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DISCIPLINA: METODOLOGIA DA PESQUISA JURÍDICA

ROTEIRO DE AULA
Aulas 01, 02, 03, 04 e 05
- Apresentação do conteúdo, bibliografia.
- O que é método científico? Para quê serve uma pesquisa?

(Método – observação – experiência – hipótese – lei – teoria)

Método (caminho a ser seguido) é o conjunto de regras e sistemas que organizam uma
forma de conhecimento, a fim de solucionar um problema.

ENIGMA – PROBLEMA.

O método científico é, nesse sentido, o conjunto de regras e sistemas que organizam e


orientam uma investigação científica, uma experiência que pode ser comprovada empiricamente.
A observação foi o primeiro método utilizado pelos cientistas e é também o principal. Qualquer
um pode observar, mas cabe aos cientistas a observação dos detalhes, mais precisa e
minuciosa. A partir da observação o cientista pode empreender uma experiência. Mas, para
experimentar é preciso sugestionar com base na observação. A hipótese é, portanto, uma
sugestão, uma explicação para um fenômeno científico. A hipótese será testada a partir dos
experimentos. A experiência testa a hipótese projetada pelo cientista. Se a hipótese foi
confirmada, nas ciências, podem surgir leis e/ou teorias.

Após a experiência que comprova empiricamente um fenômeno, e após certa


quantidade de observações das confirmações desse experimento, muitas vezes é possível
descrevê-lo em forma de enunciado. Uma lei científica tem a função de descrever eventos que
se manifestam de maneira uniforme e invariável. Já a teoria consiste num modelo ou padrão a
ser empregado a partir de uma lei. Ela deve responder não somente às questões iniciais
propostas pela hipótese, mas deve permitir previsões sobre os futuros experimentos que
poderão modificá-la. Nada mais é que um padrão científico criado por meio da experiência.

O método científico, portanto, consiste em estudar um fenômeno de maneira mais


racional, de modo a evitar falhas e erros, sempre se resguardando de evidências e provas que
respaldem argumentos e afirmações. Mas, afinal, o que é método? Por que ele é tão importante
para nós?

Método é aquilo que garante ao conjunto de pesquisadores, a fidúcia, o


profissionalismo, a procedência, em outros termos, método é o que dá garantia de que aquele
trabalho não é fruto da imaginação, ou da livre associação de ideias de quem o está
apresentando ao público. Quando publicamos os resultados de nossas pesquisas, sempre
apresentamos sobre qual método trabalhamos, sobre qual forma buscamos o levantamento das
fontes, de que maneira nos portamos diante de certas questões-chaves, quais procedimentos
usamos e as categorias que manejamos. O método é a base de toda a ciência, de todo o saber
acadêmico. Podendo ser a ciência humana, biológica ou exata. O método garante que qualquer
um que se utilize dele em relação às fontes trabalhadas poderá alcançar os mesmos resultados
que os apresentados no trabalho exposto.

O estabelecimento de um método é fundamental para se chegar a um conhecimento


seguro acerca de um determinado objeto. René Descartes foi um filósofo cuja maior importância
reside justamente em elaborar tal método. Embora seu método pressuponha a abordagem
matemática, a ideia de um exercício metodológico é uma contribuição fundamental.

Essa é a base de todo o conhecimento produzido pelo homem moderno. É a ideia de


que o conhecimento está ao alcance da compreensão de qualquer um, pois ele é produzido pelo
homem. O inverso da proposta de conhecimento produzido com o auxílio do método está
concretizado na proposta do dogma, daquilo que não está ao alcance de nossa compreensão. É
um atestado de procedência, sem sombra de dúvidas. Não é à toa que um dos livros que
inauguraram a Era Moderna foi o paradigmático Discurso do Método, de René Descartes, como
já vimos.

Nós já estudamos os tipos de método (dedutivo, indutivo, hipotético-dedutivo, dialético


e sistemático). Agora, nos resta questionar: e a pesquisa? Para quê serve uma pesquisa?

1) Resolver problemas a partir de métodos


2) Coletar dados que, organizados, geram informação e conhecimento.

No Direito, a pesquisa visa a resolver problemas jurídicos.

DA PESQUISA JURÍDICA
ENTENDENDO O PROBLEMA

O primeiro passo para um trabalho acadêmico é debruçar-se sobre um objeto de


investigação, é pesquisar. A ciência visa a conhecer as coisas do mundo e, para tanto, por meio
de um processo de racionalização, de aproximação e apreensão dos objetos, tenta decifrá-los.
Conhecer é tornar próximo, familiar; é descrever, observar, analisar. Quando o cientista sente
necessidade de conhecer as coisas é porque elas ainda não lhe são familiares, ou seja, é porque
algo lhe surgiu como novo, como mistério, como evidência a ser desvendada.

O novo, de início, causa espanto e admiração. Esse espanto só aumenta a vontade do


cientista em desvelar o desconhecido: é essa vontade de desvelamento, de trazer à luz algo que,
antes, estava obscurecido, que justifica o esforço científico e o movimento do pensamento
racional. O novo, o desconhecido é enigma a ser enfrentado; é problema a ser solucionado.
Pesquisar é observar um fenômeno que se apresenta problemático, para tentar torná-lo próximo,
conhecido, solucionado. E o cientista pesquisa das formas mais variadas possíveis.

Para pesquisar e conhecer, o cientista cria um conjunto sistemático de regras que


ordenam e regulam as etapas de resolução do problema: essa é a clássica definição de método.
A finalidade do método é resolver problemas, por meio da coleta de dados (bibliográficos ou de
campo). Nesse sentido, podemos afirmar que o trabalho científico se inicia com um problema,
uma equação e, para tentar solucioná-la, o pesquisador se debruça sobre a coleta de dados.

Coletar dados e argumentar não são meras atitudes descritivas; não se trata de um
mero afirmar, de um conhecimento arbitrário, raso e irresponsável do assunto, mas de identificar
um problema e tentar resolvê-lo. Observa-se, analisa-se, propõem-se hipóteses, controlam-se as
variáveis, etc. Para iniciar uma pesquisa científica é necessário, portanto:

 Estabelecer o problema a ser enfrentado.


Diante de uma linha de pesquisa, uma área, um autor, uma disciplina, uma obra,
devemos nos perguntar: Qual é o problema por ele (a) proposto? O que devemos enfrentar? Por
que determinado autor encara o problema dessa maneira?

Ora, o problema não é senão a indagação inicial que afeta o interesse do aluno, a ser
solucionada por ele durante o desenvolvimento da pesquisa acadêmica. O problema, tal como o
tratamos, evoca uma experiência sensível; ele é um acontecimento a ser encarado. Assim, a
identificação do problema implica na identificação daquilo que nos desaloja, nos impulsiona, nos
move. Quando pensamos dessa maneira, no contexto da pesquisa temos a tarefa de
compreender em que medida o problema que se apresenta pode ser tratado juridicamente.

O problema a ser enfrentado é um problema de natureza jurídica? Nem todo problema


é passível de tratamento científico! Antes, é necessário verificar se o problema a ser enfrentado
se enquadra na categoria de científico: se ele é passível de verificação empírica, se pode ser
“testável” e “comprovável”. E, é claro, ele deve ter natureza jurídica.

Exemplo: perguntas valorativas não se encaixam na cientificidade esperada de uma


proposta investigativa. Perguntar se isto é melhor que aquilo, ou se determinada lei é boa ou útil,
não constitui, de fato, um problema. O mesmo se diz quanto às questões a que chamamos de
“questões de engenharia”. Perguntar de que modo podemos aumentar a produtividade no
trabalho ou melhorar a desigualdade social, não condiz com a variável científica, porque não são
questões passíveis de verificação empírica. Contudo, se indagarmos, por exemplo, se a
desnutrição determina o retardamento intelectual, estaremos voltados a uma proposição passível
de verificação, o que torna o problema suscetível a uma resposta comprovável empiricamente.

Exemplo de afecção: O que mantém o instituto do perdão judicial hoje? Qual a sua
origem? Problema: Por que o perdão judicial é mantido no país? Objetivo: investigar
historicamente as origens do instituto do perdão judicial para compreendê-lo na atualidade.

 Compreender o problema não coincide com reunir informações, acumular um conjunto


de “saberes” a respeito de um autor/tema (isso é descrição), mas de fixar o ponto a ser
solucionado. Não atentar-se ao problema significa “narrar histórias” ou citar autores:
descrever tão somente não é resolver.

Um PROBLEMA não é um TEMA e nem somente uma QUESTÃO:

O tema é aquilo do que ou sobre o que um autor fala (sua “tese”). No caso de uma
pesquisa, o tema é exatamente aquilo sobre o que você, investigador, se debruçará. Exemplo:
alienação parental, estado puerperal, controle de constitucionalidade, etc.

Questão é a pergunta explícita e bem definida (suscetível de resposta) que poderá ser
indicada como um problema.

O critério mínimo para se decidir se estamos ou não diante de um problema é


justamente a possibilidade de formulá-lo gramaticalmente, como uma pergunta clara e definida,
que possa ser respondida. E, mais! É importante refletir: essa pergunta fixa o problema
suficientemente? Percebam, portanto, que a pergunta não necessariamente contém o problema
e vice-versa; por esse motivo, não podemos afirmar que enfrentar um problema é somente um
enfrentamento de uma questão ou tema.
O problema é como um enigma a ser decifrado – Inicialmente, antes do advento da
Filosofia, num contexto mitológico e de mistérios, o Enigma tinha importância vital, pois impunha
um dilema a ser solucionado, ainda que fosse considerado insolúvel. Há teses sobre a origem do
conhecimento lógico-discursivo: a de que, justamente, ele teria se iniciado a partir da tentativa de
se solucionar enigmas. Na modernidade, falamos em problemas (já que não consideramos mais
nada de modo irresolúvel). Contudo, o fato é que a dúvida (afecção, questionamento, espanto e
perplexidade diante do desconhecido) é aquilo que move não só o objeto de conhecimento, mais
o sujeito conhecedor.

Mais que sujeitos conhecedores, somos criadores, e nossas respostas, no fundo, não
passam de criações humanas que se querem definitivas, mas que estão sempre
(temporalmente) sujeitas a revisões. Quando tentamos decifrar um enigma, solucionar um
problema, importante é dar-se conta de que não se trata de um ponto final. O caminho que será
percorrido pelo investigador é apenas o começo de toda uma trajetória de busca, que só é
aceitável (em termos acadêmicos) como atividade esclarecedora, que clareia o entendimento e
dota de significado, de sentido, o problema e a solução ainda que temporária.

Essa solução “temporária” a ser considerada tem de estar vinculada à tese do


pesquisador, àquilo sobre o que ele se debruça. Tese é uma proposição afirmada, um enunciado
capaz de ser declarado verdadeiro (e não falso). Diferentemente do axioma, que é uma
sentença/proposição considerada óbvia, que não precisa ser demonstrada, a tese fixa o
problema e tenta iluminá-lo.

Ser uma proposição é uma propriedade que um enunciado “ possui em si”; ser uma
tese ou uma hipótese é uma função que ele assume ou não conforme o contexto. As teses
jurídicas cumprem uma função: tentam solucionar problemas, lides, conflitos – são conciliadoras.
O objetivo nuclear de qualquer pesquisa no âmbito jurídico deve ser a fixação de um problema a
ser conciliado.

A hipótese, como se sabe, é uma espécie de “candidato à tese”. Uma tese pode ser
apresentada como hipótese, mas a hipótese é apenas uma conjectura, uma suposição.
Normalmente, a tese tem natureza lógica de RESPOSTA, que só pode ser entendida em ligação
com a PERGUNTA que responde. Pesquisar não é afirmar ou negar teses, mas vinculá-las ao
problema investigado (formulando-o), tornando-as respostas, ainda que não definitivas, finais.
O movimento característico da pesquisa é a explicitação de teses sob a perspectiva do
problema que, boa parte das vezes, acaba por reformular este último (superação e integração).
Esse movimento não suprime, mas supõe a “resposta precedente”, porque é devir. Desse modo,
podemos concluir que há uma unidade indissolúvel em toda atividade investigativa e reflexiva: a
inter-relação entre tese (explicitação de supostos) e problema, que move o pensar, que
transforma a atividade reflexiva inserindo-se num contexto de continuidade e amadurecimento.

Como fora dito, a tese é uma solução ao problema e implica numa escolha, num optar
em que outras alternativas são descartadas. Num texto jurídico inúmeras teses podem ser
encontradas, mas cabe ao leitor atento, redator da pesquisa, eleger a tese principal que será
objeto de estudo no futuro trabalho de conclusão de curso. Essa escolha parte da exigência de
que a resposta seja pertinente, limitando a arbitrariedade da pesquisa. Mas várias respostas
podem ser simultaneamente pertinentes; tudo vai depender da abordagem do trabalho científico.
O que faz com que haja a opção de uma tese em detrimento de outra? Além da
afecção, numa pesquisa os argumentos desempenham função necessária; são eles que
legitimam a tese escolhida. A prioridade lógica do movimento reflexivo-discursivo é o
estabelecimento de um problema. Ele é o suposto essencial tanto da tese como dos argumentos.
Mas, o que é argumentar?

A atividade da argumentação consiste em apresentar as razões fundamentais que


comprovam uma alegação (é o mesmo que se costuma fazer numa peça processual). Em outras
palavras, consiste numa inferência de valor de verdade! Você confere à sua tese um valor de
verdade a ser considerado e comprova esse valor por intermédio do discurso argumentativo.
Argumentar não é, por exemplo, meramente explicitar. Explicitar é clarificar conceitos, é
esclarecer. O mesmo se constata quanto à fundamentação. O argumento é apenas um dos
elementos utilizados na fundamentação da tese; a consequência dessa tese, por exemplo, é
outro elemento a ser precisado.

Qualquer que seja a pesquisa é importante fazermos sempre três perguntas:

1) Qual é o problema (a pergunta que me afeta, que é decisiva e que dá sentido


às demais perguntas)?
2) Qual é a resposta pertinente ao problema (tese ou teses)?
3) Qual (is) o(s) argumento(s) e qual o fundamento?

 Responder a essas perguntas clara e objetivamente é elaborar uma pesquisa científica


academicamente pertinente.

 DO PROBLEMA À TESE – leitura e interpretação:

Para se traduzir logicamente um texto e interpretá-lo é preciso a identificação prévia do


problema e da tese e, posteriormente, da argumentação. Essa análise não cabe apenas ao leitor
atento, mas ao pesquisador do Direito. Numa pesquisa, é necessário que seja delimitado, ao
menos, um problema, para posterior desenvolvimento do par tese-argumento. Tais elementos
(problema/tese/argumento) formam uma unidade, uma totalidade indissociável.

Importante:

a) O problema nem sempre está presente de modo explícito nos texto que são
objeto de análise na pesquisa. Contudo, uma boa pesquisa precisa delimitá-lo.
b) Nem toda proposição afirmada num texto é uma tese. Em seu projeto, a tese
deverá obter o destaque merecido.
c) Nem toda tese é tese principal. Se, à sua abordagem, várias teses mostrarem-
se pertinentes – o que é raro – cabe argumentar qual é a tese fundamental.
d) A tese principal só pode ser fixada em relação ao problema (nexo).
e) O argumento é sempre argumento de uma tese.

Para se redigir um bom trabalho é necessário que se tenha claro, nítido, o movimento
que será percorrido durante a pesquisa (problema/tese/argumentação). Durante a investigação,
um texto só será compreendido e desenvolvido pela própria dinâmica do entendimento: entender
passa pela fase da ausência de entendimento. Conhecer é justamente esse movimento de trazer
à luz o desconhecido, tornar claro o obscuro. O movimento do pensamento é de esclarecimento,
é de tornar visível o invisível. É a essa visibilidade que damos o nome de verdade: um valor
positivo conferido a um fenômeno aparente que se sustenta em sua essência.

O mesmo se dá com um texto bem interpretado. A leitura atenta e análise das obras
jurídicas funcionam como mecanismos de esclarecimento do sentido do texto. Trata-se de
entender o texto e ultrapassá-lo, desenvolvendo com objetividade um material/conteúdo próprio
sobre determinado problema/tema. Essa leitura que ultrapassa e cria, que é propriamente a
investigação científica não se limita a inferir um valor de verdade, mas a dotar o texto analisado
de significação e relevância.

Entender é explicitar o sentido do texto, enquanto que interpretar (hermenêutica


jurídica) é completar tal sentido numa direção. Um bom trabalho não somente explicita, mas
completa a proposta de pesquisa dos diversos autores/pensamentos investigados. É necessário
ir além do texto para interpretá-lo; uma boa análise não é mero espelho do texto estudado (há
diferentes maneiras de estar no texto), mas TOMADA DE POSIÇÃO – daí a necessidade de
mudança de postura por parte do acadêmico do Direito.

É o desenvolvimento natural da investigação que o obriga a tomar uma posição e essa


nova postura permite a reflexão sobre o tema/problema. Refletir é ultrapassar a mera leitura, é o
que permite a abertura ao viés crítico. Deixa-se de ler e passa-se a DIALOGAR com certos
autores. Essa é a função da citação, inclusive; é dialogar com os autores, com os pensamentos
e obras que são objeto da investigação.
E o diálogo transcende o texto analisado.
O objetivo de nosso curso é tentar estabelecer e desenvolver, além de um bom projeto
de pesquisa, a postura dialógica necessária ao âmbito jurídico. No diálogo com o texto surge a
necessidade de precisar ideias, porque todo texto é “incompleto” e suscetível de ser
desenvolvido. Interpretar não é violentar o texto/tema, mas etapa intrínseca da investigação
científica. O texto jurídico remete a algo fora de si, a um horizonte de significação e cabe ao
estudante saber apreendê-lo. Ao mesmo tempo em que uma totalidade hermenêutica é fixada,
ela abre perspectivas sobre um universo que o texto mesmo não se voltou (a explicitação jamais
finalizada em definitivo). Há uma indeterminação objetiva do sentido do texto e o investigador
deve se voltar à natureza de seu significado. A interpretação continua o trabalho de
compreensão, naquilo que o texto não explicita por inteiro - é o sentido aberto do texto.
PONTE: COMENTÁRIO – REFLEXÃO AUTÔNOMA

Um texto bem compreendido nunca é meramente lido, mas interlocucionado: o


intérprete torna-se coautor!

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