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SUL DO BRASIL
RESUMO
ABSTRACT
The Federal Constitution of 1988 marks the overcoming of the integrationist perspective
– a constant of indigenous rights until then - finally recognizing the Indians right to
otherness. Land in turn took a central place for the indigenous societies and is the main
condition for their reproduction and survival. The rapprochement between Law and
Anthropology provided by anthropological expert examination opens semantic horizons
and possibilities for action, besides providing a healthy confrontation between different
ethics. The protection of traditional indigenous territories is accompanied by a defense
of narratives and traditional knowledge of these peoples, as well as a resumption of their
ethnic identity and their participation in local history and politics. Indigenous lands
create conflicts with various elements of society around, as we note for example with
Trabalho publicado nos Anais do XVII Congresso Nacional do CONPEDI, realizado em Brasília – DF
nos dias 20, 21 e 22 de novembro de 2008.
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hydroelectric plants construction and their following land flooding. The involvement of
different actors presents increasingly challenges for indigenous rights.
Introdução
Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas,
crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente
ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.
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descoberto do amparo constitucional. A demarcação imposta pelo legislador
constituinte à União é providência de ordem prática tendo em vista a maior segurança e
definição da proteção dos territórios indígenas. É medida salutar também para a
estabilidade e segurança de toda e qualquer situação jurídica, evita possíveis conflitos
sociais e de terras. No entanto, não condiciona o direito que visa assegurar.
(BARBOSA, 2001, p. 89)
Dessa forma, o direito à terra por parte da sociedade indígena que a ocupa existe e se
legitima independentemente de qualquer ato constitutivo, ou seja, a demarcação de uma
Terra Indígena é ato meramente declaratório, decorrente do reconhecimento feito pelo
Estado, cujo objetivo é simplesmente precisar a real extensão da posse para assegurar a
plena eficácia do dispositivo constitucional. Não obstante, o Poder Público está
obrigado pela Constituição a promover o reconhecimento das terras indígenas. E a
obrigação de proteger as Terras Indígenas (TIs) cabe ao Estado. Portanto, sempre que
uma comunidade indígena ocupar uma área determinada de acordo com os requisitos
estabelecidos no artigo 231 da CF, o Estado terá que delimitá-la e realizar a demarcação
física dos seus limites. A própria Constituição estabeleceu um prazo para a demarcação
de todas as TIs: 5 de outubro de 1993. Porém isso não ocorreu, e atualmente as TIs no
Brasil encontram-se em diferentes situações jurídicas relativas a sua demarcação (ISA,
2008).
A demarcação de TIs, por sua vez, abre espaço para a solicitação, em litígios
judiciais, de laudos periciais antropológicos, que servirão como provas documentais de
ocupação indígena. Uma vez que a definição de um território tradicionalmente ocupado
passará, obrigatoriamente, pela compreensão narrativa da vida e das tradições daquele
povo indígena, essa definição apenas se tornará possível com a realização de um estudo
antropológico, trazendo implicações éticas e profissionais muito diferentes das
geralmente encontradas pelos operadores do direito.
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parcelas de um espaço estritamente limitado. Um bom exemplo é exposto na análise que
Bruna Franchetto faz das transformações trazidas pela criação do Parque do Xingu:
O que se procura é sempre a prova e uma relação com a terra/território que se configure
no esquema do indivíduo ou do grupo individualizado, exercendo um domínio
transacionável fixado pela lei. Achamos que esta conceituação não toca em quase nada
o viver e pensar dos índios xinguanos que conhecemos e que nos falaram. Terra é, para
eles, “chão”, no sentido literal e figurativo do termo, mais do que qualquer outra coisa.
Não é mercadoria, não se fecha, e é todo absolutamente “explorado”, material e
simbolicamente. É um espaço contínuo, sem divisa e picadas. Seria, porém, ingênuo não
pensar na reestruturação violenta que o espaço sofreu depois que a picada do Parque
tornou a terra definitivamente delimitada. Houve transformações no sistema de relações
políticas entre os grupos, com a criação de novas identidades. Mas a manutenção de um
controle de alguma maneira grupal e coletivo sobre a terra permitiu fazer de um
território agora fechado, “chão” de uma identidade “xinguana”. (FRANCHETTO, 1985,
p. 106)
Todos sabem que as populações indígenas, povos dominados, foram sempre vítimas da
força e da violência. Todos sabem igualmente que quase todos os grupos indígenas
foram há muito desapossados de suas melhores terras, lhes sobrando hoje muito pouco
do que outrora detinham e, quase sem exceção, encontram-se em territórios de refúgio,
nas porções menos férteis ou rentáveis economicamente. (BARBOSA, op. cit., p 93)
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Não bastasse a disputa que se estabelece entre direitos indígenas e direitos de
propriedade, há forte incompreensão no que diz respeito ao que sejam terras
tradicionalmente ocupadas. Vez por outra o conceito resvala para imemorialidade, e o
juiz exige a produção de um laudo arqueológico que evidencie que a presença indígena
no local remonta a tempos pré-colombianos. Tal requisito vem impedindo que os
Terena de Mato Grosso e os Krahô-kanela de Tocantins tenham acesso a um território,
ao argumento de que as áreas pretendidas não correspondem às suas áreas ancestrais.
(DUPRAT, 2006, p. 174)
[...] muito embora não imobilizadas espacialmente e não definidas necessariamente pela
profundidade temporal, a definição de terras tradicionalmente ocupadas requer uma
compreensão narrativa das vidas desses povos. A tradição que emerge dessa narrativa
não é mera repetição de algo passado, não é mera remissão ao contexto da existência
que a originou, mas a experiência histórica de sua reafirmação e transformação. Daí que
a definição do que sejam terras tradicionalmente ocupadas, por cada grupo, passa por
um estudo antropológico que, para além da história, revele a tradição que é
permanentemente ritualizada e que dessa forma se faz presente na memória coletiva.
(Idem, p. 175)
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Partimos do princípio constitucional de que o Estado brasileiro reconhece a
territorialidade indígena na medida em que reconhece o índio enquanto alteridade.
Sendo assim, admite falar de terra em outras linguagens. Essa palavra, portanto, tem de
ter seu sentido retirado de dentro da linguagem do grupo em questão e não do nosso
vocabulário. É preciso uma tradução “qualificada”. O próprio índio não pode saber dar
essa qualidade à tradução, ou por não ter um bom conhecimento do português ou
simplesmente por imaginar que compartilhamos com ele o mesmo conceito, A
qualidade de uma tradução depende basicamente de trazer à tona o ethos e visão de
mundo em que se insere o termo. Aqui, sem dúvida, entra a Antropologia. No campo
das ciências humanas, cabe à Antropologia a investigação especializada sobre a
especificidade do comportamento, da organização social, dos valores, sentimentos e
crenças das sociedades humanas, seu estilo de vida e cosmovisão, uma espécie de senha
de acesso a outras realidades (CARREIRA, 2005, pp. 240-241)
Portanto, para o direito, uma vez assumida a existência de um saber que lhe é
exterior e que, mesmo assim, institui uma relação jurídica, cabe recorrer à antropologia
enquanto “chave” para acessar essas “outras realidades”. A aproximação entre direito e
antropologia deve ser vista como muito benéfica para ambos, e bons frutos já podem ser
percebidos. Um dos principais espaços dessa união pode ser encontrado no
desenvolvimento de laudos periciais antropológicos durante a demarcação dos
territórios indígenas, em que antropólogos e operadores do direito – em especial o
Ministério Público (MP) – complementam uns aos outros, apesar dos dilemas
decorrentes da disparidade entre as práticas profissionais.
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primeiro plano na questão, inaugurando uma estratégia inédita de defesa jurídica dos
“bens da União” que são as terras indígenas. Inaugurou-se, com isso, a prática de
solicitar e incluir laudos periciais de natureza antropológica, elaborados por
antropólogos, como peça de defesa da União e como prova documentada da ocupação
indígena das glebas sub judice. Nos processos, o confronto decisivo se deu entre os
laudos periciais de autoria de engenheiros agrônomos apresentados pelos
“proprietários” e os chamados “laudos antropológicos”. (FRANCHETTO, 1991, p. 33)
Assim, o Ministério Público vem se transformando, sem deixar de ser o titular da ação
penal e o fiscal da lei, em uma espécie de ombudsman no direito brasileiro, isto é,
naquele que defende o direito do cidadão (no sentido de titular de um direito coletivo).
Por esse novo papel de Ombudsman e pelos novos poderes que o Ministério Público
vem adquirindo, calhou perfeitamente com o órgão que se ansiava para ser o defensor
dos direitos indígenas, exatamente porque os direitos indígenas se assemelham aos
direitos coletivos e difusos, na medida em que a titularidade é de um grupo,
precisamente reconhecido, mas desnecessário o conhecimento de cada indivíduo de per
si, isto é, a proteção somente tem sentido porque existe uma coletividade. (MARÉS,
1991, pp. 31-32)
Entre 1986 e 1988, período em que Manuela Carneiro da Cunha foi presidente
da Associação Brasileira de Antropologia (ABA), firmou-se um convênio entre esta e a
Procuradoria Geral da República (PGR), pelo qual a ABA passaria a indicar
antropólogos para a realização de laudos periciais em processos envolvendo terras
indígenas. Em agosto de 1990, na gestão de Roque de Barros Laraia, é firmado um
protocolo de intenções entre a ABA e a União, representada pela PGR. O convênio
entre as duas instituições é renovado periodicamente, sendo que entre 1994 e 1996, com
João Pacheco de Oliveira na presidência da ABA, passa a incluir na sua área de
competência, além da demarcação de terras indígenas, também as terras e o patrimônio
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das comunidades de remanescentes de quilombos, assim como o estudo do impacto
sofrido por tais grupos frente a questões sócio-ambientais e grandes projetos de
desenvolvimento. Surge daí a figura do antropólogo perito, atuando junto ao Ministério
Público Federal (MPF), que passará a se valer de antropólogos com atuação nas
universidades bem como de profissionais contratados por concurso público para
assessorar os procuradores em inquéritos e ações judiciais (LEITE, 2005; SILVA,
1994). O papel do antropólogo como perito é assim institucionalizado, através de
parcerias oficiais, tendo decisiva importância nos litígios judiciais envolvendo terras
indígenas e tradicionais. Segundo Elaine Carreira, o vínculo entre antropologia e MP
estaria a serviço do diálogo intercultural e do direito à diferença:
[...] não se confundem portanto com pesquisas de caráter acadêmico, cujo universo
teórico envolve extenso universo de questões e diferentes perspectivas teóricas, além de,
não necessariamente, abordarem a questão territorial. Entretanto, aspectos da
cosmologia, da organização social do grupo indígena e muitos outros, são fundamentais
e a força de argumentação tanto dos laudos periciais quanto dos relatórios de
identificação vem da qualidade das informações etnológicas apresentadas (VALADÃO,
1994, p.40)
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Antropológicos” promovida em Florianópolis, no ano 2000, pela ABA em parceria com
o NUER[3], da qual resultou o documento intitulado “Carta de Ponta das Canas”.
Nesses encontros desenvolveu-se a compreensão de que os laudos periciais
antropológicos, diferentes da produção acadêmica, são instrumentos que auxiliam uma
decisão judicial ou administrativa, sendo responsáveis por efeitos de grande repercussão
nos grupos pesquisados e em seu entorno, como demonstra Ilka Boaventura Leite:
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autoridade, poder político, relação com outros povos indígenas e a presença colonial do
homem branco. (OLIVEIRA, 1994, p. 131)
Em segundo lugar, fica explícita a distância entre a ética dos processos judiciais,
ou a ética do direito, e a ética do antropólogo. Na concepção jurídica o processo
judicial, tipicamente surgido do conflito de interesses humanos, é regido pelo princípio
do contraditório e da ampla defesa, previsto no art. 5° da CF/88: “LV - aos litigantes,
em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o
contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”. Isso quer dizer
que, para ambas as partes litigantes (ou seja, para os dois lados do processo), deve-se
assegurar que não apenas sejam ouvidas mas que também possam se manifestar a
respeito das alegações do adversário. O direito de defesa, portanto, é reconhecido
constitucionalmente entre os direitos fundamentais do indivíduo e configura uma
exigência da democracia.
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igualmente pelo juiz, de forma imparcial. O que rege a ética do processo judicial, além
da igual possibilidade de defesa e manifestação, é a neutralidade. Nenhuma parte deve
ser privilegiada, já que todos são iguais perante a lei.
No que diz respeito à ética, os operadores do Direito operam com a idéia de que todos
devem ser defendidos, não importando o crime que cometeram. Defender uma pessoa
que cometeu um crime hediondo é perfeitamente ético e é parte da atividade de um
advogado. No mundo do Direito, é absolutamente legítimo defender qualquer pessoa
que necessite de defesa e todos os argumentos possíveis nesse processo. Já a atuação
pública do antropólogo, por mais que ele seja treinado a relativizar as crenças e
comportamentos, tende a ser pautada por uma ética que se rege pela defesa daqueles que
ele acredita terem efetivamente direitos e pela crítica àqueles com cuja atuação não
concorda. (OLIVEN, 2005, p. 65)
Tudo isso obriga a uma reflexão sobre o papel do antropólogo. Sobre sua condição de
pesquisador que assume uma postura crítica. E sobre sua condição de cidadão
intelectualmente privilegiado e capaz não só de propor uma leitura crítica sobre
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determinada realidade, mas de assumir uma proposta de intervenção. (SANTOS, 1998,
p. 88)
O tema das terras indígenas de vez em quando vem à tona quando se anuncia a
construção de novas usinas hidrelétricas, uma vez que os lagos formados pelas devidas
barragens de retenção freqüentemente afetam suas áreas. Como muitos povos habitam
tradicionalmente vales e margens de rios, os dois temas parecem estar obrigatoriamente
ligados. A Constituição Federal impõe limites à exploração dos recursos hídricos das
TIs, inclusive no que diz respeito aos potenciais energéticos dos rios, uma vez que,
juntamente com a mineração, esses empreendimentos só podem ser realizados com
autorização do Congresso Nacional e a audiência das comunidades indígenas afetadas:
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compulsória desses povos, dentre os quais se encontravam os Parakanã, Gavião da
Montanha, Waimiri e Atroari, e Guarani (SANTOS & NACKE, 2003). A região Sul do
Brasil também foi alvo da cobiça por potencial hidrelétrico que se seguiu à proposta
“desenvolvimentista” posta em prática nos governos militares. Além de Itaipu,
mundialmente conhecida por sua dimensão gigantesca, responsável pela geração de boa
parte da energia elétrica consumida hoje no Brasil, e que atingiu os subgrupos Avá e
Mbyá do grupo Guarani, também chama a atenção na região a série de barragens
construídas ao longo do rio Uruguai, local de tradicional ocupação dos Kaingang.
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de uma área adequada para abrigar sua aldeia. Os desdobramentos desse processo não
foram pequenos, nem pouco significativos (SANTOS & NACKE, 2003, p. 22)
Nos anos noventa o país passa a seguir a receita neoliberal, reduzindo o papel do
Estado no controle da economia e privatizando setores estratégicos, como o de produção
de energia. Buscava-se a atração de investimentos externos e a formação de consórcios
nacionais. Nessa corrente, as empresas e energia elétrica estaduais e federais vão sendo
privatizadas, como foi o caso da segmentação da Eletrosul, que deu origem às Centrais
Geradoras do Sul do Brasil (Gerasul), empresa responsável apenas pela geração da
energia elétrica e posteriormente adquirida pelo grupo belga Tractebel, Electricity &
Gas International. Consórcios privados foram criados com a finalidade de implantar
hidrelétricas ao longo da bacia do rio Uruguai, obrigando indígenas e movimentos
sociais a alterarem suas estratégias, antes destinadas a pressionar o poder público. Essas
mudanças no setor elétrico foram bem apontadas por Sílvio Coelho dos Santos e Karyn
Henriques em 2001:
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[...] no decorrer dos anos 90 o que se passou a testemunhar foi uma reorientação
acelerada do setor elétrico objetivando a sua privatização. A globalização da economia e
o neoliberalismo desarticularam o Estado enquanto ente centralizador dos investimentos
econômicos. As empresas de energia elétrica estaduais/federais estão sendo
privatizadas. A Eletrobrás e suas subsidiárias também. Diferentes projetos de novas
hidrelétricas estão sendo implementados por consórcios empresariais, com ou sem a
participação de empresas estatais. Vive-se, assim, o risco de o setor privado vir a
controlar um dos mais estratégicos segmentos da economia do país. Mais que isto, o
capital privado que se organiza para controlar o setor elétrico certamente vai apresentar
resistência para assumir os prejuízos conseqüentes da implantação e operação de
hidrelétricas, em termos sociais e ambientais. (SANTOS & HENRIQUES, op. cit., p.
61)
No Estado de Santa Catarina, cuja fronteira com o Rio Grande do Sul é em boa
parte definida pelo curso do rio Uruguai, esses consórcios privados para a produção de
energia elétrica constituem um novo elemento que vem se juntar ao campo de interesses
diversos formado quando se constrói uma barragem. Se antes os conflitos por terra se
davam entre índios e agricultores, ou “colonos”, surgem situações em que ambos
passam à condição de “atingidos”, podendo ir parar do mesmo lado da disputa. Mas isso
depende de um contexto de relações complexas, em que diferentes atores procuram ter
suas aspirações atendidas, além de estarem inseridos em processos históricos muitas
vezes violentos.
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Esse episódio envolveu, entre outros fatores, moradores de um bairro de classe
média alta de Chapecó, incomodados com a presença indígena; setenta e cinco famílias
de agricultores que discordavam do valor da indenização definido pela Funai; a
instalação da Usina Hidrelétrica Foz do Chapecó; e o Movimento dos Atingidos por
Barragens (MAB). As possibilidades de aliança em situações como essa são
surpreendentes, às vezes com índios e consórcio hidrelétrico do mesmo lado, como se
constatou. Da mesma forma, um impasse local pode em pouco tempo tomar dimensões
enormes, chamando atenção de diversas instituições e repercutindo internacionalmente.
Conclusão
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Em setembro de 2007, após mais de vinte anos de negociação, a Organização
das Nações Unidas (ONU) aprovou a “Declaração de direitos dos povos indígenas”.
Entre seus principais pontos está o reconhecimento da autodeterminação dos povos
indígenas, pela qual estes determinam livremente sua condição política e perseguem
livremente seu desenvolvimento econômico, social e cultural, além de ter o direito de
conservar e reforçar seus próprios sistemas políticos, jurídicos, de saúde, educacionais,
culturais, entre outros, mantendo porém seu direito de participar plenamente, se
desejarem, da vida política e social do Estado. Entre os países que defenderam a
proposta encontra-se o Brasil; resta saber o que fará para respeitar o compromisso
firmado.
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Orlando Sampaio et. al. (Orgs). A perícia antropológica em processos judiciais.
Florianópolis: UFSC, 1994.
[2] Por exemplo, tramita desde 1983, ação no STF em que se pretende a nulidade dos
títulos incidentes sobre o território tradicional dos Pataxó Hã-hã-hãe, do sul da Bahia.
Por todo esse longo período (completa 25 anos), os índios vêm sendo impedidos de
ocupar integralmente o seu território, sob o pretexto, invocado por juízes e tribunais, de
que o Supremo ainda não definiu os exatos limites de suas terras. (DUPRAT, 2006)
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