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Reflexões previas sobre a Institucionalidade cultural

O tema deste módulo permite situar muitos conceitos que trabalharemos


durante o curso. Não podemos ficar somente com uma leitura superficial
e é preciso aprofundar nas múltiplas dimensões da institucionalidade no
setor da cultura. Para isto é preciso analisar internamente as formas de
institucionalidade e aplicar o método comparativo para extrair
conhecimento de outras formas com bons resultados para aplicar e
entender em nosso contexto.

Podemos entender a institucionalidade como um conjunto de leis, normas


e estruturas administrativas ou como um aglomerado de organizações,
equipamentos e serviços que uma comunidade, ou melhor um país, tem
criado ao longo da sua história. Mais não podemos ficar nesta leitura mais
formal ou convencional senão abrir-nos a outras perspectivas.

Toda institucionalidade cultural está muito influenciada por seus


antecedentes e processos históricos, onde joga um papel muito
importante os momentos e os modos da sua constituição como sociedade
e o nível de marco democrático ou autoritário do seu contexto.

A institucionalidade dum país, ou duma comunidade, não explica tudo da


sua cultura, é a resposta do Estado a uma situação dum contexto
determinado. Por isto a institucionalidade está muito relacionada com o
poder político, como do poder das elites dirigentes ou grupos de pressão.
Também pode estar sequestrada por coletivos específicos, às vezes com
boa vontade ou “bons sentimentos” a partir de posições eruditas,
acadêmicas, artísticas, etc.., como a pretensão legitima de defensa do seu
campo , mas também como um exercício de poder. Não podemos
esquecer a relação entre institucionalidade cultural e autoritarismos que
nossa historia nos mostra com muitos exemplos.

A Institucionalidade não resolve o tema dos diretos fundamentais das


pessoas e a sua consideração como cidadania democrática. Ao contrário a
institucionalidade deve submeter-se aos direitos num entorno
democrático. Não podemos esquecer uma relação muito intensa entre
institucionalidade e poder, porque o seu surgimento aparece pela
necessidade de consolidar o projeto político do Estado nação nos
passados séculos.

Por isto é importante situar, na contemporaneidade, a institucionalidade


como a expressão dum contrato social em cultura nos países
democraticamente avançados. Um contrato social que se fundamenta
nos direitos humanos e culturais onde a institucionalidade pode ser uma
forma de manifestar o papel de garantia e salvaguarda do Estado ao
exercício destes direitos. Um compromisso de serviço com a cidadania,
como coletivo, e um compromisso com as pessoas como indivíduos. Neste
sentido temos que entender a institucionalidade como um amplo campo
de possibilidades: estruturas, organizações, leis, serviços, equipamentos,
normas, etc..., com uma mesma intencionalidade de serviço público e de
interesse geral. Graças a sua formalidade, a institucionalidade pode
aportar estabilidade, permanência e seguridade ante situações conflitivas,
ou ante tentações autoritárias.

A institucionalidade cultural, na atualidade, há de estabelecer um marco


de ação para os agentes culturais e umas formas de relação entre eles.
Como umas regras de jogo para regular a participação e a contribuição dos
atores culturais à vida cultural em todos seus aspectos. Esta é uma das
suas funções essenciais em contextos democráticos. Uma
institucionalidade ao serviço dos agentes, não de costas à vida cultural.

A institucionalidade incide na parte mais formal dos funcionamentos


culturais e não entra em todas as dimensões da vida cultural das pessoas,
ainda que pode ter influência.

A institucionalidade cultural, como em outros campos, tem uma grande


dificuldade de mudança ( resistência ), e de adaptação ao presente ( olhar
ao passado), e pouca capacidade de prever ou futuro ( tendência ao
conservadorismo e a tradição). Pode ser um valor como pode ser um
impedimento para a evolução do sistema ou para aceitar reformas. Muitas
vezes na institucionalidade o passado é o fundamento e o futuro se vive
como um risco inecessário que é a base da falta ou de baixa inovação no
setor da cultura.
Nestes momentos se exige uma evolução de institucionalidade tradicional
do Estado Nação a formas e estruturas contemporâneas adaptadas às
necessidades das políticas culturais atuais.

Os novos modelos vão a ter em conta um novo contrato social, que pode
ser positivo ou negativo depende do novo rol ao Estado e a evolução do
rol da cultura nas politicas públicas. Mas o que observamos é uma
tendência a entender uma nova institucionalidade mais ligeira, mais leve
sem grandes estruturas e com uma perspectiva temporal diferente. É dizer
um conjunto de ações não permanentes (temporais), mobiles, direitas aos
processos de criação e á vezes mais informais.

Também podemos entender a institucionalidade como uma forma de


comunicação exterior, onde se projeta à própria população, e a outros
países, uma forma de entender a cultura desde uma posição de
apresentar as diferenças e as idiossincrasias.

Como vocês podem constatar estamos num momento crítico onde a


institucionalidade é imprescindível para manter certos aspectos das
políticas culturais, mas também constatamos a necessidade duma
mudança profunda dos tradicionais formas de nossas institucionalidades.
Este é o encargo social á gestão cultural.

Alfons Martinell

2017

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