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INSTITUTO LATINO-AMERICANO DE ARTE,

CULTURA E HISTÓRIA (ILAACH)

CINEMA E AUDIOVISUAL

CINE SAYONARA:
O RESGATE DA HISTÓRIA DO CINEMA DA CIDADE DE MEDIANEIRA - PR

GIANI DOS SANTOS

Foz do Iguaçu
2019
INSTITUTO LATINO-AMERICANO DE ARTE,
CULTURA E HISTÓRIA (ILAACH)

CINEMA E AUDIOVISUAL

CINE SAYONARA:
O RESGATE DA HISTÓRIA DO CINEMA DA CIDADE DE MEDIANEIRA - PR

GIANI DOS SANTOS

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Instituto Latino-Americano
de Arte, Cultura e História da Universidade
Federal da Integração Latino-Americana,
como requisito parcial à obtenção do título
de Bacharel em Cinema e Audiovisual.

Orientador: Prof. Dr. Ignacio Del Valle Dávila

Foz do Iguaçu
2019
SANTOS, Giani dos. Cine Sayonara: O Resgate da História do Cinema de
Medianeira - Pr. 2019. 19p. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em
Cinema e Audiovisual) – Universidade Federal da Integração Latino-Americana, Foz
do Iguaçu, 2019.

RESUMO

Este artigo tem por objetivo investigar a existência de sala de cinema ou sala de
exibição cinematográfica, no espaço urbano na cidade de Medianeira – Paraná, e
seus aspectos como surgimento e funcionamento, bem como a sua relação com a
comunidade. Compreender os interesses e motivações do público em relação a
frequentação, seja no consumo do produto audiovisual, ou em sua experiência
social, na década de 1970 de maneira específica, abrangendo de forma breve outros
períodos quando necessário, sob o prisma do resgate e da preservação da memória
individual e coletiva de âmbito histórico e cultural, por meio de entrevistas
colaborativas e levantamento de documentos ou registros.

Palavras-chave: Cinema. Relação Social. Preservação Histórica.

SANTOS, Giani dos. Cine Sayonara: El Rescate de La História del Cine de la


Ciudad de Medianeira – Pr. 2019. 19p. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação
em Cinema e Audiovisual) – Universidade Federal da Integração Latino-Americana,
Foz do Iguaçu, 2019.

RESUMO

Este artículo tiene como objetivo investigar la existencia de una sala de cine o sala
de exhibición de cine en el espacio urbano de la ciudad de Medianeira - Paraná, y
sus aspectos como emergencia y operación, así como su relación con la comunidad.
Comprender los intereses y motivaciones del público con respecto a la asistencia,
sea en el consumo del producto audiovisual o en su experiencia social, en la década
de 1970 de una manera específica, cubriendo brevemente otros períodos cuando
sea necesario, desde la perspectiva del rescate y la preservación de la memoria
individual y colectiva de alcance histórico y cultural, a través de entrevistas
colaborativas y encuestas de documentos o registros.

Palabras clave: Cine. Relación Social. Preservación Histórica.


4

1 INTRODUÇÃO

De acordo com o Observatório Nacional de Cinema e Audiovisual - OCA


(2019), em 2018 havia 3.223 salas de cinema espalhadas pelo território brasileiro,
enquanto que em 1975 havia 3.347.

Gráfico1 – Evolução da quantidade de salas de exibição no Brasil – 1971 a 2018.

Fonte: BRASIL. Observatório Nacional de Cinema e Audiovisual – OCA.

Apesar da proximidade da quantidade, o formato das salas é muito distinto.


Enquanto que 1975 eram em sua maioria cinemas de rua, atualmente a
configuração mais implantada são as salas multiplex, gerenciadas pelos grandes
exibidores. Este conceito de complexos com mais de uma sala de exibição, na
maioria dos casos, é concebido em cidades de médio a grande porte, a partir da
migração das salas de cinema para os shoppings centers. Dessa maneira os
cinemas passam a se tornar “mais um estabelecimento comercial” nestes locais,
como pontua Sousa (2010, p.2). Além da mutação dos hábitos de consumo, a autora
esclarece outros motivos que levaram ao fechamento dos antigos cinemas:

Uma série de fatores contribuiu para a precipitação e desenrolar do


processo de extinção dos cinemas de rua. A pressão da indústria
cinematográfica dominante; a força do capital estrangeiro; a estrutura
sustentada pelos grandes exibidores; a resistência da cinematografia local,
o diálogo estabelecido entre o filme brasileiro e seu público e o poder
aquisitivo do público nacional; a violência urbana; o comércio de rua
5

perdendo a força, a migração para os shoppings centers e a mudança de


hábitos de consumo da população; a entrada em cena da televisão, do
videocassete, da TV por assinatura; as novas tecnologias digitais e a
implantação do conceito multiplex nos grandes centros urbanos brasileiros.
(SOUSA, 2010, p.5)

Esta conclusão se assemelha às constatações de outras referências


bibliográficas consultadas, entretanto, esta temática é trabalhada em cidades
maiores, que permitem a remodelação ou transferência do sistema de exibição.
Todavia, este fenômeno não corresponde à realidade das localidades menores, que
presenciaram, principalmente no final da década de 1980, o declínio, e sobretudo, a
extinção dos cinemas de rua.
Além disso, atualmente não se poderia afirmar, sem o prévio conhecimento,
que pequenos munícipios contemplavam cinemas ou sala de exibição, e igualmente,
que o funcionamento, a forma de socialização e a experiência cinematográfica se
dava da mesma forma em ambos os casos, e até mesmo que os fatores que
desencadearam o encerramento das atividades sejam da mesma natureza.
Diante do exposto, a pesquisa proposta tem por objetivo identificar a
existência de estabelecimento de natureza de exibição cinematográfica em um
município interiorano de pequeno porte, a cidade de Medianeira – Paraná, que faz
parte da microrregião de Foz do Iguaçu. E por conseguinte, investigar a relação da
comunidade com o cinema, enquanto experiência social a partir da memória
individual e coletiva. Em um primeiro momento, será realizada uma averiguação de
documentos de qualquer ordem, possível literatura histórica local, de livros,
periódicos, jornais, blogs, mídia impressa ou virtual, redes sociais, entre outros, que
contenham informações ou registros de cinema de rua no município, que comprove
a memória histórica.
Após essa averiguação, a segunda fase será constituída de entrevistas
individuais com pessoas que tiveram alguma ligação direta com o estabelecimento,
especificamente em nível administrativo, de propriedade, ou qualquer vínculo
empregatício, para entender a rotina de funcionamento, estratégias comerciais,
estrutura física e administrativa, etc. Posteriormente, as entrevistas serão voltadas
para indivíduos que eram frequentadores do cinema, com objetivo de compreender
quais relações sociais motivavam este contato, além de explorar as experiências
pessoais por meio da interação com o ambiente e com o produto audiovisual,
considerando as memórias pessoais e identificando pontos de memória coletiva.
6

Para ambos os casos será elaborado um guia de perguntas que contemplem os


respectivos temas de investigação, aplicado de forma flexível.
Para Mishler1 (1986, p.117 à p. 135), “a relação entrevistado-entrevistador é
marcada por uma notável assimetria de poder”, e a forma padrão de entrevista, pode
prejudicar as atribuições de coerência ao que acontece aos indivíduos que podem
ser de alguma forma afetados por meio das entrevistas que descontextualizem
significados. Para reduzir essa assimetria, a entrevista será conduzida no formato
colaborativo de pesquisa com métodos etnográficos. “o uso flexível de métodos -
etnográficos (incluindo entrevistas mais ou menos formais ou análise de
documentos) caracterizam essa pesquisa (qualitativa).” (FLICK, 2009, p. 31). Para
firmar um contrato de reciprocidade, pretende-se repassar o feedback da entrevista,
bem como aceitar que o entrevistado controle o fluxo e o conteúdo, flexibilizando o
roteiro pré-estabelecido, e ainda, solicitar a permissão do entrevistado para
publicação do relato.
A inspiração para este estudo parte da motivação pessoal da autora, devido
ao reconhecimento da origem e dos laços afetivos com a região, como também, as
experiências que os ascendentes possam ter tido na referida época. Da mesma
forma, a identificação com o interesse pelo resgate e preservação da memória e do
patrimônio cultural, de maneira que os valores culturais e a história não se percam
no tempo. Outrossim, a pertinente possibilidade de geração de valor social por parte
da academia para a microrregião de Foz do Iguaçu, onde está instalada. Por fim, o
estímulo e incentivo para novas investigações acadêmicas, tendo em vista a
escassez de bibliografia científica específica acerca do tema.

2 CINE SAYONARA: UMA HISTÓRIA ESQUECIDA NO VELHO OESTE

Para esta pesquisa, se tinha a prévia informação de que nos anos 1970 havia
algum tipo de estabelecimento de cinema. O passo seguinte, foi tentar encontrar
documentos que comprovassem esta existência e que pudessem precisar as datas.
A primeira investigação foi encontrar referências históricas sobre o município. Foi
encontrada uma única obra: “O Resgate da Memória de Medianeira”, da Associação
de Professores do município. Entretanto, não há nenhuma menção ao

1
Tradução de José Antônio Damásio Abib, 2010.
7

estabelecimento, pois o livro trata exclusivamente da formação do município e da


colonização das terras.
Felizmente, existem arquivos de imprensa, como antigos impressos de
edições do periódico semanal da cidade, “O Mensageiro”, encontrados na Biblioteca
Cidadã local, e posteriormente, com arquivos mais completos, no próprio
estabelecimento do jornal, que se mantém até os dias atuais. A primeira edição
deste jornal, data-se de 17 de maio de 1974, o que exclui o período anterior de
funcionamento do cinema. Nesta primeira edição, consta a programação da sala. Na
sequência, foi realizado um levantamento de todas as edições, a partir deste período
até o final dos anos 1970. Houve períodos em que semanalmente continham a
presença da programação da sala Sayonara, e algumas poucas matérias
relacionadas ao cinema em geral, principalmente, sobre determinado filme, que
estava em cartaz e com a repercussão do mesmo, porém, de uma forma externa.
Um exemplo é o filme O Exorcista (1974), presente em uma matéria de 10 de abril
de 1975, em referência ao impacto causado no público de forma global, instigando
ainda mais a curiosidade ao apresentar o provável caso em que foi inspirado.
Esse fato indica o interesse da população por filmes, e pode sugerir uma ideia
de que este tipo de entretenimento estava presente na rotina da cidade, todavia, não
aprofunda a possível relação intrínseca desta sociedade com o cinema.
Em outros períodos, constatou-se a ausência da publicidade da programação,
ocorrendo de forma irregular, possivelmente muito mais por conta de contratos de
publicidade do Cinema com o jornal. Contudo, foi possível colecionar um arquivo
razoável de pouco mais de 100 programações, até o final do ano de 1979,
registrados por fotografias, que viabilizaram o conhecimento de várias informações.
Comumente, haviam duas sessões no sábado, às 20h30 e às 22h30, cada
uma delas com um título diferente. Nos domingos, às sessões eram às 14h, 16h, e
às 20h30, havia uma sessão dupla, cada sessão com filmes distintos. Essa
informação foi complementada, através dos relatos dos entrevistados, que
assinalam também programações em outros dias da semana, como será
apresentado mais adiante.
Outro dado importante, além da variabilidade de filmes, com até cinco títulos
diferentes, entre filmes nacionais e estrangeiros, por final de semana. Os filmes
exibidos vinham de três distribuidoras de Curitiba, duas delas eram a Fama Filmes e
a Condor Filmes. Vinham também de distribuidoras de São Paulo, todos por meio de
8

empresas de viação. Já os filmes do Teixeirinha, de grande prestígio no público,


eram distribuídos pela própria produtora do artista, localizada no Rio Grande do Sul
(informação verbal).2

Fotografia 1 – Programação Cine Sayonara, na edição do Jornal Mensageiro de 04/07/1974.

Fonte: a autora, 2019.

Até este momento, era verossímil a existência de um cinema em Medianeira


antes de 1974, mas ainda não se tinha indícios que o comprovaram. No mesmo
jornal, ao folhear as antigas edições, uma delas mencionava que a Prefeitura
Municipal sofrera um incêndio no ano de 1976. Essa informação diminuiu as
expectativas de encontrar documentações, ou registros do estabelecimento, uma
vez que a matéria mencionava que o único item que resistiu ao incêndio foi um cofre
de aço, que continha apenas dinheiro. Em uma visita até a municipalidade se
verificou a inexistência de registros de qualquer espécie em diversas repartições,
como secretaria de administração, tributação, imprensa, e nem mesmo no
departamento de arquivo público.
A alternativa encontrada para localizar o Cine Sayonara em um espaço
específico, foi recorrer às redes sociais. Através de indicações, se chegou até a
página MEDIANEIRA – Histórica., da rede social Facebook, onde foi realizada uma
busca em suas publicações, até encontrar uma, de 10 de julho de 2014, que
continha uma foto antiga de um desfile de 7 de setembro, em frente ao cinema.
2
Informação verbal concedida por Walmor Teodoro Hahn, no dia 31 de agosto de 2019, em
entrevista.
9

Figura 1 – Publicação da fotografia do desfile em frente ao antigo cinema.

Fonte: MEDIANEIRA-Histórica no Facebook 3

A foto não continha datação da época, como também não era apontada nos
comentários, entretanto, apontava a localização. Apesar de naquele período, a rua
ser ainda de chão batido, não é difícil identificar a Avenida Brasília. Embora o
edifício tenha sido modificado, para quem conhece a cidade, não é difícil reconhecer
que se trata da loja de materiais Martelli, como apontado nos comentários da foto
em Facebook. A partir deste momento, o Cine Sayonara estava novamente situado
no espaço e no tempo, e sua história começa a emergir do esquecimento.

Fotografia 2 - Localização indicada em rede social do imóvel atualmente.

Fonte: a autora, 2019.

3
Disponível em :< https://www.facebook.com/groups/301185916700003/>. Acesso em set. 2019.
10

Para adentrar nas camadas mais profundas, a pesquisa evoluiu para uma
segunda fase, e contou com os depoimentos de alguns participantes dessa história,
encontrados através de indicações, interação por redes sociais, e se deram por meio
de entrevistas individuais de forma colaborativa e flexível, para que os entrevistados
pudessem se sentir confortáveis em narrar suas memórias. Essa abordagem permite
remontar em parte, como era a estrutura e o funcionamento do Cine Sayonara. Da
mesma forma, possibilita a compreensão de uma linha do tempo, do início ao
encerramento das atividades.
Antes de ser Cine Sayonara, o cinema de Medianeira já existia e funcionava
há alguns anos. A estrutura do cinema era de propriedade do senhor Mario Pavei,
que construiu a edificação no início da década de 1960, já com essa finalidade.
Pavei, no entanto, nunca teve a intenção de administrar o cinema. Tudo indica que
ele construiu a estrutura e a alugou para Antonio Della Pasqua. O acordo
possivelmente tenha sido firmado antes mesmo da construção, conforme relata
Jorge, genro de Mario: “eu acho que ele construiu, e já alguém, arrendou, ou alugou,
fez pra alguém tocar o cinema, não foi ele” (informação verbal) 4. Não havia precisão
de datas quanto a construção da estrutura, mas a matrícula do lote, fornecida por
uma das atuais proprietárias do imóvel, comprova a averbação de uma construção
de alvenaria de 578 m2 em 1963.
Se os equipamentos e alguma parte estrutural, seriam de propriedade de
Antonio Della Pasqua, e ainda, sobre esse período de funcionamento, desde a
inauguração até o fim da década de 1960, não há muitas informações completas ou
concretas. Contudo, os depoimentos permitem ter uma noção de como era a
atividade.

[...] alguém deve ter feito uma planta, alguma coisa assim, pra fazer. Que o
primeiro arrendatário que eu te falei antes, foi o seu Antonio Della Pasqua,
pelo o que eu me lembro. O que era o operador das máquinas, a primeira
vez, era o seu Bertolino, não me lembro o sobrenome. [...] Era pra 600, 800
lugares... Tinha filmes assim, que pra você entrar era difícil. Lotava. Tipo,
uma vez, teve o filme do Gianni Morandi, teve aquele da Gigliola Cinquentti,
lá, que ele... olha, tinha várias sessões, vários dias assim, que passaram, e
pra você arrumar lugar não era fácil. Tinha fila pra comprar ingresso. Coisa
incrível. Lógico, Medianeira a 40, 50 anos atrás, não tinha nada de diversão.
Saía ali, e ia pro cinema. (informação verbal) 5
4
Informação verbal concedida por Jorge Luiz Zanella, no dia 04 de outubro de 2019, em entrevista.
5
ZANELLA (2019).
11

Em visita a estrutura existente, ainda é possível observar traços que


comprovam um interesse na qualidade da obra, como as paredes duplas e
afuniladas em curvas, que vão da parte da entrada, até o fim da estrutura onde
ficava o palco. De certa forma, isso evidencia que foi realizado um grande
investimento para garantir um local qualificado para a exibição de filmes. Tal
profissionalismo refletia no desempenho técnico das rotinas funcionais, bem como a
escolha do repertório.

Em determinado período Della Pasqua, transfere o cinema para Ítalo


Mezzaroba, o qual o administrou durante a década de 1970, que é o foco desta
pesquisa. Os termos e condições, assim como o ano em que ocorreu essa
transação não foram identificados, entretanto, acredita-se que possa ter sido no final
da década de 1960, ou no ano de 1970, ou seja, em um curto espaço de tempo.
Alguns depoimentos, apontaram que em 1970 o proprietário já era o senhor Ítalo e o
cinema já se chamava Cine Sayonara.
O antigo operador do projetor, Walmor Hahn, começou a trabalhar como
auxiliar no Cine Sayonara quando tinha 11 anos de idade, em 1970. Segundo Hahn,
Ítalo era dono de mais dois cinemas, o Avenida de Ramilândia e o Avenida de Vera
Cruz do Oeste. Seu depoimento indica uma forma de funcionamento muito similar ao
período anterior, mas destaca uma maneira diferenciada de gerenciamento por parte
do administrador. Ítalo fazia a programação de forma estratégica nas companhias
distribuidoras, conciliando principalmente os lançamentos, com títulos que faziam
sucesso com o público. Além disso, prezava pela acessibilidade, concedendo passe
livre para algumas pessoas que por algum motivo não teriam condições de
frequentar o cinema (informação verbal)6.

O município de Medianeira já tinha uma população considerável na década de


1970, com mais de 30.000 habitantes. Com poucas opções de entretenimento o
cinema da cidade, com mais de 800 lugares, muitas vezes ficava pequeno para o
volume de frequentadores. A atividade era extremamente rentável, e garantia uma
situação financeira confortável para quem estivesse ligado a ela direta ou
indiretamente. Como empreendimento familiar, gerava renda para os integrantes da

6
HAHN (2019).
12

família, cada qual com sua função. Edílio, irmão de Ítalo, garante que aquele período
foi extremamente lucrativo para o Cine Sayonara e os demais negócios
relacionados, como a bomboniere instalada junto ao cinema e os bares e
lanchonetes localizados aos arredores, onde as pessoas aguardavam entre uma e
outra sessão (informação verbal)7.
Já as distribuidoras ficavam com a soma de 60% da bilheteria dos
lançamentos, em contrapartida aos 40% do cinema, e realizava o controle através
de fiscal que acompanhava as sessões, que contabilizava as pessoas. Se o
lançamento não atingisse cem ingressos vendidos, saía de cartaz, os demais filmes
poderiam ser alugados por um valor fixo, e dispensavam fiscalização. Entretanto,
todos os filmes que seriam exibidos, antes passavam por um outro controle, o da
censura. Como era período de Regime Militar, todo o material de divulgação do filme
deveria ser levado até a Polícia Federal em Foz do Iguaçu para ser aprovado, caso
contrário, a exibição ficava inviável, já que os cartazes eram uma das mais eficazes
fontes de divulgação (informação verbal)8.
O Cine Sayonara, além do sucesso de público, carregava outras
peculiaridades, como o próprio nome. Presume-se que seja devido a música
homônima, de Os Incríveis - que pertence ao álbum Os Incríveis no Japão (1968) -,
que tocava nas propagandas de autofalante da torre do cinema, e antes da exibição
dos filmes. Nos finais de semana era habitual a divulgação dos títulos em cartaz, a
torre era alta, assim como o volume, que contemplava toda a cidade, dessa maneira,
a presença dessa trilha sonora musical criou uma identidade e um vínculo fortes
entre o Cine Sayonara e a população (informação verbal) 9.
O Cine Sayonara permaneceu sob essa denominação até o início da década
de 1980, quando Ítalo mercanciou o cinema, para Ismael Zornitta, que então alterou
seu nome para Cine Tropicana. A transação ocorreu devido à queda de
frequentação, já por influência do maior acesso e desenvolvimento da televisão. Isso
fez com que o senhor Ítalo, mesmo com planos de construir um novo cinema na
cidade, com um prédio próprio e mais moderno, e com equipamentos mais
qualificados, desistisse da ideia, e se preparasse para investir em cinema em Alta

7
Informação verbal concedida por Edílio Mezzaroba, no dia 20 de setembro de 2019, em entrevista.
8
HAHN (2019).
9
Informação verbal concedida por Jorge Luiz Zanella e Mafalda Pavei Lamin, no dia 04 de outubro
de 2019, em entrevista.
13

Floresta, no Mato Grosso, assim como outros investimentos que já mantinha por lá
(informação verbal)10.
O Cine Tropicana iniciou as atividades ainda no mesmo local, e com os
mesmos equipamentos. No entanto, no ano de 1984, com o falecimento de Mario
Pavei no ano anterior, os herdeiros decidem vender o imóvel, forçando a
transferência do cinema para outro endereço (informação verbal) 11.
Com construção própria, a família Zornitta continua as atividades do
empreendimento até o ano de 1989, ano do lançamento do filme Batman de Tim
Burton. Com o cinema já em decadência, sua última tentativa de angariar público foi
a aposta nesse lançamento. Devido à escassez de espectadores, e a
impossibilidade de sustentar o negócio, o cinema fecha suas portas.

3 SAYONARA, SAYONARA! O AMOR QUE VAI NÃO VOLTA NUNCA MAIS: O


CINEMA COMO ENTRETENIMENTO E AS RELACÕES SOCIAIS

Na década de 1970, o cinema era bem ativo na cidade. Nesse período,


começaram a aparecer os primeiros aparelhos televisores, porém, eram poucas as
famílias que possuíam, nem todos tinham poder aquisitivo, ou até mesmo acesso à
energia elétrica, e além disso, o sinal e os canais de televisão começaram a se
desenvolver na região, mais para o final da década. Dessa forma, a população em
sua maioria, tinha acesso ao produto audiovisual exclusivamente através do Cine
Sayonara.

[...] Medianeira que era interessante, que tinha a missa às sete da noite de
domingo, acabava a missa às 8h, aquela Avenida ficava coalhada de gente
pra ir pro cinema. Então no domingo à noite, em média, quando não chovia,
que a chuva era um inimigo natural do movimento do cinema, né? Quando
não chovia era em média 800, 900 pessoas na sessão do cinema.
Lotava....nós fazíamos 3 sessões por domingo, das 2h, às 4h e às 8h. Das
8h que a gente fala, começava às 8h30, quinze para às 9h (20h30, 20h45).
Teve épocas que a gente fazia às 2h, às 4h, dependendo do filme, e às 6h
também, e às 8h também (informação verbal)12.

O Cine Sayonara foi, para muitas pessoas, o primeiro contato com o cinema e
com produtos audiovisuais, bem como o aparato de exibição. “Minha maior
curiosidade além do filme, era como que ele passava, [...] aquele facho de luz lá na
10
MEZZAROBA (2019).
11
Informação verbal concedida por Amélia Zornitta Jacobsen, no dia 23 de outubro de 2019, em
entrevista.
12
HAHN (2019).
14

frente pra reproduzir, aí, eu escutava aquele barulho da... acho que era a fita
rodando, [...] e aquilo me chamava a atenção, e eu tinha muita curiosidade”
(informação verbal)13 .
O público que frequentava o cinema era variado, tanto em idade, gênero e
classe social. Era considerado uma diversão familiar, com exceção de algumas
sessões, geralmente noturnas, e ou com classificação indicativa acima de 14 e 16
anos, nestes casos, o controle na entrada era realizado com rigidez. “Era misto o
público. Vinha também das cidades vizinhas, né? Vinha de Missal, Matelândia, São
Miguel, que não tinha” (informação verbal) 14.

A assiduidade variava conforme a disponibilidade de cada um, mas o que se


percebe é que o cinema mantinha um público fiel, fosse nas matinês de domingo ou
em dias de semana. “Ah, sempre que podia "gasear" aula à noite. A gente gaseava,
e ia pro cinema, ou final de semana, ia direto, era o ponto de encontro” (informação
verbal)15. Além da curiosidade da projeção, o próprio cinema era um local de
fascínio, com os cartazes das programações. Era considerado um lugar que oferecia
novas experiências, e era visto também como um portal que permitia a aproximação
ao resto do mundo. “O cinema pra mim, era uma porta, que não tinha outra aqui na
região, não tinha televisão. [...] Então a gente ficava aqui, o cinema era o que trazia
as coisas pra gente” (informação verbal)16.
A programação do Cine Sayonara ia além dos filmes. Segundo os relatos de
Clóvis, João Hermes e Jorge, antes de iniciar a sessão, era exibido o cinejornal
Canal 100, que era composto de documentários cinematográficos sobre eventos
importantes e esporte. Destacava essencialmente os gols das principais partidas de
futebol, e era visto com interesse, mesmo com o retardo das notícias, pois trazia a
imagem dos acontecimentos. Havia também a exibição de seriados, que atiçavam a
curiosidade do público para a continuidade da história: Batman, Zorro e Capitão
Marvel eram alguns desses. Na sequência, eram projetados os trailers de
lançamentos futuros e de filmes que estavam em cartaz, para a então exibição da
fita.

13
Informação verbal concedida por Alcedir Biesdorf, no dia 06 de setembro de 2019, em entrevista.
14
Informação verbal concedida por Mirtes Maria Valério, no dia 12 de setembro de 2019, em
entrevista.
15
Informação verbal concedida por Clóvis José Fagundes de Abreu, no dia 06 de setembro de 2019,
em entrevista.
16
ZANELLA (2019).
15

Em datas comemorativas a programação fílmica era adaptada. Em dias


santos era comum a projeção de filmes religiosos como Barrabás (1962). No dia das
crianças, eram exibidos filmes infantis e a entrada era franca, contemplando as
crianças da cidade (informação verbal) 17. Nos outros dias, os gêneros variavam, mas
geralmente privilegiavam western e o western spaghetti, com forte apelo pelos
atores como Bud Spencer, Terence Hill, Franco Nero, Giuliano Gemma, que eram
sinônimo de casa cheia. Filmes com os personagens Django, e com a dupla Trinity,
foram alguns dos mais lembrados pelos entrevistados. Filmes de pós-guerra, épicos,
dramas e dramas românticos também foram muito referenciados, como Doutor
Jivago (1966), Os Girassóis da Rússia (1970) e O Poderoso Chefão (1972) foram
destaques. Da mesma forma, o gênero de comédia, com recorte especial para os
filmes brasileiros do Mazzaropi, os filmes mais lembrados do gênero terror e
suspense foram O Exorcista (1973), Tubarão (1975) e Terremoto (1974).

Muitos dos filmes exibidos tiveram grande êxito mundial, em público e/ou
premiações, como Doutor Jivago (1965), Queda do Império Romano (1964), entre
outros filmes muito apreciados pelos frequentadores. Os rolos de películas eram
armazenados em latas, variando entre 4 a 6 latas, dependendo da duração, e cada
rolo era projetado de forma intercalada, através de dois projetores. Enquanto um
exibia um rolo, o seguinte já era preparado na sequência, assim que terminado, era
rebobinado e conservado novamente na embalagem (informação verbal) 18.
A interação da plateia com os filmes ocorria de forma peculiar no Cine
Sayonara. Durante as sessões o público vibrava com as cenas, fazia torcida, batiam
palmas e os pés no assoalho de madeira em uníssono. “Principalmente quando era
bang bang, quando o mocinho ganhava ou alguma coisa, o pessoal começava bater
pé, virava uma gritaria dentro do cinema... tinham torcida, torciam dentro do cinema”
(informação verbal)19. Para conter algum alvoroço, haviam os lanterninhas, que
eram chamados de cuidadores, que intervinham para controlar a balbúrdia quando a
fita arrebentava ou em situações de outra natureza. “Ele não deixava as pessoas
"exagerarem" (entre aspas), quer dizer, tava lá o lanterninha pra separar o
casalzinho mais afoito” (informação verbal)20.

17
HAHN (2019).
18
ZANELLA (2019).
19
Informação verbal concedida por Luiz Pasini, no dia 07 de setembro de 2019, em entrevista.
20
Informação verbal concedida por João Hermes, no dia 12 de setembro de 2019, em entrevista.
16

As motivações para a frequentação tinham base no entretenimento, fosse


pelo interesse exclusivo pelas cinematografias e/ou pelas relações sociais que o
ambiente proporcionava: “Um ponto de encontro. O cinema, além do aspecto
cultural, ele era um ponto de encontro, e de relacionamento, de você paquerar, na
época era chamado. Você paquerar e se encontrar com as pessoas” (informação
verbal)21, e na maioria dos casos por ambas as coisas.

Era um misto, era um ponto de encontro, então, lá você unia o útil ao


agradável, você tinha o agradável de assistir um filme, namoradinha, é...
encontrar o pessoal, dali nós íamos pra sede do União, que era em frente.
Então, ali era a nossa maneira de passar o tempo, a nossa diversão noturna
era o cinema (informação verbal)22.

Não era o fim da sessão que encerrava o programa, alguns até poderiam ir
embora, mas não sem antes participar como atores de outra exibição, “o pessoal
falava: vamos pro cinema pra assistir a "Santa Saída"... todo mundo em volta
esperando sair o povo, as meninas... as moças. [...] A moçada ficava na frente, do
outro lado da rua, [...], ficava esperando sair todo mundo” (informação verbal) 23.
Quem quisesse estender o passeio poderia ir a alguma das lanchonetes, ou ainda
sair para dançar, como era o costume.

Através dos relatos, foram levantadas algumas hipóteses sobre os fatores que
ocasionaram a diminuição da frequência e do público. A introdução da televisão no
cotidiano e o desenvolvimento dos canais possibilitaram a aproximação a outro meio
de comunicação, permitindo o acesso mais abrangente ao conteúdo audiovisual, e
sem precisar sair de casa. Outro fator importante, foi a ausência de modernização
daquele cinema, em todo o seu período de funcionamento, ele não obteve melhoria
substancial, os assentos eram de madeira, sem estofamento, os projetores se
mantiveram, mas o que mais fez diferença, foi o aparato sonoro. Isto é, o cinema
não acompanhou os melhoramentos da qualidade do som nas películas, um
exemplo significativo, foi na ocasião da exibição do filme Terremoto (1974), que
inovava no diferencial sonoro, enquanto a aparelhagem não era capaz de transmitir

21
VALÉRIO (2019).
22
ABREU (2019).
23
ZANELLA (2019).
17

essa qualidade oferecida pelo filme, o que fez com que algumas pessoas,
procurassem cinemas de cidades maiores para aproveitar melhor a experiência.
Esses casos eram muito específicos, mas apontam uma falta de estruturação nesse
aspecto, mas ainda não foi um fator determinante. Contudo, o que de fato
sentenciou o fim do cinema na cidade de Medianeira, segundo Amélia, filha do
último proprietário, foi a chegada da fita VHS através das locadoras. Naquele
momento, além dos conteúdos disponíveis na televisão, era possível assistir filmes
na privacidade e no conforto de casa, com um leque de opções de horários de
visualização, e de títulos ou gêneros específicos. Igualmente passou a ser possível,
pausar um filme ou revê-lo, afora a possibilidade de diluir o valor do aluguel entre
mais pessoas. Todas essas facilidades, convergiram para a predileção por esse tipo
de consumo, e fadaram o cinema ao fim de suas atividades.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O antigo cinema de Medianeira foi um marco para as pessoas daquela


cidade, que vivenciaram o seu período em atividade, em especial quando esteve em
seu grande esplendor, na época em que era Cine Sayonara, na década de 1970.
Muitas figuras ativas dessa história já não estão mais entre nós, o que
dificulta delinear uma narrativa mais rica, com dados mais precisos. A ausência de
registros e de testemunhas, por outro lado, soa como um alerta, de que o
conhecimento deve ser passado adiante, do contrário, a história pode se perder no
tempo, assim como os comportamentos e os valores de uma comunidade, como um
capítulo arrancado de um livro. As lembranças desse tempo, estão enterradas no
subsolo, e da mesma forma, ficaram os antigos projetores embaixo de um assoalho,
construído para emparelhar o piso para a utilização de uma academia, que tomou o
lugar do que antes era um cinema.
Dessa forma, o objetivo desse artigo foi resgatar memórias individuais e
coletivas, na tentativa de reconstituir essa história, e mantê-la viva. Em cada
evidência e em cada relato, mais denso e mais rico ficavam o enredo, reforçando a
pertinência da pesquisa. Isso porquê, além da relevância do estudo sobre a
existência dos antigos cinemas de rua e sua extinção, ficou clara a sua influência no
comportamento de toda uma cidade. A comunidade mantinha aquele local como um
ponto de encontro, desenvolvia muitos relacionamentos interpessoais, vivenciava
18

suas experiências sociais, pessoais e comunitárias. Além disso, o cinema através do


produto audiovisual, permitia o acesso ao restante do mundo, ilustrando por meio da
imagem distintos países, eventos, culturas e comportamentos, que poderiam
influenciar os seus próprios costumes e pensamentos.
Dentro deste contexto, observou-se também, a importância do relacionamento
entre a academia e a comunidade. Ou seja, de como uma pode fornecer a outra,
trocas significativas de conhecimentos e competências, quando em sinergia.
REFERÊNCIAS

FLICK, Uwe. Introdução à Pesquisa Qualitativa. 3.ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.

INFORME salas de exibição 2018. Observatório Nacional de Cinema e


Audiovisual – OCA, 2019. Disponível em:
<https://oca.ancine.gov.br/sites/default/files/repositorio/pdf/informe_salas_de_exibica
o_2018.pdf>. Acesso em 13 de set. de 2019.

MEDIANEIRA-Histórica. Desfile 7 setembro, em frente ao Cine Sayonara.


Medianeira, 01 set. 2019. Facebook: Giani Mirafiori. Disponível em: <
https://www.facebook.com/groups/301185916700003/>. Acesso em: set. 2019.

MISHLER, Elliot, G. Entrevista de Pesquisa: Contexto e Narrativa. Tradução de


José Antônio Damásio Abib. Cambridge: Harvard University Press, 1986. __ f. (Texto
digitado).

SOUSA, Márcia Cristina da Silva. Ser Ou Não Ser: A Memória Dos Cinemas De
Rua Como Patrimônio Cultural Do Rio De Janeiro . In: ENCONTRO REGIONAL DA
ANPUH-RIO MEMÓRIA E PATRIMÔNIO, 14, 2010, Rio de Janeiro. Artigo. Rio de
Janeiro: Unirio, 2010. p.5.

ENTREVISTAS

ABREU, Clóvis José Fagundes de. Entrevista III. [out. 2019]. Entrevistadora: Giani
dos Santos. Medianeira, 2019. 1 arquivo .mp3 (75 min.).
19

BIESDORF, Alcedir. Entrevista II. [set. 2019]. Entrevistadora: Giani dos Santos.
Medianeira, 2019. 1 arquivo .mp3 (53 min.).

GROMOWSKI, João Hermes. Entrevista V. [set. 2019]. Entrevistadora: Giani dos


Santos. Medianeira, 2019. 1 arquivo .mp3 (37 min.).

HAHN, Walmor Teodoro. Entrevista I. [ago. 2019]. Entrevistadora: Giani dos


Santos. Medianeira, 2019. 2 arquivos .mp3 (91 min.).

JACOBSEN, Amélia Zornitta. Entrevista IX. [out. 2019]. Entrevistadora: Giani dos
Santos. Medianeira, 2019. 1 arquivo .mp3 (33 min.).

LAMIN, Mafalda Pavei; ZANELLA, Jorge Luiz. Entrevista VIII. [out. 2019].
Entrevistadora: Giani dos Santos. Medianeira, 2019. 1 arquivo .mp3 (87 min.).

MEZZAROBA, Edílio. Entrevista VII. [set. 2019]. Entrevistadora Giani dos Santos,
Medianeira, 2019. 1 arquivo .mp3 (64 min.).

PASINI, Luiz. Entrevista IV. [set. 2019]. Entrevistadora: Giani dos Santos.
Medianeira, 2019. 1 arquivo .mp3 (39 min.).

VALÉRIO, Mirtes Maria. Entrevista VI. [set. 2019]. Entrevistadora: Giani dos Santos.
Medianeira, 2019. 1 arquivo .mp3 (41 min.).

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