Você está na página 1de 16

2

UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE - ensino a distância ®

O papel das
instituições brasileiras
no combate
à corrupção
Autor: Prof. Roberto Vieira Medeiros e
Co-autor: Prof. Leonino Gomes Rocha
Copyright © 2016 by Fundação Demócrito Rocha

FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR)


Presidência
João Dummar Neto

Direção Geral
Marcos Tardin

UNIVERSID ADE ABERTA DO NORDESTE (UANE)


Coordenação Geral
Ana Paula Costa Salmin

CURSO TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO PÚBLICA


Concepção e Coordenação Geral
Cliff Villar

Coordenação de Conteúdo
Marcelo Lettieri
Marcelo Maciel

Edição de Design
Amaurício Cortez

Projeto Gráfico
Welton Travassos

Editoração Eletrônica
Cristiane Frota
Welton Travassos

Revisão de Texto
Daniela Nogueira

Ilustrações
Carlus Campos

Catalogação na Fonte
Kelly Pereira

Produção Executiva de Projetos Especiais


Lucíola Vitorino
Rebeca Sabóia

Este fascículo é parte integrante do curso Transparência na Gestão Pública – Controle


Cidadão composto por 6 fascículos oferecido pela Universidade Aberta do Nordeste (Uane),
em decorrência do contrato celebrado entre o Tribunal de Contas do Estado do Ceará e a
Fundação Demócrito Rocha (FDR), sob nº. 36/2016.

C939 Curso transparência na gestão pública: controle cidadão / coordenação,


Cliff Villar; ilustração, Carlus Campos. – Fortaleza: Edições
Demócrito Rocha/UANE/TCE, 2017.
96p. il. color; (Curso em 06 Fascículos)
Todos os direitos desta edição reservados a:
ISBN 978-85-7529-774-2
Fundação Demócrito Rocha
1. Curso – administração pública I. Villar, Cliff. II. Campos, Carlus. III. Título
Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora
Cep 60.055-402 - Fortaleza-Ceará
Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148 - Fax (85) 3255.6271
CDU 351.72(813.1)
fundacaodemocritorocha.com.br
fundacao@fdr.com.br
Sumário
1. Introdução............................................................................................................. 20
2. Integração e cooperação entre instituições brasileiras –
Redes de prevenção e combate à corrupção....................................................... 20
2.1. Redes de prevenção e combate à corrupção.......................................................21
2.2. Exemplos de combate à corrupção em rede........................................................21
2.3. Operação Lava Jato...............................................................................................22
2.4. Redes de controle no Brasil...................................................................................24
3. A Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro (Enccla)..... 25
3.1. Composição da Enccla..........................................................................................27
3.2. Formas de atuação e principais resultados.........................................................27
4. Controles............................................................................................................... 28
4.1. Controles interno e externo..................................................................................28
Perfil dos Autores.................................................................................................... 31
Referências Bibliográficas ..................................................................................... 31

Ementa
Integração e cooperação entre instituições brasileiras no combate à corrupção.
A Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro.
O aparato institucional de controle interno e externo no combate à corrupção no Brasil.
O Ministério Público, o Poder Judiciário, o Sistema de Justiça e outros atores
institucionais que atuam na prevenção e combate à corrupção.

OBJETIVOS DO FASCÍCULO
Pretende-se neste fascículo: 1) mostrar a importância da integração entre órgãos
de controle e da sociedade civil para prevenir e combater a corrupção; 2) analisar
diversas redes de cooperação para o combate à corrupção; 3) apresentar a Estratégia
Nacional de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro (ENCCLA); e 4) discutir
aspectos do controle interno e externo.
2.
Integração e
cooperação
entre instituições
brasileiras
– Redes de
prevenção
e combate à
corrupção
Na Economia do Conhecimento, as re-
des são os meios pelos quais a interação in-
terorganizacional torna-se a “chave” para

1.
o desempenho organizacional. O arranjo
em rede gera ambiente que favorece as
trocas de informações, de conhecimentos,
de habilidades e de recursos, reforçando a
eficácia para que os participantes consigam
Introdução melhores resultados por meio de um com-
O avanço da corrupção impõe aos Es- plexo ordenamento nos relacionamentos1.
tados a necessidade de atuarem em redes Essa é também chamada de Economia
para combaterem esse complexo proble- Informacional, na qual a convergência en-
ma, que ameaça a democracia, aumenta tre um novo paradigma tecnológico (as
a pobreza e prejudica o desenvolvimento. tecnologias de comunicação e informa-
A forma de gestão integrada em rede tor- ção) e uma nova lógica organizacional
na-se necessária, uma vez que os órgãos constituem seu fundamento histórico. O
e as entidades devem atuar de uma for- autor Manuel Castells afirma que a globa-
ma sistêmica em que a troca de informa- lização e a informacionalização parecem
ções e a criação de conhecimento para estar estruturalmente relacionadas a siste-
prevenir e combater a corrupção tornam- mas flexíveis em rede2.
se fundamentais. Esse sistema se contrapõe ao modelo
Estudos mostram que as diversas or- de organizações baseado na integração
ganizações, interagindo em rede, favo- vertical e sem maiores preocupações com
recem a obtenção de resultados mais as variáveis do seu ambiente e contexto
concretos na prevenção e no combate social. Na Economia do Conhecimento, é
à corrupção. A diversidade de atores e a criado um ambiente de redes interorgani-
atuação em rede criam espaços interati- zacionais propício à geração, à partilha e
vos de articulação, criação de conheci- à utilização do conhecimento, envolvendo
mento e inovação, gerando uma sinergia aspectos como articulação, cooperação,
para combater o fenômeno que tanto flexibilidade, interação e interdependência
mal causa à sociedade brasileira. entre as organizações.

20
Visando resolver problemas comple- ras, quando deparam com organizações 2.2. Exemplos de combate
xos como a corrupção, torna-se neces- de combate à corrupção que operam em
sário às organizações atuarem em rede, rede, caracterizando-se por representarem à corrupção em rede
em que um conjunto complexo de ato- barreiras ao combate e vantagens compe- Cita-se como exemplo de combate à
res atuando em um sistema de relações titivas para as organizações criminosas. corrupção em rede a realização de Ope-
formais e informais favorece a obtenção Essas redes são de difícil identifica- rações Especiais ao longo de 14 anos,
de maiores resultados na prevenção e no ção, necessitando de uma estratégia de contando com a participação de diver-
combate à corrupção. combate com a participação de diversos sos atores, como a Controladoria-Geral
atores fechando o círculo em torno do da União (hoje chamada de Ministério
2.1. Redes de prevenção e fenômeno, sendo fundamental reduzir a da Transparência, Fiscalização e Contro-
sensação de impunidade que impera em ladoria-Geral da União), Polícia Federal,
combate à corrupção países como o Brasil5. Ministério Público Estadual, Receita Fe-
As organizações que praticam atos de O Estado só terá condições de combater deral do Brasil, Ministério Público Federal
corrupção estão sempre experimentando essas organizações criminosas organizadas etc., havendo uma grande coalizão dos
novas formas de gestão, criando e compar- em rede se suas instituições passarem a atores, o que demonstra a complexidade
tilhando conhecimento em redes. Por isso, funcionar também em rede e com caráter para se combater o fenômeno.
são extremamente dinâmicas e capazes de informacional, ampliando o uso das diver- Nesse período, foram realizadas 247
se construir e reconstruir a todo instante, sas formas de inteligência (RIBEIRO, 2001). Operações Especiais que identificaram
demonstrando a complexidade do fenô- Nesse contexto, entende-se que as li- prejuízo estimado de R$ 4,0 bilhões,
meno e a dificuldade de combatê-las3. mitações para se combater as redes de envolvendo, nos atos de corrupção, ór-
Esses crimes ameaçam o desenvolvi- corrupção, incrustadas dentro e fora do gãos e entidades da União, Estados e
mento dos países, trazendo prejuízos so- Estado, somente serão quebradas com o Municípios (Figura 1). Esses dados foram
ciais e econômicos e impedindo a distribui- fortalecimento e a atuação das instituições apresentados pela CGU durante evento
ção de riqueza em países historicamente em rede, em que a criação de conheci- realizado em 9/12/2016, que é o Dia In-
concentradores de renda, como no caso mento é fundamental para tornar as ações ternacional Contra Corrupção, previsto
do Brasil, além de prejudicar a eficiência e mais eficazes, visando aniquilar esse mal na Convenção da Organização das Na-
a eficácia das políticas públicas. que tanto prejudica o desenvolvimento ções Unidas Contra a Corrupção (Con-
Nessa perspectiva, a corrupção está econômico, social e político do Brasil. venção de Mérida).
centrada na racionalidade individual e nos
incentivos e oportunidades propiciados Figura 1
pelo sistema institucional. A decisão de Operações deflagradas em 14 anos
participar do mercado ilegal da corrupção
depende basicamente da probabilidade de
ser descoberto e punido, da severidade da
punição, da expectativa de ganhos envolvi-
dos, do contexto institucional e da intera-
ção estratégica entre os atores.
Sendo assim, e considerando o am-
biente de impunidade favorável à obten-
ção de vantagens econômicas, surgem
as redes de corrupção com o objetivo de
vender informações privilegiadas, levantar
dinheiro de campanhas políticas, receber
créditos de bancos oficiais a juros negati-
vos etc., organizando-se desde as esferas
mais elevadas de poder, dentro e fora do
Estado, até a burocracia mais elementar4.
Fonte: http://www.cgu.gov.br/sobre/institucional/eventos/anos-anteriores/2016/dia-internacional-contra-a-corrupcao/arquivos/
As possibilidades de combate à cor- dicc2016_cgu_2016.pdf
rupção pelos Estados têm limitações cla-

TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO PÚBLICA CONTROLE CIDADÃO 21


As principais áreas afetadas com os Figura 2
atos de corrupção são a educação e Principais políticas afetadas com a corrupção no Brasil
a saúde, com 67% da estimativa dos
recursos desviados, o que acaba por
manter uma grande parte da socieda-
de brasileira em situação de pobreza e
sem perspectiva de ascenderem na pi-
râmide social, pois são dependentes de
políticas básicas nessas áreas (Figura 2).

2.3. Operação Lava Jato


Outro exemplo de Operação Especial
em rede de grande sucesso no Brasil, e
que tem permitido a maior recuperação
de recursos públicos desviados da so-
ciedade brasileira até o momento, é a
Operação Lava Jato. Trata-se de inves- Fonte: http://www.cgu.gov.br/sobre/institucional/eventos/anos-anteriores/2016/
tigação em andamento conduzida por dia-internacional-contra-a-corrupcao/arquivos/dicc2016_cgu_2016.pdf
diversos órgãos, que deflagrou sua fase
ostensiva em 17 de março de 2014, Figura 3
cumprindo mais de 100 mandados de Esquema gráfico da rede de corrupção da Lava Jato
busca e apreensão, de prisão temporá-
ria, de prisão preventiva e de condução
coercitiva, visando apurar um esquema
de lavagem de dinheiro que movimen-
tou mais de R$ 10 bilhões em propina,
valor que pode chegar a R$ 20 bilhões.
A Lava Jato é considerada a maior
operação de combate à corrupção da
história do País e investiga crimes de
corrupção ativa, corrupção passiva,
gestão fraudulenta, lavagem de dinhei-
ro, organização criminosa, obstrução
da justiça, operação fraudulenta de
câmbio e recebimento de vantagem
indevida, havendo a participação dos
maiores partidos políticos do Brasil,
além de empresários de grandes em-
presas. A Lava Jato já teve mais de 38
fases e deu origem a diversas outras
Operações derivadas.
Na Figura 3, encontra-se um esque-
ma gráfico de como funcionava o es-
quema de corrupção na Petrobras, e na
Figura 8 estão especificados os nomes
dos principais órgãos participantes da
rede de combate à corrupção formada
pela Operação Lava Jato.
Fonte: http://lavajato.mpf.mp.br/entenda-o-caso

22 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste


Verifica-se a participação de uma
complexa e sofisticada rede de atores (Fi-
gura 3) para praticar os atos de corrupção
de que a Petrobras foi vítima, ficando evi-
dente que o Estado deve também atuar
em rede para combater esse fenômeno
extremamente prejudicial para a socieda-
de brasileira (Figura 4).

Figura 4
Rede de combate à corrupção da Operação Lava Jato

Fonte: http://jornalggn.com.br/noticia/mpf-lanca-portal-explicativo-sobre-a-operacao-lava-jato

TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO PÚBLICA CONTROLE CIDADÃO 23


2.4. Redes de Quadro 1
controle no Brasil Redes de Combate à Corrupção
O Brasil vem ampliando a criação de
redes de controle nos estados da fede- Quantidade
Fórum das Organizações de Combate à
ração, havendo diversas designações, Estado de órgãos
Corrupção (Focco)
tais como Fórum de Combate à Corrup- na Rede
ção (Focco), o Movimento Articulado de Acre Fórum das Organizações de Combate à Corrupção (Focco) 14
Combate à Corrupção (Marcco) e outras
nomenclaturas. Atualmente, essas redes Alagoas Fórum das Organizações de Combate à Corrupção (Focco) 24
estão em 24 estados (Quadro 1).
Amazonas Rede de Controle da Gestão Pública do AM 8
Verifica-se uma grande quantidade
de atores nessas redes, variando de 6 a Bahia Rede de Controle 21
27, o que possibilita atingir mais e me-
Fórum Permanente de Combate a Corrupção no
lhores resultados do que as organizações Ceará 15
Estado do Ceará (Focco)
atuando sozinhas.
Goiás Fórum Goiano de Combate à Corrupção (Focco/GO) 14

Maranhão Rede de Controle da Gestão Pública do Maranhão 18

Mato Grosso Rede de Controle no Estado de Mato Grosso 11

Mato Grosso do Sul Rede de Controle 15


Ação Integrada da Rede de Controle e
Minas Gerais 13
Combate à Corrupção de Minas Gerais (Arcco/MG)
Pará Rede Estadual de Controle da Gestão Pública 11

Paraíba Focco/PB 20

Paraná Rede de Controle da Gestão Pública 17

Pernambuco Focco/PE 27

Piauí Rede de Controle no Estado do Piauí 10

Rio de Janeiro Rede de Controle da Gestão Pública (Rede) 10


Rio Grande do
Movimento Articulado de Combate à Corrupção (Marcco) 27
Norte
Rio Grande do Sul Rede de Controle no Estado do Rio Grande do Sul 14

Rondônia Comitê Rondônia Contra a Corrupção (Cercco) 14

Roraima Focco/RR 12

Santa Catarina Rede de Controle da Gestão Pública 12

São Paulo Focco/SP 22

Sergipe Focco/SE 6

Tocantins Focco/TO 17

24
3.
A Estratégia
Nacional de
Combate à
Corrupção e
à Lavagem de
Dinheiro (Enccla)
A Estratégia Nacional de Combate à
Lavagem de Dinheiro e Recuperação de
Ativos (Enccla) foi criada em dezembro de
2005 contou com a participação de 57
órgãos que, depois de terem verificado o
cumprimento das metas da Enccla 2004,
Saiba
2003, sendo uma experiência inédita de
articulação dos diversos órgãos do Estado
estabeleceram outros cinco objetivos
estratégicos e 43 metas para o ano de
mais
para o estabelecimento de uma política 2005. A Enccla 2006 foi realizada entre
pública de combate ao crime de lavagem 8 e 11/12/2005, com a fixação de 29
de dinheiro e, em sentido mais amplo, ao metas para o ano de 2006. A composição da Enccla, onde se
crime organizado no Brasil. Em atenção à recomendação do Tribu- pode observar uma ampla diver-
A Enccla foi criada para suprir a falta de nal de Contas da União, foi decidido, em sidade de atores, pode ser obtida
articulação e de atuação estratégica coor- conjunto com a Controladoria-Geral da no seguinte sítio governamental:
denada do Estado no combate à lavagem União, que, na sua quarta edição anual http://enccla.camara.leg.br/quem-
de dinheiro, a inexistência de programas consecutiva, a Enccla incluiria o tema somos/gestao.
de treinamento e capacitação de agentes “combate à corrupção”, passando a se de-
Os principais resultados da Enccla,
públicos, a dificuldade de acesso a bancos nominar Estratégia Nacional de Combate
detalhados nas seguintes áreas de
de dados, como também a carência de pa- à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro.
capacitação e treinamento, preven-
dronização tecnológica e a insuficiência de Diante disso, foi realizada, entre
ção/detecção/punição das corrup-
indicadores de eficiência. Nesse âmbito, foi 29/11/2006 e 2/12/2006, a Enccla 2007,
ções e avanço e aperfeiçoamento
definida ainda uma estratégia focada na re- que contou com a presença de 52 órgãos
das normas anticorrupção, estão
cuperação de ativos, visando garantir que o e mais de 100 participantes. Nessa reunião,
presentes no sítio http://enccla.ca-
crime não compensa financeiramente. foram aprovadas 33 metas e 20 recomen-
mara.leg.br/resultados.
Para a elaboração da Estratégia, os dações. A Enccla 2008 foi realizada entre
principais dirigentes dos órgãos envolvidos 28 a 30/11/2007, contando com 22 metas.
com o tema identificam conjuntamente os Posteriormente foram realizados en-
problemas existentes e definem os princi- contros anuais da Enccla, chegando em
pais objetivos para a construção de um sis- sua XIII Reunião Plenária, realizada em
tema de combate à lavagem de dinheiro. Fortaleza entre 23 e 26/11/2015 (Enccla
A Enccla 2004 contou com a partici- 2016), e XIV Reunião em Natal, com tra-
pação de 27 órgãos e estabeleceu seis balhos executados de 28/11 a 2/12/2016
objetivos estratégicos, detalhados em 32 (Enccla 2017). Algumas ações, a título
metas, com indicação de seus responsá- exemplificativo, aprovadas nessas duas Re-
veis e prazos de cumprimento. A Enccla uniões Plenárias estão nos Quadros 2 e 3.

25
Quadro 2 Quadro 3
Ações da Enccla 2016 Ações da Enccla 2017

Ação Descrição Ação Descrição


Avaliar a transparência nos poderes Legislativo (3 esferas), Propor normatização para melhoria dos processos de
Judiciário (esfera Federal e Estadual), Ministério Público governança e gestão a serem adotados em todos os Poderes
1 1
(esfera Federal e Estadual) e Tribunais de Contas (esfera e esferas da Federação, com foco no combate à fraude e à
Federal, Estadual e Municipal). corrupção.
Fomentar a participação social através de instrumentos Estabelecer diretrizes para atuação coordenada da Advocacia
2 de transparência ativa para monitoramento das formas de Pública e das estatais com o Ministério Público, os órgãos de
2
transferência de recursos federais. controle interno e externo e a Polícia, com vistas à prevenção
Criar diretrizes para implantação e efetivo funcionamento dos e ao combate à corrupção.
3
sistemas estadual e municipal de controle interno.
3 Definir parâmetros e conceituação de conflito de interesses.
Elaborar diagnóstico e proposição de aprimoramento do
4 sistema brasileiro de proteção e incentivo ao Consolidar propostas de prevenção à prática da corrupção
4
denunciante e whistleblower. fomentando a integridade social e a educação para a cidadania.
Propor a criação de mecanismos que incentivem a adoção de Ampliar o compartilhamento de dados para o combate à
5 5
programas de integridade em contratações públicas. corrupção e à lavagem de dinheiro.
Fonte: http://enccla.camara.leg.br/acoes Fonte: http://enccla.camara.leg.br/acoes

26
Constata-se, portanto, uma preocu- das organizações nos três poderes (pla- 3.2. Formas de atuação e
pação do poder público com atuação em nejamento, controle, finanças, orçamen-
rede, inicialmente para combater a lava- tária, policial, advocacia, arrecadação principais resultados
gem de dinheiro e a partir do fim de 2006 de impostos, ética etc.), caracterizando A forma de atuação da Enccla é con-
também para combater a corrupção, cor- o aspecto de complementariedade e cretizada por meio de ações, as quais são
roborando as argumentações de que, interdependência existente nas redes, elaboradas e pactuadas anualmente pelos
para se enfrentar problemas complexos passando de um enfoque direcionado a membros da Estratégia. Para cada uma de-
como a corrupção, precisa-se de órgãos entidades individuais para uma análise las, cria-se um grupo de trabalho compos-
do Estado atuando em rede. simultânea de múltiplas relações envol- to por vários órgãos e instituições, o qual
vendo os indivíduos, os grupos sociais, tem como mandato o alcance de um ou
3.1. Composição da Enccla as organizações e as instituições. mais produtos predefinidos, por meio de
Visando criar um ambiente de intera- Ressalte-se, ainda, que a relação de ór- atividades como realizar estudos e diag-
ção e cooperação interorganizacional para gãos e entidades participantes da Enccla nósticos legais-normativos e de composi-
combater a corrupção e a lavagem de di- não é exaustiva, havendo, a partir de reu- ção de bancos de dados, elaborar propos-
nheiro, a Enccla atualmente é composta niões e estudos, a indicação de outras or- tas legislativas, averiguar o estado da arte
por 65 membros. ganizações que possam colaborar no com- de sistemas de cadastros, indagar necessi-
Verifica-se uma diversidade de atores bate à corrupção e à lavagem de dinheiro, dades e promover soluções em Tecnologia
na composição da Enccla. Essa multipli- inclusive organizações de outras esferas da de Informação, buscar eficiência na gera-
cidade na participação ocorre primor- federação brasileira (estados e municípios) ção de estatísticas e realizar eventos vol-
dialmente em função da área de atuação e da sociedade civil organizada. tados à evolução dos temas por meio de
debates. Os grupos de trabalho costumam
reunir-se mensalmente.
Os principais resultados da Enccla estão
discriminados pelas seguintes áreas: capaci-
tação e treinamento; prevenção/detecção/
punição das corrupções; e avanço e aper-
feiçoamento das normas anticorrupção.
O padrão de interação intensiva, con-
seguido por um conjunto de organizações
atuando em redes num complexo sistema
de relações formais e informais, contribui
para a Estratégia alcançar objetivos com-
plexos próprios ou coletivos.
Essa diversidade de atores atuando em
rede cria espaços interativos de articulação
interorganizacional, gerando uma siner-
gia, onde se observa que seria bastante di-
fícil concretizar essas ações com os órgãos
e as entidades atuando separadamente,
sendo esse o principal sucesso da Enccla.

27
4.
Controles
Os controles existem para impor li- 4.1. Controles
mites aos agentes públicos, sendo base
para consolidação do Estado Democrá- interno e externo
tico de Direito previsto na Constituição Inicialmente cabe ressaltar que o Controle Interno abordado neste tópico não se
de 1988, pois a sociedade tem o direito confunde com o controle interno administrativo (também chamado de autocontrole ou
de exigir a prestação de contas de todo controle primário), pois este é uma forma de controlar os atos de gestão por quem exe-
agente público ou privado que receba cuta o ato, isto é, dentro do próprio órgão ou entidade que realiza a despesa pública.
recursos públicos. O Sistema de Controle Interno previsto nos Art. 70 e 74 da Constituição Federal de
O §1º do Art. 70 da CF/88 afirma que 1988 é aquele existente em cada Poder (Executivo, Legislativo e Judiciário) e nos três
“prestará contas qualquer pessoa física ou entes federativos (União, Estado e Municípios), conforme mostrado na Figura 5. Essa
jurídica, pública ou privada, que utilize, previsão constitucional afirma que cada ente da federação deve possuir um Controle
arrecade, guarde, gerencie ou administre Interno dentro de cada poder, visando realizar a fiscalização contábil financeira, orça-
dinheiros, bens e valores públicos...”. mentária e patrimonial quanto a legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação
Esses limites ocorrem não apenas de das subvenções e renúncia de receitas.
um poder sobre o outro (sistema de freios
e contrapesos), garantindo a indepen- Figura 5
dência e a harmonia entre os poderes, Controles Internos e Externos no Brasil
mas também dentro do próprio poder,
visando que os agentes públicos ajam de
acordo com as normas e os princípios da República Federativa do Brasil
administração pública. (CF/88)
De uma forma geral, pode-se definir
controle como um conjunto de meca-
nismos de fiscalização e acompanha- União Estados Municípios
mento dos atos dos gestores públicos,
com o intuito de verificar se estão de
acordo com a legislação e os princípios
Legislativo Executivo Judiciário Legislativo Executivo Judiciário Legislativo Executivo
da administração pública, em especial
os do caput do Art. 37 da CF/88 (Le- Controle Controle Controle Controle Controle Controle Controle Controle
galidade, Impessoalidade, Moralidade, Interno Interno Interno Interno Interno Interno Interno Interno
Publicidade e Eficiência).
Segundo Hely Lopes Meirelles, “con-
trole, em tema de administração pública, Tribunal de Contas Tribunal de Contas
Tribunal de Contas
é a faculdade de vigilância, orientação e da União dos Estados do Município (RJ e SP);
(Controle Externo) (26+DF) Tribunal de Contas
correção que um Poder, Órgão ou Auto- (Controle Externo) dos Municípios
ridade exerce sobre a conduta de outro”. (BA, CE, GO e PA) e
TCE’s nos demais Estados.
A seguir, serão detalhados os princi- (Controle Externo)
pais controles públicos administrativos
Fonte: Criado pelo autor.
existentes no Brasil.

28 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste


Dessa forma, cita-se, a título exemplificativo, que Verifica-se a existência de quatro macrofunções
a União possui o Ministério da Transparência, Fisca- de controle na CGU, estando dividida assim: 1) Se-
lização e Controladoria-Geral da União (CGU) como cretaria Federal de Controle Interno (SFC); 2) Ouvi-
o Órgão Central do Sistema de Controle Interno do doria-Geral da União (OGU); 3) Corregedoria-Geral
Poder Executivo Federal, enquanto o Estado do Cea- da União (CRG); e 4) Secretaria da Transparência e
rá tem a Controladoria e Ouvidoria Geral do Estado Prevenção da União (STPC).
do Ceará e a Prefeitura Municipal de Fortaleza possui Essa distribuição macro de áreas está servindo de
a Controladoria e Ouvidoria Geral do Município com modelo e sendo utilizada por diversas controladorias
esse mesmo objetivo. estaduais e municipais no Brasil.

Saiba
mais
A CGU atua na defesa do patrimônio público e no incremento da transparência da gestão desde 2003. Criada
em 28 de maio de 2003, com a publicação da Lei nº 10.683, a Controladoria-Geral da União (CGU), típica agên-
cia anticorrupção do País, é o órgão encarregado de assistir direta e imediatamente ao presidente da Repúbli-
ca no desempenho de suas atribuições quanto aos assuntos que, no âmbito do Poder Executivo, sejam rela-
tivos à defesa do patrimônio público e ao incremento da transparência da gestão, por meio das atividades de
controle interno, auditoria pública, correição, prevenção e combate à corrupção, e ouvidoria. A CGU é, ainda,
órgão central do Sistema de Controle Interno e do Sistema de Correição, ambos do Poder Executivo Federal.
Em 2003, a lei de criação da CGU incorporou à estrutura do novo órgão as funções da então Corregedoria-Geral da
União – instituída em 2001 pela Medida Provisória n° 2.143-31 – que tinha o propósito de combater, no âmbito do
Poder Executivo Federal, a fraude e a corrupção e promover a defesa do patrimônio público.
Antes da Lei 10.683, as atividades de controle interno e de ouvidoria já eram desempenhadas pela Secretaria
Federal de Controle Interno (SFC) e pela Ouvidoria-Geral da União (OGU), respectivamente. Essas duas unida-
des, antes vinculadas ao Ministério da Fazenda (SFC) e ao Ministério da Justiça (OGU), passaram a ser vincula-
das à Corregedoria-Geral da União em 28 de março de 2002, com a publicação do Decreto n° 4.177.
O Decreto n° 5.683, de 24 de janeiro de 2006, alterou a estrutura da CGU, conferindo maior organicidade e efi-
cácia ao trabalho realizado pela instituição e criando a Secretaria de Prevenção da Corrupção e Informações
Estratégicas (SPCI), responsável por desenvolver mecanismos de prevenção à corrupção. Assim, a CGU passou
a ter a competência não só de detectar casos de corrupção, mas de antecipar-se a eles, desenvolvendo meios
para prevenir a sua ocorrência.
Mais recentemente, com o Decreto nº 8.109, de 17 de setembro de 2013, novas mudanças institucionais foram
realizadas para adequar a atuação da Controladoria aos novos desafios que surgiram ao longo dos anos, e a
SPCI passa a ser chamada de Secretaria de Transparência e Prevenção da Corrupção (STPC), dispondo de uma
estrutura compatível com a dimensão e a relevância de suas competências, em especial, com as leis de Acesso
à Informação, de Conflito de Interesses e Anticorrupção.
Atualmente a Controladoria-Geral da União foi transformada em Ministério da Transparência, Fiscalização e
Controladoria-Geral da União (CGU), criado em 12 de maio de 2016 pela medida provisória 726/2016, conver-
tida na Lei nº 13.341, de 29/9/2016.
Fonte: http://www.cgu.gov.br/sobre/institucional/historico

TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO PÚBLICA CONTROLE CIDADÃO 29


Uma análise aprofundada da competência, No âmbito dos municípios cearen- Como exemplo da atuação do
estrutura e atuação do TCU e ses, a maior parte ainda não possui Controle Externo, cita-se o impeach-
dos TCE será efetuada no Fascículo 3. controladorias municipais, sendo essa ment da ex-presidente Dilma Rous-
uma das principais causas do descon- seff, em que houve inicialmente o Pa-
trole na aplicação dos recursos nos recer Prévio emitido pelo Tribunal de
municípios, uma vez que esses órgãos Contas da União, que considerou as
de controle deveriam existir nos 184 chamadas “Pedaladas Fiscais”, infrin-
entes municipais no Estado do Ceará. gência à Lei de Responsabilidade Fis-
Outra atribuição de grande relevân- cal. Esse Parecer serviu de base para
cia para o Controle interno está previs- a comprovação de crime de responsa-
ta no Inciso IV do Art. 74 da CF/88, que bilidade, segundo o entendimento do
é “apoiar o controle externo no exercí- Congresso Nacional.
cio de sua missão institucional”. Os tribunais de contas dos es-
O controle externo é formalmente tados (TCE) estão presentes em
exercido pelo Congresso Nacional, com toda a federação brasileira, havendo,
o auxílio do Tribunal de Contas da entretanto, quatro entes estaduais
União (TCU). O Art. 70 da atual Consti- (Bahia, Ceará, Goiás e Pará) que pos-
tuição Federal ressalta a preponderância suem também tribunais de contas
de um poder colegiado –Congresso Na- dos municípios (TCM).
cional – como representante do povo, Nesses quatro estados, os TCM
na fiscalização dos outros poderes. possuem competência de controle
Dentre as principais competências externo sobre os recursos municipais,
do Controle Externo, está a de julgar enquanto os TCE são responsáveis
as contas prestadas anualmente pelo pelo controle dos recursos estaduais.
presidente da República, após a emis- No Estado do Ceará foi aprovada,
são de parecer prévio pelo Tribunal em 21/12/2016, uma Proposta de
de Contas da União (TCU), que deve- Emenda Constitucional (PEC) para ex-
rá ser elaborado em 60 dias a contar tinguir o TCM, estando essa extinção
de seu recebimento. O TCU funciona em discussão no Supremo Tribunal
como órgão auxiliar do Congresso Na- Federal, que suspendeu os efeitos da
cional, que, de fato, é quem exerce o referida PEC em 28/12/2016.
Controle Externo.

30 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste


Perfil dos
Referências
Autores

Autor Prof. Roberto Vieira Medeiros: Cearense 1. BALESTRIN, Alsones; VARGAS, Lilia M; FAYARD;
de Icó, Bacharel em Direito pela Universidade de For- Pierre. Contexto favorável à criação de conheci-
taleza e Pós-graduado em Direito Disciplinar pela Uni- mento organizacional: o caso de uma rede de PMEs
versidade de Brasília-UnB. Atuou como advogado em no sul do Brasil. In: VIII Congreso Internacional del
Fortaleza, antes de ingressar na Controladoria-Geral da CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Adminis-
União em Brasília (no ano de 2002). Na Controlado- tración Pública, Panamá: 28 a 31 de outubro/2004.
ria-Geral da União, foi Assessor do Corregedor-Geral 2. CASTELLS, Manuel. A empresa em rede: a cultu-
da União, Corregedor-Adjunto da Área Econômica, ra, as instituições e as organizações da econo-
Substituto do Corregedor-Geral. Integrou a Comissão mia informacional. In CASTELLS, M. A sociedade
de Coordenação de Correição, responsável por emitir em rede (Vol I). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003.
enunciados em matéria disciplinar. É professor da Esco-
3. AUGUSTINIS, Viviane Franco de (2011). Gestão em
la de Administração Fazendária – ESAF para as discipli-
redes para a construção de políticas públicas: Um
nas de Processo Administrativo Disciplinar, Sindicância
estudo sobre as atividades e prevenção e repressão
Patrimonial e Improbidade Administrativa. Ocupou o
à lavagem de dinheiro no Brasil. Tese de Doutora-
cargo de Chefe da Controladoria-Geral da União – Re-
do. Fundação Getúlio Vargas, Escola Brasileira de
gional do Estado do Rio Grande do Norte, sendo – des-
Administração Pública, Rio de Janeiro, 2011.
de fevereiro de 2015 – Chefe da Controladoria-Geral
da União – Regional do Estado do Ceará. 4. SILVA, Marcos Fernandes Gonçalves da. A econo-
mia política da corrupção no Brasil. São Paulo:
Co-autor Prof. Leonino Gomes Rocha: Auditor Editora Senac, 2001.
Fiscal de Finanças e Controle e Superintendente Subs- 5. FIESP, Federação das Indústrias do Estado de São
tituto da Controladoria Regional da União no Estado Paulo. Corrupção: custos econômicos e propos-
do Ceará. Atualmente estou fazendo Doutorado na tas de combate. São Paulo, 2007.
Universidade de Salamanca/Espanha em Estado de Di- 6. RIBEIRO, Renato Jorge Brown. Possibilidades de
reito e Governança Global, com tese na área de redes combate à corrupção pelo estado burocrático/
de prevenção e combate à corrupção. Possuo Mestra- patrimonialista na América Latina em um con-
do em Administração pela Universidade Estadual do texto de cenário de sociedade informacional.
Ceará (2007), Especialização em Controladoria Go- Revista do Tribunal de Contas da União, Brasília, v.
vernamental pela UFC (2002) e graduação em Enge- 32, n. 88, abr/jun. 2001, p. 75-85.
nharia Elétrica pela Universidade de Fortaleza (1991).
Tenho experiência na área de Administração Pública,
com ênfase em Controladoria Governamental (Gestão
e Finanças Públicas, Contabilidade e Auditoria Pública)
e Prevenção e Combate à Corrupção.

TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO PÚBLICA CONTROLE CIDADÃO 31


fdr.org.br/gestaopublica

Realização Promoção

A RÁDIO QUE TOCA NOTÍCIA

FM 95.5 AM 1.010

Você também pode gostar