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Psicologia e

Percepção das Cores


Material Teórico
A cor e suas aplicações

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Ms. Rita de Cássia Garcia Jimenez

Revisão Textual:
Profa. Esp. Vera Lídia de Sá Cicarone
A cor e suas aplicações

• Comunicação Visual

• Design de Interiores

• Design de Produto

• Design Gráfico

• Cinema

• Arquitetura

·· A cor como elemento da comunicação visual.


·· A escolha da paleta de cores através de sistemas como o NCS.
··
A importância da cor na criação de composições de
diferentes áreas.

Para que você tenha um melhor aproveitamento deste material, foi criada uma série de
itens para ajudá-lo. Além do texto central, veja o PowerPoint narrado e a videoaula, em que
você terá o mesmo conteúdo apresentado de formas diferentes. O material complementar
oferece, ainda, indicações de filmes e sites nos quais você poderá encontrar mais informações
sobre o tema. Além disso, é interessante que você procure observar melhor as cores e sua
utilização nas áreas de seu interesse. Acredito que, com as informações encontradas aqui,
você terá condições de analisar melhor qualquer material que utiliza a cor como ferramenta
de comunicação.

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Unidade: A cor e suas aplicações

Contextualização

Além de entender a teoria das cores, conhecer as simbologias e suas origens na história da
arte, é fundamental observar as cores aplicadas em materiais, produtos e projetos de todos os
tipos nas diversas áreas da comunicação visual. É observando e analisando que você poderá
compreender a importância da cor e saber, na prática, o que funciona e o que não funciona.
Observe os exemplos apresentados e, se possível, busque mais imagens. Com certeza você irá
se surpreender com as possibilidades que a cor pode oferecer.

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Comunicação Visual
Tão importante quanto à comunicação verbal, a comunicação visual transmite ideias,
sensações, emoções, através da organização de seus elementos básicos – ponto, linha, forma,
textura e cor – que geram equilíbrio, harmonia, tensão.
Quando falamos de comunicação visual, estamos nos referindo a imagens. Há indícios de
imagens datadas de 40.000 anos. Inicialmente, eram totalmente funcionais: na arte rupestre,
representavam o poder mágico de aprisionar a alma do animal a ser caçado; na civilização
egípcia, garantiam os prazeres e o conforto para a vida eterna; na Idade Média; serviam para
divulgar os ensinamentos da nova religião cristã. Seu reconhecimento como arte apenas surgiu
no Renascimento, quando a genialidade de homens como Leonardo Da Vinci e Michelangelo
Buonarroti aflorou em Florença, fazendo nascerem os conceitos de arte e artista.
Com o advento da reprodutibilidade das imagens no século XX, os meios de comunicação
de massa – jornal, televisão, cinema – utilizaram-na de forma expositiva. Milhares de imagens
passaram a ser vistas pelas pessoas e hoje dominam a comunicação, incorporando conceitos,
ilustrando temas e informando.

Explore

Veja o ensaio de Walter Benjamin: A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica.


http://baixacultura.org/biblioteca/artigos-ensaios-papers/1-1-a-obra-de-arte-na-era-de-sua-reproduti-
bilidade-tecnica/

Como lembra Norval Baitello Júnior:

[...] não se deve esquecer que, na passagem das imagens únicas para as
imagens reproduzidas, a exuberância da cor se perdeu por algum tempo. E
seu resgate foi e tem sido fundamental para a preservação de seu fascínio.
(apud GUIMARÃES, 2004: ii)

Podemos classificar as cores como funcionais e não funcionais. A cor funcional é aquela
que é utilizada para melhorar a comunicação de um determinado material, produto ou serviço,
visando incitar uma determinada resposta no consumidor/observador. O termo é aplicado,
principalmente, em áreas como a comunicação e o design, nas quais nenhum elemento é
escolhido ao acaso. A cor aparece porque tem uma função importante dentro da composição,
tanto em relação às questões estéticas como em relação à transmissão de informações diretas ou
indiretas. Já a cor não funcional, ao contrário, aparece apenas como um elemento de adorno.
Nesta unidade, trataremos da cor funcional e sua aplicabilidade em algumas áreas da estética,
como a moda, o design - produto, gráfico e interiores - a arquitetura, o cinema e a publicidade.
Vamos tratar da cor inserida em um material no qual possui funções importantes, como informar,
atrair, criar uma atmosfera, organizar e ensinar.

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Unidade: A cor e suas aplicações

Para compreender melhor essas funções, vamos ver alguns exemplos da aplicabilidade da
cor funcional.
A cor é um elemento fundamental no diálogo entre as placas de sinalização e os observadores
ou usuários das vias de trânsito. As placas de trânsito foram criadas para informar, alertar,
identificar e orientar os condutores, segundo uma padronização de formas, símbolos e cores. No
caso, a escolha das cores foi pensada para orientar as pessoas quanto ao tipo de informação a
ser comunicada, diante do impacto causado por elas.

Sinalização de Regulamentação
A cor vermelha indica uma ordem! PARE!

Sinalização de Advertência
A cor amarela indica ATENÇÃO!

Sinalização de Identificação e
Orientação
A cor verde ORIENTA.

Educativas e Auxiliares
A cor azul EDUCA E AUXILIA

As cores também são usadas em infográficos


e mapas para melhor visualizar as informações.
Por exemplo, no mapa a seguir, as cores são
utilizadas para melhor identificar as linhas de
metrô da cidade de São Paulo e informar a
sequência de estações e suas conexões.
A cor separa as diferentes linhas de forma
a oferecer uma imagem organizada e fácil
de ser lida. O usuário, sabendo a cor da
sua linha, olha a sequência de estações
específica de seu interesse, recebendo a
informação mais rapidamente. metro.sp.gov.br

As cores também tornam mais interessantes e atrativas as imagens. Utilizando o contraste,


detalhes podem ser destacados – áreas e elementos - os quais poderão ser vistos/identificados
com mais facilidade dentro da composição.

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Steven Spielberg filmou A Lista de Schindler utilizando apenas o preto e branco, com
exceção de uma cena, em que uma menina aparece com um vestido vermelho. A história que
aborda um período do holocausto, quando os judeus sofreram todos os tipos de humilhações,
é retratada, pelo diretor, sem cor, o que lhe confere uma atmosfera de tristeza e melancolia. O
filme apresenta Oskar Schindler, um empresário que salvou a vida de muitos judeus como uma
esperança no meio de tanto desespero. A cor vermelha do vestido da menina, além de destacá-
la do restante, coloca-a como o elemento visual dessa esperança.

Pôster de divulgação e cena do filme A lista de Schindler de 1993. Ver site oficial do filme.

O efeito de destaque resulta de uma composição que utilizou o contraste de cores. A cor
vermelha, forte e vibrante, sobre um fundo de tonalidades cinza, chama a nossa atenção e
confere significado à cena.

O contraste simultâneo é aquele que se dá a partir da interação de uma determinada cor com
outras. A percepção dessa cor mudará conforme a aproximação de outras cores.
Como enxergamos um vermelho? Certamente o perceberemos de formas diferentes sobre um fundo
branco, preto e dentro de uma escala de tons de cinza.

Na hora de escolhermos um tom para uma determinada composição, teremos que pensar
na cor de fundo e naquelas que estarão próximas a ela.
O planejamento da cor deve levar em consideração vários fatores: área, objetivo do material/
produto, público, o contexto, incluindo iluminação e as cores circundantes.
São infinitas as possibilidades de cores disponíveis tanto no ambiente dos programas gráficos
como em tintas. Por isso, o profissional - artista, designer, estilista, arquiteto, maquiador - deve
planejar qual conjunto de cores vai usar em sua composição. Necessariamente, ele terá que
fazer escolhas e elas deverão ser pautadas conforme o objetivo que se queira atingir.

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Unidade: A cor e suas aplicações

A primeira atitude a se tomar é fazer uma pesquisa sobre as tendências de mercado - em quais
cores os segmentos estão investindo e quais as novas cores que estão sendo lançadas. Apesar
de esse tipo de informação ser importante para todas as áreas, há algumas delas que acabam
ditando as tendências, até por conta da antecipação que deve haver no planejamento de suas
coleções, como é o caso da alta costura. Esta área é uma das primeiras a escolher as paletas
de cores, juntamente com a indústria cosmética e os designers de produtos, que, na sequência,
transmitem essas informações às outras áreas, como o design de interiores e a construção.
As tendências também são ditadas pelas condições políticas, sociais e financeiras de uma
sociedade. Em momentos de crise econômica, por exemplo, surge uma tendência por cores
neutras, que cansam menos, já que sabemos que não poderão ser trocadas rapidamente.
Segundo Danger, depois da Segunda Guerra Mundial, houve uma preferência pelas cores
pastéis, uma contraposição às duras condições impostas pela guerra. A escolha de cores fortes e
exóticas, como o laranja, o roxo e o amarelo, pode ser ditada tanto pela boa situação econômica,
que permite o luxo de se arriscar por uma cor diferente, como pela moda, que dita o status de
ser atual. É por isso que o planejamento inclui uma pesquisa bastante séria e profunda sobre
todos esses aspectos.

Ideias Chave
As tendências da cor não podem ser generalizadas. Em determinado setor, uma cor pode estar no topo
da lista de preferências, enquanto, em outro, pode estar uma cor totalmente diferente. Atualmente,
a cor branca passou a ser extremamente atrativa na indústria automobilística para uma parcela
significativa de consumidores, enquanto, na decoração de interiores, o cinza e o preto tornaram-se
cores chiques e elegantes para compor uma cozinha.

Pelo fato de haver vários fatores determinantes na escolha da cor, é necessário fazer um estudo
aprofundado para que se determine uma escala de cores para ser usada na nova campanha
publicitária, na coleção de moda, no lançamento da nova linha de produtos, etc., buscando
atingir o maior número de pessoas possíveis dentro do público-alvo.
Depois de tanta pesquisa, vamos em busca de uma
paleta que apresente harmonia – equilíbrio e simetria
de porções - entre as cores escolhidas. A soma das
cores, ao resultar em um cinza médio, proporciona
um conforto para os olhos. Um guia para orientar
essas escolhas pode ser os esquemas baseados nas
cores complementares e na harmonia das cores.
Bergstrom cita o Natural Color Sistem (NCS)
como uma ferramenta para auxiliar na escolha de
cores para uma composição harmoniosa. Utilizado,
em geral, pelos profissionais do design, este sistema
consiste em um círculo cromático dividido em
quadrantes no qual as cores são escolhidas dentro
de três categorias: combinantes, próximas e opostas.

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Combinantes são composições de cores de um mesmo
quadrante, como as cores que se encontram entre o
amarelo (Y) e o vermelho (R).

Próximas são cores que se encontram nos quadrantes


próximos, como o laranja e os violetas. Ex: cores escolhidas
entre o Y e o B.

Opostas são de quadrantes opostos, como laranjas e


verdes. Ex. Cores entre o Y e o R e entre o G e o B.

No livro O guia completo da cor, Fraser e Banks oferecem outro esquema:


Fonte:http://nightcrawlerace.blogspot.com.br/2012/05/arquitetura-decoracao-cores-aprenda.html

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1. Esquema monocromático – nuanças e tonalidades
de uma mesma cor.
2. Esquema análogo – duas ou mais cores situadas lado
a lado no círculo cromático.
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3. Esquema triádico – três cores igualmente espaçadas
no círculo cromático.
4. Esquema complementar – duas cores opostas no
círculo cromático.

Você Sabia ?
Que a escala de cores Pantone (PMS) foi criada pela empresa Pantone Inc. para que os
designers pudessem indicar as cores corretamente para a produção dos materiais? Como
podemos nos equivocar visualmente quanto à cor, criou-se uma escala de cores impressas
indicadas com um número identificador. Assim, através desse código, a gráfica usará a cor
exata indicada pelo profissional.

Vamos ver, a seguir, algumas informações sobre a cor em algumas das áreas que utilizam a
comunicação visual para transmitir informações e conceitos através da cor.

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Unidade: A cor e suas aplicações

Design de Interiores
As cores são determinantes nas decorações de ambientes. Entre as medidas de manutenção
ou reorganização dos elementos de uma casa, a pintura das paredes é a mais comum, simples
e transformadora. A indústria de tintas investe fortemente em novas paletas de cores para
atrair consumidores que desejam mudanças e querem estar atualizados com as tendências de
mercado. Em geral, é a cor das paredes que determinará as cores dos objetos e mobiliários do
projeto de decoração.

Para Pensar
Se as cores podem nos afetar sensivelmente, como a psicologia da cor diz, imagine o impacto de
um ambiente ou de uma parede inteira de uma determinada cor...

A cor nos ambientes pode criar sensações de aconchego, de seriedade, de luxo, de frieza, de
limpeza. O importante é encontrar a cor adequada para cada lugar, que, naturalmente, tem uma
função ou talvez um problema.
Imaginem, por exemplo, um espaço debaixo da escada da sala. Naturalmente, ele será
desprezado por ser pequeno e baixo, mas se colocarmos uma iluminação adequada e uma cor
clara, junto de alguns objetos, ele poderá ganhar uma função e passar a ser atrativo.

Existe um aparelho chamado colorímetro capaz de identificar a cor de qualquer


objeto. Sua aplicabilidade é ampla, podendo ser utilizado em lojas de tintas para
reproduzir a cor de um determinado objeto, usado para caracterizar e corrigir as
cores de monitores de vídeos e para calibrar impressoras fotográficas e, ainda,
utilizado por cegos para o reconhecimento específico das cores.

As cores e os ambientes

Não deve ser usado em grande quantidade


em pinturas de casa ou ambiente de trabalho,
mas, se usado de forma sensata com outras
cores, ele se torna imponente e agrega certa
sofisticação ao ambiente.

http://www.closetcozinhaecia.com.br/wp-content/uploads/2012/03/
Cozinha-4.jpg

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O designer aplicou a cor preta em alguns pontos estratégicos da cozinha, trazendo
sofisticação para o ambiente sem deixá-lo pesado. Para quebrar o preto e o branco,
adicionou banquinhos, de formato moderno, na cor vermelha para tornar o espaço mais
arrojado através do forte contraste.

É uma cor sofisticada e muito usada tanto


pelos designers como pelas pessoas em
geral por dar ao ambiente certa sofisticação,
ampliar os espaços e transmitir uma sensação
de limpeza. Porém, é importante observar
que um ambiente todo branco pode causar
uma sensação de frieza e cansaço, além de
não dar profundidade. http://revistagalileu.globo.com/Revista/Galileu2/foto/0,,62737049,00.jpg

A cor branca faz com que o ambiente ganhe uma aura de delicadeza e suavidade,
mas também deixa todos os objetos apagados dentro desse cenário. Nada se destaca e
parece faltar vida.

Essa cor estimula a curiosidade, a


criatividade e o otimismo e, por isso, torna-se
eficaz em ambientes como salas de estudos,
trabalho e criação. É uma cor moderna e
atrativa e, por isso, pode também ser aplicada
em outros ambientes, mas com moderação
já que é uma cor muito forte e vibrante,
constituída de amarelo e vermelho. http://quintaldicasa.blogspot.com.br/2013/01/usando-cor-laranja-na-sua-casa.html

Apesar de ser muito forte, o laranja, quando puxado para a cor coral, ganha sofisticação. A
dica é combiná-la com cores neutras, como o preto, branco e cinzas.

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Unidade: A cor e suas aplicações

Estimula a organização, concentração e


discernimento e, por isso, é indicada para
ambientes de trabalho e salas de reunião.
Por ser uma cor sóbria, é associada ao
conservadorismo, trazendo sofisticação e luxo
para qualquer ambiente.
Apesar de ser uma cor muito escura, ela
também é neutra. Normalmente, essa cor já
aparece nas decorações em móveis e pisos, mas
pode ser utilizada de maneira mais audaciosa,
como na pintura de uma parede e combinada
com cores como azul e amarelo. http://www.decoracaocomdesign.com/decoracao-marrom-bombom/

Design de Produto

A principal função dos designers de produto é desenhar


produtos para que atendam, de forma eficiente, seus usuários
através de um formato que seja, ao mesmo tempo, funcional,
anatômico e arrojado. Apesar de a forma ser o centro das
atenções, a cor também é um elemento importante. Vamos
ver como alguns dos mais importantes designers da história
trabalharam esse elemento.
Apontador de lápis, 1933. -
Artjabber.com
No começo do século XX, a única preocupação dos designers
era a forma que os produtos deviam ter para atender melhor
aos consumidores. Foi apenas a partir de 1930 que os produtos
industrializados começaram a ter suas aparências valorizadas
através da cor. O designer Raymond Loewy (1893-1986), por
exemplo, investiu no cromo por ser um material que reflete
sofisticação, modernidade e que tem o poder de refletir as cores
circundantes.

Verner Panton (1926-1998), um dos mais importantes designers


do século XX, criou uma série de móveis com um design futurista
de cores vibrantes, nos anos de 1960, produzidos pela fábrica de
móveis suíços Vitra.
Cadeira Panton Stuhl, 2007 Sailko -
commons.wikimedia.org

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O designer milanês Ettore Sottsass (1917-2007), líder do
movimento Mênfis, nos anos de 1980, utilizava também cores
fortes e vivas, como as das máquinas de escrever coloridas feitas
para a empresa italiana Olivetti.
Nos anos de 1990, a Apple Computers lançou uma máquina
com formas orgânicas e de material translúcido e colorido que
dava humor aos computadores beges e de design austero dos Máquina de escrever Valentine para a
Olivetti. - commons.wikimedia.org
anos de 1980.
Atualmente, vemos uma variedade de tendências de mercado
na área de produto. A Apple, hoje, aposta em equipamentos
brancos e prata, mais voltados para a sofisticação e a tecnologia.
A cor prata também passou a ser a preferida das pessoas para
os eletrodomésticos, como geladeiras e fogões, tornando as
cozinhas mais Hi-Tech. Mas as cores fortes e vibrantes ainda são
sinônimo de modernidade. Desde objetos comuns de plástico, IMac da Apple Computers 1998..
-Stevesonian.com
como borrifadores de água, até objetos de design arrojado
utilizam cores atrevidas.

Thinkstock.com

Design Gráfico

Todos os dias chega a nós uma quantidade enorme de impressos de divulgação de serviços e
produtos. Na maioria das vezes, pegamos, mas também descartamos na primeira oportunidade.

Para Pensar
O que torna um impresso mais atraente que outro? O que nos faz parar e olhar para um desses impressos?

Esse é o grande desafio dos designers da atualidade. Criar um material que se identifique
com seu público-alvo e que, ao mesmo tempo, seja inovador.

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Unidade: A cor e suas aplicações

A cor é um elemento importante, porque, de imediato, informa o tipo de produto. Aqueles


ligados a produtos da natureza, como os de beleza e farmacêuticos feitos com elementos naturais,
usarão em maior quantidade os tons de verde. Já as agências de viagens vão preferir cores
como laranja e vermelho para divulgar pacotes para países exóticos como a Índia e a Tailândia.
As capas de livros devem ser cada vez mais interessantes e atualizadas dentro das megastores,
onde se encontram milhares de livros lado a lado. Não há receita, mas é o caso de se usar
o bom senso, o referencial estético e uma boa dose das tendências de mercado. Blocos de
uma única cor, barras, tarjas coloridas e imagens de cores significativas podem ser elementos
decisivos na escolha de um produto, em detrimento de outro, em uma livraria.
Antigamente, as capas de revistas eram desenhadas e pintadas pelos ilustradores e designers,
mas, posteriormente, essas ilustrações foram substituídas pela fotografia e as formas pelo
conteúdo, o que não implicou em uma perda do poder da cor para as composições.
Na primeira capa da Fortune, Will Burtin (1908-
1972) fez uma composição colorida por meio do
desenho e da pintura; já, na segunda imagem,
vemos uma composição feita com uma fotografia.
Nesse momento, a fotografia passou a informar e
dar mais dados reais, além de conferir ao material
certa modernidade através de imagens altamente
inovadoras, já que fotógrafos da vanguarda artística
eram chamados para fazer as capas das grandes
revistas. Apesar das mudanças, a cor continuou
1. Will Burtin.Colônia. Designer 2. capa da revista Vogue com
gráfico e diretor da Furtune fotografia de Irvin Penn
sendo um elemento de grande importância na
transmissão de conteúdo.
Na produção de cartazes e na propaganda de produtos, os
designers, influenciados pelas vanguardas modernas e pelo
imediatismo que a comunicação devia ter no período da I Guerra
Mundial, desenvolveram projetos gráficos de grande impacto
visual e com poucos elementos. As propagandas de Lucian
Bernhard (1883-1972) para empresas como Stiller, Manoli e
Priester caracterizaram-se pela simplicidade e precisão gráfica com Lucian Bernhard. Propaganda dos
formas de cores chapadas, sendo o produto e a marca o grande sapatos da marca Stiller, 1912.

destaque. Nesse sentido, as cores tinham que ser bem pensadas


para acentuar e marcar o produto.
Durante a guerra, o cartaz teve uma função muito importante:
devia comunicar, chamar a atenção para as conquistas, incitar o
otimismo e convidar a população para o alistamento de forma clara
e rápida. Para isso, utilizou-se uma comunicação rápida, fácil e cheia
de simbolismos.
O cartaz ao lado foi produzido para uma exposição de aviões
capturados. A águia, símbolo do exército alemão, está pousada sobre
um alvo azul, branco e vermelho, perfurado de balas, indício de uma
aeronave inimiga, provavelmente americana.
Julius Gipkens. Cartaz para a exposição -
De aviões capturados, 1917.

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As cores informam sobre a natureza da aeronave inimiga, o alvo a ser abatido – o círculo
vermelho – e o poder da nação de estar sempre de prontidão para proteger seu país contra
ataques inimigos – o preto remete à sombra de uma águia sempre atenta.
Hoje, praticamente tudo é feito pelo computador. Talvez alguns sketches e projetos rápidos
sejam feitos na prancheta, mas o restante é criado e finalizado pelo sistema digital. Por conta
disso, os designers tiveram que compreender como lidar com o novo sistema, inclusive com
o uso das cores.
Apesar de algumas tentativas, foi apenas em 1990 que foi lançado o primeiro software
para trabalhar imagens coloridas, o PHOTOSHOP, que até hoje é o mais popular programa
profissional que temos. Na sequência, surgiu o Ilustrator, que criava desenhos a partir de
formas coloridas.

Cinema

As cores surgiram no cinema, pela primeira vez, com o filme Le


manoir du diable (A mansão do diabo), de George Mèliés (1861-
1938), lançado em 1896. Como ainda não conheciam a tecnologia
para colorir a película, as cenas foram pintadas uma a uma à mão.
Em 1906, os irmãos Charles Urban (1867-1942) e G. Albert Smith
(1864-1959) inventaram o sistema Kinemacolor, que conseguia aplicar
duas cores ao filme através de filtros verde e vermelho.

Le m anoir du diable, 1896.


George Mèliés.

O pirata negro, 1906. Sistema Kinemacolor de duas cores. - United Artists, 1926

Em 1920, a empresa americana Kalmus desenvolveu uma câmera


colorida chamada Technicolor, que, inicialmente, separou os vermelhos
e verdes em duas tiras. Sete anos depois, a empresa conseguiu melhorar
o processo com uma terceira cor, reproduzindo o espectro de cores
completo. O primeiro filme totalmente colorido foi Becky Sharp (1935), Becky Sharp, 1935. 1° fime
uma adaptação do romance Vanity Fair, de William Makepeace Thackeray. colorido- Pioneer Pictures, 1935

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Unidade: A cor e suas aplicações

A dificuldade de manusear uma câmera com três tiras fez surgir, em 1950, o Eastman
color da Kodak, que capturava as três cores em tintas fotossensíveis e as sobrepunha
sobre um negativo. No entanto, havia um problema: a instabilidade da cor azul, que se
decompunha com o tempo. Hoje os filmes são gravados em películas, transferidos para o
sistema digital para ser feita a edição e, em seguida, passados novamente para a película
para serem exibido.
Como vimos, em A lista de Schindler, a linguagem cinematográfica utiliza a cor para conferir
significado ao filme, destacando elementos, criando uma determinada aura, reconstruindo uma
época e reforçando conceitos.
O filme Ensaio sobre a cegueira (2008), de Fernando Meirelles, uma adaptação
do romance homônimo de José Saramago, exemplifica bem algumas funções da cor na
composição das cenas. A história retrata uma epidemia chamada de cegueira branca, uma
doença que surge inesperadamente e afeta toda a população, fazendo com que as pessoas
passem a enxergar tudo esbranquiçado. Diante da dificuldade de enxergar, as pessoas
começam a brigar pelas coisas mais simples, como água e comida. Toda a filmagem é
tratada com cores brancas ou esbranquiçadas, dando-nos a possibilidade de enxergar tudo
de uma forma mais próxima à dos personagens. Ao mesmo tempo, retira a cor das coisas,
assim como o homem é capaz de tornar-se imensamente infeliz (sem cor) ao lhe retirarem
algo como a visão.
O diretor Peter Webber conseguiu recriar as cenas das pinturas de Johannes Veermer no filme
Moça com brinco de pérola (2004). Ele se utilizou dos mesmos elementos – cores, formas,
luz, objetos - o que conferiu ao filme um verdadeiro mergulho na vida do pintor e na história da
pintura do Barroco holandês.
Já as cores fortes e brilhantes dos anos 60 criaram o clima para a série de filmes Austin Powers.
De 1997, a série, escrita e estrelada por Mike Myers, é uma sátira às grandiosas produções
cinematográficas, como James Bond e Derek Flint.

Pôster do filme Ensaio sobre a Pôster do filme Moça com brinco de Pôster da série Austim Powers – 000
cegueira - Miramax Films, 2008 pérola - Lions Gate Films, 2003 New Line Cinema, 1997

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Arquitetura

As cores invadiram as cidades nos luminosos de neon que divulgam todos os tipos de serviços
e atrações. Sem um planejamento adequado, esses elementos poluem as ruas, confundem a
visão das pessoas sem agregar qualquer tipo de significado às construções dos edifícios.
Segundo Fraser, Rem Koolhaas (1944), fundador do Escritório de Arquitetura
Metropolitana (OMA),

Examinando as opções que os arquitetos têm para usar a cor, ele traça uma
trajetória a partir da tradição modernista, passando pela exuberância dos
anos 1960 e 1970 e chegando ao minimalismo dos anos 1990, com ênfase
nas cores dos materiais atuais.

Segundo Koolhaas, as cores deveriam ser usadas para refletir a função ou status, para
esclarecer relações espaciais ou para fornecer orientações.

Trocando Ideias
Ainda que a arquitetura moderna
se caracterize por não utilizar a cor e
pelo monocromatismo, vale lembrar
que existem exceções. O artista e
arquiteto Antoni Gaudí (1852-1926)
ficou conhecido por suas construções
originais e ousadas de elementos
orgânicos e muitas cores.
Tato Grasso - commons.wikimedia.org

Antoni Gaudí - commons.wikimedia.org

O Centro de Danças Laban, em Londres, é um exemplo de um projeto arquitetônico no


qual a cor foi pensada para trazer uma contribuição artística, estética e social para o edifício.
Construído com uma película de plástico translúcido em sua superfície, sua parte interna torna-
se parcialmente visível. Durante a noite, transforma-se em um ponto iluminado “contribuição
para a regeneração do meio ambiente urbano em torno dele” (Fraser, 80).

Laban Dance Centre, London, 2003. Os arquitetos Jacques Herzog e Pierre de Meuron trabalharam em colaboração com o artista Michel Craig
Martin (Eye of the Storm, 2002. Acrílico÷) - commons.wikimedia.org

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Unidade: A cor e suas aplicações

Material Complementar

O fabuloso destino de Amelie Poulain, Direção: Jean Pierre jeunet. Produção: Jean-
Marc Deschamps; Claudie Ossard. 2001, 1222 min. Son., color. [Comédia; Romance. França e
Alemanha]. Sinopse: Garota jovem e inocente começa observar o mundo ao seu redor e decide
ajudar as pessoas, quando encontra seu verdadeiro amor.
Veja o traler: https://www.youtube.com/watch?v=kjH6mOILViA

Austin Powers, 000 um agente nada discreto. Direção: Jay Roach. Produção: Demi Moore;
Mike Myers, Jennifer Todd; Suzanne Todd. Inglaterra, 1997, 94 min. son., color. [Comédia;
Crime. Inglaterra]. Sinopse: Uma série de filmes de comédia iniciada em 1997, escrita e estrelada
por Mike Myers no papel-título, dirigida por Jay Roach e distribuída pela New Line Cinema.
Ela satiriza basicamente as franquias cinematográficas de James Bond, Derek Flint, Alexandre
Corso, Harry Palmer e Matt Helm e incorpora miríades de outros elementos da cultura pop.

Ensaio Sobre a Cegueira. Direção: Fernando Meirelles. Produção: Nicolas Aznarez;


Andrea Barata Ribeiro; Niv Fichman; Sonoko Sakai. Brasil. 2008, 121 min. son., color. [Drama;
Mistério. Brasil]. Sinopse: A história retrata uma epidemia chamada de cegueira branca, uma
doença que surge inesperadamente e afeta toda a população, que faz com que as pessoas
passem a enxergar tudo esbranquiçado. Diante da dificuldade de enxergar as pessoas começam
a brigar pelas coisas mais simples como água e comida. Toda a filmagem é tratada com cores
brancas ou esbranquiças, dando-nos a possibilidade de enxergar de uma forma mais próxima
a dos personagens. Ao mesmo tempo, retira a cor das coisas, assim como o homem é capaz de
tornar-se imensamente infeliz (sem cor) ao lhe retirarem algo como a visão.
http://www.youtube.com/watch?v=exBsufuN2HA
http://www.imdb.com/media/rm2300679680/tt0861689?ref_=tt_ov_i

Moça com brinco de pérola. Direção: Peter Weber. Produção: Andy Paterson; Anand
Tucker. Londres: Archer Street production; Pathé Pictures International; UK Film Council; Roeser:
Delux Productions; Luxemburgo: Film Fund Luxemburg; Nova York: Wild Bear Fims, 2003.
95 min, son., color. [Drama; Reino Unido; Luxemburgo]. Sinopse: Griet (Scarlett Johansson)
é uma jovem camponesa holandesa que vai trabalhar na casa do pintor Jan Veermer (Colin
Firth). A garota se torna sua musa inspiradora e personagem principal da pintura Moça com
brinco de pérola.
Assista o trailer: https://www.youtube.com/watch?v=kh2Ag2RurxU

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Referências

BERGSTROM, Bo. Fundamentos da comunicação visual. São Paulo: Editora Rosari, 2009.

DANGER, Eric P. A Cor na comunicação. Rio de Janeiro: Editora Forum, 1973.

GUIMARÃES, Luciano. A cor como informação. A construção biofísica, linguística e


cultural da simbologia das cores. São Paulo: Annablume Editora, 2004.

GUIMARÃES, Luciano. As cores na mídia. A organização da cor-informação no


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MEGGS, Phillip B. História do design gráfico. São Paulo: Cosac Naif, 2009.

21
Unidade: A cor e suas aplicações

Anotações

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