Caro Grêmio Recreativo Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro, meu nome é
Gabrielle Nogueira, sou estudante de Licenciatura em Teatro pela Unirio, professora de artes cênicas e palhaça. Venho através dessa mensagem, pretendo dividir questões que surgiram a mim em relação ao tema que a escola se proporciona esse ano (2020). Por intermédio desta comunicação procuro trazer um elogio, dividir uma visão e fazer um pedido. Sendo uma artista preta, não pude deixar de emocionar ao saber que o samba-enredo esse ano contaria a história de Benjamin de Oliveira e traria a público essa figura revolucionária e essencial para a construção da arte brasileira que, infelizmente, é pouco comentado devido a ocultação histórica das figuras negras. Confio que esse desfile traga a público a importância de sua trajetória e a forma de como ele se reflete para o contexto atual, onde a cultura sofre nítidas perseguições e a maioria populacional ─ majoritariamente negra ─ está sujeita a intolerâncias e perseguições de diversos tipos. Desde 2016 estudo palhaçaria, através dela, trabalhei em ONGs na Zona Oeste do Rio de Janeiro e estive presente em comunidades e hospitais infantis. Utilizando as técnicas do palhaço e a educação teatral como forma de levar a arte popular para áreas carentes, amenizar a enfermidade de crianças e trazer um melhor entendimento do humor e do riso para as pessoas. De forma que não seja ofensivo e que desperte a criação e a aceitação. O que me leva a citação do ativista Martin Luther King, no qual diz que: A salvação humana está nas mãos das pessoas desajustadas e criativas.” Dessa forma, gostaria de me permitir a fazer um pedido. Admito que tenho um enorme desejo em poder participar dessa história que está sendo cantada e desse desfile que será, creio eu, que será histórico. Não apenas pelo glamour e alegria de participar de um desfile de carnaval, mas principalmente para poder contar e participar de uma narrativa que já posso considerar como minha. Tomando a liberdade de honrar nossa ancestralidade para construirmos uma educação artística e um futuro anti-racista. Reconheço e compreendo que há uma prioridade aos moradores e aos envolvidos com a elaboração e realização do desfile. Porém, abertamente declaro meu desejo e vontade de participar de um projeto no qual o negro não sai de cartaz e merecidamente tem sua representação à altura de sua importância. Consigo garantir dedicação, comprometimento e o peito repleto de amor para valer a lição desse nobre palhaço. Fazendo jus a nossa história ─ a do carnaval, palhaçaria e a luta racial ─ e honrando a admirável Escola de Samba do Salgueiro.