   x, t   e Q S   x, t  . Em que P se afasta de O com
velocidade 1 e Q afasta-se de P e de O com velocidade  2 e  , respectivamente, com

   2  1 . O observador O assim que o seu relógio marca t (acontecimento A ), envia um sinal

eletromagnético para o observador P . Este recebe o sinal eletromagnético no instante t 

(acontecimento B ). O observador P assim que recebe o sinal envia-o de imediato para o


observador Q . Este recebe-o e o seu relógio marca t  (acontecimento C ). A ilustração geométrica
do caso descrito encontra-se na seguinte figura.

Figura 4.4 - Sinal electromagnético comum a três observadores.

57
De modo a clarificar melhor as velocidades compreendidas entre os referenciais de inércia dos
respectivos observadores é ilustrado um diagrama na seguinte figura.

Figura 4.5 - Velocidade relativa entre os referenciais.

De acordo com a informação dos relógios dos observadores envolvidos é fácil inferir que as
coordenadas (próprias) dos acontecimentos referidos anteriormente são:

O  0, t 
A 
P   0, t 
B  (4.17)
Q   0, t 
C 

De acordo com o método do radar de Bondi é possível relacionar os acontecimentos da seguinte


forma:

t   k1t , t   k2t  , t   kt (4.18)

Então,

t   k1k2 t
 k  k1k2 (4.19)
t   kt

O resultado que se acaba de obter mostra que o factor k resultante da viagem total que o sinal
electromagnético percorre corresponde ao produto dos vários factores k de cada troço desse mesmo
percurso. Uma vez que  depende de k como é possível ver em (4.8), então substituindo em (4.19)

obtém-se, assim, a nova lei da composição de velocidades:

1   2
  1   2  (4.20)
1  1  2

58
4.4 Efeito de Doppler

Esta secção tem a finalidade de introduzir o efeito de Doppler longitudinal (como o movimento em
estudo se processa numa única direcção espacial, não é possível considerar o efeito de Doppler
transversal). Para deduzir o efeito de Doppler longitudinal usa-se (novamente) o método do radar de
Bondi. Este método baseia-se no factor k , que já foi introduzido na secção anterior. Veja-se, então, a
Figura 4.6.

Figura 4.6 - Efeito de Doppler.

Na Figura 4.5, existem dois relógios O  x, t  e P  x, t  que se afastam com uma velocidade
relativa  . Note-se que para o caso de afastamento,   0 , mas quando é de aproximação,   0 . O

observador emite periodicamente, com período T , sinais electromagnéticos que são recebidos por
P , embora com um período T  . Então,

T  t2  t1
(4.21)
T   t2  t1

Como

t1  k t1
(4.22)
t2  k t 2

Obtém-se

T   k  t2  t1   kT (4.23)

Substituindo o valor de k de (4.8), tem-se


59
1 
T  T (4.24)
1 

Como

1
f 
T
(4.25)
1
f
T

Chega-se à expressão do efeito de Doppler:

f 1 
f  f f (4.26)
k 1 

A expressão (4.26) é para o caso em que os observadores se afastam. Para o caso em que se
aproximam, tem-se

1 
fk f  f f (4.27)
1 

4.5 O “Paradoxo” dos gémeos

Esta secção expõe outro (aparente) paradoxo muito conhecido na literatura. Segundo a relatividade
restrita, um individuo que parta numa viagem com uma velocidade elevada verifica, no seu regresso,
que o seu irmão gémeo que permaneceu no planeta Terra envelheceu muito mais do que ele. Este
fenómeno é devido à dilatação do tempo, como se introduziu no Capitulo 3. Mas, a dilatação do
tempo é um efeito reciproco. Pois, segundo o princípio da relatividade, pode-se também considerar o
caso inverso, o viajante como imóvel e o seu irmão gémeo (o que ficou na Terra) a deslocar-se no
sentido oposto e a regressar menos envelhecido. Como estas duas situações não podem ser
simultaneamente verdadeiras verifica-se, assim, um paradoxo. De forma a desmistificar este
paradoxo veja-se um caso concreto.

A Alice e o Bob são dois gémeos que vivem no planeta Terra. A Alice efectua uma viagem espacial, o
seu gémeo Bob fica no planeta Terra, com uma velocidade (relativa) uniforme   3 5 . De forma a

simplificar a análise, vai-se considerar que a viagem da Alice, apenas, consiste em duas fases: (i) a
viagem de ida; (ii) a viagem de volta. A Alice desloca-se, então, na sua nave espacial, afastando-se
da Terra até atingir uma distância L  3 anos-luz (usa-se unidades geométricas: tempo em anos e
distância em anos-luz). Assim que Alice atinge essa distância L, instantaneamente, inverte a sua
marcha fazendo a viagem de regresso para o planeta Terra. Portanto, existe um único instante, em

60
toda a viagem, em que se admite existência de aceleração – quando Alice faz inversão de marcha,
alterando instantaneamente a sua velocidade de   para  (aceleração instantânea infinita). A

Figura 4.7 mostra um diagrama de Minkowski com a linha de universo de Bob, que corresponde à
sequência de acontecimentos O  B e com a linha de universo de Alice, que corresponde à
sequência de acontecimentos O  A  B .

Figura 4.7 - Linhas de universo de Alice e Bob.

De acordo com Bob, a viagem de Alice durou um intervalo de tempo T . Uma vez que Alice viajou até
uma distância L  3 anos-luz , tem-se

T 2L
L  T  10 anos (4.28)
2 

Mas, do ponto de Alice, a sua viagem durou um intervalo de tempo T  , tendo-se

T 1 5
T   8 anos , com    (4.29)
 1  2 4

Assim, admitindo que os gémeos tinham 20 anos no início da viagem, quando os gémeos se
reencontram (aquando do regresso da Alice), o Bob tem 30 anos e a Alice tem 28 anos.

Seja B  x, t  o referencial de inércia associado a Bob (sempre na Terra) munido de dois vectores
unitários e 0 , e1 . No caso da Alice, devido a esta inverter o seu sentido a meio da viagem

(acontecimento A), é impossível descreve-la num único referencial de inércia. No entanto, é possível
descreve-la segundo dois referenciais: (i) o referencial A 1  x1, t1  munido dos vectores unitários

61
f 0 , f1  , que corresponde à viagem de ida; (ii) o referencial A 2  x2 , t2  munido dos vectores
unitários  g 0 , g 1  , que corresponde à viagem de volta.

Tem-se

f0    e0   e1  g 0    e0   e1 
, (4.30)
f1    e1   e0  g1    e1   e0 

Desta forma, na Figura 4.8, são ilustrados os vectores associados a cada um deles.

Figura 4.8 - Vectores unitários de Alice e Bob.

Na Figura 4.8 estão também representadas as equilocs e as equitemps dos referenciais de Alice e do
referencial de Bob. No referencial de inércia B  x, t  (de Bob), a viagem de ida de Alice é descrita
pela equação x   t (equiloc A 1 ) com equitemp de equação t   x  ta , enquanto que a viagem de

volta é descrita pela equação x   T  t  (equiloc A 2 ) com equitemp de equação t   x  tb .

Os instantes ta e tb são dados por

T
ta    L  3.2 anos
2
(4.31)
T
tb    L  6.8 anos
2

A diferença temporal entre os dois instantes é de

 t  tb  ta   2 t  3.6 anos (4.32)

62
Durante a viagem de Alice existe um período de tempo vivido por Bob que a Alice desconhece. Já
Bob assiste por completo à viagem de Alice. É aqui que se regista uma quebra de reciprocidade entre
os gémeos. Isso acontece devido ao facto de Alice na inversão de marcha (acontecimento A da
Figura 4.7) mudar instantaneamente de referencial: de A1  x1, t1  f 0 , f1  para

A2  x2 , t2  g 0 , g1  . Ou seja, no acontecimento A as equitemps de Alice mudam

instantaneamente de direcção – antes a equitemp que passa em A intersecta o eixo do tempo de Bob
no instante ta  3.2 anos e, imediatamente depois, a equitemp que passa em A intersecta o eixo do

tempo de Bob no instante tb  6.8 anos . Assim, ao fazer a inversão de marcha, Alice perde do seu

radar um intervalo de tempo  t  3.6 anos vivido por Bob. No entanto, Bob assiste por completo à

viagem de Alice pois a sua linha de universo é descrita apenas por um referencial,
B  x, t  e 0 , e1  .

A Figura 4.9 mostra uma consequência da quebra de reciprocidade entre Alice e Bob.

Figura 4.9 - Emissão de um sinal electromagnético em A.

A Alice no acontecimento A (imediatamente antes dela fazer a inversão de marcha) envia um sinal
electromagnético, descrito pela equação t   x  t1 , para Bob com a informação de que está a

efectuar a inversão de marcha. Por sua vez, Bob só toma conhecimento – no seu radar – da inversão
de marcha da Alice no instante t1  T 2  L  8 anos . Assim, do ponto de vista de Bob, a viagem de

volta de Alice deverá durar t2  T  t1  T 2  L  2 anos . Adicionando t1 e t2 confirma-se que, do

ponto de vista de Bob, a duração total da viagem de Alice é T  t1  t2  10 anos . Do ponto de vista de

Alice tem-se t1  t 2  T 2    4 anos , o que resulta numa duração total de viagem de

T   t1  t 2  8 anos .

63
Para comparar a interpretação de Bob com a de Alice ambos os gémeos acordam em enviar para o
outro sinais electromagnéticos com a mesma frequência. Seja f a frequência dessa emissão (i.e., o

número de sinais que cada um deles emite na unidade de tempo próprio). Porém, pelo efeito de
Doppler (relativista) longitudinal, se os sinais são emitidos por cada um à frequência f não é essa a

frequência com que são recebidos pelo outro. Na viagem de ida de Alice, dado que existe um
afastamento mútuo, a frequência a que se recebe os sinais é f1  f k  f . Na viagem de volta, uma

vez que os dois gémeos se estão a aproximar, a frequência a que se recebe os sinais é f 2  k f  f .

Assim, na Figura 4.10, o diagrama da esquerda mostra os sinais emitidos por Bob e recebidos por
Alice, enquanto que o diagrama da direita mostra os sinais emitidos por Alice e recebidos por Bob.

Figura 4.10 - Sinais electromagnéticos emitidos e recebidos por cada um dos gémeos.

Nesta figura, considerou-se que cada um dos gémeos emite um sinal por ano, i.e, com uma
frequência (própria) f  1 ano 1 . Como   3 5 , logo,   5 4 e k  2 . Então, devido ao efeito de

Doppler, tem-se: f1  f k  0.5 ano 1 e f 2  k f  2 ano1 . Assim, o número total de sinais enviados

por Bob foi N  f T  10 , enquanto que Alice enviou N   f T   8 . Veja-se, agora, o número de sinais

recebidos. Na viagem de ida, Bob recebeu M1  f1 t1  4 enquanto que Alice recebeu M1  f1 t2  2 .

Por sua vez, na viagem de volta, Bob recebeu M 2  f 2 t2  4 enquanto que Alice recebeu

M 2  f 2 t1  8 . Ou seja, o Bob recebeu um total de M  M1  M 2  8 sinais enquanto que Alice

recebeu um total de M   M1  M 2  10 sinais. Tanto Bob como Alice estão de acordo, pois M  N  e

M   N . Desta forma, Bob pode prever, correctamente, que Alice envelheceu 8 anos. E, também
correctamente, Alice pode prever que Bob envelheceu 10 anos. Em conclusão: no inicio da viagem de

64
Alice ambos os gémeos têm 20 anos, no final da viagem (quando se reencontram) Bob terá 30 anos
enquanto que Alice terá 28 anos.

Porém, no caso apresentado nesta secção persiste um problema. Como é possível se ver na Figura
4.7, a Alice sofre uma aceleração infinita no acontecimento A. Em consequência desta aceleração
infinita, como se mostra na Figura 4.8, sucede-se uma mudança abrupta das equitemps de Alice,
f1  g1 . O que do ponto vista prático torna a impossibilidade da sua sobrevivência. De forma a
contornar este problema, na secção seguinte é considerado uma nova versão para a linha de
universo de Alice.

4.5.1 O “paradoxo” dos gémeos com um troço parabólico

Nesta secção considera-se uma versão alternativa da linha de universo de Alice que foi considerada
na secção anterior. Em vez de se considerar a linha de universo O  A  B para a viagem de Alice,
em que no acontecimento A sofre uma aceleração infinita. Vai-se considerar uma (nova) linha de
universo O  A1  A 2  B em que no troço A1  A 2 a aceleração é finita. Veja-se então, na Figura

4.11, a (nova) linha de universo de Alice.

Figura 4.11 - Linha de universo de Alice com troço parabólico.

Note-se que a situação de Bob não se altera. Continua a ter a linha de universo O  B , logo é
apenas associado a um único referencial de inércia B  x, t  . Para o caso de Alice, ela agora não
é apenas descrita só por dois referenciais de inércia, mas sim por uma infinidade deles. Tanto o troço
O  A1 como o troço A 2  B são descritos, cada um deles, por um único referencial de inércia. No

entanto o troço A1  A 2 , uma vez que possui uma aceleração (finita), é descrito por uma infinidade
65
contínua de referenciais de inércia. Desta forma, vai-se atribuir a Alice o referencial (próprio) não
inercial A   ,  que descreve a linha de universo, O  A1  A 2  B . O troço A1  A 2 , que
representa a inversão de marcha de Alice, é caracterizado por um arco de parábola com equação

2
1  T
x t      t    x0 , t1  t  t2 (4.33)
2  2

em que x0  x T 2 e onde t é o tempo próprio de Bob. A velocidade, em A1  A 2 , é

dx  T
   t   (4.34)
dt  2

e a aceleração

d2x
  (4.35)
d t2

onde   0 é uma constante. Quando a Alice inverte a sua marcha, no instante t  T 2 , a sua
velocidade instantânea é

dx
0 (4.36)
dt t
T
2

Sendo as coordenadas acontecimentos A1  x1 , t1  e A 2  x2 , t2  dadas por


 x1  x2  L  

 L 
t1  (4.37)
 
 L 
t2 
 

com uma velocidade instantânea

dx  T dx  T
    t1     ,     t2      (4.38)
dt t  t1  2 dt t  t2  2

De (4.38) e (4.37) determina-se então

 T L  2
t1       (4.39)
 2  

como também,

66

2
1  T
x1  L       t1    x0  x0  L  (4.40)
2  2 2

Note-se que x0 corresponde ao local no qual a Alice inverte a sua marcha, que corresponde à

metade da duração total da viagem.

A linha de universo de Alice é, do ponto de vista de Bob, descrita pelas seguintes equações:

  t, 0  t  t1
 2
   1 2  L 
x t     L     t   , t1  t  t2 (4.41)
 2 2    
  T  t  , t2  t  T

A linha de universo de Alice, do seu próprio ponto de vista, é   0 . Pretende-se agora calcular o

tempo próprio     t  de Alice, como demonstrado no Anexo A, tem-se

2
d x
2
 T
d  d t 1   dt 1   2  t   , t1  t  t2 (4.42)
 dt   2

Como

  T 
2 2
 T 1  T  T 1
 1 2 t   d t   t   1  t    sin 1   t   
2
(4.43)
 2 2  2  2 2   2 

Obtém-se

  T 
2
1 T  T 1
 t    0   t   1   2  t    sin 1   t    , t1  t  t2 (4.44)
2 2   2  2    2 

em que  0   T 2  . Sendo,

L 
  t1  

  T 
2
1 T  T 1
  0   t1   1   2  t1    sin 1   t1    (4.45)
2 2  2  2    2 
 
 0  1  2  sin 1   
2 2 2

resulta

T   1 
0   2 
sin      (4.46)
2 2   

67
Note-se que quando   0 , tem-se o resultado obtido na secção anterior:  0  T  2L    . Assim
o tempo próprio de Alice é dado por

 t 1  2 , 0  t  t1

 1 T    T 
2
1   T 
  t     0   t   1    t     sin 1   t    , t1  t  t2 (4.47)
 2  2    2  2    2 

  T    t  T  1   , t2  t  T
2

em que  T  é o tempo total da viagem do ponto de vista de Alice. Uma vez que

t1 T 
 1    t1    t1 1   2   1  2
 2 
(4.48)
T 
 2    t2    2 sin 1   
2 

Então

2
   2  1  sin 1    (4.49)
2

Este intervalo de tempo próprio  é igual a  T  , quando   L . Quando   0 tem-se   0 .


Repare-se que

2 t t2  t1 2
   2  1  sin 1       1  2 (4.50)
 2
  

Assim, como

2
1 T   T  1   T 
  T    t2  T  1   2
  0   t2   1    t2     sin 1   t2    (4.51)
2 2   2  2   2 

Tem-se

  1 
  T   2 0  T   sin      (4.52)
 2   

Quando   0 tem-se o resultado obtido na secção anterior:  T   T    2L     . O parâmetro 


caracteriza a família de parábolas, sendo 0    L . Note-se que quando   0 (quando existe o
movimento parabólico) obtém-se um  T   T  ,i.e., esta nova linha de universo de Alice (Figura 4.8)

corresponde a um maior intervalo de tempo próprio para a Alice em relação à linha de universo
considerada na Figura 4.7.

68
Capítulo 5

MOVIMENTO HIPERBÓLICO E APLICAÇÕES

Neste capítulo é estudado o movimento hiperbólico. Em seguida, é realizado (novamente) o estudo


do “paradoxo” dos gémeos em que a linha de universo do viajante é agora constituída por troços de
hipérboles.

69
5.1 Movimento hiperbólico

Considere-se a linha de universo de uma partícula material, descrita pela sequência contínua de
acontecimentos (em que  é o tempo próprio medido por um relógio ideal movendo-se em conjunto
com a partícula e t o tempo medido pelo laboratório)

r  t   t e0  x  t  e1    t  f0 t  (5.1)

Então a velocidade própria da partícula é, por definição,

d r dt  dx 
u t     e0  e1   f0  t  (5.2)
d d  dt 

Certamente,

dx
 t   (5.3)
dt

é a velocidade relativa da partícula que é medida do laboratório. Define-se

dt
 t   (5.4)
d

Portanto, tem-se

1
u 2   2  t  1   2  t    f 02  t   1    t   (5.5)
1   2 t 

Pode-se também definir a velocidade relativa como um bivector (ver Anexo B)

β  t     t  e10 β2  t    2  t  (5.6)

Portanto

f0  t   e0    t 
u  t  e0    t  1  β  t    f0  t  e0  f0  t   e0  f0  t   e0
f0  t   e0    t  β  t 
(5.7)
f0  t   e0 2
 β t    1,1

f0  t   e0

Deve-se salientar que

u  t   f0  t     t  e0    t  e1   e0 cosh  t   e1 sinh  t   R t  e0 R t  (5.8)

onde

  t  
R  t   exp   e10  (5.9)
 2 

70
Pode-se também definir aceleração própria da partícula como

du
u  t   f0  t   (5.10)
d

Então,

d d
u  t   f0  t     t  e0    t  e1    2  t  e1 (5.11)
dt  dt

Definindo aceleração relativa como

d
a t   (5.12)
dt

Consequentemente, pode-se escrever

d d
u  t   f0  t   f0  t    2  t  a  t  e1  f0  t    3  t  a  t  f1    t  f0  (5.13)
dt dt

Da definição de   t  , tem-se

d d 2 d
 2 t    2 t   2 t   1  2  t   2  t   t   2  2 t   t  0
dt dt dt
(5.14)
d d
   t  1   2  t     2  t    t  a  t    2  t  1   2  t     3 t   t  a t 
dt dt

De onde

d
  3 t   t  a t  (5.15)
dt

Então,

u  t   f0  t    3  t    t  a  t  f0  t    3  t  a  t  f1    t  f0 
(5.16)
 u  t   f0  t    3  t  a  t  f1  t 

portanto

u  t   f0  t     t  f1  t  ,  t    3 t  a t  , f1 t    t  e1   t  e0  (5.17)

em que   t  é o valor da aceleração própria.

No chamado movimento hiperbólico a partícula material descreve uma linha de universo tal que

x2  t 2  X 2 (5.18)

Daqui resulta, imediatamente, que

71
dx t t d X2
2 x d x  2 t d t  0   t      a t    (5.19)
t 2  X 2 
3 2
dt x t2  X 2 dt

Como,

 t  
1

1 2
t  X2
1 2
 (5.20)
1   2 t  X

Portanto,

1
 t    3 t  a t   (5.21)
X

Conclui-se assim que, no movimento hiperbólico, a aceleração própria  é constante. Quer isto dizer
que, ao movimento hiperbólico corresponde, na mecânica newtoniana, ao movimento uniformemente
acelerado. Consequentemente,

t
 t  
1   t  d
2
1
  (5.22)
dt 1   t 
2
dt
 t    1   t 
2

d

Tendo em conta que

d 1
sinh 1  x    (5.23)
dx  1  x2

Infere-se que

1
 t   sinh 1  t  (5.24)

Impondo   0 quando t  0 . Então, finalmente obtém-se

sinh   
 t  sinh              tanh    (5.25)
1  sinh 2   

Porém, como

  tanh   (5.26)

Conclui-se que a rapidez é dada, neste caso, por

   (5.27)

Portanto,

72
1 1 1
x2  t 2    x    t  1  x  1   t   cosh   
2 2 2
(5.28)
2  

No caso geral, tem-se

 x  x0    t  t0   X 2
2 2
(5.29)

Figura 5.1 - Movimento hiperbólico.

As equações paramétricas correspondentes são:

 x    x0  X cosh  

 t    t0  X sinh    x  x0   t  t0 
2 2

     1 (5.30)
 x    x0  X cosh    X   X 

 t    t0  X sinh  

para  0    0 . Portanto,

x  t   x0  t  t0   X2 , x  0   x0  t02  X 2
2
(5.31)

Por exemplo, se x  0  0 , então é possível escolher o sinal positivo com t0  0 e x0   X , de modo

que

x  X   t2  X 2
2
(5.32)

Neste caso, obtém-se

x t    X  t 2  X 2 (5.33)

73
5.2 O “paradoxo” dos gémeos com movimento hiperbólico

Nesta secção aborda-se o “paradoxo” dos gémeos já analisado no capítulo anterior. Mas, agora, a
linha de universo de Alice é constituída por três troços hiperbólicos, tal como mostra a Figura 5.2. A
linha de universo do Bob, tal como nos casos anteriores, não sofre alterações.

Figura 5.2 - Linha de universo de Alice constituída por troços hiperbólicos.

Do ponto de vista de Bob a viagem durou um tempo T e do ponto de vista de Alice durou um tempo
T    T  .

Seja o parâmetro

T
  T (5.34)
X

que caracteriza uma dada linha de universo de Alice. O primeiro troço da linha de universo de Alice é:

T  
2
 1   2    1 ,
t T
x t   0t (5.35)
  T   4
 

O segundo troço é:

 2 
T   t 1 2 T 3T
x t    1      2 1
2
 1 , t (5.36)
   T 2 16  4 4
 

74
Finalmente, o terceiro troço é:

T  
2
t  3T
x t    1  2   1   1 , t T (5.37)
  T   4
 

A máxima distancia entre Alice e Bob corresponde a

 T  2T  2 
L  x    1  1 (5.38)
 2    16 

Tem-se

T
lim L  (5.39)
  2

A linha de universo de Alice tende para a “trajectória nula”, O  P1  P  P2  B (ver Figura 5.2),

quando    . Esta “trajectória nula” corresponde ao percurso de um sinal electromagnético e,

portanto, impossível para Alice, com

 T
 t , 0t 
x t     t   1
2
(5.40)
 T  t, T
t T
 2

Verifica-se que, em qualquer dos três troços da linha de universo de Alice, se tem uma hipérbole.
Assim, no primeiro troço, tem-se:

2 2
 T  T 
x  t   
2
(5.41)
    

O segundo troço pertence a uma hipérbole de equação

2
 T   2   T   T 
2 2

x   2 1    t      (5.42)
   16    2    
 

E, finalmente, o terceiro troço pertence uma hipérbole de equação

2 2
 T T 
 x    t  T    
2
(5.43)
    

75
A velocidade relativa é dada por   t   d x d t , tal que

  t 
  
 T  T
 , 0t
2 4
 2  t 
 1    
T 

  t 1
    
  T 2 T 3T
 t     , t (5.44)
  t 1
2 4 4
 1  2   
  T 2

 t 
   1
  T  3T
 , t T
2 4
 2  t 
1     1
 T 

Note-se que

T   3T  1
  0    T   0,        (5.45)
4  4  16
1
2

Por sua vez, o coeficiente de dilatação do tempo,

1
 t   (5.46)
1   2 t 

é dado por:

 t 
2
T
 1  2   , 0t 
 T  4


2
 t 1 T 3T
 t    1  2    , t (5.47)
  T 2 4 4
 2
 t  3T
 1   2   1 , t T
 T  4

O valor máximo de   t  ocorre em t  T 4 e t   3T  4 , sendo

2  L
 max  1   1 (5.48)
16 2 T

76
Para a aceleração relativa a  t   d  d t , vem

  
3 2
t  
2
 T
1      0t
2
,
 T   T   4
 3 2
    t 1 
2
 T 3T
a t     1      
2
, t (5.49)
 T   T 2   4 4

 3 2
    
2
t 3T
 1     1  t T
2
,
 T  T   4

Logo

  T
 , 0t
 T 4
  T 3T
 t     , t  (5.50)
 T 4 4
  3T
 , t T
 T 4

Fazendo, agora, uma mudança de variável

t  
   t0   sinh    d t  cosh   d  (5.51)
T  T

Vem, então,

    1  sinh 2    cosh   (5.52)

pelo que

dt T cosh   T T T  t 
 t      d   d   0  sinh 1    t0     0 (5.53)
 t           T 

Infere-se, deste modo, que

 T  t  T
 sinh 1   , 0t 
   T  4

 T   t 1  2T   T 3T
 t    sinh 1       sinh 1   , t (5.54)
    T 2   4 4 4

 T   t  4T   3T
sinh 1    1   sinh 1   , t T
    T   4 4

Em particular, o tempo total que a Alice viaja é

4T   T 4  
T    T   sinh 1     sinh 1   1 (5.55)
 4 T  4 

77
A Figura 5.3 mostra a variação de  T em função de t T para diferentes valores do parâmetro  .

Esta figura pretende mostrar a evolução, ao longo da viagem, do tempo próprio de Alice em função
do tempo próprio de Bob (considerando diversos valores da aceleração própria de Alice).

Figura 5.3 - Variação de   t  .

A Figura 5.4 mostra a variação da relação entre a duração da viagem do ponto de vista de Alice, T  ,
e a duração da viagem do ponto de vista de Bob, T , com o parâmetro  .

Figura 5.4 - Variação de T  T com  .

78
Capítulo 6

CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS DE
TRABALHO FUTURO

Neste capítulo são sintetizados os principais resultados e conclusões obtidos ao longo dos três
capítulos desenvolvidos nesta dissertação. É, também, feita uma análise sobre possíveis assuntos a
serem abordados futuramente com o intuito de dar continuidade e aprofundamento ao trabalho
realizado nesta dissertação.

79
6.1 Conclusões

No primeiro capítulo, é realizado um enquadramento histórico sobre a teoria da relatividade restrita.


São relatados os principais acontecimentos e experiências que permitiram a descoberta desta teoria,
bem como os principais cientistas e investigadores que se evidenciarem e contribuíram de forma
significativa para o progresso científico nesta área. A motivação e objectivos desta dissertação, bem
como a explanação da sua estrutura e as principais contribuições originais, são ainda subsecções
deste capítulo.

No segundo capítulo começa-se por mostrar a necessidade de rever a transformação de Galileu, pois
esta considera que o tempo é absoluto. Como consequência disto, a transformação de Galileu
permite que a composição de velocidades possa ser superior à velocidade da luz. Mas, segundo
Einstein, existe um limite cósmico para a velocidade que não é possível ultrapassar, esse limite é c .
Assim é revisto o conceito da simultaneidade concluindo-se que a simultaneidade de acontecimentos
é um conceito relativo, pois depende do referencial de inércia medido. Implicando, portanto, que o
tempo não é absoluto, ou seja, o tempo não flui de igual forma para referenciais distintos. Desta
forma, uma dada sequência temporal de acontecimentos podem ter uma ordem diferente de
sucedimento dependendo do referencial que nos encontramos. É, ainda, deduzida a transformação
de Lorentz que na forma passiva, quer na forma activa. A forma passiva traduz de que maneira se
transformam os eixos de um referencial nos eixos de outro referencial. A forma activa traduz de que
maneira se transformam os vectores unitários do tipo tempo e do tipo espaço nos outros vectores
unitários associados a outro referencial distinto. Por fim, mostra-se a existência de um absoluto na
relatividade restrita, que é a invariância do intervalo de espaço-tempo. Assim o espaço-tempo de
Minkowski possui uma geometria hiperbólica. No plano hiperbólico, o lugar geométrico dos
acontecimentos que se encontram a uma “distância” (intervalo de espaço-tempo) fixa de um dado
acontecimento é uma hipérbole.

No terceiro capítulo começa-se por abordar, formalmente, duas das consequências mais conhecidas
da teoria da relatividade restrita – a dilatação do tempo e a contracção do espaço. A dilatação do
tempo diz-nos que: os relógios em movimento atrasam-se em relação ao relógio estacionário. A
contracção do espaço traduz que: uma régua que se encontra em movimento é maior em relação à
régua que está em repouso. No entanto, a dilatação do tempo como a contracção do espaço são um
efeito real e reciproco, estando de acordo com o primeiro postulado. É depois exposto o “paradoxo”
da vara e do celeiro em que, nos seus comprimentos próprios, a vara é maior que o celeiro. Mas o
(aparente) paradoxo da vara e do celeiro consiste na aparente contradição entre o facto de a vara
caber toda dentro do celeiro, do ponto de vista do celeiro, e, por outro lado, a vara nunca caber toda
dentro do celeiro, do ponto de vista da Alice. Mas não há, de facto, qualquer contradição: o que o
celeiro entende como toda a vara num dado instante não coincide – dada a relatividade da
simultaneidade – com o que a Alice entende ser toda a vara num dado instante. Em seguida estudou-
se a causalidade concluindo-se que não é possível a propagação de informação com velocidades
supra-luminosas e, portanto, todas as acções físicas só se propagam com velocidades luminosas ou
sub-luminosas.
80
No quarto capitulo, através do método do radar de Bondi é determinada a nova lei de composição de
velocidades, ao contrário de, na mecânica newtoniana, em que o somatório das velocidades pode ser
superior à velocidade da luz. Na mecânica relativista a composição das velocidades é limitada por c .
É, também, deduzido o efeito de Doppler longitudinal: sejam dois referenciais de inércia com
movimento relativo, supondo que um envia sinais luminosos com uma frequência f o outro recebe

com uma frequência f  . No caso em que se afastam tem-se: f   f . No caso em que se aproximam

tem-se: f   f . Por fim, é analisado o “paradoxo” dos gémeos em que na realidade não é um

paradoxo, uma vez que, existe uma quebra de simetria quando um dos referenciais inverte o
movimento. Sejam dois gémeos em que um deles efectua uma viagem espacial, quando se voltam a
encontrar verificam que o viajante está mais novo – consequência da dilatação do tempo.

No quinto capítulo é realizado (novamente) o estudo do “paradoxo” dos gémeos em que a linha de
universo do viajante é agora constituída por troços de hipérboles. Conclui-se assim que, no
movimento hiperbólico, a aceleração própria é constante. Quer isto dizer que, ao movimento
hiperbólico corresponde, na mecânica newtoniana, ao movimento uniformemente acelerado. Dado
que foi considerado que a aceleração não altera o funcionamento dos relógios ideais, sendo que
estes dependem apenas da velocidade instantânea e não do ritmo a que essa velocidade varia.

6.2 Perspectivas de trabalho futuro

Na teoria da relatividade restrita a maioria dos seus resultados são possíveis de obter usando o plano
hiperbólico com uma dimensão do tempo e apenas uma dimensão do espaço. No entanto, o plano
hiperbólico, na realidade, tem uma dimensão de tempo e três dimensões de espaço. Com isto, esta
dissertação deixa em aberto uma vasta área para explorar, tanto em dissertações como pela
investigação científica.

Salienta-se:

 Rotação de Thomas pois permite calcular a composição da velocidade de referenciais não


colineares [38].
 Efeito de Doppler transversal.
 Dilatação temporal em movimento circular.
 Meios exóticos [39-42].
 Teoria da Relatividade Geral.

81
82
REFERÊNCIAS
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Huygens' Rejoinder,” Archive for History of Exact Sciences 26, no. 1 (1982): 1-12.
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[24] João Manuel Resina Rodrigues, Introdução à Teoria da Relatividade Restrita. Lisboa: IST
Press, 1998.
[25] Anthony Philip French, Special Relativity (The M.I.T. Introductory Physics Course). New York:
W. W. Norton & Company, 1968.
[26] Wolfgang Rindler, Introduction to Special Relativity, Second Edition. Oxford: Oxford University
Press, 1991.
[27] Richard P. Feynman, Six Not-So-Easy Pieces – Einstein’s Relativity, Symmetry and Space-
Time. London: Penguin Books, 1997.
[28] Norbert Dragon, The Geometry of Special Relativity – A Concise Course. Heidelberg: Springer,
2012.
[29] E. G. Peter Rowe, Geometrical Physics in Minkowski Spacetime. London: Springer-Verlag,
2001.
[30] N. M. J. Woodhouse, Special Relativity. London: Springer, 2003.
[31] Andrew M. Steane, Relativity Made Relatively Easy. Oxford: Oxford University Press, 2012.
[32] Moses Fayngold, Special Relativity and How it Works. Weinheim: Wiley-VCH, 2008.
[33] Gregory L. Naber, The Geometry of Minkowski Spacetime: An Introduction to the Mathematics
of the Special Theory of Relativity. Mineola, NY: Dover, 2003 (unabridged republication of the
edition published by Springer-Verlag, New York, Inc., 1992).
[34] Éric Gourgoulhon, Special Relativity in General Frames: From Particles to Astrophysics. Berlin:
Springer-Verlag, 2013.
[35] Roman U. Sexl and Hemuth K. Urbantke, Relativity, Groups, Particles: Special Relativity and
Relativistic Symmetry in Field and Particle Physics. Wien: Springer-Verlag, 1992.
[36] J. Ehlers and C. Lämmerzhald, Eds., Special Relativity – Will it Survive the Next 101 Years?
Berlin: Springer-Verlag, 2006.
[37] John W. Schutz, Independent Axioms for Minkowski Space-Time. Edinburgh Gate, Harlow:
Addison-Wesley Longman Limited, 1997.
[38] C. R. Paiva and M. A. Ribeiro, “Doppler shift from a composition of boosts with Thomas rotation:
a spacetime álgebra approach,” J. of Electromagn. Waves and Appl., Vol. 20, No. 7, 941–953,
2006.
[39] C. R. Paiva and S. A. Matos, “Minkowskian Isotropic Media and the Perfect Electromagnetic
Conductor,” IEEE Trans. Antennas Propag., Vol. 60, no. 7, July 2012.

84
[40] F. R. Prudêncio, S. A. Matos and C. R. Paiva, “Analysis of waveguides containing EMCs
(electromagneticconductors) or PEMCs (perfect electromagnetic conductors),” PNFA, May
2014.
[41] F. R. Prudêncio, S. A. Matos and C. R. Paiva, “Exact Image Method for Radiation Problems in
Stratified Isorefractive Tellegen Media,” IEEE Transactions on Antennas and Propagation, Vol.
62, no. 9, SEPTEMBER 2014.
[42] F. R. Prudêncio, S. A. Matos and C. R. Paiva, “A Geometrical Approach to Duality
Transformations for Tellegen Media,” IEEE Transactions on Microwave Theory and Techniques,
Vol. 62, no. 7, July 2014.

85
86
ANEXO A
TEMPO PRÓPRIO

87
Sejam A e B dois acontecimentos do plano hiperbólico. Estes acontecimentos têm coordenadas
diferentes em dois referenciais de inércia distintos: S  x, t  e S  x, t  . Em S  x, t  tem-se
A  xA , tA  e B  xB , tB  . Em S   x, t  tem-se A  xA , tA  e B  xB , tB  . Mas, o intervalo entre
estes acontecimentos é o mesmo independentemente do referencial de inércia considerado. De facto,

 r  r A  rB
 r A  tA e0  xA e1  tA f 0  xA f1
 r  t e  x e  t  f  x f   tA  tB  e0   xA  xB  e1 (A.1)
 B B 0 B 1 B 0 B 1   tA  tB  f0   xA  xB  f1

Assim,

 s    r   tA  tB    xA  xB   tA  tB    xA  xB 


2 2 2 2 2 2
(A.2)

uma vez que e02  f02  1 e e12  f12   1 . Assim, fazendo  t  tA  tB ,  t   tA  tB ,  x  xA  xB e

 x  xA  xB , é possível escrever

 s    t     x     t      x 
2 2 2 2 2
(A.3)

A versão diferencial (ou infinitesimal) desta última equação tem a forma

d s 2  d t 2  d x 2   d t     d x 
2 2
(A.4)

 s  0 . Uma régua é um
2
Um relógio é um dispositivo que mede intervalos do tipo tempo, com

dispositivo que mede intervalos do tipo espaço, com   s   0 . Numa linha de universo do tipo tempo
2

é sempre, em todos os seus acontecimentos, d s 2  0 . Para medir a distância ao longo desta linha de

universo, introduz-se o elemento de distância d  , tal que

  d x 2  d x
2

d s2  0 d  2  d s 2  d t 2  d x 2  d t 2 1     d  d t 1   (A.5)
  d t    dt 

Tem-se, portanto,

2
B d x
 AB   1   dt (A.6)
A
 dt 

Um relógio que se move sobre uma linha de universo do tipo tempo mede, então, a distância  ao
longo dela – é designado como o tempo próprio dessa linha de universo. O integral anterior, que dá o

tempo próprio  A B entre os acontecimentos A e B , não depende apenas destes acontecimentos –

depende, também, da linha de universo específica que os une. Ao contrário do tempo absoluto da
mecânica newtoniana, o tempo da relatividade é uma “distância” que se mede (p.e., com uma fita
métrica) ao longo de uma linha de universo determinada. Outra linha de universo, que una os
mesmos acontecimentos (inicial e final), dará uma leitura de tempo próprio que será, no caso geral,
diferente.
88
ANEXO B
ÁLGEBRA (GEOMÉTRICA) DE CLIFFORD
C 1,1

89
Nesta secção vai-se abordar a álgebra (geométrica) de Clifford do plano hiperbólico que corresponde
ao espaço-tempo de Minkowski (embora com apenas uma dimensão espacial):

2 2
   
C 1,1   1,1
 1,1
, C 1,1 C 1,1 C 1,1 , C 1,1   1,1
, C 1,1  1,1
(B.1)

Seja B 1,1
   e , e  uma base ortonormada do espaço quadrático
0 1
1,1
. Tem-se:

e02  e0  e0  e0 1
2

e  e1  e1   e1  1
2 2
1 (B.2)
e0  e1  e1  e0  0

1,1
Assim, o espaço quadrático tem a métrica:

Plano g g 01  e 0  e 0 e 0  e1   1 0 
G   00 
g11  e1  e 0
 
e 1  e 1   0  1
(B.3)
Hiperbólico  g10

Uma vez que

2
e10  e10 e10  e1 e0  e1 e0   e1 e0e1  e0  e1 e1e0  e0   e1e1 e0e0    e12 e02  1 (B.4)

Segue-se, na seguinte tabela, a tabuada de C 1,1 .

e0 e1 e10

e0 1  e10 e1

e1 e10 1  e0

e10 e1 e0 1
Tabela B.1 - Tabuada C 1,1 .

A base para C 1,1 é

1
1 1
1 2 1

B C 1,1   1, e 0 , e1 , e10   dim  C 1,1   1  2 1  2 2


4 (B.5)

90
Um multivector genérico u  C 1,1 tem a forma

u 0
 
u    a   e10  C 1,1 u 1  a 1,1
(B.6)
2
u 2
  e10  1,1

O vector a  1,1
em geral tem a forma

a  a0 e0  a1 e1 a2  aa  a  a   a0 e0  a1 e1    a0 e0  a1 e1   a02  a12  (B.7)

Convém salientar que

 a 2  0 se a02  a12
 2
 a  0 se a02  a12 (B.8)
 a 2  0 se a a
2 2
 0 1

Quando a2  0 , o vector a é do tipo tempo; Quando a2  0 , o vector a é do tipo espaço; Quando

a2  0 , o vector a é do tipo luz. Com efeito, um vector típico é o vector acontecimento

r  t e0  x e1 (B.9)

onde t é a coordenada temporal e x a coordenada espacial do acontecimento. De facto, o quadrado

r 2  t e0  x e1   t e0  x e1   t e0  x e1   t 2 e02  2 xt e0  e1   x2 e12


2
(B.10)

é idêntico ao invariante de Lorentz (o intervalo) t 2  x2 , i.e.,

r 2  t 2  x2  (B.11)

Logo, neste caso, tem-se (com   0 e  0)

 r  t e0  x e1   f0 se r2   2  0

 r  t e0  x e1    f0  f1  se r2  0 (B.12)
 r  t e0  x e1   f1 se r    0
2 2

O inverso do vector a é

a a e a e
a02  a12  a 1   0 20 12 1  1,1
(B.13)
a 2
a0  a1

De facto

 a e10   a0 e0  a1 e1  e10   a0 e1  a1 e0
  a e10  e10 a  0 (B.14)
 e10 a  e10  a0 e0  a1 e1   a0 e1  a1 e0

91
i.e., o bivector unitário da álgebra anticomuta com todos os vectores.

As seguintes involuções são definidas em C 1,1 :

involução de grau uˆ    a   e10


u    a   e10  C 1,1 reversão u    a   e10 (B.15)
conjugação de Clifford u    a   e10

O inverso e a norma de C 1,1


são definidas como se segue:

u u
u 1  u 1   uu  uu
2 2
, u 0
, u 0
(B.16)
uu uu

Portanto, se u    a   e10  C 1,1 , então

u u    a   e10    a   e10    2   2  a 2 
(B.17)
u u    a   e10    a   e10    2   2  a2   2  a   ae10    1,1

Logo

 1   a   e10
 u   2   2  a 2  C 1,1
 (B.18)

 u    a  0
2 2 2 2

Pode-se mostrar que a seguinte estrutura algébrica

Spin 1, 1  R  C 
1,1 | R R 1  (B.19)

é um grupo em relação ao produto geométrico (ou Clifford). Um elemento R Spin 1, 1 é chamado

de rotor. Consequentemente

2
R     e10 ,  ,   , e10  1,1
(B.20)

portanto

R     e10 R R      e10      e10    2   2  1 (B.21)

Parametrizando o rotor através do parâmetro rapidez  , tem-se

  
   cosh  2 
         
R     e10  cosh    sinh   e10  exp   e10  (B.22)
   2 2  2 
    sinh  
 2

92
Como consequência, a transformação

a b  Ra R (B.23)

é chamada de boost de Lorentz.

b  Ra R  R2a
 exp    e10  a
a R  R a, a  1,1
(B.24)
 cosh    sinh   e10  a
 a cosh     a e10  sinh  

De facto, se a  a0 e0  a1 e1  1,1
e b  b0 e0  b1 e1  1,1
, então ae10   a0 e1  a1 e0  1,1
e

consequentemente

b 
b 0
 b1 
 a cosh     a e10  sinh  
a  a  (B.25)
  0  cosh     1  sinh  
 a1   a0 
 cosh    sinh     a0 
  
  sinh   cosh     a1 

de modo que, se

   tanh   1
    sinh    (B.26)
   cosh   1  2

Então

 b0   1     a0 
    
 b1     1   a1 
(B.27)
 a0   1    b0 
    
 a1    1   b1 

Mas, em termos da álgebra de Clifford C 1,1


, o boost de Lorentz traduz-se por:

  
b  R a R e a  R b R com R  exp   e10  (B.28)
 2 

93
94

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