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UNIVERSIDADE POLITÉCNICA - A POLITÉCNICA

Instituto Superior de Humanidades, Ciências e Tecnologias - ISHCT

Curso: 5° EIT - 2020


Cadeira: SISTEMAS TELEÓNICOS

Aula 4 – Equipamento Terminal para Lacete de Assinante Analógico

Equipamento Terminal de Assinante

O equipamento terminal de assinante analógico inclui, nomeadamente, os telefones residenciais, as


cabines públicas, os terminais de telecópia, etc. Os modems usados para a transmissão de dados na
banda de voz são também fontes de informação analógica, na medida em que estes dispositivos são
usados para adaptar a informação digital às características de transmissão dos canais analógicos usados
para a transmissão de voz.

O equipamento terminal convencional do assinante é constituído pelo telefone. Cada telefone é


alimentado por bateria central (situada na central de comutação local), que fornece uma tensão contínua
de -48 V (valor típico).

Quando o telefone está no descanso este não é percorrido por nenhuma corrente significativa, pois a
impedância do lacete local é muito elevada. Quando o telefone é levantado estabelece-se um fluxo de
corrente Is no lacete (ver Figura 4.8). O valor dessa corrente depende da tensão de alimentação e da
resistência da linha do lacete.

Figura 4.8 Telefone alimentado com bateria central.

A resistência do lacete inclui a resistência da linha telefónica e a resistência do próprio telefone, sendo a
resistência da linha telefónica dependente do calibre dos pares simétricos e do seu comprimento. Valores
típicos para a resistência máxima do lacete variam entre os 1250 e 1800 Ω, enquanto os valores típicos
para a corrente de lacete se situam entre os 20 e os 100 mA.

No sentido de uniformizar a qualidade de serviço proporcionado pelo telefone será conveniente que as
correntes vocais cheguem à central de comutação local sensivelmente com o mesmo nível, qualquer que
seja o comprimento do lacete. Nesse sentido, os telefones atuais incluem um dispositivo regulador (ou

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compensador), que permite garantir em certa medida, que a corrente que percorre o microfone é
independente do comprimento do lacete de assinante. Esses reguladores são, normalmente, varistores
(resistências não lineares), cuja resistência decresce à medida que a corrente no lacete aumenta, ou seja,
que o seu comprimento diminui. Em síntese, o efeito do varistor é variar a resistência do telefone em
torno do seu valor nominal situado entre os 100 e 200 Ω.

Figura 4.9 Conversão de dois para quatro fios usando um híbrido.

Como mostra a Figura 4.8 no telefone é necessário fazer uma conversão de quatro fios
(auscultador+microfone) para dois fios, pois no lacete de assinante os sinais correspondentes à emissão e
recepção viajam no mesmo par simétrico. Essa conversão é feita usando um dispositivo denominado
híbrido, que se representa de modo simplificado. No caso em que há equilíbrio perfeito, ou seja, quando
a impedância do circuito de equilíbrio (Ze) (A norma ESTI define que a impedância de equilíbrio é
constituída por uma resistência de 270 Ω ligada a uma resistência de 750 Ω em paralelo com uma
capacidade de 150 nF) é idêntica (em módulo e fase) à impedância apresentada pela linha (Zl), a corrente
(vocal) gerada pelo microfone é repartida em duas partes iguais, que fluem pelo circuito primário do
híbrido com sinais contrários, fazendo com que a corrente gerada no secundário onde está ligado o
auscultador seja nula. Deste modo, este circuito também se costuma ser designado por circuito anti-
efeito local, já que os sinais vocais gerados pelo microfone não afetam o auscultador.

Os telefones modernos usam no circuito de equilíbrio circuitos apropriados para compensar a


impedância de linha, para diferentes comprimentos desta e, assim, garantir um equilíbrio perfeito.
Contudo, os telefones são, normalmente, projetados com certo desequilíbrio, de modo a que o utilizador
possa ouvir a sua voz e, assim, ter a percepção de que o telefone está ativo. Na Figura 4.10 representa-se
um esquema simplificado de um telefone. Nesse esquema podem-se identificar os seguintes elementos: a
campainha, o gancho e respectivos contatos, o marcador (disco ou teclado), compensador (varistor),
emissor (microfone), receptor (auscultador) e o híbrido com o respectivo circuito de equilíbrio.

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Figura 4.10 Estrutura simplificada de um telefone.

A campainha é ativada aplicando uma tensão alterna de 75 Vrms à frequência de 25 Hz. A


capacidade em série com a campainha é usada para evitar que a corrente contínua que percorre o
telefone, quando os contactos associados ao gancho estão fechados, atravesse a campainha. O marcador
é responsável pela sinalização de lacete. No caso dos telefones de disco, este marcador não é mais do
que um interruptor, que interrompe a corrente contínua um número de vezes idêntico ao dígito marcado
(sinalização decádica). No caso da sinalização multifrequência a marcação de um número activa dois
geradores de frequências diferentes de acordo com a matriz representada na Figura 4.11. Por exemplo,
marcação do número 2 envolve a geração dos tons de 697 Hz e 1336 Hz. Este tipo de sinalização tem a
vantagem relativamente à decádica de requerer um tempo de atraso de marcação menor e uniforme para
todos os números, mas em contrapartida requer um receptor apropriado na central local.

No caso de RDIS ou da voz sobre IP os telefones são digitais, ou seja, a conversão A/D e D/A ocorre no
próprio equipamento do telefone. Tal implica que os tipos de sinalização referidos não podem ser usados
nessas redes, exigindo-se em contrapartida a aplicação de protocolos de sinalização adequados.

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Figura 4.11 Tons usados na sinalização multifrequência.

Equipamento terminal da central local


Uma central de comutação local digital que serve lacetes de assinante analógicos é responsável pela
realização de um conjunto de funções que podem ser sintetizadas pelo acrónimo BORSCHT, ou seja,
alimentação (Batery), protecção contra sobre-tensões (Over-voltage protection), geração da corrente de
toque da campainha do telefone (Ringing), supervisão do estado da linha de assinante (Supervision),
conversão dos sinais analógicos para digitais e vice-versa (Coding), conversão de 2 para 4 fios (Hybrid)
e vários tipos de teste (Testing). Essas funções são, normalmente, implementadas num circuito
designado por interface de linha de assinante (ILA), que se representa na Figura. 4.12.

Figura 4.12 Interface de linha de assinante analógica numa central de comutação digital.

➢ Alimentação de linha: A alimentação do telefone com uma tensão de -48 V é realizada


recorrendo a uma bateria central. Nas centrais analógicas a potência era fornecida aos telefones

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dos dois assinantes envolvidos numa chamada através da utilização de pontes de transmissão. Na
Figura 4.13 apresenta-se o circuito de uma dessas pontes, o qual é conhecido por ponte de Stones.

Figura 4.13 Ponte de transmissão de Stones.

Nesse circuito usam-se relés (bobinas enroladas em núcleos metálicos), para bloquear a transmissão dos
sinais vocais para a bateria, já que estes dispositivos apresentam baixa resistência à corrente contínua e
uma alta impedância às frequências vocais. A ponte de transmissão é completada pela utilização de
condensadores em série com os lacetes de assinante, de modo a isolar a nível de corrente contínua as
duas linhas.

Contrariamente às centrais analógicas, as centrais digitais deixam passar unicamente as correntes e


tensões correspondentes aos níveis lógicos digitais (Ex: 5 V). Assim, as funções correspondentes à ponte
de transmissão são realizadas pela ILA, como se mostra na Figura 4.14 onde cada ILA realiza metade
das funções correspondentes à ponte de transmissão.

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Figura 4.14 Mecanismo de alimentação numa central digital.

➢ Proteção contra sobre-tensões: Proteção do equipamento e do pessoal contra altas tensões


originadas quer por descargas atmosféricas, quer por cruzamento com linhas de alta tensão.

➢ Toque da campainha: A central local necessita de enviar um sinal de alerta para o telefone do
assinante chamado, avisando-o do facto de estar uma chamada em espera. A frequência do sinal
de chamada é de cerca de 25 Hz e a sua tensão rms (valor eficaz) é de 75 V. Este sinal está ligado
durante 2 s e está desligado durante 4 s, e é obtido pela interrupção de um gerador de corrente
partilhado por vários telefones.

➢ Supervisão: Como as centrais digitais não permitem um caminho metálico entre os assinantes
envolvidos numa chamada, a supervisão do lacete de assinante é realizada na periferia da central,
ou seja, na parte analógica do ILA, contrariamente às centrais analógicas, onde era realizada no
interior da própria central. A função essencial da supervisão consiste em analisar o estado do
lacete de assinante, detectando a presença ou a ausência do fluxo de corrente contínua nesse
lacete, e converter este estado num sinal apropriado para ser interpretado pelo sistema de controlo
da central. Esta tarefa requer um sensor (normalmente um relé) com capacidade para discriminar
eficientemente, qualquer que seja o comprimento da linha telefónica, entre a corrente
correspondente ao estado fora-do-gancho (telefone levantado) e a corrente resultante do ruído e
das correntes de fuga.

➢ Codificação: Corresponde às funções A/D e D/A.

➢ Híbrido: O híbrido é responsável pela conversão de 2 fios para 4 fios e vice-versa. O seu
funcionamento já foi analisado a propósito do estudo do telefone. A única diferença a salientar é
que o híbrido da ILA deverá ser projetado para um equilíbrio tão perfeito quanto possível.

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➢ Teste: Esta função requer o acesso ao lacete local e aos circuitos da central para detectar
possíveis falhas e proporcionar manutenção. Os testes devem ser feitos automaticamente, em
horas de fraca utilização e com periodicidade.

Circuitos de 2 e 4 fios
Como já se referiu na rede local usa-se transmissão a dois fios. Contudo, para distâncias de transmissão
superiores a cerca de 50 km é necessário separar fisicamente as duas direções de transmissão. Há duas
razões para isso: primeiro, os circuitos longos requerem amplificação e regeneração e tanto os
amplificadores como os regeneradores são dispositivos unidirecionais; segundo, por razões de
economia, as chamadas telefónicas de longa-distância são multiplexadas usando multipexagem por
divisão no tempo (TDM), e essa multiplexagem requer que os sinais nas duas direções sejam enviados
em time-slots distintos. A comutação digital também é feita usando circuitos com quatro fios,
implicando, como se viu, uma conversão de 2/4 fios na interface de linha de assinante. Essa conversão é
feita usando um híbrido. Um parâmetro importante usado para caracterizar um híbrido é a atenuação
transhíbrido, At. Esta atenuação pode-se decompor em duas parcelas (ver Figura 4.15):

➢ dois termos de 3 dB devidos à natureza própria do híbrido e correspondentes à passagem do


terminal a 2 fios de volta (do terminal a 4 fios) para o terminal a 2 fios e deste para o terminal a 2
fios de ida (do terminal a 4 fios);

➢ a atenuação de equilíbrio, Bs, que resulta da desadaptação da linha (Z) e do circuito de equilíbrio (Ze).

Figurar 4.15. Definição das parcelas contribuintes para a atenuação transhíbrido.

REFERÊNCIAS:
❖ G. J. Cook, “Transmission planning”, Telecommunications Engineer`s Reference Book, Focal
Press, pág. 40/1-40/13, 1998.
❖ M. Gagnaire, Broadband Local Loops for High-Speed Internet Access, Artech House, Inc., 2003.

Docente: Msc. Timóteo Samo

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