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O Bem, o Mal e a Bruxaria

(Imagem retirada da internet, da HQ Lúcifer, da Vertigo)

“Titânico Prometeu – Deus da luz proibida,


Sua chama negra nós carregaremos como um legado do Seu Poder.
Pai da Iluminação – Deus da luz sem sombras,
Sol Negro dos mistérios escuros – restaure a Visão do Dragão”
(1)

Haver-se-ia inúmeras formas de se começar este texto e de fazer introduções mais didáticas ao
assunto proposto, porém, dada a natureza da postagem e por incrível que pareça a falta
completa de abordagem direta para tais assuntos, resolvi escrevê-lo de forma espontânea,
tentando ser o mais elucidativo quanto for!

Para muito de nós (e quando falo “nós” eu me refiro aos mais antigos e àqueles que possuem
um entendimento diferenciado e mais real do que seja bruxaria, sem fantasias ou ideias
impregnadas da moral atual), é realmente triste nos deparamos com ideias construídas a partir
de conceitos de “senso comum” perpetuados na bruxaria. É claro que ninguém descarta a Era
atual e muito menos a cultura vigente, pois ninguém vive a vida de nossos ancestrais, mas sim,
uma vida no mundo de hoje, atual, contemporâneo; tentando sempre manter certas tradições
e entendendo que existem certas coisas que não podem ser mudadas simplesmente pela falta
de coragem, estômago, visão ou pelo medo e limitações de quem teme às mudanças que o
Caminho pode trazer.

Ha uma noção extremamente distorcida entre “certo e errado”, “bem e mal” no que diz
respeito a bruxaria.

Alguns pontos deverão ser colocados em evidência para sermos capazes de falarmos sobre,
bem como assuntos polêmicos e desagradáveis para muitos, ou ainda, dolorosos de forma
íntima para a maioria.

Porém,vamos salientar a hipocrisia, mesmo que inconsciente, desse monte de ditos “pagãos”
ou “neopagãos”, bruxos, feiticeiros e qualquer outra nomenclatura que lhe for confortável:
não importa, iremos falar de assuntos que atingirão a todos em muitos níveis e cada um é livre
para expressar a insatisfação, satisfação, incômodo, medo, limitação ou qualquer que seja a
incapacidade ou opinião genuína a respeito dos assuntos. Lembrando-se sempre que SEU
caminho é apenas o SEU caminho, e nada mais.

Vamos começar a derramar o sangue dos inocentes…

Diferenciando “Bem e Mal” de “Certo e Errado”

O primeiro passo é deixar claro não o que é “certo e errado” ou “mau e bom”, mas sim,
entendermos do que se trata, antes de avançarmos no texto!

Certo e Errado se trata de ética.

Bem e Mal se trata de moral.

Parece confuso? Parece, mas não é. Moral e Ética são matérias estudadas e objetos de
debates, palestras, livros e artigos acadêmicos até os dias de hoje. É a base da licenciatura e
formação de professores e um maravilhoso instrumento para se entender de onde saíram tais
conceitos e de como eles realmente funcionam nos dias atuais.

Vamos tentar exemplificar:

Ética abrange ideias mais comuns e que dizem respeito a ideias mútuas e gerais em todas as
sociedades. Como por exemplo, não matar o outro. A grande maioria das sociedades possuem
bases comuns: não mate seu igual, não roube seu igual, não prejudique seu igual. Isso é
comum em sociedades ao longo da historia. Elas constituem em ideias ligadas ao bem comum
social e comumente são as que mais influenciam as Leis da sociedade em questão.

Moral é algo que depene de grupo para grupo. Aqui nós temos, por exemplo, no Brasil, ideias
de “família tradicional”. A moral vigente é a moral cristã conservadora, que diz que seria uma
família composta de heterossexuais, cristãos, pelo menos de classe média, obedientes ao
Estado e a Bíblia. Caso você concorde com tudo, menos com, por exemplo, a bíblia, então você
não faz parte desse grupo e com certeza esse grupo te enxerga como um tipo de propagador
do “mal”,  algo que destruiria o que eles chamam de “família tradicional”.

Moral é complicada porque se baseia em grupos e muita gente sequer percebe isso,
concordando com ideias que podem ir, inclusive, contra elas e suas famílias, pois a moral de
um grupo não é maleável! A moral é algo que muita gente carrega sem nem mesmo saber o
que é, dizendo que “essa é sua opinião”.

O pior de tudo, pra quem observa demais, é entender que preconceito e ignorância NÃO É
OPINIÃO – e acabar vendo e vivenciando isso a todo o momento.

Ha a moral muçulmana, xiita, sunita e outras etnias…existe a moral cristã dos protestantes, dos
católicos, dos conservadores, dos hindus, das pessoas do Santo Daime, da Umbanda, do
Candomblé, da Quimbanda, dos Ateus, dos Maçons, dos nudistas e de qualquer outro grupo
que seja ou não religioso… ha moral para todos os tipos de grupos…e o pior de tudo é que
cada moral pode facilmente se mesclar uma as outras em determinadas situações, seja de
forma legítima ou hipócrita.
Ética, mesmo que seja variável de sociedade para sociedade ou de Era em Era, tende a ser
mais universal e abrangente. Moral depende de grupo.
(2)

Acontece que moral e ética muitas vezes se confundem, principalmente quando ha grupos
com mais influencias em sociedades.

Mesmo sendo mais universal, a ética possui inúmeras formas, como a Ética finalista – onde o
fim justifica os meios, como Robin Hood, que usa do roubo (crime) para fazer um bem comum;
a Ética do Dever, que é aquele que você deve seguir todas as regras e deveres, não importa o
resultado; ha também vários outros tipo de ética e éticas que se ilustram locais, profissões,
contratos, etc. Portanto, não é algo simples e que ainda é matéria de estudos, juntamente com
a Filosofia.

Confusão instalada? iluminação vislumbrada ao ponto de você ser capaz de aplicar no seu dia-
a-dia prático e entender um pouquinho mais do mundo a sua volta? ok, vamos continuar.

Sacrifícios de Sangue

Incrivelmente isso ainda é polêmica, mesmo com toda a informação possível de como as coisas
acontecem e de onde vem o pacote de coxa de frango que você adora, a bandejinha de carne,
hambúrguer, calabresa ou o pacote de jujuba que você ama.

Engraçado como a esmagadora maioria consome animais de forma direta ou indireta consegue
ser “contra” o sacrifício de animais de religiões/grupos/pessoas que as realizam. Não é só
engraçado, é triste, deprimente, desesperador como a falta do contato com a realidade pode
fazer a cabeça de uma geração inteira (mais de uma ou duas gerações).

Muita gente deve achar que seu consumo nasce ou é “plantado” na bandejinha do mercado ou
açougue. Que suas gomas de mascar, jujubas e outros doces surgem do nada.

Como inúmeras pessoas adoram churrasco ou consomem carne de qualquer natureza


(vermelha, branca ou frutos do mar) seja em qual ocasião for: são contra sacrifícios de
sangue… falam como se fosse “maldade”. Não sei se rio ou choro…ou ambos.

A indústria da carne e derivados são os meios mais cruéis de se adquirir carne de qualquer
espécie. E é a que mais é consumida (pesquisem…pesquisem…).

Quando falamos em sacrifício de animais em rituais, acredite, estamos falando de valores dos
quais a maioria de vocês nem faz ideia!

O animal que será sacrificado deve ser bem tratado, vigoroso, bem alimentado, sem ser
torturado como o da industria – aquele que você come no churrasco ou compra do
supermercado. Deverá ser um animal livre, forte, saudável. Sua morte deverá ser feita sem
sofrimento, de forma rápida e sua carne deverá ser consumida como parte do ritual.

O problema que observo ha anos é o da proximidade. A proximidade da morte. Para a maioria


das pessoas, a morte é algo ruim, pesado, obscuro, evitado.

As pessoas fazem churrasco ou comemoram feriados com jantares, banquetes, etc e nunca
pensam no animal que estão comendo. Mas quando vêem ou ficam sabendo de um ritual de
sacrifício se revoltam.
O problema está na morte em si e na importância ou ignorância que se lhe atribui.

Estar perto da morte ou como quele que tira a vida do animal, é algo ainda aterrorizante para
a maioria das pessoas.

Não é algo substituível.

Sangue, carne, morte.

Isso é hipocrisia: tudo bem você consumir e financiar a tortura desenfreada de animais que
sofrem a vida inteira e que são mortos sem a mínima preocupação para que você possa
comprar seus produtos no supermercado ou açougue. Pra que você possa comer
tranquilamente e de consciência limpa só porque você não viu o animal morrer.

E antes que os vegetarianos se alegrem, também devemos chamar a atenção para o


agronegócio, que para plantar grãos (e soja), precisa desmatar uma área absurda, matando
junto toda a espécie de árvores e plantas, bem como toda a vida animal daquela área (muitas
vezes humanas também, se ali for território indígena).

Não estou dizendo com tudo isso o que devemos ou não fazer das nossas vidas, e sim, que não
adianta continuar sendo alguém hipócrita reclamando de sacrifício animal e apontando o dedo
para os outros, quando você faz muito pior.

Nós somos mais sinceros com o que fazemos, porque temos a obrigação de enxergarmos a
vida sem esconder a realidade com falsas ideias. Morte faz parte da vida e não é porque você
não suja suas mãos com sangue e vislumbra o ato, que você realmente está limpo.

Sangue é vida. A morte faz parte de nossas vidas e nunca nos esquecemos disso.

Caso você possua dúvidas, pesquise alguns videos e veja o que você financia, de onde vem a
carne que você compra ou quais as consequências do plantio da soja e do agronegócio em si –
e quais são as políticas envolvidas.

O buraco é muito mais embaixo do que vocês acham.


(Família Esquimó comendo após a caça)
(3)

Maldições, Malefícios, Venefícios

Outro ponto interessante é no que diz respeito às práticas antigas de bruxaria que muitos
viram as costas em nossos dias.

Os malefícios são parte essencial da Arte, assim como qualquer outra prática.

Isso não quer dizer que saímos lançando maldições nos outros por qualquer coisa, mas sim,
que entendemos a natureza da vida ao ponto de sabermos que a magia em si não é “boa” e
nem “má”. E que podemos entender que bênçãos e maldições não possuem realmente
grandes diferenças.

O segredo da Arte, ao meu ver, é entender como as coisas funcionam. Não, não estou falando
de ideias herméticas ou de Leis universais. Estou falando de vivencia, observação e
aprendizado. Saber ver o mundo e as pessoas além daquilo que apresentam e ser capaz de
enxergar algumas possibilidades. Entender observar as coisas por ângulos diferentes.

Uma maldição pode na verdade ser uma bênção. Uma bênção pode na verdade ser uma
maldição. Seria como o fogo, que transforma rapidamente para ambos os lados; como uma
lâmina de dois gumes, cortando rapidamente para qualquer direção, assim como os ventos.

Quando você faz um feitiço para ganhar uma vaga de emprego, você está tirando o emprego
de alguém. Quando alguém quer o seu mal e você tenta afastar essa pessoa, muitas coisas
podem ocorrer.

Vejo muita gente hoje em dia dizendo “se for para o bem de todos, que assim seja”.
Desculpem. Nunca será para o bem de todos. No caso do emprego, todos os concorrentes não
terão aquela vaga. Se for para um imóvel, outros que também querem, não irão conseguir. No
caso de alguém ruim pra você, algo vai acontecer pra essa pessoa se afastar. Porém, como
você especificou que isso só vai dar certo se for ‘para o bem de todos”, nada disso vai
funcionar. Tanto pelos seus sentimentos ao fazer o ritual quanto pelas palavras e condições
que você está intencionando e proferindo: o emprego não vai ser seu. O imóvel não vai ser
seu. A pessoa que te faz mal continuará lá, te fazendo mal.

Enxergar o mundo com mais clareza também pode te trazer poder, pois você vai entender
como as coisas funcionam e assim agir dentro das possibilidades, ou ainda, criará novas
possibilidades com tua visão! Achar que o mundo é um lugar perfeito e iluminado não faz a
mínima diferença, a não ser pra alimentar sua própria ilusão ou esconder seus próprios medos,
feridas, traumas ou o que quer que seja.

Existe um pensamento muito comum ainda de moral e visão de mundo cristã e kardecista
naqueles que escolhem (ou descobrem) O Caminho Partido. Ha ainda ideias de uma fantasia
oriental (porque normalmente são estereótipos) acerca da iluminação e de visão de mundo
que não corresponde a realidade.

Bruxas antigas realizavam partos e também abortos; vendiam remédios e também venenos;
vendiam poções tanto para dar forças quanto para fazer alguém se apaixonar. Isso não quer
dizer que um ato fosse melhor que o outro, pois não sabemos quais consequências boas ou
ruins poderiam acarretar sem a interferência da bruxa ou com essa mesma interferência.

Talvez isso possa assustar a primeira vista, pois a maioria ainda vive sob uma premissa de
fantasias que só são possíveis pra quem vive atrás de um computador na vida confortável e
vira o rosto para como o mundo realmente é.

A Sabedoria não é ser uma caricatura de um monge budista dos filmes de hollywood: Ela está
tanto no esplendor do Sol quanto na Escuridão da Lua Nova; Está tanto nas rosas quanto nos
ossos dos mortos abaixo da terra; no canto do uirapuru(4) e no sussurro da serpente; na vida,
na morte e tudo a sua volta.

O que quero passar no texto, com tudo isso, é que não importa realmente a natureza do que
você está fazendo, pois algo de bom que você faça, pode trazer mal e algo que intenciona o
bem para outros ou para si, pode trazer mal para alguém. E que tudo bem, pois a vida é assim.
Apenas seja verdadeiro consigo mesmo e nas suas possibilidades.

O Bem, o Mal e a Bruxaria

O texto possui idéias rápidas no que diz respeito a alguns assuntos polêmicos. Mas que na
verdade são assuntos comuns ao dia-a-dia e naturais na história da humanidade

Talvez com a mídia e a Era da informação, ainda propagamos muita desinformação que
acarretam em preconceitos e intolerância. Ao invés de usarmos os canais de comunicação para
a informação e compreensão, junto disso acabamos propagando também mentiras, fantasias e
ilusões que acabam causando ou influenciando em preconceitos e ignorâncias.

Entender também faz parte de conseguir olhar as coisas não somente pelo SEU ponto de vista,
que muitas vezes são baseados em meras suposições. Ser capaz de olhar além do que é
apresentado pode resultar em mais sabedoria e compreensão. Ainda mais se levarmos para a
auto-reflexão.
Aprender sem preconceitos. Estar aberto para os conhecimentos, sem julgá-los de antemão e
entender o contexto no qual se insere.

A bruxaria não é boa e nem má. Aliás, como citei, esses conceitos são puramente ideias que
variam de grupo para grupo, logo, a bruxaria está acima disso. Sim, acima do bem e do mal,
assim como o amor.

Peguei um trecho de uma outra postagem que fiz não ha muito tempo, em que cito uma
passagem que muito me agrada:

“A visão do Andarilho é de extrema importância para que este consiga se situar no mundo em
si. Uma boa analogia da qual faço uso para tentar explicar algumas pessoas a reflexão
necessária para enxergar bem e mal, consiste numa encruzilhada de valores. Peguemos como
exemplo um soldado fictício: Esse soldado foi para a guerra em outro país, matou cinquenta
pessoas e voltou como herói. Voltando, esse mesmo soldado é recebido pela sua esposa e pelos
filhos. Ele também é um pai amoroso e um exemplo de homem que sabe exatamente como
tratar a esposa. Esse soldado pode lhe ensinar a matar com perfeição, pois é algo que ele fez
inúmeras vezes. Ao mesmo tempo, ele é capaz de lhe ensinar como tratar bem sua esposa e
seus filhos de forma amorosa e digna. Observando bem, a pergunta seria se ele é “bom” ou
“mau”. A resposta correta seria “pra quem”, pois para seus patriotas ele é um herói, para as
cinquenta famílias que ele ajudou a destruir, ele é um assassino, alguém que merecia morrer.
Esse mesmo soldado pode te ensinar como matar, mas também como amar. Assim é como
muitos bruxos enxergam algumas entidades e Deuses: não como “bons” ou “maus”, mas como
Poderes. Assim poderia ser, por exemplo, com um Demônio ou Anjo, o que para muitos não
possui realmente muita diferença, mas sim, finalidade.”
(5)

No exemplo acima poderíamos explicar de muitas formas o motivo dele ser “bom” ou “mau”,
o que dependeria apenas de quem está julgando ou sob qual ângulo a situação está sendo
vista. Ele escolheu ir para a guerra (seja pelo motivo que for), e ele escolheu matar todas as
cinqüenta pessoas. E mesmo que fosse “obrigado” (pela própria ética ou moral, ou ainda com
pensamentos patriotas ou apenas de dar o melhor naquela situação), da mesma forma ele
tirou a vida de cinquenta pessoas. O motivo é justificável? sim ou não depende de quem está
avaliando.

Todos nós temos nossos próprios valores. Estamos inseridos em algum tipo de moral ou
mesmo que não façamos parte de uma moral específica, somos influenciados por algumas.
Quanto a Ética, também tem a ver com caráter para muitas pessoas, porém, algumas são
conflituosas.

A Bruxaria em si atravessou os tempos, passou por muitas morais e éticas diferentes.


Atravessou Eras, com inúmeras culturas e valores distintos e a mesma coisa ocorre em nossos
dias e que ainda ocorrerá através dos tempos.

A Bruxaria está acima do bem e do mal.

Qualquer obrigação que alguém sinta em relação a isso são apenas ideias pessoais e não
pertencem a bruxaria em si.

A Arte continuará a atravessar os tempos, assim como sempre foi e assim como será, seja
através do sangue, das tradições ancestrais e da terra abaixo de nossos pés, onde jazem os
ossos dos mortos e daqueles que trocam de pele.

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