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CRIATIVIDADE 1

- Isabel Lima, 1996

A criatividade é vital à existência do ser humano. Segundo Patrick (1955)


se a criatividade for sufocada o indivíduo pode perder a satisfação de viver
e entrar em tensão e colapso.

A palavra criatividade tomou uma forte importância no vocabulário do séc. XX ,


devido sobretudo a exigências pragmáticas do após-guerra, é a partir dos anos cinquenta,
com os estudos de Guilford e com o movimento humanista que se observa um maior
interesse pelo processo criador e seus modos de expressão.
A concepção de criatividade depende de inúmeras variáveis e quando se fala de
criatividade há ainda alguma tendência para a associar aos objectos de arte e aos artistas.
No entanto, a concepção generalizada entre os investigadores, é que a criatividade parece
existir em diferentes graus em todos os indivíduos.

Numa tentativa de compreensão do processo criativo alguns investigadores como


Guilford e Torrance incidiram no estudo de personalidades consideradas criativas em
domínios da ciência e da arte. Nos seus trabalhos de investigação procuraram encontrar
factores inerentes à capacidade criadora, traços de personalidade da pessoa criativa,
características motivacionais e factores facilitadores e inibidores da actividade criadora.

Numa perspectiva mais abrangente Winnicott diz que a criatividade é inerente ao


modo de "estar vivo", e está intimamente ligada à qualidade da relação do indivíduo com a
realidade externa. O impulso criativo está assim presente tanto no acto deliberado de
realização de algo, como no fruir de uma sensação. Neste sentido, o potencial criativo é
para Winnicott, até certo grau, inerente a todos os indivíduos.

Carl Rogers afirma que o potencial criativo é canalizado e expresso através de


actividades que promovam a auto-realização. Enfatiza sobretudo o papel desempenhado
pela motivação intrínseca do indivíduo, facilitadora do processo criativo, e alerta para o
facto da motivação extrínseca poder provocar o desvirtuar do processo.
Neste sentido Rollo May (1982) subinha a importância de um contexto social
favorável ao desenvolvimento do processo criador dado que este implica uma situação de
libertação de constrangimentos.
Nesta perspectiva um ambiente facilitador e estimulante da criatividade será aquele
que aceite e valorize a espontaneidade, a curiosidade, a independência e a iniciativa,
rejeitando a estereotipia e o conformismo.

1
Extracto de comunicação apresentada no Cridem’96 , colóquio “Criatividade do Deficiente Mental” –
Novembro de 1996 – Forum da Maia.
Embora não exista uma definição precisa de criatividade, está-lhe associada a
noção de processo, que por si parece integrar processos ainda não totalmente conhecidos.
No entanto, há indicadores de que lhe estão subjacentes tanto a capacidade de elaboração e
de abstracção, como a interioridade do indivíduo, afectos, imaginação, como intuições
espontâneas de origem não racional, como o sublinha entre outros Maslow, assim como a
atenção ao acaso como refere Souriau.
Em síntese pode-se dizer que o processo criador é complexo e dinâmico, e que nele
interagem características personalísticas, processos cognitivos e processos inconscientes,
vivências, afectos, o "background" individual, assim como a inter-relação com o meio
envolvente.

Nas crianças a actividade criativa é um processo natural, é uma constante no seu


vivenciar das situações neste sentido Winnicott afirma: "a experiência criativa começa
com o viver criativo, manifestado primeiramente na brincadeira". Torrance diz que a
criança criativa aprende parecendo que está a brincar, gosta de dedicar o seu tempo a
actividades manipulativas, tem impulso para explorar e criar.
Da reacção activa com o ambiente, e de acordo com suas idiossincrasias (que são
determinantes), a criança apropria-se de múltiplas informações - esquemas visuais,
esquemas motores, ritmos, conceitos, processos de associação, de dedução e de indução,
sensações de prazer, de dor - que como sedimentos se alojam na interioridade do ser.
Experiências, pensamentos, emoções que a criança precisa exprimir, numa completa
liberdade de expressão simbólica, favorecendo o jogo espontâneo de percepções, conceitos
e significados.

Se os investigadores parecendo alhear-se das emoções deram ênfase ao racional,


hoje assiste-se à revalorização das emoções, sabe-se que emergem na prática de actividades
criativas. E o indivíduo pode através destas práticas tornar-se mais atento ao mundo, mais
livre na acção, mais flexível e sobretudo pode descobrir o seu equilíbrio interior.

Neste sentido, partindo do pressuposto que o indivíduo não é uma entidade apenas
racional, no sentido em que ele integra outras componentes que são essenciais ao seu pleno
desenvolvimento, e que a razão como diz João dos Santos tem "geneticamente um ponto de
partida emocional" (1982, p.21), as actividades ligadas à arte podem estabelecer, como o
sublinha Lowenfeld "o equilíbrio necessário entre o intelecto e as emoções".

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