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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO CEARÁ

CAMPUS SÃO PAULO


CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ELABORAÇÃO E GERENCIAMENTO DE
PROJETOS PARA A GESTÃO MUNICIPAL DE RECURSOS HÍDRICOS

CYNTHIA FRANCO ANDRADE

PROPOSTA PARA O SANEAMENTO RURAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO


DOCE, ALINHADO A AÇÕES DE RECUPERAÇÃO DE NASCENTES

SÃO PAULO
2018
CYNTHIA FRANCO ANDRADE

PROPOSTA PARA O SANEAMENTO RURAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO


DOCE, ALINHADO A AÇÕES DE RECUPERAÇÃO DE NASCENTES

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)


apresentado ao curso de
Especialização em Elaboração e
Gerenciamento de Projetos para a
Gestão Municipal de Recursos Hídricos
do Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Ceará – IFCE –
Campus São Paulo, como requisito
parcial para obtenção do Título de
Especialista em Elaboração e
Gerenciamento de Projetos para a
Gestão Municipal de Recursos Hídricos.

Orientador: Prof. Dr. Francisco Dirceu


Duarte Arraes

SÃO PAULO
2018
CYNTHIA FRANCO ANDRADE

SANEAMENTO RURAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DOCE, ALINHADO A


AÇÕES DE RECUPERAÇÃO DE NASCENTES

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)


apresentado ao curso de
Especialização em Elaboração e
Gerenciamento de Projetos para a
Gestão Municipal de Recursos Hídricos
do Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Ceará – IFCE –
Campus São Paulo, como requisito
parcial para obtenção do Título de
Especialista em Elaboração e
Gerenciamento de Projetos para a
Gestão Municipal de Recursos Hídricos.

Aprovada em: 28/06/2018.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Francisco Dirceu Duarte Arraes (Orientador)


Instituto Federal do Sertão Pernambucano (IFSERTÃO)

Prof. Dr. Sávio de Brito Fontenele


Faculdade Paraíso do Ceará

Profa. Dra. Maria Jorgiana Ferreira Dantas


Universidade de Fortaleza - UNIFOR
AGRADECIMENTOS

Aos meus familiares, em especial, ao meu marido Lucas, pelo constante


incentivo para que eu continue motivada no trabalho de recuperação de bacias
hidrográficas.
Aos Comitês de Bacia, Instituto BioAtlântica - IBIO e colegas, pelo trabalho
diário em prol das águas da bacia do rio Doce e consentirem minha participação nas
atividades da especialização.
À Agência Nacional de Águas - ANA, pelo investimento na capacitação de
atores da Política Nacional de Recursos Hídricos.
Ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará - IFCE e
professores e colegas de turma, por todo o aprendizado.

.
RESUMO

O presente trabalho consiste no projeto de intervenção para realização de


diagnósticos, projetos e intervenções em imóveis rurais em microbacias prioritárias
para segurança hídrica em Municípios da bacia hidrográfica do rio Doce, com foco
na expansão do saneamento rural, principalmente sistemas de esgotamento
sanitário, atrelado a ações de recuperação de nascentes e construção de
barraginhas. Em uma primeira etapa, na região do Alto Doce, serão realizados
diagnósticos e projetos em 5850 imóveis rurais de 45 Municípios. Nas etapas
seguintes os projetos serão executados e em seguida as ações serão expandidas
para as regiões do Médio e Baixo Doce. No projeto de intervenção foram descritas
as ações necessárias e apresentados os valores orçados e estimados para todo o
projeto. Por fim, foi apresentada a minuta de termo de referência para contratação
de empresas especializadas para elaboração dos diagnósticos e projetos em
imóveis rurais do Alto Doce.

Palavras-chave: Saneamento rural. Recuperação de nascentes. Bacia do Rio Doce.


ABSTRACT

The present work consists of the intervention project to execute diagnoses, projects
and interventions in rural properties in priority microbasins for water security in the
municipalities of the Doce river basin, focusing on the expansion of rural sanitation,
mainly sanitary sewage systems, together with actions of recovery of source and
construction basins of rain water. In a first step, in the region of Alto Doce, diagnoses
and projects will be realized in 5850 rural properties of 45 Municipalities. In the
following steps the projects will be executed and then the actions will be expanded to
the Médio and Baixo Doce regions. In the intervention project, the necessary actions
were described and the budgeted and estimated values were presented for the entire
project. Finally, a draft of the reference term for the hiring of specialized companies to
elaborate the diagnoses and projects in rural properties of the Alto Doce was
presented.

Keywords: Rural sanitation. Recovery of source. River Doce Basin.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Reuniões com os Comitês de Bacia........................................................... 18


Figura 2: Reuniões com os Municípios ..................................................................... 19
Figura 3: Metodologia para desenvolvimento do projeto de intervenção .................. 19
Figura 4: Linha do tempo das iniciativas em saneamento rural no Brasil .................. 22
Figura 5: Bacia hidrográfica do rio Doce ................................................................... 26
Figura 6: Unidades de Gestão de Recursos Hídricos (UGRH).................................. 30
Figura 7: Microbacias de atuação ............................................................................. 32
Figura 8: Atores envolvidos ....................................................................................... 45
LISTA DE TABELAS

Tabela 1: População total, urbana e rural na bacia do rio Doce ................................ 24


Tabela 2: Características dos Municípios .................................................................. 31
Tabela 3: Etapas e ações do projeto de intervenção ................................................. 34
Tabela 4: Eventos e reuniões a serem realizadas ..................................................... 39
Tabela 5: Produtos a serem entregues ...................................................................... 44
Tabela 6: Recursos disponíveis no PAP 2016-2020 .................................................. 46
Tabela 7: Recurso orçado para a Etapa 2 - Diagnósticos e projetos do Alto Doce .... 47
Tabela 8: Recursos disponíveis e necessários para o Alto Doce .............................. 48
Tabela 9: Recursos estimados para os Diagnósticos, Projetos e Execução ............. 48
Tabela 10: Recursos necessários para o projeto de intervenção por região ............. 49
Tabela 11: Recursos necessários para o projeto de intervenção por etapa .............. 49
Tabela 12: Cronograma de execução........................................................................ 51
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANA Agência Nacional de Águas


APP Áreas de Preservação Permanente
CBH Comitê de Bacia Hidrográfica
CBH-Doce Comitê da Bacia Hidrográfica do rio Doce
COPASA Companhia de Saneamento de Minas Gerais
EMATER Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural
IBIO Instituto BioAtlântica
IEF Instituto Estadual de Florestas
IFCE Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará
GT Grupo de Trabalho
ONG Organizações Não Governamental
PAP Plano de Aplicação Plurianual
PIRH-Doce Plano Integrado de Recursos Hídricos da Bacia do rio Doce
PLANSAB Plano Nacional de Saneamento Básico
PMSB Planos Municipais de Saneamento Básico
PNSR Programa Nacional de Saneamento Rural
SAAE Serviço Autônomo de Água e Esgoto
SNIS Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento
UGRH Unidades de Gestão dos Recursos Hídricos
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 14

2 OBJETIVOS ........................................................................................................... 16

3 METODOLOGIA ..................................................................................................... 17

4 REFERENCIAL TEÓRICO ..................................................................................... 21

5 DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO .................................................................... 26

6 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO ........................................................................... 34

6.1 Identificação do problema e justificativa ..................................................................... 35

6.2 Objetivo...................................................................................................................... 35

6.3 Resultados e Impactos esperados ............................................................................. 36

6.4 Ações de intervenção da Etapa 2 - Diagnósticos e Projetos do Alto Doce .................. 36


6.4.1 Ação 1: Planejamento do Trabalho ................................................................................. 37
6.4.2 Ação 2: Validação das microbacias de atuação em campo ............................................ 37
6.4.3 Ação 3: Formação de Grupo de Trabalho nos Municípios .............................................. 38
6.4.4 Ação 4: Priorização das microbacias de atuação, quando mais de uma no Município .. 38
6.4.5 Ação 5: Realização de atividades de mobilização social e educação ambiental ............ 39
6.4.6 Ação 6: Elaboração de diagnósticos ambientais dos imóveis rurais .............................. 41
6.4.7 Ação 7: Elaboração de projetos de adequação ambiental dos imóveis rurais ................ 42
6.4.8 Ação 8: Elaboração de Termos de Referência para execução de projetos, capacitação
técnica e monitoramento .............................................................................................................. 43

6.5 Produtos a serem entregues na Etapa 2 .................................................................... 43

6.6 Atores envolvidos ....................................................................................................... 44

6.7 Recursos necessários, orçamento e viabilidade ......................................................... 46

6.8 Riscos e Dificuldades ................................................................................................. 49

6.9 Cronograma ............................................................................................................... 51

6.10 Gestão, acompanhamento e avaliação .................................................................... 51

7 MINUTA DO TERMO DE REFERÊNCIA ................................................................ 53

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 59

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 60
14

1 INTRODUÇÃO

De acordo com o Plano Nacional de Saneamento Básico (PLANSAB)


(BRASIL, 2013), o Brasil acumula um significativo passivo no saneamento das áreas
onde estão as populações rurais e as comunidades tradicionais, como as indígenas
e quilombolas e as reservas extrativistas. Nesse sentido, no PLANSAB foram
estabelecidos três Programas, sendo um específico para o tema, intitulado
“Programa Saneamento Rural”, que visa atender essa população, considerando as
especificidades desses territórios, que requerem abordagem própria e distinta da
convencionalmente adotada nas áreas urbanas, tanto na dimensão tecnológica,
quanto na da gestão e da relação com as comunidades.
O fato do saneamento rural ter sido negligenciado durante anos no Brasil,
torna de suma importância o estabelecimento de ações para melhorar essa
realidade. Por outro lado, esse passivo histórico ocasiona a falta de dados
disponíveis sobre essas áreas, bem como metodologias adequadas para alcance
dessas populações, o que dificulta o planejamento de ações.
Cientes dessa realidade, os Comitês de Bacia Hidrográfica (CBH) da bacia
hidrográfica do rio Doce, por meio da entidade delegatária e equiparada às funções
de Agência de Águas, o Instituto BioAtlântica (IBIO), investiram os recursos da
cobrança pelo uso da água, ao longo de 2012-2017, na elaboração de 165 Planos
Municipais de Saneamento Básico (PMSB), ao longo dos 228 Municípios da bacia.
Após esse período de apoio ao planejamento dos serviços de saneamento nos
Municípios, deu-se início em 2017 a discussão e contratação de intervenções
hidroambientais e de saneamento rural em microbacias prioritárias para a segurança
hídrica dos municípios.
A bacia do rio Doce possui área de drenagem de cerca de 86.715 km²,
abrange 228 Municípios e, no estado de Minas Gerais, compõe-se de seis Unidades
de Gestão dos Recursos Hídricos (UGRHs) com Comitês de Bacia já estruturados e,
no estado do Espírito Santo, conta com três UGRHs com Comitês de Bacia também
existentes. Esses comitês se inter-relacionam através do Comitê da Bacia do rio
Doce (CBH Doce).
O projeto de intervenção consiste em realizar diagnósticos, projetos e
intervenções em imóveis rurais em microbacias prioritárias para segurança hídrica
dos Municípios da bacia hidrográfica do rio Doce, com foco principal em sistemas de
15

esgotamento sanitário, atrelado a ações de recuperação de nascentes e construção


de barraginhas.
O grande déficit de atendimento das populações rurais por serviços de
saneamento básico em todo o Brasil e não diferentemente na bacia do rio Doce,
justifica a realização do presente projeto de intervenção.
Vale destacar que o presente trabalho foi desenvolvido a partir de discussões
e trabalhos realizados pela autora no IBIO, conjuntamente com outros profissionais
da instituição.
16

2 OBJETIVOS

O objetivo do projeto de intervenção é aumentar a segurança hídrica aos


Municípios da bacia hidrográfica do rio Doce, por meio de intervenções em imóveis
rurais, com foco em sistemas de esgotamento sanitário, atrelado à recuperação de
nascentes e construção de barraginhas. Em termos específicos, tem-se:
 Apresentar os elementos necessários para a contratação dos
diagnósticos e projetos em imóveis rurais no Alto Doce, incluindo a
minuta do Termo de Referência;
 Apresentar estimativas para a contratação das intervenções em
imóveis rurais no Alto Doce;
 Apresentar estimativas para a contratação dos diagnósticos, projetos e
intervenções em imóveis rurais no restante da bacia do rio Doce (Médio
e Baixo Doce).
17

3 METODOLOGIA

A primeira atividade para desenvolvimento do presente trabalho foi a revisão


da literatura, para a busca de informações sobre a situação do saneamento rural no
Brasil e, mais especificamente, na bacia do rio Doce. Em seguida, foi desenvolvido o
escopo do projeto de intervenção a ser implantado.
O projeto envolve diversas etapas, quais são:
 Etapa 1: Desenvolvimento do projeto de intervenção

 Etapa 2: Diagnósticos e Projetos do Alto Doce

 Etapa 3: Execução dos projetos do Alto Doce

 Etapa 4: Diagnósticos, Projetos e Execução do Médio e Baixo Doce


A Etapa 1 consiste no desenvolvimento do presente documento. As Etapas 3
e 4 não serão detalhadas, pois dependem intrinsecamente dos resultados da Etapa
2, porém serão apresentadas estimativas para elas. Dessa forma, todo o enfoque
metodológico e detalhamentos apresentados adiante no trabalho, foram para o
alcance da Etapa 2 - Diagnósticos e Projetos do Alto Doce.
Para se chegar no detalhamento de cada uma das ações de intervenção
necessárias na Etapa 2, foram necessárias diversas discussões e participação em
reuniões junto aos CBH Piranga, Piracicaba e Santo Antônio, localizados no Alto
Doce, que fazem parte dos trabalhos desenvolvidos pela Agência de Bacia, IBIO. A
Figura 1 ilustra algumas das reuniões realizadas.
18

Figura 1: Reuniões com os Comitês de Bacia

Fonte: IBIO, 2018

Posteriormente, definido o escopo das ações de intervenção, foram


necessárias discussões junto aos Municípios a serem contemplados com o projeto,
para realização do chamamento para manifestação de interesse, validar as
microbacias prioritárias a serem trabalhadas e conhecer as realidades locais,
visando dar viabilidade econômica e ambiental ao projeto de intervenção. Ao todo
foram realizadas três reuniões, uma em cada bacia do Alto Doce. A Figura 2 ilustra
as reuniões realizadas com os Municípios.
19

Figura 2: Reuniões com os Municípios

Fonte: IBIO, 2018

Vale ainda comentar que para a elaboração do projeto de intervenção foram


realizados diversos levantamentos de dados, como características da bacia e dos
Municípios, orçamentos, tecnologias, entre outros.
A Figura 3 apresenta um resumo da metodologia adotada para o
desenvolvimento do presente trabalho.

Figura 3: Metodologia para desenvolvimento do projeto de intervenção

Fonte: Autor, 2018


20

Ressalta-se que as microbacias em que deverá ser realizado o projeto de


intervenção são aquelas formadas pela área de drenagem a montante dos pontos de
captação de agua dos Municípios, visando que as intervenções nos imóveis rurais
possibilitem maior segurança hídrica para o abastecimento de água humano.
21

4 REFERENCIAL TEÓRICO

De acordo com o Censo Demográfico (IBGE, 2010), no Brasil cerca de 29,9


milhões de pessoas residem em localidades rurais, totalizando aproximadamente 8,1
milhões de domicílios.
No Brasil, concentra-se em áreas rurais e periferias de centros urbanos, o alto
déficit em serviços de saneamento, onde reside a população mais pobre (GALVÃO
JUNIOR, 2009). Conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
(PNAD) (IBGE, 2014), apenas 34,5% dos domicílios nas áreas rurais estão ligados a
redes de abastecimento de água com ou sem canalização interna. Nos 65,5%
restante dos domicílios rurais, a população capta água de chafarizes e poços
protegidos ou não, diretamente de cursos de água sem nenhum tratamento ou de
outras fontes alternativas geralmente inadequadas para consumo humano. A
situação é mais crítica quando são analisados dados de esgotamento sanitário, pois
apenas 5,45% dos domicílios estão ligados à rede de coleta de esgotos, 4,47%
utilizam a fossa séptica ligada a rede coletora e 28,78% fossa séptica não ligada a
rede coletora como solução para o tratamento dos dejetos. Os demais domicílios
(61,27%) depositam os dejetos em fossas rudimentares, lançam em corpos d’água
ou diretamente no solo a céu aberto.
Já em relação à situação do serviço de coleta dos resíduos sólidos
domiciliares na área rural, apenas 23,4% dos domicílios têm acesso a coleta direta
de resíduos. E quanto a sistemas de drenagem, não existem indicadores específicos
para áreas rurais, sendo esta dimensão do saneamento básico tratada com foco
apenas para as áreas urbanas (BRASIL, 2013).
Historicamente, no Brasil, ocorreram algumas iniciativas específicas para o
saneamento rural, como pode ser observado na linha do tempo apresentada por
Porto (2016) na Figura 4. Ainda assim, pouco investimento e políticas públicas foram
voltados para o saneamento rural ao longo dos anos.
22

Figura 4: Linha do tempo das iniciativas em saneamento rural no


Brasil

Fonte: Porto, 2016

Esse grande e histórico passivo é devido a vários fatores, como as poucas


iniciativas governamentais em áreas rurais, falhas relativas ao monitoramento da
qualidade dos serviços, baixa capacidade técnica e de captação de recursos, falhas
legislativas, além do desconhecimento por parte dos formuladores de políticas
públicas acerca da população rural (RIBEIRO e GALIZONI, 2003).
De frente dessa realidade, no Plano Nacional de Saneamento Básico
(PLANSAB) foram estabelecidos três Programas, sendo um específico para o tema,
intitulado “Programa Saneamento Rural”, que visa atender essa população,
considerando as especificidades desses territórios, que requerem abordagem
própria e distinta da convencionalmente adotada nas áreas urbanas, tanto na
dimensão tecnológica, quanto na da gestão e da relação com as comunidades
(BRASIL, 2013). O fato do saneamento rural ter sido negligenciado durante anos no
Brasil, torna de suma importância o estabelecimento de ações para melhorar essa
realidade.
23

O Programa Nacional de Saneamento Rural (PNSR) destinará verbas, e


principalmente recomendará ações, para a promoção do avanço na cobertura de
saneamento no meio rural. Atualmente o PNSR encontra-se em desenvolvimento,
sendo realizadas visitas a comunidades para conhecimento da realidade local;
proposição de matrizes tecnológicas com diversas possibilidades e realizadas
oficinas regionais com ampla participação (PNSR, 2018).
Conforme a FUNASA (2018), o meio rural é heterogêneo, constituído de
diversos tipos de comunidades, com especificidades próprias em cada região
brasileira, exigindo formas particulares de intervenção em saneamento básico, tanto
no que diz respeito às questões ambientais, tecnológicas e educativas, como de
gestão e sustentabilidade das ações.
Tendo isso em vista, algumas recomendações gerais já têm sido extraídas
dos resultados dos estudos desenvolvidos no PNSR, como as listadas a seguir, no
que se refere à componente de esgotamento sanitário, área de maior foco do
presente trabalho (PNSR, 2018).
 Priorizar a indicação de sistemas de esgotamento sanitário que tendam
a apresentar maior aceitabilidade pela população local;
 Promover a participação da população na etapa de concepção da
instalação sanitária;
 Promover a participação da população na etapa de implantação da
infraestrutura de esgotamento sanitário;
 Promover a participação da população na etapa de operação e
manutenção da instalação sanitária;
 Garantir que a solução tecnológica escolhida pela comunidade seja
financeiramente acessível;
 Garantir que a população tenha banheiros, em número suficiente, com
vistas a garantir o seu maior conforto;
 Garantir a qualidade da construção e a segurança das instalações
sanitárias e seu mecanismo de manejo dos efluentes e dejetos;
 Garantir a acessibilidade física das instalações sanitárias;
 Promover a adoção de práticas de higiene pessoal;
 Garantir a correta coleta, uso ou disposição de águas cinzas;
 Garantir a correta coleta e disposição de dejetos e águas residuárias de
24

origem animal;
 Desestimular a defecação a céu aberto nas proximidades do domicílio,
chamando a atenção para os riscos à saúde decorrentes dessa prática.

A realidade da bacia do rio Doce não se difere da situação do saneamento


rural no Brasil. Na bacia a população urbana representa mais de 70% da população
total, entretanto, mais de 100 Municípios (do total de 228 Municípios da bacia)
possuem população rural maior que a urbana, evidenciando que a população rural
ainda é significativa, absorvidos pela exploração agropecuária (CBH-Doce, 2010). A
Tabela 1 mostra a população total, urbana e rural em cada uma das Unidades de
Gestão de Recursos Hídricos (UGRH) da bacia do rio Doce.

Tabela 1: População total, urbana e rural na bacia do rio Doce


UGRH População Total (hab) População Urbana (hab) População Rural (hab)
1-Piranga 699.310 450.650 248.660
2-Piracicaba 733.360 692.860 40.500
3-Santo Antônio 182.670 115.980 66.690
4-Suaçuí 591.810 436.820 154.990
5-Caratinga 282.830 210.580 72.250
6-Manhuaçu 306.450 193.210 113.240
7-Guandu 73.879 36.448 37.431
8-Santa Maria 116.120 79.585 36.535
9-São José 335.659 223.506 112.153
Bacia do rio Doce 3.322.088 2.439.639 882.449
Fonte: IBGE - Contagem População 2007. Adaptado de CBH-Doce (2010).

Conforme mencionado no PIRH-Doce (CBH-Doce, 2010), os serviços de


saneamento rural não dispõem de estatísticas e de planos de ação para as
localidades da bacia do rio Doce. Porém, assim como em outras regiões do País,
possuem grande diversidade social, econômica, de raças, cultura, religião e
produção; possuem conflitos diversos relacionados à concentração de terra e
movimentos sociais; apresentam populações adensadas, dispersas, isoladas e
próximas a centros urbanos; além apresentarem carência de políticas públicas e de
recursos financeiros (VILLAR, 2018).
Diante desse cenário de déficit de informações e dos serviços de saneamento
rural, iniciativas que invistam em ações desse caráter são essenciais. Cientes disso,
25

a atuação dos Comitês de Bacia em todo o Brasil, de maneira geral, têm sido em
programas hidroambientais e de saneamento. Os programas hidroambientais são
aqueles voltados para a recuperação e conservação de nascentes, cursos d’água e
áreas de preservação. São projetos que buscam a manutenção da quantidade e da
qualidade das águas de uma bacia hidrográfica, preservando suas condições
naturais de oferta de água. Os programas de saneamento estão relacionados ao
apoio aos Municípios, responsáveis pelos serviços de saneamento, na ampliação do
atendimento da população.
Na bacia do rio Doce os Comitês de Bacia tem discutido e atuado nas áreas
rurais de forma a avançar com essas duas grandes áreas de forma conjunta,
atrelando ações de recuperação de nascentes com ações de expansão do
saneamento rural.
26

5 DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

De acordo com o IBIO (2017) a bacia hidrográfica do rio Doce encontra-se


situada na região Sudeste do País, entre os paralelos 17°45' e 21°15' S e os
meridianos 39°30' e 43°45' W, compondo a região hidrográfica do Atlântico Sudeste.
Possui uma área de drenagem de cerca de 86.715 km², dentre os quais 86%
pertencente ao Estado de Minas Gerais e o restante ao Estado do Espírito Santo,
englobando um total de 228 municípios, dos quais 211 possuem sede dentro da
bacia.
O rio Doce possui suas nascentes nas serras da Mantiqueira e do Espinhaço,
em Minas Gerais, e suas águas percorrem aproximadamente 850 km até atingir o
Oceano Atlântico, no povoado de Regência, distrito do município de Linhares, no
Espírito Santo. Como citado anteriormente e mostrado na Figura 5. A bacia limita-se
ao sul com a bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul, a sudoeste com a bacia do rio
Grande, a oeste com a bacia do rio São Francisco, ao norte e noroeste com a bacia
do rio Jequitinhonha e a nordeste com as bacias do litoral norte do Espírito Santo
(IBIO, 2017).

Figura 5: Bacia hidrográfica do rio Doce

Fonte: IBIO, 2018


27

De acordo com o Plano Integrado de Recursos Hídricos da Bacia do rio Doce


(PIRH-Doce) (CBH-DOCE, 2010), a atividade econômica da bacia do rio Doce é
bastante diversificada, destacando-se: a agropecuária (reflorestamento, lavouras
tradicionais, cultura de café, cana-de-açúcar, criação de gado leiteiro e de corte e
suinocultura.); a agroindústria (sucroalcooleira); a mineração (ferro, ouro, bauxita,
manganês, pedras preciosas e outros); a indústria (celulose, siderurgia e laticínios);
o comércio e serviços de apoio aos complexos industriais; e a geração de energia
elétrica.
A maioria da bacia encontra-se na classe de susceptibilidade erosiva forte,
cerca de 58% da área, ocupando principalmente a Depressão do rio Doce, enquanto
7% da área da bacia se inserem na categoria de susceptibilidade muito forte. As
bacias nessas áreas integram o alto curso do Piracicaba, mais precisamente nas
cabeceiras do rio Santa Bárbara, e na sub-bacia do Suaçuí Grande, que estão
associadas aos seguintes aspectos: estiagens prolongadas, chuvas torrenciais,
solos susceptíveis e extensos depósitos superficiais friáveis que ocorrem em
terraços fluviais e nas baixas vertentes. A unidade do rio Suaçuí constitui uma das
áreas mais problemáticas da bacia, com presença de sulcos, erosão laminar,
voçorocas, ravinas ativas e rochas expostas possibilitando a ocorrência de
deslizamentos, deslocamentos e queda de blocos. Na unidade do rio Guandu
predomina a classe forte (56%) e muito forte (10%), com ocorrência de solos frágeis
e chuvas intensas. Na área de drenagem da unidade do rio São José a classe de
susceptibilidade à erosão é muito fraca, predominando os eventos relacionados à
inundação e sedimentação (CBH-DOCE, 2010).
Ainda conforme o PIRH-Doce (CBH-DOCE, 2010), predominam na bacia as
concessões de lavra para materiais de construção, rochas ornamentais, minério de
ferro e gemas. A porção mineira da bacia do rio Doce apresenta importantes
depósitos de minério de ferro, compostos principalmente por hematita, que são
utilizados diretamente em altos-fornos na forma de minério granulado. Na área
encontram-se instaladas grandes empresas como a Samarco Mineração que possui
unidade em Ouro Preto e Mariana, a empresa Anglo Gold Ashanti em Conceição do
Mato Dentro e a Vale que mantém unidades de mineração em várias cidades da
bacia, destacando-se os complexos localizados em Itabira, Ouro Preto e Mariana, e
o grande complexo minerador denominado Brucutu, situado em São Gonçalo do Rio
Abaixo. Registram-se ainda jazidas de ouro em vários municípios, como Ouro Preto,
28

Mariana, Caeté, Santa Bárbara, Serro e Conceição do Mato Dentro. Em relação às


rochas ornamentais, o estado do Espírito Santo é o maior produtor do país em
termos de quantidade, com destaque para o granito. Dois minerodutos da Samarco
operam em paralelo na bacia, com origem na mina do Germano, no município de
Mariana, tendo como destino o porto de Ponta Ubu, no Espírito Santo, fora da bacia
do rio Doce.
Para o sistema hidrológico subterrâneo da bacia é possível definir,
basicamente, duas unidades: os aquíferos Granulares ou Porosos, representados
por uma sequência de rochas sedimentares, e os aquíferos fissurados, nos quais a
acumulação e circulação das águas subterrâneas são feitas através da porosidade
secundária desenvolvida por falhas, fraturas e diáclases e que ocupam 91% da área
da bacia. Os poços manuais ou cisternas estão distribuídos por toda a bacia, com
maior concentração em Ipatinga, Coronel Fabriciano e Timóteo, captando águas de
aluviões do rio Piracicaba (CBH-Doce, 2010).
A bacia abriga 80 Unidades de Conservação, sendo 69 localizadas em Minas
Gerais e 11 no Espírito Santo. Abriga também duas grandes áreas reconhecidas
pela UNESCO como Reservas da Biosfera, caracterizadas como áreas de
importância mundial na conservação da biodiversidade, onde é possível desenvolver
a gestão integrada da terra, das águas e da biodiversidade, a partir de um mosaico
de unidades de UCs. São elas: a Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, no Espírito
Santo, e a Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço, com parte de sua área na
bacia, abrigando dois importantes biomas gravemente ameaçados, a mata atlântica
e o cerrado. O maior remanescente de mata atlântica da bacia é o Parque Estadual
do Rio Doce, criado em 1944, sendo o primeiro parque estadual do estado de Minas
Gerais. Com uma área de 360 km², tem como principal objetivo a proteção da mata
atlântica e do sistema de lagos do médio rio Doce, sendo aberto ao turismo (CBH-
Doce, 2010).
A bacia é considerada de grande importância em termos de riqueza de
espécies de peixes, concentradas principalmente nos sistemas lacustres do médio
rio Doce e da sua foz, no município de Linhares/ES, importante sítio de desova de
espécies de tartarugas marinhas ameaçadas de extinção. As restingas de Linhares
compõem o corredor Central da Mata Atlântica, sendo reconhecidas como áreas
especiais de endemismos de vertebrados, consideradas insubstituíveis para a
conservação da fauna de vertebrados na bacia do rio Doce. A planície costeira
29

formada no delta do rio Doce foi classificada pelo Ministério do Meio Ambiente como
região de alta prioridade para a conservação da biodiversidade costeira e marinha
no Brasil (CBH-Doce, 2010).
Existem vários reservatórios na bacia do rio Doce (Candonga, Guilman
Amorim, Sá Carvalho, Salto Grande, Porto Estrela, Aimorés, Mascarenhas), porém
não apresentam potencial de regularização de vazões (tempos de residência bem
inferiores a um mês), não influenciando na disponibilidade hídrica baseada em
séries históricas (CBH-Doce, 2010).
No Estado de Minas Gerais a bacia do rio Doce compõe-se de seis Unidades
de Gestão dos Recursos Hídricos (UGRHs) com Comitês de Bacia já estruturados e
no Estado do Espírito Santo, a bacia conta com três UGRHs com Comitês de Bacia
também existentes. Esses comitês se inter-relacionam através do Comitê da Bacia
do rio Doce (CBH Doce).
As nove unidades estaduais de gestão de recursos hídricos (UGRHs) da
bacia contemplam as UGHR 1 Piranga; UGHR 2 Piracicaba; UGHR 3 Santo Antônio;
UGHR 4 Suaçuí; UGHR 5 Caratinga e UGHR 6 Manhuaçu, em Minas Gerais, e três
no Espírito Santo, correspondente às UGHR 7 Guandu; UGHR 8 Santa Maria do
Doce e UGHR 9 São José (Figura 6).
Vale comentar ainda a definição de Alto, Médio e Baixo Doce, que vem sendo
atualmente adotada pelos CBHs e IBIO em seus planejamentos e estudos da bacia
do rio Doce, sendo:
 Alto Doce: UGRH1 Piranga, UGRH2 Piracicaba e UGRH3 Santo
Antônio
 Médio Doce: UGRH4 Suaçuí, UGRH5 Caratinga e UGRH6 Manhuaçu
 Baixo Doce: UGRH7 Guandu, UGRH8 Santa Maria do Doce e UGRH9
São José
30

Figura 6: Unidades de Gestão de Recursos Hídricos (UGRH)

Fonte: IBIO, 2018

Considerando essa grande extensão territorial da bacia, foi detalhado no


presente estudo as atividades de intervenção a serem desenvolvidas na região do
Alto Doce, que consiste na Etapa 2 - Diagnósticos e Projetos do Alto Doce,
mencionada na metodologia. Já para as demais áreas (Médio e Baixo Doce) foram
apresentadas apenas estimativas de intervenções.
Nas três UGRHs do Alto Doce, definiu-se junto aos CBHs a atuação em 45
Municípios ao todo, considerados prioritários para atuação, devido ao fato de
estarem localizados em áreas de maior vulnerabilidade ambiental da UGRH e/ou
disponibilidade de recursos da cobrança pelo uso da água. A Tabela 2 apresenta
alguns dados gerais sobre cada um dos Municípios.
31

Tabela 2: Características dos Municípios


Índice de Índice de
Índice de
cobertura tratamento
Pop cobertura de
Área IDH- de coleta dos
total abasteci-
Município UGRH total M de esgotos esgotos
[Censo mento de
(Km2) 2010 urbana (%) coletados
2010] água urbano
(SNIS (%) (SNIS
(SNIS 2015)*
2015)* 2015)*
Alvinópolis 2-Piracicaba 599,4 15.261 0.676 72,6 100,0 0,0
Alvorada de Minas 3-Santo Antônio 374 3.546 0.572 68,0 96,8 0,0
Amparo do Serra 1-Piranga 145,9 5.053 0.641 96,7 100,0 0,0
Antônio Dias 2-Piracicaba 787,1 9.565 0.645 74,5 94,9 0,0
Barão de Cocais 2-Piracicaba 340,6 28.442 0.722 81,6 93,7 0,0
Barra Longa 1-Piranga 383,6 6.143 0.624 100,0 91,6 0,0
Bela Vista de Minas 2-Piracicaba 109,1 10.004 0.674 85,8 96,4 0,0
Bom Jesus do Amparo 2-Piracicaba 195,6 5.491 0.683 97,9 99,1 97,8
Cajuri 1-Piranga 83 4.047 0.617 100,0 87,0 0,0
Carmésia 3-Santo Antônio 259,1 2.446 0.650 99,4 94,7 100,0
Catas Altas 2-Piracicaba 240 4.846 0.684 94,4 89,1 64,0
Conceição do Mato Dentro 3-Santo Antônio 1726,8 17.908 0.634 84,6 69,0 74,5
Coronel Fabriciano 2-Piracicaba 221,3 103.694 0.755 82,4 74,8 0,0
Desterro do Melo 1-Piranga 142,3 3.015 0.631 100,0 84,7 100,0
Dom Joaquim 3-Santo Antônio 398,8 4.535 0.622 83,3 100,0 0,0
Dores de Guanhães 3-Santo Antônio 382,1 5.223 0.636 93,8 63,9 0,0
Ferros 3-Santo Antônio 1088,8 10.837 0.603 61,2 74,7 0,0
Guaraciaba 1-Piranga 348,6 10.223 0.623 98,3 84,2 0,0
Ipatinga 2-Piracicaba 164,9 239.468 0.771 85,8 91,9 100,0
Itabira 2-Piracicaba 1253,7 109.783 0.756 97,6 93,7 37,8
Itambé do Mato Dentro 3-Santo Antônio 380,3 2.283 0.634 100,0 100,0 75,0
Jaguaraçu 2-Piracicaba 163,8 2.990 0.679 100,0 100,0 0,0
João Monlevade 2-Piracicaba 99,2 73.610 0.758 99,5 99,5 0,0
Mariana 1-Piranga 1194,2 54.219 0.742 100,0 80,0 0,0
Marliéria 2-Piracicaba 545,8 4.012 0.657 44,1 44,1 0,0
Morro do Pilar 3-Santo Antônio 477,5 3.399 0.597 81,9 79,0 0,0
Nova Era 2-Piracicaba 361,9 17.528 0.709 100,0 90,0 0,0
Oratórios 1-Piranga 89,1 4.493 0.637 97,7 96,6 0,0
Passabém 3-Santo Antônio 94,2 1.766 0.642 95,8 36,6 0,0
Paula Cândido 1-Piranga 268,3 9.271 0.637 100,0 96,3 79,7
Piranga 1-Piranga 658,8 17.232 0.600 87,7 87,2 0,0
Ponte Nova 1-Piranga 470,6 57.390 0.717 100,0 100,0 0,0
Presidente Bernardes 1-Piranga 236,8 5.537 0.632 100,0 86,1 0,0
Ressaquinha 1-Piranga 185 4.711 0.683 100,0 71,6 0,0
Rio Piracicaba 2-Piracicaba 373 14.149 0.685 91,5 100,0 20,1
Santa Bárbara 2-Piracicaba 684,1 27.876 0.707 81,9 97,8 0,0
Santana do Paraíso 2-Piracicaba 276,1 27.265 0.685 100,0 100,0 0,0
Santo Antônio do Rio Abaixo 3-Santo Antônio 107,3 1.777 0.669 94,3 11,0 0,0
São Domingos do Prata 2-Piracicaba 743,8 17.357 0.690 85,0 100,0 0,0
32

Índice de Índice de
Índice de
cobertura tratamento
Pop cobertura de
Área IDH- de coleta dos
total abasteci-
Município UGRH total M de esgotos esgotos
[Censo mento de
(Km2) 2010 urbana (%) coletados
2010] água urbano
(SNIS (%) (SNIS
(SNIS 2015)*
2015)* 2015)*
São Gonçalo do Rio Abaixo 2-Piracicaba 363,8 9.777 0.667 95,4 95,4 0,0
São Sebastião do Rio Preto 3-Santo Antônio 128 1.613 0.632 99,4 75,0 0,0
Senhora do Porto 3-Santo Antônio 381,3 3.497 0.565 100,0 80,9 0,0
Serro 3-Santo Antônio 1217,8 20.835 0.656 78,5 56,7 100,0
Timóteo 2-Piracicaba 144,4 81.243 0.770 87,6 82,1 0,0
Viçosa 1-Piranga 299,4 72.220 0.775 98,0 88,0 1,0
* Quando não havia informações disponíveis no SNIS 2015, utilizou-se dados dos PMSB dos Municípios ou
IBGE 2010
Fonte: Autor, 2018

Com a definição dos Municípios, foram realizados levantamentos de dados e


realizadas reuniões para definir as microbacias de captação de água a serem
trabalhadas em cada um dos 45 Municípios do Alto Doce. A Figura 7 mostra a
localização dos Municípios e microbacias abrangidos no projeto de intervenção.

Figura 7: Microbacias de atuação

Fonte: Adaptado de IBIO, 2018

Além disso, definiu-se juntamente com os Municípios uma cota de 130


33

imóveis a serem contemplados em cada Município, totalizando 5850 imóveis rurais a


serem atendidos pelo projeto. Se contemplada toda a microbacia do Município e
ainda houver cota remanescente, essa poderá ser realocada para outro Município
que possua maior necessidade.
34

6 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

Para o desenvolvimento da presente proposta de intervenção são necessárias


diversas ações, que a Tabela 3 mostra de forma resumida. Destaca-se novamente
que as Etapas 3 e 4 não serão detalhadas nesse momento, pois dependem
intrinsecamente das Etapas anteriores. No item de orçamento serão trazidas
estimativas que contemplem também essas etapas, de forma a se vislumbrar os
próximos passos para o projeto de intervenção. A Etapa 1 consiste no
desenvolvimento dessa proposta em si, o que foi detalhado nos itens anteriores do
presente documento.

Tabela 3: Etapas e ações do projeto de intervenção


Detalhamento
Etapa Ações envolvidas no presente
trabalho
Desenvolvimento Envolve todo o conteúdo apresentado até o
Detalhadas as
1 do projeto de momento, as discussões com os CBHs e
ações
intervenção Municípios.
Ação 1: Planejamento do Trabalho
Ação 2: Validação das microbacias de atuação em
campo
Ação 3: Formação de Grupo de Trabalho nos
Municípios
Ação 4: Priorização das microbacias de atuação,
quando mais de uma no Município
Diagnósticos e
Ação 5: Realização de atividades de mobilização Detalhadas as
2 Projetos do Alto
social e educação ambiental ações
Doce
Ação 6: Elaboração de diagnósticos ambientais
dos imóveis rurais
Ação 7: Elaboração de projetos de adequação
ambiental dos imóveis rurais
Ação 8: Elaboração de Termos de Referência para
execução de projetos, capacitação técnica e
monitoramento
Apresentadas
Execução dos Com a conclusão dos diagnósticos e projetos será estimativas,
3 projetos do Alto licitada a execução das intervenções ambientais pois depende
Doce em cada imóvel rural. das etapas
anteriores
Diagnósticos, Com a conclusão das atividades do Alto Doce será Apresentadas
Projetos e possível replicar o projeto de intervenção para o estimativas,
4 Execução do restante da bacia do rio Doce e fazer os ajustes pois depende
Médio e Baixo necessários com os erros e acertos ao longo do das etapas
Doce processo. anteriores
Fonte: Autor, 2018
35

Dessa forma, nos itens a seguir são detalhadas cada uma das ações de
intervenção necessárias para o alcance da Etapa 2 - Diagnósticos e Projetos do Alto
Doce.

6.1 Identificação do problema e justificativa

A área de estudo para o alcance da Etapa 2 do presente trabalho abrange 45


Municípios e a maioria deles não possuem nenhum tipo de tratamento de esgoto nas
áreas urbanas, conforme dados do SNIS (2015) já apresentados. Com uma
realidade precária do tratamento de esgoto urbano, as áreas rurais certamente
apresentam um déficit ainda maior. Porém não há informações quali-quantitativas
dessas regiões, sendo de suma importância um diagnóstico da situação real, para
dimensionar adequadamente as intervenções e os investimentos necessários.
Além disso, na bacia do rio Doce, após os últimos anos com histórico de
longos períodos de estiagem e ainda o trágico rompimento da barragem de rejeitos
da Samarco Minerações S/A em Mariana-MG, ocorrido em 05/11/2015, foi
intensificada a preocupação e as discussões sobre a segurança hídrica dos
Municípios.
A partir da realização de práticas de conservação do uso do solo, manejo
adequado de pastagens, restauração florestal e saneamento rural prevê-se a
melhoria na qualidade das águas e aumento da quantidade de água nas microbacias
de captação de água dos Municípios.
A realidade do saneamento rural e conservação do solo no Médio e Baixo
Doce são semelhantes às encontradas na região do Alto Doce ou ainda piores.
Acredita-se que com a realização do projeto nessa primeira área, será possível
avançar para toda a bacia do rio Doce.

6.2 Objetivo

O objetivo da presente proposta de intervenção é a elaboração de


diagnósticos e projetos em imóveis rurais nas UGRH1 – Piranga, UGRH 2 –
Piracicaba e UGRH3 – Santo Antônio, localizadas na região do Alto da bacia
hidrográfica do rio Doce, com foco na implantação de sistemas de tratamento de
esgoto, recuperação de nascentes e implantação de barraginhas. Posteriormente,
36

visa-se executar tais projetos e replicar as ações nas regiões do Médio e Baixo Doce.

6.3 Resultados e Impactos esperados

A realização dos diagnósticos, projetos e intervenções nos imóveis rurais da


bacia do rio Doce possibilitará o alcance de diversos resultados, que irão causar
impactos positivos, como:
 Ampliação do número de pessoas atendidas por sistemas de esgotamento
sanitário nas áreas rurais dos Municípios;
 Diminuição dos riscos de doenças causadas pelo contato direto com esgoto e,
consequentemente, melhoria na qualidade de vida da população;
 Aumento da qualidade e quantidade de água nas microbacias de atuação e,
por consequência, na bacia do rio Doce;
 Alcance de maior segurança hídrica no abastecimento de água dos
Municípios da bacia;
 Aumento da capacidade de infiltração de água no solo;
 Diminuição do carreamento de sedimentos;
 Aumento da conservação de Áreas de Preservação Permanente (APP);
 Mobilização social e engajamento dos representantes dos imóveis rurais em
prol de questões relacionadas ao saneamento, meio ambiente e recursos
hídricos;
 Sensibilização da população local sobre as questões ambientais e
continuidade das atividades.

6.4 Ações de intervenção da Etapa 2 - Diagnósticos e Projetos do Alto Doce

Conforme já relatado anteriormente, nesse item serão detalhadas as ações


necessárias para o alcance da Etapa 2 do projeto de intervenção, que consiste nos
Diagnósticos e Projetos do Alto Doce. Não é possível detalhar as demais etapas,
pois elas dependem das anteriores.
37

6.4.1 Ação 1: Planejamento do Trabalho

Assim que for finalizada a licitação das empresas que irão atuar na
elaboração dos diagnósticos e projetos em imóveis rurais deverá ser realizado
detalhado planejamento das atividades para a realização dos trabalhos em campo e
escritório.
Com base no Termo de Referência da licitação, deverá ser configurado todo o
planejamento técnico e físico dos trabalhos, contextualização das ações, indicação
das equipes, seu perfil, responsabilidades de cada profissional, a descrição das
atividades com sua organização, a metodologia de trabalho a ser empregada,
organograma para os trabalhos, fluxograma, prazos previstos, insumos necessários
e tudo o mais que norteie o desenvolvimento e acompanhamento das ações.
Ao final dessa ação deverá ser entregue o Produto 1 - Plano de Trabalho, que
deve envolver equipe multidisciplinar que realizará o trabalho.

6.4.2 Ação 2: Validação das microbacias de atuação em campo

A definição das microbacias de atuação junto aos Municípios, para


detalhamento do escopo do presente projeto de intervenção foram a partir de
levantamentos em escritório e em reuniões com atores locais.
Nesse sentido, é de suma importância que seja realizada uma etapa de
conferência das microbacias de atuação em campo, validando as coordenadas dos
pontos de captação de água e os limites das áreas de drenagem e a consistência
das informações já obtidas.
É primordial que as empresas a serem contratadas considerem como primeira
atividade de campo a realização da verificação das coordenadas dos pontos de
captação de água para abastecimento público pré-identificados nos Municípios. A
partir dessa validação é que todas as demais atividades poderão ser iniciadas, pois
a área da microbacia de cada ponto de captação é que definirá quais serão os
imóveis rurais participantes.
Os resultados dessa ação deverão ser apresentados no Produto 2 - Validação
das microbacias e formação do GT. As atividades deverão ser desenvolvidas por
profissionais com conhecimento e experiência em geoprocessamento e trabalhos
em campo.
38

6.4.3 Ação 3: Formação de Grupo de Trabalho nos Municípios

Deverá ser articulado e formado um Grupo de Trabalho (GT) em cada


Município. O mesmo deverá conter membros representantes de órgãos e instituições
como Instituto Estadual de Florestas (IEF), Companhia de Saneamento de Minas
Gerais (COPASA), Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de
Minas Gerais (EMATER), Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE),
Organizações Não Governamental (ONG), prefeitura municipal, além de líderes
locais das microbacias validadas, dentre outros.
O GT será responsável por dar apoio na mobilização, cabendo a ele apoiar
também na divulgação das atividades na microbacia validada e informar aos
responsáveis dos imóveis rurais sobre os critérios para concorrerem às cotas e
participar do projeto, além de validar as metodologias/tecnologias propostas para as
intervenções a serem projetadas.
Os resultados dessa ação também deverão ser apresentados no Produto 2 -
Validação das microbacias e formação do GT. As atividades deverão ser
desenvolvidas por profissionais com conhecimento e experiência em ações de
mobilização social.

6.4.4 Ação 4: Priorização das microbacias de atuação, quando mais de uma


no Município

Deverão ser verificados nos Municípios que possuem mais de uma


microbacia validada, uma ordem de prioridade das mesmas, a ser discutida e
definida durante reunião com o GT do Município.
As discussões devem ser embasadas em fundamentação técnica e também
pela percepção local.
A partir da definição da ordem de prioridade das microbacias validadas, os
imóveis rurais da cota de cada Município deverão ser alocados considerando
preencher todas as possibilidades na sua microbacia mais prioritária, somente
passando para as demais em último caso, com vistas a ocorrer maior concentração
das ações e, consequentemente, melhores resultados.
Os resultados dessa ação também deverão ser apresentados no Produto 2 -
Validação das microbacias e formação do GT. As atividades deverão ser
39

desenvolvidas por profissionais com conhecimento e experiência em


geoprocessamento e trabalhos em campo.

6.4.5 Ação 5: Realização de atividades de mobilização social e educação


ambiental

A empresa deverá planejar um calendário de eventos e definir metodologia de


mobilização social e educação ambiental a ser adotada ao longo do projeto de
intervenção. A Tabela 4 apresenta um ponto de partida para a definição desse
calendário, que deverá ser revisto sempre que houver necessidade.

Tabela 4: Eventos e reuniões a serem realizadas

Evento Objetivo

● Primeiro contato entre os atores;


Reunião de partida.
● Alinhar sobre as atividades e sobre a postura a ser adotada no decorrer
Assinatura do contrato
dos trabalhos;
e Ordem de Serviço
● Assinatura do contrato e Ordem de Serviço.

● Primeiro contato com as prefeitura;


Reunião com prefeitura
● Elucidar sobre funcionamento dos comitês, do IBIO, sobre os recursos da
para início dos
cobrança pelo uso da água e sobre o projeto;
trabalhos
● Solicitar à prefeitura a indicação de membros para composição o GT.

● Informar sobre as responsabilidades do GT;


● Discutir sobre a realidade local da(s) microbacia(s) do município;
1ª Reunião com GT
● Discutir sobre a ordem de priorização das microbacias validadas, quando
houver mais de uma no município.

● Propor cronograma inicial das ações de campo para realização do


diagnóstico;
● Discutir plano de mobilização social e educação ambiental;
● Definir calendário de reuniões e eventos;
● Informar sobre as atividades de apoio da GT na mobilização dos
2ª Reunião com GT
representantes dos imóveis rurais das microbacias de atuação;
● Apresentar os critérios/obrigatoriedades para participação no projeto que
deverão ser informados aos representantes dos imóveis rurais;
● Solicitar mobilização para o 1º Encontro com os representantes dos
imóveis rurais das microbacias de atuação.

● Elucidar sobre funcionamento dos comitês, do IBIO, sobre os recursos da


cobrança pelo uso da água e sobre o projeto;
● Apresentar os critérios/obrigatoriedades para que o imóvel seja
1º Encontro com os
selecionado para as cotas de imóveis a serem;
representantes dos
● Entender dos representantes dos imóveis quais os problemas enfrentados
imóveis rurais das
e a disponibilidade dos mesmos em realizar as devidas manutenções nas
microbacias de
estruturas que vierem a ser implantadas em seus imóveis;
atuação
● Conhecer o perfil da população para nortear os próximos eventos de
mobilização social e educação ambiental;
● Promover conscientização ambiental inicial básica dos representantes dos
40

Evento Objetivo

imóveis, para demonstrar a importância do projeto;

● Selecionar junto com o GT os imóveis a preencherem as cotas;


● Solicitar apoio ao GT para mobilização dos representantes dos imóveis
selecionados;
3ª Reunião com GT
● Apresentar calendário da etapa de campo para que apoiem na
comunicação aos representantes dos imóveis selecionados sobre as
datas de campo.

● Informar sobre andamento das ações em campo;


● Apontar dificuldades encontradas durante os trabalhos;
4ª Reunião com GT ● Solicitar apoio, se necessário;
● Discutir a mobilização para o 2º encontro com os representantes dos
imóveis.

● Continuar atividades de educação ambiental com os representantes dos


2º Encontro com os imóveis rurais selecionados, para conscientização ambiental, conforme
representantes dos perfil avaliado no evento anterior;
imóveis ● Apresentar a importância da manutenção das estruturas a serem
implantadas nos imóveis.

● Apresentar as metodologias/tecnologias a serem adotadas para


5ª Reunião com GT
desenvolvimento dos projetos, para análise e aprovação.

● Discutir os Termos de Referência para contratação de empresa(s)


6ª Reunião com GT
executora(s) de projetos e do monitoramento;

Fonte: Autor, 2018

A flexibilidade para a definição dos eventos e metodologias é devido ao fato


da importância de tais conteúdos serem planejados localmente, junto com os Grupos
de Trabalho de cada Município envolvido.
Vale ressaltar a importância da mobilização social e educação ambiental da
população da microbacia para o alcance efetivo da melhoria da qualidade e
quantidade das águas, devendo ser realizada em conformidade com as diretrizes
dos Comitês de Bacia (CBH-Piranga, 2018):
 com critério e preocupação com a realidade local de cada microbacia,
respeitando o conhecimento, cultura e diversidade local;
 com metodologias participativas e com linguagem adequada, que sejam
apropriadas e possibilitem a inclusão dos diferentes públicos e faixas etárias;
 com planejamento adequado e bem estruturado, abrangendo objetivos das
atividades, metodologias e possíveis indicadores de mudança;
 de forma que promova experiências práticas, formação de multiplicadores e
continuidade das ações dos Programas e do processo de educação
ambiental; e
41

 por equipe técnica apropriada e sensibilizada com o que ensina.


Os resultados dessa ação deverão ser apresentados no Produto 3 - Plano de
Mobilização Social e Educação Ambiental. As atividades deverão ser desenvolvidas
por profissionais com amplo conhecimento e experiência em mobilização social e
educação ambiental.

6.4.6 Ação 6: Elaboração de diagnósticos ambientais dos imóveis rurais

Para compreender as reais necessidades das áreas rurais quanto ao


saneamento e recuperação de áreas degradadas, é necessário um diagnóstico das
condições ambientais de cada um dos imóveis rurais selecionados para participar.
Para tanto, deverão ser realizadas visitas de campo em cada um dos imóveis rurais
selecionados, quantas vezes forem necessárias, para preenchimento de uma ficha
de diagnóstico e realização de croqui do imóvel rural.
Basicamente, as fichas deverão ser compostas de campos para informações
objetivas e claras, contendo espaços para identificação das condições do local
quanto aos serviços de saneamento (abastecimento de água, esgotamento sanitário,
manejo de resíduos e manejo de águas pluviais), situação das áreas de APP,
ocorrências de erosões e enxurradas, entre outras.
Os croquis deverão conter informações como: área do imóvel, ponto de
captação de água, local de lançamento de esgoto, pontos de erosão, nascentes,
fossas, curso d’água, APPs, estradas e caminhos de serviço do imóvel rural, dentre
outros dados pertinentes.
Nessa ação do trabalho será necessário um grande esforço de mobilização
social, de modo que se alcance o preenchimento da cota estimada de 5850 imóveis
rurais previstos.
As cotas de imóveis rurais deverão ser distribuídas dando maior prioridade
aos imóveis localizados na cabeceira da microbacia.
Nesse momento é importante que aos representantes dos imóveis rurais
selecionados assinem o Termo de Adesão ao projeto e apresentem documentação
pessoal e da propriedade, que formalizará a sua participação. Esse termo é
indispensável para o prosseguimento às etapas seguintes do trabalho.
Os resultados dessa ação deverão ser apresentados no Produto 4 -
Diagnósticos Ambientais dos Imóveis Rurais. As atividades deverão ser
42

desenvolvidas por profissionais com conhecimento e experiência em trabalhos de


campo e em meio ambiente e saneamento.

6.4.7 Ação 7: Elaboração de projetos de adequação ambiental dos imóveis


rurais

Após identificada a realidade de cada um dos imóveis rurais, por meio dos
diagnósticos, deverá ser elaborado um projeto de adequação ambiental para cada
imóvel rural. Para tanto, deverá ser apresentado o croqui do imóvel rural a seu
representante, com todas as localizações e os tipos de intervenções necessários
identificados no mesmo para sua aprovação. Neste momento, o representante
deverá manifestar se as intervenções apresentadas são de seu interesse, e, se não
todas, quais e assinar o Termo de Anuência, que consiste na autorização do
representante do imóvel rural para que os projetos identificados como necessários
durante o diagnóstico do seu imóvel sejam executados futuramente.
Considerando o diagnóstico realizado nos imóveis rurais e as condições
locais será possível definir as adaptações/tecnologias/metodologias mais adequadas
para o desenvolvimento dos projetos das intervenções ambientais em saneamento
rural e recuperação de áreas degradadas.
Os projetos das intervenções ambientais deverão ser individuais e contemplar
projetos para bacias de captação de águas pluviais e contenção de enxurradas
(barraginhas e caixas-secas), cercamento de nascentes, recuperação de nascentes
(regeneração natural, plantio, enriquecimento, dentre outros) e sistema de
tratamento de esgoto, sistema de tratamento de água.
Os projetos de intervenções ambientais deverão conter todas as informações
necessárias para que as intervenções sejam executadas futuramente. Logo, os
projetos deverão conter as informações de quantidades, dimensões, materiais, mão
de obra, orçamento, dentre outras, necessárias à sua execução. Para tanto, deve-se
considerar: o diagnóstico; as peculiaridades locais; a difusão no Brasil; a
disponibilidade de mão de obra e materiais; o custo de implantação; manutenção e
operação; a complexidade operacional e de manutenção; os resultados possíveis; o
ganho em escala; e legislações e normas vigentes.
Os resultados dessa ação deverão ser apresentados no Produto 5 - Projetos
de Adequação Ambiental dos Imóveis Rurais. As atividades deverão ser
43

desenvolvidas por profissionais com conhecimento e experiência em elaboração de


projetos e em meio ambiente e saneamento.

6.4.8 Ação 8: Elaboração de Termos de Referência para execução de projetos,


capacitação técnica e monitoramento

Para a execução dos projetos elaborados na ação anterior, será necessária a


elaboração de termos de referência para as licitações, que deverá abranger a
contratação de empresa(s) especializada(s) para execução de projetos, capacitação
técnica dos representantes dos imóveis para as manutenções necessárias e análise
dos parâmetros de monitoramento, para se ter um “antes e depois” das intervenções
a serem implantadas e possibilitar o acompanhamento e efetividade do projeto de
intervenção.
Os termos devem prever que as capacitações possibilitem instruir os
representantes dos imóveis rurais sobre o funcionamento, manutenção e/ou
manipulação das estruturas.
Nesse momento será necessário definir os parâmetros de monitoramento a
serem utilizados. Também, deverão ser informados os locais exatos a serem
monitorados, incluindo coordenadas geográficas.
Os Termos de Referência deverão conter todas as informações necessárias
para a contratação de empresas que irão executar as intervenções ambientais, tais
como: descrição do objeto; dimensões; parâmetros de monitoramento; locais de
monitoramento; responsabilidades das partes; equipe técnica necessária; valor
máximo com base em pesquisa de mercado ou tabelas de referências oficiais;
prazos de execução; produtos a serem entregues; forma de pagamento; forma de
fiscalização; e outras informações e requisitos que se fizerem necessários.
Os resultados dessa ação deverão ser apresentados no Produto 6 - Termos
de Referência. As atividades deverão ser desenvolvidas por profissionais com
conhecimento e experiência em elaboração de orçamentos e em meio ambiente e
saneamento.

6.5 Produtos a serem entregues na Etapa 2

Como entregas das ações de intervenção desenvolvidas na Etapa 2 -


44

Diagnósticos e Projetos do Alto Doce as empresas contratadas deverão apresentar


Produtos, conforme a Tabela 5, que serão a forma de medição do trabalho e
realização do pagamento.

Tabela 5: Produtos a serem entregues


Ação de intervenção Produto a ser entregue
Ação 1: Planejamento do Trabalho Produto 1 - Plano de Trabalho
Ação 2: Validação das microbacias de atuação em
campo
Ação 3: Formação de Grupo de Trabalho nos Produto 2 - Validação das
Municípios microbacias e formação do GT
Ação 4: Priorização das microbacias de atuação,
quando mais de uma no Município
Ação 5: Realização de atividades de mobilização Produto 3 - Plano de Mobilização
social e educação ambiental Social e Educação Ambiental
Ação 6: Elaboração de diagnósticos ambientais dos Produto 4 - Diagnósticos Ambientais
imóveis rurais dos Imóveis Rurais
Ação 7: Elaboração de projetos de adequação Produto 5 - Projetos de Adequação
ambiental dos imóveis rurais Ambiental dos Imóveis Rurais
Ação 8: Elaboração de Termos de Referência para
execução de projetos, capacitação técnica e Produto 6 - Termos de Referência
monitoramento
Fonte: Autor, 2018

6.6 Atores envolvidos

O contexto do Sistema Nacional de Recursos Hídricos envolve diversos


atores que serão relevantes nesse projeto de intervenção, mas conforme
mencionado em itens anteriores, destaca-se que o projeto será realizado pelos
Comitês de Bacia, por meio do IBIO (Agência de Bacia), com recursos da cobrança
pelo uso da água na bacia do rio Doce e afluentes. Além desses atores, é relevante
o envolvimento dos representantes dos Municípios e dos imóveis rurais a serem
contemplados e as empresas a serem contratadas para as atividades de campo. A
Figura 8 ilustra os atores envolvidos no projeto de intervenção.
45

Figura 8: Atores envolvidos

Fonte: Autor, 2018

Os CBH irão atuar nas questões políticas e institucionais, auxiliando nos


processos de mobilização social dos representantes de imóveis rurais e dos
Municípios.
A Agência de Bacia, IBIO, será responsável pelos processos licitatórios;
fornecer todas as informações necessárias para as empresas contratadas realizarem
as atividades; avaliar e fiscalizar a prestação dos serviços; dirimir questões técnicas;
e gerir os contratos assinados.
Os Municípios deverão apoiar na divulgação e mobilização dos
representantes de imóveis rurais; disponibilizar espaços físicos para reuniões;
fornecer informações às empresas contratadas; buscar esforços para ampliar as
ações realizadas e manter as infraestruturas que forem implantadas; indicar técnicos
representantes de órgãos e instituições atuantes no município para composição do
GT; e contribuir nas discussões quanto às definições sobre os projetos.
Os representantes dos imóveis rurais deverão apresentar documentos
pessoais e comprobatórios da propriedade ou posse do imóvel rural para assinatura
do Termo de Adesão; franquear a entrada e acompanhar as atividades de campo em
46

sua propriedade; passar informações que forem necessárias; e participar dos


eventos realizados durante os trabalhos.
As empresas a serem contratadas terão diversas atividades a serem
realizadas ao longo dos trabalhos, devendo seguir criteriosamente o conteúdo
mínimo a ser estabelecido na contratação.

6.7 Recursos necessários, orçamento e viabilidade

Conforme mencionado, o projeto de intervenção será realizado pelos Comitês


de Bacia, por meio do IBIO (Agência de Bacia), com recursos da cobrança pelo uso
da água na bacia do rio Doce e afluentes. No Plano de Aplicação Plurianual (PAP)
dos CBHs da bacia do rio Doce, período 2016-2020, tem como previsão investir
aproximadamente 103 milhões de reais em ações de recuperação de nascentes,
controle de sedimentos e saneamento rural, conforme a Tabela 6.

Tabela 6: Recursos disponíveis no PAP 2016-2020


Região Recursos previsto no PAP (período de 2016-2020)
Alto Doce R$ 69.034.000,00
Médio Doce R$ 23.439.000,00
Baixo Doce R$ 10.323.000,00
Total R$ 102.796.000,00
Fonte: Autor, 2018

Observa-se que há uma previsão de recursos para o Alto Doce, que abrange
as UGRH1 - Piranga, UGRH2 - Piracicaba e UGRH3 - Santo Antônio, de
aproximadamente 70 milhões de reais. Essa diferença em relação às demais regiões
da bacia é devido ao número de Municípios e valor arrecado com a cobrança pelo
uso da água, que é maior no Alto Doce devido à grande quantidade de indústrias,
minerações e serviços de saneamento. Vale comentar ainda que a maior parte
desses recursos é arrecado na UGRH2-Piracicaba, que é onde se encontra o Vale
do Aço, importante polo siderúrgico do País.
Diante disso, para a realização da Etapa 2 - Diagnósticos e projetos do Alto
Doce foi orçado com empresas do mercado o valor necessário para a execução das
ações previstas e conforme apresentado na Tabela 7, o valor total é de
aproximadamente 12 milhões reais. Os orçamentos realizados não serão
47

apresentados como anexo do presente trabalho, pois são parte de processo


licitatório das contratações das empresas. Vale comentar que esse é o valor máximo
a ser investido, podendo as empresas apresentarem valores inferiores em suas
propostas de preço, conforme previsões do edital de licitação.

Tabela 7: Recurso orçado para a Etapa 2 - Diagnósticos e projetos do Alto Doce


UGRH Nº de Municípios Valor
1-Piranga 13 R$ 3.127.593,99
2-Piracicaba 19 R$ 5.687.662,10
3-Santo Antônio 13 R$ 2.850.818,74
Total para Alto Doce 45 R$ 11.666.074,83
Fonte: Autor, 2018

Verifica-se que a Etapa 2 corresponde a 17% do orçamento disponível para


ações de saneamento rural, controle de sedimentos e recuperação de nascente no
planejamento do período de 2016-2020 dos Comitês de Bacia. Os demais 83%
poderão ser investidos na Etapa 3 - Execução dos projetos do Alto Doce.
Para a Etapa 3 ainda não é possível realizar um orçamento preciso, já que a
realidade dos imóveis rurais e suas necessidades ainda serão conhecidas na Etapa
2, porém a partir de referências é possível calcular valores estimados. Dessa forma,
adotou-se o valor de 12 mil reais por imóvel rural para executar a implantação de um
sistema de tratamento de esgoto, implantação de uma barraginha e cercamento e
plantio de uma nascente (VON SPERLING, 2014; BENINI et. al, 2017.
Considerando o número de 5850 imóveis rurais a serem contemplados no Alto
Doce e o valor estimado por imóvel, tem-se que para a realização da Etapa 3 -
Execução dos projetos do Alto Doce seria necessário um montante estimado de 70
milhões de reais, aproximadamente, conforme Tabela 8.
48

Tabela 8: Recursos disponíveis e necessários para o Alto Doce


Recursos disponíveis no PAP 2016-2020 R$ 69.034.000,00
Recursos orçados para etapa de diagnóstico e projetos do
R$ 11.666.074,83
Alto Doce
Recursos do PAP que restaram para a etapa de execução
de projetos do Alto Doce, após a elaboração dos R$ 57.367.925,17
diagnósticos e projetos
Recursos estimados para etapa de execução de projetos
R$ 70.200.000,00
do Alto Doce
Recursos a serem obtidos com parcerias R$ 12.832.074,83
Fonte: Autor, 2018

Logo, com os recursos previstos da cobrança pelo uso da água, não seria
possível executar todos os projetos no Alto Doce. Porém, vale ressaltar, que os
valores são estimados, podendo haver maior ou menor necessidade de sistemas de
tratamento de esgoto, barraginhas e recuperação de nascentes nos imóveis rurais.
Além disso, como serão contratações em grande escala, poderá haver reduções
significativas nos valores das propostas de preço das empresas concorrentes nas
licitações. Outra possibilidade é a realização de parcerias com outras instituições e
empresas da bacia do rio Doce, Prefeituras e órgãos do Estado de Minas Gerais,
para potencializar o alcance das ações.
A partir dos valores disponíveis no planejamento dos Comitês de Bacia do
Médio e Baixo Doce e dos valores orçados e das estimativas para a realização do
projeto de intervenção no Alto Doce, é possível estimar valores para a expansão do
projeto para as demais regiões da bacia, que consiste na Etapa 4. A Tabela 9
apresenta os valores estimados para a Etapa 4 - Diagnósticos, Projetos e Execução
do Médio e Baixo Doce.

Tabela 9: Recursos estimados para os Diagnósticos, Projetos e Execução


Recursos
Recursos Recursos PAP - Recursos a
Nº de Recursos para necessários
disponíveis no Recursos para serem obtidos
Região imóveis diagnóstico e para execução
PAP 2016- diagnóstico e com parcerias
rurais projetos (R$) dos projetos
2020 (R$) projetos (R$) (R$)
(R$)
Alto 69.034.000,00 5850 11.666.074,83 57.367.925,17 70.200.000,00 12.832.074,83
Médio 23.439.000,00 1985 3.961.191,00 19.477.809,00 23.820.000,00 4.342.191,00
Baixo 10.323.000,00 875 1.744.587,00 8.578.413,00 10.497.961,76 1.919.548,76
Total 102.796.000,00 8710 17.371.852,83 85.424.147,17 104.517.961,76 19.093.814,59
Fonte: Autor, 2018
49

O investimento necessário para a execução do projeto de intervenção em


todas as regiões da bacia do rio Doce e contemplando todas as etapas é de,
aproximadamente, 122 milhões de reais. As Tabelas 10 e 11 apresentam os valores
por região e etapa. Vale lembrar que a Etapa 1 consiste no desenvolvimento do
presente trabalho e não possui custos além de recursos humanos.

Tabela 10: Recursos necessários para o projeto de intervenção por região


Região Total
Alto R$ 81.866.074,83
Médio R$ 27.781.191,00
Baixo R$ 12.242.548,76
Total R$ 121.889.814,59
Fonte: Autor, 2018

Tabela 11: Recursos necessários para o projeto de intervenção por etapa


Etapa Valor
1 Desenvolvimento do projeto de intervenção Sem custos
2 Diagnósticos e Projetos do Alto Doce R$ 11.666.074,83
3 Execução dos projetos do Alto Doce R$ 70.200.000,00
4 Diagnósticos, Projetos e Execução do Médio e Baixo Doce R$ 40.023.739,76
Total R$ 121.889.814,59
Fonte: Autor, 2018

Dessa forma, foi constatado que econômica e financeiramente há viabilidade


no projeto. Já no que se refere à viabilidade técnica, serão contratadas empresas de
engenharia especializadas para a elaboração dos projetos, bem como a contratação
de consultores para acompanhamento dos projetos.

6.8 Riscos e Dificuldades

O projeto de intervenção envolve uma contratação em grande escala e com


mais de uma etapa de realização, o que por si só já é um risco. Algumas dificuldades
e riscos que podem ser enfrentados do planejamento até a execução do projeto de
intervenção estão listadas a seguir:
 O planejamento será um desafio, pois o termo de referência precisa
respeitar a especificidade local, mas ao menos tempo contratar em grande
escala.
50

 A licitação certamente envolve riscos, pois é preciso garantir que a


avaliação da técnica e preço seja adequada e possibilite a contratação de
boas empresas.
 A gestão e fiscalização dos contratos com as empresas também será
cheia de dificuldades, pois envolve muitas variáveis e atores, o que nem
sempre é possível prever desde o início.
 Na gestão e fiscalização dos contratos com as empresas, haverá riscos de
projetos sem sustentabilidade serem aprovados devido à pressões
externas ao projeto.
 A quantidade de Produtos a serem entregues será grande e com conteúdo
complexo, sendo necessário desenvolver um adequado controle de
documentos e processos.
 A forma de contratação em grande escala pode ocasionar em Produtos
muito parecidos e genéricos para cada Município.
 Podem ocorrer realidades nas microbacias, como exemplo áreas
indígenas, que exigem uma forma de atuação distinta e possuem uma
divisão territorial diferente.
 Aglomerados rurais, que não se enquadram exatamente como imóveis
rurais, podem afetar a forma de atuação e as intervenções a serem
realizadas.
 A priorização das microbacias de atuação dentro de alguns Municípios
pode ocorrer de forma pouco técnica e mais em função de escolhas
políticas.
 Alguns Grupos de Trabalho podem ser formados por representantes e
apoiadores da Prefeitura, o que pode acarretar em um caráter político nas
definições.
 O prazo do trabalho e sua grandiosidade podem dificultar a realização de
uma mobilização social e educação ambiental adequada.
 Pode haver Municípios que, por motivos variados, possuam maior
dificuldade para adesão dos participantes.
 O período chuvoso pode dificultar e atrasar as atividades em campo
consideravelmente.
 A obtenção de documentos que comprovam a posse dos imóveis rurais
51

pode ser um desafio.


 Pode haver dificuldade na definição das tecnologias e metodologias a
serem aplicadas nos projetos de cada imóvel rural.

6.9 Cronograma

O prazo total de execução desse projeto será de 10 meses, a contar da data


de assinatura do Contrato entre as partes e emissão da Ordem de Serviço, segundo
o cronograma da Tabela 12.

Tabela 12: Cronograma de execução


Produto a ser Prazo
Ação de intervenção
entregue 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Produto 1 - Plano de
Ação 1: Planejamento do Trabalho
Trabalho
Ação 2: Validação das microbacias
de atuação em campo
Produto 2 - Validação Ação 3: Formação de Grupo de
das microbacias e Trabalho nos Municípios
formação do GT Ação 4: Priorização das microbacias
de atuação, quando mais de uma no
Município
Produto 3 - Plano de Ação 5: Realização de atividades de
Mobilização Social e mobilização social e educação
Educação Ambiental ambiental
Produto 4 -
Diagnósticos Ação 6: Elaboração de diagnósticos
Ambientais dos Imóveis ambientais dos imóveis rurais
Rurais
Produto 5 - Projetos de Ação 7: Elaboração de projetos de
Adequação Ambiental adequação ambiental dos imóveis
dos Imóveis Rurais rurais
Ação 8: Elaboração de Termos de
Produto 6 - Termos de Referência para execução de
Referência projetos, capacitação técnica e
monitoramento
Fonte: Autor, 2018

6.10 Gestão, acompanhamento e avaliação

A gestão, acompanhamento e avaliação dos produtos e serviços serão


realizados pelo IBIO, Agência de Bacia dos CBH da bacia do rio Doce, podendo ser
contratadas pessoas físicas e/ou jurídicas para apoiar a realização das atividades de
fiscalização necessárias.
52

O IBIO deverá emitir pareceres técnicos ao longo de todo o trabalho. Os


pareceres são vinculados a cada produto elaborado pelas empresas que for
analisado. Os produtos serão analisados e validados com base nas legislações
vigentes, relativas às áreas abordadas no trabalho, e no termo de referência. Os
pareceres devem ser emitidos quantas vezes for necessário até a adequação e
validação dos produtos das empresas.
Deverá ser realizada, por amostragem, fiscalização de campo para avaliar se
os eventos estão sendo realizados adequadamente e se os diagnósticos, projetos e
execuções estão sendo realizados respeitando a realidade local.
53

7 MINUTA DO TERMO DE REFERÊNCIA

Para a elaboração da minuta do Termo de Referência para a contração da


Etapa 2 - Diagnósticos e projetos em imóveis rurais de Municípios do Alto Doce,
considerou-se como referência os editais já realizados pelo IBIO, que exerce a
função de Agência de Bacia dos CBHs e é o ator previsto no projeto de intervenção
para a contração das empresas que irão atuar em campo.

1. Objeto

A presente Seleção de Propostas tem por objeto a contratação de empresa(s)


especializada(s) para elaboração de diagnósticos e projetos em imóveis rurais nas
UGRH1 – Piranga, UGRH 2 – Piracicaba e UGRH 3 – Santo Antônio, abrangendo
microbacias em 45 Municípios.
O objeto do presente certame caracteriza-se como um serviço de natureza
predominantemente intelectual, tendo por escopo principal a elaboração de
diagnósticos e projetos que servirão de base para a futura contratação da execução
dos mesmos.

2. Justificativa

O trabalho abrange 45 Municípios e a maioria deles não possuem nenhum


tipo de tratamento de esgoto nas áreas rurais. Porém não há informações quali-
quantitativas dessas regiões, sendo de suma importância um diagnóstico da
situação real, para dimensionar adequadamente as intervenções e os investimentos
necessários.
Além disso, na bacia do rio Doce, foi intensificada a preocupação e as
discussões sobre a segurança hídrica dos Municípios e a partir da realização de
práticas de conservação do uso do solo, manejo adequado de pastagens,
restauração florestal e saneamento rural prevê-se a melhoria na qualidade das
águas e aumento da quantidade de água nas microbacias de captação de água dos
Municípios.
54

3. Descrição do objeto

O objeto consiste na contratação de empresa(s) especializada(s) para


elaboração de diagnósticos e projetos em imóveis rurais nas UGRH1 – Piranga,
UGRH 2 – Piracicaba e UGRH 3 – Santo Antônio, abrangendo microbacias em 45
Municípios. Para tanto, serão realizadas diversas atividades em campo e escritório,
realização de reuniões e eventos, culminando na entrega dos produtos a seguir.
 Produto 1 - Plano de Trabalho
 Produto 2 - Validação das microbacias e formação do GT
 Produto 3 - Plano de Mobilização Social e Educação Ambiental
 Produto 4 - Diagnósticos Ambientais dos Imóveis Rurais
 Produto 5 - Projetos de Adequação Ambiental dos Imóveis Rurais
 Produto 6 - Termos de Referência

4. Fundamentação legal

A Seleção de Propostas será na modalidade “Coleta de Preços”, do tipo


“Técnica e Preço”, de acordo com as disposições contidas na Resolução ANA nº
552/2011, na Resolução Conjunta SEMAD/IGAM nº 1.044/2009, e, subsidiariamente,
na Lei Federal nº 8.666/93.
Os projetos deverão ser elaborados em conformidade com as legislações
vigentes e normas técnicas relacionadas ao tema.

5. Estimativa de custos

O valor global máximo total estimado da presente contratação será de


R$ 11.666.074,83 (onze milhões seiscentos e sessenta e seis mil e setenta e quatro
reais e oitenta e três centavos).

6. Critérios de julgamento

O julgamento das propostas será realizado em conformidade com o tipo


Técnica e Preço, e será vencedor o participante que alcançar a maior Pontuação
Individual, levando-se em conta os pesos 0,5 e 0,5 fixados, respectivamente, para a
55

Técnica e para o Preço.

7. Prazo, local e condições de entrega

Os interessados poderão obter a íntegra do Ato Convocatório e maiores


informações sobre a contratação e as condições de participação através do
endereço eletrônico do CBH-Doce, cbhdoce.org.br e do IBIO, ibioagbdoce.org.br, e
pelo e-mail: cglc@ibio.org.br, a partir do dia XX/XX/2018.
A sessão pública para conhecimento e julgamento das propostas ocorrerá no
dia XX/XX/2018 às 09 horas, na sede do IBIO, situada na rua Afonso Pena, nº 2.590,
Centro - Governador Valadares/MG - CEP 35.010-000.
O recebimento dos envelopes de Proposta Técnica, Proposta de Preço e
Habilitação ocorrerá desde a publicação deste Ato Convocatório até o dia da Sessão
Pública, sendo que, no dia da Sessão, os envelopes devem ser entregues,
impreterivelmente, entre 08h00min e 08h30min, procedendo-se, logo em seguida, o
credenciamento dos concorrentes que se fizerem presentes, quando será dado
início à sessão.

8. Obrigação das partes

As partes envolvidas para desenvolvimento do objeto terão obrigações a


serem seguidas, conforme definido nos itens seguintes.

a) Contratante - IBIO
 Realizar e conduzir o processo licitatório;
 Fornecer todas as informações necessárias para as empresas contratadas
realizarem as atividades;
 Avaliar e fiscalizar os produtos a serem entregues e a prestação dos serviços;
 Dirimir questões técnicas ao longo da execução das atividades;
 Gerir os contratos, prazos e pagamentos a serem realizados.

b) Contratada - Empresa
 Elaborar, organizar e participar de reuniões e eventos presenciais, em data e
local a serem indicados a pela Contratante;
56

 Participar de Reuniões presencialmente, via Telefone, Skype ou outros meios


de comunicação com a Contratante, Municípios e demais entidades ou
pessoas indicadas pela Contratante;
 Atender ao conteúdo mínimo estabelecido no Termo de Referência,
proporcionando informações e análises para o perfeito entendimento dos
serviços prestados;
 Disponibilizar um profissional local para apoio na mobilização social dos
municípios com o objetivo de divulgação e cobertura de todos os eventos e
etapas de desenvolvimento dos serviços;
 Adequar e complementar os Produtos apresentados, quantas vezes forem
necessárias, para atendimento ao conteúdo mínimo do Termo de Referência;
 Fornecer mão-de-obra, direta ou indireta, necessária à execução dos serviços,
incluindo os encargos sociais, trabalhistas e fiscais;
 O pagamento de seguros de qualquer natureza, tributos, taxas, impostos e
emolumentos municipais, estaduais e federais decorrentes dos serviços;
 Cumprir rigorosamente todos os prazos e atividades que são objeto deste
Termo de Referência;
 Manter, durante toda a execução deste Contrato, todas as condições de
habilitação e qualificação exigidas na licitação;
 Apresentar relato semanal das atividades já realizadas, através de e-mail ou
outro meio definido pela Contratante.

c) Município
 Apoiar na divulgação e mobilização dos representantes de imóveis rurais;
 Disponibilizar espaços físicos para reuniões e eventos;
 Fornecer informações às empresas contratadas e IBIO;
 Buscar esforços para ampliar as ações realizadas e manter as infraestruturas
que forem implantadas;
 Indicar técnicos representantes de órgãos e instituições atuantes no município
para composição do GT;
 Contribuir nas discussões quanto às definições sobre os projetos.
57

9. Acompanhamento e fiscalização

Caberá ao Diretor Geral do IBIO designar um funcionário para acompanhar e


atestar a execução do serviço.
O recebimento dos produtos ou qualquer atraso justificado no seu exame e
aprovação, não implica concordância do IBIO com os seus termos e nem tão pouco
anuência com qualquer falha ou impropriedade que porventura vier a ser apurada
posteriormente, não excluindo a responsabilidade da Contratada em face das
obrigações assumidas e a necessária readequação do(s) produto(s), sem custo
adicional.

10. Pagamento

Os recursos orçamentários para pagamento do objeto e despesas


decorrentes serão provenientes dos recursos oriundos da cobrança pelo uso dos
recursos hídricos na Bacia Hidrográfica do Rio Doce, repassados pela Agência
Nacional de Águas - ANA, conforme Contrato de Gestão nº 072/ANA/2011, e seus
respectivos aditivos, e Contrato de Gestão IGAM nº 001/2017, previstos no Plano de
Aplicação Plurianual aprovado pelos Comitês com atuação na Bacia Hidrográfica do
Rio Doce.
O pagamento será efetuado por meio de ordem bancária ou qualquer outro
meio idôneo adotado pelo IBIO, após a entrega de cada produto e no prazo de até
15 (quinze) dias, contados do expresso atesto/aprovação do IBIO, relativamente aos
respectivos produtos.

11. Sanções
O concorrente que não mantiver a proposta, falhar, frustrar ou fraudar a
execução dos serviços, tiver comportamento inidôneo, fizer declaração falsa ou
deixar de cumprir o Contrato, estará sujeito ainda às sanções fixadas neste
documento, sem prejuízo da aplicação das penalidades previstas na legislação civil
ou penal, especialmente quanto à Declaração de Inexistência de Fatos Impeditivos.
58

12. Informações complementares

Todo o material, inclusive de natureza intelectual, produzido e pago no âmbito


deste Ato Convocatório, passa a ser propriedade do IBIO e CBHs.
O inteiro teor deste documento, assim como quaisquer esclarecimentos sobre
o mesmo poderão ser obtidos no horário das 08h às 12h e das 14h às 18h, na sede
do IBIO, ou nos endereços eletrônicos do CBH-Doce, cbhdoce.org.br, e IBIO,
ibioagbdoce.org.br.
59

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O projeto de intervenção apresentado teve como objetivo a realização de


diagnósticos, projetos e intervenções em imóveis rurais em microbacias prioritárias
para segurança hídrica em Municípios da bacia hidrográfica do rio Doce. As ações
necessárias para o desenvolvimento do projeto tiveram como foco a expansão do
saneamento rural, principalmente no que se refere à sistemas de esgotamento
sanitário, de forma atrelada à ações de recuperação de nascentes e construção de
barraginhas.
A proposta irá propiciar a elaboração de diagnósticos e projetos em 5850
imóveis rurais de 45 Municípios, na região do Alto Doce, o que representa uma
grande quantidade de informações sobre as áreas rurais da bacia do rio Doce. O
investimento necessário para essa etapa é de, aproximadamente, 12 milhões de
reais e deverão ser custeados pelos Comitês de Bacia, havendo viabilidade
financeira para as ações.
Com a proposta sendo executada, será possível ampliar as ações para toda
bacia do rio Doce e realizar a execução das intervenções. Para tanto será
necessário o montante de 110 milhões de reais, conforme as estimativas
apresentadas, o que haverá necessidade de contar com parcerias além dos recursos
da cobrança pelo uso da água.
Por fim, vale salientar a importância da proposta para difundir o conhecimento
sobre a Política Nacional de Recursos Hídricos na bacia e ainda sensibilizar a
população rural em relação ao meio ambiente e saneamento básico.
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REFERÊNCIAS

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