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CURITIBA
2018
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CURITIBA
2018
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Orientador: ________________________
________________________
Prof. Membro da Banca
________________________
Prof. Membro da Banca
AGRADECIMENTOS
Audre Lorde
6
SUMÁRIO
RESUMO.....................................................................................................................7
ABSTRACT................................................................................................................ 8
1. INTRODUÇÃO.............................................................................................................9
5. CONSIDERAÇÕES
FINAIS........................................................................................................................43
REFERÊNCIAS..........................................................................................................45
.
7
RESUMO
Trata-se de uma pesquisa acerca das contribuições de Davis, Walker, hooks e Adichie
na busca pela igualdade das mulheres negras frente ao movimento feminista. A fim
de expandir as discussões e debates em torno do feminismo negro, serão expostos
também dados e números que comprovem a divergência entre a violência para com
as mulheres brancas e negras brasileiras. Desde a história do feminismo e seus
conseguintes anos e evoluções, até os dias atuais no Brasil, será descrito o
surgimento do termo “feminismo” e em como influenciou milhares de mulheres ao
redor do mundo para que se levantassem contra a injustiça e desigualdade cotidiana
e nas lutas das mulheres negras brasileiras, que sofrem mais preconceito e violência
do que mulheres brancas.
ABSTRACT
It is a research about the life of black women within Brazilian society and their position
on what they have suffered since ancient times, in a slave period, but which lasts until
the present day. Also, with the aim of amplifying the knowledge about this specific
subject, the thoughts and characteristics of four influential black female feminists of
history will be exposed. In order to expand the discussions and debates surrounding
black feminism, data and figures will also be exposed to prove the divergence between
violence toward Brazilian white and black women. From the history of feminism and its
achievements and evolutions to the present day in Brazil, the emergence of the term
"feminism" will be described and how it has influenced thousands of women around
the world to rise up against injustice and daily inequality and in the struggles of
Brazilian black women, who suffer more prejudice and violence than white women.
1. INTRODUÇÃO
9
dificilmente discutido na política, quis de forma tornar as mulheres mais visíveis, pois
mal tinham o direito de votar, fazendo sua aparição política então ser praticamente
nula.
3 “Les mères, les filles, les sœurs, représentantes de la Nation, demandent d'être constituées en
Assemblée nationale ; considérant que l'ignorance, l'oubli ou le mépris des droits de la femme, sont
les seules causes des malheurs publics et de la corruption des gouvernements, ont résolu d'exposer,
dans une déclaration solennelle, les droits naturels, inaliénables et sacrés de la femme, afin que cette
déclaration, constamment présente à tous les membres du corps social, leur rappelle sans cesse
leurs droits et leurs devoirs, afin que les actes du pouvoir des femmes, et ceux du pouvoir des
hommes pouvant être à chaque instant comparés avec le but de toute institution politique, en soient
plus respectés, afin que les réclamations des Citoyennes, fondées désormais sur des principes
simples et incontestables, tournent toujours au maintien de la Constitution, des bonnes mœurs, et au
bonheur de tous.” traduçãofeitapor José SelvinoAssman.
13
àquelas que haviam morrido na luta em prol dos seus direitos (Organização das
Nações Unidas).4
O movimento sufragista se mostrou bem forte nessa época, ainda mais com a
luta incessante das mulheres pelos seus direitos. De acordo com Conceição
Nogueira5, esse movimento pode ter sido um impulso para que se iniciasse um
movimento denominado movimento feminista que teria cada vez mais destaque a
partir daquele momento.
Apesar de ter sido um assunto inserido no meio brasileiro, este foi feito bem
tardio, com relação a Europa e os Estados Unidos. Em 1910, este assunto teve sua
primeira aparição de modo mais forte, devido a professora do Rio de Janeiro, Leolinda
Daltro que criou o Partido Republicano Feminino, na intenção de adquirir o direito ao
voto, assunto que não era tratado desde 1891, na chamada Assembleia Constituinte.
Além disso, tivemos uma importante personalidade feminista no Brasil
chamada Bertha Lutz6, que teve forte atuação nos anos de 1930, quando redigiu a
nova Constituição em 1932, levando a discussões nos comitês que resultariam em no
sufrágio feminino. Desta forma, foi finalmente instituído no Brasil o direito do
recebimento de votos, ou seja, a mulher poderia se eleger aos cargos políticos, além
também de exercer o direito de eleger os seus representantes (Constituição Brasileira,
1934).7
De acordo com o site United States Department of Labor, um grande
acontecimento que ocorreu no dia 25 de março de 1911, foi o grande incêndio em
uma fábrica, a chamada Triangle Shirtwaist, que ficava em Nova Iorque.
Diferentemente de qualquer outra fábrica, nesta, por sua vez, trabalhavam várias
mulheres que decidiram se impor e organizar uma greve para que tivessem melhores
condições de trabalho, o qual ganhavam cerca de $15 por semana.
A porta principal para saída estava trancada e havia apenas um elevador para
uso das mulheres. Os andares 8º, 9º e 10º foram incendiados, e devido as poucas
maneiras de escapar e uma falha tentativa de resgate por meio dos bombeiros,
4
Informação retirada do site da Organização das Nações Unidas, disponível em
http://www.un.org/en/events/womensday/history.shtml
5 Conceição Nogueira do Instituto de Educação e Psicologia, Universidade do Minho, Campus de
Gualtar, Portugal.
6Bertha Maria Julia Lutz foi uma bióloga brasileira especializada em anfíbios, pesquisadora do Museu
Nacional. Foi uma das figuras mais significativas do feminismo e da educação no Brasil do século XX.
7 Art. 2 da Constituição Federal Brasileira de 1934, disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao34.htm
15
acabou resultando em 146 mulheres mortas naquele dia. (Ocupational safety and
health administration) 8
Esta onda que será tratada agora, surge após a Segunda Guerra Mundial e vai
até o final dos anos 60. O foco neste período foi a liberdade da mulher em suas
escolhas com relação ao seu corpo, e o pensamento se baseia no que se dizia
respeito o prazer, a maternidade (ou o simples fato de não desejar ser mãe), a
violência dentro de casa, etc. O feminismo desse momento “deu prioridade às lutas
pelo direito ao corpo, ao prazer, e contra o patriarcado – entendido como o poder dos
homens na subordinação das mulheres” (PEDRO, 2005, p. 79).
Durante a Segunda guerra Mundial, os homens foram às guerras e as mulheres
estavam sendo chamadas para trabalhar em seus cargos. Desta forma, começaram
a exigir um melhor salário, melhores condições para seus filhos, que agora ficavam
em casa sem nenhum cuidado.
Olsen (1995) defende fortemente que o poder do Estado deveria se limitar ao
que se trata de uma intervenção direta inserida no interior da vida familiar, além de
que não há nexo nessa ação por parte deste ator do cenário privado.
Um importante termo que surge foram as palavras de ordem “pessoal é político”
e significavam afirmações de que questões como o aborto, a violência doméstica e
sexual contra a mulher, eram assuntos invisíveis aos olhos do público, e alterar a
forma como esses assuntos estavam sendo tratados (ou no caso, não estavam) seria
um dos objetivos dessa segunda geração.
Outro grande marco para o feminismo de segunda onda, foi o livro intitulado “A
Mística Feminina” de Betty Friedan9 (1963), que desvenda os mitos em que é
determinada a função da mulher em relação ao homem. O papel da mulher foi inserido
na sociedade através de uma relação com o natural, aquele que vinha desde sempre.
Enquanto a mulher, como progenitora, deveria ficar em casa cuidando dos filhos e
internamente, o homem teria o papel de trabalhar no externo.
O que acontecia era que a mulher era educada por sua mãe (que já foi educada
anteriormente da mesma forma), devendo ser submissa, delicada, frágil e indefesa,
enquanto seu irmão, provavelmente seria ensinado a ser violento, ágil, e com muito
mais incentivo à trabalhos que poderiam requerer de um raciocínio lógico.
Pode-se observar também que o “feminino” e o “masculino” foram impostos na
sociedade através dos tempos, muito mais através de cultura, colocado para as
pessoas. Desta forma, muitas mulheres se veem em uma posição de submissão para
com os homens, não necessariamente por acharem que são menores ou inferiores a
este, mas principalmente porque já lhes foi imposto que o lugar que elas estão deve
ser o lugar que permanecerão até o fim dos tempos.
Isso foi algo que nessa geração foi sendo mudado e agora, além do direito ao
voto, as mulheres sentiram que mereciam mais. Nessa onda, surgem alguns grupos
Essa onda é a mais recente, e a que pode ser classificada como a que está
sendo discutida ainda atualmente. Surgindo na década de 90, a terceira onda
feminista, caracterizada como feminismo contemporâneo (TOMAZETTI, BRIGNOL,
2015) se levantou para discussão de questões relacionadas à diversidade do gênero
e o feminismo não apenas para uma classe propriamente dita, mas que envolvesse
todas as mulheres, no geral.
Até então o feminismo focava muito nas mulheres brancas, heterossexuais, de
classe média/alta, etc. A proposta dessa onda pode-se dar principalmente pela
diversidade sobre quem são as participantes do feminino, e que não são apenas as
que estavam sendo tratadas. Desloca-se o campo do estudo sobre as mulheres e
sobre os sexos para o estudo das relações de gênero. (NARVAZ, 2006)
Anteriormente, no feminismo de primeira onda, o termo “mulher” era tratado
apenas para defini-la como o oposto do homem, desta forma, começa a ter mais
visibilidade apenas como o ser mulher, e ainda assim, com altíssimas limitações. Após
isso, na segunda onda, a mulher começa a ser tratada não apenas como “mulher”,
mas agora é vista em um sentido plural, em conjunto, como “mulheres”. Através dessa
nova forma de denominação, a mulher deixa de ser “invisível” e passa a ser notada,
como não apenas a dona de casa, mas também começa a ter voz no externo, inclusive
na política.
18
Nesta nova onda, um novo modo de ver o feminismo é introduzido, pois agora,
não há apenas discussões sobre igualdade entre as mulheres e homens, mas sim, há
uma ruptura dessa visão. Juntamente, surge a abertura de um grande leque de
discussões, para que possam ser introduzidas para essas, o fato de que não apenas
existem diferenças entre mulheres e homens, mas sim diferenças de raça, classes
sociais, etnias, etc.
Surge então um novo termo, o gênero, que é instituído nessa nova onda do
feminismo, principalmente entre estudiosos e pessoas que queiram inserir esse novo
pensamento dentro da academia. Desta forma, “o emprego do termo gênero é um
avanço nas discussões sobre categorias “. (SILVA, p 42). Não apenas é discutida a
mulher como objeto em si, ou mulher junto a outras, mas agora entra em discussão
todas as outras que possam sofrer de desigualdade na sociedade.
Negras, pardas, indígenas, e suas formas de cultura e tanto em âmbito
econômico quanto religioso, seria mostrado, para que também pudessem ir à busca
de seus direitos e conquistas, com o decorrer do tempo e de suas lutas. Benedita da
Silva foi a primeira mulher negra a ser eleita para um cargo legislativo e, no final da
década de 80, juntou-se às outras 25 mulheres na Constituinte.
Após um envolvimento maior para com as mulheres negras nessa época, no
Brasil o feminismo começa a ganhar mais força para que as mulheres ganhassem
espaço no âmbito político, coisa que mulheres brancas já haviam conquistado na
primeira onda, após uma série de lutas seguidas da Revolução Francesa.
Agora, o feminismo começa a pregar que a cultura, educação e identidade
também fazem parte da luta. Desta forma, as crenças, valores e símbolos podem ser
alterados e a partir disso, consequentemente haverá uma transformação no
19
pensamento da sociedade ao que se diz respeito o que a mulher pode ou não pode
fazer.
Surge uma transformação da retratação do século XVIII, em que antes tinha
uma afirmação do fortalecimento do capitalismo, que trazia uma possibilidade de
mudança social. A partir de diferenças físicas, naturalmente certas pessoas, serão
naturalizado de maior ou menor poder. Butler (2003) diz que o gênero poderia ser
caracterizado através de uma “repetição estilizada de performances”, e que:
11 Judith Butler, obra titulada Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade, com
lançamento em 2003.
12Guacira Lopes Louro é doutora em Educação, professora titular aposentada da Faculdade de
14
“Mulheres, raça e classe” foi considerada uma grande obra para o feminismo negro. Primeira
publicação em 1981, traduzido e publicado no Brasil pela editora Boitempo, em 2016.
15O partido dos Panteras Negras (em inglês, Black Panther Party ou BPP), originalmente denominado
Partido Pantera Negra para Autodefesa (em inglês, Black PantherParty for Self-defense) foi uma
organização socialista revolucionária fundada por Bobby Seale e Huey Newton em outubro de 1966.
22
Mesmo rude e polémico que este argumento possa ser, há uma lucidez nele
sem engano. A imagem visual demonstrada que os antigos escravos negros
sofreram uma opressão que era qualitativamente e brutalmente diferente do
predicado das mulheres brancas de classe-média. (Davis,1981 pg 63)
Douglass foi um abolicionista negro e foi também um homem que defendeu a emancipação das
16
mulheres.
23
Todavia, a autora não deixa de apreciar algumas ações que feministas brancas
tiveram que acabaram contribuindo para a inclusão de pessoas negras na educação,
“compromissos com a educação tornaram-se uma das mais poderosas provas do
progresso durante essa era potencialmente revolucionária” (DAVIS, 2016, pág. 81).
Houve a criação de escolas exclusivas para a raça, além de que também foram
criadas universidades para a formação de professoras negras nessa época de
reconstrução radical.
Como já citado antes, a escravidão e a pós abolição foram períodos
importantes na história da população negra, e até hoje perduram as consequências
disso. O preconceito permanece apesar da escravidão não estar mais entre nós, pois
o racismo pode ser considerado como algo cultural entre os seres humanos,
infelizmente.
Davis considera isso como fator importante, pois percebe que por esse
preconceito ainda se fazer presente nos dias atuais, torna-se mais turbulento ainda o
processo de emancipação para as mulheres negras. No trabalho, para ambos os
sexos, a exclusão, e particularmente às mulheres, ficaram restritas aos serviços
domésticos das casas dos brancos e nos serviços pesados nas lavouras, seguindo a
violência e estupros no trabalho, com a conivência das mulheres brancas (DAVIS,
2016, p. 97-99).
Angela Davis retrata a vida de algumas pessoas que tiveram oportunidade de
serem incluídas nas universidades, mas que por motivos de empatia aos seus iguais,
foram levadas à luta de seus direitos, como por exemplo, Mary Terrell, filha de escravo
24
que recebeu uma considerável herança daquele que era dono do seu pai, na época
da escravidão. É reconhecida a posição que tinha, entretanto, devido sua conjuntura,
não pôde usufruir de tais direitos
no trabalho entre os sexos, e entre raças como efeito de hierarquias raciais ao que se
diz respeito a inferioridade e superioridade.
despreza qualquer autonomia dada por algum homem, ou seja, uma realidade
totalmente diferente de Celie.
A personagem principal começa a despertar certa paixão com Shug, pois é
alguém que admira muito com toda sua força empoderamento como mulher,
enxergando-a como uma inspiração, acaba desenvolvendo um romance com ela em
que a autora demonstra através de alguns dizeres:
Ela tem uma camisa de noite branca e comprida e fica linda com a mão fina
e negra a sair para segurar o cigarro branco. Há qualquer coisa, nas veias
finas e macias que vejo ou nas grandes, que faço por não ver, que me
assusta. É como se me empurrassem para frente. Se não desvio os olhos
vou pegar naquela mão e descobrir a que é que sabem os dedos dela na
minha boca. (WALKER, p 27)
O feminismo se mostra muito presente na relação que elas possuem, pois Shug
transmite uma segurança para Celie, ao que se diz respeito de libertação de uma
posição de submissa.
O homem estraga tudo, diz a Shug. Está na tua caixa de doces, na tua cabeça
e no rádio. Tenta convencer-te que está em todo o lado. Logo que pensas
que está em todo o lado, pensas que é Deus. Mas não é. Sempre que tentas
rezar e o homem aparece à tua frente diz-lhe para ir dar uma volta, diz a Shug.
Pensa em flores, no vento, na água, numa grande pedra. Mas é difícil, deixa
que te diga. Ele anda por aí há tanto tempo que não quer pôr-se a mexer.
Assusta-nos com os raios, as inundações e os tremores de terra. Nós
lutamos. Quase não rezo. Cada vez que penso numa pedra, atiro-a. AMÉM.
(WALKER, p 105)
Alice Walker também foi autora da obra In Search of Our Mothers’ Gardens
(1983) em que se debate sobre o ponto de vista das mulheres e o termo que deve ser
utilizado. Surge o termo “mulherismo”, no qual ela atribui a origem da palavra à
expressão da comunidade negra de mães para as meninas “Você está agindo como
mulher”, normalmente se referindo a um comportamento audacioso, corajoso,
voluntarioso. Contrariando assim, o que uma maioria da população patriarcal
imaginaria definir o que é ser mulher.
“Mulherismo é feminista como a púrpura é lavanda” é uma expressão que
significa que o mulherismo excede ao feminismo, da mesma forma que a cor púrpura
27
The black folk expression of mothers to female children, 'You are acting
womanish,' i.e. like a woman … usually referring to outrageous, audacious,
courageous, or willful behavior. Wanting to know more and in greater depth
than is considered 'good' for one … [A womanist is also] a woman who loves
other women sexually and/or no sexually. Appreciates and prefers women's
culture … and women's strength … committed to survival and wholeness of
entire people, male and female. Not a separatist … Womanist is to feminist as
purple is to lavender. (In Search of Our Mothers’ Gardens 1983, p 6-8i)17
17Tradução: “A expressão negra das mães para as crianças do sexo feminino: "Você está agindo como
uma mulher", ou seja, como uma mulher geralmente referindo-se ao comportamento ultrajante,
audacioso, corajoso ou voluntarioso. Querer saber mais e com maior profundidade do que é
considerado 'bom' para um… [Uma mulherista também é] uma mulher que ama outras mulheres
sexualmente e / ou não. Aprecia e prefere a cultura das mulheres... e a força das mulheres...
comprometidas com a sobrevivência e a integridade de pessoas inteiras, homens e mulheres. Não é
um separatista... Mulherismo é feminista como roxo é lavanda.”
28
Não é por acaso que a luta feminista foi cooptada tão facilmente para servir aos
interesses das feministas liberais e conservadoras, já que o feminismo nos Estados
Unidos tem sido, até agora, uma ideologia burguesa. Zillah Eisenstein (1981) discute
as raízes liberais do feminismo norte-americano em The radical future of liberal
feminism, explicando, na introdução:
18
Editora que lança livro com várias citações e textos como: Susan Brownmiller’s “The Enemy Within”;
“How Women are Kept Apart” by the Redstockings Collective; “Lesbianism and the Women’s
Liberation Movement” by Martha Shelley; Susan Brownmiller’s “Sisterhood is Powerful”; Kate Millett’s
“Theory of Sexual Politics”; Alix Shulman’s “A Marriage Agreement”; Rita Mae Brown’s “The New Lost
Feminist,”, etc.
29
de raça, classe religião, preferência sexual, por exemplo, e a forma em que têm suas
experiências e essa afirmação sugere que as mulheres compartilham a mesma
situação e terão as mesmas consequências. Hooks defende a ideia de que o “sexismo
será uma força opressiva na vida de cada mulher.” (HOOKS) pois este, sempre foi
enraizado na sociedade, entretanto, nunca determinou de forma absoluta o destino de
todas as mulheres.
Esclarece que o ato de oprimir alguém, é tirar desta pessoa, o direito de ter
opções, em que esse seria o primeiro e principal contato entre aqueles que está sendo
oprimido e o opressor. Declara que as mulheres de seu país (Estados Unidos), têm
muita sorte pois, por mais desagradáveis e/ou inadequadas que possam ser suas
escolhas, ao menos elas existem.
Isso diferencia o processo de opressão em que muitas mulheres realmente
sofrem, sendo assim, não participam da resistência organizada contra o sexismo
precisamente porque o sexismo não têm significado de absoluta falta de opções. Elas
podem saber que são discriminadas em função de sexo, mas não equiparam isso a
opressão. (HOOKS, 2015)
Hooks declara que as feministas brancas nunca conseguirão sequer imaginar
o sofrimento e a luta diária que as mulheres negras têm de enfrentar:
Tendo crescido em uma família negra do sul dos Estados Unidos, de classe
trabalhadora e dominada pelo pai, eu vivenciei (como aconteceu com minha
mãe, minhas irmãs e meu irmão) diferentes graus de tirania patriarcal, e isso
me deixou com raiva – deixou-nos todos com raiva. A raiva me fez questionar
a política de dominação masculina e me permitiu resistir à socialização
sexista. Frequentemente, as feministas brancas agem como se as mulheres
negras não soubessem que a opressão machista existia até elas
expressarem a visão feminista. Elas acreditam estar proporcionando às
mulheres negras “a” análise e “o” programa de libertação. Não entendem, não
conseguem sequer imaginar, que as negras, assim como outros grupos de
mulheres que vivem diariamente em situações de opressão (...) (hooks, p
201)
I decided I would now call myself a Happy African Feminist. Then a dear friend
told me that calling myself a feminist meant that I hated men. So, I decided I
would now be a Happy African Feminist Who Does Not Hate Men. At some
point I was a Happy African Feminist Who Does Not Hate Men and Who Likes
to Wear Lip Gloss and High Heels for Herself and Not for Men. (Adichie, p 11)
diferentes do que estava acostumada, além de que, acreditava que todos os livros
deveriam ter estrangeiros, já que foi familiarizada apenas com essa característica.
Biondo (p 1, 2012) em seu artigo afirma que Chimamanda busca demonstrar é
“como nós somos impressionáveis e vulneráveis em face de uma história,
principalmente quando somos crianças".
Segundo a "contadora de histórias" (como ela se autodenomina), já que tudo o
que havia lido eram livros com personagens estrangeiros, ela teria se convencido de
que os livros, "por sua própria natureza, tinham que ter estrangeiros e tinham que ser
sobre coisas com as quais eu [ela] não podia me [se] identificar". (CARNEIRO, 2015,
p 63) E essa era a sua única história sobre o que eram os livros.
“Mostre a um povo sobre uma coisa, repetidamente, e é isso que elas se
tornarão.” (CARNEIRO, 2015) Adichie afirma, se tratando do senso comum que as
pessoas terão através de demais histórias contadas sobre um determinado povo, que
com o tempo, irão ser vistas daquela forma.
Todas essas histórias fazem de mim quem eu sou. Mas insistir somente
nessas histórias negativas é superficializar minha experiência e negligenciar
as muitas outras histórias que me formaram. A “única história cria
estereótipos”. E o problema com estereótipos não é que eles sejam mentira,
mas que eles sejam incompletos. Eles fazem uma história tornar-se a única
história. (ADICHIE, 2009)
19
Título original PURPLE HIBISCUS, lançado pela primeira vez em Outubro de 2003, na Nigéria,
pelas editoras Workman Publishing Company, Kachifo Limited. No Brasil, o livro foi lançado em 2018
pelo Grupo Companhia das Letras.
20
Data da primeira publicação em 2006 e vencedor de prêmios como Baileys Women's Prize for
Fiction, PEN/Open Book, Anisfield-Wolf Book Award for Fiction. Lançado no Brasil pelo Grupo
Companhia das Letras.
21
Mais recente publicação de Chimamanda Adichie, em 2013 na Nigéria. Vencedor do prêmio National
Book Critics Circle Award: Ficção.
33
Em 1980, críticas vêm sendo levantadas por meio de pesquisas voltadas para
o período da escravatura, analisando as situações tanto de homens como de
mulheres, mas principalmente para que o foco da discussão venha em torno do papel
desempenhado pela mulher negra (SILVA, p1, 2010). Esta, sempre foi menosprezada
e mais sofrida do que o próprio homem, não só pela condição de ser mulher, mas
também pela sua cor.
22No Brasil os quilombos surgiram entre os séculos 16 e 19, eram onde os escravos se refugiavam
em busca de uma nova forma de vida. Os escravos fugiam de seus senhores e procuravam
os quilombos para e esconder dos capitães do mato e outras pessoas que tivessem interesse em
capturá-los novamente.
35
presente trabalho, entretanto, ainda assim, se você fosse branca, teria mais aparição
como ser humano, do que se fosse negra.
Isso pode ser exemplificado por Guimarães (1999) em que a raça é algo que
se adquire através do preconceito, pois é determinado aquilo que é diferente do
“normal”, sendo identificado como o diferente do aceito pela sociedade,
A mulher negra sempre teve de lutar mais pelos direitos sociais mínimos de
sobrevivência que decorrem das próprias exigências do capital por conta sua cor e
sua condição de ser mulher, dentro do sistema capitalista tal como ela se constitui
atualmente. A obrigação de se ter de lutar para adquirir direitos básicos, se deu por
23
Nísia Floresta Brasileira Augusta, pseudônimo de Dionísia Gonçalves Pinto, foi uma educadora,
escritora, poetisa e primeira educadora feminista no Brasil.
36
Na primeira metade do século XX, a FNB foi a mais importante entidade negra
do país. Com “delegações” – espécie de filiais – e grupos homônimos em diversos
estados (Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Pernambuco, Rio Grande do
Sul e Bahia),19 arregimentou milhares de “pessoas de cor”, conseguindo converter o
Movimento Negro Brasileiro em movimento de massa. 24
24
José Correia Leite e Renato Jardim Moreira, Movimentos sociais no meio negro, São Paulo,
mimeog, s/d. uma bibliografia não desprezível já se ocupou da Frente Negra Brasileira. Ver F.
Fernandes, A integração do negro..., op. cit., p. 1-115; José Carlos Gomes da Silva, Os suburbanos e
a outra face da cidade. Negros em São Paulo: cotidiano, lazer e cidadania (1900-1930), Campinas,
Dissertação de Mestrado, Unicamp, 1990, p. 162-180; R. P. Pinto, O movimento negro..., op. cit., p.
87-124; Marcelino Félix, As práticas político-pedagógicas da Frente Negra Brasileira na cidade de
São Paulo (1931-1937), São Paulo, Dissertação de Mestrado, PUC 2001; Laiana Lannes de Oliveira,
A Frente Negra Brasileira: política e questão racial nos anos 1930, Rio de Janeiro, Dissertação de
Mestrado, UERJ, 2002; Maria Aparecida Pinto Silva, A voz da raça: uma expressão negra no Brasil
que queria ser branco, São Paulo, Tese de Doutorado, PUC, 2003; Petrônio Domingues, A
insurgência de ébano. A história da Frente Negra Brasileira (1931-1937), São Paulo, Tese de
Doutorado, FFLCH-USP, 2005.
37
De cada 100 pessoas que sofrem homicídio no Brasil, 71 são negras e entre os
mortos nos homicídios registrados de 2005 a 2015, o número de brancos caiu 12%. E
o de negros, aumentou 18%.29
No Brasil, a taxa de feminicídios é de 4,8 para 100 mil mulheres – a quinta maior
no mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Na mesma
década, foi registrado um aumento de 190,9% na vitimização de negras, índice que
resulta da relação entre as taxas de mortalidade branca e negra.
<http://www.agenciapatriciagalvao.org.br/dossie/violencias/violencia-e-racismo/#apresentacao e
http://fopir.org.br/wp-content/uploads/2017/01/Dossie-Mulheres-Negras-.pdf>
29
Levantamento da ONG Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
39
cena feminina através dos estudos sobre mulher nas sociedades periféricas
(SARTI, p 38, 1988)
Marielle morreu porque foi vítima do racismo? Do Feminicídio? Por que era
ativista dos direitos das populações negras, ou porque defendia a garantia
dos direitos humanos? Certamente, a execução dela não se enquadra em
nenhum desses motivos isoladamente, mas no conjunto ou na intersecção
formada por eles.(...) O assassinato de Marielle Franco é uma tentativa de
matar a luta e a esperança em cada uma de nós, e de reinstaurar as relações
rígidas e desiguais de poder na sociedade brasileira. (FIGUEIREDO, p 1082,
2018)
O crime contra Marielle tem como objetivo político enviar uma mensagem com
vistas a silenciar o atuante e combativo movimento de mulheres negras em todo o
país, isso porque “quando as mulheres negras se movem, toda a estrutura política e
A ministra Nilma Lino Gomes que estava presente no evento deu sua palavra
de apoio e incentivo aos participantes para que continuem lutando pelos seus direitos:
“Sabemos da luta que foi para cada uma estar aqui neste momento. A luta nos
estados, nos municípios e a luta cotidiana. Hoje, nós, mulheres negras brasileiras,
mostramos para o Brasil e para o mundo a nossa força, a nossa garra, a nossa
persistência e mostramos que nós temos lugar nessa sociedade. E o lugar da mulher
negra é o lugar em que ela quiser estar.” (SEPPIR, 2015)
Algo que conta muito como canal de comunicação, atualmente no século XXI,
são as mídias sociais; e segundo estudo divulgado eMarketer36 coloca o Brasil como
os principais usuários de redes sociais em toda a América Latina.
Internacionalmente falando, é notável que a imagem brasileira não seja tão boa
considerando o cenário político, social, educacional, de segurança, etc, pois o que
mais chama atenção são as notícias ruins. Assim, é importante que o Brasil se
imponha desta forma, com manifestações, revoltas e com a população indo em
encontro aos seus direitos, para que a imagem vítima e dependente dos europeus,
por exemplo, devido a colonização, possa desaparecer.
36
A eMarketer é uma empresa de pesquisa de mercado subsidiária de 93% que fornece informações
e tendências relacionadas a marketing digital, mídia e comércio. A eMarketer, fundada em 1996, está
localizada em Nova York, NY.
42
43
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No presente trabalho, foi discutida a vida das mulheres como tal, desde o
surgimento do termo “feminismo”, e o porquê de ele ter surgido, e assim, sendo capaz
de compreender que devemos reconhecer os direitos que temos hoje. Muitas
mulheres sofreram para chegarmos onde estamos, através de lutas, manifestações,
levando importantes temas para serem discutidos e defendidos como o direito ao voto,
ao casamento, direito a trabalhar e de não ser submissa a ninguém.
Podemos destacar que a sabedoria de cada uma, é válido que estas sejam
levadas em conta, pois as mulheres escolhidas para este trabalho, foram mulheres
que viveram (e ainda vivem) os preconceitos por serem negras, e têm propriedade
naquilo que estão relatando.
informações que foram mostradas aqui, pois estas, retiradas de fontes confiáveis, nos
provam que o país que vivemos ainda precisa crescer e muito quando se trata de
respeito ao próximo. Ainda mais se o próximo for uma mulher, e negra.
Quem sabe, em um futuro não tão distante, a sociedade evolua como tal e
comece a entender que são as diferenças que nos fazem únicos e ninguém deveria
ser punido ou discriminado por causa disso. Não é possível mudar a bagagem que
carregamos devido ao passado, mas as ações futuras de como encaramos injustiças
sendo feitas, só dependem de nós.
REFERÊNCIAS