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SETEMBRO 2018
Entre os elementos que compõem a paisagem, a cobertura vegetal destaca-se como um dos
mais importantes. O interesse do presente trabalho é avaliar a diminuição de áreas verdes e a
perda de qualidade ambiental no Centro Histórico Urbano. Para tanto, lançou-se o foco sobre o
Setor Residencial Rigoroso, no período compreendido entre 1968 e 2018, O ano de 1968
quando o IPHAN tombou o conjunto monumental do Sítio Histórico de Olinda e passou a gerir o
patrimônio da cidade.
Essa pesquisa se justifica por a área objeto de análise ilustra bem a experiência portuguesa de
construir cidades, onde a formação dos lotes e sua disposição foram essenciais para definir o
conjunto paisagístico atual, tombado pela UNESCO em 1982.
Apesar de ter-se tornado assunto de interesse de parcelas da sociedade, o patrimônio cultural
e ambiental ainda sofre agressões, muitas vezes irreversíveis, por falta de informações,
educação patrimonial, ineficiência do sistema de gestão da conservação e fiscalização.
Para analisar as transformações da cobertura vegetal, foi utilizado o método geométrico de
planificação e quantificação de NUCCI E CAVALHEIRO (1996)
Durante a fase da pesquisa, foi possível esclarecer aspectos importantes sobre a problemática
da gestão da conservação do patrimônio cultural do centro histórico de Olinda, particularmente
no que tange à preservação da cobertura vegetal e ao grau de perda deste bem patrimonial.
Os resultados demonstraram que a preservação da cobertura vegetal é essencial à
preservação do conjunto urbanístico e paisagístico, formado pelo casario colonial e pela
cobertura vegetal.
O grande desafio que se coloca para o desenvolvimento urbano sustentável dos sítios
históricos, reconhecidos como patrimônio cultural, e a difusão da responsabilidade social da
população, que passa por campanhas permanentes de educação patrimonial. Além disso, é
essencial o rigoroso monitoramento e controle do processo de uso e ocupação do espaço,
simultaneamente à criação de campanhas para reflorestamento da área de cobertura vegetal
arroteada.
Ao longo dos anos o patrimônio de uma maneira geral ao longo das últimas três
décadas negligenciado pelo poder público ou devido a mudança na política patrimonial
com o esfacelamento dos órgãos de fomento e gestão ou pelo achatamento dos
recursos ano a ano. Algumas tentativas foram implementadas como recentemente o
Monumenta e o PAC cidades Históricas, com muita pompa e poucos resultados
concretos, tanto nas obras de pedra e cal como na conservação dos bens integrados e
conservação dos acervos dos museus. O legado para as futuras gerações está
comprometido ou em vias de perder-se.
Antes de mais nada, é de suma importância entender o que é um bem patrimonial.
Assim, é necessário distinguir os valores pessoais dos valores das coisas. O filósofo
alemão Johannes Hessen ensina (2001, p. 90) que os primeiros só podem pertencer
às pessoas, como os valores éticos. Os segundos aderem aos objetos ou às coisas
impessoais, como os das coisas ditas valiosas, designadas geralmente pela expressão
“bens.”
Para Lacerda (2012), Quando esses bens são adjetivados como patrimoniais,
significaca que foram herdados. A palavra patrimônio vem do latin patrimonium,
referindo-se, segundo a lei, aos bens deixados pelos pais e pelas mães aos seus
filhos. Na edição do Dictionnaire de l’urbanisme et l’aménagement (2005, Verbete
Patrimoine, p. 617), editado por Françoise Choay e Pierre Merlin, “o termo Patrimônio
veio a designar os bens da Igreja, os bens da coroa e posteriormente, no Século XVIII,
os bens de significação e valores nacionais de uma parte, universais de outra
(patrimônio científico, patrimônio vegetal, zoológico...).” Segundo esse dicionário, na
atualidade, sob a ameaça da industrialização e da urbanização, o termo passou a
designar a totalidade dos bens herdados do passado que possuem uma significância
para a civilização. Sendo os bens patrimoniais heranças daqueles que nos
precederam, eles podem apresentar – como é o caso dos sítios históricos – vários
tipos de valores: histórico, artístico, cultural, cognitivo, cultural, econômico, além de
outros, como o de opção e existência. O grande desafio, quando se trata de valorar
esses bens, é como conciliar todos os seus tipos de valores e correlaciona-los a
medida que a população se apodere desse patrimônio e o defenda através de uma
gestão integrada que vem sendo aplicada desde a década de 1970 para a gestão de
sítios históricos.
2.1 Considerações
Pelo seu caráter excepcional, pelo valor sentimental e pela agregação de vários
valores, o estudo escolhido foi a Cidade de Olinda. A vila foi fundada em 1537, por um
fidalgo português Duarte Coelho Pereira, que recebeu a capitania de Pernambuco do
rei D.João, com o intuito de colonizar as terras descobertas. A Vila de Olinda cresceu
e prosperou, tornando-se a cidade mais importante depois da capital do Brasil, durante
mais de um século. Teve o principal porto das Américas até a metade do século XVII,
polo da indústria canavieira das Américas, objeto de cobiça da companhia das índias
ocidentais, foi capital da província de Pernambuco até 1827. Por toda a história e pelo
seu riquíssimo acervo arquitetônico, urbanístico e paisagístico, foi tombada como
patrimônio nacional pelo IPHAN em 1980 e pela UNESCO, como Patrimônio Cultural e
Natural da Humanidade em 1982.
Olinda possui 42 Km2, dos quais 10,4 Km2 são tombados. O SRR Setor Residencial
Rigoroso, objeto de análise, possui 24 Ha e corresponde ao núcleo onde originou-se a
cidade, estando contido na ZEPC 1 (Zona Especial de Proteção Cultural).
O Setor Residencial Rigoroso apresenta uso predominantemente residencial de 82%.
Segundo dados da Secretaria de Patrimônio Cultural e Ciência, é constituído pelo
núcleo, que conserva a morfologia urbana e tipologia das edificações do século XVI. O
SRR encontra-se em melhor estado físico que os demais, devido ao rígido processo
de fiscalização, exercido isoladamente pelo IPHAN, no período compreendido entre
1969 e 1982, e em conjunto com a FCPSHO, Fundação Centro de Preservação dos
Sítios Históricos de Olinda, a partir da década de 1980, ano de sua fundação.
5º Colóquio Ibero-Americano: Paisagem Cultural, Patrimônio e Projeto
Belo Horizonte/MG - de 26 a 28/09/2018
2.2 Método de avaliação e quantificação da cobertura vegetal
O SRR possui aproximadamente 24,5 Ha, onde existem 646 imóveis, sendo 515
edificações residenciais e 131 edificações comerciais e de serviços. De acordo com
dados da SEPLAMA, baseados no IBGE, a população do setor é composta por 2.584
habitantes.
Figura 01 – Setor Residencial Rigoroso
Fonte: O Autor
Em 1970, existia no SRR 5.34 Ha de cobertura vegetal. Em 2018, pela imagem de
satélite obtida à Secretaria de Planejamento e Meio Ambiente - SEPLAMA, existia no
mesmo setor 4.22 Ha de cobertura vegetal. Comparando as imagens da ortofotocarta
de 1970 com as imagens de satélite de 2018, conclui-se que houve uma diminuição
da massa verde nos últimos 48 anos da ordem de 11.200 m2, o que corresponde a
21,00 % (vinte e um por cento) de redução da cobertura vegetal do SRR.
Figura 02 – Levantamentos da Cobertura Vegetal
Fonte: O Autor
5º Colóquio Ibero-Americano: Paisagem Cultural, Patrimônio e Projeto
Belo Horizonte/MG - de 26 a 28/09/2018
Os resultados demonstraram que, apesar da fiscalização do órgão municipal de
preservação do patrimônio cultural e do SPHAN, no perímetro do SRR, a depredação
da cobertura vegetal foi intensa ao longo dos últimos trinta anos. Ou seja, no ano de
1970, a população era de 3.230 o índice de cobertura vegetal (ICV ou IV) por
habitante no SRR representava 16.53%. No ano de 2018, a população diminuiu para
2.584 habitantes, devido a taxa de crescimento populacional esse índice se manteve
em patamares próximos 16.33%.
Concluída a aferição da quantificação da cobertura vegetal do Sítio Histórico de
Olinda, verifica-se que houve uma perda de patrimônio ambiental, expressa através do
empobrecimento da paisagem cultural e do patrimônio com uma perda de 11 mil e
duzentos metros quadrados de sítios e quintais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante a fase da pesquisa, foi possível esclarecer aspectos importantes sobre a
problemática da gestão da conservação do patrimônio cultural do centro histórico de
Olinda, particularmente no que tange à preservação da cobertura vegetal. Os
resultados demonstraram que a preservação da cobertura vegetal é essencial à
preservação do conjunto urbanístico e paisagístico, formado pelo casario colonial e
pelo ambiente não construído. Concluída a aferição, foi possível verificar que a
cobertura vegetal do SRR da ZEPC1 diminuiu em quase 50 anos 21%, perdendo 1.22
hectares de 5.34 hectares (1970) para 4.22 hectares (2018).
Essa mesma pesquisa foi efetuada no ano de 2002 em uma dissertação de mestrado
e identificou que no ano de 1970, existia no SRR, 54.346,20 m2, ou 5.34 Ha, de
cobertura vegetal comparando na mesma metodologia no ano base de 2002, imagem
de satélite obtida junto ao CECI e a SEPLAMA, foi identificado no mesmo setor
46.246,40 m2, ou 4.62 hectares de cobertura vegetal. Comparando as imagens da
ortofotocarta de 1970 e as imagens de satélite de 2002, concluímos que houve uma
diminuição da cobertura vegetal em 30 anos da ordem de 8.100 m2, o que
corresponde e a 15.09% de redução. O IV (índice de Verde) decresceu para 11,00%.
No ano de 2018 constatamos que os números do desmatamento aumentaram de 2002
para 2018 no âmbito de 3.000 metros quadrados, saltando para uma perda de
vegetação de 8.100 m2 (15,09%) em 2002 para 11.200 m2 (20,95%) em um período
de pouco mais de 16 anos.
Utilizando os parâmetros estabelecidos por LOMBARDO (1985) e NUCCI (2002),
encontramos um índice de verde por habitante em torno de 16.53%, aquém dos 30%
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