Você está na página 1de 18

MODELAGEM MATEMÁTICA NO PROCESSO ENSINO

APRENDIZAGEM DE ÁREA, PERÍMETRO E ESCALA

PEREIRA, Margarida Maria1


NATTI, Paulo Laerte2

RESUMO
O trabalho relata uma experiência didática em sala de aula, utilizando a Modelagem Matemática
como estratégia de ensino aprendizagem, para explorar os conteúdos da disciplina de Matemática de
forma contextualizada. O trabalho foi desenvolvido com alunos do 7º ano do Colégio Estadual Anita
Garibaldi - Ensino Fundamental e Médio, situado no município de Jardim Alegre, Paraná. Por meio de
atividades práticas, tais como a construção de maquete, os alunos visualizaram a aplicabilidade dos
conteúdos de Matemática em situações do cotidiano. Observou-se que o trabalho despertou um
maior interesse pela disciplina de Matemática, oportunizando uma melhor compreensão dos
conteúdos e uma aprendizagem mais significativa e relevante, ao mesmo tempo em que viabilizou a
valorização do aluno no contexto social.

Palavras-chave: Modelagem Matemática. Ensino aprendizagem. Área. Perímetro.


Escala.

1. INTRODUÇÃO

A escola é a instituição responsável em favorecer o acesso ao conhecimento


e a formação intelectual e social do cidadão para atuar na sociedade na qual está
inserido. A matemática é uma ciência que está inserida neste contexto, utilizada por
todos os indivíduos de modo informal em seu dia a dia. No entanto, o ensino da
matemática tem sido motivo de preocupação para os educadores devido ao número
de alunos desinteressados, apresentando dificuldades na aprendizagem de
conteúdos matemáticos e, consequentemente, resultados poucos favoráveis no
processo ensino aprendizagem. Tal situação pode decorrer de práticas pedagógicas
voltadas somente a aulas expositivas e devido à falta de contextualização.
Entende-se que uma das possíveis soluções para amenizar os problemas
vivenciados é buscar novas metodologias de ensino para subsidiar o trabalho do
professor em sala de aula. Segundo as diretrizes Curriculares do Paraná (DCE,
2008), a tendência metodológica Modelagem Matemática, que fundamenta a prática
docente, compõe um dos campos de estudos da Educação Matemática. De acordo

1
Professora do Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná de 2012.
2
Professor Doutor do Departamento de Matemática da Universidade Estadual de Londrina-Pr.
E-mail: plnatti@uel.br
com estas Diretrizes, o trabalho pedagógico com a Modelagem Matemática
possibilita a intervenção do estudante nos problemas reais do meio social e cultural
em que vive, contribuindo para sua formação crítica.
A autora Maria Salette Biembengut define Modelação Matemática como o
método que utiliza a Modelagem Matemática. Segundo ela, a Modelação
Matemática pode valer como método de ensino-aprendizagem de Matemática em
qualquer nível escolar, das séries iniciais a um curso de pós-graduação, não há
restrições. Nesse método o tema (ou situações problemas) é o único para toda a
classe e dele se extrai o conteúdo programático. (BIEMBENGUT, 1999, p. 44).
Partindo dessas considerações, o objetivo desse artigo consiste em refletir
sobre a Modelagem Matemática e também sobre os resultados de sua aplicação
como estratégia de ensino aprendizagem dos conteúdos curriculares do 7º Ano do
ensino fundamental, tais como: área, perímetro e escala. Segundo as diretrizes
Curriculares do Paraná (DCE, 2008) tal método visa proporcionar maior interesse
aos alunos e assim obter melhores resultados na aprendizagem.
Neste trabalho a tendência metodológica Modelagem Matemática foi aplicada
aos alunos do 7º ano do Colégio Estadual Anita Garibaldi - Ensino Fundamental e
Médio, localizado na cidade de Jardim Alegre, Paraná. Por meio da construção de
maquetes procurou-se relacionar a matemática aprendida na escola com o cotidiano
do aluno de forma prática, favorecendo uma aprendizagem significativa. Nesse
projeto o tema (ou situação problema) proposto foi “Construção de Casa”.
A metodologia adotada proporcionou aulas mais dinâmicas e agradáveis,
comprovando que, a aplicabilidade dos conteúdos matemáticos em situações do
cotidiano possibilita uma maior participação do aluno na construção do
conhecimento. A proposta de intervenção pedagógica apresentada aos professores
durante a socialização no Grupo de Trabalho em Rede-GTR, desenvolvido no
terceiro período do programa PDE, também está relatada neste trabalho, visando
analisar as considerações dos professores em relação à metodologia adotada e sua
viabilidade para enriquecer a prática docente.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS DA MODELAGEM MATEMÁTICA NO BRASIL

A introdução da Modelagem Matemática no Brasil deve-se a um grupo de


professores, especialmente às atuações de Ubiratan D’ Ambrósio e Rodney Carlos
Bassanezi, ambos do Instituto de Matemática, Estatística e Ciências da
Computação, IMECC, da Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP, que
difundiram essa alternativa para o ensino de matemática, através de livros, cursos
de especialização, artigos, palestras e orientações de mestrado e de doutorado. A
Modelagem Matemática, enquanto uma alternativa para o ensino de Matemática no
Ensino Fundamental e Médio, teve como um de seus defensores iniciais o professor
Dionísio Burak, que em 1987 defendeu sua dissertação de mestrado intitulada
“Modelagem Matemática: uma alternativa para o ensino de Matemática na 5a série”
na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, Campus de Rio
Claro, SP, sobre . (BRANDT, BURAK, KLUBER, 2010).
De acordo com as Diretrizes Curriculares do Ensino de Matemática da Rede
Pública de Educação Básica do Estado do Paraná (DCE, 2008) os conteúdos
propostos devem ser elaborados por meio de tendências metodológicas da
Educação Matemática que fundamentam a prática docente. A tendência Modelagem
Matemática que compõe um campo de estudo da Educação Matemática é indicada
nas diretrizes, tendo como pressuposto a problematização de situações do cotidiano.
Ao mesmo tempo em que propõe a valorização do aluno no contexto social, procura
lembrar problemas que sugerem questionamentos sobre situações de vida.

2.2 MODELAGEM MATEMÁTICA COMO ESTRATÉGIA DE ENSINO


APRENDIZAGEM

Paulo Freire explicava:

O que eu proponho é um trabalho pedagógico que, a partir do conhecimento


que o aluno traz, que é uma expressão da classe social à qual os
educandos pertencem, haja uma superação do mesmo, não no sentido de
anular esse conhecimento ou de sobrepor um conhecimento a outro. O que
se propõe é que o conhecimento com o qual se trabalha na escola seja
relevante e significativo para a formação do educando [...]. (apud SOUZA,
2001, p. 190).

Segundo Baroni e Nobre:


O movimento de Educação Matemática incorpora, de tempos em tempos,
alguns componentes novos que visam, em uma primeira instância, fornecer
instrumentos metodológicos que possam ser utilizados pelo professor de
Matemática em suas atividades didáticas. Esses “instrumentos” são
introduzidos através de, inicialmente, uma reflexão teórica metodológica e
são divulgados sob o ponto de vista de “propostas didático-pedagógicas”.
Como exemplo, evidenciamos as inúmeras atividades envolvendo a
utilização de “Resolução de Problemas” como forma de garantir uma melhor
compreensão por parte dos alunos. A Modelagem Matemática, a
Etnomatemática, a Informática, dentre outros, são também exemplos de
importantes estudos teóricos-educacionais que proporcionam avanços nas
relações educacionais voltadas ao trabalho diário do Professor de
Matemática. (apud BICUDO, 1999, p. 129).

Para Burak e Kluber (2007 apud BRANDT, BURAK, KLUBER, 2010, p. 35) a
modelagem matemática na perspectiva do ensino e da aprendizagem toma
configurações diferentes frentes aos objetivos de tornar o ensino mais dinâmico e
mais significativo. Nessa visão:

“A Modelagem Matemática constitui-se em um conjunto de procedimentos


cujo objetivo é construir um paralelo para tentar explicar, matematicamente,
os fenômenos presentes no cotidiano do ser humano, ajudando-o a fazer
predições e a tomar decisões”. (BURAK, 1992, apud BRANDT, BURAK,
KLUBER, 2010, p. 35).

Para Ribeiro (2009) entender a Modelagem Matemática em suas diferentes


perspectivas podem ampliar a competência crítica dos sujeitos envolvidos. A
Modelagem “é um ambiente de aprendizagem no qual os alunos são convidados a
problematizar e investigar, por meio da matemática, situações com referência na
realidade”. Já para Biembengut e Hein (2003), modelagem matemática é:

[...] “o processo que envolve a obtenção de um modelo”, de modo que um


“conjunto de símbolos e relações matemáticas que procura traduzir, de
alguma forma, um fenômeno em questão ou problema de situação real,
denomina-se modelo matemático”. ( apud RIBEIRO, 2009, p. 65).

Bassanezi define a Modelagem Matemática como:

Um processo dinâmico utilizado para a obtenção e validação de modelos


matemáticos. É uma forma de abstração e generalização com a finalidade
de previsão de tendências. A Modelagem consiste, essencialmente, na arte
de transformar situações da realidade em problemas matemáticos cujas
soluções devem ser interpretadas na linguagem usual. A Modelagem é
eficiente a partir do momento que nos conscientizamos que estamos
sempre trabalhando com aproximações da realidade, ou seja, que estamos
elaborando sobre representações de um sistema ou parte dele. ( apud
RIBEIRO, 2009, p. 65-66).

Para Ribeiro, na visão desses autores citados, as situações reais são


convertidas e explicadas por meio de situações matematizadas. Nessa mesma
perspectiva, corrobora Dale Bean, destacando a ideia do “modelo matemático” como
uma aproximação da realidade. De acordo com Bean:

A essência da Modelagem Matemática consiste em um processo no qual as


características pertinentes de um objeto ou sistema são extraídos, com a
ajuda de hipóteses e aproximações simplificadoras e representadas em
termos matemáticos (o modelo). As hipóteses e as aproximações significam
que o modelo criado por esse processo é sempre aberto à crítica e ao
aperfeiçoamento. (apud RIBEIRO, 2009, p. 66).

Cada autor procura dar uma definição de modelo matemático e tenta explicar
a sua relevância. Para Biembengut (1999), “na ciência a noção de modelo é
fundamental. Em especial, a matemática com sua arquitetura permite a elaboração
de modelos matemáticos, possibilitando uma melhor compreensão, simulação e
previsão do fenômeno estudado”.
Para Bassanezi (2004),

Modelo matemático é um conjunto de símbolos e relações matemáticas que


representam de alguma forma o objeto estudado. A importância do modelo
matemático consiste em ter uma linguagem concisa que expressa nossa
ideia de maneira clara e sem ambiguidade, além de proporcionar um
arsenal enorme de resultados (teoremas) que propiciam o uso de métodos
computacionais para calcular suas soluções numéricas. (BASSANEZI,
2004, p.20).

Analisando as definições dos autores percebe-se o potencial da aplicação da


Modelagem Matemática como uma estratégia de ensino-aprendizagem. O esquema
de Biembengut (1999) representa a interação que permite representar uma situação
real com ferramental matemático (modelo matemático). Genericamente, pode-se
dizer que Matemática e realidade são dois conjuntos disjuntos e a modelagem é um
meio de fazê-los interagir.

Situação Modelagem Matemática


real Matemática

Modelo

Segundo Silveira e Ribas (2008) algumas vantagens para o uso da


modelagem matemática são:
1) Motivação dos alunos e do próprio professor.
2) Facilitação da aprendizagem. O conteúdo matemático passa a ter mais
significação, deixando de ser abstrato e passando a ser concreto.
3) Preparação para a profissão.
4) Desenvolvimento do raciocínio lógico e dedutivo em geral.
5) Desenvolvimento do aluno como cidadão crítico e transformador de sua
realidade.
6) Compreensão do papel sociocultural da matemática, tornando-a assim,
mais importante. (apud BRANDT, BURAK, KLUBER, 2010).
Na perspectiva proposta por Burak (2004), o professor compartilha o processo
de ensino e, na medida em que faz isso, os estudantes tornam-se corresponsáveis
por sua aprendizagem. Burak sugere etapas para se desenvolver atividades de
modelagem, as quais constituem encaminhamentos para fins didáticos, a saber:
Escolha do tema: os estudantes podem sugerir temas de seu interesse,
sobre os quais tenham curiosidade, problemas que envolvam temas atuais ou,
ainda, alguma situação-problema de âmbito escolar, ou mesmo da comunidade em
que vivem;
Pesquisa exploratória: nessa etapa o grupo busca coletar dados e outras
informações necessárias para o desenvolvimento do trabalho, aprofundando-se
sobre o tema escolhido;
Levantamento dos problemas: com as informações obtidas na etapa anterior, o
grupo formula os problemas, de acordo com seus interesses específicos e que
desejam estudar;
Resolução do problema e desenvolvimento da matemática relacionada ao tema:
para resolver os problemas levantados são necessários conteúdos matemáticos,
assim, o professor auxilia os alunos a rever conceitos e conteúdos estudados
anteriormente ou construir conhecimento por meio de novos/outros conteúdos;
Análise crítica das soluções: Os estudantes podem confrontar os resultados
obtidos com a realidade e verificar se existe coerência com o que foi estudado.
Neste caso, o professor tem oportunidade de discutir e aprofundar-se acerca das
estruturas internas da matemática.
A partir do que foi abordado sobre Modelagem Matemática, ressalta-se a
harmonia com uma visão de Educação Matemática, preocupada não somente com a
Matemática, mas com outros ramos do conhecimento, que visam à formação
intelectual, social e cultural do estudante, preparando-o certamente, para o exercício
da cidadania. (apud BURAK, KLÜBER, PACHECO, 2010).
2.3 MODELAGEM MATEMÁTICA E A MODELAÇÃO MATEMÁTICA:
CONTEXTUALIZAÇÃO DO CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

Biembengut (1999) faz a seguinte colocação para implementar a


Modelagem Matemática como estratégia de ensino-aprendizagem para cursos
regulares, onde há um currículo a ser cumprido.

Em cursos regulares, onde há um programa a ser cumprido – currículo – e


uma estrutura espacial e organizacional nos moldes tradicionais (como é a
maioria das instituições de ensino), o método da modelagem, deve sofrer
algumas alterações, levando principalmente em consideração o grau de
escolaridade dos alunos, o tempo disponível que terão para trabalho extra-
classe, o programa a ser cumprido e o estágio em que o professor se
encontra, seja em relação ao conhecimento da modelagem, seja no apoio
por parte da comunidade escolar para implantar mudanças. (BIEMBENGUT,
1999, p. 44).

Dessa forma a modelação matemática norteia-se por desenvolver o conteúdo


programático a partir de um tema ou modelo matemático e orientar o aluno na
realização de seu próprio modelo-modelagem. O professor pode escolher o tema ou
propor que os alunos o escolham. A escolha pelos alunos tem vantagens e
desvantagens. Uma vantagem é que se sentem participantes no processo. Em
contrapartida, as desvantagens podem surgir se o tema não for adequado para
desenvolver o programa ou, ainda, muito complexo, exigindo do professor um tempo
de que não dispõe para aprender e para ensinar. Seja qual for a forma adotada cabe
ao professor inteirar-se do tema escolhido, que deve estar em sintonia com o
conhecimento e a expectativa dos alunos, e preparar, previamente, a condução do
processo de tal forma que desenvolva, no mínimo, o conteúdo programático.
(BIEMBENGUT e HEIN, 2003).

3. METODOLOGIA: DESENVOLVIMENTO DA IMPLEMENTAÇÃO


A Proposta de Intervenção Pedagógica “Modelagem Matemática no Processo
Ensino-Aprendizagem de Área, Perímetro e Escala” foi aplicada aos alunos do 7º
ano do Colégio Estadual Anita Garibaldi – Ensino Fundamental e Médio, em Jardim
Alegre, Paraná, durante o ano letivo de 2013.
A metodologia empregada, Modelação Matemática, aliada ao tema
“construção de casa por meio da construção de maquete”, buscou-se explorar os
conteúdos matemáticos relacionados com situações do cotidiano, fazendo com que
a aprendizagem em curso de ensino regular, com programa a ser cumprido, seja
dinâmica e significativa.
Para garantir o bom andamento do trabalho, a direção, a equipe pedagógica e
os professores da escola foram convidados a conhecer a proposta, cuja finalidade
seria utilizar uma nova metodologia para subsidiar o processo de ensino e
aprendizagem na sala de aula.
A implementação iniciou-se com a apresentação do projeto aos alunos do 7º
ano B, com a exposição do tema “Construção de Casa”, o qual foi definido pelo
professor, sendo único para toda a turma. Neste momento destacaram-se os
objetivos, enfatizando a aplicação da modelagem para relacionar conteúdos
matemáticos com situações da realidade.
Algumas atividades foram expostas, dentre elas, a que seriam coletadas
informações referentes ao trabalho de engenheiros e pedreiros, além de informar-
lhes que as atividades seriam desenvolvidas no horário de aula e no contra turno.
Os alunos foram indagados quanto ao parentesco com profissionais que exercem a
profissão de pedreiro, para a possível contribuição destes na coleta de informações
sobre o trabalho que realizam.
O trabalho envolvendo cálculos matemáticos foi desenvolvido no período
matutino, devido aos conteúdos fazerem parte do planejamento do 7º ano. Já as
etapas da construção da maquete - desenho da planta baixa, delinear o tamanho
das paredes no isopor, cortar e montar a maquete - ocorreram no período
vespertino.

3.1 AÇÕES EXECUTADAS NA IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO

Atividade 01 – Questionário Diagnóstico

O questionário diagnóstico foi aplicado com o objetivo de realizar uma


sondagem para verificar os conhecimentos prévios dos alunos em relação à
importância da matemática, sua aplicação no cotidiano e alguns conceitos a serem
trabalhados nas aulas. As respostas foram recolhidas e armazenadas para serem
comparadas com a aplicação do questionário final.
As mesmas questões foram respondidas no final da implementação como
auto avaliação, servindo de parâmetro para verificar a validação da estratégia de
ensino aprendizagem.
Atividade 02 – Conhecer a Planta Baixa

Nesta atividade os alunos receberam a proposta de fazerem um esboço da


planta baixa de uma casa (sala, cozinha, dois quartos e banheiro). Em seguida
assistiram apresentação de slides contendo imagens, o conceito de planta baixa e
maquetes. Após a apresentação, um diálogo foi promovido com a finalidade de os
alunos identificarem o que estava indicado na planta baixa e compreenderem como
aconteceria o trabalho apresentado.
Cada grupo deveria ter pelo menos um componente com parente exercendo a
profissão de pedreiro, para que se concretizasse uma pesquisa com este
profissional. Oito alunos apresentaram esse perfil no levantamento, no início da
implementação. Mesclando meninos e meninas, três grupos com quatro alunos e
três grupos com cinco alunos foram formados para a realização da atividade.

Atividade 03 – Processo de Contextualização

Um estudante do 4º ano de Engenharia Civil foi convidado a proferir uma


palestra com a finalidade de proporcionar o início do processo de contextualização,
despertar o interesse do aluno e transmitir informações sobre construção de casa. O
palestrante relatou a origem dos primeiros registros de obras, além de explicitar a
função da engenharia civil quanto a projeção e execução de obras como casas,
edifícios, pontes, viadutos, estradas, barragens, etc.
O estudante de engenharia expôs algumas etapas a serem seguidas para a
realização de uma obra, explicando normas quanto à disposição de portas, janelas,
altura da casa, pilares e fundação. Ressaltou a importância da fiscalização destas
etapas para evitar futuros problemas para o engenheiro, além de conscientizar que,
a responsabilidade de tal profissional não finaliza com a execução da obra, mas sim
continua depois de concluída, durante certo período.
O futuro engenheiro comentou sobre a importância da matemática para o
Engenheiro Civil, e também sobre esta ser uma profissão promissora, com um bom
mercado de trabalho nos dias atuais. Contribuindo com as informações trazidas pelo
estudante, ressaltou-se por meio dos professores que se faziam presente, a
importância da matemática e a presença dessa ciência no trabalho de diferentes
profissões.
Para aprofundar o conhecimento do tema do projeto os grupos realizaram a
pesquisa com pedreiros. O componente do grupo que em sua família havia esse
profissional, tornou-se o responsável pelo questionário para realizar a tarefa. Em um
momento posterior, um debate foi organizado para analisar as respostas. Essa
atividade estimulou o interesse dos alunos, possibilitando mostrar a matemática
relacionada com situações do cotidiano.

Atividade 04 – Aplicação da Modelação na Construção da Maquete abordando


Conteúdos Curriculares

Destaca-se nessa atividade a importância de estabelecer a relação entre a


teoria e a prática, mostrando a aplicação dos seguintes conteúdos: escala, área,
perímetro e regra de três simples.
Durante todo o processo que envolve as etapas da construção da maquete,
os alunos foram organizados em grupos e o professor assumiu o papel de mediador
na construção do conhecimento, orientando as ações, promovendo a articulação de
situações decorrentes da aplicação dos conteúdos, desafiando os alunos a
situações novas.
Os componentes de cada grupo receberam uma folha com o desenho de
duas plantas baixas, uma com as medidas em metros e outra para anotar as
medidas que foram transformadas em centímetros. A maioria dos alunos sabia
transformar metros em centímetros, o que, consequentemente, contribuiu para que
concluíssem a realização da atividade. Após as discussões, além da distribuição da
planta baixa com as medidas em centímetros, definiu-se a escala a ser utilizada,
possibilitando aos alunos calcular as medidas das paredes de cada cômodo da
maquete por meio da regra de três simples. Seguidamente, o aluno anotou cada
comprimento em outra planta baixa, utilizada para delinear a maquete no isopor e
realizar os cálculos de área e perímetro.
Visando estabelecer relação entre o conteúdo ensinado na escola e as
situações do cotidiano, os alunos realizaram os cálculos de área e perímetro de
cada cômodo da maquete. Considerando o grau de escolaridade dos alunos, o
professor além de orientar as estratégias das ações, apresentou os conceitos dos
conteúdos explorados. Nessa atividade os alunos puderam perceber a aplicabilidade
dos conteúdos matemáticos, o que estimulou o interesse, promovendo uma maior
participação do aluno na aprendizagem.

Atividade 05 – Montagem da Maquete

Na realização das etapas referentes à construção da maquete os alunos


foram convidados a comparecer no período vespertino. No início do trabalho os
alunos desenharam as paredes da maquete no papel, representando a planta baixa.
Delinearam sobre o isopor a base, as paredes e em seguida realizaram o corte de
todas as partes. Procurou-se envolver todos os integrantes nas atividades.
No início as evidências foram nítidas de que alguns alunos apresentavam
dificuldades em marcar as medidas corretamente. Todavia, após orientações,
conseguiram concluir a atividade com êxito, além de adquirirem maior habilidade
com o uso da régua e nos conceitos de medidas.
Após cada grupo receber as partes de sua maquete ocorreu a montagem da
mesma com alfinetes e cola. Os alunos demonstraram satisfação na realização
desta etapa, o que ocasionou uma maior socialização entre os integrantes e os
grupos, fazendo da atividade um momento prazeroso.

Atividade 06 – Interdisciplinaridade com Arte

A conclusão da maquete resultou num trabalho interdisciplinar com a


disciplina de arte. Esta etapa objetivou conceituar, identificar, reconhecer e
empregar as cores primárias, secundárias e terciárias, usando a técnica de pintura
de Romero Britto, cujas cores são vivas e quentes, por meio da junção de várias
cores. O desenvolvimento da atividade ocorreu com a pintura das maquetes, de
modo que, cada grupo pode decidir com autonomia quais cores usariam para
desenvolver um bom trabalho.

Atividade 07 – Reaplicação do Questionário Diagnóstico

Para finalizar a implementação do projeto foi aplicado o mesmo questionário


do início das atividades, o qual serviu de parâmetro na verificação da metodologia.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 QUESTIONÁRIO DIAGNÓSTICO

Os vinte e sete alunos da turma do 7º ano B responderam um questionário


para verificar os conhecimentos prévios em relação à importância da matemática,
sua aplicação no cotidiano e de alguns conceitos matemáticos a serem trabalhados.
Com a transferência de dois alunos, ao final da implementação o mesmo
questionário foi reaplicado a vinte e cinco alunos para verificar a validade da
estratégia de ensino aprendizagem.
A seguir analisamos as respostas e as observações realizadas durante a
aplicação dos questionários.
Questão - Onde a matemática está presente na sala de aula?
Resposta: Na sala de aula, nas carteiras, na lousa, nos livros, teto, chão,
parede, nas tarefas, no quadro, em tudo que está ao nosso redor.
No entanto, quando foram questionados como a matemática é encontrada
nos lugares citados, vários alunos não conseguiram explicar. Na segunda avaliação
diagnóstica todos os alunos conseguiram citar exemplos da matemática na sala de
aula, fazendo as seguintes relações com as medidas: das carteiras, paredes,
quadro, janelas, cortinas, teto, rodapé; com quantidades: de alunos, material usado
na construção, carteiras, piso, cadeiras, tijolos; com a área dos pisos, etc..
Analisando as respostas verificou-se que os alunos conseguiram perceber a
aplicabilidade da matemática no contexto da sala de aula, o que antes não era uma
questão clara para muitos.
Questão – Sobre gostar da disciplina e conteúdos a serem explorados.
A figura 1 mostra o número de alunos que responderam gostar ou não de
matemática. Antes da implementação, dos vinte e cinco alunos: 17 responderam
sim, 4 alunos responderam não e 4 alunos responderam gostar mais ou menos.
Depois da implementação, dos vinte e cinco alunos: 21 responderam sim, 4 alunos
responderam não e nenhum aluno respondeu mais ou menos.
Com a aplicação do projeto, o número de alunos que disseram gostar de
matemática, de um índice de dezessete alunos evoluiu para vinte e um. Notou-se
também que, para os quatro alunos que responderam mais ou menos anterior à
implementação, a aplicação do projeto foi positiva. Já para os quatro alunos que
responderam não, anteriormente à implementação, constatou-se poucas mudanças
após a aplicação do projeto, demostrando-se indiferentes. O número de alunos que
passou a gostar de matemática aumentou, porém, esperava-se atingir também
aqueles que disseram que não gostavam, visto que, todos demonstraram interesse e
uma participação ativa na realização das atividades desenvolvidas. Contudo, no final
da intervenção, dos vinte e cinco alunos questionados, 84% disseram que sim, o que
nos permite considerar um bom resultado, levando em consideração que a maioria
dos alunos demonstra aversão à matemática.

25

20

15
Antes
Depois
10

0
Sim Não Mais ou Menos

Figura 1 - O gráfico representa o número de alunos que responderam a questão “Você


gosta de matemática?”, antes e depois da implementação do projeto.

Questão – Você considera a matemática importante e necessária para a vida


das pessoas?
A figura 2 mostra o número de alunos que responderam se a matemática é
importante e necessária para a vida das pessoas. Os vinte e cinco alunos da turma
responderam sim no início e no final da implementação do projeto. Apesar de
responderem sim antes da implementação, constatou-se que vários alunos tinham
uma visão restrita da necessidade da matemática. Após a aplicação do projeto
verificou-se que os alunos ampliaram sua compreensão em relação à importância e
aplicabilidade em situações do seu dia a dia. Notou-se que, nesse aspecto, o projeto
foi positivo.
30

25

20

Sim
15
Não

10

0
Antes Depois

Figura 2 - O gráfico representa o número de alunos que responderam a questão “Você


considera a matemática importante e necessária para a vida das pessoas?”, antes e depois
da implementação do projeto.

Questão –Estudar matemática com material concreto ajuda a compreender


melhor os conteúdos de matemática?
Dos vinte e cinco integrantes envolvidos no projeto, vinte e quatro
responderam que sim. Após a intervenção, os alunos foram unânimes em afirmarem
que o material concreto é um recurso que facilita a compreensão dos conteúdos.
Veja figura 3. Verificou-se que, nesse aspecto, o resultado foi positivo.

30

25

20

Sim
15
Não

10

0
Antes Depois

Figura 3 O gráfico representa o número de alunos que responderam a questão “Você acha
que estudar matemática com material concreto ajudaria entender melhor os conteúdos de
matemática?”, antes e depois da implementação do projeto.
Questão: Você sabe o que é escala, o que é medida de área e o que é perímetro?
A figura 4 mostra o número de alunos que compreenderam os conceitos
matemáticos escala, área e perímetro. Anteriormente à implementação os vinte e
cinco alunos não souberam responder o que era escala, área e perímetro. Após a
implementação do projeto, com base nos resultados verificou-se que os alunos
adquiriram o conhecimento dos conteúdos explorados, pois todos conseguiram
conceituar escala, área e perímetro no segundo questionário. Percebeu-se que,
nesse aspecto, o resultado foi positivo.

30

25

20

Antes
15
Depois

10

0
Escala Perímetro Área

Figura 4 - O gráfico apresenta o número de alunos que responderam às questões: Você


sabe o que é escala, o que é medida de área e o que é perímetro? Antes e depois da
implementação do projeto.

Em relação à área e ao perímetro, esperava-se que pelo menos alguns


alunos tivessem noção sobre esses conteúdos no primeiro questionário, por se tratar
de conceitos do 6º ano.
Durante a resolução dos cálculos matemáticos verificou-se que alguns alunos
estavam com dificuldades nas operações de números decimais e divisão com
números inteiros. Aqueles com maior habilidade nas operações colaboraram
auxiliando o professor na orientação dos que estavam com dificuldades.
A aplicação da Modelagem Matemática na construção da maquete foi uma
atividade bastante pertinente, proporcionando vários momentos de interação entre
docente e discente. Os alunos mostraram-se interessados, aprenderam de forma
descontraída e dinâmica, possibilitando uma aprendizagem significativa.
5. ESPAÇO VIRTUAL- GTR: INTERAÇÃO DO PROJETO DE
INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA COM PROFESSORES DA REDE
ESTADUAL DE ENSINO

O Grupo de Trabalho em Rede (GTR) é uma atividade prevista no Programa


de Formação Continuada do PDE/PR- Programa de Desenvolvimento Educacional e
caracteriza-se por possibilitar a interação virtual da implementação do projeto de
intervenção com outros professores da rede pública estadual.
No decorrer do curso os professores puderam discutir os benefícios, os
receios e as inseguranças em aplicar a Modelagem Matemática. A socialização foi
sendo enriquecida na medida em que a fundamentação teórica propiciava reflexões,
bem como os participantes compartilhavam suas dúvidas e davam sugestões. Após
as interações, os professores consideraram que apesar das dificuldades das escolas
públicas e também de suas preocupações, devem aplicar a Modelagem para
relacionar a matemática escolar com o cotidiano dos alunos, tornando as aulas mais
atrativas e melhorar o aprendizado.
O projeto foi considerado pertinente para ser aplicado nas escolas em que
tais professores atuam, por conter atividades práticas e de fácil aplicação.
Consideraram também que a construção da maquete foi uma importante ferramenta
que possibilitou trabalhar os conteúdos de forma contextualizada e dinâmica.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Constatou-se que a experiência adquirida com o desenvolvimento desse


projeto com os alunos do 7º ano do ensino fundamental foi de grande valia e que a
Modelagem Matemática representou uma alternativa para estabelecer a relação
entre os conteúdos matemáticos vistos na escola a as situações vivenciadas no
cotidiano.
A relação entre a teoria e prática estabelecida com a construção de maquetes
possibilitou a interação, a colaboração e a socialização entre professor e alunos,
além de mostrar a aplicabilidade dos conteúdos trabalhados em situações da
realidade, o que tornou o ensino aprendizagem de matemática um processo
agradável.
Acreditamos que a experiência vivenciada pelos alunos contribuiu de forma
significativa no processo de ensino aprendizagem. Esperamos ter contribuído para
evidenciar que a Modelagem Matemática faz por merecer credibilidade e que é
possível ser aplicada por professores de Matemática com a intensão de inovar sua
prática pedagógica. Buscar novas metodologias de ensino são atitudes que os
educadores precisam assumir para serem mediadores do conhecimento e enfrentar
os desafios atuais da educação.

7. REFERÊNCIAS

BASSANEZI, R. C. Ensino-Aprendizagem com Modelagem Matemática. 2ª ed.


São Paulo: Contexto, 2004.

BICUDO, M. A. V. Pesquisa Em Educação Matemática: Concepções e


Perspectivas. São Paulo: Editora Unesp, 1999.

BIEMBENGUT, M. S; HEIN, N. Modelagem Matemática no Ensino. 3ª ed. São


Paulo: Contexto, 2003.

BIEMBENGUT, M. S. Modelagem Matemática e Implicações no Ensino-


Aprendizagem de Matemática. Blumenau: Ed. Da Furb, 1999.

BRANDT, C. F; BURAK, D; KLÜBER, T. E. Modelagem Matemática: Uma


Perspectiva para a Educação Básica. Ponta Grossa: Editora UEPG, 2010.

BURAK, Dionísio; KLÜBER, Tiago Emanuel. PACHECO, Edílson Roberto.


Educação Matemática, Reflexos e Ações. Curitiba: Editora CRV, 2010.

DCE. Paraná. Secretaria de Estado de Educação. Diretrizes Curriculares da Rede


Pública de Educação Básica do Estado do Paraná: Matemática. Curitiba: 2008.

RIBEIRO, F. D. Jogos e Modelagem na Educação Matemática. São Paulo:


Saraiva, 2009.

SOUZA, A. I. Paulo Freire. Vida e Obra. São Paulo: Expressão Popular, 2001.

Você também pode gostar