Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
11/06/2015 02h00
Para mim (e para a maioria dos psicólogos), o dilema é a única forma aceitável de
pensamento ético.
Para Kohlberg, recorrer a "normas" instituídas (ou seja, a qualquer lista do que se
pode e do que não se pode fazer) é prova de debilidade moral: só pensa moralmente
quem julga por convicção própria, sem se preocupar com as normas.
Será que isso significa que cada um teria seu pensamento ético particular? Kohlberg
esperava que não, pois imaginava que existissem grandes princípios nos quais os
indivíduos se inspirariam na hora de acionar seu foro íntimo. Quais princípios?
Nessa altura de minha breve apresentação, mostrei um vídeo em que uma jovem
mulher prega seu seio esquerdo numa tábua de madeira. E perguntei: que tal se
essa mulher se inspirasse no princípio universal que mencionei e nos tratasse como
ela gostaria que os outros a tratassem?
Segundo a nossa premissa, tratando os outros como ela quer ser tratada, estaria
respeitando nosso grande princípio ético universal"¦
Esse pequeno paradoxo serve para lembrar que os princípios universais são sempre
fundados no bem querer dos sujeitos que se acham "normais". Ou seja, o que é
vendido como universal é apenas a suposta "normalidade".
Nada grave, salvo que, em geral, o sujeito que se acha "normal" é uma "alma bela",
ou seja, uma alma preocupada apenas em parecer nobre, moral e pura aos olhos
dos outros e aos seus próprios.
Infelizmente para os praticantes desse extremo, o martírio nunca foi uma prova da
existência de Deus, ou seja, nossa morte, por mais heroica que seja, não demonstra
que nossos valores mereciam que a gente morresse por eles.
Nossa época idealiza a vida nua (a sobrevivência). Sem surpresa: é uma época em
que o prato de feijão em casa é mais importante do que qualquer ideal e qualquer
tipo de bem comum.
Endereço da página:
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/contardocalligaris/2015/06/1640280dilemaseticos.shtml
Copyright Folha de S. Paulo. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta
página em qualquer meio de comunicaçao, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folha de
S. Paulo.