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ANÁLISE E PRODUÇÃO DE RECURSOS DIDÁTICOS

RÔMULO A. MACHADO NETO

PRODUTO EDUCACIONAL

INTRODUÇÃO
A pesquisa intitulada “Caminhos e possibilidades que emergem da associação entre
Modelagem Matemática e Robótica Educacional para uma educação matemática”.
Está inserida no Programa de Pós-graduação em Educação em Ciências e Matemática
(Educimat) do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), Campus Vila Velha.

Discussões acerca da necessidade de estabelecer novas práticas pedagógicas para o ensino


de matemática é latente na sociedade atual. Segundo Skovsmose (2000), ao longo dos
anos, o ensino da Matemática tem ocorrido de forma tradicional pautado no paradigma
do exercício, no qual valoriza a transmissão massiva de conteúdos, com aulas expositivas,
seguidas de listas de exercícios, voltadas a memorização de certo conteúdo.

É possível inferir que como alternativa a este ensino tradicional, pode-se adotar práticas
pedagógicas voltadas ao desenvolvimento da criticidade do estudante, para que na
sociedade atual, possa se tornar um cidadão ativo, atuando de maneira crítica e reflexiva.
Diante da relevância estabelecida e das novas necessidades ao ensino de matemática,
algumas tendências em Educação Matemática como a Modelagem Matemática (MM) e a
utilização de Tecnologias como a Robótica Educacional (RE) se mostram possíveis
potenciais na prática docente uma vez que promovem a motivação, preparação para
utilizar a matemática em diferentes áreas do conhecimento, promovem a pesquisa/
investigação em âmbito escolar, a contextualização com ênfase na realidade do aluno e
da sociedade atual, autonomia e cooperação, são argumentos encontrados em Barbosa
(2004) e Zilli (2004).

De encontro à problemática do ensino tradicional da matemática e acreditando nas


potencialidades de tendências em Educação Matemática como a MM e a RE, chegamos
à questão central da pesquisa: Quais possibilidades e desafios que emergem da
associação entre modelagem matemática e a robótica educacional para uma
educação matemática? e para responder o problema da nossa investigação traçamos o
objetivo principal: Identificar potencialidades da robótica educacional sob viés da
modelagem matemática para uma educação matemática científica-tecnológica, e os
objetivos específicos: Identificar quais matemáticas são reveladas através de uma
atividade de robótica norteada pela modelagem matemática em um aspecto metodológico;
Promover a alfabetização científica utilizando a robótica educacional sob viés da
modelagem matemática; Desenvolver um artefato educacional para que essas
atividades possam ser trabalhadas por outros professores e alunos. Este último
objetivo específico tem relação direta com este trabalho. Nos próximos capítulos,
pretendemos desenvolver e estruturar com mais detalhes o nosso produto educacional.

Para a elaboração e análise do nosso produto, tomamos como base teórica os eixos
conceituais proposto por Kaplún (2003): eixo conceitual, eixo pedagógico e eixo
comunicacional.

MODELAGEM MATEMÁTICA E AS IMBRICAÇÕES ENTRE O EIXO


CONCEITUAL E O EIXO PEDAGÓGICO

Para Kaplún (2003), eixo conceitual são “as ideias centrais que serão abordadas pelo
material, bem como o tema ou temas principais através dos quais se procurará gerar uma
experiência de aprendizado” (Kaplún, 2003, p.48). Nesse sentido, vamos utilizar a
Modelagem Matemática na perspectiva de Barbosa (2001) como o eixo conceitual de
nosso produto educacional.

A perspectiva defendida por Barbosa (2001), traz que “A Modelagem é um ambiente de


aprendizagem no qual os alunos são convidados a indagar e/ou investigar, por meio da
matemática, situações oriundas de outras áreas da realidade”. A perspectiva de
modelagem, proposta por Barbosa (2001), é denominada sociocrítica. O principal
argumento para a inclusão da MM em sala de aula é a preparação para utilizar tal
disciplina em diferentes áreas, desenvolvendo, assim, habilidades gerais de exploração e
compreensão do papel sociocultural da matemática. Devido ao cunho sociocrítico, esse
argumento está ligado ao interesse de formar sujeitos para atuar ativamente na sociedade
e, em particular, para serem capazes de analisar a forma como a matemática é usada nos
debates sociais.

Podemos inferir que a modelagem na perspectiva sociocrítica não está somente


interessada nos processos técnicos matemáticos na obtenção do modelo, ela transcende
as dimensões técnicas e busca fazer uma análise crítica do papel dos modelos matemáticos
na vida social. Barbosa (2001) enfatiza que questões do tipo “Como são usados?”, “O que
representam?”, “Quem os constrói?”, “A quem servem?” etc. merecem atenção.

Norteado pela Modelagem Matemática, o nosso PE também tem como principal


articulador, este campo teórico. Pois a modelagem matemática pode ser tomada tanto
como um método científico de pesquisa quanto como uma estratégia pedagógica de
ensino-aprendizagem da matemática (Bassanezi, 2014). O que nos leva a inferir que a
Modelagem Matemática é tanto parte do eixo conceitual como eixo pedagógico.

Para Kaplún (2003), o eixo pedagógico é

[...] ou deveria ser, segundo nos parece, o articulador principal de um


material educativo, se é que queremos que ele seja realmente educativo.
E através dele que estabeleceremos um ponto de partida e um ponto de
chegada, em termos de tentativa, para o destinatário do material. Ou seja,
é assim que lhe propomos um caminho, que ele é convidado a percorrer
uma nova perspectiva que queremos abrir para ele, ou que lhe propomos
que descubra. Ao fim desse caminho poderá ele, ou não, ter efetivamente
mudado ou enriquecido algumas de suas concepções, percepções, valores
etc. De qualquer modo, pelo menos a possibilidade estar aberta
(KAPLÚN, 2003, p.49).

Deste modo o PE será construído sob o viés da Modelagem Matemática na pespectiva


sociocrítica. Há diversas maneiras de implementar a MM em sala de aula, podemos
refletir sobre duas perspectivas: A primeira é como podemos adotar o ponto de partida da
ação pedagógica e qual será o papel do professor e do aluno nesse processo de ensino-
aprendizagem. A segunda é, por quais etapas devemos caminhar no processo de ensino-
aprendizagem numa atividade de modelagem, uma vez que já foi estabelecido o ponto de
partida da ação pedagógica.

Barbosa (2001), propõe a possibilidade de 3 casos em que podemos discutir o ponto de


partida da aula e o papel do professor. Deixando claro que, cada caso depende do contexto
escolar, da experiencia do professor e no interesse dos alunos. No caso 1 o professor
levará a situação-problema a ser estudada, a descrição da situação, os dados (reais) e
caberá o aluno o processo de resolução e de interpretação dos resultados. No caso 2, o
professor trás para sala a situação-problema e caberá os alunos a coleta de dados
qualitativos e quantitativos necessários para a resolução do problema central. Percebe-se
que no caso 1 para o caso 2, os alunos são mais responsabilizados pela condução das
tarefas. No caso 3 a formulação da situação-problema, a coleta de dados e a resolução
cabem aos alunos, sobre a mediação do professor.

Do caso 1 para o caso 3 a responsabilidade sobre a condução das tarefas vai sendo
compartilhada com os alunos e com isso vai-se ampliando os desafios do professor para
com a atividade. Barbosa (2001) faz o esquema abaixo que especifica algumas tarefas do
aluno e do professor em cada caso:

Figura 1 - Tarefas dos alunos e professores nos “casos” de Modelagem.

Fonte: Barbosa (2001)

O nosso produto educacional caminha nesse sentido, servir como suporte teórico-
metodológico de uma atividade de modelagem matemática. Em nosso produto vamos
abordar sobre orientações ao professor desde o caso 1 até o caso 3, os desafios, as
possibilidades e possíveis caminhos a serem conduzidos em sala de aula.

EIXO COMUNICACIONAL

O público alvo do nosso PE serão professores que desejam trabalhar com a Modelagem
Matemática na perspectiva sociocrítica em sala de aula. Para comunicar com o nosso
público alvo, utilizamos os estudos de Cordeiro e Altoé (2021,p. 257), sobre o eixo
comunicacional de um PE, este eixo “[...] aglutina diversos elementos que direcionam, de
formaclara ou implícita, a construção dos modos de fazer chegar aos sujeitos amensagem
conceitual estabelecida, bem como seus desdobramentospedagógicos”. Os autores
destacam que é necessária atenção a esses elementos na confecção do material educativo.
Finalizando, segundo Kaplún (2003, p. 54), o eixo comunicacional: “propõe, através de
algum tipo de figura retórica ou poética, um modo concreto de relação com os
destinatários”, ou seja, é a materialização do PE e a construção de sua forma.

Indo de encontro o nosso público alvo, desenvolveremos um guia didático com


orientações, tanto para o professor quanto ferramentas para ele utilizar em sala de aula
durante a atividades, para contribuir no processo de ensino-aprendizagem da matemática.
Nessa perspectiva, buscamos em Barbosa (2001), motivações para a contrução do PE,
uma vez que o autor nos diz que “outra tarefa igualmente importante, no caso específico
do Brasil, é a produção de materiais didáticos de apoio. Ao público de professores e a
outros interessados faltam relatos de experiências de Modelagem em sala de aula”.

Por mais que pesquisas em educação matemática tenham crescido no Brasil, percebe-se
que o currículo e os materiais didáticos estão engajados no ensino tradicional de
matemática. De encontro com este problema, acreditamos que a pesquisa é um dos
principais caminhos pelo qual se pode desenvolver alternativas metodológicas baseadas
em modelagem para apoiar professores nessa inserção. Por isso consideramos parte do
nosso produto, a nossa pesquisa.
REFERÊNCIAS

BARBOSA, J. C. Modelagem Matemática: concepções e experiências de futuros


professores. 2001. 253 f. Tese (Doutorado) - Instituto de Geociências e Ciências Exatas,
Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 2001.

BASSANEZI, R. C. Ensino-aprendizagem com modelagem matemática: uma nova


estratégia. 4ª Edição São Paulo: Contexto, 2014.

KAPLÚN, G. Materiais educativos: experiência de aprendizado. Revista Comunicação


& Educação, 271, 46-60, 2003.

CORDEIRO, R. V.; ALTOÉ, R. O. Fatores comunicacionais para elaboração de


produtos/processos educativos em Programas Profissionais de Pós-graduação na área de
Ensino/Educação em Ciências e Matemática: reflexões emergentes e em movimento.
Amazônia: Revista de Educação em Ciências e Matemáticas, Belém, v. 17, n. 39, p.
253-270, dez. 2021.

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