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O ENSINO DA GINÁSTICA NA
ESCOLA:
Linguagem e criatividade
Campinas
2008
MÔNICA REHDER BONON
O ENSINO DA GINÁSTICA NA
ESCOLA:
Linguagem e criatividade
Campinas
2008
MÔNICA REHDER BONON
Campinas
2008
Dedicatória
Dedico este trabalho a todos que estiveram ao meu lado durante toda minha jornada e
muito me apoiaram. A minha família que muito me ensinou e me apoiou; aos amigos e
namorado que nunca faltaram nas horas que mais precisei.
Agradecimentos
RESUMO
ABSTRACT
This study focused on the possibility of Pedagogized the gym at school, considering it
as dialogical language. I take the concept of language Bakhitn and concepts of
teaching and learning of Vygotsky as unfounded. And, develop interventions in a
private school located in the city of Campinas, with pupils of the fifth year, based on
methodologies that allow the participation of students in the development of lessons.
Therefore, it is a participant in that study were the ownership of the gym by students
and the teacher's intentional mediation during the process.
GA Ginástica Artística
GR Ginástica Rítmica
GG Ginástica Geral
9
SUMÁRIO
1 Introdução 10
2 A ginástica 15
3 Uma forma de pedagogizar a ginástica. 21
4 As aulas 25
4.1 A escola 27
4.2 O processo 28
4.3 Avanços e contradições 32
Considerações Finais 36
Referências Bibliográficas 37
Anexos 39
10
1-INTRODUÇÃO
1
O termo apropriação refere-se a modos de tornar seu; também, tornar adequado, pertinente, aos valores
e normas socialmente estabelecidos. Mas há ainda outro significado, relacionado à noção elaborada por
11
podemos dizer que é o contexto social em que nos encontramos que nos faz aprender
coisas que estão presentes em nossa sociedade. É- também através da linguagem
construímos valores ideológicos. (Jobin e Souza, 1994). Podemos complementar o que
diz Bakhtin com a teoria de Vygotsky, de que a aprendizagem é interacional e a cultura
socialmente construída (Daniels, 1994). Para que possamos nos comunicar com o
contexto social em que nos encontramos, é preciso compreensão. A partir do momento
em que compreendemos o que nos é passado, conseguimos dialogar, conseguimos dar
continuidade ao processo que está acontecendo. Para dialogar também é preciso
criatividade. É ela que permite a continuação do diálogo.
Segundo Bakhtin a primeira voz falante é quem a produz, o ouvinte, a segunda
pessoa do diálogo, faz uma reflexão da mesma e usando de sua criatividade, dá
continuação ao diálogo (Jobin e Souza 1994).
Ao aprender com o contexto social, o dialogo é elaborado com alguém e há a
compreensão e a continuação do mesmo por outrem e o conhecimento é apropriado. A
partir disso, é possível transformar o que está sendo aprendido. Somente pelo fato de
cada pessoa ter uma forma diferente de enxergar o conhecimento e de responder a ele,
esse conhecimento já se torna diferente ao ser apropriado por cada um. Ao fazermos
isso estamos construindo nosso conhecimento, ele não é algo que está pronto, é
processual.
É importante que o processo de aprendizagem propicie aos alunos espaços
aberto para atuarem por si próprios. O foco deste trabalho é a ginástica pensada como
linguagem, e sendo assim, cada aluno terá uma interpretação e uma resposta aos
movimentos e exercícios da mesma. Como professora, devo possibilitar espaços para
que os alunos possam se expressar com relação à ginástica.
Pensando na ginástica como linguagem, é possível pedagogizá-la na escola
desde esta perspectiva?
Neste trabalho tenho a ginástica como um conteúdo da educação. Busco
apresentar uma forma de pedagogizá-la. Durante o processo de aprendizagem é
Max e Engels, na qual o tornar próprio implica “fazer e usar instrumentos” numa transformação recíproca
de sujeitos e objetos, constituindo modos particulares de trabalhar/produzir. (Smolka, 2000, p. 28)
Smolka, A. L. B., - O (im)próprio e o (im)pertinente nas apropriações das práticas sociais. Caderno
Cedes, anoXX, nº 50, Abril/00
12
preciso que os alunos tenham espaços abertos para intervirem e que esse processo
contribua na formação de cada um. A ginástica deve ser entendida por cada um dos
alunos, como algo que também os pertence e que pode ser modificada por eles, e que
tenham autonomia suficiente para construir sua própria ginástica, para transformá-la.
Elaborei um modelo de como seria o diálogo da ginástica. A enunciação, que
seria o conhecimento da ginástica, e de seus elementos tradicionais. Isso faria os
alunos compreenderem a ginástica, e a partir disso, usando de criatividade, dariam
continuidade ao diálogo da ginástica. O resultado de todo a compreensão e apropriação
da ginástica apareceria na coreografia final. Como um todo, o conteúdo foi entendido
como linguagem, pois essas etapas aconteceram, mesmo que não em toda aula, mas
durante o processo. E a coreografia final é uma prova disso. Porém, os conteúdos de
cada aula, algumas vezes não passaram por esse processo completo, mas
contribuíram para o processo todo.
Para que este processo seja possível, é preciso pensar como se darão as aulas,
como cada etapa será construída. Para isso busquei algumas teorias norteadoras da
Educação Física, que para mim são de grande importância, pois me fazem acreditar ser
a melhor forma de se pensar e de ensinar os elementos da cultura corporal. Desenvolvi
um cronograma de aulas que foram realizadas em uma escola particular situada em um
bairro de classe média, localizado em um distrito de Campinas. Essa escola atende a
população local, crianças aparentemente de classe média. A turma escolhida foi uma
turma de quinto ano, entre dez e onze anos. As atividades foram feitas em grupos, em
sua maioria, precedidas de conversa em roda para contextualização do conteúdo e
possíveis discussões. As atividades não foram apenas reproduções de modelos,
permitiram aos alunos usarem sua criatividade e apresentarem novas formas de
elementos ginásticos. As aulas foram contextualizadas pela história da ginástica, assim
os alunos vivenciaram como ela se iniciou e algumas das diferentes ginásticas que
temos hoje. Além da vivência, os alunos foram estimulados a pensar como essas
ginásticas, mesmo que tradicionais, podem ser feitas de maneira diferente, ou seja,
transformadas por eles. Finalizamos o conteúdo com a ginástica geral, pois esta
permite uma síntese, em forma de coreografia, na qual os alunos poderiam utilizar tudo
que vivenciaram durante o processo de desenvolvimento do estudo.
13
Durante o processo das aulas fui uma observadora participante, pois além de
observar o que se passava na aula estava totalmente inserida nas mesmas,
ministrando-as. Esta é uma estratégia segundo Ludke (1986), que combina análise
documental, a participação e observação direta e a introspecção. Para delimitar minhas
observações, construí um roteiro inicial que privilegiou os seguintes pontos:
• Perfil dos alunos;
• Planejamento, e a aula de fato;
• Como o conteúdo da ginástica foi apropriado pelos alunos;
• Espaços da escola;
• Ambiente social da escola.
Ainda como observante, dei ênfase aos pontos chaves das aulas, como
por exemplo, atividades que desencadeassem diversas interpretações, por parte
dos alunos. A partir desses acontecimentos/ fatos que poderiam ocorrer durante
as aulas me auto-observei, procurando perceber como eu, no papel de
professora, poderia dar continuidade ao diálogo2 da ginástica. Observei também
como se deu a apropriação da ginástica, a partir do contexto social em que os
alunos estão inseridos.
Observei os gestos que desencadearam diversas interpretações e
modificações ao longo das aulas, eles foram o ponto chave para a análise dos
dados. Muitas vezes para dar continuidade à aula, eu precisei intervir para fazer
com que os gestos que constituíram as aulas pudessem ter uma compreensão, e
usando da criatividade, uma resposta. Acredito que estas observações e este
trabalho em si permitirão a mim e aos meus colegas de profissão uma outra
visão e uma nova possibilidade sobre o ensino da ginástica. Nesta perspectiva, é
possível pensar que a ginástica além de ser sociabilizada, pode incitar novas
formas de praticá-la, além disso, este processo pode possibilitar uma formação
processual para todos o que nele se envolveram (pesquisador, professor,
alunos).
Este estudo está dividido em quatro capítulos. No primeiro capítulo é
discutida a ginástica e como ela pode ser pensada como linguagem. Como se
2
Uso o termo diálogo, pensando a teoria de Bakhtin, substituindo as palavras pelo gesto ginástico.
14
2 - A GINÁSTICA
A ginástica nem sempre se configurou nos moldes que temos hoje. Por muito
tempo a ginástica foi considerada toda e qualquer atividade física. Segundo Ramos
apud Souza (1997, p. 21) a ginástica era entendida como a prática do exercício físico e
acompanhou o homem por toda sua história.
Segundo Souza (1997, p. 21), na Grécia surgiu o conceito de beleza humana, a
atividade física era muito valorizada, tanto como educação do corpo, em Atenas como
preparação para guerra, em Esparta. Além da Grécia, muitos outros países utilizavam a
atividade física como forma de preparar o corpo para a guerra. No período da idade
Média não foi diferente, a atividade física era feita para preparação dos soldados para
as cruzadas.
Mas, foi na Idade Moderna que o exercício físico passou a ter grande valor na
educação. (Souza, 1997). A partir de 1800, segundo Soares (2004, p. 51), começou a
sistematização dos movimentos ginásticos. Na Europa surgiram quatro grandes
movimentos ginásticos, sendo que um deles aconteceu na Inglaterra e teve o esporte
como foco. Os outros três movimentos Ginásticos eram: o movimento do Oeste (escola
Francesa); o movimento do centro (escolas de ginásticas Da Alemanha, Áustria e
Suíça); e o movimento do norte (escola Sueca e abrangeu os demais países nórdicos).
Essas escolas segundo Soares:
de um modo geral, possuem finalidades semelhantes: regenerar a raça (não
nos esqueçamos do grande número de mortes e doenças); promover a saúde
(sem alterar as condições de vida); desenvolver a vontade, a coragem, a força,
a energia de viver (para servir a pátria nas guerras e na indústria) e, finalmente
desenvolver a moral (que nada mais é do que uma intervenção nas tradições e
nos costumes dos povos) (2004, pg. 52)
homem e como construímos nossa linguagem por meio do contato com nossa cultura,
assim toda manifestação da cultura corporal pode ser pensada como linguagem.
A linguagem é o que nos permite uma interação com o mundo. Construímos
nossa linguagem a partir do diálogo, utilizamo-nos de símbolos e signos que estão
presentes no contexto social em que estamos inseridos, para o construirmos. Utilizamo-
nos de palavras que estão presentes no nosso dia-dia, convivemos, com essas
palavras e nos apropriamos delas, as fazemos terem sentido para nós. A partir disso
construímos o significado de cada palavra, e sem o contexto a mesma não tem sentido.
Com os gestos que constituem uma determinada prática corporal, no caso a ginástica,
isso não é diferente. Apropriamo-nos de gestos e maneiras de nos portarmos no
contexto social em que estamos inseridos. Ao executarmos uma atividade, teremos um
repertório cultural que configurará o gesto. Ao partirmos para a aprendizagem de uma
prática, em específico, carregamos conosco essa bagagem, essa linguagem que
podemos chamar de linguagem corporal. Cada elemento da cultura corporal teve um
significado e ainda hoje é ressignificado, está sujeito a mudanças. Nossos gestos nos
permitem nos comunicarmos com o mundo, sem sequer dizer uma palavra falada, eles
fazem parte da constituição de nossa linguagem.
Segundo Jobim e Souza 1994:
É na linguagem e por meio dela que construímos a leitura da vida e de nossa
própria historia. Com a linguagem somos capazes de imprimir sentidos,
sentidos que por serem provisórios refletem a essencial transitoriedade da
própria vida e de nossa existência histórica. (Jobin e Souza, p. 21)
para que cada pessoa possa contribuir para a construção de um elemento, assim este
elemento terá características diferentes vindas de várias pessoas.
A ginástica como manifestação dialógica permitirá que cada pessoa acrescente a
sua interpretação a respeito da mesma. Desta forma, novos elementos aparecerão e o
processo de transformação continuará por parte de cada um, esses elementos serão
apropriados e farão parte da bagagem de cada aluno, tendo assim um significado para
eles. Somente quando algo possui um significado é que conseguimos perceber que
aquilo faz parte de nossas vidas. Para cada pessoa e para cada cultura haverá uma
interpretação do que estamos vivendo, porém com significado diferente. Estes
significados serão construídos socialmente, através da sociabilização; segundo a teoria
de Vygotsky, citada por Smolka, na “abordagem do funcionamento mental humano,
onde o conhecimento é internalizado, a dimensão social da consciência é primordial”
(Smolka, apud Daniels, 1995, pg. 121). Isso nos leva a entender que a construção do
conhecimento se dá socialmente. A apropriação do mesmo acontece, pois o contexto
social é quem/ o que possibilita a construção do conhecimento. Construímos nossa
linguagem a partir de nossos corpos, conhecemos a realidade a partir deles, toda a
transformação de nossas vidas se dá a partir de nossa linguagem e de nossas
apropriações.
Por mais que os professores buscassem manter a técnica estritamente como foi
criada, sempre ensinando os elementos da ginástica com uma única forma de executá-
los, mesmo assim, a ginástica foi e é sociabilizada, transformada, apropriada. Por mais
que pareçam insignificantes estas transformações aconteceram. Seja nas escolas de
ginástica, seja na rua, em espaços de treinamento; a ginástica é um conteúdo da
cultura corporal, construído historicamente que faz parte da construção de nossa
linguagem. Linguagem construída e apropriada do contexto social em que cada pessoa
está inserida. Por mais que a ginástica possua elementos e gestos característicos, a
forma de executá-los e de apropriá-los dependerá do contexto social de cada pessoa.
21
4 - AS AULAS
aconteceriam. Um exemplo disso foi a forma de abordar o conteúdo da GG. Nas aulas
em anexo, podemos ver que eu iria trabalhar um elemento de cada vez: os saltos, os
giros e os equilíbrios. Além de trazer outros elementos que não os da ginástica para a
aula. Na primeira aula de GG, notei que os alunos tiveram dificuldade em trazer para a
ginástica os elementos do esporte, que foi o mais utilizado. Os alunos não conseguiam
se desvincular da imagem que possuem dos esportes. Traziam elementos exatamente
como são: a cesta do basquete como cesta de basquete, a cortada do vôlei como a
cortada do vôlei. Era preciso lembrá-los de transformar isso em algo ginástico. A
composição feita neste dia foi rica em elementos como saltos, giros entre outros
elementos ginásticos, além dos elementos do esporte que com muito custo os alunos
trouxeram para a ginástica. Por isso modifiquei as aulas seguintes, deixando-as para a
composição da coreografia em grupo. O princípio das aulas abertas, discutida
anteriormente, nos orienta para que os alunos possam de fato intervir nas aulas, até
mesmo no planejamento do conteúdo. Neste trabalho o conteúdo já foi estabelecido,
era preciso trabalhar a ginástica. A participação dos alunos aconteceu muito mais nas
aulas e nas atividades, do que no planejamento. Pelo conteúdo ser pré-determinado e a
forma de abordá-lo, eu procurei deixar as aulas com espaços para que os alunos
interviessem, para isso elaborei atividades em grupos, além disso, estava sempre
atenta a novas propostas para a elaboração das atividades.
Vejamos uma passagem da aula de GG:
“Sugeri que se dividissem em trios ou em duplas para pensar em algum
elemento que poderia vir de outra área para a ginástica. Alguns alunos me pediram se
poderiam ser dois grandes grupos. Consultei a sala toda e todos acharam que era
melhor os dois grupos. Não me opus à decisão da turma.”
Apesar de me terem como um símbolo de autoridade, isto de modo algum
representou autoritarismo, pois eu procurava dar a eles espaços para que de fato
contribuíssem com as aulas. E não apenas que me obedecessem, porém em alguns
momentos acabei me contradizendo, falarei disso mais a frente.
27
4.1 A ESCOLA
experiência nova, visto que são os mais antigos alunos da Professora de Educação
Física que me recebeu. E a forma como a professora colocou a pesquisa os fez pensar
que faziam parte de algo muito importante, acredito que isto contribuiu muito para terem
colaborado bastante em quase todas as aulas. Desde o primeiro ano, estes alunos têm
contato com a ginástica, pois a professora procura trabalhar os conteúdos da Educação
Física de uma forma completa. Em especial, eles possuem um contato maior com a
ginástica acrobática, pois em um ano eles vivenciaram vários educativos, e puderam se
aprofundar um pouco mais nestas técnicas. Acredito que as aulas de Educação Física
nos anos anteriores contribuíram para a formação destes alunos e para a bagagem que
possuem. Assim, quando cheguei à escola os alunos me receberam com entusiasmo,
muito curiosos e ansiosos para começarmos. Ter alunos participativos era um grande
passo para alcançar meu objetivo, ou seja, o de ensinar a ginástica como linguagem.
4.2 O PROCESSO
academias chegou à discussão, perguntei se achavam que tudo era da mesma forma
que é hoje. A resposta foi não. A questão agora era quais e como eram feitos os
exercícios. Para isso usei os elementos presentes na ginástica Natural, usei essa
palavra, mas não foi suficiente, muitas dúvidas surgiram a respeito do que seria natural
para o ser humano. Quando me referi ao que fazem os bebês, as respostas foram
imediatas. Os exercícios citados foram: rastejar, engatinhar, etc. Pedi então que os
fizessem. Neste momento temi que a aula fosse dar errado, pois todos apenas
andavam desmotivadamente. Improvisei rapidamente, pedindo que explorassem os três
planos: alto, médio e baixo, a partir disso a aula aconteceu. Continuamos com a idéia
de dificultar esses movimentos, minha idéia era que eles chegassem a movimentos que
conhecemos como: correr ao invés de andar, fazer um grande agachamento antes de
saltar, entre outros. Eles encontraram outras formas de dificultar os movimentos. Como
por exemplo, para dificultar a forma de andar, eles amarraram os sapatos de duas
pessoas; para dificultar a forma de engatinhar, colocaram uma pessoa sentada nas
costas da outra, pularam segurando o pé de sua dupla, um de frente para o outro”.
Algumas vezes ao apresentar a ginástica para eles, me detive na ginástica em
sua forma unívoca, fazendo com que vissem a técnica como ela realmente é. Apesar de
temer que reproduzissem apenas o que estavam vendo, como já dito anteriormente.
Era preciso experimentar as duas possibilidades para saber se daria errado ou se daria
certo. No caso da GR, isso deu certo:
“Procurei usar vários artifícios para que conhecessem tudo ou quase tudo sobre
a ginástica. Para falar da GR, passei um vídeo. Neste vídeo continha imagens das
Olimpíadas deste ano, essas imagens expressavam o mais alto nível técnico existente
na GR. Antes de começarmos a assistir questionei-os a respeito da GR, o que
conheciam sobre ela. E o mais conhecido eram os aparelhos. Conforme fomos
assistindo ao vídeo, perguntas foram surgindo. Só após essas perguntas foi que fiz a
contextualização da GR, como surgiu, porque, e como se dá nos dias de hoje.
Conforme respondia cada pergunta outras surgiam. Em meio aos vídeos pedi que
pensassem o que tinha em comum, entre as ginastas. Concluímos que a leveza, os
giros e o equilíbrio eram comuns. Pedi que pensassem então, como poderíamos trazer
esses elementos para a escola, para pessoas que não são atletas [...] O resultado disso
31
3
Para pensar que a mediação do professor é intencional e não se pauta em não diretividade, tomo
emprestado o termo razão pedagógica segundo Bonte e Izard apud Dauster apud Tibau (2007 p. 87).
Segundo estes autores o termo razão pedagógica se justifica por ser um “processo educativo enquanto
inculcação de valores d disposições duráveis, matriz de percepções, juízos e ações desenvolvidas por
uma cultura para transmitir seus valores”.
32
poderiam ser feitos sem causar danos a ninguém, mas que não foram sequer
cogitados. Além de outros elementos que poderiam ter sido acrescentados ao
conteúdo, pois se tratava de algo lúdico. Como já dito anteriormente, os alunos dessa
turma possuem grande bagagem em ginástica acrobática, quando tratamos do assunto,
eles somente relembraram o que já haviam vivenciado em outras ocasiões. Neste
conteúdo apesar de ter sido tratado de forma lúdica, foi uma forma unívoca de ver a
ginástica, o que era para ser criativo, foi apenas uma reprodução de técnicas já
conhecidas.
4
Em nenhum momento foi declarado aos alunos o objetivo desta pesquisa, ginástica tratada como
linguagem.
33
Mesmo tendo conseguido (na maioria das aulas) tratar a ginástica como uma
linguagem dialógica, em alguns momentos me voltei para a linguagem unívoca. Um
desses momentos foi durante a aula de Ginástica Calistênica:
“Os alunos pensaram em casa como os exercícios realizados na aula anterior
poderiam ser feitos dentro de um quadrado. Após a apresentação de vários
movimentos feitos por eles, (com essa idéia do quadrado) que poderiam perfeitamente
se encaixar nos exercícios da ginástica clalistênica, foram dados alguns exemplos da
mesma pela professora, esses exemplos serviram de base para pensar a transição
entre a ginástica calistênica e a GA.”
Ao dar os exemplos, a ginástica serviu apenas como fonte de informação para
dar continuidade aos elementos que viriam depois.
Acredito ter me contradito em vários outros momentos. Os momentos em que os
alunos apenas recorriam à técnica que já conheciam, ao invés de criarem coisas novas,
aconteceram, pois eu não fui clara o suficiente para que eles conseguissem
compreender o que eu estava buscando, que era fazer com que eles respondessem a
enunciação trazendo para ela sua linguagem social, como já dito anteriormente. Os
alunos seguiram as instruções, mas não interagiram como eu imaginava, acredito que
isso aconteceu por eu não ter sido clara, e por algumas vezes, não saber direito como
apresentar o conteúdo a eles. Isso se deu pela minha inexperiência como docente.
Vejamos uma aula em que isso aconteceu:
“Na aula anterior eles deveriam ter pensado como fazer os elementos da GA, de
forma diferente, [...] Foi preciso colocá-los em filas para que demonstrassem o que
haviam feito, para que os demais experimentassem o exercício de cada um. Saíram
exercícios combinados, como: chassé lateral e rolamento, rolamento a frente e
rolamento a trás. Um aluno não sabia o que fazer, me pediu ajuda. Dei o exemplo do
rolamento do palhaço, uma forma diferente de fazer o rolamento (como eu esperava
que iriam acontecer os elementos trazidos por eles, não necessariamente com nomes
diferentes). Mas mesmo assim os elementos clássicos continuaram, apenas
combinados.”
Esta passagem mostra que somente o fato de pedir para que fizessem os
movimentos de uma forma diferente não foi o suficiente para que compreendessem que
34
poderiam acrescentar algo mais aos elementos clássicos. Algo como o rolamento do
palhaço. Eles compreendiam da forma que eu explicava, e essa forma algumas vezes
não foi completa para que chegassem aonde eu esperava.
Outra contradição foi com relação à metodologia. Busquei me orientar pelas
concepções das aulas abertas e teoria crítico-superadora, como já dito e discutido no
capítulo II. Em alguns momentos não permiti que os alunos se expressassem, sendo
autoritária, dessa forma, não permiti que os alunos contribuíssem para o diálogo da
ginástica que estava acontecendo, durante as aulas. Algumas vezes, tomei este tipo de
atitude, pois não possuímos tempo hábil para tantas discussões, e se não
colocássemos em prática tudo o que estávamos discutindo, não sairíamos do lugar com
o conteúdo. Outras vezes, isso se deu, pois os alunos solicitaram um conteúdo que não
era parte da ginástica, vejamos esta aula:
“Nesta aula eu havia tido problemas com o ônibus e cheguei atrasada. Esta foi
uma aula em que a professora da turma estava ausente e havia uma professora
substituta que sabia que eu daria a aula desta turma, e que seria uma aula de ginástica,
mas ela não estava interada com o meu planejamento. Por isso enquanto eu ainda não
havia chego, deixou que eles escolhessem o que teriam na aula, temendo que se ela
desse continuidade ao conteúdo de ginástica interviria na minha pesquisa. Meu atraso
não foi o suficiente para sequer começarem a outra atividade, que era vôlei. Ao chegar
os alunos me abordaram perguntando se poderiam jogar vôlei. Sentia-me culpada por
ter chegado atrasada, neste momento fiquei pensando o que a teoria dizia sobre
ensinar aos alunos o que eles querem aprender, mas vôlei sairia do contexto da
ginástica (foco desta pesquisa), e não tive criatividade suficiente naquele momento para
unir a duas coisas. Consultei a outra professora e deixei que os alunos jogassem por 15
minutos, o que é bastante para uma aula de 50 minutos. [...] Passados 15 minutos, pedi
que voltassem para a ginástica, os alunos relutaram, usei de minha autoridade para
retomar o conteúdo.”
Se ao invés de fazê-los voltar para o conteúdo da ginástica, eu tivesse tentado
conciliar as duas coisas, os alunos poderiam trazer novos elementos para a ginástica, o
que teria sido bastante interessante, mas quando me deparei com uma situação muito
35
5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
A ginástica passou por muitas denominações, por muito tempo foi confundida
com toda e qualquer atividade física. A sistematização da ginástica em escolas de
ginástica acontece em um contexto em que a educação do corpo estava sendo
valorizada, pois a educação física era capaz de corrigir vícios de postura causados pelo
trabalho, como vimos no primeiro capítulo. As técnicas para isso foram se aprimorando
até chegarmos ao que temos hoje, diferentes tipos de ginástica, como esporte, como
atividade lúdica, como uma atividade física, como ginástica. Neste trabalho pensei em
como a ginástica que passou por tantos contextos, sendo assim construída
historicamente, pensando que ela pode ser ensinada na escola como linguagem.
Para isso utilizei de Bakhtin e seu conceito de linguagem, discutido no primeiro
capítulo. Pensei como trazer as idéias de Bakhtin para a Ginástica e como fazer dela
um diálogo, permitindo que ela fosse uma linguagem dialógica. Desenvolvi onze aulas,
que acreditei contemplarem essa idéia, e propus-me a desenvolvê-las em uma escola,
usando de duas metodologias da Educação Física, foram elas: a teoria crítico-
superadora, e as concepções de aulas abertas.
Procurei verificar como ocorria a mediação intencional da professora (que no
caso era também a pesquisadora) e como os alunos se apropriaram deste conteúdo.
Durante este caminho, houve algumas contradições. Mas acredito que elas
aconteceram em grande medida pela minha inexperiência como docente, e por
imprevistos que podem acontecer com qualquer pessoa, em qualquer aula, em se
tratando de qualquer conteúdo e que são fundamentais para o avanço do
conhecimento.
Entre avanços e contradições, posso dizer que os primeiros prevaleceram,
acredito ter alcançado meu objetivo, qual seja, de ensinar a ginástica como linguagem
dialógica na escola.
37
REFERÊNCIAS
BRACHT, Valter et al. Pesquisa em ação: Educação Física na escola. Ijuí: Unijui,
2003, 128 p. (Coleção Educação Física).
GÓES, Maria Cecília R.; B.SMOLKA, Ana Luiza (Org.). A Significação nos espaços
Educacionais: Interação social e subjetivação. Campinas: Papirus Editora, 1997. 179
p.
________.A linguagem como gesto, como jogo, como palavra: Uma forma de ação
no mundo. Leitura: Teoria e Prática no 5,
ano 4, junho de 1985.
SOUZA, Elizabeth Paoliello Machado de. Ginástica Geral: Uma área do conhecimento
da Educação Física. 1997. 163 f. Tese (Doutorado) - Faculdade de Educação Física,
Campinas, 1997. Cap. 1.
ANEXOS
40
Anexo A
Aula 1
Atividades
• Fazê-los explorar atividades que pareçam naturais ao ser humano:
rastejar, engatinhar...
• Pensar o corpo como máquina: nesta atividade estimular os alunos
a criarem atividades que faça o corpo representar/funcionar como máquina. E
dificultar os exercícios tidos como naturais. Atividade feita primeiro em duplas e
depois em grupos.
• Circuito de exercícios de preparo físico: esta atividade pode ser
montada a partir dos exercícios criados na atividade anterior, ou, pode ser criada
pelo professor, sendo a primeira sugestão a melhor aceita.
Swing dinamarquês (exercícios de pêndulo e movimentação do corpo)
Aula 2
Atividades
• Transição entre calistenia e ginástica artística. Dar um exemplo de
exercícios de pêndulo. Dar alguns exemplos de Exercícios calistênicos. Estimula-
los a criar novos exercícios que façam a transição entre a ginástica calistenica e
a ginástica Artística.
41
Aula 3
Atividades
Aula 4
Atividades
42
Aula 5
Atividades
Aula 6
Atividades
43
Aula 7
Ginástica Geral. Como surgiu a Ginástica Geral, e a riqueza de elementos
presente nela.
Atividades
Aula 8
Atividades
44
Aula 9
Ginástica Geral
Atividades
Aula 10
Atividades
Aula 11