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Introdução
Sérgio Moro se tornou uma das principais pessoas públicas do país. Suas decisões,
no âmbito da Operação Lava Jato, dividiram opiniões, mas, inquestionavelmente, impactaram
a política brasileira. O caso mais notável, certamente, foi o julgamento e condenação à pena
privativa de liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva3. Pela dimensão que o trabalho
do juiz alcançou, repercutindo muito além do processo judicial, alguns juristas realizaram
incursões com o objetivo de apresentar o seu pensamento, como Leal4 e Rosa5. Outros também
as fizeram, mas sobretudo com finalidade crítica6.
1
A redação inicial deste texto foi concluída em março de 2019, mas exigiu ajustes redacionais após 24 de abril
de 2020, diante da demissão de Sergio Moro do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
2
Mestrando em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina. Pós-Graduado em Direito Penal e Processo
Penal. Advogado, fundador do escritório CFH Advocacia e do blog Advogado no Controle. Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/9263779942539236. Sites: http://cfhadvocacia.com.br/ e http://advogadonocontrole.com.br/.
3
BRASIL. Justiça Federal. 13ª Vara Federal da Subseção Judiciária de Curitiba, Seção Judiciária do Paraná.
Ação penal 5046512-94.2016.4.04.7000/PR. 2016. Autor: Ministério Público Federal e Petróleo Brasileiro S/A
– Petrobrás. Réu: Luiz Inácio Lula da Silva e outros. Data de autuação: 14 set. 2016. Disponível em:
<https://eproc.jfpr.jus.br/eprocV2/>.
4
LEAL, Saul Tourinho. Profecias constitucionais de Sérgio Fernando Moro. Jota, 27 nov. 2014. Disponível em:
<https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/profecias-constitucionais-de-Sérgio-fernando-moro-27112014>.
Acesso em: 8 nov. 2018.
5
ROSA, Alexandre de Morais da. Para entender a lógica do juiz Moro na Lava Jato. Empório do Direito, 7
mar. 2015. Disponível em: <http://emporiododireito.com.br/leitura/para-entender-a-logica-do-juiz-moro-na-lava-
jato>. Acesso em: 12 nov. 2018.
6
A mais ampla abordagem crítica está em PRONER, Carol. et. al (Org.). Comentários a uma sentença
anunciada: o Processo Lula. Bauru: Canal 6, 2017.
1
A partir de 2019, no governo do presidente Jair Bolsonaro, o ex-juiz federal atuou
como Ministro da Justiça e Segurança Pública. Em 24 de abril de 2020, ele saiu do cargo. O
exame de seu pensamento já seria relevante por conta das peculiaridades que circundaram sua
atividade jurisdicional. Agora, ainda que fora do governo, Sérgio Moro possuiu um papel
importante no cenário político nacional, como representante da agenda anticorrupção.
Enfim, inicialmente, será realizada uma análise geral da obra de Sergio Moro e,
depois, essa análise será aprofundada em alguns pontos específicos, de modo a alcançar os
objetivos iniciais.
2
1 Direito constitucional da pobreza
Percebe-se isso com clareza em seus comentários aos arts. 203 e 204 da
Constituição11, que, por ser a produção deste bloco publicada mais recentemente, representa
elementos persistentes de sua doutrina. Está expressa, ali, a rejeição de Sérgio Moro a uma
leitura abstrata e estática da Constituição Federal e sua preferência por conceitos materiais e
avaliações substantivas da situação de direitos fundamentais, o que permite, segundo ele
próprio, flexibilidade e funcionalidade da atuação estatal.
7
MORO, Sérgio Fernando. Jurisdição constitucional como democracia. 2002a. Tese (Doutorado em Direito)
– Curso de Pós-Graduação em Direito do Estado, Universidade Federal do Paraná, Curitiba. p. iii.
8
Idem. Aplicação retroativa da lei previdenciária mais benéfica. Revista de Previdência Social: ano XXII, n.
215, p. 821-828, out. 1998a.
9
Idem. Benefício da assistência social como direito fundamental. Boletim dos Procuradores da República: ano
IV, n. 39, p. 27-31, jul. 2001b. Também publicado com o título Restrição legal ao direito fundamental ao
benefício da assistência social. Revista de Previdência Social: ano XXV, n. 249, p. 559-565, ago. 2001. De
forma resumida: Idem. Os pobres, os pobres idosos e os pobres deficientes. Boletim dos Procuradores da
República: ano V, n. 52, p. 30-31, ago. 2002b.
10
Idem. Questões controvertidas sobre o benefício da assistência social. In: Temas atuais de direito
previdenciário e assistência social. ROCHA, Daniel Machado da (Org.). Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2003d. Idem. O judiciário e os direitos sociais fundamentais. In: Curso de especialização em direito
previdenciário. ROCHA, Daniel Machado da; SAVARIS, José Antonio (Org.). Curitiba: Juruá, 2005d. vol. 1.
11
Idem. Arts. 203 e 204. In: Comentários à Constituição do Brasil. CANOTILHO, J. J. Gomes. et al. 2. ed.
São Paulo: Saraiva, 2018b.
3
É nesse cenário que Sérgio Moro admitirá, expressamente, ser “possível defender
a adoção de postura judicial ativa no que se refere à proteção dos direitos fundamentais e das
próprias condições necessárias ao funcionamento da democracia”12.
A pauta dos direitos sociais serve como um argumento forte da postura judicial
ativa defendida pelo autor. Tendo essa retaguarda, Moro fica em uma posição argumentativa
politicamente favorável para criticar “preconceitos automaticamente repetidos”, como o dogma
do legislador negativo16, aceitar a sensibilização do judiciário em relação à temática social17 e
defender o efeito pedagógico da postura judicial ativa18 – mesmo reconhecendo que, em regra,
“ao juiz falta capacidade técnica para desenvolver políticas complexas”19.
Como dito antes, esses estudos são aplicações específicas de articulações mais
abrangentes do autor sobre o Direito Constitucional. Por isso, nesse ponto, já ingressamos no
segundo bloco de textos, onde as questões teóricas de fundo desse “Direito Constitucional da
pobreza”20 são aprofundadas.
12
Idem, 2001b, p. 31.
13
Idem, 2005d, p. 292.
14
Idem, 2001b, p. 29, e 2003d, p. 149.
15
Idem, 1998a, passim.
16
Ibidem, p. 828.
17
Idem, 2003d, p. 145.
18
Ibidem, p. 159.
19
Idem, 1998a, p. 827.
20
Idem. Afastamento da presunção de constitucionalidade da lei. Revista CEJ: v. 3, n. 7, p. 127-131, jan./abr.
1999a.
4
2 A defesa do ativismo judicial
Nesse bloco de textos, Moro abre caminho para o que denomina desenvolvimento
e efetivação das normas constitucionais24 ou “revolução judicial de direitos fundamentais”25.
Com esse objetivo em mente, ele assume o risco de decisões erradas do Judiciário, pois “o
direito é ciência prática, sujeita a erros e acertos”26, e busca explicitamente “justificar uma
espécie de ativismo judicial localizado e salutar”27, com poderes para ordenar a implementação
de políticas públicas28. A premissa de base é simples, inspirada em Democracy and distrust de
John Hart Ely, nas palavras de Moro: “há casos de mau funcionamento da democracia”29,
quando ela deveria ser protegida de si mesma30. Mas, o ex-ministro vai além, criticando o
escopo da jurisdição constitucional defendido por Ely, que considera limitado31.
21
Idem. Desenvolvimento e efetivação judicial das normas constitucionais. 2000a. Dissertação (Mestrado em
Direito) – Curso de Pós-Graduação em Direito, Universidade Federal do Paraná, Curitiba.
22
Idem. 2002a.
23
Idem. Concretização da constituição, função legislativa, função administrativa e função jurisdicional.
Jurisprudência Brasileira: v. 182, p. 53-64, 1998b. Idem, Op. cit., 1999a. Idem. Reforma do estado e reforma
do judiciário. Revista da AJUFE: número especial, p. 345-370, ago. 1999b. Idem. Por uma revisão da teoria da
aplicabilidade das normas constitucionais. Revista CEJ: v. 4, n. 10, jan./abr. 2000b. Idem. A corte exemplar:
considerações sobre a Corte de Warren. Revista da Faculdade de Direito da UFPR: v. 36, p. 337-356, 2001a.
Idem. Doutrina prospectiva como instrumento de defesa da constituição. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano
6, n. 51, 1 out. 2001c. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/2241>. Acesso em: 9 nov. 2018. Idem.
Legislação suspeita? Afastamento da presunção de constitucionalidade da lei. 2. ed. Curitiba: Juruá Editora,
2003c. 100p. Idem. Neoconstitucionalismo e jurisdição constitucional. Cadernos da Escola de Direito e
Relações Internacionais da UniBrasil, v. 1, n. 5, p. 247-253, 2005c.
24
Idem, 2000a.
25
Idem, 2002a, p. 74 e 128.
26
Idem, 2000a, p. 55, 64 e 83.
27
Idem, 2005c, p. 251.
28
Idem, 2002a, p. 71.
29
Idem, 2005c, p. 251.
30
Idem, 2000b, 2001a, p. 340, e 2002a, p. 27.
31
Idem, 2000a, p. 34.
32
Idem, 2002a, p. 65 e 73.
33
Ibidem, p. 40 e 78.
5
Assim, ele justifica que as cortes judiciárias protejam a democracia de chamados
“ataques da maioria política”34, em suas palavras35:
34
Idem, 1999b, p. 348.
35
Idem, 2002a, p. 71.
36
Idem, 2001a, p. 354.
37
Idem., 1998b, p. 62.
38
Idem, 2002a, p. 40.
39
Ibidem, p. 160. V. também Idem, 2000a, p. 62 e 80.
40
Ibidem, p. 120-158.
6
Atendida a reserva de consistência, até mesmo “política pública de certa
complexidade” poderia ser adotada através do Judiciário, como admitiu a Suprema Corte
americana em Swann v. Charlotte-Mecklenburg Board of Education41.
É importante destacar que tal ativismo judicial, na visão de Sérgio Moro, se justifica
especialmente quando “contribui para o aprofundamento da democracia ou quando intervém
em caso de mau funcionamento”48. Qualquer pessoa que acompanhou a evolução da Operação
Lava Jato e as manifestações do juiz Sérgio Moro, perceberá que essa sua visão sobre o papel
da jurisdição constitucional influenciou aquele caso. Em A missão do STF, tratando do papel
do Supremo Tribunal Federal no combate à corrupção, Moro deixa claro: “considerando o grau
de deterioração da coisa pública revelado no Mensalão e na Operação Lava-Jato, não deixa de
ser justificado algum ativismo judicial contra a corrupção”49.
41
Ibidem, p. 25 e 201-204.
42
Ibidem, p. 177-178. V. também Idem, 2000a, p. 68-70.
43
Idem, 2000a, p. 70.
44
Ibidem, p. 79.
45
Ibidem, p. 92.
46
Idem, 2002a, p. 177.
47
Ibidem, p. 185-186.
48
Ibidem, p. 208.
49
Idem. A missão do STF. Veja, São Paulo, 21 set. 2018a.
7
Vale lembrar a decisão ousada, para dizer o mínimo, em que foi levantado o sigilo
de diálogo telefônico entre os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff50. É nítido que, no âmbito
do processo penal, o juiz federal buscava “resgatar o caráter deliberativo da democracia, em
contraposição a um processo de barganha e trocas compensatórias entre interesses privados
alheios ao ideal republicano”51, sem perder de vista a lição deixada pela Operação Mãos Limpas
de que “a ação judicial não pode substituir a democracia no combate à corrupção”52. Ele próprio
afirmou em entrevista que o caso criminal “se transformou em um caso que diz respeito à
qualidade da nossa democracia”53.
Ele já identificava, ali, questões cuja solução dependeria “de normas de cunho geral
e de políticas públicas a cargo dos Poderes Executivo e Legislativo”. Essa percepção apenas se
reforçou com o quadro de corrupção sistêmica identificado pela Operação Lava Jato, como
relata em Castigo para o crime56. Essa foi sua motivação, conforme entrevistas57, para
abandonar a magistratura federal e aceitar conduzir o Ministério da Justiça e Segurança Pública.
50
NETTO, Vladimir. Lava jato: o juiz Sergio Moro e os bastidores da operação que abalou o Brasil. Rio de
Janeiro: Primeira Pessoa, 2016. p. 10-13.
51
MORO, Sérgio Fernando. Op. cit., 2002a, p. 240.
52
Idem. Considerações sobre a Operação Mani Pulite. Revista CEJ: vol. 8, n. 26, p. 56-62, jul./set. 2004.
Também em Introdução. In: Operação Mãos Limpas. BARBACETTO, Gianni; GOMEZ, Peter;
TRAVAGLIO, Marco. Porto Alegre: Citadel, 2016d.
53
Idem. “Ideal seria limitar o foro aos presidentes dos três poderes”. O Estado de S. Paulo, 6 nov. 2016c.
Disponível em: <https://acervo.estadao.com.br/pagina/#!/20161106-44945-nac-10-pol-a10-not>. Acesso em: 12
nov. 2018.
54
Idem. Direitos fundamentais contra o crime. In: Direito constitucional brasileiro: teoria da constituição e
direitos fundamentais. Clèmerson Merlin Clève (Coord.). São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014a. vol. 1.
55
Ibidem, p. 572.
56
Idem. Castigo para o crime. Exame, 25 mai. 2016b. p. 36-39. Também publicado com o título Sérgio Moro
explica sua visão da justiça. Exame, 20 mai. 2016. Disponível em: <https://exame.abril.com.br/revista-
exame/Sérgio-moro-explica-sua-visao-da-justica/>. Acesso em: 12 nov. 2018.
57
GLOBOPLAY. Moro: "Não assumiria papel de ministro da Justiça com risco de comprometer minha
biografia”. 2018. (19m57s). Disponível em: <https://globoplay.globo.com/v/7154296/>. Acesso em: 12 nov.
8
Além disso, também já está exposto ali o que considera como “principal vilão”: o
“sistema processual extremamente generoso em relação a recursos”58, um tema de interesse de
Moro há mais de uma década, como se vê nos textos Justiça criminal em risco59, Justiça sem
fim60, Prisão na fase de recursos61, Caminhos para reduzir a corrupção62 e O problema é o
processo, em coautoria com Bochenek63.
Enfim, esse terceiro bloco abarca temas variados. Em uma de suas produções mais
recentes, Preventing systemic corruption in Brazil66, Moro compila assuntos recorrentes em
suas pesquisas sobre justiça criminal. Encontramos ali a defesa da independência judicial67, da
liberdade de imprensa e de informação68 e também do compliance pelos particulares69 – além
da já citada defesa do ativismo do STF em implementar medidas anticorrupção70.
2018. UOL. Sérgio Moro fala agora sobre cargo de ministro de Bolsonaro. 2018. (1h47m59s). Disponível
em: <https://youtu.be/3Tlu3GwLuuw>. Acesso em: 8 nov. 2018.
58
MORO, Sérgio Fernando. Op. cit., 2014a, p. 571.
59
Idem. Justiça criminal em risco. In: Centro de Estudos Judiciários (Org.). Propostas para um novo modelo
de persecução criminal: combate à impunidade. Brasília: CJF, 2005b. p. 179-192.
60
Idem. Justiça sem fim. Revista Jurídica Consulex: ano XII, n. 289, p. 66, jan. 2009.
61
Idem. Prisão na fase de recursos. In: Tributo a Afrânio Silva Jardim: escritos e estudos. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2011.
62
Idem. Caminhos para reduzir a corrupção. O Globo, Rio de Janeiro, 4 out. 2015.
63
MORO, Sérgio Fernando; BOCHENEK, Antônio Cesar. O problema é o processo. O Estado de S. Paulo, São
Paulo, 29 mar. 2015. Disponível em: <https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/o-problema-e-o-
processo/>. Acesso em: 8 nov. 2018.
64
MORO, Sérgio Fernando. Op. cit., 2014a, p. 571 e 574-575.
65
Idem, 2002a, p. 153-154.
66
Idem. Preventing systemic corruption in Brazil. Daedalus: v. 127, issue 3, p. 157-168, summer 2018f.
67
Idem. Independência judicial e abuso de autoridade. O Globo, Rio de Janeiro, 25 abr. 2017c. Disponível em:
<https://oglobo.globo.com/brasil/artigo-independencia-judicial-abuso-de-autoridade-por-Sérgio-moro-
21251404>. Acesso em: 8 nov. 2018.
68
Idem, 2002a, passim.
69
Idem. Prefácio. In: Compliance bancário: um manual descomplicado. MARTINEZ, André Almeida
Rodrigues; LIMA, Carlos Fernando dos Santos. São Paulo: Quartier Latin, 2018e.
70
Idem, 2018a.
9
Além disso, ele volta a tratar, ali, da necessidade de prisões, tanto após julgamento
colegiado como preventivas71; da utilidade da colaboração premiada72; dos efeitos deletérios
do foro privilegiado73; dos benefícios da cooperação internacional74 e da importância de
implementar reformas legislativas e políticas públicas75.
É interessante notar como Sérgio Moro empregou na Operação Lava Jato todo o
seu conhecimento acumulado ao longo dos anos, tanto na academia como na própria judicatura
– diversas questões da Operação já haviam sido tratadas pelo juiz no Caso Banestado, como se
vê de sentença da Ação Penal 2004.700003-2595-4, publicada em revista76. Até mesmo um
artigo abordando problemas de competência ambiental apresenta argumentos que serviriam
para manter o caso da Petrobrás na Justiça Federal, empregando-se um conceito mais extenso
de interesse da União77. Ainda que essa não tenha sido a estratégia argumentativa adotada,
preferindo-se o caminho mais conservador de utilizar regras de prevenção e conexão78, extrai-
se do texto uma crítica à interpretação rígida das normas de competência – interpretação esta
muitas vezes arguida para questionar a atuação do juiz79.
71
Assunto também dos seguintes textos: Idem. Análise jurídica da prisão preventiva de Alexandre Nardoni e
Ana Carolina Jatobá: legalidade da prisão. Revista Jurídica Consulex: ano XII, n. 273, p. 54, mai. 2008a. Idem.
Não é dos astros a culpa. Folha de S. Paulo, São Paulo, 24 ago. 2014b. Disponível em:
<https://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/182156-nao-e-dos-astros-a-culpa.shtml >. Acesso em: 8 nov. 2018.
Idem. As prisões da Lava-jato. Veja, São Paulo, Brasil, 08 mar. 2017b. p. 48-49.
72
V. Idem. A justiça e os decaídos. Estadão, 31 mai. 2016a. Também a tradução de Moro do texto de TROTT,
Stephen S. O uso de um criminoso como testemunha: um problema especial. Tradução de Sérgio Fernando
Moro. Revista CEJ: v. 11, n. 37, p. 68-93, abr./jun. 2007.
73
Tema dos textos: Idem. “Foro privilegiado favorece a impunidade”. Gazeta do Povo, 3 jun. 2007a. Disponível
em: <https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/foro-privilegiado-favorece-a-impunidade-
ai194mdnu7pstdklwy3v6lydq/>. Acesso em: 12 nov. 2018. Idem. Os privilegiados. Folha de S. Paulo, 6 jul.
2007b. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz0607200709.htm>. Acesso em: 12 nov.
2018.
74
Tema tratado detalhadamente em: Idem. Cooperação jurídica internacional em casos criminais: considerações
gerais. In: Cooperação jurídica internacional em matéria penal. BALTAZAR JUNIOR, José Paulo; LIMA,
Luciano Flores de (Org.). Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2010a.
75
V. Idem, 2014a e 2016b. Também: Idem. Um projeto na contramão. Folha de S. Paulo, 20 mar. 2010c. p. 13.
Idem. O crime não é invencível. Veja, São Paulo, 13 mar. 2018d. Disponível em:
<https://veja.abril.com.br/revista-veja/o-crime-nao-e-invencivel/>. Acesso em: 8 nov. 2018.
76
Idem. Evasão de divisas – crime contra a ordem econômica. Revista Ciência Jurídica: ano XIX, n. 126, p.
275-328, 2005a.
77
Idem. Competência da justiça federal em direito ambiental. Revista de Direito Ambiental: v. 8, n. 31, p. 157-
166, jul./set. 2003b.
78
BRASIL, Op. cit., 2016.
79
Cite-se, por todos, o texto de Afrânio Silva Jardim em PRONER, Op. cit., p. 21-23
10
Ademais, essas concepções pautaram sua atuação no Ministério da Justiça e
Segurança Pública, sendo prova disso o chamado Projeto de Lei Anticrime80, uma primeira
parte de uma “agenda de reformas”81, que se pretendia mais ampla.
Por exemplo, há mais de uma década, Moro escreveu o artigo Colheita compulsória
de material biológico para exame genético em casos criminais, sustentando a
constitucionalidade dessa medida82, e posteriormente defendeu, em DNA de criminosos, que os
Poderes Executivos tivessem a iniciativa de formar um banco de dados de perfis genéticos
abrangente83. O reforço ao Banco Nacional de Perfil Genético foi uma das medidas propostas
para aprimorar a investigação de crimes (capítulo XVIII), que também busca regular outras
técnicas “modernas” de investigação, uma preocupação antiga de Moro84.
80
BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Projeto de lei anticrime. 2019. Disponível em:
<http://www.justica.gov.br/news/collective-nitf-content-1549284631.06/projeto-de-lei-
anticrime.pdf/@@download/file>. Acesso em 6 fev. 2019.
81
MORO, Sérgio Fernando. Prefácio. In: Infraestrutura: eficiência e ética. PASTORE, Affonso Celso (Org.).
Rio de Janeiro: Elsevier, 2017d.
82
Idem. Colheita compulsória de material biológico para exame genético em casos criminais. Revista dos
Tribunais: v. 95, n. 853, p. 429-441, nov. 2006.
83
Idem. DNA de criminosos. Folha de S. Paulo, 23 dez. 2013. Disponível em:
<https://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/144935-dna-de-criminosos.shtml>. Acesso em: 12 nov. 2018.
84
Idem, 2010c.
85
MORO, Sérgio Fernando; SILVA JÚNIOR, Walter Nunes. Sistema de proteção aos juízes. Correio
Braziliense, 4 dez. 2006. Também publicado com o título Proteção aos juízes. Revista Jurídica Consulex: ano
XI, n. 243, p. 29, fev. 2007.
86
CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL. V workshop sobre o sistema penitenciário federal: anais do
evento. Brasília: CJF, 2014.
87
CRISTO, Alessandro. Gravações em presídio do Paraná ocorrem desde 2007. Consultor Jurídico, 25 jun.
2010. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2010-jun-25/parana-conversas-entre-advogados-presos-sao-
gravadas-2007>. Acesso em 7 fev. 2019.
11
Ademais, o projeto propôs a ampliação as possibilidades de confisco (capítulo
VIII), o que era esperado dado que Moro é um notório entusiasta do confisco88 e um estudioso
da persecução penal da lavagem de dinheiro, possuindo livro89 e artigos escritos sobre o tema90.
Conclusão
Após transitar pelo conjunto da sua obra, é possível afirmar que Sérgio Moro não é
um conservador nem um liberal. Diversos de seus textos contêm ressalvas a posições associadas
a essas categorias. Essa conclusão é nítida no seu artigo Reforma do estado e reforma do
Judiciário93 e a percepção é reforçada em Afastamento da presunção de constitucionalidade da
lei94, onde Moro considera “absolutamente condenável” o posicionamento, que se poderia dizer
tanto conservador como liberal, da Suprema Corte norte-americana, na Era Lochner, de anular
as leis trabalhistas do New Deal
88
MORO, Sérgio Fernando. Regras sobre confisco criminal. Correio Braziliense, 4 jun. 2007c. p. 3.
89
Idem. Crime de lavagem de dinheiro. São Paulo: Saraiva, 2010b.
90
Idem. Aplicação da lei de lavagem de dinheiro no Brasil. Circulus, Revista da Justiça Federal do
Amazonas: v. 1, n. 1, p. 29-48, 2003a. Idem. Autonomia do crime de lavagem e prova indiciária. Revista CEJ:
vol. 12, n. 41, p. 11-14, abr./jun. 2008b.
91
Idem, 2015.
92
V. a crítica de GRECO, Luís. Análise sobre propostas relativas à legítima defesa no ‘Projeto de Lei
Anticrime’. Jota, 7 fev. 2019. Disponível em: <https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/penal-em-
foco/analise-sobre-propostas-relativas-a-legitima-defesa-no-projeto-de-lei-anticrime-07022019>. Acesso em 7
fev. 2019.
93
MORO, Sérgio Fernando. Op. cit., 1999b, passim.
94
Idem, 1999a.
12
A mesma conclusão também é deduzível da sua afirmação de que “a pobreza não é
um estado natural”95, que é contrária tanto à visão religiosa conservadora, que rejeita a
prosperidade plena neste mundo, como à visão comumente chamada de neoliberal, que
reconhece um princípio material de escassez. Moro, aliás, afirma expressamente que “fazem-
se necessárias, dentro do contexto de economia de mercado, políticas redistributivas para
compensar as desigualdades decorrentes do mercado”96, nas quais se incluiria o “direito
antipobreza” do art. 203, V, da Constituição97.
De fato, em sua crítica a John Locke, seu discurso se afasta das concepções
abrangentes, como as do jusnaturalismo100. Por outro lado, ele rejeita a tecnocracia na forma
mais explícita101 e tempera o positivismo pela intenção de promover uma atuação estatal não
alienada da realidade constitucional e social – o que Moro identifica com a obra de Dworkin,
uma referência considerada fundamental102 e pela qual ele revela expressa preferência103. O
professor Clèmerson Merlin Clève, seu orientador de mestrado, sintetiza com precisão: Sérgio
Moro “acredita no Direito, na Constituição e no Judiciário”104.
95
Idem, 2003d, p. 158.
96
Idem, 2001b, p. 27.
97
Idem, 2003d, p. 144, e 2018b, p. 2032.
98
Idem, 1999b, p. 355, e 2005c, p. 252.
99
Idem, 2002a, p. 44.
100
Ibidem, p. 93-94, e Idem, 2005d, p. 271-273.
101
Ibidem, p. 80, 86 e 99-100.
102
MORO, Sérgio Fernando. 10 livros de direito fundamentais. Jota, 27 mar. 2017a. Disponível em:
<https://www.jota.info/carreira/10-livros-de-direito-fundamentais-segundo-Sérgio-moro-27032017>. Acesso
em: 12 nov. 2018.
103
Idem, 2002a, p. 156.
104
Idem, 2003c, p. 12.
105
Idem, 2001c.
106
Idem, 2000a, p. 3.
13
Como magistrado, sua posição não poderia ser muito diferente, entretanto, tudo
indica que essa aproximação também ocorre por íntima convicção107. O conjunto da obra de
Sérgio Moro contém uma abertura em relação à mudança e um otimismo diante da ação do
Estado, próprios da visão progressista, plasmada em nossa carta pela Assembleia Constituinte
de 1987. Na síntese de Ulysses Guimarães: “A Nação quer mudar. A Nação deve mudar. A
Nação vai mudar. A Constituição pretende ser a voz, a letra, a vontade política da sociedade
rumo à mudança”108. Daí a pecha de Moro como inadequada à mentalidade da magistratura que
"adota comportamento puramente burocrático no exercício de suas funções, sem a consciência
de que exerce verdadeiro poder político”109. Afinal de contas, trata-se de participar, por meio
do Poder Judiciário, da construção de uma "verdadeira democracia” no Brasil110, onde todos
devem ser tratados como livres e iguais111.
Entretanto, dizer que alguém é progressista apenas permite excluir outras partes
mais contrastantes do espectro político (e.g. conservador, liberal e socialista). Moro transita
entre o idealismo e o realismo, dificultando um enquadramento mais preciso112. O próprio Moro
diz que não cai na “tentação de propor um modelo abrangente e completo”113.
107
Idem, 2002a, p. 186-188.
108
GUIMARÃES, Ulysses. Íntegra do discurso presidente da Assembléia Nacional Constituinte, Dr.
Ulysses Guimarães. Rádio Câmara, 5 out. 1988. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/radio/materias/CAMARA-E-HISTORIA/339277--INTEGRA-DO-
DISCURSO-PRESIDENTE-DA-ASSEMBLEIA-NACIONAL-CONSTITUINTE,--DR.-ULISSES-
GUIMARAES-%2810-23%29.html>. Acesso em: 2 dez. 2018.
109
MORO, Sérgio Fernando. Op. cit., 1998b, p. 351.
110
Idem, 2000a, p. 100.
111
Idem, 2002a, p. 250.
112
Ibidem, p. 83.
113
MORO, Sérgio Fernando. Op. cit., 2002a, p. 251.
114
Idem, 2002a, p. 217-233.
115
Idem, 2005d, p. 281-283.
116
Idem, 2001a, p. 355.
14
De fato, aqueles juízes norte-americanos adotaram premissas teóricas que ele
próprio assume: cabe ao Judiciário proteger grupos sociais e politicamente vulneráveis, a
Constituição deve ser interpretada de forma evolutiva, devem ser utilizados pelas cortes
recursos fornecidos por ciências não-jurídicas e se impõe postura estatal, inclusive judiciária,
ativa para o cumprimento da Constituição117.
Nós não arriscamos ir além disso no esboço de um perfil ideológico, porque Moro
não exerce o papel de um ideólogo e toda sua obra é escrita buscando sinalizar, nitidamente,
imparcialidade, em um discurso, que alguns chamariam vacilante e outros chamariam prudente.
117
Idem, 2002a, p. 25.
118
Idem, 2018a.
119
Idem, 2002a, p. 232.
120
Idem, 2014a, p. 576.
121
Idem, 2018d.
122
Idem, 2002a, p. 95-96.
123
Ibidem, p. 253-254, e 2000b.
124
JOUVENEL, Bertrand de. O poder: história natural de seu crescimento. Tradução de Paulo Neves. São
Paulo: Peixoto Neto, 2010.
125
ROSA, Alexandre Morais da. Op. cit., 2015.
15
Por fim, cabe rememorar que este artigo, como alertado no início, não pretende
traçar um perfil profundo, nem definitivo, de Sérgio Moro. Entretanto, não se localizou
nenhuma pesquisa que tenha realizado uma leitura global das opiniões escritas do ex-juiz
federal. Acreditamos estar contribuindo para uma melhor compreensão das suas ações políticas.
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