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Universidade de Brasília

Instituto de Ciências Exatas


Departamento de Ciência da Computação

Mais Valia 2.0


O Software Público e a Economia do
Conhecimento

Eduardo Ferreira dos Santos — 10/24817

Informática e Sociedade — Trabalho 1

Orientador
Prof .̄ Dr a.̄ Pedro Rezende
a

Brasília
2008
Sumário
1 Introdução 1

2 Riqueza e Propriedade 4

3 Escassez, Provisionamento e Caráter Intangível dos Bens 7

4 Modelos de Licenciamento 11
4.1 Licenças e contratos restritivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
4.2 Software Livre e Creative Commons . . . . . . . . . . . . . . . 15
4.3 Liberdade na Legislação Brasileira . . . . . . . . . . . . . . . . 19

5 Wikinomics 24
5.1 Primeira revolução: blogues . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
5.2 Segunda revolução: Wikipédia . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
5.3 Terceira revolução: YouTube . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
5.4 Quarta revolução: del.icio.us . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
5.5 A Economia do Compartilhamento . . . . . . . . . . . . . . . 34

6 Governos e Software Livre 38


6.1 Software Livre no Governo Americano . . . . . . . . . . . . . 38
6.2 Software Livre na União Européia . . . . . . . . . . . . . . . . 43

7 Software Público Brasileiro 43


7.1 Compartilhamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
7.2 Aspectos Legais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
7.3 Papel do Estado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
7.4 Foco no Ecossistema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44

8 Mais Valia 2.0 e a Revolução na Economia 44


8.1 Princípios e Teorias Econômicas . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
8.2 Liberdade Real e Imediata . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
8.3 Base Comum de Produção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
8.4 A Revolução na Economia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
Abstract
The wealthyness concept has allways been related to the accumulation of

goods and economicity, wich was associated to a intangible good suh as


software through the restrictive license. The Internet evolution and free
licenses undertake this logic and show us how the innovation can be faster and

the wealthyness can be spread using the long tail concepts. The Brazillian
Public Software and, more recently, the Virtual Public Market are the first

real application example in the whole world. This work’s goal is to study it
and show it a practical example.

Keywords: public, software, economy, colaboration, wealthy, intangible goods,


free, floss
Resumo
O conceito de riqueza sempre esteve relacionado à acumulação de bens e

ganho de economicidade, o que foi associado a um bem intangível como o


software através da licença restritiva. A evolução da Internet e o licenci-
amento livre subverte essa lógica e mostra como a inovação pode ser mais

rápida através da colaboração e como a riqueza pode ser melhor distribuída


nos conceitos da teoria da cauda longa. O Software Público e, mais recente-

mente, o Mercado Público Virtual constituem o primeiro exemplo no mundo


de aplicação do modelo ao ecossistema. O objetivo do trabalho é conceituar

todas essas nuances e apresentar o exemplo prático no Portal.

Palavras-chave: software, público, economia, colaboração, riqueza, bens

intangíveis, livre
1 Introdução

O conceito de riqueza sempre esteve associado à acumulação de bens. Se-


gundo a Wikipédia[Riqueza], “Riqueza é a situação referente à abundância na
posse de dinheiro e propriedades móveis, imóveis e semoventes; o contrário

de pobreza. Também se aplica à condição de alguém ter em abundância um


determinado bem de valor”. Esse conceito diz claramente que, quanto maior

a quantidade de bens que conseguimos acumular, mais rico somos. No Ma-


nifesto Comunista [Marx and Engels, 1848], Marx e Engels foram um pouco

mais além, dizendo que "A condição essencial da existência e da supremacia


da classe burguesa é a acumulação da riqueza nas mãos dos particulares, a
formação e o crescimento do capital; (...) Este baseia-se exclusivamente na

concorrência dos operários entre si".


Além do conceito de concorrência, que será mais profundamente explo-

rado durante o trabalho, algumas perguntas se fazem presentes ao observar o


cenário: quem acumula o bem? Como a riqueza acumulada é distribuída? O

último questionamento foi o cerne da revolução comunista, que tinha como


principal objetivo a abolição da propriedade privada para instituir a pro-
priedade coletiva. Acreditavam eles que o cerne da distribuição estava na

propriedade. Também este conceito merece uma investigação mais profunda.


Em seu artigo [Simon and Vieira, 2007], o professor Imre Simon nos mos-

tra como A propriedade é essencial para o funcionamento dos mercados tra-


dicionais. Ela garante o lucro... De fato uma revolução social importante
aconteceu com a introdução dos Mercados, que preconizavam ser os entes

providos de neutralidade e auto-regulados que poderiam gerar o equilíbrio

1
na distribuição da riqueza. Quando se trata de algo palpável ou tangível po-
demos aplicar a teoria tradicional de lucro, mas o que podemos dizer sobre

bens como o conhecimento? A quem pertence toda a Sabedoria da humani-


dade? E quem pode lucrar com ela?

Perguntas do tipo geraram a criação de um modelo de bens conhecidos


como intangíveis. Uma forma pela qual o Mercado tenta tratá-los é tentando

descobrir qual a quantidade de riqueza que eles podem gerar. Já existem


muitos estudos que tentam traduzir o caráter intangível de algumas empre-
sas em números, normalmente associados à marca. Uma estimativa do tipo

é apresentada por [Tofler and Tofler, 2007]: “Os aspectos intangíveis que as-
sociamos às propriedades tangíveis estão se multiplicando rapidamente. (...)

Um estudo da Brookings Institution descobriu que, já em 1982, os bens in-


tangíveis de mineradoras e indústrias manufatureiras representavam 38% do

valor total de mercado das empresas. Dez anos depois (...) o componente
intangível representava 62% - ou quase dois terços do valor real.”
Quando tratamos de um bem como o conhecimento, esse caráter intangí-

vel ganha uma importância ainda maior. O valor associado à marca de em-
presas produtoras de tecnologia e conhecimento está normalmente associado

à soma da quantidade de mentes brilhantes que estão em seu quadro de fun-


cionários. Aí talvez esteja a característica mais importante dessa mudança:

como o conhecimento não pode ser aprisionado dentro de uma organização,


reter as pessoas é fundamental.
A experiência de disponibilização de um software desenvolvido pelo Go-

verno Brasileiro trouxe um impacto que não estava inicialmente previsto, já


que a idéia era simplesmente devolver à sociedade o dinheiro dos impostos

2
em forma de software. Todavia, o fenômeno de crescimento de sua base de
usuários e a criação de um ecossistema ao redor do software causaram uma

reflexão importante à todos os envolvidos. Algumas dessas reflexões são de-


senvolvidas no artigo que relata a experiência de disponibilização do Cacic

[Peterle et al., 2006]:


...a vivência de interações em uma comunidade de desenvolvimento ativa

e gerenciada tem se mostrado como potente antídoto para resistências em dis-


ponibilizar soluções desenvolvidas internamente e mesmo para utilizar softwa-
res livres em maior escala.

O raciocínio na linha foi completado pelo Secretário de Logística e Tec-


nologia da Informação, Rogério Santanna, em entrevista ao jornal Estado de

São Paulo no dia 28 de setembro de 2007, onde ele diz que É preciso entender
que o código aberto é apenas uma parte do software livre. Talvez a parte mais

importante não seja isso, mas a criação de uma comunidade de pessoas e de


empresas que compartilham suas melhorias, fazendo com que a ferramenta
evolua, melhore, se qualifique e incremente inovações com a rapidez que as

abordagens tradicionais fechadas não conseguem fazer.


A criação desse ambiente central de comunidade, que vamos chamar de

ecossistema será o objeto de análise de nosso estudo. Trataremos as principais


teorias sociais e econômicas que o envolvem com o objetivo de, ao final do

estudo, termos uma idéia de como se formou, qual o seu impacto no sociedade,
e o que deve acontecer no futuro.

3
2 Riqueza e Propriedade

Segundo o Manifesto Comunista [Marx and Engels, 1848] "A condição es-
sencial da existência e da supremacia da classe burguesa é a acumulação de
riqueza nas mãos dos particulares, a formação do crescimento do capital;

a condição de existência do capital é o trabalho assalariado. Este baseia-se


unicamente na concorrência dos operários entre si". Vamos destacar duas

palavras para uma análise mais aprofundada: capital e concorrência.


O conceito de riqueza, como vimos na Introdução, está quase sempre

associado ao de propriedade. Quando Marx introduz o conceito de capital,


seu objetivo é separar dois tipos de propriedade: a do empregado sobre seu
dinheiro e a do patrão sobre seu empregado. O capital, algo qualificado

como negativo, é o acúmulo de bens obtido pelo patrão pela exploração ou


apropriação do trabalho de outrem. Tal idéia é melhor explicada um pouco

mais à frente:
"Mas o trabalho do proletário, o trabalho assalariado, cria propriedade

para o proletário? De nenhum modo. Cria o capital, isto é, a propriedade


que explora o trabalho assalariado e que só pode aumentar sob a condição de
produzir novo trabalho assalariado, a fim de explorá-lo novamente. Em sua

forma atual, a propriedade de move entre os dois termos antagônicos: capital


e trabalho assalariado".

Para Marx, a riqueza estava atrelada exclusivamente ao acúmulo de ca-


pital, que por sua vez alçava o indivíduo automaticamente à categoria de
burguês. Na visão dos comunistas, só havia uma saída para a distribuição

da riqueza: "...os comunistas podem resumir sua teoria numa fórmula única:

4
a abolição da propriedade privada". Todo o ambiente apresentado está cen-
trado na visão da concorrência, como está explicitado no início da seção.

Até mesmo o trabalho de mais proletários era prejudicial à distribuição, já


que se há duas pessoas disponíveis para executar o mesmo serviço, será sele-

cionada aquela que apresentar o menor valor por seu trabalho.


Colocando as palavras de Marx em um contexto histórico, temos de nos

lembrar que a revolução industrial era um fenômeno recente. A maior parte


dos serviços executados pela população da época estavam relacionados à
produção de material industrializado, e a história já nos mostrou que o co-

munismo, na maneira como foi implantado, não deu certo na maior parte dos
países. Os motivos do assim chamado "fracasso"do comunismo são muitos,

já foram amplamente discutidos, e uma nova abordagem para o fato traria


pouca ou nenhuma contribuição. Mas há algo na descrição do contexto que

pode ser objeto de análise mais profunda, e está implícito basicamente na


natureza do bem.
Uma profunda análise do sistema atual de propriedades é feita pelo pro-

fessor Imre Simon em seu artigo [Simon and Vieira, 2007], que nos traz uma
reflexão bastante pertinente:

"A propriedade é essencial para o funcionamento dos mercados tradicio-


nais. Ela garante o lucro (...) Os homens, no entanto, não se relacionam

com os objetos — sejam eles naturais ou produzidos — apenas por meio dos
mecanismos da propriedade".
Essa lógica já havia sido percebida por Marx ao dizer que os comunistas

desejavam a abolição da propriedade privada e não da propriedade de


maneira geral. O exemplo dá a entender que existe algum outro mecanismo

5
de riqueza que não está necessariamente relacionado à propriedade, e sim a
outros fatores. Aos mecanismos geradores de riquezas onde a propriedade

não pode ser definida ou associada, há uma definição dada por [Simon and
Vieira, 2007] e por ele chamada commons:

"Commons são conjuntos de recursos utilizados em comum por uma de-


terminada comunidade. Todos os membros dessa comunidade podem utilizá-

los, de forma transparente, sem necessidade de permissões de acesso. (...)


São commons também os recursos recursos ambientais compartilhados, como
o ar e a água, e alguns bens essenciais para a vida nas cidades: ruas, parques,

pontes, etc."
Aos mecanismos citados, que podem ser definidos como sociais acima de

tudo, fica difícil definir a propriedade em sua definição tradicional. Não po-
demos dizer, mesmo que em alguns locais aconteçam tentativas estapafúrdias

de apropriação e estelionato, que este ou aquele indivíduo são donos da praia


em que nos banhamos, ou da água que bebemos. No último exemplo, como
será estudado na próxima seção, ainda há tentativas de atribuir um caráter

proprietário ao bem apresentando uma conta a quem o consome, mas como


diz [Simon and Vieira, 2007], trata-se de uma necessidade natural de criação

de regras de preservação. As regras de convivência entre os seres humanos


não permitem, teoricamente, que um só ser consuma toda a água existente.

Aplica-se o mesmo exemplo ao ar, que está cada vez mais ameaçado pela
poluição e tornando-se até mesmo escasso em algumas partes do globo ter-
restre.

A falta de água ou de ar, ainda que tratem-se de commons importantes,


acontecem principalmente pela natureza do bem. A água consumida por um

6
certamente faltará ao outro, assim como a quantidade de ar poluído jogado
na atmosfera certamente causará a diminuição de ar puro em alguma parte

do globo. O professor [Simon and Vieira, 2007] nos apresenta aqui mais um
importante conceito:

"...os commons materiais são chamados de extinguíveis, competitivos ou


rivais, no sentido de que o meu uso de um recurso rivaliza com o seu uso."

Na definição de [Marx and Engels, 1848], os commons não são bens pas-
síveis de propriedade e devem ser protegidos. A proteção se torna ainda
mais importante por causa da liberdade associada ao seu uso, pois conforme

citação em [Simon and Vieira, 2007] do pensador Hardin "...os commons


sempre tenderiam à extinção, pois a liberdade que permitem conduziria a uso

irresponsável e excessivo". É a primeira vez em que talvez a palavra mais


importante de toda essa discussão é citada: liberdade.

3 Escassez, Provisionamento e Caráter Intan-

gível dos Bens

Um dos mais importantes princípios econômicos é aquele relacionado à escas-


sez. Como diz Paul Samuelson, no seu clássico Curso de Economia Moderna:

"Os problemas do que, como e para quem produzir, não constituiriam


nenhuma dificuldade se os recursos fossem ilimitados, se fosse possível pro-

duzir quantidades ilimitadas de cada produto, ou se as necessidades humanas


fossem assim totalmente satisfeitas.(...) Em uma palavra: não haveria bens
econômicos. Todas as coisas seriam livres como a água e o ar".

7
Na definição tradicional, só podem ser chamados de bens aqueles que
foram escassos. Ele é o fundamento que baseia os mercados tradicionais e

encontra sua expressão na lei da oferta e da procura. Um determinado bem só


pode ganhar economicidade quando a quantidade de pessoas que o possuem

é menor que a quantidade que quer comprar. Se todos pudessem ter a um


custo cada vez menor chegaria um ponto em que o preço tenderia a zero, e o

fato de vendê-lo não faria mais sentido.


Todavia, existem alguns bens que são de difícil mensuração de valor,
conforme nos mostra [Meffe, 2008]:

"Na economia dos bens tangíveis, estruturada no princípio da escassez,


os recursos são limitados e de fácil mensuração, o que facilita a identificação

contábil. Quando trabalhamos com bens intangíveis uma parte do custo é


abstrato e de difícil aferição. Algo que já convivemos, por exemplo, com a

marca, a patente, a pesquisa, o conhecimento e a informação".


O trecho acima sugere a existência de bens econômicos que não se encai-
xam na definição tradicional, principalmente por ferir o princípio da escassez.

Alguns pensadores como BENKLER E TOFLER têm trabalhado um pouco


além da definição do commons clássico, principalmente nas últimas duas dé-

cadas. Percebeu-se que existem outros fatores, não tão facilmente definidos,
que são passíveis de tornar-se riqueza. O grande primeiro impacto talvez te-

nha sido causado por [Tofler and Tofler, 2007] quando define o conhecimento
como importante fator de riqueza. [Simon and Vieira, 2007] traduziu-os como
commons de conhecimento ou intelectual.

O caráter intrínseco do conhecimento agrega ao bem uma caracterís-


tica muito importante: a não-rivalidade. Existe um dito popular que diz:

8
quando uma pessoa chega para conversar com a outra e cada uma tem uma
idéia, ao final do diálogo ambos têm duas idéias. Não é possível acabar com o

conhecimento utilizando-o muito, pelo contrário, como diz [Simon and Vieira,
2007]:

"...a cada vez que uma pessoa entra em contato com um conhecimento ele
se multiplica; pertence à pessoa que entrou em contato com ele, mas nem por

isso deixa de existir em sua fonte original".


A capacidade de multiplicação por utilização vai além ainda dos conceitos
de rivalidade, principalmente aplicada ao bem software. Cada vez que uma

pessoa entra em contato com um determinado bem, sua capacidade não só


aumenta, mas o coletivo como um todo engrandece, seja pela quantidade de

usuários experientes que podem ajudar outros, seja pela melhoria do código-
fonte que é sua raiz e essência. Aí surge o conceito de anti-rivalidade.

Voltando à teoria econômica clássica, uma outra importante questão vem


à tona: se o bem não gera escassez, não há aumento de economicidade, ou
seja, não dá lucro. Se não dá lucro, como ele pode continuar gerando riqueza?

Ou como fiz [Simon and Vieira, 2007], ...como garantir que haverá incentivo
suficiente para que os bens sejam produzidos?

A primeira tentativa de resposta é da por [Tofler and Tofler, 2007]:


"Os aspectos intangíveis que associamos às propriedades tangíveis estão

se multiplicando rapidamente. (...) Um estudo da Brookings Institution des-


cobriu que, já em 1982, os bens intangíveis de mineradoras e indústrias ma-
nufatureiras representavam 38% do valor total de mercado das empresas. Dez

anos depois (...) o componente intangível representava 62% - ou quase dois


terços do valor real".

9
Nesse caso, o mercado reconhece o valor intangível da empresa pois ima-
gina que a capacidade de inovação e o reconhecimento por parte dos com-

pradores está bastante associado à marca, o que na maior parte dos casos
representa a verdade. É muito comum ouvir falar em responsabilidade social

e valorização dos ativos intangíveis como uma tentativa de agregar valor sem
necessariamente alocar recursos tangíveis. Uma empresa que é conhecida por

inovar, respeitar a natureza e contribuir com a comunidade em que se insere


certamente tem um valor intangível maior, ainda que seu negócio não esteja
necessariamente associado a bens intangíveis.

Quando falamos de software um caráter tangível é inserido no software


através da licença restritiva, numa tentativa de aumentar a economicidade

do bem e facilitar seu provisionamento. Se o mercado tradicional fosse uma


verdade absoluta não haveria questionamentos ao modelo e com certeza se-

guiria sem contestação. Contudo, estamos vivendo na era da informação, e


o conhecimento é um componente cada vez mais estratégico. Quando uma
licença restritiva é aplicada a um software, parte do conhecimento utilizado

em sua concepção está atrelado ao produto. Uma vez que não pode ser re-
velado sob risco de perda da vantagem estratégica, a colaboração entre os

atores envolvidas em seu ecossistema está restrito ao que for permitido pelas
empresas detentoras do código.

10
4 Modelos de Licenciamento

4.1 Licenças e contratos restritivos

Há ainda questões importantes a serem levantadas, como se um bem é intan-


gível e anti-rival, como é possível vendê-lo? É possível comprar a mente de

alguém? Pode parecer uma pergunta um tanto quanto inadequada e exage-


rada, mas uma reportagem do jornal Correio Braziliense [Faria, 2008], expôs

muito bem a sua importância na economia de até alguns anos atrás.


Zé ramalho está impedido de lançar, desde 2005, um CD e um DVD com
sucessos compostos por ele mesmo. (...) O conflito ao qual ele se refere come-

çou em 1999, quando um grupo de 28 editoras musicais (...) (Abem) tentou


aumentar as taxas das gravadoras para usar as músicas em CD’s e DVD’s.

O reajuste não foi aceito. Iniciou-se aí um jogo de estratégia em que até o


rei Roberto Carlos virou peão. (...) "As editoras simplesmente deixaram de

autorizar a reprodução em DVD das obras dos artistas que representam."(...)


Tanto Zé Ramalho quanto Roberto e Erasmo movem processo contra a editora
EMI Songs, tentando rescindir os contratos pelos quais cederam os direitos

patrimoniais de suas canções


À época da assinatura do contrato ainda acreditava-se que a venda de

discos ou cobrança de taxas pela exibição das músicas seria para sempre um
negócio rentável. O modelo se mostrava como sendo bom para todos: para

o artista, que tinha o seu garantido sem precisar compor e para a gravadora,
que podia cobrar pela exibição do conteúdo produzido. Contudo, a revolu-
ção do peering ou compartilhamento aconteceu e as vendas de discos caíram

vertiginosamente. Os direitos de composição sobre a venda de discos deixa-

11
ram de ser a principal fonte de renda para os músicos, ao mesmo tempo em
que o acesso às suas canções aumentou consideravelmente, já que não é mais

necessário comprar um disco com preço acima da faixa de renda da popula-


ção para ouvir a música. O principal negócio passa a ser então a venda de

apresentações. Nada melhor para vender a apresentação do que uma amos-


tra de vídeo que contém suas principais partes e um público entusiasmado

aplaudindo. Foi aí que ganhou importância o mercado de DVD’s.


Ao mesmo tempo em que a disseminação por meios não oficiais da música
é boa para o artista é péssima para a gravadora, pois não gera receita sobre

vendas de discos. Como o DVD é, e pode ser que não seja mais em breve,
consumido por uma classe de poder aquisitivo maior a tendência é que os

meios oficiais sejam procurados no momento da aquisição. Como não há


mais nenhuma receita que possa ser extraída do artista para a gravadora, o

que resta a ela é agarrar-se ao DVD como fonte de renda.


Quase sempre que baixamos ou compramos um software de computador,
estamos sujeito a um contrato com o desenvolvedor, que também é conhecido

como licença. Uma melhor definição encontramos em [Falcão et al., 2007]:


O Software no Brasil é regido pelo direito autoral. Na sua maioria das

vezes, essa proteção decorrente da lei segue aliada aos termos conferidos por
um contrato atinente a determinado software. Esse contrato é denominado

de "licença". A licença de um software estabelece um rol de direitos e deveres


que se projetam sobre um determinado software.
Uma vez que a produção de software está associada a conhecimento, po-

demos inferir que também ele é um bem intangível, assim como a produção
de música. No exemplo que vimos, Zé Ramalho, como autor das canções, fez

12
um contrato com uma editora no qual cedeu os direitos de exploração comer-
cial sobre todas as suas canções. Mesmo tendo como característica intrísica

a intangibilidade, o contrato de venda atribui fantasiosamente um caráter


tangível às suas composições, uma vez que foi estabelecido e pago um preço

por elas. A sua capacidade criativa não foi vendida à editora, pois ainda se
trata de algo única e exclusivamente seu, mas todo o produto gerado não

pertence mais à ele. Na legislação brasileira isso é possível porque o direito


autoral, como vimos acima, permite a celebração de um contrato entre as
partes, que deve ser respeitado por todos os que assinaram ou concordaram

com ele.
Estamos diante de um dos exemplos mais comuns de associação de caráter

tangível a um bem intangível. Mesmo a reprodução da música sendo teori-


camente ilimitada, o contrato restringe sua realização exigindo uma quantia

em dinheiro para sua permissão. Isso acaba gerando uma "falsa escassez", e
os valores das obras diminuem ou aumentam de acordo com a lei da oferta
e da procura. As obras de algumas editoras acabam ganhando uma "econo-

micidade forçada", que será controlada sim por variáveis econômicas.


Contudo, há um importante elemento que muitas vezes não é observado: o

contrato se estende a todos os usuários. É fácil visualizar a relação comercial


existente entre a editora e o compositor, mas não é tão simples compreender

o vínculo entre gravadora e usuário, aquele que compra a obra. Uma vez
estabelecido o contrato sobre o direito da música à editora, esta o vende
à gravadora para que produza os discos. Num último momento, o mesmo

contrato é estendido ao usuário no momento da compra, sob os quais recaem


novos direitos estabelecidos pela gravadora.

13
À medida em que o produto do conhecimento do músico (obra) vai cami-
nhando no processo, a tendência é haver contratos cada vez mais restritivos.

No caso da música, a editora possui o direito de alterar a obra, enquanto a


gravadora possui o direito de gravá-la e revendê-la. Já no caso do usuário,

até a transferência de mídia é restrita e, na maior parte dos casos, proibida.


O único direito normalmente é reproduzir, e mesmo assim num ambiente

limitado.
Quando trazemos o exemplo para o software, a situação é ainda mais
caótica. O fluxo de licenciamento pode ser muito mais complexo e envol-

ver muitos mais variáveis do que um obra musical. Um bom exemplo é um


contrato de utilização de banco de dados: paga-se por processador, por má-

quina, por quantidade de conexões, por perfil de uso, e muitas outras nuances.
Softwares antivírus podem ser gratuitos para uso em casa e pagos para uso

comercial, ou ainda pago por um determinado número de meses e a partir


daí cobra-se pelas atulizações. Nos sistemas operacionais, pode ser possível
a utilização somente em uma máquina específica, como é o caso das licenças

que vêm de fábrica.


Com toda a complexidade, é praticamente impossível para o usuário en-

tender o tipo de contrato que está assinando. Se no caso da compra de um


CD ou DVD não está claro para a maior parte das pessoas onde pode e onde

não pode reproduzir a música, no caso do software a tendência é que a maior


parte não tenha a menor idéia das suas liberdades em relação a ele. Dife-
rentemente de um contrato que possui um papel para ser lido e assinado, na

maior parte dos softwares o contrato só aparece após a compra do produto,


no momento da instalação. Mais um agravante para que seu conteúdo seja

14
desconhecido.
O ambiente descrito não é novidade para ninguém, mas a novidade talvez

esteja no que aconteceu com Zé Ramalho, conforme mostra a reportagem. No


ano de 2005 foi realizada a gravação de seu DVD ao Vivo para comemorar os

25 anos de carreira. A idéia, que é óbvia e já foi bastante utilizada por outros
artistas, era fazer um espetáculo bem produzido para alavancar a venda

de DVD’s e apresentações ao redor do país. Todavia, por uma pendência


jurídica de valores, a editora que detém os direitos sobre as canções que ele
nem mesmo escreveu, proibiu a comercialização do DVD, propriedade da

gravadora.
Foi assim que um contrato de licenciamento, que será discutido mais

adiante, "comprou"a mente do artista. Mesmo cercado de advogados muito


experientes que leram e releram o seu contrato, ele não foi capaz de prever o

que aconteceria. Quando um usuário leigo lê uma licença que pode restringir
sua liberdade, ele é capaz de tomar uma descisão pensada e consciente?

4.2 Software Livre e Creative Commons

O exemplo de Zé Ramalho encontra um paralelo no episódio que impulsionou


a criação do Software Livre. Na década de 70 os programas de computador

era desenvolvidos de forma aberta naturalmente. O não acesso ao código-


fonte era um excessão muito mal vista pelo meio acadêmico, que na época

talvez fosse o principal usuário de programas de computador. Na equipe de


prorgamadores do MIT existia, à época, um jovem chamado Richard Stall-

man. Ele trabalhava numa rede que estava conectada a uma impressora

15
que, por sua vez, era gerenciada por um programa desenvolvido pela própria
equipe. No ano de 1984 o programa foi substituído por um outro que havia

sido desenvolvido por uma empresa, e Stallman solicitou à ela o acesso ao


código-fonte para poder ajustá-lo às necessidades do laboratório. A empresa

negou o acesso, o que foi considerado uma ofensa. Afinal, o programa era
fruto de um esforço coletivo, e a restrição de acesso impedia seu comparti-

lhamento.
O episódio foi impulso que geraria, um ano mais tarde, a Free Software
Foundation. Seu objetivo era fomentar o acesso ao código-fonte dos progra-

mas para partilhar o conhecimento que ali se fazia presente. Com o fecha-
mento do Unix pela AT&T, a instituição decidiu aproveitar a oportunidade e

criar um sistema operacional que fosse totalmente aberto: o GNU (do termo
em inglês GNU is Not Unix ), que foi baseado num contrato chamado GPL

(GNU General Public License). Sua criação praticamente inventou o termo


Software Livre, que é baseado em quatro pilares básicos:

1. A liberdade de executar o programa, para qualquer propósito.

2. A liberdade de estudar como o programa funciona, e de adaptá-lo às


suas necessidades. O acesso ao código fonte é uma condição prévia para

o exercício dessa liberdade.

3. A liberdade de redistribuir cópias, de modo que você possa auxiliar


outras pessoas.

4. A liberdade de aperfeiçoar o programa e distribuir esses aperfeiçoamen-


tos para o público, de modo a beneficiar toda a comunidade. O acesso

16
ao código fonte é também uma condição prévia para o exercício dessa
liberdade. [Falcão et al., 2007]

Se a licença acima fosse aplicada a música, ela estaria basicamente o


seguinte: pegue essa música, ouça onde quiser, dê à seus amigos para que

ouçam, modifique-a como quiser e, caso queira alterá-la e vendê-la, sinta-se


à vontade para fazê-lo, desde que as pessoas que comprarem possam fazer as

mesmas coisas. Pode parecer uma utopia e, até certo ponto, algo impensável
se analisarmos o mercado de música tradicional. Afinal, como pode uma gra-
vadora, que vende unicamente discos, ser viável economicamente respeitando

as mesmas liberdades que as propostas por Stallman?


Fundada em 1998 por João Marcelo Bôscoli, músico e filho de Elis Regina,

a gravadora Trama tinha como principal objetivo criar um novo modelo de


negócios para a música, que privilegiasse o artista que não tinha espaço na

mídia. O modelo de divulgação de um artista musical nos veículos tradicio-


nais é caro, e a ferramenta visualizada como oportunidade par Bôscoli como
divulgação foi a Internet. Seus ideais foram divulados no Manifesto Trama

[Bôscoli and Szajman, 2008], que aclamava a fundação da gravadora. Coinci-


dência ou não, existem alguns pontos no Manifesto que guardam semelhança

com os princípios defendidos por Stallman:


Nós da trama acreditamos que:

• (...) Devemos preservar e valorizar as relações humanas.

• (...) A tecnologia existe para servir a música, e não contrário. (...) A


tecnologia digital (Internet, celular, TV, etc.) é a maior difusora da

17
música da história da humanidade, convergindo divulgação e consumo
em tempo real.

• Propósito original. Não havia uma gravadora no início dos tempos e


um artista foi pedir um emprego. Havia sim um artista e ao redor

dele se construiu um negócio. Toda vez que essa direção for invertida
teremos problemas, pois o propósito é e sempre será a MÚSICA.

Nós da trama acreditamos que:

• (...) Incentivar o artista nacional para que seu trabalho tenha forma,
acabamento e linguagem reconhecíveis internacionalmente. (...) Man-

ter uma constante busca por inovação, renovação, consolidação e per-


petuação das obras artísticas brasileiras

• Utilizar a tecnologia digital como facilitadora da prospecção artística,


da criação, produção, interação, promoção e distribuição de música.
Criar relações baseadas no respeito, liberdade e compartilhamento de

visão e estética de uma forma consensual, nunca imposta.

Ainda que Bôscoli não tenha tido a mesma preocupação de Stallman em

criar um contrato específico para os desenvolvedores, há alguns pontos em


comum que merecem ser destacados. As preocupações com o compartilha-
mento do conhecimento e a colaboração entre os entes envolvidos são pontos

centrais em ambos os discursos, além da liberdade de excução. A Trama não


é a maior gravadora do país, mas está viva há dez anos e sempre utilizou a

rede como principal meio de divulgação.

18
A generalização das liberdades defendidas pela FSF a outras formas de co-
nhecimento gerou o termo creative commons, que se transformou num movi-

mento e possui um sítio na Internet no endereço www.creativecommons.org.br.


Para o artista a principal vantagem é a distribuição granularizada e sem

custo. Para a Trama, pode ser um indício de criação de um novo mercado


para as músicas: de apropriadores a difusores de conhecimento musical.

4.3 Liberdade na Legislação Brasileira

Já sabemos que a licença é um contrato e, por tratar da legislação da propri-

edade intelectual, cabe ao desenvolvedor original ou criador definir o modelo


que será adotado. Todavia, quais são os aspectos legais presentes na legisla-
ção brasileira? Como podem ser garantidas todas as liberdades defendidas

pela FSF? O estudo realizado pela FGV [Falcão et al., 2007] nos ajuda a
entender a legislação e os diferentes modelos de licenciamento.

São três as dimensões a partir das quais se enfoca o Software Livre em


suas relações com os princípios constitucionais: uma dimensão formal, como

contrato privado e duas dimensões substantivas (...) A primeira dimensão


compreende a simples relação de troca entre o autor do código fonte e seus
múltiplos, inominados e sucessivos usuários. Nesta dimensão, estamos nos

domínios dos direitos de propriedade e, dentro deste, na seara específica da


propriedade intelectual. O foco é o contrato, com os direitos e obrigações nele

estabelecidos entre o autor e os usuários em torno do usar, gozar e dispor do


software livre.

Quando trata da dimensão jurídica, o autor trata do conceito de contrato

19
de licenciamento em rede, que seria uma evolução do licenciamento tradicio-
nal. Pela definição um contrato tradicional se dá entre duas partes nda troca

de um produto ou serviço por dinheiro; no caso tratado, quando a transação


entre as partes se completa, o custo se transforma na obrigação de transims-

são do legado. Isso significa que os direitos garantidos a quem adquire o


software se transformam em deveres, que devem ser repassados nos mesmos

termos sucessivamente. Caso aquele que adquidir não concordar com os ter-
mos do contrato, ele tem a liberdade de não executar a transação, mas não
pode fazê-lo e desrespeitar o contrato depois. Por isso é um princípio que se

propaga em rede.
O contrato de licenciamento em rede, como definido pelos autores, possui

seis carcterísticas principais:

1. ...todas as partes são ao mesmo tempo contratados e contratantes, li-

cenciados e licenciantes.

2. Esta cláusula de compartilhamento exerce pelo menos duas funções.


Primeiro, transforma o contrato de licenciamento numa oferta erga

omnes (...) Segundo, não cria nenhuma escassez legal, como no con-
trato liberal clássico.

3. Mesmo que surja para satisfazer uma necessidade muito específica, o


interesse coletivo é respeitado no desenvolvimento do software, já que
a vontade da maioria determina seu rumo. São muito comuns o surgi-

mento de grupos sociais ou comunidades ao seu redor.

4. Quem determina o interesse da comunidade não é o Estado ou o Mer-

20
cado, e sim o próprio interesse manifestado através da liberdade de
adaptá-lo. Esta característica subverte a lógica de Mercado e a dico-

tomia clássica entre interesses privados egoístas e interesses públicos


altruístas.

5. O lucro deixa de ser o fim e passa a ser o meio. Os interesses individuais


e sociais podem levar o mesmo produto a vários caminhos diferentes,
sem prejuízo a nenhuma das partes.

6. Não há níveis de contrato e lucro como numa transação tradicional. Ao


mesmo tempo em que são vendedores do produto, os entes envolvidos
podem ser também produtores, todos sujeitos ao mesmo contrato e com

possibilidades de ganho equiparadas por definição.

Quando saímos das questões costitucionais e nos aproximamos do direito


privado, há alguns detalhes que são ainda mais sutis, mas são bastante sig-
nificativos quando na definição de modelo de negócios.

É importante mencionar que Software Livre não se confunde com software


de código aberto. Um softare pode er seu código aberto, mas não propiciar as

liberdades descritas na introdução do presente estudo com relação aos seus


usuários. (...) Em outras palavras, todo software livre deverá ter seu código

aberto, mas nem todo software de código aberto será um software livre. Ele só
o será no caso de, além do código aberto, garantir através de uma licença as
quatro liberdades fundamentais: executar, estudar, redistribuir e aperfeiçoar.

O livro da FGV traz uma consideração bastante importante: o grau de


liberdade sobre o software varia com a licença, que muda muito de acordo

com cada fabricante. Para a maior parte das pessoas Open Source ou Código

21
Aberto e Free Software ou Software Livre são a mesma coisa, mas o trecho
acima mostra claramente que há ou podem haver diferenças.

Na comunidade de Software Livre surgiu, no ano de 1997, a OSI ou Open


Source Initiative. Tudo começou com um arigo de Eric Raymod, onde ele

defendia a liberação de código e de forma rápida, ainda que não estivesse


acabado. Eric e um grupo de outras pessoas foram convidados para ajudar

nos termos de liberação do código para o Netscape, que na época já não era o
mais usado, e a empresa que o detinha tinha medo de que o projeto morresse.
Foi então que, no dia 3 de fevereiro de 1998, Eric, John "Maddog Hall", Larry

Augustin, Sam Ockman, Michael Tieman, Todd Anderson, Chris Petterson


e outros criaram o termo open source ou código aberto.

Como havia uma espécie de "barreira moral"entre as empresas e o soft-


ware livre, como conhecido na época, o objetivo do termo código aberto foi

um caminho encontrado por eles para que as empresas pudessem abrir o


código de seus programas sem ter que enfrentar a comunidade, considerada
muito radical. A idéia pareceu atraente e logo o próprio Linus Torvalds deci-

diu promover o uso de termo. No dia 8 de abril do mesmo ano, uma grande
reunião das principais comunidades da "cultura hacker"aconteceu na Free

Software Summit de Tim O’Reilly, dentre elas Apache, Perl, Python, Linux
e muitos outros. Naquele dia eles decidiram promover o uso do termo código

aberto para livra-se do pragmatismo e estar mais próximo do mercado, assim


como Raymond vinha pregando [Tiemann, 2008].
A idéia inicial era apenas criar um termo que estivesse mais próximo das

empresas e menos sujeito ao crivo "sensacionalista"da comunidade e da FSF,


como nos diz [Evangelista, 2005]:

22
Não há diferenças substanciais entre o que os termos software livre e
código aberto pretendem definir. Ambos estabelecem praticamente os mesmos

parâmetros que uma licença de software deve conter para ser considerada
livre ou aberta. Ambas estabelecem, na prática, que o software deve respeitar

aquelas quatro liberdades básicas que a FSF estabeleceu. Mas os defensores


do termo código aberto afirmam que o termo fez com que os empresários

percebessem que o software livre também pode ser comercializado. Teriam


sido mudanças “pragmáticas” e não “ideológicas”.
A possibilidade de comercialização abriu, de fato, as portas para muitas

empresas, que viram na nova definição um modelo que poderia ser lucrativo.
Todavia, abriu-se também uma brecha para pequenas alterações que, apesar

de manter algumas características básicas como o acesso ao código-fonte,


apresenta certos tipos de restrição a algumas das outras liberdades. Do

ponto de vista do usuário, que em sua maior parte não se preocupa com as
liberdades, a sensação de poder baixar o software gratuitamente dá a idéia de
que qualquer sofware que possa ser utilizado sem pagamento de licenças ou

royalties é livre, e isso nem sempre é verdade. Software Livre não significa,
em nenhum momento, software grátis, sendo posível inclusive a cobrança

desde que as liberdades sejam respeitadas.


O "perigo"do termo é novamente abordado por [Evangelista, 2005] quando

fala do retorno de Bruce Perens à comunidade Debian:


Em fevereiro de 1999, Bruce Perens, alegando divergências éticas e pes-
soais com Eric Raymond, abandonou a Open Source Initiative e retornou à

comunidade Debian, de quem havia se distanciado. O fez por meio de um e-


mail enviado à lista de discussão dos desenvolvedores Debian intitulado "It’s

23
time to talk about free software again". (...) ele afirma que open source e
free software significam a mesma coisa, mas que a OSI não tem enfatizado

a importância da liberdade, o que considera um erro.


A entrada das empresas no mundo do Software Livre é bastante impor-

tante, mas o que elas precisam entender é que não basta apenas abrir o código
dos seus produtos: é preciso aprender a trabalhar em rede. A organização

caótica das comunidades e seu modo de produção difuso normalmente não


combinam com as estruturas hierárquicas da maior parte das organizações.
Até por isso algumas empresas têm adotados modelos de licenciamento pró-

prios e buscado o selo da FSF e da OSI para ter o aval da comunidade e


não serem mau vistas. Todavia, uma nova economia está surgindo, e elas

precisam entender e conceber modelos que gerem riqueza sem restrição de


liberdade.

O aumento da intangibilidade, a necessidade de clareza e, principalmente,


a evolução da Internet, têm gerado uma economia que subverte a lógica
tradicional dos mercados. É o que ficou conhecido no mundo inteiro como

Wikinomics.

5 Wikinomics

Wikinomics é, em primeiro lugar, um livro [Tapscott, 2007] lançado para

entender a economia do compartilhamento criada através da Internet. A


tese de onde partem os autores diz:
De fato, com um número cada vez maior de empresas percebendo os be-

nefícios da colaboração em massa, esse novo modo de organização acabará

24
Figura 1: Visão Google das Mudanças

por substituir as estruturas empresariais tradicionais como motor primário


de criação de riqueza na economia.

Mas afinal, que colaboração é essa da qual falam os autores? Qual foi a
grande mudança também percebida por Tofler que valorizou o conhecimento

como nunca e possibilitou a revolução no modelo econômico?


Grande parte dessa mudança pode ser creditada à disseminação da Inter-
net. O conhecimento sempre esteve em algum lugar do mundo, mas nunca

foi tão rápido chegar até ele. Em muitos casos, é possível fazê-lo com um ou
dois cliques de mouse. O infográfico a seguir mostra um pouco da evolução

da rede com o passar do tempo:

25
As primeiras tentativas de indexação e busca de conteúdo na rede vão de
antes de 1994, mas só nessa data elas ganham alguma importância através

do Yahoo! Contudo, o foco ainda era bastante comercial e a sensação do


usuário era de dificuldade em encontrar seu verdadeiro desejo. A partir de

1998, com a chegada do Google e seu algoritmo de pagerank, o foco passou


a ser entregar ao usuário o que ele realmente queria, e não o que estavam

pagando para que ele visse. Foi quando as pesquisas pela rede se tornaram
melhores e a utilidade do ponto de vista de quem busca também aumentou
consideravelmente.

Ainda na visão empresarial do Google sobre a rede, em 2000 ocorre uma


grande mudança com a chegada da Amazon trazendo o comércio à rede.

Entre os anos de 2000 e 2003 ocorre uma explosão na quantidade de usuários


com acesso à Internet, relacionada principalmente à massificação da banda

larga. Além de ter mais usuários eles também ficam conectados por mais
tempo, e a interação entre eles cresce através de pequenas redes de contato.
Como ele está mais tempo conectado e seus amigos também, eles passam a

utilizar a rede também para interagir. É então que Tim O’Reilly inventaria
o termo que ficou famoso e seria amplamente utilizado: Web 2.0.

Uma definição interessante para o termo é dada por [Reis, 2008]:


"Web 2.0 é uma série de aplicações que propiciam e potencializam a for-

mação de redes sociais digitais. Redes sociais são coletivos de pessoas e


agentes que interagem direta ou indiretamente entre si e constroem certos
padrões recorrentes de relacionamento e comportamento".

Com essa mudança o usuário passa de consumidor de conteúdo em uma


nova mídia a produtor de conteúdo nos mais diferentes formatos. De forma

26
gradativa, algumas revoluções foram acontecendo no comportamento do usuá-
rio. Talvez o termo seja um pouco ousado demais para traduzir o que ocorreu,

mas o seu sentido de mudança brusca e alteração dos padrões ajuda a descre-
ver a forte quebra de paradigmas em alguns setores, principalmente naqueles

relacionados à mídia e comunicação.

5.1 Primeira revolução: blogues

Na lista dos 100 homens mais influentes do Brasil sempre estiveram presen-
tes personalidades conhecidas do grande público ou da mídia especializada,

que gostava de chamá-los de intelectuais. Todavia, uma montagem feito no


computador fez que um ilustre desconhecido (pelo menos entre o público tra-
dicional) fosse alvo até mesmo de menções críticas entre os parlamentares. A

montagem com a foto da Senadora Heloísa Helena na capa da revista Play-


boy rendeu até mesmo ameaças de retaliação e comentários inconformados.

No ano de 2007, Antônio Tabet, conhecido pelo blog Kibeloco esteve na lista
dos 100 mais.

O que alçou um funcionário da produção do apresentador Luciano Huck à


condição de celebridade foi o fenômeno da blogosfera, expressão que sintetiza
o universo dos Blogues. Não fosse a Internet, Antônio talvez conseguisse

algumas risadas de seus colegas de trabalho, ou até mesmo a participação


em algum programa de auditório, mas certamente não estaria na fatídica

lista. Graças a rede todas as suas "piadas"e opiniões mais sérias ão lidas
diariamente por milhares de pessoas, a ponto de uma montagem em seu

endereço ter sido motivo de citação entre os parlamentares.

27
Para empresas e governo, trata-se de uma mudança comportamental im-
portante. O "papo de botequim", ou aquela conversa informal feita durante

um cafezinho, ganharam dimensões nunca antes vistas na história da huma-


nidade. Em qualquer lugar do mundo, a qualquer momento, a opinião de

uma pessoa pode estar fazendo diferença para outra, e com isso a dissemina-
ção da informação ganha incalculável velocidade. É a oportunidade de saber,

quase que instantaneamente, a opinião de um produto ou serviço por parte


do público final, ou usuário consumidor.
Com a mesma velocidade que a informação é disseminada, cresce a cons-

ciência por parte do usuário de que sua opinião faz a diferença. As caríssimas
pesquisas de opinião e mercado utilizadas no lançamento de um novo produto

ou serviço podem ir por terra ao desconsiderar uma variável não inicialmente


prevista, e basta um insatisfeito para que a imagem da empresa fique arra-

nhada por muito tempo. Afinal, aquele único insatisfeito não aparece nas
estatísticas, mas o seu blog pode estar disponível na Internet e a sua insatis-
fação certamente será registrada.

5.2 Segunda revolução: Wikipédia

Desde que aprendemos a escrever o conhecimento sempre foi um objeto res-

trito. A primeira barreira foi o domínio da técnica, depois o conhecimento


das línguas, e por fim a dificuldade de acesso. Muitos pesquisadores estimam

que grande parte do conhecimento da humanidade se perdeu quando a bibli-


oteca de Alexandria foi queimada, e grande parte ainda não foi recuperado.

A Idade das Trevas ficou assim conhecida pela dificuldade do acesso aos li-

28
vros, que por sua vez eram a única fonte confiável de conhecimento oficial.
Proliferavam então os contadores de história que sempre acrescentavam aos

fatos elementos místicos e comprometiam a transmissão da ciência.


Com o crescimento e popularização das bibliotecas e a necessidade de

aprender cada vez mais cedo, o que surgiu foi a necessidade de organizar a
informação. Livros como compêndios foram os primeiros a aparecer, e foram

logo substituídos pelas enciclopédias. Como a quantidade de informações


acessível à população cresceu, as enciclopédias ganharam economicidade ao
garantir a qualidade da informação de maneira facilmente acessível. Uma

criança de qualquer idade seria capaz de acessar o conteúdo desejado e en-


contrar referências confiáveis caso desejasse aprofundar-se no tema. Parecia

o modelo ideal, até a chegada da Internet.


O criador da Wikipédia, Jim Wales, teve uma idéia revolucionária, con-

forme cita o livro [Tapscott, 2007]:


"Imagine um mundo onde cada pessoa do planeta tem acesso livre à soma
de todo o conhecimento humano. É isso que estamos fazendo"

A Wikipédia, como idealizada por seu criador, é hoje o maior repositório


de informações de maneira organizada que a humanidade já conseguiu juntar.

Os seus críticos dizem que, por se tratar de um repositório aberto, não há


como garantir a confiabilidade. Qualquer usuário pode, em tese, alterar um

verbete de maneira maliciosa o que prejudicaria a qualidade das informações.


Sobre o fato, uma análise minuciosa é apresentada no Wikinomics:
"...em maio de 2005 um usuário anônimo da Wikipédia criou um artigo

quase inteiramente ficcional sobre John Seigenthaler Sr., ex-diretor do jornal


USA Today. (...) Aproximadamente nos quatro meses seguintes, qualquer

29
usuário da Wikipédia (...) que procurasse Seigenthaler leria essa biografia
equivocada. (...) O incidente expôs a fraqueza mais óbvia da Wikipédia:

qualquer um pode se dizer especialista em qualquer assunto".


Todavia, o livro continua:

"Quanto às imprecisões, as chamadas fontes especializadas talvez não te-


nham tanta razão para reivindicar autoridade quanto pensam. De fato, com-

parações desfavoráveis entre a Wikipédia e a Britânica talvez não se baseiem


em muitos fatos concretos. A análise comparativa da Revista Nature de 42
verbetes científicos em ambas as fontes revelou uma diferença surpreenden-

temente pequena. A Wikipédia continha quatro imprecisões por verbete; a


Britânica três."

A última análise esclarece o fenômeno que estamos tentando analisar:


"Infelizmente para a Britânica, suas queixas passam ao largo do centro

da questão — os erros citados na Wikipédia já foram corrigidos há muito


tempo, enquanto os erros da Britânica persistem."
Temos uma realidade presente onde a Wikipédia tem uma velocidade de

revisão e criação de novos verbetes muito rápida, uma vez que pode ser feita
por qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo. No que tange à Britânica,

o processo é lento, demorado e, acima de tudo, bastante custoso. As antigas


verdades sobre o valor do conhecimento e o modelo de negócios construído

através de sua exploração já não podem mais ser considerados absolutos: a


lógica da construção compartilhada e difusa subverte conceitos e mostra uma
capacidade de acúmulo que tende ao infinito.

30
5.3 Terceira revolução: YouTube

Existe um documentário feito pela rede britânica estatal de televisão que roda

no submundo da rede como um vídeo proibido por abordar o monopólio da


televisão no Brasil. Muito Além do Cidadão Kane trata da história da Rede
Globo de Televisão no final da década de 80 e começo da década de 90, onde

sua liderança na audiência está consolidada e não há sombras de ameaça. O


filme faz uma referência ao clássico de Orson Welles que fala da história de

um grande milionário americano que dominava também toda a imprensa.


O fato é que, em todos os países do mundo, as empresas de comunicação

audiovisual são monopólios ou oligopólios. Não existe real concorrência e, nos


mercados mais competitivos do mundo, existem três emissoras que exercem
real concorrência. O Brasil é só mais um caso e, mesmo com o crescimento da

Rede Record, teremos uma distribuição entre duas, mas ainda um oligopólio
bastante centralizador. Algumas iniciativas, contudo, têm trazido à tona

uma nova realidade.


No começo do ano de 2007 um episódio ficou muito famoso nos veículos

que tratam da vida das celebridades e na rede: o episódio Daniela Cicarelli.


As tórridas cenas de amor que protagonizou com seu namorado nas praias
da Espanha e, como não poderia ser diferente, chegaram também ao Bra-

sil. Acostumada a utilizar dos artifícios da legislação brasileira para tentar


proteger sua privacidade, ela prometeu processar todos os que mantivessem

registros de seus momentos, e a maior parte dos veículos cedeu à pressão.


O que ela não contava era com um agente de propagação que não cede a
pressões nem obedece lógicas comerciais: a Internet.

31
Vários usuários postaram quase que ao mesmo tempo o famigerado vídeo
no YouTube, site onde os usuários podem enviar seus vídeos, e nem mesmo a

vigilância da empresa controladora conseguiu deter o ímpeto dos internautas.


Foi aí que os advogados de Cicarelli tiveram uma idéia que acabaria custando

mais caro a ela do que a "ofensa à sua honra": pediram à justiça o bloqueio do
endereço do YouTube no Brasil, pedido que foi aceito pela Justiça brasileira.

Durante quase dois dias o conteúdo ficou inacessível para usuários brasileiros.
Cicarelli, na época, trabalhava na emissora MTV, que sempre apostou no
público jovem e com acesso à Internet como seu principal alvo. O resultado

foi uma enxurrada de cartas e mensagens eletrônicas à emissora de usuários


que acessavam regularmente o YouTube e se sentiram violados pela atitude

da apresentadora. Prometeram até mesmo o boicote à rede caso ela não


desistisse da ação. O episódio rendeu um pedido de desculpas aos fãs por

parte da apresentadora, que ainda teve que receber parte deles que realizaram
um protesto na frente da emissora para conversar. Foi o primeiro sinal de
que havia algo de novo no território dominado pelas emissoras de TV.

A própria emissora já havia percebido que algo estava mudando. Decidiu


retirar do ar praticamente todos os clipes musicais e disponibilizá-los para

assistir no seu "Overdrive", nada mais que uma cópia do YouTube com seus
programas. Quase todos os artistas lançam seus clipes no YouTube, e já

há vídeos que têm audiência maior que muitos programas de televisão. O


maior exemplo é o programa Na polícia e nas ruas, veiculado a princípio
numa emissora do Nordeste do Brasil mas que ganhou projeção nacional com

algumas de suas "consagradas"reportagens. A mais famosa é a do Jeremias,


que até funk virou.

32
Existe uma inversão importante na lógica de mercado: a partir do You-
tube, é possível produzir vídeos caseiros que não obedecem a nenhum tipo

de lógica comercial. O único caminho é a vontade de quem produz, que pode


ter sua sensação compartilhada com outros a ponto de tornar-se um vídeo

bastante popular. Abaixo os monopólios e viva a criatividade!

5.4 Quarta revolução: del.icio.us

Os críticos da rede diziam que procurar conteúdo na Internet significava o


mesmo que largar alguém na biblioteca de Alexandria, a maior da antigüi-

dade, sem ao menos um mapa. Apesar de o conhecimento estar por lá, seria
praticamente impossível encontrá-lo.
Como mostramos na Figura 1, o problema já tinha sido percebido por

vários atores importantes, mas a principal contribuição foi feita pelo Google
e seu algoritmo de pagerank. As buscas se tornaram mais rápidas, mas como o

crescimento da rede é exponencial, a dificuldade em encontrar o que realmente


se deseja pode ser grande. Já existem grupos de estudo que estudam a melhor

forma de chegar à informação utilizando o Google, e até mesmo palestras e


oficinas são realizadas com o tema.
Existem aí alguns desafios que são difíceis de resolver. A mesma palavra

pode ter significados diferentes para o mesmo usuário, dependendo do que


está sendo buscado naquele momento. Como a precisão não é absoluta,

um certo refinamento se faz necessário, que é feito diretamente por quem


a executa e não passa por filtros de máquina. Nesse ponto, a experiência

em utilizar a rede pode fazer a diferença, o que não pode ser facilmente

33
ensinado. Você pode até ensinar uma pessoa a utilizar o computador, mas a
sua experiência em navegar é única e exclusivamente sua.

Serviços como del.icio.us e Digg tentam facilitar a transmissão da experi-


ência utilizando um conceito bastante recente: a folksonomia. Em oposição

á taxonomia que faz uma classificação de cima pra baixo, seu objetivo é que
cada usuário crie suas próprias marcações. Quem nunca encontrou um con-

teúdo que achou interessante através de uma busca e depois não conseguiu
encontrá-lo novamente? Seria uma maneira de associar conteúdo na rede à
sua impressão no momento e que o viu. Quando essa impressão é transmi-

tida a mais usuários, temos um fenômeno único de colaboração que pode ser
observado somente por causa da Internet.

5.5 A Economia do Compartilhamento

Que a Internet é capaz de difundir conhecimento, já conseguimos perceber.

Mas como todas essas revoluções se aplicam ao mudo real dos negócios?
Como podem ser aplicadas a empresas? Uma dica nos é dada pelo livro

Wikinomics [Tapscott, 2007], utilizando o exemplo da empresa Goldcorp.


No final da década de 90, a Goldcorp era uma empresa de mineração
que possuía uma mina no norte do Canadá, E estava enfrentando uma grave

crise. Greves, dívidas prolongadas e alto custo de produção foram alguns


dos fatores que levaram a empresa a ser adquirida por um fundo mútuo, que

conseguiu tornar-se sócio majoritário da empresa após uma longa batalha


com os outros acionistas. O indicado para o cargo foi um jovem chamado

Greg McEwen, que assumiu o cargo já propondo um desafio aos geólogos da

34
empresa: encontrar mais ouro na propriedade da empresa. Ele liberou US$
10 milhões de dólares para a pesquisa e e movimentou a equipe para que

fosse atrás de resultados.


Mesmo não confiando muito no novo patrão, as equipes perfuraram as

áreas mais profundas da mina e, para sua surpresa, algumas semanas depois
encontraram algumas jazidas. A descoberta era surpreendente, uma vez que

testes indicaram uma quantidade de ouro trinta vezes superior ao que estava
sendo extraído naquele momento. Todavia, mesmo sabendo que havia um
grande valor ali, os geólogos tinham dificuldade em determinar a localiza-

ção exata e o valor do ouro. Como a saúde financeira da empresa ia mal,


tempo era algo que eles não tinham, e McEwen precisava resolver o problema

rapidamente.
Sem saber o que fazer ele decidiu tirar uma licença para reflexão no ano

de 1999, e foi convidado a assistir uma palestra de Linus Torvalds no MIT.


Ao ouvir sobre sua experiência de compartilhamento e código aberto, ele
teve uma idéia que revolucionaria o Mercado de mineração, estremeceria os

quadros da empresa e faria saltar sua vida profissional.


Após as curtas férias, convocou uma reunião na empresa com o chefe

da equipe de pesquisa e pediu a ele que liberasse na rede todos os dados


geológicos dos terrenos da empresa desde 1948. Sob seus olhares incrédulos,

disse que "pediriam ao mundo que nos diga onde encontrar as próximas 170
toneladas de ouro. Era o início do desafio GoldCorp, que distribuía US$
575 mil em dinheiro para os participantes que apresentassem os melhores

resultados reais.
Ainda hoje a atitude de McEwen pode parecer um tanto quanto ousada

35
demais aos nossos olhos. Sua idéia seria algo semelhante ao anúncio por parte
da Petrobras, maior empresa brasileira, que colocaria na Internet todos os

estudos realizados na camada pré-sal. Numa era onde o petróleo parece cada
vez mais escasso a simples menção da idéia parece loucura. Mas foi algo

similar ao realizado pela GoldCorp.


As inscrições para o concurso vieram de todas as partes do mundo e de

todas as áreas do conhecimento, dentre as quais matemáticos e militares em


busca do prêmio. Mais surpreendente ainda foi o resultado do concurso: fo-
ram localizados 110 alvos para extração, dentre os quais 110 não haviam sido

percebidos ainda pela empresa. Mais de 80% deles produziram quantidades


significativas de ouro, resultando em incríveis 230 toneladas de ouro. O fa-

turamento da empresa saltou de US$ 100 milhões para US$ 9 bilhões em


aproximadamente 10 anos.

Para muitos o exemplo da empresa GoldCorp e seu presidente louco são


apenas casos isolados e nem sempre liberar simplesmente as informações pode
gerar inovação e riqueza. Novamente, o Wikinomics [Tapscott, 2007] nos

ajuda a derrubar o mito: segundo dadas da AAAS, a associação de cientistas


americanos, a dificuldade de acessos prejudicou as pesquisas para:

• 25% dos pesquisadores acadêmicos;

• 76% dos pesquisadores industriais.

Os dados acima revelam que ainda existe uma tendência muito grande a
guardar os dados das pesquisas, que são enxergados como diferenciais com-
petitivos, principalmente nas empresas. De posse dos dados e com o exemplo

36
da GoldCorp, é inevitável que uma pergunta venha à cabeça: o atual sistema
de pesquisas está facilitando ou dificultando a inovação?

Não há dúvidas de que uma maior abertura é necessária, mas ao mesmo


tempo as empresas precisam manter o que pode ser considerado para elas

um diferencial. Novamente a questão do provisionamento vem à tona: se


as pesquisas forem todas abertas, quem vai pagar por elas? O livro Wiki-

nomics tenta responder à questão lançando o conceito de base comum de


produção.
“...a sociedade precisa induzir o investimento privado necessário para tra-

duzir novo conhecimento em inovações econômicas (...) E o que conseguirá


atingir esse equilíbrio da melhor maneira — mecanismos de mercado ou in-

tervenção governamental?"
Algum tipo tipo de abertura é importante, mas quem deve garantir o

provisionamento? A questão é respondida pelo livro da seguinte forma:


"...recompensar a criatividade e o investimento é central para promover a
inovação. (...) Na economia atual, precisamos de um sistema de propriedade

intelectual que recompense a inovação e estimule a abertura".


As Wikinomics provam que estamos presenciando um novo momento,

principalmente no que diz respeito à base comum de produção. A experi-


ência brasileira nos permite dizer que estamos na frente, pois somos o único

a ter um elemento centralizador, como veremos mais à frente.

37
6 Governos e Software Livre

Quando falamos em Software Livre no Governo, a primeira pergunta que vem


à tona é: por que utilizar? Já é fato conhecido que vários Governos ao redor
do mundo têm adotado políticas de incentivo, mas dependendo da abordagem

apresentada por cada um deles, a opção pode ser desde pura e simplesmente
técnica até a criação de uma política de Estado. Para tentar descobrir as

motivações, faremos uma análise focada em três campos: os governos de


Brasil, Estados Unidos e União Européia. O primeiro por se tratar do caso

de uso que estamos querendo estudar; os outros dois por serem talvez os mais
importantes e complexos mercados do mundo, cujas decisões afetam o ciclo
econômico de todo o mundo.

6.1 Software Livre no Governo Americano

Os Estados Unidos da América sempre tiveram uma postura pragmática em

relação ao Mercado: nunca deixar que princípios ideológicos influenciem o


Mercado. Informar que houve uma decisão de governo em favor da utilização

de Software Livre pode parecer, num primeiro momento, ir contra a lógica do


não-intervencionismo. Para nos servir de guia no entendimento dos aspectos

econômicos e sociais que levaram a tal decisão, utilizamos como referência


o livro DTA - Desenvolvimento de Tecnologias Abertas [Herz et al., 2006],
traduzido pelo ITI para o Português do Brasil. Em suas primeiras páginas,

encontramos o seguinte trecho:


"Para cumprir suas missões, o Departamento de Defesa (DoD, na sigla

em inglês) deve se atualizar continuamente à medida que as ameaças e as

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tecnologias mudam e evoluem. (...) Mas, mesmo enquanto as capacidades
emergentes são identificadas e avaliadas, os métodos de aquisição e elabora-

ção de projetos são inadequados para acompanhar as rápidas mudanças nas


tecnologias, especialmente no software e na tecnologia da informação (TI)."

O Departamento de Defesa dos Estados Unidos (DoD) talvez seja o órgão


de maior importância na manutenção da filosofia norte-americana de manu-

tenção do poderio militar e liderança na evolução tecnológica, principalmente


na indústria bélica. Quando falamos de software, contudo, a capacidade de
absorção da inovação fornecida através de uma tecnologia de código fechado

é reduzida. Se levarmos à questão software ao governo nos EUA, de acordo


com o DoD, os métodos de aquisição são inadequados para que as melhores

tecnologias sejam sempre adquiridas. Podemos afirmar então que os proces-


sos burocráticos americanos não são capazes de acompanhar a evolução da

tecnologia de forma a garantir que o DoD possua sempre o que há de mais


moderno na área de TI. Abrir mão de tal garantia é relevar os interesses
nacionais, de acodo com o próprio DTA:

"Os Interesses Nacionais dos Estados Unidos da América


O DoD tem dois interesses concorrentes:

1. Assegurar a defesa dos Estados Unidos da América (EUA) e;

2. Prover apoio e estimular o crescimento da base industrial norte-americana,


que fornece materiais e sistemas para que o DoD possa cumprir sua

missão."

Por mais incrível que possa aparecer àqueles que não conhecem a com-

plexidade do mercado de software, existem algumas empresas no mundo que

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são as maiores em sua área de atuação e não têm sede nos Estados Unidos.
Se e governo utiliza uma tecnologia que não foi fornecida por ele, sem acesso

ao seu código-fonte, não é exagero afirmar ser impossível de garantir a se-


gurança das informações. Em caso de guerra om outros países onde ficam

situadas as empresas detentoras de uma determinada tecnologia, poderia ha-


ver moticação para a inserção de algum código malicioso que poderia afetar

em pouco tempo algum sistema vital para a defesa do país. Um bom exemplo
é o caso da plataforma ERP da empresa alemã SAP: boa parte do PIB dos
EUA encontra-se em seus sistemas de código-fechado. Caso haja uma im-

provável reversão estratégica no mundo, as finanças do país podem tornar-se


repentinamente um ponto vulnerável.

Há ainda o segundo aspecto abordado: se as empresas não têm sede


nos EUA, não há como garantir que comprar um software de código fechado

numa outra empresa traga inovação para dentro do país. O dinheiro investido
pelo governo está fomentando a inovação em outro lugar, indo de encontro
ao interesse nacional. O livro cita ainda a preocupação com a perda de

Mercado por parte das empresas americanas em Software Livre, onde países
como Índia, China e Brasil têm abocanhado participações cada vez mais

significativas. Ainda que as quantias sejam pequenas, é mais um Mercado


sendo criado e mais uma oportunidade para a indústria americana fincar sua

bandeira. O DoD, como órgão de fomento da indústria, deve trabalhar para


que isso aconteça.
Mesmo analisando o melhor cenário para a indústria norte-americana,

onde o Governo compra software proprietário das empresas nacionais, ainda


há o problema do modelo de contratação. No caso de bens tangíveis como a

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indústria bélica, a simples injeção de dinheiro por meio das compras é sufici-
ente para o fomento. Como o software não é um bem tangível e tem origem

difusa, o processo de compra pode nem sempre ser o mais ágil e, muitas vezes,
quando a compra é finalizada já existe tecnologia melhor. Como a compra do

produto software não necessariamente significa a troca de conhecimento entre


as partes envolvidas, o Governo pode acabar provocando uma concentração

exagerada numa determinada empresa, o que é ruim para a competitividade


no mercado interno.
No caso onde o desenvolvimento é realizado internamente pela equipe do

DoD ou por alguma empresa contratada que cria um produto de propriedade


interna, pode haver uma limitação ainda mais grave. Alguns sistemas inter-

nos são estruturantes e estratégicos, e todo o seu processo de desenvolvimento


possui algum tipo de restrição. Quando um outro departamento do mesmo

órgão precisa de uma solução similar, uma espécie de "escassez artificial"é


criada. Mesmo possuindo o produto, a instituição se vê obrigada a adquiri-lo
novamente, num modelo que é ainda pior do ponto de vista estratégico, já que

não gera inovação nem contribui para o fomento da indústria, excetuando-se


a que for contratada.

Do ponto de vista do desenvolvimento tecnológico, o governo americano


tem sentido fortemente o impacto na inovação causado pela amarração a

tecnologias proprietárias. Existem muitos sistemas legados que são estrutu-


rantes de governo e, como foram desenvolvidos tendo como foco o "aprisiona-
mento"às suas tecnologias base, não é exagero dizer que existe uma situação

de "aprisionamento"à tecnologias obsoletas. Com o avanço das linguagens


de programação é praticamente impossível pensar o desenvolvimento de um

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novo sistema em Clipper, por exemplo, mas existem alguns serviços impor-
tantes para a sociedade que estão presos a ela. A manutenção se torna então

um problema que cria dificuldades em cascata: como não é uma tecnologia


inovadora, há cada vez menos profissionais. Com a escassez de conhecimento,

fica difícil ampliar a capacidade de produção, ao mesmo tempo em que mi-


grar completamente pode ter um custo alto demais. Pode parecer um cenário

desanimador no sentido da inovação, e realmente é, mas do ponto de vista da


defesa dos EUA é ainda pior. A restrição da capacidade de reagir e responder
a adversidades e mudanças tecnológicas que ignoram conflitos militares fica

extremamente prejudicada, e o DoD fica impedido de cumprir plenamente


sua missão.

Já que todos os problemas acimas foram diagnosticados, a pergunta óbvia


que aparece na seqüência é: como resolver a questão? O DoD elenca alguns

pontos como chave.


“... os processos de negociação e desenvolvimento de software do DoD
precisam sair da “camisa de força” de um modelo de aquisição próprio da era

pré-industrial.
Se o DoD dirigir seus esforços no sentido de aumentar o uso de software

de código aberto (OSS, na sigla em inglês) e criar um repositório colaborativo


interno para os códigos, esses esforços terão efeitos transformadores.”

Para resolver a questão é preciso, em primeiro lugar, alterar o modelo


de contratação do governo norte-americano. Em seguida, aumentar o uso
dos softwares de código aberto e, por fim, incentivar a colaboração de ma-

neira global. Alguns pontos merecem um destaque em separado, pois serão


abordados mais à frente em nosso estudo:

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“... os processos de negociação e desenvolvimento de software do DoD
precisam sair da “camisa de força” de um modelo de aquisição próprio

da era pré-industrial.
Se o DoD dirigir seus esforços no sentido de aumentar o uso de soft-

ware de código aberto (OSS, na sigla em inglês) e criar um repositório


colaborativo interno para os códigos, esses esforços terão efeitos trans-

formadores.”
Pode ter passado despercebido para a maior parte dos leitores, mas em
nenhum momento o DoD cita a questão custo como importante para a ado-

ção de Software Livre. É um detalhe pequeno, mas muito importante, pois


transmite a leitura estratégica feita em cima da colaboração, em detrimento

da análise simplista dos custos. Afinal, utilizando uma frase cada vez mais
comum na comunidade, Software Livre não é software grátis.

6.2 Software Livre na União Européia

[Ghosh et al., 2007]

7 Software Público Brasileiro

No ano de 2000, o Livro Verde [Takahashi, 2000] já falava do papel do governo

na nova sociedade da informação:


O governo, nos níveis federal, estadual e municipal, tem o papel de asse-

gurar o acesso universal às tecnologias de informação e comunicação e a seus


benefícios, independentemente da localização geográfica e da situação social

do cidadão, garantindo níveis básicos de serviços, estimulando a interopera-

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bilidade de tecnologias e de redes.
O modelo de desenvolvimento em Software Livre obedece todas as carac-

terísticas observadas pelo Livro Verde, já que basta um acesso à Internet e


capacidade de aprender para

7.1 Compartilhamento

7.2 Aspectos Legais

7.3 Papel do Estado

[Takahashi, 2000]

7.4 Foco no Ecossistema

8 Mais Valia 2.0 e a Revolução na Economia

O mundo já percebeu que os commons podem ser fonte de inestimável ri-


queza, e não é de hoje. Na Idade Média os mosteiros se tornaram pousadas
temporárias para viajantes e aventureiros, que sempre deixavam algum tipo

de contribuição para sua manutenção. Certos monges eram conhecidos por


fabricar uma fórmula específica de cerveja que era muito apreciada, o que

tornava suas acomodações as mais procuradas e, por que não, as mais va-
liosas. No antigo Egito somente os escribas tinham permissão para ler e

escrever o que os fazia galgar uma posição privilegiada na sociedade, além de


serem transmissores oficiais da história para as futuras gerações. No século
passado as guerras alçaram os cientistas a uma posição estratégica, pois qual-

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quer nova tecnologia poderia ser um diferencial para a Vitória, o que acabou
acontecendo com os estudos de Einstein que culminaram na bomba atômica.

Agora vivemos um momento especial na valorização do conhecimento, con-


forme citado por [Tofler and Tofler, 2007]:

8.1 Princípios e Teorias Econômicas

8.2 Liberdade Real e Imediata

8.3 Base Comum de Produção

8.4 A Revolução na Economia

[Tapscott, 2007],[Tofler and Tofler, 2007],[Herz et al., 2006],[Simon and Vi-

eira, 2007],[Peterle et al., 2006]„[Evangelista, 2007],[Marx and Engels, 1848]

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