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CLASSIFICAÇÃO AUTOMÁTICA DE TIJOLOS

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3 authors, including:

Jose Vieira Aníbal J. S. Ferreira


University of Aveiro University of Porto
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CLASSIFICAÇÃO AUTOMÁTICA DE TIJOLOS

Miguel Falcão* , José Vieira**, Aníbal Ferreira***


*INESC-Porto, **DETUA e INESC-Aveiro, ***FEUP e INESC-Porto,
Largo Mompilher, 22, Porto 4050-392

Sumário tempo-real, e avalia-se o seu desempenho,


Este artigo trata o tema da classificação automática de considerando também a influência do ruído.
peças de barro através da análise da sua resposta sonora Este trabalho tem um cariz preliminar e por isso ignora
a um impulso mecânico. Consideraram-se para teste possíveis variações entre tijolos do mesmo tipo. A
dois tijolos pré-classificados. Efectuaram-se diversos ênfase é portanto colocada na concepção e breve ensaio
estudos em que se simularam diferentes métodos de de métodos computacionais de classificação, tendo por
classificação. Implementou-se um destes métodos referência os exemplares de tijolo que nos foram
numa plataforma de DSP, a operar em tempo-real, disponibilizados e tendo por objectivo a simples
tendo por entrada unicamente o sinal de um microfone. triagem binária.
Concluiu-se que o desempenho do método
implementado é satisfatório, mesmo em condições de 2. ESTUDOS DE SIMULAÇÃO
ruído ambiente. Com algum desenvolvimento adicional
de adaptação, o método tem potencialidades para ser Foram usados dois tijolos, um do tipo MAU e outro do
instalado numa linha de produção em ambiente tipo BOM, com as seguintes dimensões: 30x20x11cm.
industrial. A sua resposta ao impulso foi obtida por aplicação de
uma pancada lateral.
1. INTRODUÇÃO A captação da resposta sonora dos tijolos a um impulso
mecânico foi realizada com estes suspensos nas duas
A classificação de tijolos na saída da linha de produção extremidades abertas, de modo a permitir a sua
é necessária quer para proceder a uma triagem simples vibração livre. Utilizou-se uma frequência de
entre tijolos defeituosos, categoria que passaremos a amostragem de 44.1 kHz na digitalização do som
designar de MAU, e entre tijolos não defeituosos, captado, de modo a poder analisar-se o conteúdo
categoria que passaremos a designar de BOM; quer espectral da resposta dos tijolos até 20 kHz.
para proceder a uma selecção mais refinada, de acordo Quando sujeitos a uma breve pancada, os tijolos
com a gravidade dos defeitos estruturais detectados. produzem um som com um timbre definido e com um
Em tempos idos, a selecção de tijolos chegou a ser feita decaimento temporal bastante acentuado. A impressão
na própria linha de produção, por operadores humanos, subjectiva do som de um tijolo MAU relativamente ao
que os classificavam de acordo com o som que de um tijolo BOM é que aquele, para além de mais
produziam, após a aplicação de uma pancada em cada curto, revela um som mais abafado, designado na gíria
tijolo. Actualmente este método é ainda utilizado mas de “choco”.
só para a classificação por amostragem, usando por Este facto tem uma explicação física que pode ser
exemplo um único exemplar de um grupo ou fornada explicada de forma simplista: um tijolo bem cozido é
de tijolos. em princípio mais rígido proporcionando uma maior
Este artigo caracteriza e confronta as respostas ao velocidade à propagação acústica e uma menor
impulso produzidas por dois tijolos previamente atenuação obtendo-se por este motivo respostas
classificados de BOM e MAU. Com base nesta impulsionais mais longas e com frequências de
informação, investigam-se métodos computacionais ressonância elevadas.
passíveis de ser usados num algoritmo para a sua Pelo contrário, no caso do tijolo MAU quer seja bem
classificação automática e em tempo-real, a partir de cozido mas apresentando fractura profunda, quer seja
uma análise computacional ao som produzido por cada mal cozido ou constituído por argila de má qualidade,
tijolo quando sujeito a um impulso mecânico [1]. as condições são de modo a preservar só as
Descreve-se a implementação de um destes métodos ressonâncias de mais baixa frequência, e de modo a
numa plataforma de processamento digital de sinal em impor um amortecimento acentuado à energia da
resposta impulsional.
4
Estes aspectos têm correspondência com a 3
x 10 Evolução da Energia da Resposta do Tijolo BOM

representação temporal e espectral da resposta 2

impulsional dos dois tipos de tijolo. A Figura 1 revela

Totência (dB)
1

as diferenças no tempo. 0

4 Resposta Tipica de Tijolo BOM −1


x 10
3 −2
2
−3
0 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05 0.06 0.07 0.08
1 Tempo (s)
Amplitude

0 x 10
4 Evolução da Energia da Resposta do Tijolo MAU
3
−1

−2 2

Potência (dB)
−3 1
0 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05 0.06 0.07
0
4 Resposta Tipica de Tijolo MAU
x 10 −1
3
−2
2 0 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05 0.06 0.07 0.08
Tempo (s)
1
Amplitude

Figura 2: Neste figura podemos comparar a evolução da


0
resposta impulsional dos dois tijolos com o sinal de potência
−1
filtrado pelo filtro IIR.
−2

−3
0 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05 0.06 0.07 Na figura 2 podemos comparar a evolução do sinal Pk
Tempo (s)
para a resposta dos dois tijolos, após filtragem por um
Figura 1: Respostas típicas de um tijolo do tipo BOM (em
cima) e de um tijolo do tipo MAU (em baixo). filtro IIR de segunda ordem.
Pode ver-se assinalado por um pequeno círculo, o
A representação dos sinais no domínio dos tempos tempo de decaimento. O tempo de decaimento consiste
mostra que a atenuação temporal é muito mais no intervalo de tempo para o qual a potência do sinal
acentuada no caso do tijolo MAU do que no tijolo desce para 20% do seu valor de pico. Como se pode
BOM. Por outro lado, a representação dos sinais no observar, o tempo de decaimento é maior para o caso
domínio das frequências revela que o tijolo MAU tem do tijolo BOM.
um conteúdo espectral relevante mais estreito do que o Pela análise dos diferentes tempos de decaimento
do tijolo BOM, além de que a sua região de maior registados, concluiu-se que o material do martelo
magnitude se situa a uma frequência inferior à da influencia o tipo de resposta obtido, sendo necessário
região de maior magnitude do tijolo BOM. proceder a uma avaliação rigorosa do tipo de material a
Apresentam-se de seguida dois métodos de utilizar. Verificou-se também que a localização da
classificação que tentam tirar partido sobretudo dos pancada em relação ao tijolo também influencia a
atributos no tempo, e dois métodos que tentam tirar resposta deste. No entanto, este método simples de
partido de atributos na frequência. A apresentação análise do decaimento revela potencialidades para
separada destes métodos tem por objectivo a sua classificar os tijolos. Realizando a média de várias
melhor avaliação individual, nada impedindo que respostas, pode-se tornar este método mais robusto,
venha a julgar-se oportuno construir um algoritmo que podendo por exemplo as pancadas ser dadas com
combine vários destes métodos. intervalos de apenas 200ms, implicando um tempo
total de análise para cinco pancadas de apenas 1
Medição directa do decaimento. segundo por tijolo.
Um dos métodos possíveis para descriminar os dois
tipos de tijolo, seria o de medir o decaimento da Método de medida do decaimento com modelo
potência do sinal ao longo do tempo utilizando uma exponencial
estimativa da potência média do sinal numa janela Uma variante possível do método anterior consiste em
temporal de dimensão N: avaliar a distância da envolvente de cada tipo de sinal
para um modelo exponencial de decaimento. Neste
k + N −1 caso determina-se experimentalmente a constante de
1
Pk =
N
∑ x( n) 2
(1) decaimento de uma exponencial que melhor se adapte
ao caso do tijolo BOM. Esta medida constitui a
n= k
referência de decaimento. Na Figura 7 compara-se a
Uma aproximação para o sinal Pk pode ser obtida envolvente temporal para dois casos de resposta ao
filtrando com um simples filtro passa-baixo do tipo IIR impulso, com um modelo exponencial simples: 0.999n,
(Resposta Impulsional Infinita), a potência instantânea em que n é o índice temporal contado a partir do pico
dada por x(n)2. de resposta ao impulso. O sinal de envolvente
representado foi obtido igualando o valor das amostras
em segmentos de 80 amostras, ao valor absoluto do
máximo aí encontrado.
4
x 10 Envolvente Temporal de Tijolo BOM (max base 80)
Exemplifica-se na figura 4 o modelo LPC, com base
3
num filtro autoregressivo de ordem 10, para cada tipo
2.5
de tijolo.
Amplitude

1.5
Esta figura confronta também a densidade espectral de
1
potência para cada tipo de tijolo, com o respectivo
0.5 modelo LPC. De uma maneira geral, verifica-se que a
0
0 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05 0.06 0.07 0.08 0.09
resposta do tijolo do tipo BOM possui uma maior
densidade espectral de potência às altas frequências do
4
x 10 Envolvente Temporal de Tijolo MAU (max base 80)
que a resposta do tijolo do tipo MAU. Por outro lado,
3
verifica-se também que o pico do modelo LPC para o
2.5
tijolo do tipo BOM ocorre a uma frequência superior
Amplitude

1.5
ao pico do modelo LPC para o tijolo do tipo MAU.
1
Para verificar se a diferença observada entre os
0.5 modelos LPC se traduz numa medida prática que
0
0 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05 0.06 0.07 0.08 0.09
permita diferenciar os dois tipos de tijolo, comparámos
Tempo (s) o sinal de erro de predição quando se filtra a resposta
Figura 3: Comparação da envolvente de cada tipo de do tijolo MAU usando o modelo LPC do tijolo BOM,
resposta com um modelo exponencial para o decaimento
temporal.
com o erro de predição produzido pelo próprio tijolo
BOM. Concluiu-se que apesar do erro ser mais
Quando se compara a curva de referência com o evidente no primeiro caso no que no segundo, as
decaimento do tijolo MAU, verifica-se que existe uma diferenças não são dramáticas. De facto, a relação entre
diferença apreciável. De facto, para os casos os valores obtidos é insuficiente para despertar um
representados na Figura 3, verifica-se que o erro interesse prático.
quadrático da diferença entre o modelo para o
decaimento e a resposta do tijolo BOM é 2.6E10, Análise pela Transformada de Fourier (DFT)
enquanto que no caso do tijolo MAU é 1.3E11. É Uma alternativa de análise no domínio das frequências
portanto possível estabelecer um limiar para o valor do é a permitida pela decomposição de Fourier em
erro a partir do qual o tijolo é rejeitado. componentes sinusoidais.
Uma primeira dificuldade que existe na utilização desta
Análise por Linear Predictive Coding (LPC) análise para estudar os sinais produzidos pelos tijolos é
A análise por LPC é muito usada no contexto da que estes são não-estacionários e aquela supõe quase
codificação de sinais de voz [2]. Trata-se de um estacionaridade. Porém, como os nossos sinais em
método de redução da redundância, através da estudo incluem sinusóides amortecidas claramente
modelização da envolvente espectral do sinal de voz, detectáveis numa extensão de cerca de 40 - 100 ms,
que se assume ser quase-estacionário e com um pode-se considerar que em durações de cerca de 10 -
espectro suave. O nosso sinal, a resposta do tijolo ao 20 ms o sinal é quase estacionário.
impulso, dificilmente verifica estas condições. No Analisando a estrutura espectral de cada sinal e
relacionando o amortecimento das suas várias
entanto, o interesse desta análise reside no facto de componentes espectrais, concluímos em primeiro lugar
podermos distinguir os dois tipos de tijolo a partir do que os sinais de resposta ao impulso não revelavam
erro de predição quando se toma para referência de uma estrutura harmónica clara [3], o que inviabiliza a
envolvente espectral, o modelo LPC estimado a partir utilização deste aspecto como critério de classificação.
da resposta de tijolos de tipo BOM. Concluímos depois que havia três regiões com
Modelo LPC(10) de Tijolo BOM
90
comportamentos distintos. Uma região de baixas
Densidade Espectral (dB)

80 PICO LPC a 5383 Hz


frequências até cerca de 2.9 kHz, onde se situam os
70

60
modos de vibração mais estáveis. Uma região de
50
médias frequências até cerca de 5.2 kHz, onde se
40 verifica uma persistência de modos importantes de
30 vibração dos tijolos, embora mais breve do que na
20
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4 1.6 1.8 2 banda mais baixa, mas que apresenta já um carácter
4
x 10 algo intermitente, sobretudo no caso do tijolo MAU.
Modelo LPC(10) de Tijolo MAU
90 Finalmente, uma região de altas frequências com
relevância só até cerca de 10 kHz (o que sugere que
Densidade Espectral (dB)

80 PICO LPC a 4350 Hz

70
uma amostragem a 22 kHz é suficiente), em que o
60

50
decaimento das componentes no caso do tijolo MAU é
40
muito mais acentuado do que no caso do tijolo BOM.
30

20
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4 1.6 1.8 2
Frequencia (Hz) 4
x 10

Figura 4: Modelos LPC de ordem 10 para as respostas


dos dois tipos de tijolo ao impulso.
Energia Espectral Tijolo BOM Energia Espectral Tijolo MAU
130 130 Processador de Sinal - ADSP-21061 SHARC
Banda 1
O ADSP-21061 SHARC é um DSP de vírgula
125 125
Banda 2 flutuante, de 32bits, accionado por um relógio a 50
120 120 Banda 3 MHz [4]. Os DSPs (e o ADSP-21061 em particular)
são microprocessadores optimizados para o
115 115
processamento de sinais em tempo-real. Incluem
110 110 periféricos ‘on-chip’ com capacidade de transferir
Magnitude (dB)

Magnitude (dB)
105 105
informação a ser processada em tempo-real,
apresentam memória interna configurada numa
100 100
arquitectura do tipo Harvard que permite aceder em
95 95 simultâneo a dados e código, e apresentam um
Banda 1: 0.0 <−> 2.9 KHz
conjunto de instruções optimizado para processamento
90 90
Banda 2: 2.9 <−> 5.2 KHz de sinal [5].
85 Banda 3: 5.2 <−> 11.0 KHz 85

Conversor AD1846 SoundPort Stereo Codec


80 80
1 2 3 4
Segmento de FFT
5 6 1 2 3 4
Segmento de FFT
5 6
O AD1846 é o circuito integrado responsável pela
Figura 5: Comparação da envolvente da energia espectral em aquisição e reprodução dos sinais analógicos. Integra
3 bandas para o caso da resposta do tijolo BOM e do tijolo no mesmo componente um conversor A\D stereo e um
MAU. conversor D\A stereo utilizando tecnologia Σ∆. As
amostras são quantificadas em 16 bits podendo a sua
A Figura 5 pretende ilustrar, de forma abreviada, estas frequência de amostragem ser configurada até aos 48
conclusões. Representa-se a energia em cada uma das kHz. Nesta aplicação configurou-se para a frequência
três bandas, ao longo do tempo, para cada tipo de de 44.1 kHz.
tijolo. A análise baseia-se em seis transformadas de Permite ainda a controlo da amplificação tanto na
1024 pontos com sobreposição de 50%, o que entrada como na saída.
corresponde a uma duração de sinal de cerca de 80 ms. A comunicação com o processador faz-se através de
Nota-se em primeiro lugar que o decaimento das uma porta série.
energias na banda 2 e 3 é mais acentuado, para os dois
tipos de tijolo, do que na banda 1. Em segundo lugar, o Um factor importante para a implementação de um
decaimento das energias nas bandas 2 e 3 é bastante algoritmo em tempo-real numa plataforma são as
equilibrado para o tijolo BOM, enquanto que para o ferramentas de desenvolvimento.
tijolo MAU, é notoriamente desequilibrado. Em último O código foi desenvolvido em linguagem ANSI C
lugar, o balanço de energias nas várias bandas e para os recorrendo-se a um compilador de C específico para
dois tipos de tijolo, é equiparável para as bandas 1 e 2, este processador. A utilização de uma linguagem de
mas fortemente distinto para a banda 3. Este dado alto nível para aplicações de processamento de sinal
particular, associado ao maior decaimento da energia em tempo-real tem beneficiado de avanços ao nível da
às altas frequências no caso do tijolo MAU, poderá optimização possibilitando a produção de código
explicar que a impressão subjectiva do seu som seja eficiente num tempo de desenvolvimento muito curto.
“choco”. O desenvolvimento também beneficiou da utilização de
Estas conclusões, que são válidas unicamente para os livrarias com funções de processamento de sinal
dois exemplares de tijolos que nos foram cedidos, optimizadas.
sugerem que a análise do decaimento e balanço das Após a produção de um programa executável segue-se
energias nas várias bandas, é possivelmente um critério uma etapa de verificação e validação dos resultados
de classificação com grandes potencialidades, obtidos. Para tal utilizou-se uma ponta de prova EZ-
incluindo a de conferir robustez de funcionamento na ICE da Analog Device que permite a inspecção não
presença de ruído. intrusiva do desenrolar do programa através de um
Computador Pessoal. Esta ferramenta permite uma
3. PLATAFORMA DE IMPLEMENTAÇÃO mais fácil identificação e resolução de eventuais falhas.

Os estudos de simulação referidos no ponto 2 visavam Sistema classificador


a implementação de uma solução algorítmica para a
classificação automática de tijolos, com base numa O sistema e constituído por três elementos básicos que
plataforma autónoma que viabilizasse a sua utilização representam a fase de captação da resposta
numa linha de produção, em tempo-real. Para tal, foi impulsional, a fase de análise desta resposta e cálculo
seleccionada uma plataforma de desenvolvimento EZ- de um critério de classificação, e a fase de informação
KIT-LITE baseada num Processador Digital de Sinal desta classificação.
(DSP) da Analog Devices.
Esta plataforma apresenta vários componentes sendo O Microfone é o elemento responsável pela aquisição
de salientar o seu processador e o conversor de sinais. das respostas impulsionais.
Após análise da fidelidade de várias alternativas
disponibilizadas, foi seleccionado um microfone
dinâmico com características satisfatórias para a níveis sonoros, como se exemplifica na Figura 6 (em
aquisição. que se pode ver semelhança com o estudo por
simulação da Figura 5).
A Plataforma de processamento é a própria O carácter diferenciador utilizado reside no diferente
plataforma EZ-KIT-LITE a funcionar autonomamente decaimento das energias nas mesmas bandas mas
com entradas/saídas para áudio, memória, conversores resultando de tijolos diferentes e também nos
e DSP. Este elemento é responsável pelo tratamento diferentes decaimentos entre bandas distintas mas
digital em tempo-real dos dados e pela tomada de resultando do mesmo tijolo. Quantificaram-se estes
decisão (i.e. cálculo do critério de classificação). aspectos através das seguintes métricas:
7
A Sinalização binária é fornecida por uma coluna
activa que produz um sinal sonoro perante uma
B= ∑E
2
B (1) − EB (K ) (2)

classificação de BOM ou MAU. 7


A sinalização sonora é acompanhada de informação
visual transmitida através de um sinal luminoso.
M = ∑E
2
M (1) − EM (K ) (3)

7
4. ALGORITMO IMPLEMENTADO A= ∑E
2
A (1) − E A (K ) (4)

O algoritmo implementado é constituído por um em que E representa as energias de curto-termo (11ms)


critério de detecção, um critério de análise e um nas várias bandas, A é referente a Altas frequências, M
critério de classificação. a frequências Médias e B a Baixas frequências, como
indicado no ponto 2 em Análise por DFT. O índice K
Critério de detecção refere a ordem da transformada calculada.
Detecta automaticamente a presença de uma resposta Após o cálculo destes valores, submetem-se ao
impulsional através de uma detecção de não- seguinte critério:
estacionaridades [6]. As não-estacionaridades do sinal
M − C1 A − C3 C − (A − M)
são monitoradas através de um detector de transitórios. CRIT = 0.5 + 0.2 + 0.3 5 (5)
A sua implementação é baseada num filtro LPC de 5ª C2 C4 C6
ordem e a energia dos resíduos de predição é usada Em que as constantes C1, C2, C3, C4, C5 e C6 dependem
para activar o critério de análise. dos tipos de tijolo e das condições de ensaio.

Critério de análise 5. TESTES E RESULTADOS


No estudo de simulação (ponto 2) foram descritos
vários critérios de análise. Seleccionou-se para As condições de teste para validar o critério
implementação a Análise pela Transformada de Fourier seleccionado supuseram a caracterização binária (Bom,
(DFT) já que alguns testes preliminares revelaram que Mau) de 12 respostas impulsionais distintas,
era suficientemente robusta para uma primeira versão aleatoriamente ordenadas, sendo destas 6 referentes a
de demonstração. tijolos Bons e 6 referentes a tijolos Maus. Os testes
foram elaborados para diferentes níveis de ruído. O
Critério de classificação tipo de ruído injectado apresenta uma densidade
O critério de classificação baseou-se na análise do espectral uniforme nas frequências (ruído branco).
decaimento espectral de diferentes respostas, em três Tomando como referência (0dB) a amplitude máxima
bandas. observada na resposta impulsional dos tijolos,
Energia Espectral Tijolo MAU Energia Espectral T ijolo BOM
desenvolveram-se testes com os níveis de ruído branco
130 130
de -40dB, -30 dB, -20dB e -10dB. Os resultados
125 125 apresentam-se na tabela 1:
120 120

115 115
Nível ruído Janela Janela
Magnitude (dB)

Magnitude (dB)

110 110

105 105
(dB) rectangular Hanning
100 100

95 95
-40 100% 100%
B B
90 M
A
90 M
A
-30 100% 100%
85 85

80 80 -20 75% 50%


1 2 3 4 5 6 7 1 2 3 4 5 6 7

Se gme nto de FFT Se gm e nto de FFT -10 - -


Figura 6: Comparação da envolvente da energia espectral em Tabela 1:Percentagem de classificações correctas para as
3 bandas (Baixa, Média e Alta) para um dos níveis testados diferentes condições de teste.
da resposta do tijolo BOM e do tijolo MAU.
Com uma janela de análise rectangular obtiveram-se
Utilizaram-se dois tipos de janelas de análise, a janela 100% de classificações correctas para os níveis de
rectangular e a janela de Hanning [7]. ruído de -40 dB e -30 dB. Para o nível de -20 dB
Recolheram-se também várias estatísticas respeitantes obteve-se uma taxa de 75% de sucesso com tendência
a diferentes respostas impulsionais com diferentes
para classificar as respostas impulsionais de tijolos tipo de excitação (tipo de martelo, condições de
Maus como Bons. activação mecânica).
Para o nível de -10dB o sistema não detecta as Neste sentido, procurar-se-á agora reforçar este estudo
respostas impulsionais e portanto não as classifica. Este de modo a:
comportamento não é surpreendente porque para estes 1. ponderar o efeito do accionador mecânico
níveis as respostas impulsionais dos tijolos encontram- gerador do impulso,
se ‘imersas’ em ruído. 2. ponderar eventuais variações dentro do mesmo
Para o algoritmo com uma janela de análise do tipo tipo de peça cerâmica,
Hanning obtiveram-se resultados de 100% de acertos 3. investigar a robustez dos métodos de
para níveis de ruído de -40 e -30dB, sendo os classificação ao ruído industrial,
resultados para o nível de -20 dB caracterizados por 4. concluir sobre as necessidades/possibilidades de
uma taxa de 50% de acerto, verificando-se a tendência auto-calibração de diferentes métodos de classificação,
atrás referida de classificar Maus como Bons. Para o 5. investigar outros critérios de classificação usando
teste com o nível de -10dB também não se detectaram ferramentas mais complexas de análise de sinais não-
as respostas impulsionais. estacionários e/ou sinusóides amortecidas.
Estes resultados traduzem unicamente o desempenho
da solução implementada para dois tijolos pré- Finalmente, de modo a credibilizar cientificamente um
classificados. Para uma avaliação mais correcta da eventual algoritmo de classificação de peças de barro a
probabilidade de classificação correcta necessitar-se-ia partir da análise da sua resposta sonora ao impulso e
de caracterizar o ruído de fundo industrial, assim como com uma ambição maior do que a simples triagem
considerar um universo mais representativo de binária, torna-se também necessário realizar um estudo
amostras. complementar que caracterize a correlação existente
entre a resposta sonora de uma peça cerâmica, quando
6. CONCLUSÃO sujeita a um impulso mecânico, e os seus defeitos
estruturais.
Este trabalho teve por objectivo efectuar uma primeira Todo o sistema está demonstrável na forma de um
investigação sobre alguns métodos computacionais demonstrador didáctico que também foi construído.
para a classificação automática de peças de barro a
partir da sua resposta ao impulso mecânico. Foram Agradecimentos
usados para ensaio dois tijolos pré-classificados. Os autores agradecem ao Eng. Barros Lopes por ter
Através da análise detalhada da sua resposta ao sugerido a ideia deste trabalho, ao Prof. Vitor Ferreira
impulso foram simulados vários métodos de por ter apoiado a realização e divulgação deste
classificação, quer recorrendo a aspectos no domínio trabalho, e ao Centro Tecnológico da Cerâmica e do
dos tempos, quer no domínio das frequências. Foi Vidro de Coimbra por ter gentilmente cedido os dois
implementado numa plataforma baseada em DSP, a tijolos testados.
operar em tempo-real, um dos métodos simulados que
fundamenta o critério de classificação na evolução 7. BIBLIOGRAFIA
temporal do conteúdo espectral da resposta ao impulso.
Concluiu-se que mesmo com ruído ambiente intenso, [1] Aníbal J. S. Ferreira, José Vieira, “Métodos
o método implementado efectua uma identificação Computacionais para a Classificação Automática de
robusta entre tijolos aceitáveis e rejeitáveis. Tijolos”, Comunicação Privada, Fevereiro 1998.
Pode-se portanto concluir que, a não ser que a [2] N. S. Jayant and Peter Noll, “Digital Coding of
incidência de ruído seja exagerada, o método testado Waveforms”, Prentice-Hall Inc, 1984.
revela-se eficaz. Por outro lado, os resultados obtidos [3] Aníbal J. S. Ferreira, “Perceptual Coding of
demonstram que é possível conseguir uma Harmonic Signals”, Audio Engineering Society,
classificação binária robusta de tijolos recorrendo a Copenhaga, Dinamarca 11-14 Maio 1996, Preprint
algoritmos simples, de implementação barata num 4177(F-4).
processador digital de sinal (DSP). É contudo [4] “ADSP-2106x SHARC User’s Manual - Second
necessário não perder de vista que caso o sistema Editon”, Analog Devices , Julho 1996.
implementado seja deslocado para uma linha de [5] Craig Marven & Gillian Ewers, “ A simple
produção em ambiente industrial, o estudos e approach to Digital Signal Processing”, Texas
conclusões traduzidas neste relatório não são Instruments 1994.
definitivos. De facto, a eficácia e robustez de um [6] Aníbal J. S. Ferreira, “Audio Spectral Coder”,
qualquer algoritmo só podem ser aferidas e melhoradas Audio Engineering Society, Copenhaga, Dinamarca
considerando as condições reais de funcionamento, 11-14 Maio 1996, Preprint 4201(I-6).
nomeadamente a especificidade do ruído industrial e [7] Alan V. Oppenheim e Ronald W. Schafer, “Digital
Signal Processing”, Prentice-Hall Inc.,1979.

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