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DIREITO CIVIL I

PROFESSOR: ADOLFO AMARO MENDES


SÉTIMA AULA (7ª) AULA (19-SETEMBRO-2.005)

SÉTIMA (7ª) AULA (19-SETEMBRO-2.005)


CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
Pessoas jurídicas: natureza, classificação.

CONCEITO
São entidades as quais a lei atribui personalidade jurídica diversa da dos indivíduos que as compõe e
que atuam na vida jurídica, capazes de serem sujeitos de direitos e obrigações na ordem civil, art. 40 a
52 CCB.
A lei lhes empresta capacidade para serem titulares de direitos, visando à proteção dos interesses
humanos, art. 966 a 1195 CC.
Capacidade da pessoa jurídica: decorre da personalidade que a ordem jurídica lhe reconhece por
ocasião de seu registro; essa capacidade estende-se a todos os campos do direito; pode exercer todos os
direitos subjetivos, não se limitando à esfera patrimonial; tem direito à identificação, sendo dotada de
uma denominação, de um domicílio e de uma nacionalidade; a pessoa jurídica tem capacidade para
exercer todos os direitos compatíveis com a natureza especial de sua personalidade.

Na maioria dos casos tais entes, são constituídos pela união de alguns indivíduos, sem que se confunda
a personalidade destes, com a daqueles. Ex.: O acionista de uma empresa não se confunde com esta,
nem o sócio de um clube, ou cotista de uma sociedade limitada, porque possui personalidade
diferente, arts. 966, 972/3, 981, 991, 997e 1.022 a 1.024.

Requisitos para a constituição:


a) affectio societatis;
b) vontade humana criadora.
c) observância legal.
d) finalidade licita.

NATUREZA JURÍDICA - Três são as teorias que admitem a personificação da pessoa jurídica:

1a. Teoria da Ficção – de F V B Savigny, explica a natureza da pessoa jurídica, considerando-


a uma abstração. Para ele, não tem existência real, é artificialmente criada pela lei, tratando-se,
portanto, de ficção legal;
2ª. Teoria da Equiparação – de Windscheid e Brinz, entende que a pessoa jurídica é um
patrimônio equiparado no seu tratamento jurídico às pessoas naturais. É inaceitável porque
eleva os bens à categoria de sujeitos de direitos e obrigações, confundinco pessoas e coisas;
3a. Teoria da Realidade Objetiva ou Orgânica - de Giorgi e Gierke" e Zitelmann, esta,
admite a existência da pessoa jurídica, socorrendo-se do analogismo com os seres humanos.A
idéia básica dessa teoria, é a de que pessoas jurídicas, longe de serem mera ficção, são uma
realidade sociológica, seres com vida própria, que nascem por imposição das forças sociais; e a
4a. Teoria da Realidade Técnica - de Hauriou e Ferrara, entende que a realidade das
pessoas jurídicas não é objetiva, mas sim, um expediente de ordem técnica e útil para alcançar
indiretamente alguns interesses humanos (A QUE MELHOR ATENDE À ESSÊNCIA DA
PESSOA JURÍDICA)

CLASSIFICAÇÃO

QUANTO À NACIONALIDADE:
Qualifica-se a pessoa jurídica como nacional ou estrangeira, tendo em vista sua articulação,
subordinação á ordem jurídica que lhe conferiu personalidade, sem se ater, regra, à nacionalidade de
seus membros e à origem do controle finacneiro (LICC, art. 11; CF, arts. 176, § 1º e 222: Lei nº
10.149/2000, art. 1º, que alterou o art. 2º, §§ 1º e 2º da Lei 8.884/94 e CC, arts. 1.126 a 1.141). Podem
ser pois:
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a) Nacional e;
b) Estrangeira.

NACIONAL é organizada conforme a lei brasileira e tem no País a sede de sua administração
(CC, arts 1.126 a 1.133).

SOCIEDADE ESTRANGEIRA.
A sociedade estrangeira, não poderá, sem autorização do Poder Executivo, funcionar no País,
ainda que por estabelecimentos subordinados, podendo, todavia, ressalvados os casos previstos em lei,
ser acionista de sociedade anônima brasileira. Sujeita-se à lei e à Justiça brasileiras quanto aos atos
aqui praticados e deverá ter representante no Brasil e poderá nacionalizar-se, transferindo sua sede para
o Brasil (CC, arts. 1.134 a 1.141).
No dia 11 de Janeiro de 2003, novo Código Civil brasileiro (Lei 10.406 de 2002, de ora em
diante NCC) entrou em vigor. O NCC traz profundas mudanças no regime das sociedades, no Brasil.
Estas mudanças afetam sobretudo as sociedades por quotas, de responsabilidade limitada, que aliás
passam a denominar-se apenas sociedades limitadas.
Pretende analisar-se essas mudanças do ponto de vista do impacto que podem ter para os
investidores estrangeiros, que são titulares de uma participação no capital social, de sociedades no
Brasil. Estas mudanças dizem respeito a dois aspectos fundamentais. Por um lado, as regras relativas à
possibilidade de participação de sociedades estrangeiras, enquanto sócias, de sociedades brasileiras.
Por outro lado, a mudança diz respeito aos direitos e deveres do investidor estrangeiro, enquanto sócio,
da sociedade brasileira.
Possibilidade de participação de sociedades estrangeiras, enquanto sócias, de sociedades
brasileiras.
Até agora, a atuação das sociedades estrangeiras no Brasil estava regulada apenas por duas
normas:

a) A primeira, a Lei de Introdução ao Código Civil (Decreto-Lei 4.657 de 1942);


b) A segunda, os artigos 60 e 64 a 72 do Decreto Lei 2.627 de 1940, a antiga Lei das
Sociedades por Ações, mantidos em vigor pela Lei 6.404/76, a atual Lei das Sociedades por
Ações.

Agora, o NCC veio regulamentar a atuação das sociedades estrangeiras no Brasil. Giza o art.
1.134 do NCC:

“A sociedade estrangeira, qualquer que seja o seu objeto, não pode, sem
autorização do Poder Executivo, funcionar no País, ainda que por
estabelecimentos subordinados, podendo, todavia, ressalvados os casos
expressos em lei, ser acionista de sociedade anônima brasileira.”

Uma primeira leitura do art. 1.134 do NCC indica que o mesmo parece limitar a participação da
sociedade estrangeira, enquanto sócia, às sociedades anônimas. Assim, uma sociedade estrangeira
somente poderia ser sócia, no Brasil, de sociedades anônimas. Deste modo, ficaria excluída a
participação da sociedade estrangeira, enquanto sócia, nas sociedades por quotas, de responsabilidade
limitada (sociedades limitadas, na nova terminologia do NCC) e nos demais tipos societários.
No entanto, a redação deste artigo tem que ser examinada com prudência. Em primeiro lugar,
cabe esclarecer que o art. 1.134 é quase a transcrição da regra anterior, contida no art. 64 do Decreto-
Lei 2.627 de 1940. Com efeito, o art. 64 do Decreto-Lei 2.627, estipulava: “As sociedades anônimas
ou companhias estrangeiras, qualquer que seja o seu objeto, não podem, sem autorização do Governo
Federal, funcionar no País, por si mesmas, ou por filiais, sucursais, agências, ou estabelecimentos que
as representem, podendo todavia, ressalvados os casos expressos em lei, ser acionistas de sociedade
anônima brasileira.”. Ora, apesar do teor do art. 64 do Decreto-Lei 2.627, de 1940, no período que se
seguiu a 1940 jamais foi impedida a participação das sociedades estrangeiras (seja sob a forma de
sociedades anônimas seja sob outras formas), enquanto sócias, de sociedades por quotas, de
responsabilidade limitada ou ainda enquanto sócias de outros tipos societários.
Em segundo lugar, é preciso levar em consideração que a referência às sociedades anônimas
explica-se, no regime do Decreto-Lei 2.627, pelo fato deste Decreto-Lei cuidar apenas das sociedades

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anônimas. Assim, não teria sentido fazer referência, no Decreto-Lei 2.627, à participação das
sociedades estrangeiras, como sócias, em outras sociedades, além das sociedades anônimas.
Com o NCC, o que simplesmente ocorreu foi uma má técnica legislativa. Houve a reprodução
quase literal da regra – contida no art. 64 do Decreto-Lei 2.627, e portanto restrita às sociedades
anônimas – numa norma mais geral, que cuida de outros tipos de sociedades. Houve, portanto, um
manifesto lapso legislativo, pois o NCC deveria simplesmente referir a possibilidade da sociedade
estrangeira atuar, no Brasil, na qualidade de sócia, de sociedade brasileira de qualquer tipo, e não
apenas de sociedade anônima brasileira. Isto porque o NCC cuida de outros tipos societários, além da
sociedade anônima.
Conteúdo da participação do investidor estrangeiro, na vida da sociedade brasileira.
As principais mudanças introduzidas pelo NCC nos direitos e deveres do investidor estrangeiro
nas sociedades limitadas brasileiras dizem respeito a dois pontos importantes:

a) A administração da sociedade brasileira e;


b) as deliberações sociais.

Quanto à administração das sociedades, as principais mudanças são (I) a supressão da


obrigatoriedade da gerência ser exercida apenas pelos sócios, (II) a exigência de que os gerentes (agora
denominados administradores) sejam pessoas físicas, (III) a supressão do regime da gerência por
delegação.
Consequentemente, para o investidor estrangeiro, que é normalmente uma sociedade
estrangeira, o NCC implica na desnecessidade de figurar no contrato social como sócia-gerente (agora,
sócia administradora) e de recorrer ao mecanismo da gerência por delegação. No regime do NCC, o
investidor estrangeiro poderá nomear, como administrador da sociedade brasileira, uma pessoa que não
seja sócia. As únicas exigências são (I) que esta pessoa seja uma pessoa física e (II) que esta pessoa
física seja residente e domiciliada no Brasil.
No tocante às deliberações sociais, é importante salientar que o NCC modificou, entre outros
pontos, o quorum das deliberações. No regime anterior ao NCC, havia apenas um quorum de
deliberação. O(s) sócio(s) titular(es) de 50% + 1 do capital social era(m) titular(es) do controle da
sociedade. Assim, cabia a esse(s) sócio(s) alterar(em) o contrato social (aumentar ou reduzir o capital
social), nomear os gerentes, autorizar a cessão das quotas, etc.
No regime do NCC, o quorum das deliberações sociais foi modificado e varia, consoante as
deliberações. Assim, é importante salientar que qualquer alteração do contrato social passa a necessitar
da aprovação dos sócios titulares de 3/4 do capital social. O resultado desta nova regra, para o
investidor estrangeiro, varia consoante a participação do mesmo no capital social da sociedade
brasileira. Se o mesmo é atualmente titular de 75% ou mais do capital social, sob este ponto de vista, a
situação não se modifica. Se o mesmo é atualmente titular de um percentual maior do que 50% e
menor do que 75%, o investidor estrangeiro corre o risco de – se não tomar as medidas adequadas –
perder o controle da sociedade brasileira. Se o investidor estrangeiro é titular de 50% ou menos e de
mais de 25% do capital social, o investidor estrangeiro adquire novos poderes na sociedade brasileira,
pois a sua colaboração é necessária para a modificação do contrato social. Se o investidor estrangeiro é
titular de menos de 25% do capital social, a sua situação não se modifica no que diz respeito à
alteração do contrato social.
Outro ponto relevante, diz respeito às deliberações para a designação de administradores não
sócios. O NCC exige a designação por deliberação da totalidade dos sócios (quando o capital social
não estiver integralizado) ou por deliberação de sócios que representem 2/3 do capital social (quando o
capital social estiver integralizado). Esta situação interessa bastante às sociedades estrangeiras, pois a
nomeação do administrador não sócio dependerá da concordância dos sócios que sejam titulares de 2/3
do capital social da sociedade brasileira. Aliás, se houver um aumento do seu capital social sem haver
imediata integralização ou se a sociedade for constituída sem que o seu capital social seja totalmente
liberado, a nomeação de um administrador dependerá da concordância de todos os sócios. Assim,
dependendo da sua participação no capital social, a sociedade estrangeira, poderá estar impedida de,
sozinha, nomear o administrador. Por outro lado, se a sociedade estrangeira não tiver a maioria do
capital social, ela passa a ter acesso a essa nomeação.
Ainda no campo das deliberações relativas à administração da sociedade, é importante frisar
que o NCC estabelece o quorum de 2/3 do capital social para a destituição de sócio que seja nomeado,
no contrato social, administrador da sociedade. Deste modo, é preciso ter cautela no caso de uma
sociedade brasileira que tenha como sócios, por um lado, uma pessoa física residente no Brasil, titular

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de mais de 33% do capital social e, por outro lado, uma sociedade estrangeira titular do restante do
capital social.

QUANTO À ESTRUTURA INTERNA:

a) Universitas personarum: que é a corporação, um conjunto de pessoas que, apenas


coletivamente, goza de certos direitos e os exerce por meio de uma vontade única (ex.:
Associações e Sociedades);
b) Universitas bonorum: que é o patrimônio personalizado destinado a um fim que lhe dá
unidade (ex.: Fundações).

QUANTO ÀS FUNÇÕES E CAPACIDADE:

a) Direito Público: Interno ou Externo;


b) Direito Privado.

1. Direito Público:
a) Externo : Países Soberanos e Organizações Internacionais (ONU, OMS, OIT,
etc);
b) Interno: União, Estados, Municípios/Distrito Federal e Autarquias:

2. Direito Privado:
a) Sociedades com fins econômicos: Civis e Comerciais.
c) De natureza Associativa: Sociedades sem fins econômicos: Associações e;
d) Universalidade de bens : Fundações.

PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PÚBLICO INTERNO


A pessoa jurídica de direito público interno por excelência, é o Estado, isto é, a nação
politicamente organizada (União, Distrito Federal, Estados, Municípios e seus órgãos
descentralizados, criados por lei, com personalidade jurídica própria para o exercício de atividades
de interesse público, como autarquias, INSS, OAB, USP, Embratur, CADE e as Fundações Públicas).
Nos Estados de forma federativa, a pessoa jurídica desdobra-se. Por essa razão, são também
pessoas jurídicas, os Estados-membros e os municípios.
Atualmente, tendo em vista a complexidade da administração pública, criaram-se organismos
paraestatais, que, exercendo função pública, gozam de personalidade própria, atribuída para facilitar a
ação administrativa.
São entes, pessoas jurídicas de direito público: as autarquias e as instituições de interesse geral,
que hoje são inúmeras, tais como: instituto de previdência e assistência social “INSS", instituição de
disciplina das atividades econômicas "BACEN", estabelecimento de crédito popular "CEF",
universidades etc.

PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PÚBLICO EXTERNO/INTERNACIONAL


São os Estados Estrangeiros em relação ao Brasil (e o próprio Brasil)

PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PRIVADO


Dividem-se em:
a) Fundações particulares;
b) Associações e;
c) Sociedades.

As pessoas jurídicas de direito privado caracterizam-se pela qualidade da iniciativa de sua


criação, não importando o fim a que se destinam, importa isto sim, que sejam fruto da iniciativa
privada.

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ASSOCIAÇÕES
Plena é a liberdade de associação para fins lícitos (CF, art. 5º, XVII).
Constituem-se por um grupo de pessoas, que põem em comum sua atividade, para realizar
determinado fim, que não a partilha de vantagens econômicas/empresariais, art. 53 a 61 CCB.
Caracteriza-se este tipo de pessoa jurídica, pela ausência da intenção de dividir lucros, o que
não importa que se constitua um patrimônio e que os seus membros concorram para tanto, mediante
pagamento de contribuições em dinheiro, mensal ou anualmente.
Somente as associações podem ser reconhecidas como de utilidade pública.
As associações não estabelecem direitos e obrigações recíprocas entre os seus sócios e
constituem-se através da aprovação do estatuto em assembléia dos sócios fundadores.
Constam do estatuto: a denominação, a finalidade e a sede, as condições para admissão e
demissão dos associados, a enunciação dos seus direitos e deveres, as fontes de recursos, o modo de
constituição dos órgãos administrativos e as condições para dissolução.
O fim é o ideal, que pode ser: religioso, cultural, político, assistencial ou esportivo.

SOCIEDADES CIVIS
Constituem-se pela união de duas ou mais pessoas, que põem em comum sua atividade ou
determinados recursos, com o objetivo de partilhar lucros.
São sociedades as que se constituem para o exercício de certas profissões, para propriedade de
certos bens ou para exploração de uma atividade estranha ao direito comercial. Ex.: Intermediação de
imóveis, empresas prestadoras de serviços, etc..
As sociedades podem ser:

a)Comerciais/mercantis/empresárias e;
b)Civis ou simples;
c) Partidos políticos (Lei 9.096/95, art. 1º; CF, art. 17, I a IV, §§ 1º a 4º; CC, arts.
2.031 a 2.034), que atualmente, ante o disposto no art. 17, § 2º, da CF, têm natureza de
associação civil, sendo pessoa jurídica de direito privado.

Nas sociedades civis, o proveito a ser obtido pelos sócios, decorre da atividade desenvolvida,
enquanto que nas sociedades mercantis, o lucro é o objeto social, o objetivo único.
As sociedades civis podem ser:
Universais; quando compreendem todos os bens presentes e futuros dos sócios, ou ainda,
somente os bens presentes, ou os futuros e todos os frutos e rendimentos.
Particulares; quando compreendem parte dos bens dos sócios, podendo revestir-se de forma a
caracterizar uma sociedade mercantil.
Tanto as sociedades mercantis como as civis, necessitam de apport participação dos sócios,
que pode ser em dinheiro, bens ou trabalho.
A finalidade é o proveito comum dos sócios.
Obs: Somente as sociedades empresariais/mercantis, estão sujeitas ao instituto da falência.
SOCIEDADE SIMPLES, visa a fim econômico ou lucro, a ser repartido pelos sócios, sendo
alcançado pelo exercício de certas profissões ou pela prestação de serviços técnicos (CC, arts. 997 a
1.038), como por ex., uma sociedade imobiliária, uma sociedade que presta serviços de pintura,
terraplanagem, cooperativa.
SOCIEDADES EMPRESÁRIAS, visam lucro, mediante exercício de atividade mercantil,
assumindo as formas de :
Sociedade em nome coletivo;
Sociedade em Comandita simples;
Sociedade limitada;
Sociedade anônima ou por ações.

Empresa pública: é a entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado, com patrimônio
próprio e capital exclusivo do Poder Público criada por lei para a exploração de atividade econômica
que o governo seja levado a exercer por força de contingência ou de conveniência administrativa,
podendo revestir-se de qualquer das formas admitidas em direito.
Sociedade de economia mista: é a entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado criada
por lei para a exploração de atividade econômica, sob forma de sociedade anônima, cujas ações com
direito a voto pertençam em sua maioria do Poder Público ou à entidade de Administração Indireta.

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FUNDAÇÕES
Trata-se de um tipo especial de pessoa jurídica, que não se forma pela associação de pessoas,
nem é um conjunto de vontades e sim a vontade de uma só pessoa, que destina um patrimônio para
certo fim. Cujo propósito é atender uma categoria particular de indivíduos, art. 62 a 69 CCB.
Requisitos: 1º. um patrimônio; e
2º. um fim específico.
A personalização do patrimônio afetado para este fim, deve ser consentida unicamente quando
se destine a obras de interesse social. A Fundação deve ter interesse social.
fundação é o conjunto de bens destinados a um fim. Para surgir uma fundação é preciso existir
um fundador ( ou instituidor ) que pode ser o estado, como pessoa jurídica de direito privado, ou uma
pessoa natural.
Cinco são os requisitos que compõem a estrutura de uma fundação:

a) Patrimônio de bens livres;


b) Ato constitutivo ( é o documento escrito onde o instituidor constitui a
fundação. Pode ser escritura pública ou testamento );
c) Declaração do fim ( a que se destina a fundação );
d) Estatutos ( conjunto de regras pelas quais será administrado e aplicado o
patrimônio );
e) Administração ( composta de pessoas naturais, que agem em nome da
entidade jurídica, gerindo-lhe o patrimônio e dando-lhe a aplicação ao fim que se
destina).

Atendidos os requisitos acima, a constituição definitiva das fundações se dará com a aprovação
de seus estatutos pela autoridade competente - que é o Ministério Público - após o que será feito o
registro para que a fundação adquira personalidade.
Com relação aos estatutos, eles poderão ser formulados pelo próprio instituidor. Se não forem,
sê-lo-ão por aqueles a quem foi cometida a aplicação do patrimônio. O estatuto deverá ser formulado
de acordo com as bases estabelecidas pelo instituidor no ato constitutivo. Em seguida o estatuto será
submetido ao Ministério Público para aprovação. Ainda se não forem elaborados por aqueles que
devem aplicar o patrimônio, cabe ao Ministério Público elaborar o estatuto.
Mas o Ministério Público poderá denegar a aprovação do estatuto, o qual será suprida pelo Juiz
competente.
Pode acontecer que os bens doados para constituirem o patrimônio da fundação sejam
insuficientes para a realização do fim determinado pelo instituidor. Se outra coisa não dispuser o
instituidor, os bens serão incorporados em outra fundação que se proponha a fim igual ou semelhante
(CC, art. 63).
As fundações são submetidas à fiscalização do poder público. Para a sua constituição elas não
carecem de autorização do governo. A referida fiscalização se faz por intermédio do Ministério
Público, aprovando os estatutos e sua reformas, etc. A incumbência da fiscalização está determinada
no art. 26, CC.
Diz o art. 67, CC que: Para se poderem alterar os estatutos da fundação é mister:

I - que a reforma seja deliberada por dois terços (2/3) dos competentes para
gerir e representar a fundação;
II - que não contrarie o fim desta;
III - que seja aprovada pela autoridade competente(Ministério Público e se
negada pelo Juiz).

Mas a minoria vencida na modificação dos estatutos poderá, no prazo de dez (10) dias, pedir a
nulidade ao juiz competente. Este Juiz apreciará as razões apresentadas pela minoria e decidirá se a
reforma deve ou não prevalecer.
As fundações se extinguem de dois modos: 1º, por ser nociva ou impossível a sua mantença; 2º,
pelo vencimento do prazo.
A verificação dessas causas de extinção cabe ao Ministério Público, ou qualquer interessado e,
neste caso os bens serão incorporados em outra fundação que se proponha a fim igual ou semelhante.

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EXISTÊNCIA DA PESSOA JURÍDICA
A pessoa jurídico de direito público, começa a existir, por fatos históricos e políticos, por sua
criação constitucional, leis especiais ou tratados internacionais.
A pessoa jurídica de direito privado começa a existir (personalidade):

a) ato constitutivo, ou contrato


c) inscrição do ato no registro público.

A constituição da pessoa jurídica dá-se através do ato constitutivo, ou contrato, que nada
mais é, do que o ato jurídico bilateral para as associações e sociedades e o ato jurídico unilateral, no
caso das fundações.
A inscrição do ato no registro público, visa a identificação e a publicidade como formalidade
prevista em lei, termo a partir do qual, a personalidade jurídica passa a existir.
O ato constitutivo exige para sua constituição a forma escrita.

SEDE /DOMICÍLIO
É o lugar de sua sede social, também conhecido como domicílio voluntário, admitindo-se a
pluralidade de domicílios. É o local de suas atividades habituais, de seu governo, administração ou
direção. No caso de filiais, escritórios de representação, departamentos (pluralidade de domicílios –
art. 75, § 1º, CC), podem ser demandadas no foro em que tiverem praticado o ato.
A empresa estrangeira que opere ou tenha filial, agência sucursal, escritório, agente ou
representante no Brasil, reputa-se domiciliada no Brasil (Lei nº 8.884/94, com redação dada pela Lei
10.149/2000, art. 2º, § 1º).

FUNCIONAMENTO
Se dá através dos órgãos definidos pelo estatuto, tais como: assembléia, conselho deliberativo e
diretoria nas associações.
Nas sociedades, o funcionamento se dá através da designação pelo contrato social, por gerentes
e diretores.
Nas fundações, o funcionamento condiciona-se à possibilidade de sua mantença.
A finalidade da fundação, restringe o poder deliberativo dos seus administradores.

RESPONSABILIDADE
a) Contratual - deve cumprir o disposto nos contratos celebrados. Têm responsabilidade objetiva
por fato e por vício do produto e do serviço (Lei 8.078/90, arts. 12 a 25);
c) Extracontratual –
Direito Privado: respondem pelos atos iklícitos praticados por seus representantes, desde que
haja culpa in eligendo, in vigilando (CC, arts. 931, 932, III, 933, 186 e 927);
Direito Público: pela teoria do risco integral, devem indenizar todos os danos que seus
funcionários nessa qualidade causarem, por atos comissivos, tendo ação regressiva contra os
mesmos, no caso e culpa e dolo, daí ser objetiva a responsabilidade (CC, art. 43; CF, art.37, § 6º);
d) Delitual: podem ter imputabilidade criminal, estando sujeitas à responsabilidade penal (Lei nº
9.605/98, art. 3º) e podem exercer ações penais (CPP, art. 37). A responsabilidade penal é de
seu representante, por ex., arts. 61 a 80 da Lei 8.078/90.

TRANSFORMAÇÕES
A pessoa jurídica pode passar por uma série e mutações, sem ques eja extinta , segundo a regra
do art. 1.113 do CC.
Não se pode confundir ALTERAÇÃO de TRANSFORMAÇÃO, pois que ALTERAÇÃO é
simples mudança de cláusula contratual social, enquanto TRANSFORMAÇÃO é operação de maior
escala, equivalendo a fazer desaparecer uma pessoa jurídica para nascer outra.
Nas pessoas jurídicas de direito público, a transformação ocorre sempre por força de lei.
Nas pessoas jurídicas de direito privado, há transformação material, independentemente de
liquidação ou dissolução, havendo necessidade de consentimento unânime dos sócios ou previsão
estatutária.

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ESPÉCIES DE TRANSFORMAÇÕES:
a) Fusão: duas ou mais sociedades se unem para formar uma terceira nova sociedade, que
lhes sucederá em todos os direitos e obrigações (CC, art. 1.119);
b) Incorporação: É a inclusão, união, ligação de uma empresa com outra, é a absorção por
uma empresa das outras, que lhes sucede em direitos e obrigações, desaparecendo a ou as
empresas absorvidas (CC, art. 1.116);
c) Cisão/Fracionamento/Desmembramento: A pessoa jurídica divide-se, fraciona-se em
duas ou mais pessoas, transferindo parcelas de seu patrimônio para uma ou mais
sociedades, constituídas para esse fim ou já existentes, extinguindo-se a companhia ou
pessoas jurídica cindida (cisão total: versão do patrimônio total) ou dividindo-se o seu
capital (cisão parcial).

EXTINÇÃO
A extinção das pessoas jurídicas de direito público, termina pela ocorrência de fatos históricos
ou políticos, por norma constitucional, leis especiais ou tratados internacionais.
A extinção das pessoas jurídicas de direito privado finda pela sua dissolução, devidamente
averbada no registro onde a pessoa jurídica estiver inscrita (CC, art. 51, § 1º) e liquidação. Encerrada a
liquidação, promover-se-á o cancelamento da inscrição da pessoa jurídica (CC, art. 51, § 3º). A
extinção da pessoa jurídica, com o cancelamento do registro, produz efeitos ex nun (de agora em
diante), mantendo-se os atos negociais por ela praticados, até o instante de seu desaparecimento,
respeitando-se direitos de terceiros.
A existência da pessoa jurídica de direito privado termina:

a) Decurso do prazo de sua duração, se constituída por tempo determinado (CC, arts. 69, 1ª parte e
1.033, I);
b) Pela dissolução ou liquidação, que pode ser consensual ou por vontade unânime, de seus
membros, mediante distrato (CC, art. 1.033, II);
c) Por Deliberação dos sócios, por maioria absoluta (metade mais um), na sociedade por prazo
indeterminado (CC, art. 1.033, III);
d) Por falta de pluralidade de sócios, se a sociedade simples não for reconstituída no prazo de 180
dias (CC, art. 1.033, IV);
e) Por determinação legal(CC, art. 1.033), quando se der qualquer uma das causas extintivas
previstas normativamente, por causas previstas no contrato e por implemento da condição ou termo
a que foi subordinada a sua duração;
f) Por ato governamental (CC, art. 1.125 e 1.033, V) que lhes casse a autorizaçãod e
funcionamento, por motivos de desobediência à ordem pública, por inconvenientes ao interesse
geral, pela ilicitude, pela impossibilidade ou inutilidade de sua finalidade (CC, art. 69, 1ª parte) e
pela prática de atos contrários a seus fins ou nocivos ao bem público (Lei nº 7.170/83);
g) Por dissolução judicial- a requerimento de qualquer dos sócios (CC, art. 1.034, I e II);
h) Pela morte do sócio, se os sócios remanescentes optarem pela dissoluçãoda sociedade (CC, art.
1.028, II).

GRUPOS DESPERSONALIZADOS
Conceito: Conjunto de direitos e obrigações, pessoas e bens, sem personalidade jurídica e com
capacidade processual, mediante representação.
Casos ou exemplos:
a) Família;
b) Sociedades não personificadas (CPC, arts 12, VII; CC, arts 986 a 990);
c) Massa falida (CPC, art. 12, III);
d) Herança jacente ou vacante (CC, arts. 1819 a 1823; CPC, arts. 12, IV, 1142 e 1158);
e) Espólio (CPC, arts. 985, 986, 990, 991, I, 12, V, 96);
f) Condomínio (CC, arts. 1314 e s; Lei 4.591/64: CPC, art. 12, IX).

DESPERSONALIZAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA:

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TEORIA DA DISREGARD OF LEGAL ENTITY

Já vimos que a responsabilidade das pessoas jurídicas de direito privado, advêm das
responsabilidades:

a) Contratual - deve cumprir o disposto nos contratos celebrados. Têm responsabilidade


objetiva por fato e por vício do produto e do serviço (Lei 8.078/90, arts. 12 a 25);
e) Extracontratual –
Direito Privado: respondem pelos atos iklícitos praticados por seus representantes, desde que
haja culpa in eligendo, in vigilando (CC, arts. 931, 932, III, 933, 186 e 927);
Direito Público: pela teoria do risco integral, devem indenizar todos os danos que seus
funcionários nessa qualidade causarem, por atos comissivos, tendo ação regressiva contra os
mesmos, no caso e culpa e dolo, daí ser objetiva a responsabilidade (CC, art. 43; CF, art.37, §
6º);
f) Delitual: podem ter imputabilidade criminal, estando sujeitas à responsabilidade penal (Lei nº
9.605/98, art. 3º) e podem exercer ações penais (CPP, art. 37). A responsabilidade penal é de
seu representante, por ex., arts. 61 a 80 da Lei 8.078/90.

O sócio e a pessoa jurídica formada por ele são pessoas distintas. Um não responde pelas
obrigações da outra.
Em se tratando de sociedade limitada, a responsabilidade do cotista, por dívidas da pessoa
jurídica, restringe-se ao valor do capital ainda não realizado.
Ela desaparece, tão logo se integralize o capital.
Efetivamente não se pode confundir as pessoas jurídicas com as pessoas de seus sócios.
A delimitação da responsabilidade patrimonial em razão da personalidade jurídica, de que a lei
brasileira dotou as sociedades civis e mercantis implica, antes de mais nada, em isenção de
responsabilidade adicional dos sócios.
A separação de patrimônios, e, por conseguinte, da responsabilidade que recai sobre o
patrimônio da pessoa dos sócios e da sociedade, coloca o credor, é evidente, às vezes, diante da
realidade de não poder cobrar do sócio abastado a dívida da sociedade falida, e vice-versa. Mas é essa
a vontade do legislador, rectius do povo, estampada na lei .
Evidentemente fica constatado que a responsabillidade do sócio e da pessoa jurídica por ele
formada são entidades distintas, não respondendo um pelas obrigações da outra.
A despersonalização da pessoa jurídica é efeito da ação contra ela proposta; o credor não pode,
previamente, despersonalizá-la, endereçando a ação contra os sócios.
O órgão judicante está autorizado a desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade, se
houver, de sua parte: abuso de direito, desvio ou excesso de poder, lesando consumidor; infração legal
ou estatutária, por ação ou omissão, em detrimento ao consumidor; falência, insolvência, encerramento
ou inatividade, em razão de sua má administração; obstáculo ao ressarcimento dos danos que causar
aos consumidores, pelo simples fato de ser pessoa jurídica (Lei 8.078/90, art. 28 e NCC, art. 50); na
hipótese de desconsideração, haverá responsabilidade subsidiária das sociedades integrantes do grupo
societário e das controladas, responsabilidade solidárias das sociedades consorciadas e
responsabilidade subjetiva das coligadas, que responderão se sua culpabilidade for comprovada
Na lição da sempre lúcida Maria Helena Diniz:

“a desconsideração ou penetração permite que o magistrado não mais considere


os efeitos da personificação ou da autonomia jurídica da sociedade para atingir e
vincular a responsabilidade dos sócios, com o intuito de impedir a consumação de
fraudes e abusos de direito cometidos, por meio da personalidade jurídica, que causem
prejuízos ou danos a terceiros”( “Curso de Direito Civil Brasileiro” – 1º Volume –
Teoria Geral do Direito Civil – Editora Saraiva – 9ª Edição).

Ainda no que tange à desconsideração da personalidade da pessoa jurídica, nunca é demais


trazer a baila a doutrina de Caio Mário, que sobre o tema assim se manifesta:

“Matéria que tem sido objeto de considerações doutrinárias valiosas é a


desconsideração (disregard) da personalidade jurídica, por via da qual em dadas
circunstâncias o princípio tradicional da distinção entre a pessoa jurídica e seus sócios
sofre inequívoco abalo. A esse propósito, a Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990

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(Código de Defesa do Consumidor) é expressa. No artigo 28 estabelece que ‘o juiz
poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em detrimento do
consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato
ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social’...A doutrina da ‘disregard of legal
entity’ encontra em nosso direito bom suporte doutrinário, podendo ser citados, entre
outros, Lamartine Corrêa de Oliveira (A dupla crise da pessoa Jurídica, Ed. Saraiva,
1979); Rubens Requião (Abuso de Direito e Fraude através da personalidade jurídica,
RT 410/67); Luiz Roldão de Freitas Gomes (Desconsideração da Pessoa Jurídica, in O
Direito, 1990); Clóvis Ramalhete (Sistema de legalidade na desconsideração da
personalidade jurídica, RT 586/10); João Casillo (Desconsideração da Pessoa Jurídica,
RT 528/25); Fabio Konder Comparato (O Poder de controle na Sociedade Anônima)”
(apud, Rui Stoco, in “Responsabilidade Civil e Sua Interpretação Jurisprudencial” –
Editora RT, 4ª Edição).

O princípio da separação patrimonial e o da limitado da responsabilidade dos sócios, contudo, não


são absolutos. Em muitas oportunidades, o direito estabelece, expressamente, a responsabilidade dos
sócios por obrigações da pessoa jurídica. Assim, por exemplo, quando se trata de dívida da sociedade
perante o INSS (Lei nº 8.620/93, art. 13) ou débito tributário (CTN, art. 135, III), a ordem jurídica e o
Judiciário não têm prestigiado a separação patrimonial.
O princípio da separação patrimonial, não é absoluto, em primeiro lugar, porque não pode
prejudicar os interesses de quem não teve, no momento não teve, no momento da constituição do
crédito perante a sociedade, condições para cercar-se quanto às garantias de seu crédito.
Há, uma segunda hipótese de exceção ao princípio da autonomia da pessoa jurídica,
relativamente aos seus integrantes: é a hipótese de fraude ou abuso de direito perpetrados por meio
do instituto da separação patrimonial.
A teoria da desconsideração da personalidade jurídica visa precisamente a coibir as fraudes e
abusos, viabilizados através do mau uso da regra da separação patrimonial.
O pressuposto incontornável da aplicação da teoria da desconsideração da personalidade
jurídica é a manipulação fraudulenta ou abusiva a autonomia patrimonial.
Rubens Requião, o primeiro jurista a tratar da teoria da desconsideração da pessoa jurídica,
no direito brasileiro, encerrou a conferência com que a introduziu entre nós, proferida em 1969, com a
seguinte claríssima advertência:

“Quando propugnamos pela divulgação da doutrina da desconsideração da


personalidade jurídica em nosso direito, o fazemos invocando aquelas mesmas cautelas
e zelos de que se revestem os juizes norte-americanos, pois sua aplicação há de ser feita
com extremos cuidados, e apenas em casos excepcionais, que visem impedir a fraude ou
abuso de direito em vias de consumação. (...) É preciso, para a invocação exata a
adequada da doutrina, repelir a idéia preconcebida dos que estão imbuídos do fetichismo
da intocabilidade da pessoa jurídica, que não pode ser equiparada tão insolitamente à
pessoa humana no desfrute dos direitos incontestáveis da personalidade; mas também
não devemos imaginar que a penetração do véu da personalidade jurídica e a
desconsideração da pessoa jurídica se torne instrumento (...) dos que, levados ao
exagero, acabassem por destruir o instituto da pessoa jurídica (...)” (“Aspectos
Modernos de Direito Comercial. São Paulo, Saraiva, 1977, vol. 1, págs. 83-94).

A jurisprudência é pacífica quanto à indispensabilidade da fraude na manipulação da pessoa


jurídica, como pressuposto para se autorizar o afastamento do princípio da autonomia patrimonial,
verbis:

“... A aplicação da disregard doctrine, a par de ser salutar meio para evitar a
fraude via utilização da personalidade jurídica, há de ser aplicada com cautela e zelo,
sob pena de destruir o instituto da pessoa e olvidar os incontestáveis direitos da pessoa
física. Sua aplicação terá de ser apoiada em fatos concretos que demonstrem o desvio da
finalidade social da pessoa jurídica, com proveito ilícito dos sócios” (Tribunal de
Alçada do Paraná, RT 673/160).

“SOCIEDADE POR COTAS DE RESPONSABILIDDE LIMITDADA –


Desconsideração de personalidade jurídica – Sócios que não agiram de forma

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fraudulenta ou desastrosa – Falência da sociedade por percalços econômico-financeiros
– Solidariedade nos débitos sociais repelida. Percalços econômico-financeiros da
empresa, tão comuns na atualidade, mesmo que decorrentes da incapacidade
administrativa de sue dirigentes, não se consubstanciam, por si sós, comportamento
ilícito e desvio de finalidade de entidade jurídica. Do contrário, seria banir
completamente o instituto da pessoa jurídica” (1º Tribunal de Alçada Civil de São
Paulo, relator Dr. Ferraz Nogueira, TR 690/103).

“PESSOA JURÍDICA – Teoria da desconsideração-Inaplicabilidade. Superação


da regra do art. 20 do CC que exige o devido processo legal – Impossibilidade de se
alcançar o ente jurídico por dívida de sócio em simples despacho ordinário da execução
– Mandado de Segurança concedido. A doutrina da superação ou desconsideração da
personalidade jurídica traz questão de alta indagação exigente do devido processo legal
para a expedição de um provimento extravagante, que justifique invadir a barreira do
art. 20 do CC. Não é resultado que se alcance em simples despacho ordinário da
execução, do arresto ou do mandado de segurança, todos de cognição superficial”
(Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, relator Des. Sena Rebouças, RT 657/120).

“SOCIEDADE POR COTAS DE RESPONSABILIDADE LIMITADA –


Desconsideração da personalidade jurídica – Teoria que busca atingir a responsabilidade
dos sócios por atos de malícia e prejuízo – Aplicabilidade quando a sociedade acoberta a
figura do sócio e torna-se instrumento de fraude. A teoria da desconsideração da
personalidade jurídica, ou doutrina da penetração, busca atingir a responsabilidade dos
sócios por atos de malícia ou prejuízo. A jurisprudência aplica essa teoria quando a
sociedade acoberta a figura do sócio e torna-se instrumento de fraude. A fraude não se
presume” (1º Tribunal de Alçada Civil de São Paulo, relator Dr. Octaviano Santos Lobo,
RT 708/116).

“Diante de abuso de direito e da fraude no uso da personalidade jurídica, pode o


juiz desconsiderar tal personalidade para, penetrando em seu âmago, alcançar as pessoas
e bens que nela se escondem para aqueles fins” (Tribunal de Justiça de São Paulo,
relator Des. Munhoz Soares, Jurip. Do Trib. De Justiça – LEX, vol. 147, pág.196).

“Sócio – sociedade por cotas de responsabilidade limitada. Não se pode cobrar do sócio
dívida da sociedade – Inaplicabilidade da doutrina da desconsideração da personalidade
jurídica” (Superior Tribunal de Justiça, relator Min. Eduardo Ribeiro, Jurisp. do Sup.
Trib. Just. – LEX, vol. 24, pág. 142).

Para finalizar o quadro da posição jurisprudencial, registre-se que a teoria da desconsideração


da personalidade jurídica, quando aplicada, teve por escopo coibir a confusão entre as atividades
econômicas desenvolvidas pela sociedade e pelo sócio, individualmente (RT 657/86), ou entre seus
patrimônios (RT 713/138) a falta de bens sociais, decorrente de má administração por parte do
sócio-gerente (RT 711/117) ou a procrastinação de processo judicial (RT 747/269).
A teoria da desconsideração da personalidade jurídica não é aplicável senão nas hipóteses em
que o princípio da autonomia patrimonial das pessoas jurídicas foi manipulado para ocultar uma
fraude.
Outro importante aspecto a acentuar, na teoria da desconsideração, diz respeito à condição
de sócio majoritário e gerente, da sociedade limitada, como pressuposto para a imputação de
responsabilidade.
Realmente, como o pressuposto fundamental e inafastável para a aplicação da teoria da
desconsideração da personalidade jurídica é a sua manipulação fraudulenta, é evidente que sua
principal utilização diz respeito à repressão de atos dos sócios.
Aos sócios da sociedade limitada, como aos demais brasileiros e residentes no país, a
Constituição Federal assegura os direitos ao devido processo legal, à ampla defesa e à fundamentação
das decisões jurídicas.
Conforme demonstrado, anteriormente, a desconsideração da personalidade jurídica, para
comprometimento de patrimônio de sócio, somente é admissível com medida de coibição de fraudes,
perpetradas através da manipulação do princípio da autonomia patrimonial das pessoas jurídicas.

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