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O escritor atribui ao Oriente a origem da doença que se caracterizava por sangue pelo
nariz, inchaço na virilha e axilas, alguns em forma de maçã ou ovo e daí vem o nome
bubônica, em formas de bulbos. Depois surgiram manchas escuras na boca de quem que
fosse, rico ou pobre e surgiu o nome Peste Negra. Os que não conseguiram se refugiar
morriam nas ruas, nas plantações ou onde quer que estivesse. Os cultivos se reproduziam
e animais vagando pelas ruas vazias tinham comidas de sobra e engordavam e morriam
se misturando aos cadáveres humanos. Mais de 100 mil pessoas morreram em Florença.
Deste período até o século 18, não são registradas obras sobre praga no mundo, talvez
pela adoção dos estados absolutistas dominados por reinados truculentos ou déspotas.
O Último Homem
Registros pandêmicos somente ressurgiram como romance em 1826, com Mary Shelley,
autora de autora de Frankenstein, por meio de um gênero literário chamado Literatura do
Apocalipse. Shelley foi precursora em 1826 do romance pandêmico e em The Last Man
cita a peste negra, porém na Inglaterra. Na obra, o personagem principal é um aristocrata
inglês chamado Lionel Verney que vive ao surgimento de uma pandemia global em 2073
até o início do século 22, quando ele obtém o status de O Último Homem em um mundo
desprovido de pessoas.
O italiano Alexandre Manzoni publicou, em 1848, Storia della Colonna infame , sobre
detalhes da praga do século 17 em Milão. Em 1912, outro romance apocalíptico
chamado A Praga Escarlate, do norte-americano Jack London, imagina um surto de febre
hemorrágica em 2013, chamado de Morte Vermelha que destrói a grande maioria da
população mundial.
Em 1918, surgiu a gripe espanhola que tirou a vida de 56 milhões de habitantes no mundo.
A doença surgiu durante a Primeira Guerra Mundial e os soldados dos países europeus
envolvidos foram a maioria das vítimas fatais. Os sobreviventes, principalmente os
marinheiros, foram responsáveis pelos contágios a outros países, inclusive, ao Brasil. O
escritor Ruy Castro conta na obra “O Carnaval da Guerra e da Gripe (2019) ” como a
população fluminense se comportou diante de uma doença que surgiu poucos meses
antes do carnaval. A doença matou milhares, mas não tirou o brilho da festa momesca do
jeito que o carioca gosta.
No livro ele conta que, entre os mortos da doença estiveram a filha Shophie de Sigmund
Freud, na Áustria, Na Alemanha, o economista e escritor Marx Weber. Em Portugal, as
crianças Francisca e Jacinto do “Milagre de Fátima”, a primeira-dama dos EUA, Rose
Cleveland e os irmãos John e Horace Dodge, magnatas da indústria automobilística norte-
americana. No Brasil, o vírus matou o poeta Olavo Bilac que sofria de problemas cardíacos
agravados pelo contágio da gripe espanhola. Também perderam a vida, o craque Belfort
Duarte, jogador do América-RJ, entre outros magnatas da economia fluiminense. Ao todo,
segundo Ruy Castro foram mortas 15 mil pessoas no Rio de Janeiro.
No Brasil, a gripe espanhola chegou por meio do navio Demerara, um correio britânico,
vindo de Lisboa e que havia atracado em Dakar, capital do Senegal. Os cerca de 200
tripulantes, segundo Castro, saíram do navio foram para a Praça Mauá, próximo do porto,
onde retiram a noite nas gafieiras, beijaram as mulheres. Em questão de dias, a doença se
espalhou. O alerta demorou a ser dado. O quinino, espécie de água tônica caseira
começou a ser recomendado até pelos médicos como modo de “destroncar” os peitos.
Todo o tipo de purgante foi inventado, mas não diminui a mortalidade. A empresa química
Bayer ofereceu Fenacetina como “tiro e queda” contra a Influenza com promessa de cura
como um raio, mas não teve jeito. Capitais também foram afetadas, mas sem a
intensidade do Rio de Janeiro que teve que fechar hospitais por falta de leitos. Enterros só
eram acompanhados por parentes e até sepultamentos ficaram impraticáveis por falta de
coveiros, alguns mortos outros doentes e em quarentena.
A Peste
A Peste de Albert Camus, obra publicada em 1947 contra a história de trabalhadores que
descobrem a solidariedade em meio a uma peste que assola a cidade de Oran, na Argélia.
No romance, o autor questiona os destinos da natureza provocada pela condição humana.
Gripe em Alagoas
A situação em Alagoas é contada pelo poeta e escritor Jorge de Lima em uma entrevista
no matutino Jornal de Alagoas. O médico participou da campanha de salvamento de vidas
e também foi vítima da Influenza, mas sobreviveu. “O doente começa a sentir dores em
todo o corpo, deixando catarro branco, garganta inflamada e dor abdominal”, declarou na
edição do jornal, de 30 de outubro de 1918. Porém, as escassas informações levaram o
poeta a vaticinar um dado que não se confirma do ponto de vista científico, nem com a
gripe espanhola nem com o coronavírus. Jorge de Lima declarou no jornal: “acontece,
porém que, devido as condições especiais do nosso clima, a moléstia em questão não se
manifesta aqui com a mesma gravidade que em certas regiões da Europa”.