Você está na página 1de 120

ra

Câmara dos
Deputados

LEI DE
MIGRAÇÃO
INCLUI
Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados (Genebra, 1951)
Convenção sobre Asilo Diplomático (Caracas, 1954)
Convenção sobre o Estatuto dos Apátridas (Nova York, 1954)
Convenção para a Redução dos Casos de Apatridia (Nova York, 1961)
Convenção Americana sobre Direitos Humanos (San José, 1969)
Declaração de Cartagena (Cartagena, 1984)

edições
câmara
Câmara dos
Deputados

LEI DE
MIGRAÇÃO
Câmara dos Deputados
56ª Legislatura | 2019-2023

Presidente Secretaria-Geral da Mesa


Rodrigo Maia Leonardo Augusto de Andrade Barbosa

1º Vice-Presidente Diretoria-Geral
Marcos Pereira Sergio Sampaio Contreiras de Almeida

2º Vice-Presidente Diretoria Legislativa


Luciano Bivar Afrísio de Souza Vieira Lima Filho

1ª Secretária Consultoria Legislativa


Soraya Santos Rodrigo Hermeto Correa Dolabella

2º Secretário Centro de Documentação e Informação


Mário Heringer André Freire da Silva

3º Secretário Coordenação Edições Câmara dos Deputados


Fábio Faria Ana Lígia Mendes

4º Secretário Coordenação de Organização da Informação


André Fufuca Legislativa
Frederico Silveira dos Santos
Suplentes de Secretário

1º Suplente
Rafael Motta

2ª Suplente
Geovania de Sá

3º Suplente
Isnaldo Bulhões Jr.

4º Suplente
Assis Carvalho
Câmara dos
Deputados

LEI DE
MIGRAÇÃO
Carlos David Carneiro Bichara (organizador)
Fabrício Toledo de Souza e
Gabriel Gualano de Godoy (colaboradores)

Atualizada até 27/5/2019

edições
câmara
Editora responsável: Luzimar Gomes de Paiva
Preparação de originais e revisão: Seção de Revisão
Projeto gráfico: Leandro Sacramento e Luiz Eduardo Maklouf
Diagramação: Leandro Sacramento

Nota do editor: as normas legais constantes desta publicação foram consultadas no Sistema de Legis-
lação Informatizada (Legin) da Câmara dos Deputados, à exceção da Declaração de Cartagena.

SÉRIE
Legislação
n. 282 e-book
Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP)
Coordenação de Biblioteca. Seção de Catalogação.
Bibliotecária: Mariangela Barbosa Lopes – CRB1- 1731

Lei de migração [recurso eletrônico] / Carlos David Carneiro Bichara (organizador) ; Fabrício Toledo
de Souza, Gabriel Gualano de Godoy (colaboradores). – Brasília : Câmara dos Deputados, Edições
Câmara,
2019. – (Série legislação ; n. 282)
“Linha Legislativo.” –Capa.
Versão e-book.
Modo de acesso: livraria.camara.leg.br
Disponível, também, em formato impresso.
“Atualizada até 27/5/2019”.

1. Migração, legislação, Brasil. I. Bichara, Carlos David Carneiro, org. II. Souza, Fabrício Toledo de. III.
Godoy, Gabriel Gualano de. IV. Série.
CDU 314.7(81)(094)

ISBN 978-85-402-0749-3 (papel) ISBN 978-85-402-0750-9 (e-book)

Direitos reservados e protegidos pela Lei nº 9.610, de 19/2/1998.


Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem prévia autorização da Edições Câmara.
Venda exclusiva pela Edições Câmara.

Câmara dos Deputados


Centro de Documentação e Informação – Cedi
Coordenação Edições Câmara – Coedi
Palácio do Congresso Nacional – Anexo 2 – Térreo
Praça dos Três Poderes – Brasília (DF) – CEP 70160-900
Telefone: (61) 3216-5833
livraria.camara.leg.br
SUMÁRIO

LEGISLAÇÃO SOBRE PROTEÇÃO INTERNACIONAL DA PESSOA HUMANA: O DIREITO A TER DIREITOS ����7

LEI Nº 13.445, DE 24 DE MAIO DE 2017���������������������������������������������������������������������������������������������������������12


(Lei de Migração)
Institui a Lei de Migração.

Capítulo I – Disposições Preliminares...........................................................................................................12


Seção I – Disposições Gerais.....................................................................................................................12
Seção II – Dos Princípios e das Garantias................................................................................................12
Capítulo II – Da Situação Documental do Migrante e do Visitante..............................................................13
Seção I – Dos Documentos de Viagem.....................................................................................................13
Seção II – Dos Vistos..................................................................................................................................13
Seção III – Do Registro e da Identificação Civil do Imigrante e dos Detentores de Vistos Diplomático,
Oficial e de Cortesia..................................................................................................................................15
Capítulo III – Da Condição Jurídica do Migrante e do Visitante...................................................................16
Seção I – Do Residente Fronteiriço...........................................................................................................16
Seção II – Da Proteção do Apátrida e da Redução da Apatridia.............................................................16
Seção III – Do Asilado................................................................................................................................17
Seção IV – Da Autorização de Residência................................................................................................17
Seção V – Da Reunião Familiar.................................................................................................................18
Capítulo IV – Da Entrada e da Saída do Território Nacional........................................................................18
Seção I – Da Fiscalização Marítima, Aeroportuária e de Fronteira.........................................................18
Seção II – Do Impedimento de Ingresso..................................................................................................19
Capítulo V – Das Medidas de Retirada Compulsória....................................................................................19
Seção I – Disposições Gerais.....................................................................................................................19
Seção II – Da Repatriação.........................................................................................................................19
Seção III – Da Deportação.........................................................................................................................20
Seção IV – Da Expulsão.............................................................................................................................20
Seção V – Das Vedações............................................................................................................................21
Capítulo VI – Da Opção de Nacionalidade e da Naturalização....................................................................21
Seção I – Da Opção de Nacionalidade.....................................................................................................21
Seção II – Das Condições da Naturalização.............................................................................................21
Seção III – Dos Efeitos da Naturalização..................................................................................................22
Seção IV – Da Perda da Nacionalidade....................................................................................................22
Seção V – Da Reaquisição da Nacionalidade...........................................................................................22
Capítulo VII – Do Emigrante...........................................................................................................................22
Seção I – Das Políticas Públicas para os Emigrantes...............................................................................22
Seção II – Dos Direitos do Emigrante.......................................................................................................23
Capítulo VIII – Das Medidas de Cooperação.................................................................................................23
Seção I – Da Extradição.............................................................................................................................23
Seção II – Da Transferência de Execução da Pena...................................................................................26
Seção III – Da Transferência de Pessoa Condenada................................................................................26
Capítulo IX – Das Infrações e das Penalidades Administrativas..................................................................27
Capítulo X – Disposições Finais e Transitórias..............................................................................................27
LEGISLAÇÃO CORRELATA

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL����������������������������������������������������������������������������29


[Dispositivos referentes à migração].

CONVENÇÃO RELATIVA AO ESTATUTO DOS REFUGIADOS (GENEBRA, 1951) ��������������������������������������������30

CONVENÇÃO SOBRE ASILO DIPLOMÁTICO (CARACAS, 1954) ���������������������������������������������������������������������39

CONVENÇÃO SOBRE O ESTATUTO DOS APÁTRIDAS (NOVA YORK, 1954) ���������������������������������������������������41

CONVENÇÃO PARA A REDUÇÃO DOS CASOS DE APATRIDIA (NOVA YORK, 1961)���������������������������������������48

PROTOCOLO RELATIVO AO ESTATUTO DOS REFUGIADOS (NOVA YORK, 1967)�����������������������������������������52

CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS HUMANOS (SAN JOSÉ, 1969)������������������������������������������������54


[Dispositivos referentes à migração].

DECLARAÇÃO DE CARTAGENA (CARTAGENA, 1984)�������������������������������������������������������������������������������������56

LEI Nº 9.474, DE 22 DE JULHO DE 1997��������������������������������������������������������������������������������������������������������59


Define mecanismos para a implementação do Estatuto dos Refugiados de 1951, e determina outras providências.

DECRETO Nº 9.199, DE 20 DE NOVEMBRO DE 2017�������������������������������������������������������������������������������������64


Regulamenta a Lei nº 13.445, de 24 de maio de 2017, que institui a Lei de Migração.

DECRETO Nº 9.277, DE 5 DE FEVEREIRO DE 2018��������������������������������������������������������������������������������������115


Dispõe sobre a identificação do solicitante de refúgio e sobre o Documento Provisório de Registro Nacional Migratório.

LISTA DE OUTRAS NORMAS DE INTERESSE���������������������������������������������������������������������������� 116


LEGISLAÇÃO SOBRE PROTEÇÃO INTERNACIONAL
DA PESSOA HUMANA: O DIREITO A TER DIREITOS

Carlos David Carneiro Bichara1

Já faz algum tempo desde que o filósofo canadense Charles Taylor cunhou
a expressão “imaginário social” para designar o modo pelo qual indivíduos e
grupos compreendem a vida social. Para Taylor (2010, p. 31), esse imaginário
estaria ligado sobretudo ao modo como concebemos a nossa existência em con-
junto, como nos acomodamos uns aos outros e que expectativas criamos sobre
a vida em sociedade. Longe de poder ser reduzido a construtos teóricos, o ima-
ginário social se apoiaria muitas vezes em imagens, narrativas e mitos, jamais
apropriados por completo.
Ainda que nunca esgotados em suas possibilidades de síntese e signi-
ficação, os imaginários permitiram às sociedades a possibilidade de práticas
comuns e a criação de um senso de legitimidade partilhado. Isso incluiria, muitas
vezes, a compreensão de quem somos “nós”, os membros de determinado povo,
em oposição a “eles”, aqueles que não pertencem ao “nosso grupo”. Muitas vezes,
esse senso de pertencimento seria também associado a princípios difusos de
justiça (ainda que disputados) sobre o que é devido a cada um em determinada
sociedade.
Esses princípios, por sua vez, não raro estabeleceriam diferenças entre
aquilo que é devido a cada um de “nós” e o que nós, como grupo, devemos a eles,
os estrangeiros que, por um ou outro motivo, habitam em nossa comunidade.
Um exemplo interessante pode ser encontrado em Levítico – livro sagrado dos
hebreus que continha instruções rituais, morais e “legais”, tradicionalmente atri-
buídas a Moisés, e que, posteriormente, foi incorporado à bíblia cristã (GRABBE,
1998). Nesse livro, Deus ditaria desta maneira, por intermédio de seu mensageiro,
a obrigação do povo de Israel perante o estrangeiro: “Se o estrangeiro peregrinar
na vossa terra, não o oprimireis. Como o natural, será entre vós o estrangeiro que
peregrina convosco; amá-lo-eis como a vós mesmos, pois estrangeiros fostes na
terra do Egito” (Levítico 19, v. 33-34).
Apesar de extremamente demandante, o próprio fato de um manda-
mento como esse precisar ser externado mostra que não é óbvio, apesar de
intuitivo, que o estrangeiro não deva ser oprimido ou odiado. Da mesma forma,
só é possível amar como a si mesmo aquilo ou aquele que está fora do mesmo,
isto é, um outro. Dessa maneira, por mais demandante que seja o “direito” nesse
caso, implicando inclusive a obrigação de amar, ainda assim resta claro que o

1 Doutor em teoria e filosofia do direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Consultor le-
gislativo da Câmara dos Deputados com atuação na área XIX (ciência política, sociologia política, história
e relações internacionais) e professor da pós-graduação lato sensu no Centro de Formação, Treinamento e
Aperfeiçoamento (Cefor), da Câmara dos Deputados.

7
estrangeiro não é o mesmo que o nativo e necessita de uma regra diferenciada
que imponha seu acolhimento.
Diversos foram, ao longo da história, as designações e os “direitos”
atribuídos aos estrangeiros – ciente, aqui, de que o próprio uso da expressão
“direitos” guarda uma série de impropriedades que só uma análise conceitual ou
uma história dos conceitos poderiam resolver. Desde os metecos da Atenas dos
séculos IV e V a.C. e suas proibições, prima facie, de participar da Assembleia de
Cidadãos (BASLEZ, 1984) até os peregrini romanos e sua exclusão da cidadania
propriamente dita (JOLOWICZ et al., 2018), diversas foram as formas, a partir
da própria autocompreensão do que é ser membro de uma comunidade, de se
relacionar com aqueles que, de alguma maneira, se colocam para além do “nós”.
Se os antigos hebreus, atenienses ou romanos tinham seus próprios ima-
ginários sociais e suas respectivas formas de lidar com o “outro”, podemos dizer
que o imaginário dominante nos tempos que correm está, de alguma forma,
profundamente ligado ao ideário do Estado-Nação. Para utilizar mais uma vez
uma expressão imprópria, pode-se dizer que a própria experiência “moderna”
do que é pertencer a uma sociedade ou comunidade está fortemente ligada,
ao menos desde os últimos séculos, à contingência histórica de ser brasileiro,
americano, argentino, inglês.
Afirmações como essa, que podem soar como uma banalidade, assim
soam justamente pelo fato de a própria ideia de nacionalidade conformar algo
como uma “segunda natureza”, que molda não só nossas formas de pensar e
ser no mundo, como também a forma de nos relacionarmos uns com os outros.
A grande novidade, que talvez não seja tão grande nem tão nova assim, dada
a dimensão de alguns dos impérios do passado, é justamente a capacidade do
Estado-Nação, como comunidade imaginada (ANDERSON, 2008), de unir, muitas
vezes, de modo figadal, pessoas sem vínculo orgânico algum e que, no entanto,
são capazes de não apenas morrer pelos seus respectivos países como também,
em nome deles, clamar por direitos exclusivos aos membros desse grande grupo
imaginado.
Seguindo Hannah Arendt (2012, p. 396-397), é possível dizer que, durante
muito tempo, a luta por direitos nos imaginários sociais da modernidade esteve
ligada à luta pela soberania popular contra os tiranos internos, que trouxe com
ela direitos então considerados universais e inalienáveis. Esses direitos, no
entanto, eram conquistados como direitos do povo, dos membros do Estado-
-Nação. Só quando surgiu um número “inesperado” e crescente de pessoas e de
povos, cujos direitos elementares eram tão pouco salvaguardados pelo funcio-
namento desses Estados, é que se percebeu que a gramática jurídica desse ima-
ginário padecia de um autoengano que deixava uma série de vidas totalmente
nuas em relação a qualquer tipo de proteção jurídica.

8
LEGISLAÇÃO SOBRE PROTEÇÃO INTERNACIONAL DA PESSOA HUMANA:
O DIREITO A TER DIREITOS

De certo, ainda hoje vicejam diferenciações (e, portanto, desigualdades)


mais ou menos legitimadas entre os nacionais e os estrangeiros, mas muita coisa
mudou nas últimas décadas. A legislação e os demais instrumentos de proteção
compilados neste volume reproduzem a síntese de uma série de processos his-
tóricos que visaram, ainda que de modo aberto, parcial e passível de críticas
(SOUZA, 2016), superar o vínculo “moderno” entre direitos humanos e soberania
nacional, traduzindo um esforço da comunidade internacional em construção de
garantir certos direitos ou, ao menos, o “direito de ter direitos” (ARENDT, 2012, p.
403) a uma série de grupos até então desprotegidos.
De certo, passa-se aqui ao largo de vários processos e documentos que,
desde o início do século XX, constituíram o prenúncio de institutos e formas
de proteção aos direitos humanos dos estrangeiros e migrantes, a exemplo de
atos e acordos assinados no âmbito da chamada Liga das Nações (ANDRADE,
1996). Em compensação, procura-se aqui listar alguns dispositivos coligidos de
documentos centrais para a proteção dos direitos humanos, relacionados ao
tema aqui tratado, como os dispositivos constitucionais pertinentes e artigos
selecionados da Convenção Americana sobre Direitos Humanos.
Optou-se também por priorizar documentos como a Convenção sobre o
Estatuto dos Refugiados, aprovada pela Assembleia Geral da ONU de 1951, e o Pro-
tocolo de 1967 sobre o Estatuto dos Refugiados, hoje os dois grandes tratados de
referência no âmbito das Nações Unidas para a proteção de refugiados. Tal opção
deve-se tanto ao fato de reverem e ratificarem os documentos de proteção anterio-
res, como é o caso do primeiro, quanto por abolirem as reservas geográficas e tem-
porais para o reconhecimento da condição de refugiado, como é o caso do segundo.
Esta coletânea traz também alguns tratados e instrumentos de proteção
regionais cuja significação histórica e prática é de grande valia para estudantes,
pesquisadores e demais profissionais interessados na questão do refúgio. Esse é
o caso, por exemplo, da Convenção Relativa aos Aspectos Específicos dos Refu-
giados Africanos, adotada pela Organização da Unidade Africana (OUA) em 1969.
Além de externar uma perspectiva não europeia da proteção aos refugiados, essa
convenção ganhou importância doutrinária por ampliar em seus dispositivos o
caráter e as situações albergadas para a concessão de refúgio (JUBILUT, 2007,
p. 88). De forma similar, a Declaração de Cartagena de 1984, apesar de não vin-
culante, é aqui também reproduzida, dentre outras razões, por também contem-
plar uma definição ampliada do mesmo instituto, tendo sido importante para
a própria positivação do conceito de refúgio no ordenamento jurídico nacional.
Além de documentos pertinentes à situação dos refugiados, esta cole-
tânea buscou reproduzir ainda instrumentos como a Convenção sobre Asilo
Diplomático (10ª CONFERÊNCIA INTERAMERICANA, Caracas, 1954). Apesar de
hoje em dia o instituto do asilo, em sentido estrito, ter-se tornado “secundário”
na comunidade internacional, sendo praticado sobretudo na América Latina,

9
considerou-se importante elencar aqui ao menos um documento de referência
para que se marcasse a diferenciação entre asilo, em sentido estrito, e refúgio,
relacionada a aspectos como o caráter discricionário da concessão do primeiro
e o caráter reconhecitivo do segundo (GODOY, 2017), bem como a limitação do
asilo a questões relacionadas à perseguição política, comparada ao caráter mais
abrangente do refúgio.
Não se poderia deixar de elencar também documentos relacionados à
questão da apatridia, uma vez que, segundo dados do Alto Comissariado das
Nações Unidas, em 2011, cerca de 12 milhões de pessoas eram apátridas em
todo o mundo (NAÇÕES UNIDAS, 2011). Documentos como a Convenção sobre
o Estatuto dos Apátridas, de 1954, e a Convenção para a Redução dos Casos de
Apatridia, de 1961, conformam expressões da luta pelo direito de se ter direitos
e não poderiam ficar de fora deste volume.
Por fim, destaca-se aqui, além da Lei nº 9.474/1997, destinada a imple-
mentar no Brasil as disposições do Estatuto dos Refugiados, a Lei nº 13.445/2017,
diploma geral de migração vigente no país, elogiado pelas Nações Unidas como
norma legal garantidora de direitos, que dá título a este volume. A referida legis-
lação traz novidades como a positivação do instituto da “acolhida humanitária” e
estabelece ainda uma série de diretrizes para o balizamento da condição jurídica
do imigrante no Brasil, tendo como pano de fundo uma proteção humanista
dessa condição (VARELLA et al., 2017).
Espera-se que este volume possa auxiliar em estudos, pesquisas, práticas
profissionais e políticas relacionadas aos temas aqui coligidos, cada vez mais
candentes na condição atual de nossas sociedades. Agradeço especialmente
aos senhores Gabriel Gualano de Godoy e Fabrício Toledo de Souza pelas con-
tribuições inestimáveis para a edição desta coletânea.

Referências
ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas: reflexões sobre a origem e a difusão
do nacionalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
ANDRADE, José H. Fischel. Direito internacional dos refugiados: evolução histórica
(1921-1952). Rio de Janeiro: Renovar, 1996.
ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo: antissemitismo, imperialismo, totalitarismo.
São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
BASLEZ, Marie-Françoise. L’étranger dans la Grèce Antique. Paris: Les Belles Lettres,
1984.
GODOY, Gabriel Gualano de. O que significa reconhecimento da condição de refugiado?
In: JUBILUT, Liliana Lyra; GODOY, Gabriel Gualano de. Refúgio no Brasil: comentários à
Lei 9.474/97. São Paulo: Ed. Quartier Latin do Brasil; ACNUR, 2017.
GRABBE, Lester. Leviticus. In: BARTON, John (Org.). Oxford Bible commentary. Oxford:
Oxford University Press, 1998.
JOLOWICZ, Herbert Felix et al. Roman law. Encyclopaedia Britannica online. Disponível
em: <https://www.britannica.com/topic/Roman-law>. Acesso em: 26 jun. 2018.

10
LEGISLAÇÃO SOBRE PROTEÇÃO INTERNACIONAL DA PESSOA HUMANA:
O DIREITO A TER DIREITOS

JUBILUT, Liliana Lyra. O direito internacional dos refugiados e sua aplicação no


ordenamento jurídico brasileiro. São Paulo: Método, 2007.
LEVÍTICO. In: BÍBLIA SAGRADA. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. 2.
Ed. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993.
NAÇÕES UNIDAS. Alto Comissariado para Refugiados. Protegendo o direito dos
apátridas: Convenção da ONU de 1954 sobre o Estatuto dos Apátridas. Genebra: ACNUR,
2011. Disponível em: <http://www.refworld.org/cgibin/texis/vtx/rwmain/opendocpdf.
pdf?reldoc=y&docid=4fd737eb2>. Acesso em: 29 jun. 2018.
SOUZA, Fabrício Toledo de. A crise do refúgio e o refugiado como crise. 2016. 204 f. Tese
(Doutorado em Direito) – Programa de Pós-Graduação em Direito do Departamento de
Direito, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2016.
TAYLOR, Charles. Imaginários sociais modernos. Lisboa: Ed. Texto & Grafia, 2010.
VARELLA, Marcelo Dias et al. O caráter humanista da Lei de Migrações: avanços da
Lei nº 13.445/2017 e os desafios da regulamentação. Revista de Direito Internacional,
Brasília-DF, v. 14, n. 2, p. 254-266, 2017.

11
LEI Nº 13.445, DE 24 DE MAIO DE 2017 II – repúdio e prevenção à xenofobia, ao racismo
(LEI DE MIGRAÇÃO) e a quaisquer formas de discriminação;
(Publicada no DOU de 25/5/2017) III – não criminalização da migração;
IV – não discriminação em razão dos critérios ou
Institui a Lei de Migração.
dos procedimentos pelos quais a pessoa foi admi-
O presidente da República
tida em território nacional;
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu
V – promoção de entrada regular e de regulari-
sanciono a seguinte Lei:
zação documental;
CAPÍTULO I VI – acolhida humanitária;
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES VII – desenvolvimento econômico, turístico, so-
Seção I cial, cultural, esportivo, científico e tecnológico
Disposições Gerais do Brasil;
VIII – garantia do direito à reunião familiar;
Art. 1º Esta Lei dispõe sobre os direitos e os deve-
IX – igualdade de tratamento e de oportunidade
res do migrante e do visitante, regula a sua entra-
ao migrante e a seus familiares;
da e estada no País e estabelece princípios e dire-
X – inclusão social, laboral e produtiva do mi-
trizes para as políticas públicas para o emigrante.
grante por meio de políticas públicas;
§ 1º Para os fins desta Lei, considera-se:
XI – acesso igualitário e livre do migrante a servi-
I – (Vetado)
ços, programas e benefícios sociais, bens públicos,
II – imigrante: pessoa nacional de outro país ou educação, assistência jurídica integral pública,
apátrida que trabalha ou reside e se estabelece trabalho, moradia, serviço bancário e seguridade
temporária ou definitivamente no Brasil; social;
III – emigrante: brasileiro que se estabelece tem- XII – promoção e difusão de direitos, liberdades,
porária ou definitivamente no exterior; garantias e obrigações do migrante;
IV – residente fronteiriço: pessoa nacional de XIII – diálogo social na formulação, na execução
país limítrofe ou apátrida que conserva a sua re- e na avaliação de políticas migratórias e promo-
sidência habitual em município fronteiriço de país ção da participação cidadã do migrante;
vizinho; XIV – fortalecimento da integração econômica,
V – visitante: pessoa nacional de outro país ou política, social e cultural dos povos da América La-
apátrida que vem ao Brasil para estadas de curta tina, mediante constituição de espaços de cidada-
duração, sem pretensão de se estabelecer tem- nia e de livre circulação de pessoas;
porária ou definitivamente no território nacional; XV – cooperação internacional com Estados de
VI – apátrida: pessoa que não seja considerada origem, de trânsito e de destino de movimentos
como nacional por nenhum Estado, segundo a sua migratórios, a fim de garantir efetiva proteção aos
legislação, nos termos da Convenção sobre o Es- direitos humanos do migrante;
tatuto dos Apátridas, de 1954, promulgada pelo XVI – integração e desenvolvimento das regiões
Decreto nº 4.246, de 22 de maio de 2002, ou assim de fronteira e articulação de políticas públicas re-
reconhecida pelo Estado brasileiro. gionais capazes de garantir efetividade aos direi-
§ 2º (Vetado) tos do residente fronteiriço;
Art. 2º Esta Lei não prejudica a aplicação de nor- XVII – proteção integral e atenção ao superior
mas internas e internacionais específicas sobre re- interesse da criança e do adolescente migrante;
fugiados, asilados, agentes e pessoal diplomático XVIII – observância ao disposto em tratado;
ou consular, funcionários de organização interna- XIX – proteção ao brasileiro no exterior;
cional e seus familiares. XX – migração e desenvolvimento humano no
local de origem, como direitos inalienáveis de
Seção II todas as pessoas;
Dos Princípios e das Garantias
XXI – promoção do reconhecimento acadêmico
Art. 3º A política migratória brasileira rege-se e do exercício profissional no Brasil, nos termos
pelos seguintes princípios e diretrizes: da lei; e
I – universalidade, indivisibilidade e interdepen- XXII – repúdio a práticas de expulsão ou de depor-
dência dos direitos humanos; tação coletivas.
12
LEI Nº 13.445, DE 24 DE MAIO DE 2017


Art. 4º Ao migrante é garantida no território nacio- § 1º Os direitos e as garantias previstos nesta
nal, em condição de igualdade com os nacionais, Lei serão exercidos em observância ao disposto
a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, na Constituição Federal, independentemente da
à igualdade, à segurança e à propriedade, bem situação migratória, observado o disposto no § 4º
como são assegurados: deste artigo, e não excluem outros decorrentes de
I – direitos e liberdades civis, sociais, culturais tratado de que o Brasil seja parte.
e econômicos; § 2º (Vetado)
II – direito à liberdade de circulação em territó- § 3º (Vetado)
rio nacional; § 4º (Vetado)
III – direito à reunião familiar do migrante com
seu cônjuge ou companheiro e seus filhos, fami- CAPÍTULO II
liares e dependentes; DA SITUAÇÃO DOCUMENTAL DO
MIGRANTE E DO VISITANTE
IV – medidas de proteção a vítimas e testemu-
nhas de crimes e de violações de direitos; Seção I
V – direito de transferir recursos decorrentes de Dos Documentos de Viagem
sua renda e economias pessoais a outro país, ob- Art. 5º São documentos de viagem:
servada a legislação aplicável;
I – passaporte;
VI – direito de reunião para fins pacíficos;
II – laissez-passer;
VII – direito de associação, inclusive sindical,
III – autorização de retorno;
para fins lícitos;
IV – salvo-conduto;
VIII – acesso a serviços públicos de saúde e de
V – carteira de identidade de marítimo;
assistência social e à previdência social, nos ter-
VI – carteira de matrícula consular;
mos da lei, sem discriminação em razão da nacio-
VII – documento de identidade civil ou do-
nalidade e da condição migratória;
IX – amplo acesso à justiça e à assistência jurí- cumento estrangeiro equivalente, quando admi-
dica integral gratuita aos que comprovarem insu- tidos em tratado;
ficiência de recursos; VIII – certificado de membro de tripulação de
X – direito à educação pública, vedada a discri- transporte aéreo; e
minação em razão da nacionalidade e da condição IX – outros que vierem a ser reconhecidos pelo
migratória; Estado brasileiro em regulamento.
XI – garantia de cumprimento de obrigações le- § 1º Os documentos previstos nos incisos I, II,
gais e contratuais trabalhistas e de aplicação das III, IV, V, VI e IX, quando emitidos pelo Estado bra-
normas de proteção ao trabalhador, sem discrimi- sileiro, são de propriedade da União, cabendo a
nação em razão da nacionalidade e da condição seu titular a posse direta e o uso regular.
migratória; § 2º As condições para a concessão dos do-
XII – isenção das taxas de que trata esta Lei, me- cumentos de que trata o § 1º serão previstas em
diante declaração de hipossuficiência econômica, regulamento.
na forma de regulamento;
Seção II
XIII – direito de acesso à informação e garantia
Dos Vistos
de confidencialidade quanto aos dados pessoais
do migrante, nos termos da Lei nº 12.527, de 18 de Subseção I
novembro de 2011; Disposições Gerais
XIV – direito a abertura de conta bancária; Art. 6º O visto é o documento que dá a seu titular
XV – direito de sair, de permanecer e de rein-
expectativa de ingresso em território nacional.
gressar em território nacional, mesmo enquan-
Parágrafo único. (Vetado)
to pendente pedido de autorização de residência,
de prorrogação de estada ou de transformação de Art. 7º O visto será concedido por embaixadas,
visto em autorização de residência; e consulados gerais, consulados, vice-consulados
XVI – direito do imigrante de ser informado e, quando habilitados pelo órgão competente do
sobre as garantias que lhe são asseguradas para Poder Executivo, por escritórios comerciais e de
fins de regularização migratória. representação do Brasil no exterior.
13
Parágrafo único. Excepcionalmente, os vistos di- Subseção III
plomático, oficial e de cortesia poderão ser conce- Do Visto de Visita
didos no Brasil. Art. 13. O visto de visita poderá ser concedido ao
Art. 8º Poderão ser cobrados taxas e emolumen- visitante que venha ao Brasil para estada de curta
tos consulares pelo processamento do visto. duração, sem intenção de estabelecer residência,
nos seguintes casos:
Art. 9º Regulamento disporá sobre:
I – turismo;
I – requisitos de concessão de visto, bem como
II – negócios;
de sua simplificação, inclusive por reciprocidade;
III – trânsito;
II – prazo de validade do visto e sua forma de
IV – atividades artísticas ou desportivas; e
contagem;
V – outras hipóteses definidas em regulamento.
III – prazo máximo para a primeira entrada e
§ 1º É vedado ao beneficiário de visto de visita
para a estada do imigrante e do visitante no País;
exercer atividade remunerada no Brasil.
IV – hipóteses e condições de dispensa recí-
§  2º O beneficiário de visto de visita poderá
proca ou unilateral de visto e de taxas e emolu-
receber pagamento do governo, de empregador
mentos consulares por seu processamento; e brasileiro ou de entidade privada a título de diária,
V – solicitação e emissão de visto por meio ele- ajuda de custo, cachê, pró-labore ou outras despe-
trônico. sas com a viagem, bem como concorrer a prêmios,
Parágrafo único. A simplificação e a dispensa re- inclusive em dinheiro, em competições desporti-
cíproca de visto ou de cobrança de taxas e emo- vas ou em concursos artísticos ou culturais.
lumentos consulares por seu processamento po- § 3º O visto de visita não será exigido em caso de
derão ser definidas por comunicação diplomática. escala ou conexão em território nacional, desde
Art. 10. Não se concederá visto: que o visitante não deixe a área de trânsito inter-
I – a quem não preencher os requisitos para o nacional.
tipo de visto pleiteado; Subseção IV
II – a quem comprovadamente ocultar condição Do Visto Temporário
impeditiva de concessão de visto ou de ingresso
Art. 14. O visto temporário poderá ser concedido
no País; ou
ao imigrante que venha ao Brasil com o intuito de
III – a menor de 18 (dezoito) anos desacompanha- estabelecer residência por tempo determinado e
do ou sem autorização de viagem por escrito dos que se enquadre em pelo menos uma das seguin-
responsáveis legais ou de autoridade competente. tes hipóteses:
Art. 11. Poderá ser denegado visto a quem se en- I – o visto temporário tenha como finalidade:
quadrar em pelo menos um dos casos de impedi- a) pesquisa, ensino ou extensão acadêmica;
mento definidos nos incisos I, II, III, IV e IX do art. 45. b) tratamento de saúde;
Parágrafo único. A pessoa que tiver visto brasi- c) acolhida humanitária;
leiro denegado será impedida de ingressar no País d) estudo;
enquanto permanecerem as condições que ense- e) trabalho;
jaram a denegação. f) férias-trabalho;
g) prática de atividade religiosa ou serviço vo-
Subseção II
luntário;
Dos Tipos de Visto
h) realização de investimento ou de atividade
Art. 12. Ao solicitante que pretenda ingressar ou com relevância econômica, social, científica, tec-
permanecer em território nacional poderá ser nológica ou cultural;
concedido visto: i) reunião familiar;
I – de visita; j) atividades artísticas ou desportivas com con-
II – temporário; trato por prazo determinado;
III – diplomático; II – o imigrante seja beneficiário de tratado em
IV – oficial; matéria de vistos;
V – de cortesia. III – outras hipóteses definidas em regulamento.
14
LEI Nº 13.445, DE 24 DE MAIO DE 2017


§ 1º O visto temporário para pesquisa, ensino Subseção V


ou extensão acadêmica poderá ser concedido ao Dos Vistos Diplomático, Oficial e de Cortesia
imigrante com ou sem vínculo empregatício com Art. 15. Os vistos diplomático, oficial e de cortesia
a instituição de pesquisa ou de ensino brasileira, serão concedidos, prorrogados ou dispensados na
exigida, na hipótese de vínculo, a comprovação forma desta Lei e de regulamento.
de formação superior compatível ou equivalente Parágrafo único. Os vistos diplomático e oficial
reconhecimento científico. poderão ser transformados em autorização de
§ 2º O visto temporário para tratamento de residência, o que importará cessação de todas as
saúde poderá ser concedido ao imigrante e a seu prerrogativas, privilégios e imunidades decorren-
acompanhante, desde que o imigrante comprove tes do respectivo visto.
possuir meios de subsistência suficientes.
§ 3º O visto temporário para acolhida humanitária Art. 16. Os vistos diplomático e oficial poderão ser
poderá ser concedido ao apátrida ou ao nacional de concedidos a autoridades e funcionários estran-
qualquer país em situação de grave ou iminente ins- geiros que viajem ao Brasil em missão oficial de
tabilidade institucional, de conflito armado, de cala- caráter transitório ou permanente, representando
midade de grande proporção, de desastre ambien- Estado estrangeiro ou organismo internacional re-
tal ou de grave violação de direitos humanos ou de conhecido.
direito internacional humanitário, ou em outras hi- § 1º Não se aplica ao titular dos vistos referidos no
póteses, na forma de regulamento. caput o disposto na legislação trabalhista brasileira.
§ 4º O visto temporário para estudo poderá ser § 2º Os vistos diplomático e oficial poderão ser
concedido ao imigrante que pretenda vir ao Brasil estendidos aos dependentes das autoridades re-
para frequentar curso regular ou realizar estágio feridas no caput.
ou intercâmbio de estudo ou de pesquisa. Art. 17. O titular de visto diplomático ou oficial
§ 5º Observadas as hipóteses previstas em regula- somente poderá ser remunerado por Estado es-
mento, o visto temporário para trabalho poderá ser trangeiro ou organismo internacional, ressalvado
concedido ao imigrante que venha exercer atividade o disposto em tratado que contenha cláusula es-
laboral, com ou sem vínculo empregatício no Brasil, pecífica sobre o assunto.
desde que comprove oferta de trabalho formaliza- Parágrafo único. O dependente de titular de
da por pessoa jurídica em atividade no País, dispen- visto diplomático ou oficial poderá exercer ati-
sada esta exigência se o imigrante comprovar titu- vidade remunerada no Brasil, sob o amparo da
lação em curso de ensino superior ou equivalente. legislação trabalhista brasileira, desde que seja
§ 6º O visto temporário para férias-trabalho po- nacional de país que assegure reciprocidade de
derá ser concedido ao imigrante maior de 16 (de- tratamento ao nacional brasileiro, por comunica-
zesseis) anos que seja nacional de país que con- ção diplomática.
ceda idêntico benefício ao nacional brasileiro, em
Art. 18. O empregado particular titular de visto de
termos definidos por comunicação diplomática.
cortesia somente poderá exercer atividade remu-
§ 7º Não se exigirá do marítimo que ingressar no
nerada para o titular de visto diplomático, oficial
Brasil em viagem de longo curso ou em cruzeiros
ou de cortesia ao qual esteja vinculado, sob o am-
marítimos pela costa brasileira o visto temporário
paro da legislação trabalhista brasileira.
de que trata a alínea e do inciso I do caput, bas-
Parágrafo único. O titular de visto diplomático,
tando a apresentação da carteira internacional de
oficial ou de cortesia será responsável pela saída
marítimo, nos termos de regulamento.
de seu empregado do território nacional.
§ 8º É reconhecida ao imigrante a quem se
tenha concedido visto temporário para trabalho Seção III
a possibilidade de modificação do local de exer- Do Registro e da Identificação Civil do
cício de sua atividade laboral. Imigrante e dos Detentores de Vistos
§ 9º O visto para realização de investimento
Diplomático, Oficial e de Cortesia
poderá ser concedido ao imigrante que aporte re- Art. 19. O registro consiste na identificação civil
cursos em projeto com potencial para geração de por dados biográficos e biométricos, e é obrigató-
empregos ou de renda no País. rio a todo imigrante detentor de visto temporário
§ 10. (Vetado) ou de autorização de residência.
15
§ 1º O registro gerará número único de identi- I – tiver fraudado documento ou utilizado do-
ficação que garantirá o pleno exercício dos atos cumento falso para obtê-lo;
da vida civil. II – obtiver outra condição migratória;
§ 2º O documento de identidade do imigrante III – sofrer condenação penal; ou
será expedido com base no número único de iden- IV – exercer direito fora dos limites previstos na
tificação. autorização.
§ 3º Enquanto não for expedida identificação
Seção II
civil, o documento comprobatório de que o imi-
Da Proteção do Apátrida e da
grante a solicitou à autoridade competente garan-
Redução da Apatridia
tirá ao titular o acesso aos direitos disciplinados
nesta Lei. Art. 26. Regulamento disporá sobre instituto pro-
tetivo especial do apátrida, consolidado em proces-
Art. 20. A identificação civil de solicitante de re-
so simplificado de naturalização.
fúgio, de asilo, de reconhecimento de apatridia e
de acolhimento humanitário poderá ser realizada § 1º O processo de que trata o caput será iniciado
com a apresentação dos documentos de que o tão logo seja reconhecida a situação de apatridia.
imigrante dispuser. § 2º Durante a tramitação do processo de reco-
nhecimento da condição de apátrida, incidem to-
Art. 21. Os documentos de identidade emitidos
das as garantias e mecanismos protetivos e de fa-
até a data de publicação desta Lei continuarão vá-
cilitação da inclusão social relativos à Convenção
lidos até sua total substituição.
sobre o Estatuto dos Apátridas de 1954, promulga-
Art. 22. A identificação civil, o documento de da pelo Decreto nº 4.246, de 22 de maio de 2002,
identidade e as formas de gestão da base cadas- à Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados,
tral dos detentores de vistos diplomático, oficial
promulgada pelo Decreto nº 50.215, de 28 de janei-
e de cortesia atenderão a disposições específicas
ro de 1961, e à Lei nº 9.474, de 22 de julho de 1997.
previstas em regulamento.
§ 3º Aplicam-se ao apátrida residente todos os di-
CAPÍTULO III reitos atribuídos ao migrante relacionados no art. 4º.
DA CONDIÇÃO JURÍDICA DO § 4º O reconhecimento da condição de apátrida
MIGRANTE E DO VISITANTE
assegura os direitos e garantias previstos na Con-
Seção I venção sobre o Estatuto dos Apátridas, de 1954,
Do Residente Fronteiriço promulgada pelo Decreto nº 4.246, de 22 de maio
Art. 23. A fim de facilitar a sua livre circulação, po- de 2002, bem como outros direitos e garantias re-
derá ser concedida ao residente fronteiriço, me- conhecidos pelo Brasil.
diante requerimento, autorização para a realiza- § 5º O processo de reconhecimento da condi-
ção de atos da vida civil. ção de apátrida tem como objetivo verificar se o
Parágrafo único. Condições específicas poderão solicitante é considerado nacional pela legislação
ser estabelecidas em regulamento ou tratado. de algum Estado e poderá considerar informações,
Art. 24. A autorização referida no caput do art. 23 documentos e declarações prestadas pelo próprio
indicará o Município fronteiriço no qual o resi- solicitante e por órgãos e organismos nacionais e
dente estará autorizado a exercer os direitos a ele internacionais.
atribuídos por esta Lei. § 6º Reconhecida a condição de apátrida, nos
§ 1º O residente fronteiriço detentor da auto- termos do inciso VI do § 1º do art. 1º, o solicitante
rização gozará das garantias e dos direitos asse- será consultado sobre o desejo de adquirir a na-
gurados pelo regime geral de migração desta Lei, cionalidade brasileira.
conforme especificado em regulamento. § 7º Caso o apátrida opte pela naturalização,
§ 2º O espaço geográfico de abrangência e de a decisão sobre o reconhecimento será encami-
validade da autorização será especificado no do- nhada ao órgão competente do Poder Executivo
cumento de residente fronteiriço. para publicação dos atos necessários à efetivação
Art. 25. O documento de residente fronteiriço da naturalização no prazo de 30 (trinta) dias, ob-
será cancelado, a qualquer tempo, se o titular: servado o art. 65.
16
LEI Nº 13.445, DE 24 DE MAIO DE 2017


§ 8º O apátrida reconhecido que não opte pela f) férias-trabalho;


naturalização imediata terá a autorização de resi- g) prática de atividade religiosa ou serviço vo-
dência outorgada em caráter definitivo. luntário;
§ 9º Caberá recurso contra decisão negativa de h) realização de investimento ou de atividade
reconhecimento da condição de apátrida. com relevância econômica, social, científica, tec-
§ 10. Subsistindo a denegação do reconheci- nológica ou cultural;
mento da condição de apátrida, é vedada a de- i) reunião familiar;
volução do indivíduo para país onde sua vida, in- II – a pessoa:
tegridade pessoal ou liberdade estejam em risco. a) seja beneficiária de tratado em matéria de
§ 11. Será reconhecido o direito de reunião fa- residência e livre circulação;
miliar a partir do reconhecimento da condição de b) seja detentora de oferta de trabalho;
apátrida.
c) já tenha possuído a nacionalidade brasileira
§ 12. Implica perda da proteção conferida por
e não deseje ou não reúna os requisitos para
esta Lei:
readquiri-la;
I – a renúncia;
d) (Vetado)
II – a prova da falsidade dos fundamentos in-
e) seja beneficiária de refúgio, de asilo ou de
vocados para o reconhecimento da condição de
proteção ao apátrida;
apátrida; ou
f) seja menor nacional de outro país ou apátrida,
III – a existência de fatos que, se fossem conhe-
desacompanhado ou abandonado, que se encontre
cidos por ocasião do reconhecimento, teriam en-
nas fronteiras brasileiras ou em território nacional;
sejado decisão negativa.
g) tenha sido vítima de tráfico de pessoas, de
Seção III trabalho escravo ou de violação de direito agra-
Do Asilado
vada por sua condição migratória;
Art. 27. O asilo político, que constitui ato discri- h) esteja em liberdade provisória ou em cumpri-
cionário do Estado, poderá ser diplomático ou mento de pena no Brasil;
territorial e será outorgado como instrumento de III – outras hipóteses definidas em regulamento.
proteção à pessoa. § 1º Não se concederá a autorização de residên-
Parágrafo único. Regulamento disporá sobre as cia a pessoa condenada criminalmente no Brasil
condições para a concessão e a manutenção de asilo. ou no exterior por sentença transitada em julgado,
Art. 28. Não se concederá asilo a quem tenha co- desde que a conduta esteja tipificada na legisla-
metido crime de genocídio, crime contra a huma- ção penal brasileira, ressalvados os casos em que:
nidade, crime de guerra ou crime de agressão, nos I – a conduta caracterize infração de menor po-
termos do Estatuto de Roma do Tribunal Penal tencial ofensivo;
Internacional, de 1998, promulgado pelo Decreto II – (Vetado)
nº 4.388, de 25 de setembro de 2002. III – a pessoa se enquadre nas hipóteses previs-
Art. 29. A saída do asilado do País sem prévia co- tas nas alíneas b, c e i do inciso I e na alínea a do
municação implica renúncia ao asilo. inciso II do caput deste artigo.
§ 2º O disposto no § 1º não obsta progressão
Seção IV
Da Autorização de Residência de regime de cumprimento de pena, nos termos
da Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984, ficando a
Art. 30. A residência poderá ser autorizada, me-
pessoa autorizada a trabalhar quando assim exi-
diante registro, ao imigrante, ao residente frontei-
gido pelo novo regime de cumprimento de pena.
riço ou ao visitante que se enquadre em uma das
§ 3º Nos procedimentos conducentes ao cance-
seguintes hipóteses:
lamento de autorização de residência e no recurso
I – a residência tenha como finalidade:
contra a negativa de concessão de autorização de
a) pesquisa, ensino ou extensão acadêmica;
residência devem ser respeitados o contraditório
b) tratamento de saúde;
e a ampla defesa.
c) acolhida humanitária;
d) estudo; Art. 31. Os prazos e o procedimento da autori-
e) trabalho; zação de residência de que trata o art. 30 serão
17
dispostos em regulamento, observado o disposto II – filho de imigrante beneficiário de autorização
nesta Lei. de residência, ou que tenha filho brasileiro ou imi-
§ 1º Será facilitada a autorização de residência grante beneficiário de autorização de residência;
nas hipóteses das alíneas a e e do inciso I do art. 30 III – ascendente, descendente até o segundo
desta Lei, devendo a deliberação sobre a autoriza- grau ou irmão de brasileiro ou de imigrante bene-
ção ocorrer em prazo não superior a 60 (sessenta) ficiário de autorização de residência; ou
dias, a contar de sua solicitação. IV – que tenha brasileiro sob sua tutela ou guarda.
§ 2º Nova autorização de residência poderá ser Parágrafo único. (Vetado)
concedida, nos termos do art. 30, mediante reque-
rimento. CAPÍTULO IV
§ 3º O requerimento de nova autorização de
DA ENTRADA E DA SAÍDA DO
TERRITÓRIO NACIONAL
residência após o vencimento do prazo da auto-
rização anterior implicará aplicação da sanção Seção I
prevista no inciso II do art. 109. Da Fiscalização Marítima,
§ 4º O solicitante de refúgio, de asilo ou de pro- Aeroportuária e de Fronteira
teção ao apátrida fará jus a autorização provisória Art. 38. As funções de polícia marítima, aeropor-
de residência até a obtenção de resposta ao seu tuária e de fronteira serão realizadas pela Polícia
pedido. Federal nos pontos de entrada e de saída do ter-
§ 5º Poderá ser concedida autorização de resi-
ritório nacional.
dência independentemente da situação migratória.
Parágrafo único. É dispensável a fiscalização de
Art. 32. Poderão ser cobradas taxas pela autori- passageiro, tripulante e estafe de navio em passa-
zação de residência. gem inocente, exceto quando houver necessidade
Art. 33. Regulamento disporá sobre a perda e o de descida de pessoa a terra ou de subida a bordo
cancelamento da autorização de residência em do navio.
razão de fraude ou de ocultação de condição im- Art. 39. O viajante deverá permanecer em área de
peditiva de concessão de visto, de ingresso ou de fiscalização até que seu documento de viagem te-
permanência no País, observado procedimento
nha sido verificado, salvo os casos previstos em lei.
administrativo que garanta o contraditório e a
ampla defesa. Art. 40. Poderá ser autorizada a admissão ex-
cepcional no País de pessoa que se encontre em
Art. 34. Poderá ser negada autorização de resi-
uma das seguintes condições, desde que esteja de
dência com fundamento nas hipóteses previstas
posse de documento de viagem válido:
nos incisos I, II, III, IV e IX do art. 45.
I – não possua visto;
Art. 35. A posse ou a propriedade de bem no Bra- II – seja titular de visto emitido com erro ou
sil não confere o direito de obter visto ou autori-
omissão;
zação de residência em território nacional, sem
III – tenha perdido a condição de residente por
prejuízo do disposto sobre visto para realização
ter permanecido ausente do País na forma espe-
de investimento.
cificada em regulamento e detenha as condições
Art. 36. O visto de visita ou de cortesia poderá ser objetivas para a concessão de nova autorização
transformado em autorização de residência, me- de residência;
diante requerimento e registro, desde que satisfei- IV – (Vetado)
tos os requisitos previstos em regulamento. V – seja criança ou adolescente desacompa-
Seção V nhado de responsável legal e sem autorização
Da Reunião Familiar expressa para viajar desacompanhado, indepen-
Art. 37. O visto ou a autorização de residência dentemente do documento de viagem que portar,
para fins de reunião familiar será concedido ao hipótese em que haverá imediato encaminha-
imigrante: mento ao Conselho Tutelar ou, em caso de ne-
I – cônjuge ou companheiro, sem discriminação cessidade, a instituição indicada pela autoridade
alguma; competente.
18
LEI Nº 13.445, DE 24 DE MAIO DE 2017


Parágrafo único. Regulamento poderá dispor VII – cuja razão da viagem não seja condizente
sobre outras hipóteses excepcionais de admissão, com o visto ou com o motivo alegado para a isen-
observados os princípios e as diretrizes desta Lei. ção de visto;
Art. 41. A entrada condicional, em território na- VIII – que tenha, comprovadamente, fraudado
cional, de pessoa que não preencha os requisitos documentação ou prestado informação falsa por
de admissão poderá ser autorizada mediante a ocasião da solicitação de visto; ou
assinatura, pelo transportador ou por seu agente, IX – que tenha praticado ato contrário aos princí-
de termo de compromisso de custear as despesas pios e objetivos dispostos na Constituição Federal.
com a permanência e com as providências para a Parágrafo único. Ninguém será impedido de in-
repatriação do viajante. gressar no País por motivo de raça, religião, na-
Art. 42. O tripulante ou o passageiro que, por cionalidade, pertinência a grupo social ou opinião
motivo de força maior, for obrigado a interrom- política.
per a viagem em território nacional poderá ter CAPÍTULO V
seu desembarque permitido mediante termo de DAS MEDIDAS DE RETIRADA COMPULSÓRIA
responsabilidade pelas despesas decorrentes do
Seção I
transbordo.
Disposições Gerais
Art. 43. A autoridade responsável pela fiscali-
Art. 46. A aplicação deste Capítulo observará o dis-
zação contribuirá para a aplicação de medidas
posto na Lei nº 9.474, de 22 de julho de 1997, e nas
sanitárias em consonância com o Regulamento
disposições legais, tratados, instrumentos e meca-
Sanitário Internacional e com outras disposições
nismos que tratem da proteção aos apátridas ou
pertinentes.
de outras situações humanitárias.
Seção II
Do Impedimento de Ingresso Art. 47. A repatriação, a deportação e a expulsão
serão feitas para o país de nacionalidade ou de
Art. 44. (Vetado)
procedência do migrante ou do visitante, ou para
Art. 45. Poderá ser impedida de ingressar no País, outro que o aceite, em observância aos tratados
após entrevista individual e mediante ato funda- dos quais o Brasil seja parte.
mentado, a pessoa:
Art. 48. Nos casos de deportação ou expulsão, o
I – anteriormente expulsa do País, enquanto os
efeitos da expulsão vigorarem; chefe da unidade da Polícia Federal poderá repre-
II – condenada ou respondendo a processo por sentar perante o juízo federal, respeitados, nos
ato de terrorismo ou por crime de genocídio, cri- procedimentos judiciais, os direitos à ampla de-
me contra a humanidade, crime de guerra ou crime fesa e ao devido processo legal.
de agressão, nos termos definidos pelo Estatuto Seção II
de Roma do Tribunal Penal Internacional, de 1998, Da Repatriação
promulgado pelo Decreto nº 4.388, de 25 de se-
Art. 49. A repatriação consiste em medida admi-
tembro de 2002;
nistrativa de devolução de pessoa em situação de
III – condenada ou respondendo a processo em
impedimento ao país de procedência ou de na-
outro país por crime doloso passível de extradição
cionalidade.
segundo a lei brasileira;
IV – que tenha o nome incluído em lista de restri- § 1º Será feita imediata comunicação do ato
ções por ordem judicial ou por compromisso assu- fundamentado de repatriação à empresa trans-
mido pelo Brasil perante organismo internacional; portadora e à autoridade consular do país de pro-
V – que apresente documento de viagem que: cedência ou de nacionalidade do migrante ou do
a) não seja válido para o Brasil; visitante, ou a quem o representa.
b) esteja com o prazo de validade vencido; ou § 2º A Defensoria Pública da União será noti-
c) esteja com rasura ou indício de falsificação; ficada, preferencialmente por via eletrônica, no
VI – que não apresente documento de viagem caso do § 4º deste artigo ou quando a repatriação
ou documento de identidade, quando admitido; imediata não seja possível.
19
§ 3º Condições específicas de repatriação podem todos os procedimentos administrativos de de-
ser definidas por regulamento ou tratado, observa- portação.
dos os princípios e as garantias previstos nesta Lei. § 2º A ausência de manifestação da Defenso-
§ 4º Não será aplicada medida de repatriação à ria Pública da União, desde que prévia e devida-
pessoa em situação de refúgio ou de apatridia, de mente notificada, não impedirá a efetivação da
fato ou de direito, ao menor de 18 (dezoito) anos medida de deportação.
desacompanhado ou separado de sua família, ex-
Art. 52. Em se tratando de apátrida, o procedi-
ceto nos casos em que se demonstrar favorável
mento de deportação dependerá de prévia auto-
para a garantia de seus direitos ou para a reinte-
rização da autoridade competente.
gração a sua família de origem, ou a quem necessi-
te de acolhimento humanitário, nem, em qualquer Art. 53. Não se procederá à deportação se a me-
caso, medida de devolução para país ou região dida configurar extradição não admitida pela le-
que possa apresentar risco à vida, à integridade gislação brasileira.
pessoal ou à liberdade da pessoa. Seção IV
§ 5º (Vetado) Da Expulsão
Seção III Art. 54. A expulsão consiste em medida adminis-
Da Deportação trativa de retirada compulsória de migrante ou vi-
Art. 50. A deportação é medida decorrente de pro- sitante do território nacional, conjugada com o im-
cedimento administrativo que consiste na retirada pedimento de reingresso por prazo determinado.
compulsória de pessoa que se encontre em situa- § 1º Poderá dar causa à expulsão a condenação
ção migratória irregular em território nacional. com sentença transitada em julgado relativa à
§ 1º A deportação será precedida de notificação prática de:
pessoal ao deportando, da qual constem, expres- I – crime de genocídio, crime contra a humani-
samente, as irregularidades verificadas e prazo dade, crime de guerra ou crime de agressão, nos
para a regularização não inferior a 60 (sessenta) termos definidos pelo Estatuto de Roma do Tribu-
dias, podendo ser prorrogado, por igual período, nal Penal Internacional, de 1998, promulgado pelo
por despacho fundamentado e mediante compro- Decreto nº 4.388, de 25 de setembro de 2002; ou
misso de a pessoa manter atualizadas suas infor- II – crime comum doloso passível de pena pri-
mações domiciliares. vativa de liberdade, consideradas a gravidade e
§ 2º A notificação prevista no § 1º não impede as possibilidades de ressocialização em território
a livre circulação em território nacional, devendo nacional.
o deportando informar seu domicílio e suas ati- § 2º Caberá à autoridade competente resolver
vidades. sobre a expulsão, a duração do impedimento de
§ 3º Vencido o prazo do § 1º sem que se regu- reingresso e a suspensão ou a revogação dos efei-
larize a situação migratória, a deportação poderá tos da expulsão, observado o disposto nesta Lei.
ser executada. § 3º O processamento da expulsão em caso de
§ 4º A deportação não exclui eventuais direitos crime comum não prejudicará a progressão de re-
adquiridos em relações contratuais ou decorren- gime, o cumprimento da pena, a suspensão con-
tes da lei brasileira. dicional do processo, a comutação da pena ou a
§ 5º A saída voluntária de pessoa notificada para concessão de pena alternativa, de indulto coletivo
deixar o País equivale ao cumprimento da notifi- ou individual, de anistia ou de quaisquer benefí-
cação de deportação para todos os fins. cios concedidos em igualdade de condições ao
§ 6º O prazo previsto no § 1º poderá ser reduzido nacional brasileiro.
nos casos que se enquadrem no inciso IX do art. 45. § 4º O prazo de vigência da medida de impedi-
Art. 51. Os procedimentos conducentes à deporta- mento vinculada aos efeitos da expulsão será pro-
ção devem respeitar o contraditório e a ampla de- porcional ao prazo total da pena aplicada e nunca
fesa e a garantia de recurso com efeito suspensivo. será superior ao dobro de seu tempo.
§ 1º A Defensoria Pública da União deverá ser Art. 55. Não se procederá à expulsão quando:
notificada, preferencialmente por meio eletrônico, I – a medida configurar extradição inadmitida
para prestação de assistência ao deportando em pela legislação brasileira;
20
LEI Nº 13.445, DE 24 DE MAIO DE 2017


II – o expulsando: poderá colocar em risco a vida ou a integridade


a) tiver filho brasileiro que esteja sob sua guarda pessoal.
ou dependência econômica ou socioafetiva ou
CAPÍTULO VI
tiver pessoa brasileira sob sua tutela; DA OPÇÃO DE NACIONALIDADE
b) tiver cônjuge ou companheiro residente no E DA NATURALIZAÇÃO
Brasil, sem discriminação alguma, reconhecido
Seção I
judicial ou legalmente; Da Opção de Nacionalidade
c) tiver ingressado no Brasil até os 12 (doze)
Art. 63. O filho de pai ou de mãe brasileiro nas-
anos de idade, residindo desde então no País;
cido no exterior e que não tenha sido registrado
d) for pessoa com mais de 70 (setenta) anos que
em repartição consular poderá, a qualquer tempo,
resida no País há mais de 10 (dez) anos, considera-
promover ação de opção de nacionalidade.
dos a gravidade e o fundamento da expulsão; ou
Parágrafo único. O órgão de registro deve infor-
e) (Vetado)
mar periodicamente à autoridade competente os
Art. 56. Regulamento definirá procedimentos dados relativos à opção de nacionalidade, con-
para apresentação e processamento de pedidos forme regulamento.
de suspensão e de revogação dos efeitos das me-
Seção II
didas de expulsão e de impedimento de ingresso
Das Condições da Naturalização
e permanência em território nacional.
Art. 64. A naturalização pode ser:
Art. 57. Regulamento disporá sobre condições
I – ordinária;
especiais de autorização de residência para via-
II – extraordinária;
bilizar medidas de ressocialização a migrante e a
III – especial; ou
visitante em cumprimento de penas aplicadas ou
IV – provisória.
executadas em território nacional.
Art. 65. Será concedida a naturalização ordinária
Art. 58. No processo de expulsão serão garantidos
àquele que preencher as seguintes condições:
o contraditório e a ampla defesa.
I – ter capacidade civil, segundo a lei brasileira;
§ 1º A Defensoria Pública da União será notifi-
II – ter residência em território nacional, pelo
cada da instauração de processo de expulsão, se
prazo mínimo de 4 (quatro) anos;
não houver defensor constituído.
III – comunicar-se em língua portuguesa, consi-
§ 2º Caberá pedido de reconsideração da deci-
deradas as condições do naturalizando; e
são sobre a expulsão no prazo de 10 (dez) dias, a
IV – não possuir condenação penal ou estiver
contar da notificação pessoal do expulsando.
reabilitado, nos termos da lei.
Art. 59. Será considerada regular a situação migra-
Art. 66. O prazo de residência fixado no inciso II
tória do expulsando cujo processo esteja pendente
do caput do art. 65 será reduzido para, no mínimo,
de decisão, nas condições previstas no art. 55.
1 (um) ano se o naturalizando preencher quais-
Art. 60. A existência de processo de expulsão não quer das seguintes condições:
impede a saída voluntária do expulsando do País. I – (Vetado)
Seção V II – ter filho brasileiro;
Das Vedações III – ter cônjuge ou companheiro brasileiro e não
estar dele separado legalmente ou de fato no mo-
Art. 61. Não se procederá à repatriação, à depor-
mento de concessão da naturalização;
tação ou à expulsão coletivas.
IV – (Vetado)
Parágrafo único. Entende-se por repatriação,
V – haver prestado ou poder prestar serviço re-
deportação ou expulsão coletiva aquela que não
levante ao Brasil; ou
individualiza a situação migratória irregular de
VI – recomendar-se por sua capacidade profis-
cada pessoa. sional, científica ou artística.
Art. 62. Não se procederá à repatriação, à depor- Parágrafo único. O preenchimento das con-
tação ou à expulsão de nenhum indivíduo quando dições previstas nos incisos V e VI do caput será
subsistirem razões para acreditar que a medida avaliado na forma disposta em regulamento.
21
Art. 67. A naturalização extraordinária será con- Seção III
cedida a pessoa de qualquer nacionalidade fixada Dos Efeitos da Naturalização
no Brasil há mais de 15 (quinze) anos ininterrup- Art. 73. A naturalização produz efeitos após a pu-
tos e sem condenação penal, desde que requeira blicação no Diário Oficial do ato de naturalização.
a nacionalidade brasileira. Art. 74. (Vetado)
Art. 68. A naturalização especial poderá ser con- Seção IV
cedida ao estrangeiro que se encontre em uma Da Perda da Nacionalidade
das seguintes situações:
Art. 75. O naturalizado perderá a nacionalidade
I – seja cônjuge ou companheiro, há mais de em razão de condenação transitada em julgado
5 (cinco) anos, de integrante do Serviço Exterior por atividade nociva ao interesse nacional, nos
Brasileiro em atividade ou de pessoa a serviço do termos do inciso I do § 4º do art. 12 da Constitui-
Estado brasileiro no exterior; ou ção Federal.
II – seja ou tenha sido empregado em missão Parágrafo único. O risco de geração de situação
diplomática ou em repartição consular do Brasil de apatridia será levado em consideração antes
por mais de 10 (dez) anos ininterruptos. da efetivação da perda da nacionalidade.

Art. 69. São requisitos para a concessão da natu- Seção V


ralização especial: Da Reaquisição da Nacionalidade
I – ter capacidade civil, segundo a lei brasileira; Art. 76. O brasileiro que, em razão do previsto no
II – comunicar-se em língua portuguesa, consi- inciso II do § 4º do art. 12 da Constituição Federal,
deradas as condições do naturalizando; e houver perdido a nacionalidade, uma vez cessada
III – não possuir condenação penal ou estiver a causa, poderá readquiri-la ou ter o ato que de-
reabilitado, nos termos da lei. clarou a perda revogado, na forma definida pelo
órgão competente do Poder Executivo.
Art. 70. A naturalização provisória poderá ser
concedida ao migrante criança ou adolescente CAPÍTULO VII
DO EMIGRANTE
que tenha fixado residência em território nacio-
nal antes de completar 10 (dez) anos de idade e Seção I
Das Políticas Públicas para os Emigrantes
deverá ser requerida por intermédio de seu repre-
sentante legal. Art. 77. As políticas públicas para os emigrantes
Parágrafo único. A naturalização prevista no observarão os seguintes princípios e diretrizes:
caput será convertida em definitiva se o naturali- I – proteção e prestação de assistência consular
por meio das representações do Brasil no exterior;
zando expressamente assim o requerer no prazo
II – promoção de condições de vida digna, por
de 2 (dois) anos após atingir a maioridade.
meio, entre outros, da facilitação do registro con-
Art. 71. O pedido de naturalização será apresen- sular e da prestação de serviços consulares relati-
tado e processado na forma prevista pelo órgão vos às áreas de educação, saúde, trabalho, previ-
competente do Poder Executivo, sendo cabível dência social e cultura;
recurso em caso de denegação. III – promoção de estudos e pesquisas sobre os
§ 1º No curso do processo de naturalização, o emigrantes e as comunidades de brasileiros no ex-
naturalizando poderá requerer a tradução ou a terior, a fim de subsidiar a formulação de políticas
adaptação de seu nome à língua portuguesa. públicas;
§ 2º Será mantido cadastro com o nome tradu- IV – atuação diplomática, nos âmbitos bilateral,
regional e multilateral, em defesa dos direitos do
zido ou adaptado associado ao nome anterior.
emigrante brasileiro, conforme o direito interna-
Art. 72. No prazo de até 1 (um) ano após a conces- cional;
são da naturalização, deverá o naturalizado com- V – ação governamental integrada, com a par-
parecer perante a Justiça Eleitoral para o devido ticipação de órgãos do governo com atuação nas
cadastramento. áreas temáticas mencionadas nos incisos I, II, III e
22
LEI Nº 13.445, DE 24 DE MAIO DE 2017


IV, visando a assistir as comunidades brasileiras § 2º A extradição e sua rotina de comunicação
no exterior; e serão realizadas pelo órgão competente do Poder
VI – esforço permanente de desburocratização, Executivo em coordenação com as autoridades ju-
atualização e modernização do sistema de atendi- diciárias e policiais competentes.
mento, com o objetivo de aprimorar a assistência Art. 82. Não se concederá a extradição quando:
ao emigrante. I – o indivíduo cuja extradição é solicitada ao
Seção II Brasil for brasileiro nato;
Dos Direitos do Emigrante II – o fato que motivar o pedido não for consi-
derado crime no Brasil ou no Estado requerente;
Art. 78. Todo emigrante que decida retornar ao
III – o Brasil for competente, segundo suas leis,
Brasil com ânimo de residência poderá introduzir
para julgar o crime imputado ao extraditando;
no País, com isenção de direitos de importação e
IV – a lei brasileira impuser ao crime pena de
de taxas aduaneiras, os bens novos ou usados que
prisão inferior a 2 (dois) anos;
um viajante, em compatibilidade com as circuns-
V – o extraditando estiver respondendo a proces-
tâncias de sua viagem, puder destinar para seu
so ou já houver sido condenado ou absolvido no
uso ou consumo pessoal e profissional, sempre
Brasil pelo mesmo fato em que se fundar o pedido;
que, por sua quantidade, natureza ou variedade,
VI – a punibilidade estiver extinta pela prescrição,
não permitam presumir importação ou exporta-
segundo a lei brasileira ou a do Estado requerente;
ção com fins comerciais ou industriais.
VII – o fato constituir crime político ou de opinião;
Art. 79. Em caso de ameaça à paz social e à ordem VIII – o extraditando tiver de responder, no Es-
pública por grave ou iminente instabilidade insti- tado requerente, perante tribunal ou juízo de ex-
tucional ou de calamidade de grande proporção ceção; ou
na natureza, deverá ser prestada especial assis- IX – o extraditando for beneficiário de refúgio,
tência ao emigrante pelas representações brasi- nos termos da Lei nº 9.474, de 22 de julho de 1997,
leiras no exterior. ou de asilo territorial.
Art. 80. O tripulante brasileiro contratado por § 1º A previsão constante do inciso VII do caput
embarcação ou armadora estrangeira, de cabota- não impedirá a extradição quando o fato consti-
gem ou a longo curso e com sede ou filial no Brasil, tuir, principalmente, infração à lei penal comum
que explore economicamente o mar territorial e ou quando o crime comum, conexo ao delito po-
a costa brasileira terá direito a seguro a cargo do lítico, constituir o fato principal.
contratante, válido para todo o período da con- § 2º Caberá à autoridade judiciária competente
tratação, conforme o disposto no Registro de Em- a apreciação do caráter da infração.
barcações Brasileiras (REB), contra acidente de § 3º Para determinação da incidência do dis-
trabalho, invalidez total ou parcial e morte, sem posto no inciso I, será observada, nos casos de
prejuízo de benefícios de apólice mais favorável aquisição de outra nacionalidade por naturali-
vigente no exterior. zação, a anterioridade do fato gerador da extra-
dição.
CAPÍTULO VIII § 4º O Supremo Tribunal Federal poderá dei-
DAS MEDIDAS DE COOPERAÇÃO
xar de considerar crime político o atentado con-
Seção I tra chefe de Estado ou quaisquer autoridades,
Da Extradição bem como crime contra a humanidade, crime de
Art. 81. A extradição é a medida de cooperação guerra, crime de genocídio e terrorismo.
internacional entre o Estado brasileiro e outro Es- § 5º Admite-se a extradição de brasileiro natu-
tado pela qual se concede ou solicita a entrega de ralizado, nas hipóteses previstas na Constituição
pessoa sobre quem recaia condenação criminal Federal.
definitiva ou para fins de instrução de processo Art. 83. São condições para concessão da extra-
penal em curso. dição:
§ 1º A extradição será requerida por via diplo- I – ter sido o crime cometido no território do
mática ou pelas autoridades centrais designadas Estado requerente ou serem aplicáveis ao extra-
para esse fim. ditando as leis penais desse Estado; e
23
II – estar o extraditando respondendo a pro- preferência o pedido daquele em cujo território a
cesso investigatório ou a processo penal ou ter infração foi cometida.
sido condenado pelas autoridades judiciárias do § 1º Em caso de crimes diversos, terá preferên-
Estado requerente a pena privativa de liberdade. cia, sucessivamente:
I – o Estado requerente em cujo território tenha
Art. 84. Em caso de urgência, o Estado interes-
sido cometido o crime mais grave, segundo a lei
sado na extradição poderá, previamente ou con-
brasileira;
juntamente com a formalização do pedido extradi-
II – o Estado que em primeiro lugar tenha pe-
cional, requerer, por via diplomática ou por meio
dido a entrega do extraditando, se a gravidade dos
de autoridade central do Poder Executivo, prisão
crimes for idêntica;
cautelar com o objetivo de assegurar a executorie-
III – o Estado de origem, ou, em sua falta, o do-
dade da medida de extradição que, após exame
miciliar do extraditando, se os pedidos forem si-
da presença dos pressupostos formais de admis-
multâneos.
sibilidade exigidos nesta Lei ou em tratado, deverá
§ 2º Nos casos não previstos nesta Lei, o órgão
representar à autoridade judicial competente, ou-
competente do Poder Executivo decidirá sobre
vido previamente o Ministério Público Federal.
a preferência do pedido, priorizando o Estado
§ 1º O pedido de prisão cautelar deverá conter
requerente que mantiver tratado de extradição
informação sobre o crime cometido e deverá ser
com o Brasil.
fundamentado, podendo ser apresentado por cor-
§ 3º Havendo tratado com algum dos Estados
reio, fax, mensagem eletrônica ou qualquer outro
requerentes, prevalecerão suas normas no que
meio que assegure a comunicação por escrito.
diz respeito à preferência de que trata este artigo.
§ 2º O pedido de prisão cautelar poderá ser
transmitido à autoridade competente para extra- Art. 86. O Supremo Tribunal Federal, ouvido o Mi-
dição no Brasil por meio de canal estabelecido nistério Público, poderá autorizar prisão albergue
com o ponto focal da Organização Internacional ou domiciliar ou determinar que o extraditando
de Polícia Criminal (Interpol) no País, devida- responda ao processo de extradição em liberdade,
mente instruído com a documentação comproba- com retenção do documento de viagem ou outras
tória da existência de ordem de prisão proferida medidas cautelares necessárias, até o julgamento
por Estado estrangeiro, e, em caso de ausência de da extradição ou a entrega do extraditando, se
tratado, com a promessa de reciprocidade rece- pertinente, considerando a situação administra-
bida por via diplomática. tiva migratória, os antecedentes do extraditando
§ 3º Efetivada a prisão do extraditando, o pe- e as circunstâncias do caso.
dido de extradição será encaminhado à autori- Art. 87. O extraditando poderá entregar-se vo-
dade judiciária competente. luntariamente ao Estado requerente, desde que
§ 4º Na ausência de disposição específica em o declare expressamente, esteja assistido por
tratado, o Estado estrangeiro deverá formalizar advogado e seja advertido de que tem direito ao
o pedido de extradição no prazo de 60 (sessenta) processo judicial de extradição e à proteção que
dias, contado da data em que tiver sido cientifi- tal direito encerra, caso em que o pedido será de-
cado da prisão do extraditando. cidido pelo Supremo Tribunal Federal.
§ 5º Caso o pedido de extradição não seja apre-
Art. 88. Todo pedido que possa originar processo
sentado no prazo previsto no § 4º, o extraditando
de extradição em face de Estado estrangeiro de-
deverá ser posto em liberdade, não se admitindo
verá ser encaminhado ao órgão competente do
novo pedido de prisão cautelar pelo mesmo fato
Poder Executivo diretamente pelo órgão do Poder
sem que a extradição tenha sido devidamente re-
Judiciário responsável pela decisão ou pelo pro-
querida.
cesso penal que a fundamenta.
§ 6º A prisão cautelar poderá ser prorrogada até
§ 1º Compete a órgão do Poder Executivo o
o julgamento final da autoridade judiciária compe- papel de orientação, de informação e de avaliação
tente quanto à legalidade do pedido de extradição. dos elementos formais de admissibilidade dos
Art. 85. Quando mais de um Estado requerer a ex- processos preparatórios para encaminhamento
tradição da mesma pessoa, pelo mesmo fato, terá ao Estado requerido.
24
LEI Nº 13.445, DE 24 DE MAIO DE 2017


§ 2º Compete aos órgãos do sistema de Justiça 60 (sessenta) dias, após o qual o pedido será jul-
vinculados ao processo penal gerador de pedido gado independentemente da diligência.
de extradição a apresentação de todos os do- § 4º O prazo referido no § 3º será contado da
cumentos, manifestações e demais elementos data de notificação à missão diplomática do Es-
necessários para o processamento do pedido, in- tado requerente.
clusive suas traduções oficiais.
Art. 92. Julgada procedente a extradição e auto-
§ 3º O pedido deverá ser instruído com cópia
rizada a entrega pelo órgão competente do Poder
autêntica ou com o original da sentença condena-
Executivo, será o ato comunicado por via diplo-
tória ou da decisão penal proferida, conterá indi-
mática ao Estado requerente, que, no prazo de
cações precisas sobre o local, a data, a natureza e
60 (sessenta) dias da comunicação, deverá retirar
as circunstâncias do fato criminoso e a identidade
o extraditando do território nacional.
do extraditando e será acompanhado de cópia dos
textos legais sobre o crime, a competência, a pena Art. 93. Se o Estado requerente não retirar o extra-
e a prescrição. ditando do território nacional no prazo previsto no
§ 4º O encaminhamento do pedido de extradi- art. 92, será ele posto em liberdade, sem prejuízo
ção ao órgão competente do Poder Executivo con- de outras medidas aplicáveis.
fere autenticidade aos documentos.
Art. 94. Negada a extradição em fase judicial, não
Art. 89. O pedido de extradição originado de Es- se admitirá novo pedido baseado no mesmo fato.
tado estrangeiro será recebido pelo órgão com-
Art. 95. Quando o extraditando estiver sendo pro-
petente do Poder Executivo e, após exame da
cessado ou tiver sido condenado, no Brasil, por
presença dos pressupostos formais de admissibi-
crime punível com pena privativa de liberdade, a
lidade exigidos nesta Lei ou em tratado, encami-
extradição será executada somente depois da con-
nhado à autoridade judiciária competente.
clusão do processo ou do cumprimento da pena,
Parágrafo único. Não preenchidos os pressu-
ressalvadas as hipóteses de liberação antecipada
postos referidos no caput, o pedido será arqui-
vado mediante decisão fundamentada, sem pre- pelo Poder Judiciário e de determinação da trans-
juízo da possibilidade de renovação do pedido, ferência da pessoa condenada.
devidamente instruído, uma vez superado o óbice § 1º A entrega do extraditando será igualmente
apontado. adiada se a efetivação da medida puser em risco
sua vida em virtude de enfermidade grave com-
Art. 90. Nenhuma extradição será concedida sem
provada por laudo médico oficial.
prévio pronunciamento do Supremo Tribunal Fe-
§ 2º Quando o extraditando estiver sendo pro-
deral sobre sua legalidade e procedência, não ca-
cessado ou tiver sido condenado, no Brasil, por
bendo recurso da decisão.
infração de menor potencial ofensivo, a entrega
Art. 91. Ao receber o pedido, o relator designará poderá ser imediatamente efetivada.
dia e hora para o interrogatório do extraditando e,
Art. 96. Não será efetivada a entrega do extra-
conforme o caso, nomear-lhe-á curador ou advo-
gado, se não o tiver. ditando sem que o Estado requerente assuma o
§ 1º A defesa, a ser apresentada no prazo de compromisso de:
10 (dez) dias contado da data do interrogatório, I – não submeter o extraditando a prisão ou pro-
versará sobre a identidade da pessoa reclamada, cesso por fato anterior ao pedido de extradição;
defeito de forma de documento apresentado ou II – computar o tempo da prisão que, no Brasil,
ilegalidade da extradição. foi imposta por força da extradição;
§ 2º Não estando o processo devidamente ins- III – comutar a pena corporal, perpétua ou de
truído, o Tribunal, a requerimento do órgão do Mi- morte em pena privativa de liberdade, respeitado o
nistério Público Federal correspondente, poderá limite máximo de cumprimento de 30 (trinta) anos;
converter o julgamento em diligência para suprir IV – não entregar o extraditando, sem consen-
a falta. timento do Brasil, a outro Estado que o reclame;
§ 3º Para suprir a falta referida no § 2º, o Minis- V – não considerar qualquer motivo político
tério Público Federal terá prazo improrrogável de para agravar a pena; e
25
VI – não submeter o extraditando a tortura ou a Art. 101. O pedido de transferência de execução
outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos da pena de Estado estrangeiro será requerido por
ou degradantes. via diplomática ou por via de autoridades centrais.
§ 1º O pedido será recebido pelo órgão com-
Art. 97. A entrega do extraditando, de acordo com
petente do Poder Executivo e, após exame da
as leis brasileiras e respeitado o direito de terceiro,
presença dos pressupostos formais de admissibi-
será feita com os objetos e instrumentos do crime
lidade exigidos nesta Lei ou em tratado, encami-
encontrados em seu poder.
nhado ao Superior Tribunal de Justiça para deci-
Parágrafo único. Os objetos e instrumentos refe-
são quanto à homologação.
ridos neste artigo poderão ser entregues indepen-
§ 2º Não preenchidos os pressupostos referidos
dentemente da entrega do extraditando.
no § 1º, o pedido será arquivado mediante deci-
Art. 98. O extraditando que, depois de entregue são fundamentada, sem prejuízo da possibilidade
ao Estado requerente, escapar à ação da Justiça de renovação do pedido, devidamente instruído,
e homiziar-se no Brasil, ou por ele transitar, será uma vez superado o óbice apontado.
detido mediante pedido feito diretamente por via
Art. 102. A forma do pedido de transferência de
diplomática ou pela Interpol e novamente entre-
execução da pena e seu processamento serão de-
gue, sem outras formalidades.
finidos em regulamento.
Art. 99. Salvo motivo de ordem pública, poderá Parágrafo único. Nos casos previstos nesta
ser permitido, pelo órgão competente do Poder Seção, a execução penal será de competência da
Executivo, o trânsito no território nacional de pes- Justiça Federal.
soa extraditada por Estado estrangeiro, bem como
Seção III
o da respectiva guarda, mediante apresentação Da Transferência de Pessoa Condenada
de documento comprobatório de concessão da
Art. 103. A transferência de pessoa condenada
medida.
poderá ser concedida quando o pedido se funda-
Seção II mentar em tratado ou houver promessa de reci-
Da Transferência de Execução da Pena procidade.
Art. 100. Nas hipóteses em que couber solicita- § 1º O condenado no território nacional poderá
ção de extradição executória, a autoridade com- ser transferido para seu país de nacionalidade ou
petente poderá solicitar ou autorizar a transferên- país em que tiver residência habitual ou vínculo
cia de execução da pena, desde que observado o pessoal, desde que expresse interesse nesse senti-
princípio do non bis in idem. do, a fim de cumprir pena a ele imposta pelo Esta-
Parágrafo único. Sem prejuízo do disposto no do brasileiro por sentença transitada em julgado.
Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 § 2º A transferência de pessoa condenada no
(Código Penal), a transferência de execução da Brasil pode ser concedida juntamente com a apli-
pena será possível quando preenchidos os se- cação de medida de impedimento de reingresso
guintes requisitos: em território nacional, na forma de regulamento.
I – o condenado em território estrangeiro for Art. 104. A transferência de pessoa condenada
nacional ou tiver residência habitual ou vínculo será possível quando preenchidos os seguintes
pessoal no Brasil; requisitos:
II – a sentença tiver transitado em julgado; I – o condenado no território de uma das par-
III – a duração da condenação a cumprir ou que tes for nacional ou tiver residência habitual ou
restar para cumprir for de, pelo menos, 1 (um) ano, vínculo pessoal no território da outra parte que
na data de apresentação do pedido ao Estado da justifique a transferência;
condenação; II – a sentença tiver transitado em julgado;
IV – o fato que originou a condenação constituir III – a duração da condenação a cumprir ou que
infração penal perante a lei de ambas as partes; e restar para cumprir for de, pelo menos, 1 (um) ano,
V – houver tratado ou promessa de reciproci- na data de apresentação do pedido ao Estado da
dade. condenação;
26
LEI Nº 13.445, DE 24 DE MAIO DE 2017


IV – o fato que originou a condenação constituir para infrações cometidas por pessoa jurídica, por
infração penal perante a lei de ambos os Estados; ato infracional.
V – houver manifestação de vontade do condena-
Art. 109. Constitui infração, sujeitando o infrator
do ou, quando for o caso, de seu representante; e
às seguintes sanções:
VI – houver concordância de ambos os Estados.
I – entrar em território nacional sem estar au-
Art. 105. A forma do pedido de transferência de torizado:
pessoa condenada e seu processamento serão de- Sanção: deportação, caso não saia do País ou não
finidos em regulamento. regularize a situação migratória no prazo fixado;
§ 1º Nos casos previstos nesta Seção, a execu- II – permanecer em território nacional depois
ção penal será de competência da Justiça Federal. de esgotado o prazo legal da documentação mi-
§ 2º Não se procederá à transferência quando gratória:
inadmitida a extradição. Sanção: multa por dia de excesso e deportação,
§ 3º (Vetado) caso não saia do País ou não regularize a situação
CAPÍTULO IX migratória no prazo fixado;
DAS INFRAÇÕES E DAS PENALIDADES III – deixar de se registrar, dentro do prazo de
ADMINISTRATIVAS 90 (noventa) dias do ingresso no País, quando for
Art. 106. Regulamento disporá sobre o procedi- obrigatória a identificação civil:
mento de apuração das infrações administrativas Sanção: multa;
e seu processamento e sobre a fixação e a atua- IV – deixar o imigrante de se registrar, para efeito
lização das multas, em observância ao disposto de autorização de residência, dentro do prazo de
nesta Lei. 30 (trinta) dias, quando orientado a fazê-lo pelo
Art. 107. As infrações administrativas previstas órgão competente:
neste Capítulo serão apuradas em processo ad- Sanção: multa por dia de atraso;
ministrativo próprio, assegurados o contraditó- V – transportar para o Brasil pessoa que esteja
rio e a ampla defesa e observadas as disposições sem documentação migratória regular:
desta Lei. Sanção: multa por pessoa transportada;
§ 1º O cometimento simultâneo de duas ou VI – deixar a empresa transportadora de atender
mais infrações importará cumulação das sanções a compromisso de manutenção da estada ou de
cabíveis, respeitados os limites estabelecidos nos promoção da saída do território nacional de quem
incisos V e VI do art. 108. tenha sido autorizado a ingresso condicional no
§ 2º A multa atribuída por dia de atraso ou por Brasil por não possuir a devida documentação
excesso de permanência poderá ser convertida migratória:
em redução equivalente do período de autoriza- Sanção: multa;
ção de estada para o visto de visita, em caso de VII – furtar-se ao controle migratório, na entrada
nova entrada no País. ou saída do território nacional:
Art. 108. O valor das multas tratadas neste Capí- Sanção: multa.
tulo considerará: Art. 110. As penalidades aplicadas serão objeto
I – as hipóteses individualizadas nesta Lei; de pedido de reconsideração e de recurso, nos
II – a condição econômica do infrator, a reinci- termos de regulamento.
dência e a gravidade da infração; Parágrafo único. Serão respeitados o contra-
III – a atualização periódica conforme estabele- ditório, a ampla defesa e a garantia de recurso,
cido em regulamento; assim como a situação de hipossuficiência do mi-
IV – o valor mínimo individualizável de R$ 100,00 grante ou do visitante.
(cem reais);
V – o valor mínimo de R$ 100,00 (cem reais) e o CAPÍTULO X
DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
máximo de R$ 10.000,00 (dez mil reais) para infra-
ções cometidas por pessoa física; Art. 111. Esta Lei não prejudica direitos e obri-
VI – o valor mínimo de R$ 1.000,00 (mil reais) e gações estabelecidos por tratados vigentes no
o máximo de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) Brasil e que sejam mais benéficos ao migrante e
27
ao visitante, em particular os tratados firmados no Art. 116. (Vetado)
âmbito do Mercosul.
Art. 117. O documento conhecido por Registro
Art. 112. As autoridades brasileiras serão toleran- Nacional de Estrangeiro passa a ser denominado
tes quanto ao uso do idioma do residente fron- Registro Nacional Migratório.
teiriço e do imigrante quando eles se dirigirem a
Art. 118. (Vetado)
órgãos ou repartições públicas para reclamar ou
reivindicar os direitos decorrentes desta Lei. Art. 119. O visto emitido até a data de entrada
Art. 113. As taxas e emolumentos consulares são em vigor desta Lei poderá ser utilizado até a data
fixados em conformidade com a tabela anexa a prevista de expiração de sua validade, podendo
esta Lei. ser transformado ou ter seu prazo de estada pror-
§ 1º Os valores das taxas e emolumentos con- rogado, nos termos de regulamento.
sulares poderão ser ajustados pelo órgão compe-
Art. 120. A Política Nacional de Migrações, Refúgio
tente da administração pública federal, de forma
e Apatridia terá a finalidade de coordenar e articu-
a preservar o interesse nacional ou a assegurar a
lar ações setoriais implementadas pelo Poder Exe-
reciprocidade de tratamento.
§ 2º Não serão cobrados emolumentos consula- cutivo federal em regime de cooperação com os
res pela concessão de: Estados, o Distrito Federal e os Municípios, com
I – vistos diplomáticos, oficiais e de cortesia; e participação de organizações da sociedade civil,
II – vistos em passaportes diplomáticos, oficiais organismos internacionais e entidades privadas,
ou de serviço, ou equivalentes, mediante recipro- conforme regulamento.
cidade de tratamento a titulares de documento de § 1º Ato normativo do Poder Executivo federal
viagem similar brasileiro. poderá definir os objetivos, a organização e a es-
§ 3º Não serão cobrados taxas e emolumentos tratégia de coordenação da Política Nacional de
consulares pela concessão de vistos ou para a ob- Migrações, Refúgio e Apatridia.
tenção de documentos para regularização migrató- § 2º Ato normativo do Poder Executivo federal
ria aos integrantes de grupos vulneráveis e indiví-
poderá estabelecer planos nacionais e outros ins-
duos em condição de hipossuficiência econômica.
trumentos para a efetivação dos objetivos desta
§ 4º (Vetado)
Lei e a coordenação entre órgãos e colegiados
Art. 114. Regulamento poderá estabelecer com- setoriais.
petência para órgãos do Poder Executivo discipli- § 3º Com vistas à formulação de políticas públi-
narem aspectos específicos desta Lei.
cas, deverá ser produzida informação quantitativa
Art. 115. O Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezem- e qualitativa, de forma sistemática, sobre os mi-
bro de 1940 (Código Penal), passa a vigorar acres- grantes, com a criação de banco de dados.
cido do seguinte art. 232-A:
Promoção de migração ilegal Art. 121. Na aplicação desta Lei, devem ser obser-
Art. 232-A. Promover, por qualquer meio, com o vadas as disposições da Lei nº 9.474, de 22 de julho
fim de obter vantagem econômica, a entrada ilegal de 1997, nas situações que envolvam refugiados e
de estrangeiro em território nacional ou de brasi- solicitantes de refúgio.
leiro em país estrangeiro:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. Art. 122. A aplicação desta Lei não impede o tra-
§ 1º Na mesma pena incorre quem promover, por tamento mais favorável assegurado por tratado
qualquer meio, com o fim de obter vantagem eco- em que a República Federativa do Brasil seja parte.
nômica, a saída de estrangeiro do território nacio-
nal para ingressar ilegalmente em país estrangeiro.
Art. 123. Ninguém será privado de sua liberdade
§ 2º A pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a por razões migratórias, exceto nos casos previstos
1/3 (um terço) se: nesta Lei.
I – o crime é cometido com violência; ou
Art. 124. Revogam-se:
II – a vítima é submetida a condição desumana
ou degradante. I – a Lei nº 818, de 18 de setembro de 1949; e
§ 3º A pena prevista para o crime será aplicada sem II – a Lei nº 6.815, de 19 de agosto de 1980 (Esta-
prejuízo das correspondentes às infrações conexas. tuto do Estrangeiro).
28
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL


Art. 125. Esta Lei entra em vigor após decorridos IV – promover o bem de todos, sem preconcei-
180 (cento e oitenta) dias de sua publicação oficial. tos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
Brasília, 24 de maio de 2017; 196º da
outras formas de discriminação.
Independência e 129º da República. Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se
MICHEL TEMER
nas suas relações internacionais pelos seguintes
Osmar Serraglio princípios:
Aloysio Nunes Ferreira Filho I – independência nacional;
Henrique Meirelles II – prevalência dos direitos humanos;
Eliseu Padilha
III – autodeterminação dos povos;
Sergio Westphalen Etchegoyen
Grace Maria Fernandes Mendonça
IV – não intervenção;
V – igualdade entre os Estados;
ANEXO VI – defesa da paz;
(Disponível em: http://www2.camara.leg.br/legin/fed/ VII – solução pacífica dos conflitos;
lei/2017/lei-13445-24-maio-2017-784925-anexo-pl.pdf) VIII – repúdio ao terrorismo e ao racismo;
IX – cooperação entre os povos para o progresso
da humanidade;
LEGISLAÇÃO CORRELATA X – concessão de asilo político.
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil
buscará a integração econômica, política, social e
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA
cultural dos povos da América Latina, visando à
FEDERATIVA DO BRASIL
formação de uma comunidade latino-americana
(Publicada no DOU de 5/10/1988)
de nações.
[Dispositivos referentes à migração].
TÍTULO II
PREÂMBULO DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS
Nós, representantes do povo brasileiro, reuni- CAPÍTULO I
dos em Assembleia Nacional Constituinte para ins- DOS DIREITOS E DEVERES
tituir um Estado democrático, destinado a assegu- INDIVIDUAIS E COLETIVOS
rar o exercício dos direitos sociais e individuais, a Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção
liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvi- de qualquer natureza, garantindo-se aos brasilei-
mento, a igualdade e a justiça como valores supre- ros e aos estrangeiros residentes no País a inviola-
mos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem bilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade,
preconceitos, fundada na harmonia social e com- à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
prometida, na ordem interna e internacional, com [...]
a solução pacífica das controvérsias, promulga- XXXI – a sucessão de bens de estrangeiros si-
mos, sob a proteção de Deus, a seguinte Constitui- tuados no País será regulada pela lei brasileira
ção da República Federativa do Brasil. em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros,
sempre que não lhes seja mais favorável a lei pes-
TÍTULO I soal do de cujus;
DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
[...]
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada LII – não será concedida extradição de estran-
pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e geiro por crime político ou de opinião;
do Distrito Federal, constitui-se em Estado demo- [...]
crático de direito e tem como fundamentos:
CAPÍTULO III
[...] DA NACIONALIDADE
III – a dignidade da pessoa humana;
Art. 12. São brasileiros:
[...]
I – natos:
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da Re- a) os nascidos na República Federativa do Brasil,
pública Federativa do Brasil: ainda que de pais estrangeiros, desde que estes
[...] não estejam a serviço de seu país;
29
b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro b) de imposição de naturalização, pela norma
ou de mãe brasileira, desde que qualquer deles estrangeira, ao brasileiro residente em Estado es-
esteja a serviço da República Federativa do Brasil; trangeiro, como condição para permanência em
c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro seu território ou para o exercício de direitos civis;
ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados (Alínea acrescida pela EC de Revisão nº 3, de 1994)
em repartição brasileira competente ou venham a [...]
residir na República Federativa do Brasil e optem,
em qualquer tempo, depois de atingida a maio- CONVENÇÃO RELATIVA AO ESTATUTO
ridade, pela nacionalidade brasileira; (Alínea com DOS REFUGIADOS (GENEBRA, 1951)
redação dada pela EC nº 54, de 2007) (Aprovada pelo Decreto Legislativo nº 11 de 1960 e
II – naturalizados: promulgada pelo Decreto nº 50.215, de 28/1/1961)
a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionali- Adotada em 28 de julho de 1951 pela Conferên-
dade brasileira, exigidas aos originários de países cia das Nações Unidas de Plenipotenciários sobre
de língua portuguesa apenas residência por um o Estatuto dos Refugiados e Apátridas, convocada
ano ininterrupto e idoneidade moral; pela Resolução 429 (V) da Assembleia Geral das
b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade Nações Unidas, de 14 de dezembro de 1950.
residentes na República Federativa do Brasil há As Altas Partes Contratantes,
mais de quinze anos ininterruptos e sem condena- Considerando que a Carta das Nações Unidas
ção penal, desde que requeiram a nacionalidade e a Declaração Universal dos Direitos Humanos,
brasileira. (Alínea com redação dada pela EC de Revisão aprovada em 10 de dezembro de 1948 pela As-
nº 3, de 1994) sembleia Geral, afirmaram o princípio de que os
§ 1º Aos portugueses com residência perma- seres humanos, sem distinção, devem gozar dos
nente no País, se houver reciprocidade em favor direitos do homem e das liberdades fundamentais,
dos brasileiros, serão atribuídos os direitos ine- Considerando que a Organização das Nações
rentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Unidas tem repetidamente manifestado sua pro-
Constituição. (Parágrafo com redação dada pela EC de funda preocupação pelos refugiados e que tem
Revisão nº 3, de 1994) se esforçado por assegurar-lhes o exercício mais
§ 2º A lei não poderá estabelecer distinção entre amplo possível dos direitos do homem e das liber-
brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos dades fundamentais,
previstos nesta Constituição. Considerando que é desejável rever e codificar
§ 3º São privativos de brasileiro nato os cargos: os acordos internacionais anteriores relativos ao
I – de Presidente e Vice-Presidente da República; estatuto dos refugiados e estender a aplicação
II – de Presidente da Câmara dos Deputados; desses instrumentos e a proteção que eles ofere-
III – de Presidente do Senado Federal; cem por meio de um novo acordo,
IV – de Ministro do Supremo Tribunal Federal; Considerando que da concessão do direito de
V – da carreira diplomática; asilo podem resultar encargos indevidamente pe-
VI – de oficial das Forças Armadas; sados para certos países e que a solução satisfa-
VII – de Ministro de Estado da Defesa. (Inciso tória para os problemas cujo alcance e natureza
acrescido pela EC nº 23, de 1999) internacionais a Organização das Nações Unidas
§ 4º Será declarada a perda da nacionalidade reconheceu, não pode, portanto, ser obtida sem
do brasileiro que: cooperação internacional,
I – tiver cancelada sua naturalização, por sen- Exprimindo o desejo de que todos os Estados,
tença judicial, em virtude de atividade nociva ao reconhecendo o caráter social e humanitário do
interesse nacional; problema dos refugiados, façam tudo o que esteja
II – adquirir outra nacionalidade, salvo nos ao seu alcance para evitar que esse problema se
casos: (Inciso com redação dada pela EC de Revisão nº 3, torne causa de tensão entre os Estados,
de 1994) Notando que o Alto Comissariado das Nações
a) de reconhecimento de nacionalidade origi- Unidas para os Refugiados tem a incumbência de
nária pela lei estrangeira; (Alínea acrescida pela EC de zelar para a aplicação das convenções internacio-
Revisão nº 3, de 1994) nais que assegurem a proteção dos refugiados,
30
CONVENÇÃO RELATIVA AO ESTATUTO DOS REFUGIADOS (GENEBRA, 1951)

e reconhecendo que a coordenação efetiva das e cada Estado Contratante fará, no momento
medidas tomadas para resolver este problema da assinatura, da ratificação ou da adesão, uma
dependerá da cooperação dos Estados com o Alto declaração precisando o alcance que pretende
Comissário, dar a essa expressão do ponto de vista das obri-
Convieram nas seguintes disposições: gações assumidas por ele em virtude da presente
Convenção.
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS 2. Qualquer Estado Contratante que adotou a
fórmula a poderá em qualquer momento esten-
Artigo 1º – Definição do termo “refugiado” der as suas obrigações adotando a fórmula b por
A) Para fins da presente Convenção, o termo “re- meio de uma notificação dirigida ao Secretário-
fugiado” se aplicará a qualquer pessoa: Geral das Nações Unidas.
1. Que foi considerada refugiada nos termos dos C) Esta Convenção cessará, nos casos infra, de
Ajustes de 12 de maio de 1926 e de 30 de junho ser aplicável a qualquer pessoa compreendida
de 1928, ou das Convenções de 28 de outubro de nos termos da seção A, retro:
1933 e de 10 de fevereiro de 1938 e do Protocolo 1. se ela voltou a valer-se da proteção do país de
de 14 de setembro de 1939, ou ainda da Constitui- que é nacional; ou
ção da Organização Internacional dos Refugiados; 2. se havendo perdido a nacionalidade, ela a
As decisões de inabilitação tomadas pela Or- recuperou voluntariamente; ou
ganização Internacional dos Refugiados durante 3. se adquiriu nova nacionalidade e goza da
o período do seu mandato não constituem obs- proteção do país cuja nacionalidade adquiriu; ou
táculo a que a qualidade de refugiado seja reco- 4. se voltou a estabelecer-se, voluntariamente,
nhecida a pessoas que preencham as condições no país que abandonou ou fora do qual permane-
previstas no parágrafo 2º da presente seção; ceu com medo de ser perseguido; ou
2. Que, em consequência dos acontecimentos 5. se por terem deixado de existir as circunstân-
ocorridos antes de 1º de janeiro de 1951 e te- cias em consequência das quais foi reconhecida
mendo ser perseguida por motivos de raça, re- como refugiada, ela não pode mais continuar re-
ligião, nacionalidade, grupo social ou opiniões cusando a proteção do país de que é nacional;
políticas, encontra-se fora do país de sua naciona- Contanto, porém, que as disposições do pre-
lidade e que não pode ou, em virtude desse temor, sente parágrafo não se apliquem a um refugiado
não quer valer-se da proteção desse país, ou que, incluído nos termos do parágrafo 1 da seção A do
se não tem nacionalidade encontra-se fora do país presente artigo, que pode invocar, para recusar a
no qual tinha sua residência habitual em conse- proteção do país de que é nacional, razões impe-
quência de tais acontecimentos, não pode ou, de- riosas resultantes de perseguições anteriores;
vido ao referido temor, não quer voltar a ele. 6. tratando-se de pessoa que não tem nacionali-
No caso de uma pessoa que tem mais de uma dade, se por terem deixado de existir as circunstân-
nacionalidade, a expressão “do país de sua na- cias em consequência das quais foi reconhecida
cionalidade” se refere a cada um dos países dos como refugiada, ela está em condições de voltar ao
quais ela é nacional. Uma pessoa que, sem razão país no qual tinha sua residência habitual;
válida fundada sobre um temor justificado, não Contanto, porém, que as disposições do pre-
se houver valido da proteção de um dos países de sente parágrafo não se apliquem a um refugiado
que é nacional, não será considerada privada da incluído nos termos do parágrafo 1 da seção A do
proteção do país de sua nacionalidade. presente artigo, que pode invocar, para recusar
B) 1. Para os fins da presente Convenção, as pa- voltar ao país no qual tinha sua residência habi-
lavras “acontecimentos ocorridos antes de 1º de tual, razões imperiosas resultantes de persegui-
janeiro de 1951”, do art. 1º, seção A, poderão ser ções anteriores.
compreendidos no sentido de: D) Esta Convenção não será aplicável às pessoas
a) “acontecimentos ocorridos antes de 1º de ja- que atualmente se beneficiam de uma proteção ou
neiro de 1951 na Europa”; ou assistência de parte de um organismo ou de uma
b) “acontecimentos ocorridos antes de 1º de ja- instituição das Nações Unidas, que não o Alto Co-
neiro de 1951 na Europa ou alhures”; missariado das Nações Unidas para os Refugiados.
31
Quando esta proteção ou assistência houver Artigo 6º – A expressão “nas mesmas
cessado, por qualquer razão, sem que a sorte des- circunstâncias”
sas pessoas tenha sido definitivamente resolvida Para os fins desta Convenção, a expressão “nas
de acordo com as resoluções a ela relativas, ado- mesmas circunstâncias” significa que todas as
tadas pela Assembleia Geral das Nações Unidas, condições – em especial as que se referem à du-
essas pessoas se beneficiarão de pleno direito do ração e às condições de permanência ou de re-
regime desta Convenção. sidência – que o interessado teria de preencher
E) Esta Convenção não será aplicável a uma pes- para poder exercer o direito em causa, se ele não
soa considerada pelas autoridades competentes fosse refugiado, devem ser preenchidas por ele,
do país no qual ela instalou sua residência como com exceção das condições que, em razão da sua
tendo os direitos e as obrigações relacionadas natureza, não podem ser preenchidas por um re-
com a posse da nacionalidade desse país. fugiado.
F) As disposições desta Convenção não serão Artigo 7º – Dispensa de reciprocidade
aplicáveis às pessoas a respeito das quais houver 1. Ressalvadas as disposições mais favoráveis
razões sérias para se pensar que: previstas por esta Convenção, um Estado Con-
a) cometeram um crime contra a paz, um crime tratante concederá aos refugiados o regime que
de guerra ou um crime contra a humanidade, no concede aos estrangeiros em geral.
sentido dado pelos instrumentos internacionais 2. Após um prazo de residência de três anos,
elaborados para prever tais crimes; todos os refugiados se beneficiarão, no território
b) cometeram um crime grave de direito comum dos Estados Contratantes, da dispensa de recipro-
fora do país de refúgio antes de serem nele admiti- cidade legislativa.
das como refugiados; 3. Cada Estado Contratante continuará a con-
c) tornaram-se culpadas de atos contrários aos ceder aos refugiados os direitos e vantagens de
fins e princípios das Nações Unidas. que já gozavam, na ausência de reciprocidade, na
data da entrada em vigor desta Convenção para o
Artigo 2º – Obrigações gerais
referido Estado.
Todo refugiado tem deveres para com o país
4. Os Estados Contratantes considerarão com
em que se encontra, os quais compreendem no-
benevolência a possibilidade de conceder aos re-
tadamente a obrigação de respeitar as leis e re-
fugiados, na ausência de reciprocidade, direitos
gulamentos, assim como as medidas que visam a e vantagens outros além dos que eles gozam em
manutenção da ordem pública. virtude dos parágrafos 2 e 3, assim como a possi-
Artigo 3º – Não discriminação bilidade de conceder o benefício da dispensa de
Os Estados Contratantes aplicarão as disposi- reciprocidade a refugiados que não preencham as
ções desta Convenção aos refugiados sem discri- condições previstas nos parágrafos 2 e 3.
minação quanto à raça, à religião ou ao país de 5. As disposições dos parágrafos 2 e 3, supra,
origem. aplicam-se assim às vantagens mencionadas nos
artigos 13, 18, 19, 21 e 22 desta Convenção, como
Artigo 4º – Religião aos direitos e vantagens que não são previstos
Os Estados Contratantes proporcionarão aos re- pela mesma.
fugiados, em seu território, um tratamento pelo
menos tão favorável como o que é proporcionado Artigo 8º – Dispensa de medidas excepcionais
No que concerne às medidas excepcionais que
aos nacionais no que concerne à liberdade de pra-
podem ser tomadas contra a pessoa, bens ou in-
ticar sua religião e no que concerne à liberdade de
teresses dos nacionais de um Estado, os Estados
instrução religiosa dos seus filhos.
Contratantes não aplicarão tais medidas a um re-
Artigo 5º fugiado que seja formalmente nacional do referido
Direitos conferidos independentemente desta Estado unicamente em razão da sua nacionalidade.
Convenção nenhuma disposição desta Conven- Os Estados Contratantes que, pela sua legislação,
ção prejudicará os outros direitos e vantagens não podem aplicar o dispositivo geral consagrado
concedidos aos outros refugiados, independen- neste artigo concederão, nos casos apropriados,
temente desta Convenção. dispensas em favor de tais refugiados.
32
CONVENÇÃO RELATIVA AO ESTATUTO DOS REFUGIADOS (GENEBRA, 1951)

Artigo 9º – Medidas provisórias formalidades previstas pela legislação do referido


Nenhuma das disposições da presente Conven- Estado, entendendo-se, todavia, que o direito em
ção tem por efeito impedir um Estado Contratante, causa deve ser dos que seriam reconhecidos pela
em tempo de guerra ou em outras circunstâncias legislação do referido Estado se o interessado não
graves e excepcionais, de tomar provisoriamente, houvesse se tornado refugiado.
a propósito de uma determinada pessoa, as me-
Artigo 13 – Propriedade móvel e imóvel
didas que este Estado julgar indispensáveis à
Os Estados Contratantes concederão a um re-
segurança nacional, até que o referido Estado
fugiado um tratamento tão favorável quanto pos-
determine que essa pessoa é efetivamente um
sível, e de qualquer maneira um tratamento que
refugiado e que a continuação de tais medidas é
não seja menos favorável do que o que é conce-
necessária a seu propósito no interesse da segu-
dido, nas mesmas circunstâncias, aos estrangeiros
rança nacional.
em geral, no que concerne à aquisição de proprie-
Artigo 10 – Continuidade de residência dade móvel ou imóvel e a outros direitos a ela refe-
1. No caso de um refugiado que foi deportado rentes, ao aluguel e aos outros contratos relativos
no curso da Segunda Guerra Mundial, transpor- a propriedade móvel ou imóvel.
tado para o território de um dos Estados Contra-
tantes e aí resida, a duração dessa permanência Artigo 14 – Propriedade intelectual e industrial
forçada será considerada residência regular nesse Em matéria de proteção da propriedade indus-
território. trial, especialmente de invenções, desenhos, mo-
2. No caso de um refugiado que foi deportado delos, marcas de fábrica, nome comercial, e em
do território de um Estado Contratante no curso matéria de proteção da propriedade literária, ar-
da Segunda Guerra Mundial e para ele voltou tística e científica, um refugiado se beneficiará, no
antes da entrada em vigor desta Convenção para país em que tem sua residência habitual, da prote-
aí estabelecer sua residência, o período que pre- ção que é conferida aos nacionais do referido país.
cedeu e o que se seguiu a essa deportação serão No território de qualquer um dos outros Estados
considerados, para todos os fins para os quais é Contratantes, ele se beneficiará da proteção dada
necessária uma residência ininterrupta, como no referido território aos nacionais do país no qual
constituindo apenas um período ininterrupto. tem sua residência habitual.

Artigo 11 – Marinheiros refugiados Artigo 15 – Direitos de associação


No caso de refugiados regularmente emprega- Os Estados Contratantes concederão aos refu-
dos como membros da tripulação a bordo de um giados que residem regularmente em seu territó-
navio que hasteie pavilhão de um Estado Contra- rio, no que concerne às associações sem fins polí-
tante, este Estado examinará com benevolência a ticos nem lucrativos e aos sindicatos profissionais,
possibilidade de autorizar os referidos refugiados o tratamento mais favorável concedido aos nacio-
a se estabelecerem no seu território e entregar- nais de um país estrangeiro, nas mesmas circuns-
-lhes documentos de viagem ou de os admitir a tâncias.
título temporário no seu território, a fim, notada-
Artigo 16 – Direito de propugnar em juízo
mente, de facilitar sua fixação em outro país.
1. Qualquer refugiado terá, no território dos
CAPÍTULO II Estados Contratantes, livre e fácil acesso aos tri-
SITUAÇÃO JURÍDICA bunais.
Artigo 12 – Estatuto pessoal 2. No Estado Contratante em que tem sua re-
1. O estatuto pessoal de um refugiado será re- sidência habitual, qualquer refugiado gozará do
gido pela lei do país de seu domicílio, ou, na falta mesmo tratamento que um nacional, no que con-
de domicílio, pela lei do país de sua residência. cerne ao acesso aos tribunais, inclusive a assistên-
2. Os direitos adquiridos anteriormente pelo cia judiciária e a isenção de cautio judicatum solvi.
refugiado e decorrentes do estatuto pessoal, e 3. Nos Estados Contratantes outros que não
principalmente os que resultam do casamento, aquele em que tem sua residência habitual, e no
serão respeitados por um Estado Contratante, que concerne às questões mencionadas no pa-
ressalvado, sendo o caso, o cumprimento das rágrafo 2, qualquer refugiado gozará do mesmo
33
tratamento que um nacional do país no qual tem autoridades competentes do referido Estado e
sua residência habitual. que desejam exercer uma profissão liberal, trata-
mento tão favorável quanto possível, e, em todo
CAPÍTULO III
EMPREGOS REMUNERADOS caso, tratamento não menos favorável do que
aquele que é dado, nas mesmas circunstâncias,
Artigo 17 – Profissões assalariadas
aos estrangeiros em geral.
1. Os Estados Contratantes darão a todo refu-
2. Os Estados Contratantes farão tudo o que es-
giado que resida regularmente no seu território o
tiver ao seu alcance, conforme as suas leis e cons-
tratamento mais favorável dado, nas mesmas cir-
tituições, para assegurar a instalação de tais refu-
cunstâncias, aos nacionais de um país estrangeiro
giados em territórios outros que não o território
no que concerne ao exercício de uma atividade
metropolitano, de cujas relações internacionais
profissional assalariada.
sejam responsáveis.
2. Em qualquer caso, as medidas restritivas im-
postas aos estrangeiros ou ao emprego de estran- CAPÍTULO IV
geiros para a proteção do mercado nacional do BEM-ESTAR
trabalho não serão aplicáveis aos refugiados que Artigo 20 – Racionamento
já estavam dispensados na data da entrada em No caso de existir um sistema de racionamento
vigor desta Convenção pelo Estado Contratante ao qual esteja submetido o conjunto da popula-
interessado, ou que preencham uma das seguin- ção, que regule a repartição geral dos produtos
tes condições: de que há escassez, os refugiados serão tratados
a) contar três anos de residência no país; como os nacionais.
b) ter por cônjuge uma pessoa que possua a na-
cionalidade do país de residência. Um refugiado Artigo 21 – Alojamento
não poderá invocar o benefício desta disposição No que concerne ao alojamento, os Estados
no caso de haver abandonado o cônjuge; Contratantes darão, na medida em que esta ques-
c) ter um ou vários filhos que possuam a nacio- tão seja regulada por leis ou regulamentos ou seja
nalidade do país de residência. submetida ao controle das autoridades públicas,
3. Os Estados Contratantes considerarão com aos refugiados que residam regularmente no seu
benevolência a adoção de medidas tendentes a território, tratamento tão favorável quanto pos-
assimilar os direitos de todos os refugiados no que sível e, em todo caso, tratamento não menos fa-
concerne ao exercício das profissões assalariadas vorável do que aquele que é dado, nas mesmas
aos dos seus nacionais, e em particular para os circunstâncias, aos estrangeiros em geral.
refugiados que entraram no seu território em vir- Artigo 22 – Educação pública
tude de um programa de recrutamento de mão de 1. Os Estados Contratantes darão aos refugiados
obra ou de um plano de imigração. o mesmo tratamento que é dado aos nacionais no
Artigo 18 – Profissões não assalariadas que concerne ao ensino primário.
Os Estados Contratantes darão aos refugiados 2. Os Estados Contratantes darão aos refugia-
que se encontrem regularmente no seu território dos um tratamento tão favorável quanto possível,
tratamento tão favorável quanto possível e, em e em todo caso não menos favorável do que aque-
todo caso, tratamento não menos favorável do le que é dado aos estrangeiros em geral, nas mes-
que aquele que é dado, nas mesmas circunstân- mas circunstâncias, no que concerne aos graus de
cias, aos estrangeiros em geral, no que concerne ensino superiores ao primário, em particular no
ao exercício de uma profissão não assalariada na que diz respeito ao acesso aos estudos, ao reco-
agricultura, na indústria, no artesanato e no co- nhecimento de certificados de estudos, de diplo-
mércio, bem como à instalação de firmas comer- mas e títulos universitários estrangeiros, à isenção
ciais e industriais. de emolumentos alfandegários e taxas e à conces-
são de bolsas de estudos.
Artigo 19 – Profissões liberais
1. Cada Estado Contratante dará aos refugia- Artigo 23 – Assistência pública
dos que residam regularmente no seu território Os Estados Contratantes darão aos refugiados
e sejam titulares de diplomas reconhecidos pelas que residam regularmente no seu território o
34
CONVENÇÃO RELATIVA AO ESTATUTO DOS REFUGIADOS (GENEBRA, 1951)

mesmo tratamento em matéria de assistência e de 4. Os Estados Contratantes examinarão com


socorros públicos que é dado aos seus nacionais. benevolência a possibilidade de estender, na me-
dida do possível, aos refugiados, o benefício de
Artigo 24 – Legislação do trabalho e previdência
acordos semelhantes que estão ou estarão em
social
vigor entre esses Estados Contratantes e Estados
1. Os Estados Contratantes darão aos refugia-
dos que residam regularmente no seu território não contratantes.
o mesmo tratamento dado aos nacionais quanto CAPÍTULO V
aos seguintes pontos: MEDIDAS ADMINISTRATIVAS
a) Na medida em que estas questões são regu-
Artigo 25 – Assistência administrativa
lamentadas pela legislação ou dependem das au-
1. Quando o exercício de um direito por parte de
toridades administrativas: remuneração, inclusive
um refugiado normalmente exigir a assistência
abonos familiares quando os mesmos integrarem
de autoridades estrangeiras às quais ele não pode
a remuneração; duração do trabalho; horas su-
recorrer, os Estados Contratantes em cujo território
plementares; férias pagas; restrições ao trabalho
reside providenciarão para que essa assistência lhe
doméstico; idade mínima para o emprego; apren-
seja dada, quer pelas suas próprias autoridades,
dizado e formação profissional; trabalho das mu-
quer por uma autoridade internacional.
lheres e dos adolescentes, e gozo das vantagens
2. A ou as autoridades mencionadas no pará-
proporcionadas pelas convenções coletivas.
grafo 1 entregarão ou farão entregar, sob seu con-
b) Previdência social (as disposições legais rela-
trole, aos refugiados, os documentos ou certifi-
tivas aos acidentes do trabalho, às moléstias pro-
cados que normalmente seriam entregues a um
fissionais, à maternidade, à doença, à invalidez, à
estrangeiro pelas suas autoridades nacionais ou
velhice, à morte, ao desemprego, aos encargos
por seu intermédio.
de família, bem como a qualquer outro risco que,
conforme a legislação nacional, esteja previsto no 3. Os documentos ou certificados assim entre-
sistema de previdência social), observadas as se- gues substituirão os documentos oficiais entregues
guintes limitações: a estrangeiros pelas suas autoridades nacionais ou
I) existência de medidas apropriadas visando a por seu intermédio, e terão fé pública até prova em
manutenção dos direitos adquiridos e dos direitos contrário.
em curso de aquisição; 4. Ressalvadas as exceções que possam ser
II) disposições particulares prescritas pela legis- admitidas em favor dos indigentes, os serviços
lação nacional do país de residência concernentes mencionados no presente artigo poderão ser co-
a benefícios ou a frações de benefícios pagáveis brados; mas estas cobranças serão moderadas e
exclusivamente por fundos públicos, bem como de acordo com o valor que se cobrar dos nacionais
a pensões pagas a pessoas que não preenchem por serviços análogos.
as condições de contribuição exigidas para a con- 5. As disposições deste artigo em nada afetarão
cessão de uma pensão normal. os artigos 27 e 28.
2. Os direitos a um benefício decorrentes da Artigo 26 – Liberdade de movimento
morte de um refugiado em virtude de acidente
Cada Estado Contratante dará aos refugiados
de trabalho ou de doença profissional não serão
que se encontrem no seu território o direito de
afetados pelo fato do beneficiário residir fora do
nele escolher o local de sua residência e de nele
território do Estado Contratante.
circular livremente, com as reservas instituídas
3. Os Estados Contratantes estenderão aos re-
pela regulamentação aplicável aos estrangeiros
fugiados o benefício dos acordos que concluíram
em geral nas mesmas circunstâncias.
ou vierem a concluir entre si, relativamente à ma-
nutenção dos direitos adquiridos ou em curso de Artigo 27 – Papéis de identidade
aquisição em matéria de previdência social, con- Os Estados Contratantes entregarão documen-
tanto que os refugiados preencham as condições tos de identidade a qualquer refugiado que se
previstas para os nacionais dos países signatários encontre no seu território e que não possua do-
dos acordos em questão. cumento de viagem válido.
35
Artigo 28 – Documentos de viagem dade estava ameaçada, no sentido previsto pelo
1. Os Estados Contratantes entregarão aos refu- art. 1º, encontrem-se no seu território sem autori-
giados que residam regularmente no seu território zação, contanto que apresentem-se sem demora
documentos de viagem destinados a permitir-lhes às autoridades e exponham-lhes razões aceitáveis
viajar fora desse território, a menos que a isto se para a sua entrada ou presença irregulares.
oponham razões imperiosas de segurança nacio- 2. Os Estados Contratantes não aplicarão aos
nal ou de ordem pública; as disposições do Anexo deslocamentos de tais refugiados outras restri-
a esta Convenção se aplicarão a esses documen- ções que não as necessárias; essas restrições
tos. Os Estados Contratantes poderão entregar tal serão aplicadas somente enquanto o estatuto des-
documento de viagem a qualquer outro refugiado ses refugiados no país de refúgio não houver sido
que se encontre no seu território; darão atenção regularizado ou eles não houverem obtido admis-
especial aos casos de refugiados que se encon- são em outro país. À vista desta última admissão,
trem no seu território e que não estejam em con- os Estados Contratantes concederão a esses refu-
dições de obter um documento de viagem do país giados um prazo razoável, assim como todas as fa-
onde residem regularmente. cilidades necessárias.
2. Os documentos de viagem entregues nos ter-
Artigo 32 – Expulsão
mos de acordos internacionais anteriores serão
1. Os Estados Contratantes não expulsarão um
reconhecidos pelos Estados Contratantes e trata-
refugiado que esteja regularmente no seu territó-
dos como se houvessem sido entregues aos refu-
rio, senão por motivos de segurança nacional ou
giados em virtude do presente artigo.
de ordem pública.
Artigo 29 – Despesas fiscais 2. A expulsão desse refugiado somente ocorrerá
1. Os Estados Contratantes não submeterão os em consequência de decisão judicial proferida em
refugiados a emolumentos alfandegários, taxas e processo legal. A não ser que a isso se oponham
impostos de qualquer espécie, além ou mais ele- razões imperiosas de segurança nacional, o refu-
vados do que aqueles que são ou serão cobrados giado deverá ter permissão de apresentar provas
dos seus nacionais em situações análogas. em seu favor, de interpor recurso e de se fazer re-
2. As disposições do parágrafo anterior não presentar para esse fim perante uma autoridade
impedem a aplicação aos refugiados das dispo- competente ou perante uma ou várias pessoas
sições de leis e regulamentos concernentes às especialmente designadas pela autoridade com-
taxas relativas à expedição de documentos admi- petente.
nistrativos para os estrangeiros, inclusive papéis 3. Os Estados Contratantes concederão a tal re-
de identidade. fugiado um prazo razoável para ele obter admis-
Artigo 30 – Transferência de bens são legal em um outro país. Os Estados Contratan-
1. Cada Estado Contratante permitirá aos refugia- tes podem aplicar, durante esse prazo, a medida
dos, conforme as leis e regulamentos do seu país, de ordem interna que julgarem oportuna.
transferir os bens que trouxeram para o seu territó- Artigo 33 – Proibição de expulsão ou de rechaço
rio para o território de um outro país, no qual foram 1. Nenhum dos Estados Contratantes expulsará
admitidos, a fim de nele se reinstalarem. ou rechaçará, de forma alguma, um refugiado
2. Cada Estado Contratante considerará com para as fronteiras dos territórios em que sua vida
benevolência os pedidos apresentados pelos re-
ou liberdade seja ameaçada em decorrência da
fugiados que desejarem obter autorização para
sua raça, religião, nacionalidade, grupo social a
transferir todos os outros bens necessários a sua
que pertença ou opiniões políticas.
reinstalação em um outro país, onde foram admi-
2. O benefício da presente disposição não po-
tidos, a fim de nele se reinstalarem.
derá, todavia, ser invocado por um refugiado que
Artigo 31 – Refugiados em situação irregular no por motivos sérios seja considerado um perigo à
país de refúgio segurança do país no qual ele se encontre ou que,
1. Os Estados Contratantes não aplicarão san- tendo sido condenado definitivamente por um
ções penais aos refugiados que, chegando direta- crime ou delito particularmente grave, constitua
mente de território no qual sua vida ou sua liber- ameaça para a comunidade do referido país.
36
CONVENÇÃO RELATIVA AO ESTATUTO DOS REFUGIADOS (GENEBRA, 1951)

Artigo 34 – Naturalização CAPÍTULO VII


Os Estados Contratantes facilitarão, na medida CLÁUSULAS FINAIS
do possível, a assimilação e a naturalização dos Artigo 38 – Solução dos dissídios
refugiados. Esforçar-se-ão, em especial, para ace- Qualquer controvérsia entre as Partes nesta
lerar o processo de naturalização e reduzir, tam- Convenção relativa a sua interpretação ou a sua
bém na medida do possível, as taxas e despesas aplicação, que não possa ser resolvida por ou-
desse processo. tros meios, será submetida à Corte Internacional
de Justiça, a pedido de uma das Partes na con-
CAPÍTULO VI
trovérsia.
DISPOSIÇÕES EXECUTÓRIAS E TRANSITÓRIAS
Artigo 39 – Assinatura, ratificação e adesão
Artigo 35 – Cooperação das autoridades
1. Esta Convenção ficará aberta à assinatura em
nacionais com as Nações Unidas
Genebra a 28 de julho de 1951 e, após esta data,
1. Os Estados Contratantes comprometem-se
depositada em poder do Secretário-Geral das Na-
a cooperar com o Alto Comissariado das Nações
ções Unidas. Ficará aberta à assinatura no Escri-
Unidas para os Refugiados, ou qualquer outra tório Europeu das Nações Unidas de 28 de julho a
instituição das Nações Unidas que lhe suceda, no 31 de agosto de 1951, e depois será reaberta à as-
exercício das suas funções e em particular para sinatura na sede da Organização das Nações Uni-
facilitar a sua tarefa de supervisionar a aplicação das, de 17 de setembro de 1951 a 31 de dezembro
das disposições desta Convenção. de 1952.
2. A fim de permitir ao Alto Comissariado ou 2. Esta Convenção ficará aberta à assinatura de
a qualquer outra instituição das Nações Unidas todos os Estados membros da Organização das
que lhe suceda apresentar relatório aos órgãos Nações Unidas, bem como de qualquer outro Es-
competentes das Nações Unidas, os Estados Con- tado não membro convidado para a Conferência
tratantes se comprometem a fornecer-lhes, pela de Plenipotenciários sobre o Estatuto dos Refu-
forma apropriada, as informações e os dados es- giados e dos Apátridas, ou de qualquer Estado ao
tatísticos solicitados relativos: qual a Assembleia Geral haja dirigido convite para
assinar. Deverá ser ratificada e os instrumentos de
a) ao estatuto dos refugiados;
ratificação ficarão depositados em poder do Se-
b) à execução desta Convenção; e
cretário-Geral das Nações Unidas.
c) às leis, regulamentos e decretos que estão ou
3. Os Estados mencionados no parágrafo 2 do
entrarão em vigor no que concerne aos refugiados.
presente artigo poderão aderir a esta Convenção
Artigo 36 – Informações sobre as leis e a partir de 28 de julho de 1951. A adesão será feita
regulamentos nacionais mediante instrumento próprio que ficará deposi-
Os Estados Contratantes comunicarão ao Secre- tado em poder do Secretário-Geral das Nações
tário-Geral das Nações Unidas o texto das leis e Unidas.
dos regulamentos que promulguem para assegu- Artigo 40 – Cláusula de aplicação territorial
rar a aplicação desta Convenção. 1. Qualquer Estado poderá, no momento da as-
sinatura, ratificação ou adesão, declarar que esta
Artigo 37 – Relações com as convenções
Convenção se estenderá ao conjunto dos territó-
anteriores
rios que representa no plano internacional, ou a
Sem prejuízo das disposições constantes no pa-
um ou vários dentre eles. Tal declaração produzirá
rágrafo 2 do artigo 28, esta Convenção substitui,
efeitos no momento da entrada em vigor da Con-
entre as Partes na Convenção, os acordos de 5 de venção para o referido Estado.
julho de 1922, 31 de maio de 1924, 12 de maio de 2. A qualquer momento posterior a extensão
1926, 30 de julho de 1928 e 30 de julho de 1935, poderá ser feita através de notificação dirigida ao
bem como as Convenções de 28 de outubro de Secretário-Geral das Nações Unidas, e produzirá
1933, 10 de fevereiro de 1938, o Protocolo de 14 efeitos a partir do nonagésimo dia seguinte à data
de setembro de 1939 e o Acordo de 15 de outubro na qual o Secretário-Geral das Nações Unidas hou-
de 1946. ver recebido a notificação ou na data de entrada
37
em vigor da Convenção para o referido Estado, se Artigo 43 – Entrada em vigor
esta última data for posterior. 1. Esta Convenção entrará em vigor no nonagé-
3. No que concerne aos territórios aos quais esta simo dia seguinte à data do depósito do sexto ins-
Convenção não se aplique na data da assinatura, trumento de ratificação ou de adesão.
ratificação ou adesão, cada Estado interessado 2. Para cada um dos Estados que ratificarem a
examinará a possibilidade de tomar, logo que Convenção ou a ela aderirem depois do depósito
possível, todas as medidas necessárias a fim de do sexto instrumento de ratificação ou de adesão,
estender a aplicação desta Convenção aos referi- ela entrará em vigor no nonagésimo dia seguinte
dos territórios, ressalvado, sendo necessário por à data do depósito feito por esse Estado do seu
motivos constitucionais, o consentimento do go- instrumento de ratificação ou de adesão.
verno de tais territórios. Artigo 44 – Denúncia
Artigo 41 – Cláusula federal 1. Qualquer Estado Contratante poderá denun-
No caso de um Estado federal ou não unitário, ciar a Convenção a qualquer momento por noti-
aplicar-se-ão as seguintes disposições: ficação dirigida ao Secretário-Geral das Nações
a) No que concerne aos artigos desta Conven- Unidas.
ção cuja execução dependa da ação legislativa 2. A denúncia entrará em vigor para o Estado in-
do poder legislativo federal, as obrigações do go- teressado um ano depois da data em que tiver sido
verno federal serão, nesta medida, as mesmas que recebida pelo Secretário-Geral das Nações Unidas.
as das partes que não são Estados federais. 3. Qualquer Estado que houver feito uma de-
b) No que concerne aos artigos desta Conven- claração ou notificação conforme o artigo 40, po-
ção cuja aplicação depende da ação legislati- derá notificar ulteriormente ao Secretário-Geral
va de cada um dos Estados, províncias ou muni- das Nações Unidas que a Convenção cessará de
cípios constitutivos, que não são, em virtude do se aplicar a todo o território designado na notifi-
sistema constitucional da federação, obrigados a cação. A Convenção cessará, então, de se aplicar
tomar medidas legislativas, o governo federal le- ao território em questão, um ano depois da data
vará, o mais cedo possível, e com o seu parecer fa- na qual o Secretário-Geral houver recebido essa
vorável, os referidos artigos ao conhecimento das notificação.
autoridades competentes dos Estados, províncias Artigo 45 – Revisão
ou municípios. 1. Qualquer Estado Contratante poderá, a qual-
c) Um Estado federal Parte nesta Convenção quer tempo, por uma notificação dirigida ao Se-
fornecerá, mediante solicitação de qualquer outro cretário-Geral das Nações Unidas, pedir a revisão
Estado Contratante que lhe haja sido transmitida desta Convenção.
pelo Secretário-Geral das Nações Unidas, uma ex- 2. A Assembleia Geral das Nações Unidas reco-
posição sobre a legislação e as práticas em vigor mendará as medidas a serem tomadas, se for o
na federação e em suas unidades constitutivas, caso, a propósito de tal pedido.
no que concerne a qualquer disposição da Con-
Artigo 46 – Notificações pelo Secretário-Geral
venção, indicando em que medida, por uma ação
das Nações Unidas
legislativa ou de outra natureza, tornou-se efetiva
O Secretário-Geral das Nações Unidas comu-
a referida disposição.
nicará a todos os Estados membros das Nações
Artigo 42 – Reservas Unidas e aos Estados não membros mencionados
1. No momento da assinatura, da ratificação ou no artigo 39:
da adesão, qualquer Estado poderá formular re- a) as declarações e as notificações menciona-
servas aos artigos da Convenção, que não os arti- das na seção B do artigo 1;
gos 1, 3, 4, 16 (1), 33 e 36 a 46 inclusive. b) as assinaturas, ratificações e adesões men-
2. Qualquer Estado Contratante que haja formu- cionadas no artigo 39;
lado uma reserva conforme o parágrafo 1 desse c) as declarações e as notificações menciona-
artigo, poderá retirá-la a qualquer momento me- das no artigo 40;
diante comunicação com esse fim dirigida ao Se- d) as reservas formuladas ou retiradas mencio-
cretário-Geral das Nações Unidas. nadas no artigo 42;
38
CONVENÇÃO SOBRE ASILO DIPLOMÁTICO (CARACAS, 1954)

e) a data na qual esta Convenção entrará em para servir de asilo, deverão ser convidadas a
vigor, de acordo com o artigo 43; retira-se, ou conforme o caso, ser entregues ao
f) as denúncias e as notificações mencionadas governo local, o qual não poderá julgá-las por de-
no artigo 44; litos políticos anteriores ao momento da entrega.
g) os pedidos de revisão mencionados no ar-
Artigo IV
tigo 45.
Compete ao Estado asilante a classificação da
Em fé do que, os abaixo-assinados, devidamen-
te autorizados, assinaram, em nome de seus res- natureza do delito ou dos motivos da perseguição.
pectivos Governos, a presente Convenção. Artigo V
O asilo só poderá ser concedido em casos de
CONVENÇÃO SOBRE ASILO urgência e pelo tempo estritamente indispensável
DIPLOMÁTICO (CARACAS, 1954) para que o asilado deixe o país com as garantias
(Aprovada pelo Decreto Legislativo nº 13 de 1957 e
concedidas pelo governo do Estado territorial, a
promulgada pelo Decreto nº 42.628, de 13/11/1957)
fim de não correrem perigo de vida, sua liberdade
Os Governos dos Estados Membros da Organi- ou sua integridade pessoal, ou para que de outra
zação dos Estados Americanos, desejos de esta- maneira o asilado seja posto em segurança.
belecer uma Convenção sobre Asilo Diplomático,
Artigo VI
convieram nos seguintes artigos:
Entendem-se por casos de urgência, entre ou-
Artigo I tros, aqueles em que o indivíduo é perseguido por
O asilo outorgado em legações, navios de guerra pessoas ou multidões que não possam ser conti-
e acampamentos ou aeronaves militares, a pessoas das pelas autoridades, ou pelas próprias autori-
perseguidas por motivos ou delitos políticos, será dades, bem como quando se encontre em perigo
respeitado pelo Estado territorial, de acordo com de ser privado de sua vida ou de sua liberdade por
as disposições desta Convenção. motivos de perseguição política e não possa, sem
Para os fins desta Convenção, legação é a sede
risco, pôr-se de outro modo em segurança.
de toda missão diplomática ordinária, a residên-
cia dos chefes de missão, e os locais por eles des- Artigo VII
tinados para esse efeito, quando o número de asi- Compete ao Estado asilante julgar se se trata de
lados exceder a capacidade normal dos edifícios. caso de urgência.
Os navios de guerra ou aeronaves militares, que
Artigo VIII
se encontrarem provisoriamente em estaleiros,
O agente diplomático, comandante de navio de
arsenais ou oficinas para serem reparados, não
guerra acampamento ou aeronave militar, depois
podem constituir recinto de asilo.
de concedido o asilo, comunicá-lo-á com a maior
Artigo II brevidade possível ao Ministro das Relações Exte-
Todo Estado tem o direito de conceder asilo, riores do Estado territorial ou à autoridade admi-
mas não se acha obrigado a concedê-lo, nem a nistrativa do lugar, se o fato houver ocorrido fora
declarar por que o nega. da Capital.
Artigo III Artigo IX
Não é lícito conceder asilo a pessoas que, na A autoridade asilante tomará em conta as infor-
ocasião em que o solicitem, tenham sido acusa- mações que o governo territorial lhe oferecer para
das de delitos comuns, processadas ou conde- formar seu critério sobre a natureza do delito ou a
nadas por esse motivo pelos tribunais ordinários existência de delitos comuns conexos; porém será
competentes, sem haverem cumprido as penas
respeitada sua determinação de continuar a conce-
respectivas; nem a desertores das forças de terra,
der asilo ou exigir salvo-conduto para a perseguido.
mar e ar, salvo quando os fatos que motivarem o
pedido de asilo, seja qual for o caso, apresentem Artigo X
claramente caráter político. O fato de não estar o governo do Estado terri-
As pessoas mencionadas no parágrafo prece- torial reconhecido pelo Estado asilante não im-
dente, que se refugiarem em lugar apropriado pedirá a observância desta Convenção e nenhum
39
ato executado em virtude da mesma implicará a Artigo XVI
reconhecimento. Os asilados não poderão ser desembarcados
em ponto algum do Estado territorial, nem em
Artigo XI
lugar que dele esteja próximo, salvo por necessi-
O governo do Estado territorial pode em qual-
dade de transporte.
quer momento, exigir que o asilado seja retirado
do país, para o que deverá conceder salvo-conduto Artigo XVII
e as garantias estipuladas no Artigo V. Efetuada a saída do asilado, o Estado asilante
não e obrigado a conceder-lhe permanência no
Artigo XII
seu território; mas não o poderá mandar de volta
Concedido o asilo, o Estado asilante pode pedir
o seu país de origem, salvo por vontade expressa
a saída do asilado para território estrangeiro,
do asilado.
sendo o Estado territorial obrigado a conceder
O fato de o Estado territorial comunicar à auto-
imediatamente, salvo caso de força maior, as ga-
ridade asilante a intenção de solicitar a extradi-
rantias, necessárias a que se refere o Artigo V e o
ção posterior do asilado não prejudicará aplicação
correspondente salvo-conduto.
de qualquer dispositivo desta Convenção. Nesse
Artigo XIII caso, o asilado permanecerá residindo no territó-
Nos casos referidos nos artigos anteriores, o Es- rio do Estado asilante até que se receba o pedido
tado asilante pode exigir que as garantias sejam formal de extradição, segundo as normas jurídi-
dadas por escrito e tomar em consideração, para cas que regem essa instituição no Estado asilante.
a rapidez da viagem, as condições reais de pedido A vigilância sobre o asilado não poderá exceder
apresentadas para a saída do asilado. de trinta dias.
Ao Estado asilante cabe o direito de conduzir o As despesas desse transporte e as da perma-
asilado para fora do país. O Estado territorial pode nência preventiva cabem ao Estado do suplicante.
escolher o itinerário preferido para a saída do asi- Artigo XVIII
lado, sem que isso implique determinar o país de A autoridade asilante não permitirá aos asila-
destino. dos praticar atos contrários à tranquilidade pú-
Se o asilo se verificar a bordo de navio de guerra blica, nem intervier na política interna do Estado
ou aeronave militar, a saída pode se efetuar nos territorial.
mesmos, devendo, porém ser previamente preen-
Artigo XIX
chido o requisito da obtenção do salvo-conduto.
Se, por motivo de ruptura de relações, o repre-
Artigo XIV sentante diplomático que concedeu o asilo tiver
Não se pode culpar o Estado asilante do pro- de abandonar o Estado territorial, sairá com os
longamento do asilo, decorrente da necessidade asilados.
de coligir informações indispensáveis para julgar Se o estabelecido no parágrafo anterior não for
da procedência do mesmo, ou de fatos circuns- possível por causas independentes da vontade
tancias que ponham em perigo a segurança do dos mesmos ou do agente diplomático, deverá
asilado durante o trajeto para um país estrangeiro. entregá-los à representação diplomática de um
Artigo XV terceiro Estado, com as garantias estabelecidas
Quando para a transferência de um asilado para nesta Convenção.
outro país for necessário atravessar o território de Se isto também não for possível, poderá entre-
gá-los a um Estado que não faça parte desta Con-
um Estado Parte nesta Convenção, o trânsito será
venção e concorde em manter o asilo. O Estado
autorizado por este sem outro por via diplomática,
territorial deverá respeitar esse asilo.
do respectivo salvo-conduto visado e com a decla-
ração, por parte da missão diplomática asilante, Artigo XX
da qualidade do asilado. O asilo diplomático não estará sujeito à recipro-
Durante o mencionado trânsito o asilado ficará cidade. Toda pessoa, seja qual for sua nacionali-
sob a proteção do Estado que concede o asilo. dade, pode estar sob proteção.
40
CONVENÇÃO SOBRE O ESTATUTO DOS APÁTRIDAS (NOVA YORK, 1954)


Artigo XXI República Dominicana


A presente Convenção fica aberta a assinatura A República Dominicana assina a Convenção
dos Estados Membros da Organização dos Estados anterior com as reservas seguintes:
Americanos e será ratificada pelos Estados signa- Primeira: A República Dominicana não aceita as
tários, de acordo com as respectivas normas cons- disposições contidas nos Artigos VII e seguintes no
titucionais. que concerne à classificação unilateral da urgên-
cia pelo Estado asilante: e,
Artigo XXII
Segunda: As disposições desta Convenção não
O instrumento original, cujos textos em portu-
são aplicáveis, por conseguinte, no que concerne
guês, espanhol, francês e inglês são igualmente au-
à República Dominicana, às controvérsias que
tênticos, será depositado na União Pan-Americana,
possam surgir entre o Estado territorial e o Estado
que enviará cópias autenticadas aos Governos,
asilante, e que se refiram concretamente à falta de
para fins de ratificação.
seriedade ou inexistência de uma ação de verda-
Os instrumentos de ratificação serão deposi-
deira perseguição contra o asilado da parte das
tados na União Pan-Americana, que notificará os
autoridades locais.
Governos signatários do referido depósito.
Honduras
Artigo XXIII A Delegação de Honduras assina a Convenção
A presente Convenção entrará em vigor entre sobre Asilo Diplomático com as reservas pertinen-
os Estados que a ratificarem, na ordem em que tes aos artigos que se oponham à Constituição e
depositem as respectivas ratificações. às leis vigentes da República de Honduras.
Artigo XXIV Em fé do que, os Plenipotenciários abaixo as-
A presente Convenção vigorará indefinidamen- sinados, apresentados seus plenos poderes que
te, podendo ser denunciada por qualquer dos foram achados em boa e devida forma, firmam
Estados signatários, mediante aviso prévio de um a presente Convenção em nome de seus Gover-
ano, decorrido o qual cessarão seus efeitos para nos, na cidade de Caracas, aos vinte e oito dias
o denunciante, subsistindo para os demais. A de- de março de mil novecentos e cinquenta e quatro.
núncia será enviada à União Pan-Americana, que a
comunicará aos demais Estados signatários. CONVENÇÃO SOBRE O ESTATUTO
DOS APÁTRIDAS (NOVA YORK, 1954)
RESERVAS (Aprovada pelo Decreto Legislativo nº 38 de 1995 e
Guatemala promulgada pelo Decreto nº 4.246, de 22/5/2002)
Fazemos reserva expressa ao artigo II na parte
Adotada em 28 de setembro de 1954 pela Con-
que declara não serem os Estados obrigados a
ferência de Plenipotenciários convocada pela
conceder asilo, porque mantemos o conceito
Resolução 526 A (XVII) do Conselho Econômico e
amplo e firme do direito de asilo.
Social (Ecosoc) das Nações Unidas, de 26 de abril
Uruguai
de 1954.
O Governo do Uruguai faz reserva ao Artigo II
na parte que estabelece: a autoridade asilante, PREÂMBULO
não está, em nenhum caso, obrigada a conceder As Altas Partes Contratantes,
asilo nem a declarar por que o nega. Faz, outros- Considerando que a Carta das Nações Unidas
sim, reserva ao Artigo XV na parte que estabelece: e a Declaração Universal de Direitos Humanos,
“[...] sem outro requisito além da apresentação, aprovada em 10 de dezembro de 1948 pela As-
por via diplomática, do respectivo salvo-conduto sembleia-Geral das Nações Unidas, afirmaram o
visado e com a declaração, por parte da missão princípio de que os seres humanos, sem discrimi-
diplomática asilante, da qualidade de asilado. Du- nação alguma, devem gozar dos direitos e liberda-
rante o mencionado trânsito o asilado ficará sob des fundamentais;
a proteção do Estado que concede o Asilo”. Final- Considerando que as Nações Unidas manifes-
mente, faz reserva à segunda alínea do Artigo XX, taram, em diversas ocasiões, o seu profundo in-
pois o Governo do Uruguai entende que todas as teresse pelos apátridas e se esforçaram por as-
pessoas, qualquer que seja o sexo, nacionalidade, segurar-lhes o exercício mais amplo possível dos
opinião ou religião, gozam do direito de asilo. direitos e liberdades fundamentais;
41
Considerando que a Convenção sobre o Esta- Artigo 4 – Religião
tuto dos Refugiados de 28 de julho de 1951 com- Os Estados Contratantes garantirão aos apátri-
preende apenas os apátridas que são também das em seu território um tratamento pelo menos
refugiados, e que existem muitos apátridas aos tão favorável quanto o que garantem aos seus
quais a referida Convenção não se aplica; nacionais em relação à liberdade de praticar sua
Considerando que é desejável regular e melho- religião e no tocante à liberdade de instrução reli-
rar a condição dos apátridas mediante um acordo giosa de seus filhos.
internacional, Artigo 5 – Direitos Concedidos
Convieram nas seguintes disposições: Independentemente desta Convenção
CAPÍTULO I Nenhuma disposição desta Convenção pode-
DISPOSIÇÕES GERAIS rá afetar os outros direitos e vantagens concedi-
dos aos apátridas, independentemente desta Con-
Artigo 1 – Definição do Termo “Apátrida” venção.
1. Para os efeitos da presente Convenção, o
termo “apátrida” designará toda pessoa que não Artigo 6 – A Expressão “Nas Mesmas
seja considerada seu nacional por nenhum Estado, Circunstâncias”
Para os fins desta Convenção, os termos “nas
conforme sua legislação.
mesmas circunstâncias” implicam que todas as
2. Esta Convenção não se aplicará:
condições (e notadamente as que se referem à
i) às pessoas que recebam atualmente proteção
duração e às condições de permanência ou de re-
ou assistência de um órgão ou agência das Nações
sidência) que o interessado deveria cumprir para
Unidas diverso do Alto Comissariado das Nações
poder exercer o direito em questão, se não fosse
Unidas para os Refugiados, enquanto estiverem
apátrida, devem ser cumpridas por ele, com ex-
recebendo tal proteção ou assistência;
ceção das condições que, em virtude da sua natu-
ii) às pessoas às quais as autoridades compe-
reza, não podem ser cumpridas por um apátrida.
tentes do país no qual hajam fixado sua residência
reconheçam os direitos e obrigações inerentes à Artigo 7 – Dispensa de Reciprocidade
posse da nacionalidade de tal país; 1. Ressalvadas as disposições mais favoráveis
iii) às pessoas a respeito das quais haja razões previstas por esta Convenção, todo Estado Con-
tratante concederá aos apátridas o regime que
fundadas para considerar:
concede aos estrangeiros em geral.
a) que cometeram um delito contra a paz, um
2. Após um prazo de residência de três anos,
delito de guerra ou um delito contra a humani-
todos os apátridas se beneficiarão, no território
dade, definido nos termos dos instrumentos in-
dos Estados Contratantes, da dispensa de recipro-
ternacionais referentes aos mencionados delitos;
cidade legislativa.
b) que cometeram um delito grave de índole
3. Todo Estado Contratante continuará a conce-
não política fora do país de sua residência, antes
der aos apátridas os direitos e vantagens de que
da sua admissão no referido país; eles já gozavam, na falta de reciprocidade, na data
c) que são culpadas de atos contrários aos pro- de entrada em vigor desta Convenção para o refe-
pósitos e princípios das Nações Unidas. rido Estado.
Artigo 2 – Obrigações Gerais 4. Os Estados Contratantes considerarão com
Todo apátrida tem, a respeito do país em que benevolência a possibilidade de conceder aos
se encontra, deveres que compreendem espe- apátridas, na falta de reciprocidade, direitos e
cialmente a obrigação de acatar suas leis e regu- vantagens além dos de que gozavam em virtude
dos parágrafos 2 e 3, bem como a possibilidade
lamentos, bem como as medidas adotadas para a
de fazer gozar da dispensa de reciprocidade apá-
manutenção da ordem pública.
tridas que não preencham as condições mencio-
Artigo 3 – Não Discriminação nadas nos parágrafos 2 e 3.
Os Estados Contratantes aplicarão as disposições 5. As disposições dos parágrafos 2 e 3 acima
desta Convenção aos apátridas, sem discrimina- aplicam-se tanto aos direitos e vantagens men-
ção por motivos de raça, religião ou país de origem. cionados nos artigos 13, 18, 19, 21 e 22 desta
42
CONVENÇÃO SOBRE O ESTATUTO DOS APÁTRIDAS (NOVA YORK, 1954)

Convenção como aos direitos e vantagens que ritório e de expedir-lhes documentos de viagem
não são por ela previstos. ou de admiti-los a título temporário no seu terri-
tório, principalmente com o fim de facilitar-lhes a
Artigo 8 – Dispensa de Medidas Excepcionais
No que concerne às medidas excepcionais que fixação em outro país.
podem ser tomadas contra a pessoa, os bens ou CAPÍTULO II
os interesses dos nacionais ou dos ex-nacionais CONDIÇÃO JURÍDICA
de um Estado determinado, os Estados Contratan-
Artigo 12 – Estatuto Pessoal
tes não as aplicarão a um apátrida apenas porque
1. O estatuto pessoal de todo apátrida será re-
tenha ele tido a nacionalidade de tal Estado. Os
gido pela lei do país de seu domicílio ou, na falta
Estados Contratantes que, de acordo com a sua
de domicílio, pela lei do país de sua residência.
legislação, não possam vir a aplicar o princípio
2. Os direitos anteriormente adquiridos pelo
geral consagrado neste artigo, deverão conceder
em casos apropriados dispensas que favoreçam apátrida e que decorrem do estatuto pessoal, no-
tais apátridas. tadamente os que resultem do casamento, serão
respeitados por todo Estado Contratante, ressal-
Artigo 9 – Medidas Provisórias vado, se for o caso, o cumprimento das formali-
Nenhuma das disposições da presente Conven-
dades previstas pela legislação do referido Estado,
ção impedirá um Estado Contratante, em tempo
desde que, todavia, o direito em causa seja daque-
de guerra ou em outras circunstâncias graves e
les que seriam reconhecidos pela legislação do re-
excepcionais, de tomar provisoriamente, a propó-
ferido Estado, se o interessado não se houvesse
sito de determinada pessoa, as medidas que este
tornado apátrida.
Estado considere indispensáveis à segurança na-
cional, enquanto não for estabelecido pelo men- Artigo 13 – Propriedade Móvel e Imóvel
cionado Estado Contratante que essa pessoa é Os Estados Contratantes outorgarão a todo apá-
efetivamente um apátrida e que a manutenção trida um tratamento tão favorável quanto possível
das referidas medidas a seu respeito se afigura e, em todo caso, não menos favorável que aquele
necessária no interesse da segurança nacional. concedido, nas mesmas circunstâncias, aos es-
Artigo 10 – Continuidade de Residência trangeiros em geral, no que diz respeito à aquisi-
1. Quando um apátrida houver sido deportado ção da propriedade móvel ou imóvel e aos direitos
durante a Segunda Guerra Mundial e transportado a elas relativos, ao aluguel e a outros contratos
para o território de um dos Estados Contratantes relativos à propriedade móvel e imóvel.
e ali residir, a duração dessa permanência forçada Artigo 14 – Propriedade Intelectual e Industrial
será contada como residência regular nesse ter-
Em matéria de proteção da propriedade indus-
ritório.
trial, notadamente de invenções, desenhos, mo-
2. Quando um apátrida houver sido deportado
delos, marcas de fábrica, nome comercial e em
do território de um Estado Contratante durante a
matéria de proteção da propriedade literária, ar-
Segunda Guerra Mundial e para lá houver voltado
tística e científica, todo apátrida gozará, no país
antes da entrada em vigor desta Convenção, com
em que tem sua residência habitual, da proteção
o objetivo de residir, o período que precede e o
que é garantida aos nacionais do referido país. No
que segue a essa deportação serão considerados,
para todos os fins para os quais uma residência território de qualquer dos outros Estados Contra-
ininterrupta é necessária, como constituindo um tantes, gozará da mesma proteção dada naquele
só período ininterrupto. território aos nacionais do país no qual tenha re-
sidência habitual.
Artigo 11 – Marítimos Apátridas
Nos casos de apátridas que estejam regular- Artigo 15 – Direito de Associação
mente empregados como membros da equipa- Os Estados Contratantes concederão aos apátri-
gem a bordo de um navio que hasteie pavilhão das que residem regularmente no seu território, no
de um Estado Contratante, este Estado examinará tocante às associações sem fim político ou lucra-
com benevolência a possibilidade de autorizar os tivo e aos sindicatos profissionais, um tratamento
referidos apátridas a se estabelecerem no seu ter- tão favorável quanto possível e, em todo caso, não
43
menos favorável que aquele conferido, nas mes- tadores de diplomas reconhecidos pelas autorida-
mas circunstâncias, aos estrangeiros em geral. des competentes do referido Estado e que desejem
Artigo 16 – Direito de Demandar em Juízo exercer uma profissão liberal, um tratamento tão
1. Todo apátrida gozará, no território dos Estados favorável quanto possível e, em todo caso, não
Contratantes, de livre e fácil acesso aos tribunais. menos favorável que aquele concedido, nas mes-
2. No Estado Contratante em que tem sua resi- mas circunstâncias, aos estrangeiros em geral.
dência habitual, todo apátrida fruirá do mesmo
CAPÍTULO IV
tratamento que um nacional no que concerne ao BENEFÍCIOS SOCIAIS
acesso aos tribunais, inclusive a assistência judi-
ciária e a isenção da caução judicatum solvi. Artigo 20 – Racionamento
3. Nos Estados Contratantes que não aquele em Na hipótese de existir um sistema de raciona-
que tem residência habitual, no que se refere às mento ao qual esteja sujeita a população como
questões tratadas no parágrafo 2, todo apátrida um todo, e que regulamente a partilha geral de
gozará do mesmo tratamento dispensado ao na- produtos de que há escassez, os apátridas serão
cional do país no qual reside habitualmente. tratados como os nacionais.
CAPÍTULO III Artigo 21 – Habitação
EMPREGOS LUCRATIVOS
No que se refere a habitação, os Estados Contra-
Artigo 17 – Profissões Assalariadas tantes, na medida em que esse tema seja regrado
1. Os Estados Contratantes concederão a todo pelas leis e regulamentos ou esteja submetido ao
apátrida que resida regularmente no seu territó- controle das autoridades públicas, concederão
rio um tratamento tão favorável quanto possível aos apátridas que residam regularmente no seu
e, em todo caso, um tratamento não menos favo-
território um tratamento tão favorável quanto
rável que aquele proporcionado, nas mesmas cir-
possível, e, em todo caso, não menos favorável
cunstâncias, aos estrangeiros em geral no que se
que aquele concedido, nas mesmas circunstân-
refere ao exercício de uma atividade profissional
cias, aos estrangeiros em geral.
assalariada.
2. Os Estados Contratantes considerarão, com Artigo 22 – Instrução Pública
benevolência, a adoção de medidas tendentes a 1. Os Estados Contratantes concederão aos apá-
assimilar os direitos de todos os apátridas, no que tridas o mesmo tratamento dispensado aos seus
concerne ao exercício das profissões assalariadas, nacionais, no tocante ao ensino primário.
aos dos seus nacionais, notadamente para os apá- 2. Os Estados Contratantes assegurarão aos apá-
tridas que entraram em seu território em virtude
tridas um tratamento tão favorável quanto pos-
de um programa de recrutamento de mão de obra
sível e, em todo caso, não menos favorável que
ou de um plano de imigração.
aquele concedido aos estrangeiros em geral, nas
Artigo 18 – Profissões Não Assalariadas mesmas circunstâncias, no que se refere às cate-
Os Estados Contratantes concederão aos apá- gorias de ensino que não o ensino primário e, no-
tridas que se encontrem regularmente em seu ter- tadamente, no que concerne o acesso aos estudos,
ritório tratamento tão favorável quanto possível
ao reconhecimento de certificados de estudos, de
e, em todo caso, tratamento que não seja menos
diplomas e de títulos universitários expedidos no
favorável que aquele garantido, nas mesmas cir-
estrangeiro, a isenção de direitos e taxas e a con-
cunstâncias, aos estrangeiros em geral, no que se
cessão de bolsas de estudos.
reporta ao exercício de uma profissão não assala-
riada na agricultura, na indústria, no artesanato Artigo 23 – Assistência Pública
e no comércio, bem como quanto ao estabeleci- Os Estados Contratantes outorgarão aos apátri-
mento de firmas comerciais e industriais. das que residam regularmente no seu território o
Artigo 19 – Profissões Liberais mesmo tratamento que aquele concedido aos
Todo Estado Contratante garantirá aos apátridas seus nacionais em matéria de assistência e de so-
que residam regularmente no seu território, por- corros públicos.
44
CONVENÇÃO SOBRE O ESTATUTO DOS APÁTRIDAS (NOVA YORK, 1954)

Artigo 24 – Legislação do Trabalho e em vigor entre esses Estados Contratantes e Es-


Previdência Social tados não contratantes.
1. Os Estados Contratantes conferirão aos apá-
CAPÍTULO V
tridas que residem regularmente no seu território MEDIDAS ADMINISTRATIVAS
o mesmo tratamento que aquele facultado aos na-
cionais no que diz respeito aos seguintes pontos: Artigo 25 – Assistência Administrativa
a) na medida em que estas questões sejam re- 1. Quando o exercício de um direito por um apá-
gulamentadas pela legislação ou dependam das trida exigir normalmente a assistência de autori-
autoridades administrativas: a remuneração, in- dades estrangeiras, às quais não possa recorrer, os
clusive adicionais de família quando estes adicio- Estados Contratantes em cujo território ele residir
nais fizerem parte da remuneração, a duração do providenciarão para que essa assistência lhe seja
trabalho, as horas suplementares, as férias pagas, prestada por suas próprias autoridades.
as restrições ao trabalho doméstico, a idade de ad- 2. A ou as autoridades mencionadas no pará-
missão no emprego, o aprendizado e a formação grafo 1 expedirão ou farão expedir, sob seu con-
profissional, o trabalho das mulheres e dos ado- trole, em favor dos apátridas, os documentos ou
lescentes e o gozo das vantagens oferecidas pelas certificados que, normalmente, seriam expedidos
convenções coletivas; para um estrangeiro por suas autoridades nacio-
b) à previdência social (as disposições legais nais ou por seu intermédio.
relativas aos acidentes do trabalho, às moléstias 3. Os documentos ou certificados assim expedi-
profissionais, à maternidade, à doença, à invali- dos substituirão os atos oficiais expedidos para es-
dez, à velhice e à morte, ao desemprego, aos en- trangeiros por suas autoridades nacionais, ou por
cargos de família, bem como a qualquer outro seu intermédio, e farão fé até prova em contrário.
risco que, conforme a legislação nacional, seja co- 4. Ressalvadas as exceções que possam ser ad-
berto por um sistema de previdência social), res- mitidas em favor dos indigentes, os serviços men-
salvados: cionados no presente artigo poderão ser retribuí-
i) os ajustes apropriados que visem à manuten- dos, mas essas retribuições serão moderadas e
ção dos direitos adquiridos e dos direitos em vias proporcionais ao que se cobra dos nacionais por
de aquisição; serviços análogos.
ii) disposições particulares prescritas pela legis- 5. As disposições deste artigo em nada afetam
lação nacional do país de residência e que visem os artigos 27 e 28.
aos benefícios ou frações de benefícios pagos ex-
clusivamente pelos recursos públicos, bem como Artigo 26 – Liberdade de Movimento
os benefícios pagos às pessoas que não reúnem Todo Estado Contratante concederá aos apátri-
as condições de contribuição exigidas para a con- das que se encontrem regularmente no seu terri-
cessão de uma pensão normal. tório o direito de escolher o local de sua residência
2. Os direitos a uma indenização pela morte e de circular livremente, com as restrições instituí-
de um apátrida ocorrida em virtude de acidente das pela regulamentação aplicável, nas mesmas
do trabalho ou de doença profissional não serão circunstâncias, aos estrangeiros em geral.
afetados pelo fato de o beneficiário residir fora do Artigo 27 – Documentos de Identidade
território do Estado Contratante. Os Estados Contratantes expedirão documentos
3. Os Estados Contratantes estenderão aos apá-
de identidade a todo apátrida que se encontre no
tridas o benefício dos acordos que concluíram ou
seu território e que não tenha documento de via-
vierem a concluir entre si relativos à manutenção
gem válido.
dos direitos adquiridos ou em curso de aquisição
em matéria de previdência social, conquanto que Artigo 28 – Documentos de Viagem
preencham as condições previstas para os nacio- Os Estados Contratantes expedirão aos apátri-
nais dos países signatários dos acordos em questão. das que residam regularmente no seu território
4. Os Estados Contratantes examinarão com be- documentos de viagem destinados a permitir-lhes
nevolência a possibilidade de, na maior medida viajar fora desse território, a menos que a tanto se
possível, estender aos apátridas o benefício de oponham razões imperiosas de segurança nacio-
acordos semelhantes que estão ou vierem a estar nal ou de ordem pública. As disposições do anexo
45
a esta Convenção se aplicarão a esses documentos. podem aplicar, durante esse prazo, as medidas de
Os Estados Contratantes poderão expedir tal do- ordem interna que julgarem oportunas.
cumento de viagem a qualquer outro apátrida que
Artigo 32 – Naturalização
se encontre no seu território; atentarão particular-
Os Estados Contratantes facilitarão, na medida
mente para os casos de apátridas que se encon- do possível, a assimilação e a naturalização dos
trem em seu território e que não estejam em con- apátridas. Esforçar-se-ão notadamente para ace-
dições de obter um documento de viagem do país lerar o processo de naturalização e reduzir, na
onde residam regularmente. (Vide anexo) medida do possível, as taxas e despesas desse
Artigo 29 – Encargos Fiscais processo.
1. Os Estados Contratantes não sujeitarão os CAPÍTULO VI
apátridas a direitos, taxas, impostos, ou qualquer CLÁUSULAS FINAIS
outra denominação, mais elevados que ou dife-
Artigo 33 – Informações Relativas às Leis e
rentes dos que são ou serão cobrados dos seus
Regulamentos Nacionais
nacionais em situações análogas.
Os Estados Contratantes comunicarão ao Se-
2. As disposições do parágrafo anterior não se cretário-Geral das Nações Unidas o texto das leis
opõem à aplicação, aos apátridas, das disposições e dos regulamentos que promulgarem para asse-
das leis e regulamentos concernentes às taxas rela- gurar a aplicação desta Convenção.
tivas à expedição de documentos administrativos
aos estrangeiros, inclusive papéis de identidade. Artigo 34 – Solução das Controvérsias
Qualquer controvérsia entre as Partes nesta Con-
Artigo 30 – Transferência de Bens venção, relativa à sua interpretação ou à sua aplica-
1. Todo Estado Contratante, em conformidade ção, que não possa ser resolvida por outros meios,
com suas leis e regulamentos, permitirá aos apá- será submetida à Corte Internacional de Justiça, a
tridas transferir para outro país, no qual foram pedido de uma das Partes na controvérsia.
admitidos a fim de se reinstalarem, os bens que
Artigo 35 – Assinatura, Ratificação e Adesão
houverem levado para o território daquele Estado.
1. Esta Convenção ficará aberta à assinatura na
2. Todo Estado Contratante considerará com
Sede da Organização das Nações Unidas até 31 de
benevolência os pedidos apresentados pelos
dezembro de 1955.
apátridas que desejarem obter a autorização de
2. Ficará aberta à assinatura:
transferir todos os outros bens necessários à sua
a) de qualquer Estado-membro da Organização
reinstalação em outro país onde foram admitidos
das Nações Unidas;
a fim de ali se reinstalar.
b) de qualquer outro Estado não membro convi-
Artigo 31 – Expulsão dado para a Conferência das nações Unidas sobre
1. Os Estados Contratantes não expulsarão um o Estatuto dos Apátridas;
apátrida que se encontre regularmente no seu ter- c) de qualquer Estado ao qual a Assembleia-Ge-
ritório senão por motivos de segurança nacional ral das nações Unidas tenha dirigido convite para
ou de ordem pública. assinar ou aderir.
2. A expulsão desse apátrida só ocorrerá em vir- 3. Ela deverá ser ratificada e os instrumentos de
tude de decisão proferida conforme processo legal. ratificação serão depositados junto ao Secretário-
A não ser que a isso se oponham razões imperiosas Geral das nações Unidas.
de segurança nacional, o apátrida deverá ter per- 4. Os Estados mencionados no parágrafo 2 do
missão de fornecer provas com vistas à sua justifi- presente artigo poderão aderir a esta Convenção.
cação, de interpor recurso e de se fazer representar A adesão será feita pelo depósito de um instru-
para esse fim perante autoridade competente ou mento de adesão junto ao Secretário-Geral das
perante uma ou várias pessoas especialmente de- nações Unidas.
signadas pela autoridade competente. Artigo 36 – Cláusulas de Aplicação Territorial
3. Os Estados Contratantes concederão a tal apá- 1. Todo Estado poderá, no momento da assi-
trida um prazo razoável para procurar obter admis- natura, da ratificação ou da adesão, declarar que
são regular em outro país. Os Estados Contratantes esta Convenção se estenderá ao conjunto dos
46
CONVENÇÃO SOBRE O ESTATUTO DOS APÁTRIDAS (NOVA YORK, 1954)

territórios que representa no plano internacional, Artigo 38 – Reservas


ou a um ou vários dentre eles. Tal declaração pro- 1. No momento da assinatura, da ratificação
duzirá seus efeitos no momento da entrada em ou da adesão, qualquer Estado poderá formular
vigor da Convenção para o referido Estado. reservas aos artigos da Convenção, com exceção
2. A qualquer momento ulterior, essa extensão dos artigos 1, 3, 4, 16 (1), 33 a 42, inclusive.
se fará por notificação dirigida ao Secretário-Geral 2. Qualquer Estado Contratante que haja for-
das nações Unidas e produzirá seus efeitos a partir mulado uma reserva conforme o parágrafo 1 des-
do nonagésimo dia seguinte à data na qual o Se- te artigo poderá retirá-la a qualquer momento
cretário-Geral das nações Unidas houver recebido por uma comunicação para esse fim dirigida ao
a notificação ou na data da entrada em vigor da Secretário-Geral das nações Unidas.
Convenção para o referido Estado, se esta última
data for posterior. Artigo 39 – Entrada em Vigor
3. No que se refere aos territórios aos quais esta 1. Esta Convenção entrará em vigor no nonagé-
Convenção não se aplique na data da assinatura, simo dia seguinte à data do depósito do sexto ins-
da ratificação ou da adesão, cada Estado interes- trumento de ratificação ou de adesão.
sado examinará a possibilidade de tomar, logo 2. Para cada um dos Estados que ratificarem a
que possível, todas as medidas necessárias para Convenção ou a ela aderirem depois do depósito
fazer extensiva a aplicação desta Convenção aos do sexto instrumento de ratificação ou adesão, a
referidos territórios, sob reserva, quando neces- mesma entrará em vigor no nonagésimo dia se-
sário por imposição constitucional, do consenti- guinte à data do depósito, por esse Estado, do seu
mento dos governos desses territórios. instrumento de ratificação ou adesão.

Artigo 37 – Cláusula Federal Artigo 40 – Denúncia


No caso de um Estado federal ou não unitário, 1. Qualquer Estado Contratante poderá denun-
aplicam-se as seguintes disposições: ciar a Convenção a qualquer momento, por uma
a) no que concerne aos artigos desta Conven- notificação dirigida ao Secretário-Geral das na-
ção cuja execução depende da ação legislativa ções Unidas.
do poder legislativo federal, as obrigações do go- 2. A denúncia produzirá efeitos, para o Estado
verno federal serão, nesta medida, as mesmas que Contratante interessado, um ano depois da data
as das partes que não são Estados federativos; na qual houver sido recebida pelo Secretário-
b) no que se refere aos artigos desta Conven- Geral das nações Unidas.
ção cuja aplicação depende da ação legislativa 3. Qualquer Estado que houver feito uma de-
de cada um dos Estados, províncias ou cantões claração ou notificação conforme o artigo 36 po-
constitutivos que não são, em virtude do sistema derá notificar ulteriormente ao Secretário-Geral
constitucional da federação, obrigados a tomar das nações Unidas que a Convenção cessará de
medidas legislativas, o governo federal levará se aplicar a qualquer território designado na no-
com a maior brevidade possível, e com parecer tificação. A Convenção cessará então de se aplicar
favorável, os referidos artigos ao conhecimento ao território em questão um ano depois da data
das autoridades competentes dos Estados, pro- na qual o Secretário-Geral houver recebido essa
víncias ou cantões;
notificação.
c) um Estado federal Parte nesta Convenção
fornecerá, a pedido de qualquer outro Estado Artigo 41 – Revisão
Contratante que lhe haja sido transmitido pelo 1. Qualquer Estado Contratante poderá, a qual-
Secretário-Geral das nações Unidas, um relato da quer tempo, por uma notificação dirigida ao Se-
legislação e das práticas em vigor na federação e cretário-Geral das Nações Unidas, pedir a revisão
nas suas unidades constitutivas no tocante a qual- desta Convenção.
quer disposição da Convenção, indicando a me- 2. A Assembleia-Geral das Nações Unidas reco-
dida em que, por uma ação legislativa ou outra, mendará as medidas a serem tomadas, se for o
se conferiu efeito à referida disposição. caso, a propósito de tal pedido.
47
Artigo 42 – Notificações pelo Secretário-Geral que de outro modo seria apátrida. A nacionalida-
das Nações Unidas de será concedida:
O Secretário-Geral das Nações Unidas notifica- a) de pleno direito, no momento do nasci-
rá a todos os Estados-membros das Nações Uni- mento; ou
das e aos Estados não membros mencionados no b) mediante requerimento apresentado à au-
artigo 35: toridade competente pelo interessado ou em
a) as assinaturas, ratificações e adesões men- seu nome, conforme prescrito pela legislação do
cionadas no artigo 35; Estado em questão. Nos termos do disposto no
b) as declarações e notificações mencionadas parágrafo 2 deste Artigo, nenhum requerimento
no artigo 36; poderá ser indeferido.
c) as reservas formuladas ou retiradas mencio- Todo Estado Contratante cuja legislação pre-
nadas no artigo 38; veja a concessão de sua nacionalidade mediante
d) a data na qual esta Convenção entrar em requerimento, segundo a alínea b deste parágrafo,
vigor, em virtude do artigo 39; poderá também conceder sua nacionalidade de
e) as denúncias e notificações mencionadas no pleno direito na idade e sob as condições prescri-
artigo 40; tas em sua legislação nacional.
f) os pedidos de revisão mencionados no ar- 2. Todo Estado Contratante poderá subordinar a
tigo 41. concessão de sua nacionalidade segundo a alínea
Em fé do que os abaixo assinados, devidamente b do parágrafo 1 deste Artigo a uma ou mais das
autorizados, firmaram, em nome dos seus respec- seguintes condições:
tivos Governos, a presente Convenção. a) que o requerimento seja apresentado den-
Feita em Nova York, em vinte e oito de setembro tro de um período fixado pelo Estado Contratan-
de mil novecentos e cinquenta e quatro, em um só te, que deverá começar não depois da idade de
exemplar cujos textos inglês, espanhol e francês dezoito anos e terminar não antes da idade de vin-
fazem igualmente fé e que será depositado nos ar- te e um anos, de modo que o interessado dispo-
quivos da Organização das Nações Unidas, e cujas nha de um ano, no mínimo, durante o qual possa
cópias autênticas serão remetidas a todos os Es- apresentar o requerimento sem ter de obter auto-
tados-membros das nações Unidas e aos Estados rização judicial para fazê-lo;
não membros mencionados no artigo 35. b) que o interessado tenha residido habitual-
mente no território do Estado Contratante por
ANEXO
período, fixado por este Estado, não superior a
(Consulte em: <http://www2.camara.leg.br/legin/
cinco anos imediatamente anteriores à apresen-
fed/decleg/1995/decretolegislativo-38-5-abril-
tação do requerimento nem a dez anos ao todo;
1995-358545-anexo-pl.pdf>)
c) que o interessado não tenha sido condenado
por crime contra a segurança nacional nem tenha
CONVENÇÃO PARA A REDUÇÃO
sido condenado, em virtude de processo criminal,
DOS CASOS DE APATRIDIA
(NOVA YORK, 1961) a cinco anos ou mais de prisão;
(Aprovada pelo Decreto Legislativo nº 274 de 2007 e d) que o interessado sempre tenha sido apátrida.
promulgada pelo Decreto nº 8.501, de 18/8/2015) 3. Não obstante o disposto nos parágrafos 1, b,
e 2 do presente Artigo, todo filho legítimo nascido
Feita em Nova York, em 30 de agosto de 1961 no território de um Estado Contratante e cuja mãe
Os Estados Contratantes, seja nacional daquele Estado, adquirirá essa na-
Agindo em conformidade com a Resolução 896-IX, cionalidade no momento do nascimento se, do
adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas contrário, viesse a ser apátrida.
em 4 de dezembro de 1954, 4. Todo Estado Contratante concederá sua na-
Considerando conveniente reduzir os casos de cionalidade a qualquer pessoa que do contrário
apatridia por meio de um acordo internacional,
seja apátrida e que não pôde adquirir a nacio-
Convêm no seguinte:
nalidade do Estado Contratante em cujo territó-
Artigo 1 rio tiver nascido por ter passado da idade estabe-
1. Todo Estado Contratante concederá sua nacio- lecida para a apresentação de seu requerimento
nalidade a uma pessoa nascida em seu território e ou por não preencher os requisitos de residência
48
CONVENÇÃO PARA A REDUÇÃO DOS CASOS DE APATRIDIA (NOVA YORK, 1961)

exigidos se no momento do nascimento do inte- possuíam a mesma nacionalidade no momento


ressado um de seus pais possuía a nacionalidade de seu nascimento, a legislação daquele Estado
do Estado Contratante inicialmente mencionado. Contratante determinará se prevalecerá a condi-
Se seus pais não possuíam a mesma nacionali- ção do pai ou da mãe. A nacionalidade a que se
dade no momento de seu nascimento, a legisla- refere este Artigo será concedida:
ção do Estado Contratante cuja nacionalidade es- a) de pleno direito, no momento do nasci-
tiver sendo solicitada determinará se prevalecerá mento; ou
a condição do pai ou da mãe. Caso seja necessá- b) mediante requerimento apresentado à au-
rio requerimento para tal nacionalidade, tal re- toridade competente pelo interessado ou em seu
querimento deverá ser apresentado à autoridade nome, conforme prescrito pela legislação do Es-
competente pelo interessado ou em seu nome, tado em questão. Nos termos do disposto do
conforme prescrito pela legislação do Estado Con- parágrafo 2 deste Artigo, nenhum requerimento
tratante. Nos termos do disposto no parágrafo 5 poderá se indeferido.
do presente Artigo, nenhum requerimento poderá 2. Todo Estado Contratante poderá subordinar
ser indeferido. a concessão de sua nacionalidade, segundo o pa-
5. Todo Estado Contratante poderá subordinar rágrafo 4 do presente Artigo, a uma ou mais das
a concessão de sua nacionalidade, segundo o pa- seguintes condições:
rágrafo 4 do presente Artigo, a uma ou mais das a) que o requerimento seja apresentado antes
seguintes condições: de o interessado atingir a idade determinada pelo
a) que o requerimento seja apresentado antes Estado Contratante, a qual não poderá ser inferior
de o interessado atingir a idade determinada pelo a 23 anos;
Estado Contratante, a qual não poderá ser inferior b) que o interessado tenha residido habitual-
a 23 anos; mente no território do Estado Contratante por
b) que o interessado tenha residido habitual- período, fixado por este Estado, não superior a
mente no território do Estado Contratante por três anos;
período, fixado por este Estado, não superior a c) que o interessado não tenha sido condenado
três anos; por crime contra a segurança nacional;
c) que o interessado sempre tenha sido apátrida. d) que o interessado sempre tenha sido apátrida.

Artigo 2 Artigo 5
Salvo prova em contrário, presume-se que um 1. Caso a legislação de um Estado Contratante
menor abandonado que tenha sido encontrado imponha a perda de nacionalidade em decorrên-
no território de um Estado Contratante tenha cia da mudança do estado civil de uma pessoa, tal
como casamento, dissolução da sociedade conju-
nascido nesse território, de pais que possuem a
gal, legitimação, reconhecimento ou adoção, tal
nacionalidade daquele Estado.
perda será condicionada à titularidade ou aquisi-
Artigo 3 ção de outra nacionalidade.
Para o fim de se determinarem as obrigações 2. Se, de acordo com a legislação de um Estado
dos Estados Contratantes nos termos da presente Contratante, um filho natural perder a nacionali-
Convenção, o nascimento a bordo de um navio ou dade daquele Estado como consequência de um
uma aeronave será considerado como ocorrido no reconhecimento de filiação, ser-lhe-á oferecida a
território do Estado de cuja bandeira for o navio oportunidade de recuperá-la mediante requeri-
ou no território do Estado em que a aeronave es- mento apresentado perante a autoridade compe-
tiver matriculada, conforme o caso. tente, requerimento este que não poderá ser ob-
jeto de condições mais rigorosas do que aquelas
Artigo 4
determinadas no parágrafo 2 do Artigo 1 da pre-
1. Todo Estado Contratante concederá sua na-
sente Convenção.
cionalidade a qualquer pessoa que não tenha nas-
cido no território de um Estado Contratante e que Artigo 6
do contrário seria apátrida se no momento de seu A mudança ou a perda da nacionalidade de um
nascimento um de seus pais possuía a nacionali- dos cônjuges, do pai ou da mãe não acarretará
dade do primeiro destes Estados. Se seus pais não perda da nacionalidade do outro cônjuge nem a
49
dos filhos, a menos que já possuam ou tenha ad- 2. Não obstante o disposto no parágrafo 1 deste
quirido outra nacionalidade. Artigo, uma pessoa poderá ser privada da nacio-
nalidade de um Estado Contratante:
Artigo 7
a) nos casos em que, de acordo com os parágra-
1. a) Se a legislação de um Estado Contratante
fos 4 e 5 do Artigo 7, uma pessoa seja passível de
permitir a renúncia à nacionalidade, tal renúncia
perder sua nacionalidade;
só será válida se o interessado tiver ou adquirir
b) nos casos em que a nacionalidade tenha sido
outra nacionalidade.
obtida por declaração falsa ou fraude.
b) A disposição da alínea a deste parágrafo não
3. Não obstante o disposto no parágrafo 1 deste
prevalecerá quando sua aplicação for incompatí-
Artigo, os Estados Contratantes poderão conser-
vel com os princípios enunciados nos Artigos 13 e
var o direito de privar uma pessoa de sua naciona-
14 da Declaração Universal dos Direitos Humanos,
lidade se, no momento da assinatura, ratificação
aprovada em 10 de dezembro de 1948 pela Assem-
ou adesão, especificarem que se reservam tal di-
bleia Geral das Nações Unidas.
reito por um ou mais dos seguintes motivos, sem-
2. A pessoa que solicitar a naturalização em um
pre que estes estejam previstos em sua legislação
país estrangeiro, ou tenha obtido uma permissão
nacional naquele momento:
de expatriação com esse fim, só perderá sua na-
a) quando, em condições incompatíveis com o
cionalidade se adquirir a nacionalidade desse país
dever de lealdade ao Estado Contratante, a pessoa:
estrangeiro.
i) apesar de proibição expressa do Estado Con-
3. Salvo o disposto nos parágrafos 4 e 5 deste Arti-
tratante, tiver prestado ou continuar prestando
go, o nacional de um Estado Contratante não pode-
serviços a outro Estado, tiver recebido ou conti-
rá perder sua nacionalidade pelo fato de abandonar
nuar recebendo dinheiro de outro Estado; ou
o país, residir no exterior ou deixar de inscrever-
ii) tiver se conduzido de maneira gravemente
-se no registro correspondente, ou por qualquer
prejudicial aos interesses vitais do Estado;
outra razão semelhante, se tal perda implicar sua
b) quando a pessoa tiver prestado juramento de
apatridia.
lealdade ou tiver feito uma declaração formal de
4. Os naturalizados podem perder sua naciona-
lealdade a outro Estado, ou dado provas decisivas
lidade pelo fato de residirem em seu país de ori-
de sua determinação de repudiar a lealdade que
gem por um período que exceda o autorizado pela
deve ao Estado Contratante.
legislação do Estado Contratante, que não poderá
4. Os Estados Contratantes só exercerão o di-
ser inferior a sete anos consecutivos, se não de-
reito de privar uma pessoa de sua nacionalidade,
clararem perante as autoridades competentes sua
nas condições definidas nos parágrafos 2 ou 3 do
intenção de conservar sua nacionalidade.
presente Artigo, de acordo com a lei, que assegu-
5. Em caso de nacionais de um Estado Contra-
rará ao interessado o direto à ampla defesa pe-
tante nascidos fora de seu território, a legislação
rante um tribunal ou outro órgão independente.
desse Estado poderá subordinar a conservação
da nacionalidade, a partir do ano seguinte à data Artigo 9
em que o interessado alcançar a maioridade, ao Os Estados Contratantes não poderão privar
cumprimento do requisito de residência, naquele qualquer pessoa ou grupo de pessoas de sua na-
momento, no território do Estado ou de inscrição cionalidade por motivos raciais, étnicos, religiosos
no registro correspondente. ou políticos.
6. Salvo nos casos aos quais se refere esse Ar-
Artigo 10
tigo, uma pessoa não perderá a nacionalidade de
1. Todo tratado entre os Estados Contratantes
um Estado Contratante se tal perda puder conver-
que dispuser sobre a transferência de território
tê-la em apátrida, ainda que tal perda não esteja
deverá incluir disposições para assegurar que os
expressamente proibida por nenhuma das outras
habitantes do referido território não se converte-
disposições da presente Convenção.
rão em apátridas como resultado de tal transfe-
Artigo 8 rência. Os Estados Contratantes se empenharão
1. Os Estados Contratantes não privarão uma em assegurar que tais disposições figurem em
pessoa de sua nacionalidade se essa privação vier todo tratado desse gênero realizado com um Es-
a convertê-la em apátrida. tado que não seja Parte na presente Convenção.
50
CONVENÇÃO PARA A REDUÇÃO DOS CASOS DE APATRIDIA (NOVA YORK, 1961)

2. Na ausência de tais disposições, o Estado à Corte Internacional de Justiça por iniciativa de


Contratante ao qual tenha sido cedido um terri- qualquer das partes da controvérsia.
tório ou que de outro modo haja adquirido um ter-
Artigo 15
ritório atribuirá sua nacionalidade aos habitantes
1. A presente Convenção se aplicará a todos os
do referido território que de outro modo se tor-
territórios não autônomos, sob tutela, coloniais e
nariam apátridas como resultado da transferência
outros territórios não metropolitanos cujas rela-
ou aquisição de tal território.
ções internacionais estejam a cargo de qualquer
Artigo 11 Estado Contratante; o Estado Contratante em
Os Estados Contratantes comprometem-se a questão deverá, sem prejuízo das disposições do
criar, dentro da estrutura das Nações Unidas, tão parágrafo 2 deste Artigo, declarar, no momento da
logo possível, depois do depósito do sexto instru- assinatura, ratificação ou adesão, a qual território
mento de ratificação ou de adesão, um órgão ao ou territórios não metropolitanos a presente Con-
qual uma pessoa que reivindique o benefício da venção se aplicará ipso facto, como resultado de
presente Convenção possa solicitar o exame de tal assinatura, ratificação ou adesão.
sua reivindicação, bem como assistência em sua 2. Nos casos em que, para efeitos de naciona-
apresentação à autoridade competente. lidade, um território não metropolitano não seja
Artigo 12 considerado parte integrante do território metro-
1. O Estado Contratante que não conceda sua politano, ou nos casos que requeiram o consenti-
nacionalidade de pleno direito, no momento do mento prévio de um território não metropolitano,
nascimento da pessoa, nos termos do parágrafo 1 em virtude das leis ou práticas constitucionais do
do Artigo 1 ou do Artigo 4 da presente Convenção, Estado Contratante ou do território não metropo-
deverá aplicar uma ou outra dessas disposições, litano, para que a presente Convenção se aplique
segundo o caso, as pessoas nascidas tanto antes a tal território, o Estado Contratante envidará es-
como depois da data de entrada em vigor da pre- forços para obter o consentimento necessário do
sente Convenção. território não metropolitano dentro do prazo de
2. O disposto no parágrafo 4 do Artigo 1 da pre- 12 meses a partir da data da assinatura da pre-
sente Convenção aplicar-se-á tanto às pessoas sente Convenção por aquele Estado Contratante.
nascidas antes quanto às pessoas nascidas de- Quando tiver obtido tal consentimento, o Estado
pois da entrada em vigor da presente Convenção. Contratante notificará o Secretário-Geral das Na-
3. O disposto no Artigo 2 da presente Convenção ções Unidas. A presente Convenção se aplicará ao
aplicar-se-á somente aos menores abandonados território ou territórios mencionados em tal noti-
encontrados no território de um Estado Contra- ficação a partir da data em que seja recebida pelo
tante depois da data da entrada em vigor da pre- Secretário-Geral.
sente Convenção para aquele Estado. 3. Decorrido o prazo de 12 meses mencionado
Artigo 13 no parágrafo 2 desse Artigo, os Estados Contratan-
Nenhuma disposição da presente Convenção tes interessados informarão ao Secretário-Geral
será interpretada de modo a restringir a aplicação os resultados das gestões junto àqueles territórios
de disposições mais favoráveis relativas à redução não metropolitanos cujas relações internacionais
da apatridia porventura existentes na legislação estiverem a seu cargo e cujo consentimento para
nacional que esteja em vigor ou que entre em a aplicação da presente Convenção tenha ficado
vigor em qualquer Estado Contratante, ou que pendente.
constem de qualquer outra convenção, tratado ou Artigo 16
acordo que esteja em vigor ou que entre em vigor 1. A presente Convenção ficará aberta à assina-
entre dois ou mais Estados Contratantes. tura na Sede das Nações Unidas de 30 de agosto
Artigo 14 de 1961 a 31 de maio de 1962.
Toda controvérsia que surja entre Estados Con- 2. A presente Convenção ficará aberta à assina-
tratantes referente à interpretação ou à aplicação tura:
da presente Convenção que não possa ser solu- a) de todos os Estados Membros das Nações
cionada por outros meios poderá ser submetida Unidas;
51
b) de qualquer outro Estado convidado para a da notificação pelo Secretário-Geral, que informa-
Conferência das Nações Unidas sobre a Elimina- rá os demais Estados Contratantes sobre tal noti-
ção ou Redução da Apatridia Futura; ficação e a data de seu recebimento.
c) de todo Estado ao qual a Assembleia Geral
Artigo 20
das Nações Unidas possa vir a dirigir convite para
1. O Secretário Geral das Nações Unidas notifi-
assinatura ou adesão.
cará todos os Estados Membros das Nações Uni-
3. A presente Convenção será ratificada e os ins-
das e os Estados não membros mencionados no
trumentos de ratificação serão depositados junto
Artigo 16 sobre:
ao Secretário Geral das Nações Unidas.
a) assinaturas, ratificações e adesões previstas
4. Os Estados aos quais se refere o parágrafo 2
no Artigo 16;
deste Artigo poderão aderir à presente Convenção.
b) reservas amparadas pelo Artigo 17;
A adesão se efetuará mediante o depósito de ins-
c) a data em que a presente Convenção entrará
trumento de adesão junto ao Secretário-Geral das
em vigor nos termos do Artigo 18;
Nações Unidas.
d) denúncias amparadas pelo Artigo 19.
Artigo 17 2. O Secretário-Geral das Nações Unidas levará
1. No momento da assinatura, ratificação ou à atenção da Assembleia Geral, no mais tardar
adesão, todo Estado pode formular reservas aos após o depósito do sexto instrumento de ratifica-
Artigos 11, 14 e 15. ção ou de adesão, a questão da criação do orga-
2. Nenhuma outra reserva poderá ser feita à pre- nismo mencionado no Artigo 11.
sente Convenção.
Artigo 21
Artigo 18 A presente Convenção será registrada pelo Se-
1. A presente Convenção entrará em vigor dois cretário Geral das Nações Unidas na data de sua
anos após a data do depósito do sexto instru- entrada em vigor.
mento de ratificação ou de adesão. EM TESTEMUNHO DO QUE os Plenipotenciários
2. Para todo Estado que ratificar ou aderir à pre- abaixo-assinados firmam a presente Convenção.
sente Convenção após o depósito do sexto instru- FEITA em Nova York, no dia trinta de agosto de
mento de ratificação ou de adesão, a presente mil novecentos e sessenta e um, em exemplar úni-
Convenção entrará em vigor no nonagésimo dia co, cujos textos em chinês, espanhol, francês, inglês
após a data do depósito por aquele Estado de seu e russo são igualmente autênticos, que será depo-
instrumento de ratificação ou de adesão ou na sitado nos arquivos das Nações Unidas e do qual o
data de entrada em vigor da presente Convenção Secretário-Geral das Nações Unidas entregará có-
nos termos do parágrafo 1 deste Artigo, se esta úl- pias devidamente autenticadas a todos os Estados
tima data for posterior. Membros das Nações Unidas e a todos os Estados
Artigo 19 não membros referidos no Artigo 16 da presente
1. Todo Estado Contratante poderá denunciar Convenção.
a presente Convenção em qualquer momento,
mediante notificação por escrito dirigida ao Se-
PROTOCOLO RELATIVO AO ESTATUTO
cretário-Geral das Nações Unidas. A denúncia terá
DOS REFUGIADOS (NOVA YORK, 1967)
(Aprovado pelo Decreto Legislativo nº 93 de 1971 e
efeito para o Estado em questão um ano após a
promulgado pelo Decreto nº 70.946, de 7/8/1972)
data de seu recebimento pelo Secretário-Geral.
2. Nos casos em que, de acordo com o disposto Os Estados partes no presente protocolo,
no Artigo 15, a presente Convenção se tenha tor- Considerando que a Convenção sobre o Esta-
nado aplicável a um território não metropolitano tuto dos Refugiados assinada em Genebra, a 28
de um Estado Contratante, aquele Estado poderá, de julho de 1951 (doravante denominada Con-
a partir daquele momento, com o consentimen- venção) só se aplica as pessoas que se tornam
to do território em questão, notificar o Secretário- refugiadas em decorrência dos acontecimentos
-Geral das Nações Unidas que denuncia a presente ocorridos antes de 1º de janeiro de 1951,
Convenção no tocante àquele território. A denún- Considerando que surgiram novas categorias
cia terá efeito um ano após a data do recebimento de refugiados desde que a Convenção foi adotada
52
PROTOCOLO RELATIVO AO ESTATUTO DOS REFUGIADOS (NOVA YORK, 1967)


e que, por isso, os citados refugiados não podem Artigo III – Informações Relativas às Leis e
beneficiar-se da Convenção, Regulamentos Nacionais
Considerando a conveniência de que o mesmo Os Estados partes no presente Protocolo comu-
Estatuto se aplique a todos os refúgios compreen- nicarão ao Secretário Geral da Organização das
didos na definição dada na Convenção, indepen- Nações Unidas o texto das leis e dos regulamen-
dentemente da data limite de 1º de janeiro de 1951, tos que promulgarem para assegurar a aplicação
Convieram no seguinte: do presente Protocolo.

Artigo I – Disposições Gerais Artigo IV – Solução das Controvérsias


1. Os Estados partes no presente Protocolo com- Toda controvérsia entre as partes no presente
prometer-se-ão a aplicar os artigos 2 a 34, inclusive, Protocolo relativa à sua interpretação e à sua apli-
da Convenção aos refugiados, definidos a seguir. cação que não for resolvida por outros meios será
2. Para os fins do presente Protocolo o termo submetida à Corte Internacional de Justiça a pe-
“refugiados” salvo no que diz respeito à aplicação dido de uma das partes na controvérsia.
do § 3 do presente artigo, significa qualquer pes- Artigo V – Adesão
soa que se enquadre na definição dada no artigo O presente Protocolo ficará aberto à adesão de
primeiro da Convenção, como se as palavras “em todos os Estados partes na Convenção e qualquer
decorrência dos acontecimentos ocorridos antes outro Estado-Membro da Organização das Nações
de 1º de janeiro de 1951” e as palavras “como Unidas ou membro de uma de suas Agências Es-
consequência de tais acontecimentos” não figu- pecializadas ou de outro Estado ao qual a Assem-
rassem no § 2 da seção A do artigo primeiro. bleia-Geral endereçar um convite para aderir ao
3. O presente Protocolo será aplicado pelos protocolo. A adesão far-se-á pelo depósito de um
Estados partes sem nenhuma limitação geográ- instrumento de adesão junto do Secretário Geral
fica: entretanto, as declarações já feitas em vir- da Organização das Nações Unidas.
tude da alínea a do § 1 da seção B do artigo pri-
meiro da Convenção aplicar-se-ão também, no Artigo VI – Cláusula Federal
regime do presente Protocolo, a menos que as No caso de um Estado Federal ou não unitário,
obrigações do Estado declarante tenham sido am- as seguintes disposições serão aplicadas:
pliadas de conformidade com o § 2 da Seção B do a) No que diz respeito aos artigos da Convenção
artigo primeiro da Convenção. que devam ser aplicadas de conformidade com
o § 1º do artigo primeiro do presente protocolo e
Artigo II – Cooperação das Autoridades cuja execução depender da ação legislativa do po-
Nacionais com as Nações Unidas der legislativo federal, as obrigações do governo fe-
1. Os Estados partes no presente Protocolo deral serão, nesta medida, as mesmas que aquelas
comprometem-se a cooperara com o Alto Comis- do Estado partes que não forem Estados federais.
sariado das Nações Unidas para os Refugiados ou b) No que diz respeito aos artigos da Convenção
qualquer outra instituição das Nações Unidas que que devam ser aplicados de conformidade com o
lhe suceder, no exercício de suas funções, e espe- § 1 do artigo primeiro do presente Protocolo e cuja
cialmente, a facilitar seu trabalho de observar a aplicação depender da ação legislativa de cada um
aplicação das disposições do presente Protocolo. dos Estados provinciais, ou municípios constituti-
2. A fim de permitir ao Alto Comissariado ou a vos, que não forem por causa do sistema constitu-
toda outra instituição das Nações Unidas que lhe cional da federação, obrigados a adotar medidas
suceder apresentar relatórios aos órgãos compe- legislativas, o governo federal levará, o mais cedo
tentes das Nações Unidas, os Estados partes no possível e com sua opinião favorável, os referidos
presente Protocolo comprometem-se a fornecer- artigos ao conhecimento das autoridades compe-
-lhes, na forma apropriada, as informações e os tentes dos Estados províncias ou municípios.
dados estatísticos solicitados sobre: c) Um Estado federal parte no presente Proto-
a) o estatuto dos refugiados; colo comunicará, a pedido de qualquer outro Es-
b) a execução do presente Protocolo; tado parte no presente Protocolo que lhe for trans-
c) as leis, os regulamentos e os decretos que mitido pelo Secretário Geral da Organização das
estão ou entrarão em vigor no que concerne aos Nações Unidas uma exposição de sua legislação e
refugiados. as práticas em vigor na federação e suas unidades
53
constitutivas no que diz respeito a qualquer dis- Artigo X – Notificação pelo Secretário Geral da
posição da Convenção a ser aplicada de confor- Organização das Nações Unidas
midade com o disposto no § 1º do artigo primeiro O Secretário Geral da Organização das Nações
do presente Protocolo indicando em que medida, Unidas notificará a todos os Estados referidos no
por ação legislativa ou de outra espécie, foi efeti- artigo V as datas da entrada em vigor, de adesão,
vada tal disposição. de depósito e de retirada de reservas, de denún-
cia e de declarações e notificações pertinentes ao
Artigo VII – Reservas e Declarações
presente Protocolo.
1. No momento de sua adesão todo Estado po-
derá formular reservas ao artigo IV do presente Artigo XI – Depósito do Protocolo nos Arquivos do
Protocolo de quaisquer disposições da Conven- Secretariado da Organização das Nações Unidas
ção, com exceção dos arts. 1º, 3º, 4º, 16 (1) e 33, Um exemplar do presente Protocolo, cujo texto
desde que, no caso de um Estado parte na Con- em línguas e chinesa, espanhola, francesa, inglesa
venção, as reservas feitas, em virtude do presente e russa fazem igualmente fé, assinado pelo Presi-
artigo, não se estendam aos refugiados aos quais dente da Assembleia-Geral e pelo Secretário Geral
se aplica a Convenção. da Organização das Nações Unidas será deposi-
2. As reservas feitas por Estados partes na Con- tado nos arquivos do Secretariado da Organização.
venção de conformidade com o art. 42 da referi- O Secretário Geral remeterá cópias autenticadas
da Convenção aplicar-se-ão, a não ser que sejam do Protocolo a todos os Estados-Membros da Or-
retiradas às suas obrigações decorrentes do pre- ganização das Nações Unidas e aos outros Estados
sente Protocolo. referidos no artigo V.
3. Todo Estado que formular uma reserva em De conformidade com o artigo XI do Protocolo,
virtude do § 3º, do presente artigo, poderá retirá- apusemos nossa assinatura, a trinta e um de ja-
-la a qualquer momento por uma comunicação neiro de mil novecentos e sessenta e sete.
endereçada com esse objetivo ao Secretário geral A. R. Pazhwak, presidente da Assembleia-
-Geral das Nações Unidas.
da Organização das Nações Unidas.
U Thant, secretário-geral das Nações Unidas.
4. As declarações feitas em virtude dos §§ 1º e 2º
do art. 40 da Convenção, e que aderir ao presente
CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE
Protocolo, a menos que no momento da adesão, DIREITOS HUMANOS (SAN JOSÉ, 1969)
uma notificação contrário for endereçada ao Se- (Aprovada pelo Decreto Legislativo nº 27 de 1992 e
cretário Geral da Organização das Nações Unidas. promulgada pelo Decreto nº 678, de 6/11/1992)
As disposições dos §§ 2º e 3º do art. 40 e do § 3º,
[Dispositivos referentes à migração].
do art. 44 da Convenção serão considerados apli-
cáveis mutatis mutandis ao presente Protocolo. PREÂMBULO
Artigo VIII – Entrada em Vigor Os Estados americanos signatários da presente
Convenção,
1. O presente Protocolo entrará em vigor na data
Reafirmando seu propósito de consolidar neste
do depósito do sexto instrumento da adesão.
Continente, dentro do quadro das instituições de-
2. Para cada um dos Estados que aderir ao Proto-
mocráticas, um regime de liberdade pessoal e de
colo após o depósito do sexto instrumento de ade-
justiça social, fundado no respeito dos direitos es-
são, o Protocolo entrará em vigor na data em que
senciais do homem,
esse Estado depositar seu instrumento de adesão.
Reconhecendo que os direitos essenciais do
Artigo IX – Denúncia homem não deviam do fato de ser ele nacional
1. Todo Estado parte no presente Protocolo po- de determinado Estado, mas sim do fato de ter
derá denunciá-lo, a qualquer momento, mediante como fundamento os atributos da pessoa hu-
uma notificação endereçada ao Secretário Geral mana, razão por que justificam uma proteção
da Organização das Nações Unidas. internacional, de natureza convencional, coadju-
2. A denúncia surtirá efeito, para o Estado parte vante ou complementar da que oferece o direito
em questão, um ano após a data em que for re- interno dos Estados americanos,
cebida pelo Secretário Geral da Organização das Considerando que esses princípios foram con-
Nações Unidas. sagrados na Carta da Organização dos Estados
54
CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS HUMANOS (SAN JOSÉ, 1969)


Americanos, na Declaração Americana dos Di- CAPÍTULO II


reitos e Deveres do Homem e na Declaração Uni- DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS
versal dos Direitos do Homem e que foram reafir- [...]
mados e desenvolvidos em outros instrumentos Artigo 20 – Direito à Nacionalidade
internacionais, tanto de âmbito mundial como 1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade.
regional, 2. Toda pessoa tem direito à nacionalidade do
Reiterando que, de acordo com a Declaração
Estado em cujo território houver nascido, se não
Universal dos Direitos do Homem, só pode ser
tiver direito à outra.
realizado o ideal do ser humano livre, isento do
3. A ninguém se deve privar arbitrariamente de
temor e da miséria, se forem criadas condições
sua nacionalidade nem do direito de mudá-la.
que permitam a cada pessoa gozar dos seus di-
[...]
reitos econômicos, sociais e culturais, bem como
dos seus direitos civis e políticos, e Artigo 22 – Direito de Circulação e de
Considerando que a Terceira Conferência Inte- Residência
ramericana Extraordinária (Buenos Aires, 1967) 1. Toda pessoa que se ache legalmente no ter-
aprovou a incorporação à própria Carta da Organi- ritório de um Estado tem direito de circular nele
zação de normas mais amplas sobre direitos eco- e de nele residir em conformidade com as dispo-
nômicos, sociais e educacionais e resolveu que sições legais.
uma convenção interamericana sobre direitos hu- 2. Toda pessoa tem o direito de sair livremente
manos determinasse a estrutura, competência e de qualquer país, inclusive do próprio.
processo dos órgãos encarregados dessa matéria, 3. O exercício dos direitos acima mencionados
Convieram no seguinte: não pode ser restringido senão em virtude de lei,
na medida indispensável, numa sociedade de-
PARTE I
DEVERES DOS ESTADOS E mocrática, para prevenir infrações penais ou para
DIREITOS PROTEGIDOS proteger a segurança nacional, a segurança ou a
ordem públicas, a moral ou a saúde públicas, ou
CAPÍTULO I
ENUMERAÇÃO DE DEVERES os direitos e liberdades das demais pessoas.
4. O exercício dos direitos reconhecidos no inciso
Artigo 1 – Obrigação de Respeitar os Direitos 1 pode também ser restringido pela lei, em zonas
1. Os Estados-Partes nesta Convenção com- determinadas, por motivos de interesse público.
prometem-se a respeitar os direitos e liberdades 5. Ninguém pode ser expulso do território do Es-
nela reconhecidos e a garantir seu livre e pleno tado do qual for nacional, nem ser privado do direi-
exercício a toda pessoa que esteja sujeita à sua to de nele entrar.
jurisdição, sem discriminação alguma por motivo 6. O estrangeiro que se ache legalmente no terri-
de raça, cor, sexo, idioma, religião, opiniões políti- tório de uma Estado-Parte nesta Convenção só po-
cas ou de qualquer outra natureza, origem nacio- derá dele ser expulso em cumprimento de decisão
nal ou social, posição econômica, nascimento ou
adotada de acordo com a lei.
qualquer outra condição social.
7. Toda pessoa tem o direito de buscar e receber
2. Para os efeitos desta Convenção, pessoa é
asilo em território estrangeiro, em caso de perse-
todo ser humano.
guição por delitos políticos ou comuns conexos
Artigo 2 – Dever de Adotar Disposições de com delitos políticos e de acordo com a legislação
Direito Interno de cada estado e com os convênios internacionais.
Se o exercício dos direitos e liberdades men- 8. Em nenhum caso o estrangeiro pode ser ex-
cionados no artigo 1 ainda não estiver garantido pulso ou entregue a outro país, seja ou não de
por disposições legislativas ou de outra natureza, origem, onde seu direito à vida ou liberdade pes-
os Estados-Partes comprometem-se a adotar, de soal esteja em risco de violação por causa da sua
acordo com as suas normas constitucionais e com raça, nacionalidade, religião, condição social ou
as disposições desta Convenção, as medidas legis- de suas opiniões políticas.
lativas ou de outra natureza que forem necessá- 9. É proibida a expulsão coletiva de estrangeiros.
rias para tornar efetivos tais direitos e liberdades. [...]
55
CAPÍTULO IV Reconhecendo que a situação na América Cen-
SUSPENSÃO DE GARANTIAS, tral, no que concerne aos refugiados, tem evo-
INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO luído nestes últimos anos, de tal forma que tem
Artigo 27 – Suspensão de Garantias adquirido novas dimensões que requerem uma
1. Em caso de guerra, de perigo público, ou de especial consideração;
outra emergência que ameace a independência Apreciando os generosos esforços que os países
ou segurança do Estado-Parte, este poderá adotar receptores de refugiados da América Central têm
disposições que, na medida e pelo tempo estri- realizado, não obstante as enormes dificuldades
tamente limitados às exigências da situação, sus- que têm enfrentado, particularmente perante a
pendam as obrigações contraídas em virtude desta crise econômica atual;
Convenção, desde que tais disposições não sejam Destacando o admirável trabalho humanitário
incompatíveis com as demais obrigações que lhe e apolítico desempenhado pelo Acnur nos países
impõe o Direito Internacional e não encerrem dis- da América Central, México e Panamá, em confor-
criminação alguma fundada em motivos de raça, midade com o estabelecido na Convenção das
cor, sexo, idioma, religião ou origem social. Nações Unidas de 1951 e no Protocolo de 1967,
2. A disposição precedente não autoriza a sus-
bem como na Resolução 428 (V) da Assembleia
pensão dos direitos determinados nos seguintes
Geral das Nações Unidas, em virtude da qual, o
artigos: 3 (Direito ao Reconhecimento da Perso-
mandato do Alto Comissariado das Nações Unidas
nalidade Jurídica), 4 (Direito à vida), 5 (Direito à
para os Refugiados se aplica a todos os Estados,
Integridade Pessoal), 6 (Proibição da Escravidão
sejam ou não partes da mencionada Convenção
e Servidão), 9 (Princípio da Legalidade e da Re-
e/ou Protocolo;
troatividade), 12 (Liberdade de Consciência e de
Tendo igualmente presente o trabalho efetuado
Religião), 17 (Proteção da Família), 18 (Direito ao
na Comissão Interamericana de Direitos Humanos
Nome), 18 (Direitos da Criança), 20 (Direito à Nacio-
nalidade) e 23 (Direitos Políticos), nem das garan- no que concerne à proteção dos direitos dos refu-
tias indispensáveis para a proteção de tais direitos. giados no continente;
3. Todo Estado-Parte que fizer uso do direito de Apoiando decididamente os esforços do Grupo
suspensão deverá informar imediatamente os ou- Contadora para solucionar de modo efetivo e du-
tros Estados-Partes na presente Convenção, por radouro o problema dos refugiados na América
intermédio do Secretário-Geral da Organização Central, que constituem um avanço significativo
dos Estados Americanos, das disposições cuja na negociação de acordos operativos a favor da
aplicação haja suspendido, dos motivos determi- paz na região;
nantes da suspensão e da data em que haja dado Expressando a sua convicção de que muitos dos
por terminado tal suspensão. problemas jurídicos e humanitários que têm surgi-
[...] do na região da América Central, México e Canadá,
no que se refere aos refugiados, só podem ser en-
DECLARAÇÃO DE CARTAGENA carados tendo em consideração a necessária coor-
(CARTAGENA, 1984)2 3 denação e harmonização entre os sistemas univer-
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES sais, regionais e os esforços nacionais.

I II
Recordando as conclusões e recomendações Tendo tomado conhecimento, com apreço, dos
adotadas pelo Colóquio realizado no México sobre compromissos em matéria de refugiados incluí-
Asilo e Proteção Internacional de Refugiados na dos na Ata de Contadora para a Paz e Cooperação
América Latina, que estabeleceu importantes cri- na América Central, cujos critérios partilha plena-
térios para a análise e consideração desta matéria; mente e que a seguir se transcrevem:

2 Adotada pelo “Colóquio sobre Proteção Internacional dos Refugiados na América Central, México e Panamá: Problemas Jurídicos
e Humanitários”, realizado em Cartagena, Colômbia, entre 19 e 22 de novembro de 1984.
3 Disponível em: <https://www.acnur.org/fileadmin/Documentos/portugues/BD_Legal/Instrumentos_Internacionais/Declaracao_
de_Cartagena.pdf>. Acesso em: 27 mai. 2019.

56
DECLARAÇÃO DE CARTAGENA (CARTAGENA, 1984)


a) Realizar, se ainda o não fizeram, as altera- plenas para os refugiados, os países receptores
ções constitucionais, para a adesão à Convenção permitam que delegações oficiais do país de ori-
de 1951 e ao Protocolo de 1967 sobre o Estatuto gem, acompanhadas por representantes do Acnur
dos Refugiados; e do país receptor, possam visitar os acampamen-
b) Adotar a terminologia estabelecida na Con- tos de refugiados;
venção e no Protocolo, citados no parágrafo ante- o) Que os países receptores facilitem o processo
rior, com o objetivo de diferenciar os refugiados de de saída dos refugiados por motivo de repatria-
outras categorias de migrantes; ção voluntária e individual, em coordenação com
c) Estabelecer os mecanismos internos necessá- o Acnur;
rios para aplicar as disposições da Convenção e do p) Estabelecer as medidas conducentes nos
Protocolo citados, quando se verifique a adesão; países receptores para evitar a participação dos
d) Que se estabeleçam mecanismos de consulta refugiados em atividades que atentem contra o
entre os Países da América Central com represen- país de origem, respeitando sempre os direitos
tantes dos gabinetes governamentais responsá- humanos dos refugiados.
veis pelo tratamento do problema dos refugiados
III
em cada Estado;
O Colóquio adotou, deste modo, as seguintes
e) Apoiar o trabalho que realiza o Alto Comis-
conclusões:
sariado das Nações Unidas para os Refugiados
Primeira – Promover dentro dos países da re-
(Acnur) na América Central e estabelecer meca-
gião a adoção de normas internas que facilitem
nismos diretos de coordenação para facilitar o
a aplicação da Convenção e do Protocolo e, em
cumprimento do seu mandato;
f) Que todo a repatriação de refugiados seja de caso de necessidade, que estabeleçam os proce-
caráter voluntário, manifestado individualmente dimentos e afetem recursos internos para a pro-
e com a colaboração do Acnur; teção dos refugiados. Propiciar, igualmente, que
g) Que, com o objetivo de facilitar a repatriação a adoção de normas de direito interno sigam os
dos refugiados, se estabeleçam comissões tripar- princípios e critérios da Convenção e do Protocolo,
tites integradas por representantes do Estado de colaborando assim no processo necessário à har-
origem, do Estado receptor e do Acnur; monização sistemática das legislações nacionais
h) Fortalecer os programas de proteção e assis- em matéria de refugiados.
tência aos refugiados, sobretudo nos aspectos de Segunda – Propiciar que a ratificação ou ade-
saúde, educação, trabalho e segurança; são à Convenção de 1951 e ao Protocolo de 1967
i) Que se estabeleçam programas e projetos no caso dos Estados que ainda o não tenham efe-
com vista à autossuficiência dos refugiados; tuado, não seja acompanhada de reservas que li-
j) Capacitar os funcionários responsáveis em mitem o alcance de tais instrumentos e convidar
cada Estado pela proteção e assistência aos re- os países que as tenham formulado a que consi-
fugiados, com a colaboração do Acnur ou outros derem o seu levantamento no mais curto prazo.
organismos internacionais; Terceira – Reiterar que, face à experiência ad-
k) Solicitar à comunidade internacional ajuda quirida pela afluência em massa de refugiados na
imediata para os refugiados da América Central, América Central, se torna necessário encarar a ex-
tanto de forma direta, mediante convênios bila- tensão do conceito de refugiado tendo em conta,
terais ou multilaterais, como através do Acnur e no que é pertinente, e de acordo com as caracte-
outros organismos e agências; rísticas da situação existente na região, o previsto
l) Procurar, com a colaboração do Acnur, outros na Convenção da OUA (artigo 1, parágrafo 2) e a
possíveis países receptores de refugiados da Amé- doutrina utilizada nos relatórios da Comissão In-
rica Central. Em caso algum se enviará o refugiado teramericana dos Direitos Humanos. Deste modo,
contra a sua vontade para um país terceiro; a definição ou o conceito de refugiado recomen-
m) Que os Governos da região empreguem os dável para sua utilização na região é o que, além
esforços necessários para erradicar as causas que de conter os elementos da Convenção de 1951 e
provocam o problema dos refugiados; do Protocolo de 1967, considere também como re-
n) Que, uma vez acordadas as bases para a re- fugiados as pessoas que tenham fugido dos seus
patriação voluntária e individual, com garantias países porque a sua vida, segurança ou liberdade
57
tenham sido ameaçadas pela violência generaliza- teção e assistência a estas pessoas e contribuam
da, a agressão estrangeira, os conflitos internos, a para aliviar a angustiosa situação em que muitas
violação maciça dos direitos humanos ou outras delas se encontram.
circunstâncias que tenham perturbado gravemen- Décima – Formular um apelo aos Estados Sig-
te a ordem pública. natários da Convenção Americana sobre Direitos
Quarta – Ratificar a natureza pacífica, apolítica Humanos de 1969 para que apliquem este instru-
e exclusivamente humanitária da concessão de mento na sua conduta com os asilados e refugia-
asilo ou do reconhecimento da condição de re- dos que se encontram no seu território.
fugiado e sublinhar a importância do princípio Décima primeira – Estudar com os países da
internacionalmente aceite segundo o qual nada região que contam com uma presença maciça de
poderá ser interpretado como um ato inamistoso refugiados, as possibilidades de integração dos re-
contra o país de origem dos refugiados. fugiados na vida produtiva do país, destinando os
Quinta – Reiterar a importância e a significa- recursos da comunidade internacional que o Acnur
ção do princípio de non-refoulement (incluindo a canaliza para a criação ou geração de empregos,
proibição da rejeição nas fronteiras), como pedra possibilitando assim o desfrutar dos direitos econô-
angular da proteção internacional dos refugiados. micos, sociais e culturais pelos refugiados.
Este princípio imperativo respeitante aos refugia- Décima segunda – Reiterar o caráter voluntá-
dos, deve reconhecer-se e respeitar-se no estado rio e individual da repatriação dos refugiados e a
atual do direito internacional, como um princípio
necessidade de que este se efetue em condições
de jus cogens.
de completa segurança, preferencialmente para
Sexta – Reiterar aos países de asilo a conveniên-
o lugar de residência do refugiado no seu país de
cia de que os acampamentos e instalações de re-
origem.
fugiados localizados em zonas fronteiriças sejam
Décima terceira – Reconhecer que o reagrupa-
instalados no interior dos países de asilo a uma
mento das famílias constitui um princípio funda-
distância razoável das fronteiras com vista a me-
mental em matéria de refugiados que deve inspi-
lhorar as condições de proteção destes, a preser-
rar o regime de tratamento humanitário no país
var os seus direitos humanos e a pôr em prática
de asilo e, da mesma maneira, as facilidades que
projetos destinados à autossuficiência e integra-
se concedam nos casos de repatriação voluntária.
rão na sociedade que os acolhe.
Décima quarta – Instar as organizações não
Sétima – Expressar a sua preocupação pelo pro-
governamentais, internacionais e nacionais a
blema dos ataques militares aos acampamentos
prosseguirem o seu incomensurável trabalho,
e instalações de refugiados que têm ocorrido em
coordenando a sua ação com o Acnur e com as
diversas partes do mundo e propor aos governos
dos países da América Central, México e Panamá autoridades nacionais do país de asilo, de acordo
que apoiem as medidas propostas pelo Alto Co- com as diretrizes dadas por estas autoridades.
missariado ao Comitê Executivo do Acnur. Décima quinta – Promover a utilização, com
Oitava – Propiciar que os países da região es- maior intensidade, dos organismos competentes
tabeleçam um regime de garantias mínimas de do sistema interamericano e, em especial, a Co-
proteção dos refugiados, com base nos precei- missão Interamericana de Direitos Humanos com
tos da Convenção de 1951 e do Protocolo de 1967 o propósito de complementar a proteção interna-
e na Convenção Americana dos Direitos Huma- cional dos asilados e refugiados. Desde já, para
nos, tomando-se ainda em consideração as con- o cumprimento dessas funções, o Colóquio con-
clusões emanadas do Comitê Executivo do Acnur, sidera que seria aconselhável acentuar a estreita
em particular a n. 22 sobre a Proteção dos Can- coordenação e cooperação existente entre a Co-
didatos ao Asilo em Situações de Afluência em missão e o Acnur.
Grande Escala. Décima sexta – Deixar testemunho da importân-
Nona – Expressar a sua preocupação pela situa- cia que reveste o Programa de Cooperação OEA/Ac-
ção das pessoas deslocados dentro do seu próprio nur e as atividades que se têm desenvolvido e pro-
país. A este respeito, o Colóquio chama a atenção por que a próxima etapa concentre a sua atenção
das autoridades nacionais e dos organismos in- na problemática que gera a afluência maciça de
ternacionais competentes para que ofereçam pro- refugiados na América Central, México e Panamá.
58
LEI Nº 9.474, DE 22 DE JULHO DE 1997


Décima sétima – Propiciar nos países da Amé- De um modo especial, o Colóquio expressou o
rica Central e do Grupo Contadora uma difusão a seu reconhecimento ao apoio e hospitalidade ofe-
todos os níveis possíveis das normas internacio- recidos pelas autoridades do Departamento de Bolí-
nais e internas referentes à proteção dos refugia- var e da Cidade de Cartagena. Agradeceu, igualmen-
dos e, em geral, dos direitos humanos. Em particu- te, o caloroso acolhimento do povo desta cidade,
lar, o Colóquio considera de especial importância justamente conhecida como Cidade Heroica.
que essa divulgação se efetue contando com a Finalmente, o Colóquio, deixou testemunhado
valiosa cooperação das correspondentes univer- o seu reconhecimento à generosa tradição de
sidades e centros superiores de ensino. asilo e refúgio praticada pelo povo e autoridades
IV da Colômbia.
Em consequência, o Colóquio de Cartagena, Cartagena das Índias, 22 de novembro
Recomenda: de 1984.
• Que os compromissos em matéria de refugia-
dos contidos na Ata da Paz de Contadora cons- LEI Nº 9.474, DE 22 DE JULHO DE 1997
tituam, para os dez Estados participantes no (Publicada no DOU de 23/7/1997)
Colóquio, normas que devem ser necessária e es-
Define mecanismos para a implementação do
crupulosamente respeitadas para determinar a
Estatuto dos Refugiados de 1951, e determina
conduta a seguir em relação aos refugiados na outras providências.
América Central;
O presidente da República
• Que as conclusões a que se chegou no Coló-
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu
quio (III) sejam tidas adequadamente em conta
sanciono a seguinte Lei:
para encarar a solução dos gravíssimos problemas
criados pela atual afluência maciça de refugiados TÍTULO I
na América Central, México e Panamá; DOS ASPECTOS CARACTERIZADORES
• Que se publique um volume que contenha o CAPÍTULO I
documento de trabalho, as exposições e relató- DO CONCEITO, DA EXTENSÃO E DA EXCLUSÃO
rios, bem como as conclusões e recomendações
Seção I
do Colóquio e restantes documentos pertinentes,
Do Conceito
solicitando ao Governo da Colômbia, ao Acnur e
aos organismos competentes da OEA que adotem Art. 1º Será reconhecido como refugiado todo in-
as medidas necessárias a fim de conseguir a maior divíduo que:
divulgação dessa publicação; I – devido a fundados temores de persegui-
• Que se publique o presente documento como ção por motivos de raça, religião, nacionalidade,
Declaração de Cartagena sobre os Refugiados; grupo social ou opiniões políticas encontre-se
• Que se solicite ao Alto Comissariado das Nações fora de seu país de nacionalidade e não possa ou
Unidas para os Refugiados que transmita oficial- não queira acolher-se à proteção de tal país;
mente o conteúdo da presente Declaração aos Che- II – não tendo nacionalidade e estando fora do
fes de Estado dos países da América Central, de Be- país onde antes teve sua residência habitual, não
lize e dos países integrantes do Grupo Contadora. possa ou não queira regressar a ele, em função
Finalmente, o Colóquio expressou o seu pro- das circunstâncias descritas no inciso anterior;
fundo agradecimento às autoridades colombia- III – devido a grave e generalizada violação de
nas, e em particular ao Senhor Presidente da direitos humanos, é obrigado a deixar seu país de
República, Dr. Belisário Betancur, e ao Ministro nacionalidade para buscar refúgio em outro país.
dos Negócios Estrangeiros, Dr. Augusto Ramirez
Ocampo, ao Alto Comissário das Nações Unidas
Seção II
Da Extensão
para os Refugiados, Dr. Poul Hartling, que honra-
ram com a sua presença o Colóquio, bem como à Art. 2º Os efeitos da condição dos refugiados
Universidade de Cartagena de Índias e ao Centro serão extensivos ao cônjuge, aos ascendentes e
Regional de Estudos do Terceiro Mundo, pela ini- descendentes, assim como aos demais membros
ciativa e realização deste importante evento. do grupo familiar que do refugiado dependerem
59
economicamente, desde que se encontrem em § 1º Em hipótese alguma será efetuada sua de-
território nacional. portação para fronteira de território em que sua
Seção III vida ou liberdade esteja ameaçada, em virtude
Da Exclusão de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou
opinião política.
Art. 3º Não se beneficiarão da condição de refu-
§ 2º O benefício previsto neste artigo não po-
giado os indivíduos que:
derá ser invocado por refugiado considerado pe-
I – já desfrutem de proteção ou assistência por
rigoso para a segurança do Brasil.
parte de organismo ou instituição das Nações
Unidas que não o Alto Comissariado das Nações Art. 8º O ingresso irregular no território nacional
Unidas para os Refugiados (Acnur); não constitui impedimento para o estrangeiro so-
II – sejam residentes no território nacional e licitar refúgio às autoridades competentes.
tenham direitos e obrigações relacionados com a Art. 9º A autoridade a quem for apresentada a
condição de nacional brasileiro; solicitação deverá ouvir o interessado e preparar
III – tenham cometido crime contra a paz, crime
termo de declaração, que deverá conter as cir-
de guerra, crime contra a humanidade, crime he-
cunstâncias relativas à entrada no Brasil e às ra-
diondo, participado de atos terroristas ou tráfico
zões que o fizeram deixar o país de origem.
de drogas;
IV – sejam considerados culpados de atos con- Art. 10. A solicitação, apresentada nas condi-
trários aos fins e princípios das Nações Unidas. ções previstas nos artigos anteriores, suspenderá
qualquer procedimento administrativo ou crimi-
CAPÍTULO II
nal pela entrada irregular, instaurado contra o pe-
DA CONDIÇÃO JURÍDICA DE REFUGIADO
ticionário e pessoas de seu grupo familiar que o
Art. 4º O reconhecimento da condição de refu- acompanhem.
giado, nos termos das definições anteriores, su- § 1º Se a condição de refugiado for reconhe-
jeitará seu beneficiário ao preceituado nesta Lei,
cida, o procedimento será arquivado, desde que
sem prejuízo do disposto em instrumentos inter-
demonstrado que a infração correspondente foi
nacionais de que o Governo brasileiro seja parte,
determinada pelos mesmos fatos que justificaram
ratifique ou venha a aderir.
o dito reconhecimento.
Art. 5º O refugiado gozará de direitos e estará su- § 2º Para efeito do disposto no parágrafo ante-
jeito aos deveres dos estrangeiros no Brasil, ao dis- rior, a solicitação de refúgio e a decisão sobre a
posto nesta Lei, na Convenção sobre o Estatuto dos mesma deverão ser comunicadas à Polícia Fede-
Refugiados de 1951 e no Protocolo sobre o Esta- ral, que as transmitirá ao órgão onde tramitar o
tuto dos Refugiados de 1967, cabendo-lhe a obri- procedimento administrativo ou criminal.
gação de acatar as leis, regulamentos e providên-
cias destinados à manutenção da ordem pública. TÍTULO III
DO CONARE
Art. 6º O refugiado terá direito, nos termos da Con-
Art. 11. Fica criado o Comitê Nacional para os Re-
venção sobre o Estatuto dos Refugiados de 1951, a
fugiados (Conare), órgão de deliberação coletiva,
cédula de identidade comprobatória de sua con-
no âmbito do Ministério da Justiça.
dição jurídica, carteira de trabalho e documento
de viagem. CAPÍTULO I
DA COMPETÊNCIA
TÍTULO II
DO INGRESSO NO TERRITÓRIO Art. 12. Compete ao Conare, em consonância
NACIONAL E DO PEDIDO DE REFÚGIO com a Convenção sobre o Estatuto dos Refugia-
Art. 7º O estrangeiro que chegar ao território na- dos de 1951, com o Protocolo sobre o Estatuto dos
cional poderá expressar sua vontade de solicitar Refugiados de 1967 e com as demais fontes de di-
reconhecimento como refugiado a qualquer au- reito internacional dos refugiados:
toridade migratória que se encontre na fronteira, I – analisar o pedido e declarar o reconheci-
a qual lhe proporcionará as informações necessá- mento, em primeira instância, da condição de
rias quanto ao procedimento cabível. refugiado;
60
LEI Nº 9.474, DE 22 DE JULHO DE 1997


II – decidir a cessação, em primeira instância, ex TÍTULO IV


officio ou mediante requerimento das autoridades DO PROCESSO DE REFÚGIO
competentes, da condição de refugiado; CAPÍTULO I
III – determinar a perda, em primeira instância, DO PROCEDIMENTO
da condição de refugiado;
Art. 17. O estrangeiro deverá apresentar-se à au-
IV – orientar e coordenar as ações necessárias à
toridade competente e externar vontade de soli-
eficácia da proteção, assistência e apoio jurídico
citar o reconhecimento da condição de refugiado.
aos refugiados;
V – aprovar instruções normativas esclarecedo- Art. 18. A autoridade competente notificará o soli-
ras à execução desta Lei. citante para prestar declarações, ato que marcará
Art. 13. O regimento interno do Conare será apro- a data de abertura dos procedimentos.
vado pelo Ministro de Estado da Justiça. Parágrafo único. A autoridade competente in-
Parágrafo único. O regimento interno determi- formará o Alto Comissariado das Nações Unidas
nará a periodicidade das reuniões do Conare. para Refugiados (Acnur) sobre a existência do pro-
cesso de solicitação de refúgio e facultará a esse
CAPÍTULO II
organismo a possibilidade de oferecer sugestões
DA ESTRUTURA E DO FUNCIONAMENTO
que facilitem seu andamento.
Art. 14. O Conare será constituído por:
Art. 19. Além das declarações, prestadas se ne-
I – um representante do Ministério da Justiça,
que o presidirá; cessário com ajuda de intérprete, deverá o estran-
II – um representante do Ministério das Rela- geiro preencher a solicitação de reconhecimento
ções Exteriores; como refugiado, a qual deverá conter identifica-
III – um representante do Ministério do Trabalho; ção completa, qualificação profissional, grau de
IV – um representante do Ministério da Saúde; escolaridade do solicitante e membros do seu
V – um representante do Ministério da Educação grupo familiar, bem como relato das circunstân-
e do Desporto; cias e fatos que fundamentem o pedido de refúgio,
VI – um representante do Departamento de Po- indicando os elementos de prova pertinentes.
lícia Federal; Art. 20. O registro de declaração e a supervisão do
VII – um representante de organização não go- preenchimento da solicitação do refúgio devem
vernamental, que se dedique a atividades de as- ser efetuados por funcionários qualificados e em
sistência e proteção de refugiados no País. condições que garantam o sigilo das informações.
§ 1º O Alto Comissariado das Nações Unidas
para Refugiados (Acnur) será sempre membro CAPÍTULO II
DA AUTORIZAÇÃO DE RESIDÊNCIA PROVISÓRIA
convidado para as reuniões do Conare, com di-
reito a voz, sem voto. Art. 21. Recebida a solicitação de refúgio, o De-
§ 2º Os membros do Conare serão designados partamento de Polícia Federal emitirá protocolo
pelo Presidente da República, mediante indica- em favor do solicitante e de seu grupo familiar que
ções dos órgãos e da entidade que o compõem. se encontre no território nacional, o qual autori-
§ 3º O Conare terá um Coordenador-Geral, com zará a estada até a decisão final do processo.
a atribuição de preparar os processos de requeri- § 1º O protocolo permitirá ao Ministério do Tra-
mento de refúgio e a pauta de reunião. balho expedir carteira de trabalho provisória, para
Art. 15. A participação no Conare será conside- o exercício de atividade remunerada no País.
rada serviço relevante e não implicará remunera- § 2º No protocolo do solicitante de refúgio serão
ção de qualquer natureza ou espécie. mencionados, por averbamento, os menores de
quatorze anos.
Art. 16. O Conare reunir-se-á com quórum de qua-
tro membros com direito a voto, deliberando por Art. 22. Enquanto estiver pendente o processo re-
maioria simples. lativo à solicitação de refúgio, ao peticionário será
Parágrafo único. Em caso de empate, será con- aplicável a legislação sobre estrangeiros, respeita-
siderado voto decisivo o do Presidente do Conare. das as disposições específicas contidas nesta Lei.
61
CAPÍTULO III estrangeiros, não devendo ocorrer sua transferên-
DA INSTRUÇÃO E DO RELATÓRIO cia para o seu país de nacionalidade ou de residên-
Art. 23. A autoridade competente procederá a even- cia habitual, enquanto permanecerem as circuns-
tuais diligências requeridas pelo Conare, devendo tâncias que põem em risco sua vida, integridade
averiguar todos os fatos cujo conhecimento seja física e liberdade, salvo nas situações determina-
conveniente para uma justa e rápida decisão, res- das nos incisos III e IV do art. 3º desta Lei.
peitando sempre o princípio da confidencialidade. TÍTULO V
Art. 24. Finda a instrução, a autoridade compe- DOS EFEITOS DO ESTATUTO DE REFUGIADOS
tente elaborará, de imediato, relatório, que será SOBRE A EXTRADIÇÃO E A EXPULSÃO
enviado ao Secretário do Conare, para inclusão CAPÍTULO I
na pauta da próxima reunião daquele Colegiado. DA EXTRADIÇÃO
Art. 25. Os intervenientes nos processos relati- Art. 33. O reconhecimento da condição de refu-
vos às solicitações de refúgio deverão guardar se- giado obstará o seguimento de qualquer pedido
gredo profissional quanto às informações a que de extradição baseado nos fatos que fundamenta-
terão acesso no exercício de suas funções. ram a concessão de refúgio.
CAPÍTULO IV Art. 34. A solicitação de refúgio suspenderá, até
DA DECISÃO, DA COMUNICAÇÃO decisão definitiva, qualquer processo de extradi-
E DO REGISTRO ção pendente, em fase administrativa ou judicial,
Art. 26. A decisão pelo reconhecimento da con- baseado nos fatos que fundamentaram a conces-
dição de refugiado será considerada ato declara- são de refúgio.
tório e deverá estar devidamente fundamentada. Art. 35. Para efeito do cumprimento do disposto
Art. 27. Proferida a decisão, o Conare notificará nos arts. 33 e 34 desta Lei, a solicitação de reco-
o solicitante e o Departamento de Polícia Federal, nhecimento como refugiado será comunicada ao
para as medidas administrativas cabíveis. órgão onde tramitar o processo de extradição.
Art. 28. No caso de decisão positiva, o refugiado CAPÍTULO II
será registrado junto ao Departamento de Polícia DA EXPULSÃO
Federal, devendo assinar termo de responsabili- Art. 36. Não será expulso do território nacional
dade e solicitar cédula de identidade pertinente. o refugiado que esteja regularmente registrado,
CAPÍTULO V salvo por motivos de segurança nacional ou de
DO RECURSO ordem pública.
Art. 29. No caso de decisão negativa, esta deverá Art. 37. A expulsão de refugiado do território
ser fundamentada na notificação ao solicitante, nacional não resultará em sua retirada para país
cabendo direito de recurso ao Ministro de Estado onde sua vida, liberdade ou integridade física
da Justiça, no prazo de quinze dias, contados do possam estar em risco, e apenas será efetivada
recebimento da notificação. quando da certeza de sua admissão em país onde
Art. 30. Durante a avaliação do recurso, será per- não haja riscos de perseguição.
mitido ao solicitante de refúgio e aos seus fami- TÍTULO VI
liares permanecer no território nacional, sendo DA CESSAÇÃO E DA PERDA DA
observado o disposto nos §§ 1º e 2º do art. 21 CONDIÇÃO DE REFUGIADO
desta Lei.
CAPÍTULO I
Art. 31. A decisão do Ministro de Estado da Justiça DA CESSAÇÃO DA CONDIÇÃO DE REFUGIADO
não será passível de recurso, devendo ser notifi- Art. 38. Cessará a condição de refugiado nas hi-
cada ao Conare, para ciência do solicitante, e ao póteses em que o estrangeiro:
Departamento de Polícia Federal, para as provi- I – voltar a valer-se da proteção do país de que
dências devidas. é nacional;
Art. 32. No caso de recusa definitiva de refú- II – recuperar voluntariamente a nacionalidade
gio, ficará o solicitante sujeito à legislação de outrora perdida;
62
LEI Nº 9.474, DE 22 DE JULHO DE 1997


III – adquirir nova nacionalidade e gozar da pro- Art. 41. A decisão do Ministro de Estado da Jus-
teção do país cuja nacionalidade adquiriu; tiça é irrecorrível e deverá ser notificada ao Conare,
IV – estabelecer-se novamente, de maneira vo- que a informará ao estrangeiro e ao Departamento
luntária, no país que abandonou ou fora do qual de Polícia Federal, para as providências cabíveis.
permaneceu por medo de ser perseguido;
TÍTULO VII
V – não puder mais continuar a recusar a prote- DAS SOLUÇÕES DURÁVEIS
ção do país de que é nacional por terem deixado
CAPÍTULO I
de existir as circunstâncias em consequência das
DA REPATRIAÇÃO
quais foi reconhecido como refugiado;
VI – sendo apátrida, estiver em condições de Art. 42. A repatriação de refugiados aos seus paí-
voltar ao país no qual tinha sua residência habi- ses de origem deve ser caracterizada pelo caráter
tual, uma vez que tenham deixado de existir as voluntário do retorno, salvo nos casos em que não
circunstâncias em consequência das quais foi re- possam recusar a proteção do país de que são na-
conhecido como refugiado. cionais, por não mais subsistirem as circunstân-
cias que determinaram o refúgio.
CAPÍTULO II
DA PERDA DA CONDIÇÃO DE REFUGIADO CAPÍTULO II
DA INTEGRAÇÃO LOCAL
Art. 39. Implicará perda da condição de refugiado:
I – a renúncia; Art. 43. No exercício de seus direitos e deveres, a
II – a prova da falsidade dos fundamentos in- condição atípica dos refugiados deverá ser consi-
vocados para o reconhecimento da condição de derada quando da necessidade da apresentação
de documentos emitidos por seus países de ori-
refugiado ou a existência de fatos que, se fossem
gem ou por suas representações diplomáticas e
conhecidos quando do reconhecimento, teriam
consulares.
ensejado uma decisão negativa;
III – o exercício de atividades contrárias à segu- Art. 44. O reconhecimento de certificados e diplo-
rança nacional ou à ordem pública; mas, os requisitos para a obtenção da condição de
IV – a saída do território nacional sem prévia residente e o ingresso em instituições acadêmicas
autorização do Governo brasileiro. de todos os níveis deverão ser facilitados, levan-
Parágrafo único. Os refugiados que perderem do-se em consideração a situação desfavorável
essa condição com fundamento nos incisos I e IV vivenciada pelos refugiados.
deste artigo serão enquadrados no regime geral de CAPÍTULO III
permanência de estrangeiros no território nacio- DO REASSENTAMENTO
nal, e os que a perderem com fundamento nos inci-
Art. 45. O reassentamento de refugiados em ou-
sos II e III estarão sujeitos às medidas compulsórias
tros países deve ser caracterizado, sempre que
previstas na Lei nº 6.815, de 19 de agosto de 1980.
possível, pelo caráter voluntário.
CAPÍTULO III Art. 46. O reassentamento de refugiados no Brasil
DA AUTORIDADE COMPETENTE E DO RECURSO
se efetuará de forma planificada e com a partici-
Art. 40. Compete ao Conare decidir em primeira pação coordenada dos órgãos estatais e, quando
instância sobre cessação ou perda da condição possível, de organizações não governamentais,
de refugiado, cabendo, dessa decisão, recurso ao identificando áreas de cooperação e de determi-
Ministro de Estado da Justiça, no prazo de quinze nação de responsabilidades.
dias, contados do recebimento da notificação.
TÍTULO VIII
§ 1º A notificação conterá breve relato dos fatos
DAS DISPOSIÇÕES FINAIS
e fundamentos que ensejaram a decisão e cienti-
ficará o refugiado do prazo para interposição do Art. 47. Os processos de reconhecimento da con-
recurso. dição de refugiado serão gratuitos e terão caráter
§ 2º Não sendo localizado o estrangeiro para a urgente.
notificação prevista neste artigo, a decisão será Art. 48. Os preceitos desta Lei deverão ser inter-
publicada no Diário Oficial da União, para fins de pretados em harmonia com a Declaração Universal
contagem do prazo de interposição de recurso. dos Direitos do Homem de 1948, com a Convenção

63
sobre o Estatuto dos Refugiados de 1951, com o Pro- Estatuto dos Apátridas, de 1954, promulgada pelo
tocolo sobre o Estatuto dos Refugiados de 1967 e Decreto nº 4.246, de 22 de maio de 2002, ou assim
com todo dispositivo pertinente de instrumento in- reconhecida pelo Estado brasileiro;
ternacional de proteção de direitos humanos com VII – refugiado – pessoa que tenha recebido
o qual o Governo brasileiro estiver comprometido. proteção especial do Estado brasileiro, conforme
previsto na Lei nº 9.474, de 22 de julho de 1997; e
Art. 49. Esta Lei entra em vigor na data de sua
VIII – ano migratório – período de doze meses,
publicação.
contado da data da primeira entrada do visitante
Brasília, 22 de julho de 1997; 176º da
no território nacional, conforme disciplinado em
Independência e 109º da República.
ato do dirigente máximo da Polícia Federal.
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
Art. 2º Ao imigrante são garantidos os direitos
Iris Rezende
previstos em lei, vedada a exigência de prova
documental impossível ou descabida que difi-
DECRETO Nº 9.199, DE 20
culte ou impeça o exercício de seus direitos.
DE NOVEMBRO DE 2017
(Publicado no DOU de 21/11/2017)
Parágrafo único. Os órgãos da administração
pública federal revisarão procedimentos e nor-
Regulamenta a Lei nº 13.445, de 24 de maio de
mativos internos com vistas à observância ao dis-
2017, que institui a Lei de Migração.
posto no caput.
O presidente da República, no uso da atribui-
Art. 3º É vedado denegar visto ou residência ou
ção que lhe confere o art. 84, caput, inciso IV, da
impedir o ingresso no País por motivo de etnia, re-
Constituição, e tendo em vista o disposto na Lei
ligião, nacionalidade, pertinência a grupo social
nº 13.445, de 24 de maio de 2017, decreta:
ou opinião política.
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES CAPÍTULO II
DOS VISTOS
Art. 1º Este Decreto regulamenta a Lei de Migração,
Seção I
instituída pela Lei nº 13.445, de 24 de maio de 2017.
Disposições Gerais
Parágrafo único. Para fins do disposto na Lei
nº 13.445, de 2017, consideram-se: Art. 4º O visto é o documento que dá a seu porta-
I – migrante – pessoa que se desloque de país dor expectativa de ingresso no território nacional.
ou região geográfica ao território de outro país ou § 1º O visto poderá ser aposto a qualquer do-
região geográfica, em que estão incluídos o imi- cumento de viagem válido emitido nos padrões
grante, o emigrante e o apátrida; estabelecidos pela Organização da Aviação Civil
II – imigrante – pessoa nacional de outro país Internacional, o que não implica o reconheci-
ou apátrida que trabalhe ou resida e se estabe- mento de Estado, Governo ou Regime.
leça temporária ou definitivamente na República § 2º Para fins de aposição de visto, considera-
Federativa do Brasil; -se documento de viagem válido, expedido por
III – emigrante – brasileiro que se estabeleça governo estrangeiro ou organismo internacional
temporária ou definitivamente no exterior; reconhecido pelo Governo brasileiro:
IV – residente fronteiriço – pessoa nacional de I – passaporte;
país limítrofe ou apátrida que conserve a sua re- II – laissez-passer; ou
sidência habitual em Município fronteiriço de país III – documento equivalente àqueles referidos
vizinho; nos incisos I e II.
V – visitante – pessoa nacional de outro país ou § 3º Excepcionalmente, quando o solicitante
apátrida que venha à República Federativa do Bra- não puder apresentar documento de viagem vá-
sil para estadas de curta duração, sem pretensão lido expedido nos termos previstos no § 2º o visto
de se estabelecer temporária ou definitivamente poderá ser aposto em laissez-passer brasileiro.
no território nacional; Art. 5º Ao solicitante que pretenda ingressar ou
VI – apátrida – pessoa que não seja considerada permanecer no território nacional poderá ser con-
como nacional por nenhum Estado, conforme a cedido visto:
sua legislação, nos termos da Convenção sobre o I – de visita;
64
DECRETO Nº 9.199, DE 20 DE NOVEMBRO DE 2017


II – temporário; II – certificado internacional de imunização,


III – diplomático; quando exigido pela Agência Nacional de Vigilân-
IV – oficial; e cia Sanitária (Anvisa);
V – de cortesia. III – comprovante de pagamento de emolumen-
Art. 6º O solicitante poderá possuir mais de um tos consulares, quando aplicável;
visto válido, desde que os vistos sejam de tipos IV – formulário de solicitação de visto preen-
diferentes. chido em sistema eletrônico disponibilizado pelo
§ 1º A autoridade consular, ao conceder o visto, Ministério das Relações Exteriores; e
consignará, no documento de viagem do interes- V – demais documentos específicos para cada
sado, o tipo e o prazo de validade, e, quando cou- tipo de visto, observado o disposto neste Decreto
ber, a hipótese de enquadramento do visto. e em regulamentos específicos, quando cabível.
§ 2º No momento da entrada do portador do § 1º A autoridade consular poderá, a seu critério,
visto no território nacional, a Polícia Federal de- solicitar o comparecimento pessoal do solicitante
finirá a situação migratória aplicável, de acordo a um dos locais mencionados no caput do art. 7º
com os objetivos da viagem declarados pelo por- para realização de entrevista.
tador do visto. § 2º Do formulário referido no inciso IV do caput
constará declaração, sob as penas da lei, de que
Art. 7º O visto será concedido por embaixadas,
o requerente não se enquadra em nenhuma hipó-
consulados-gerais, consulados, vice-consulados e,
tese de denegação de visto ou impedimento de
quando habilitados pelo Ministério das Relações
ingresso.
Exteriores, por escritórios comerciais e de repre-
sentação do País no exterior. Art. 11. A posse ou a propriedade de bem no País
§ 1º Excepcionalmente, os vistos diplomático, não conferirá o direito de obter visto, sem prejuízo
oficial e de cortesia poderão ser concedidos no do disposto sobre visto temporário para realiza-
País pelo Ministério das Relações Exteriores. ção de investimento.
§ 2º Na hipótese de suspensão de relações di- Art. 12. Os Ministérios da Justiça e Segurança
plomáticas e consulares, os vistos de entrada no Pública, das Relações Exteriores e do Trabalho in-
País poderão ser concedidos por missão diplomá- tegrarão eletronicamente as suas bases de dados
tica ou repartição consular do país encarregado relacionadas com o processamento das solicita-
dos interesses brasileiros. ções de vistos, o controle migratório, o registro e
Art. 8º O visto é individual. a autorização de residência.
Parágrafo único. Na hipótese de haver mais de Subseção I
uma pessoa registrada no mesmo documento de Das Taxas e dos Emolumentos
viagem, o visto poderá ser concedido ao titular e
Art. 13. Taxas e emolumentos consulares serão
aos dependentes incluídos no documento de via-
cobrados pelo processamento do visto, em confor-
gem que pretendam vir à República Federativa do
midade com o disposto no Anexo à Lei nº 13.445,
Brasil.
de 2017, respeitadas as hipóteses de isenção.
Art. 9º O portador de documento de viagem expi- § 1º Os valores das taxas e dos emolumentos
rado em que conste visto brasileiro válido poderá consulares poderão ser ajustados pelo Ministério
ingressar no território nacional se apresentar o vis- das Relações Exteriores, de forma a preservar o
to acompanhado de documento de viagem válido. interesse nacional ou a assegurar a reciprocidade
Parágrafo único. O disposto no caput não se de tratamento.
aplica aos titulares de visto solicitado e emitido § 2º Emolumentos consulares não serão cobra-
por meio eletrônico. dos pela concessão de:
Art. 10. Para solicitar o visto, os seguintes do- I – vistos diplomáticos, oficiais e de cortesia; e
cumentos deverão ser apresentados à autoridade II – vistos em passaportes diplomáticos, oficiais
consular: ou de serviço, ou documentos equivalentes, ob-
I – documento de viagem válido, nos termos es- servada a reciprocidade de tratamento a titulares
tabelecidos no art. 4º; de documento de viagem similar ao brasileiro.
65
§ 3º A isenção da cobrança de taxas a que se desde que os seus portadores cumpram os requi-
refere o § 2º será implementada pelo Ministério sitos de registro estabelecidos pelo Ministério das
das Relações Exteriores, por meio de comunica- Relações Exteriores.
ção diplomática. Art. 19. O prazo de estada do visto de visita é
Subseção II aquele durante o qual o seu portador poderá per-
Dos Prazos de Validade manecer no território nacional e começa a ser con-
Art. 14. O prazo de validade do visto é aquele ao tado a partir da data da primeira entrada no País.
longo do qual o visto poderá ser utilizado para en- Art. 20. O visto de visita terá prazo de estada de
trada no País. até noventa dias, prorrogáveis pela Polícia Federal
§ 1º O prazo de validade estará indicado nos vis- por até noventa dias, desde que o prazo de estada
tos e começará a ser contado a partir da data de máxima no País não ultrapasse cento e oitenta
emissão do visto. dias a cada ano migratório, ressalvado o disposto
§ 2º O visto não poderá mais ser utilizado para no § 7º do art. 29.
entrada no País quando o seu prazo de validade § 1º A contagem do prazo de estada do visto de
expirar. visita começará a partir da data da primeira en-
Art. 15. O prazo de validade do visto de visita será trada no território nacional e será suspensa sem-
de um ano, e, exceto se houver determinação em pre que o visitante deixar o território nacional.
contrário do Ministério das Relações Exteriores, § 2º A prorrogação do prazo de estada do visto
permitirá múltiplas entradas no País enquanto o de visita somente poderá ser feita na hipótese de
visto estiver válido. nacionais de países que assegurem reciprocidade
§ 1º O prazo de validade do visto de visita po- de tratamento aos nacionais brasileiros.
derá ser reduzido, a critério do Ministério das Re- § 3º A Polícia Federal poderá, excepcionalmente,
lações Exteriores. conceder prazo de estada inferior ao previsto no
§ 2º Nas hipóteses em que houver reciprocidade caput ou, a qualquer tempo, reduzir o prazo pre-
de tratamento, em termos definidos por comuni- visto de estada do visitante no País.
cação diplomática, o visto de visita poderá ter § 4º A solicitação de renovação do prazo do visto
prazo de validade de até dez anos. de visita deverá ser realizada antes de expirado o
§ 3º O prazo de validade do visto de visita, prazo de estada original, hipótese em que deverão
quando solicitado e emitido por meio eletrônico, ser apresentados os seguintes documentos:
nos termos estabelecidos no art. 26, poderá ser I – documento de viagem válido;
superior a um ano, a critério do Ministério das Re- II – comprovante de recolhimento da taxa; e
lações Exteriores. III – formulário de solicitação de renovação do
prazo disponibilizado pela Polícia Federal.
Art. 16. O visto temporário poderá ser concedido
com prazo de validade de até um ano, e, exceto se Art. 21. Ato do Ministro de Estado da Justiça e
houver determinação em contrário do Ministério Segurança Pública disciplinará os procedimentos
das Relações Exteriores, permitirá múltiplas entra- para a renovação do prazo de estada do visitante.
das no País enquanto o visto estiver válido. Art. 22. O prazo inicial de estada dos portadores
Parágrafo único. O prazo de validade do visto de vistos temporários, diplomáticos, oficiais e de
temporário não se confunde com o prazo da au- cortesia será igual ao seu prazo de validade.
torização de residência. Parágrafo único. O prazo inicial de estada do
Art. 17. O prazo máximo de validade do visto so- visto temporário não se confunde com o prazo da
licitado e emitido por meio eletrônico será defi- autorização de residência.
nido em ato do Ministro de Estado das Relações Art. 23. O disposto no art. 20 poderá ser aplicado
Exteriores e poderá ser condicionado à data de aos nacionais de países isentos de vistos para vi-
expiração do documento de viagem apresentado sitar o País.
pelo solicitante. Parágrafo único. Prazos de estada e de conta-
Art. 18. Os vistos diplomático, oficial e de cortesia gem distintos daqueles previstos no art. 20 pode-
terão prazo de validade de até três anos, e per- rão ser estabelecidos, observada a reciprocidade
mitirão múltiplas entradas no território nacional, de tratamento a nacionais brasileiros.
66
DECRETO Nº 9.199, DE 20 DE NOVEMBRO DE 2017


Subseção III II – apresentar, por meio eletrônico, os do-


Da Simplificação de Procedimentos cumentos requeridos em ato do Ministro de Es-
e da Dispensa de Vistos tado das Relações Exteriores; e
Art. 24. O Ministério das Relações Exteriores po- III – pagar os emolumentos e as taxas cobrados
derá editar normas sobre a simplificação de pro- para o processamento do pedido de visto.
cedimentos para concessão de visto, por recipro- § 3º A autoridade consular brasileira poderá
cidade de tratamento ou por outros motivos que solicitar a apresentação dos originais dos do-
cumentos requeridos para dirimir dúvidas e soli-
julgar pertinentes.
citar documentos adicionais para a instrução do
Art. 25. A simplificação e a dispensa recíproca pedido feito por meio eletrônico.
de visto ou de cobrança de taxas e emolumentos § 4º A autoridade consular poderá, a seu crité-
consulares por seu processamento poderão ser rio, requerer o comparecimento pessoal do soli-
definidas por meio de comunicação diplomática. citante a um dos locais mencionados no caput do
§ 1º A dispensa de vistos a que se refere o caput art. 7º para realização de entrevista.
será concedida, a critério do Ministério das Rela-
Subseção IV
ções Exteriores, aos nacionais de país que asse-
Da Negativa de Concessão e
gure a reciprocidade de tratamento aos nacionais
da Denegação de Vistos
brasileiros, enquanto durar essa reciprocidade, e
Art. 27. O visto não será concedido:
os requisitos da dispensa recíproca serão defini-
I – a quem não preencher os requisitos para o
dos por meio de comunicação diplomática.
tipo de visto pleiteado, definidos em regulamen-
§ 2º Ato conjunto dos Ministros de Estado da
tos específicos, quando cabível;
Justiça e Segurança Pública e das Relações Ex-
II – a quem comprovadamente ocultar condição
teriores poderá, excepcionalmente, dispensar a
impeditiva de concessão de visto ou de ingresso
exigência do visto de visita, por prazo e naciona-
no País;
lidades determinados, observado o interesse na-
III – a menor de dezoito anos desacompanhado
cional. (Vide Decreto nº 9.731, de 16/3/2019)
ou sem autorização de viagem por escrito dos res-
§ 3º O Ministério das Relações Exteriores infor-
ponsáveis legais ou de autoridade competente; e
mará à Polícia Federal e às demais autoridades
IV – a quem, no momento de solicitação do visto,
competentes sobre os países aos quais se aplica
comportar-se de forma agressiva, insultuosa ou
a isenção de vistos e sobre as condições relacio-
desrespeitosa para com os agentes do serviço
nadas a essa isenção.
consular brasileiro.
Art. 26. O visto poderá ser solicitado e emitido Parágrafo único. A não concessão de visto não
por meio eletrônico, dispensada a aposição da eti- impede a apresentação de nova solicitação, desde
queta consular correspondente no documento de que cumpridos os requisitos para o tipo de visto
viagem do requerente, conforme definido em ato pleiteado.
do Ministro de Estado das Relações Exteriores, do Art. 28. O visto poderá ser denegado à pessoa:
qual constarão as nacionalidades, os prazos e as I – anteriormente expulsa do País, enquanto os
condições aplicáveis para a sua concessão. efeitos da expulsão vigorarem;
§ 1º As solicitações do visto de que trata o caput II – nos termos definidos pelo Estatuto de Roma
serão processadas pelo Ministério das Relações do Tribunal Penal Internacional, de 1998, promul-
Exteriores, o qual se baseará na capacidade tec- gado pelo Decreto nº 4.388, de 25 de setembro de
nológica disponível e nas garantias de segurança 2002, condenada ou respondendo a processo por:
que o procedimento ofereça em relação aos na- a) ato de terrorismo ou crime de genocídio;
cionais do país a que se aplique. b) crime contra a humanidade;
§ 2º Para a obtenção de visto por meio eletrô- c) crime de guerra; ou
nico, o solicitante deverá: d) crime de agressão;
I – preencher e enviar formulário disponível em III – condenada ou respondendo a processo em
sítio eletrônico indicado pelo Ministério das Rela- outro país por crime doloso passível de extradição
ções Exteriores; segundo a lei brasileira;
67
IV – que tenha o nome incluído em lista de restri- ao Ministério do Trabalho para realização de ativi-
ções por ordem judicial ou por compromisso assu- dades artísticas.
mido pelo País perante organismo internacional; e § 6º O Ministério das Relações Exteriores comu-
V – que tenha praticado ato contrário aos prin- nicará o Ministério do Trabalho sobre os vistos de
cípios e aos objetivos dispostos na Constituição. visita emitidos para realização de atividades artís-
Parágrafo único. A pessoa que tiver visto brasi- ticas ou desportivas, para realização de auditoria
leiro denegado será impedida de ingressar no País e consultoria, ou para atuação como marítimo, e
enquanto as condições que ensejaram a denega- informará os subsídios financeiros a serem rece-
ção perdurarem. bidos pelo visitante.
§ 7º O visto de visita emitido para realização de
Seção II
atividades artísticas ou desportivas, para realiza-
Do Visto de Visita
ção de auditoria e de consultoria, ou para atuação
Art. 29. O visto de visita poderá ser concedido ao como marítimo nas embarcações não menciona-
visitante que venha ao País para estada de curta das no inciso I e no inciso II, alíneas a e b, terá prazo
duração, sem intenção de estabelecer residência, de estada de até noventa dias, improrrogável a
para fins de turismo, negócios, trânsito, realização cada ano migratório, observado o seguinte: (Pará-
de atividades artísticas ou desportivas ou em si- grafo com redação dada pelo Decreto nº 9.500, de 10/9/2018)
tuações excepcionais, por interesse nacional. I – na hipótese de o marítimo ingressar no País
§ 1º É vedado ao beneficiário de visto de visita em viagem de longo curso ou em cruzeiros maríti-
exercer atividade remunerada no País. mos ou fluviais pela costa brasileira, para estadas
§  2º Para os fins do disposto neste artigo, as de até cento e oitenta dias a cada ano migratório,
atividades relativas a turismo compreendem a estará isento de visto, desde que apresente car-
realização de atividades de caráter turístico, in- teira internacional de marítimo emitida nos ter-
formativo, cultural, educacional ou recreativo, mos da Convenção da Organização Internacional
além de visitas familiares, participação em confe- do Trabalho; e (Inciso com redação dada pelo Decreto
rências, seminários, congressos ou reuniões, rea- nº 9.500, de 10/9/2018)
lização de serviço voluntário ou de atividade de II – na hipótese de o marítimo, ao ingressar no
pesquisa, ensino ou extensão acadêmica, desde País, não se enquadrar no disposto no inciso I,
que observado o disposto no § 1º e que a ativi- deverá solicitar o visto temporário a que se refere
dade realizada não tenha prazo superior àquele o art. 38, se estiver a bordo de: (Inciso com redação
previsto no art. 20. dada pelo Decreto nº 9.500, de 10/9/2018)
§  3º Para os fins do disposto neste artigo, as a) embarcação de bandeira brasileira, indepen-
atividades relativas a negócios compreendem a dentemente do prazo; (Alínea acrescida pelo Decreto
participação em reuniões, feiras e eventos em- nº 9.500, de 10/9/2018)
presariais, a cobertura jornalística ou a realiza- b) embarcação estrangeira de cruzeiros maríti-
ção de filmagem e reportagem, a prospecção de mos ou fluviais e a permanência for por prazo su-
oportunidades comerciais, a assinatura de contra- perior a cento e oitenta dias a cada ano migratório;
tos, a realização de auditoria ou consultoria, e a e (Alínea acrescida pelo Decreto nº 9.500, de 10/9/2018)
atuação como tripulante de aeronave ou embar- c) outras embarcações ou plataformas não men-
cação, desde que observado o disposto no § 1º e cionadas nas alíneas a e b e a permanência for por
que a atividade realizada não tenha prazo superior prazo superior a noventa dias a cada ano migrató-
àquele previsto no art. 20. rio. (Alínea acrescida pelo Decreto nº 9.500, de 10/9/2018)
§ 4º O visto de visita emitido para atividades § 8º As situações excepcionais de concessão de
artísticas e desportivas incluirá, também, os téc- visto de visita, de acordo com o interesse nacional,
nicos em espetáculos de diversões e os demais serão definidas:
profissionais que, em caráter auxiliar, participem I – em ato do Ministro de Estado das Relações
da atividade do artista ou do desportista. Exteriores; ou
§ 5º O visto de visita emitido para atividades ar- II – em ato conjunto dos Ministros das Relações
tísticas e desportivas não dispensará o seu porta- Exteriores e do Trabalho, quando se tratar de
dor da obtenção de autorização e do registro junto questões laborais.
68
DECRETO Nº 9.199, DE 20 DE NOVEMBRO DE 2017


§  9º O beneficiário de visto de visita poderá g) prática de atividade religiosa;


receber pagamento do governo, de empregador h) serviço voluntário;
brasileiro ou de entidade privada a título de diária, i) realização de investimento;
ajuda de custo, cachê, pró-labore ou outras despe- j) atividades com relevância econômica, social,
sas com a viagem, além de poder concorrer a prê- científica, tecnológica ou cultural;
mios, inclusive em dinheiro, em competições des- k) reunião familiar; ou
portivas ou em concursos artísticos ou culturais. l) atividades artísticas ou desportivas com con-
§ 10. O visto de visita não será exigido na hipó- trato por prazo determinado;
tese de escala ou conexão no território nacional, II – o imigrante seja beneficiário de tratado em
desde que o visitante não deixe a área de trânsito matéria de vistos; ou
internacional. III – o atendimento de interesses da política mi-
§ 11. Além dos documentos a que se refere o art. 10, gratória nacional.
caput, incisos I, II, III e IV, poderão ser exigidos:
Art. 34. O visto temporário para pesquisa, ensino
I – comprovante de meio de transporte de en-
ou extensão acadêmica poderá ser concedido ao
trada e saída do território nacional;
imigrante com ou sem vínculo empregatício com
II – prova de meios de subsistência compatíveis
a instituição de pesquisa ou de ensino brasileira,
com o prazo e com o objetivo da viagem preten-
exigida, na hipótese de vínculo, a comprovação
dida; e
de formação superior compatível ou equivalente
III – documentação que ateste a natureza das
reconhecimento científico.
atividades que serão desenvolvidas no País.
§ 1º O visto temporário para pesquisa, ensino
§ 12. Documentos adicionais e entrevista pre-
ou extensão acadêmica com vínculo empregatício
sencial dos visitantes poderão ser solicitados para
no País será concedido ao imigrante que compro-
a confirmação do objetivo da viagem.
var oferta de trabalho, caracterizada por meio de
Art. 30. O visto de visita poderá ser transformado contrato de trabalho ou de prestação de serviços
em autorização de residência ou em visto diplo- celebrado com instituição de pesquisa ou de en-
mático, oficial ou de cortesia, no território nacio- sino brasileira.
nal, desde que o visitante preencha os requisitos § 2º O visto temporário para pesquisa, ensino
estabelecidos neste Decreto. ou extensão acadêmica sem vínculo empregatício
Art. 31. Ato do Ministro de Estado das Relações no País será concedido ao imigrante detentor de
Exteriores estabelecerá os procedimentos para a bolsa ou auxílio em uma das modalidades previs-
concessão do visto de visita. tas no caput, quando o prazo de vigência da bolsa
for superior a noventa dias.
Art. 32. Caberá ao Ministério das Relações Exterio-
§ 3º Enquadra-se na hipótese prevista no § 2º o
res divulgar e manter em sítio eletrônico a relação
imigrante que possuir vínculo institucional exclu-
atualizada dos países cujos nacionais gozam de
sivamente no exterior e pretenda realizar atividade
isenção do visto de visita.
de pesquisa, ensino ou de extensão acadêmica
Seção III subsidiada por instituição de pesquisa ou de en-
Dos Vistos Temporários sino estrangeira, desde que em parceria com ins-
Art. 33. O visto temporário poderá ser concedido tituição brasileira.
ao imigrante que venha ao País com o intuito de § 4º O imigrante que se encontre no País sob o
estabelecer residência por tempo determinado e amparo do visto temporário de pesquisa, de en-
que se enquadre em, no mínimo, uma das seguin- sino ou de extensão acadêmica, sem vínculo em-
tes hipóteses: pregatício no País, por prazo superior a noventa
I – o visto temporário tenha como finalidade: dias, poderá exercer atividade remunerada no
a) pesquisa, ensino ou extensão acadêmica; País, desde que relacionada à área de pesquisa,
b) tratamento de saúde; de ensino ou de extensão acadêmica.
c) acolhida humanitária; § 5º A concessão do visto temporário de que
d) estudo; trata caput observará os requisitos, as condições,
e) trabalho; os prazos e os procedimentos estabelecidos em
f) férias-trabalho; resolução do Conselho Nacional de Imigração.
69
§ 6º Para fins da concessão do visto de que trata res e do Trabalho poderá estabelecer instruções
o caput, será solicitada, junto ao Ministério do Tra- específicas para a realização de viagem ao exterior
balho, autorização de residência prévia à emissão do portador do visto de que trata o caput.
do visto, ressalvadas as hipóteses definidas em re- § 3º A possibilidade de livre exercício de ati-
solução do Conselho Nacional de Imigração. vidade laboral será reconhecida ao imigrante a
§ 7º A concessão da autorização de residência quem tenha sido concedido o visto temporário de
de que trata o § 6º não implicará a emissão auto- que trata o caput, nos termos da legislação vigente.
mática do visto temporário de que trata o caput. Art. 37. O visto temporário para estudo poderá ser
Art. 35. O visto temporário para tratamento de concedido ao imigrante que pretenda vir ao País
saúde poderá ser concedido ao imigrante e ao seu para frequentar curso regular ou realizar estágio
acompanhante, desde que o imigrante comprove ou intercâmbio de estudo ou de pesquisa.
possuir meios de subsistência suficientes. § 1º O visto temporário para estudo autoriza
§ 1º A concessão do visto temporário para trata- o imigrante a realizar as atividades previstas no
mento de saúde, sem prejuízo do direito à saúde caput vinculadas a instituição de ensino definida.
dos imigrantes estabelecidos no País, estará con- § 2º O exercício de atividade remunerada com-
dicionada à comprovação de meios de subsistên- patível com a carga horária do estudo será permi-
cia suficientes para custear o seu tratamento e a tido ao titular do visto mencionado no caput, nos
sua manutenção durante o período em que o tra- termos da legislação vigente.
tamento for realizado, por recurso próprio, seguro § 3º Ato conjunto dos Ministros de Estado da Jus-
de saúde válido no território nacional ou certifi- tiça e Segurança Pública e das Relações Exterio-
cado de prestação de serviço de saúde previsto res estabelecerá as condições e os procedimentos
em tratado de que o País seja parte. para a concessão do visto mencionado no caput.
§ 2º Excepcionalmente, poderá ser concedido Art. 38. O visto temporário para trabalho poderá
visto temporário a mais de um acompanhante, ser concedido ao imigrante que venha exercer ati-
ainda que sejam não cumpridos os requisitos de vidade laboral com ou sem vínculo empregatício
reunião familiar, desde que comprovada a neces- no País.
sidade médica. § 1º O visto temporário para trabalho com vín-
§ 3º Os titulares do visto temporário de que culo empregatício será concedido por meio da
trata o caput não terão direito de exercer atividade comprovação de oferta de trabalho no País, ob-
remunerada no País. servado o seguinte:
§ 4º Ato conjunto dos Ministros de Estado da I – a oferta de trabalho é caracterizada por meio
Justiça e Segurança Pública e das Relações Exte- de contrato individual de trabalho ou de contrato de
riores disciplinará a concessão do visto temporá- prestação de serviços; e
rio de que trata o caput. II – os marítimos imigrantes a bordo de embar-
Art. 36. O visto temporário para acolhida huma- cação de bandeira brasileira deverão possuir con-
nitária poderá ser concedido ao apátrida ou ao trato individual de trabalho no País.
nacional de qualquer país em situação de grave § 2º O visto temporário para trabalho sem
ou iminente instabilidade institucional, de con- vínculo empregatício será concedido por meio
flito armado, de calamidade de grande propor- da comprovação de oferta de trabalho no País,
ção, de desastre ambiental ou de grave violação quando se tratar das seguintes atividades:
de direitos humanos ou de direito internacional I – prestação de serviço ou auxílio técnico ao
humanitário. Governo brasileiro;
§ 1º Ato conjunto dos Ministros de Estado da II – prestação de serviço em razão de acordo de
Justiça e Segurança Pública, das Relações Exterio- cooperação internacional;
res e do Trabalho definirá as condições, os prazos III – prestação de serviço de assistência técnica
e os requisitos para a emissão do visto mencio- ou transferência de tecnologia;
nado no caput para os nacionais ou os residentes IV – representação, no País, de instituição finan-
de países ou regiões nele especificados. ceira ou assemelhada sediada no exterior;
§ 2º Ato conjunto dos Ministros de Estado da V – representação de pessoa jurídica de direito
Justiça e Segurança Pública, das Relações Exterio- privado, sem fins lucrativos;
70
DECRETO Nº 9.199, DE 20 DE NOVEMBRO DE 2017


VI – recebimento de treinamento profissional teriores e do Trabalho, consultado o Conselho Na-


junto a subsidiária, filial ou matriz brasileira; cional de Imigração, estabelecerá condições sim-
VII – atuação como marítimo: (Inciso com redação plificadas para a concessão de visto temporário
dada pelo Decreto nº 9.500, de 10/9/2018) para fins de trabalho.
a) a bordo de embarcação estrangeira em via- § 7º A possibilidade de modificação do local de
gem de longo curso ou em cruzeiros marítimos ou exercício de atividade laboral, na mesma empresa
fluviais pela costa brasileira e a permanência for ou no mesmo grupo econômico, será reconhecida
por prazo superior a cento e oitenta dias a cada ao imigrante a quem tenha sido concedido o visto
ano migratório; e (Alínea acrescida pelo Decreto nº 9.500, temporário para trabalho, por meio de comunica-
de 10/9/2018) ção ao Ministério do Trabalho.
b) a bordo de outras embarcações ou platafor- § 8º A concessão do visto temporário para a fina-
mas não mencionadas na alínea a e a permanên- lidade trabalho observará os requisitos, as condi-
cia for por prazo superior a noventa dias a cada ções, os prazos e os procedimentos estabelecidos
ano migratório; (Alínea acrescida pelo Decreto nº 9.500, em resolução do Conselho Nacional de Imigração.
de 10/9/2018)
§ 9º Para fins da concessão do visto de que trata
VIII – realização de estágio profissional ou inter-
o caput, será solicitada, junto ao Ministério do Tra-
câmbio profissional;
balho, autorização de residência prévia à emissão
IX – exercício de cargo, função ou atribuição que
do visto, ressalvadas as hipóteses definidas em re-
exija, em razão da legislação brasileira, a residên-
solução do Conselho Nacional de Imigração.
cia por prazo indeterminado;
§ 10. A concessão da autorização de residência
X – realização de atividade como correspon-
de que trata o § 9º não implicará a emissão auto-
dente de jornal, revista, rádio, televisão ou agên-
mática do visto temporário de que trata o caput.
cia noticiosa estrangeira; ou
XI – realização de auditoria ou consultoria com Art. 39. O visto temporário para férias-trabalho po-
prazo de estada superior a noventa dias. derá ser concedido ao imigrante maior de dezes-
§ 3º O visto temporário de que trata o caput não seis anos que seja nacional de país que conceda
será exigido do marítimo que ingressar no País em benefício idêntico ao nacional brasileiro, em ter-
viagem de longo curso ou em cruzeiros marítimos mos definidos pelo Ministério das Relações Exterio-
pela costa brasileira, desde que apresente cartei- res por meio de comunicação diplomática.
ra internacional de marítimo emitida nos termos § 1º O titular do visto mencionado no caput
de Convenção da Organização Internacional do poderá permanecer no País para fins primor-
Trabalho. dialmente de turismo, permitida a realização de
§ 4º Para a aplicação do disposto no inciso VII do atividade remunerada, em conformidade com o
§ 2º, consideram-se embarcações ou plataformas ordenamento jurídico brasileiro, a título de com-
estrangeiras, entre outras, aquelas utilizadas em plementação de renda.
navegação de apoio marítimo, de exploração ou § 2º O prazo de validade do visto mencionado
prospecção, navegação de cabotagem, levanta- no caput e o número de imigrantes que poderá
mento geofísico, dragas e embarcações de pesca. pleitear esse visto serão definidos por meio de co-
§ 5º Será dispensada a oferta de trabalho de que municação diplomática e observarão a reciproci-
trata o caput e considerada a comprovação de titu-
dade de tratamento.
lação em curso de ensino superior ou equivalente,
§ 3º A transformação do visto temporário para
na hipótese de capacidades profissionais estratégi-
férias-trabalho observará a reciprocidade de tra-
cas para o País, conforme disposto em ato conjunto
tamento estabelecida por meio de comunicação
dos Ministros de Estado da Justiça e Segurança Pú-
diplomática.
blica, das Relações Exteriores e do Trabalho, con-
sultado o Conselho Nacional de Imigração. Art. 40. O visto temporário para prática de ativida-
§ 6º Para fins de atração de mão de obra em des religiosas poderá ser concedido a:
áreas estratégicas para o desenvolvimento nacio- I – ministro de confissão religiosa;
nal ou com déficit de competências profissionais II – membro de instituto de vida consagrada ou
para o País, ato conjunto dos Ministros de Estado confessional; ou
da Justiça e Segurança Pública, das Relações Ex- III – membro de ordem religiosa.
71
Parágrafo único. A concessão do visto temporá- País, com potencial para geração de empregos ou
rio para prática de atividades religiosas observará de renda no País.
os requisitos, as condições, os prazo e os procedi- § 1º A concessão do visto temporário de que
mentos estabelecidos em resolução do Conselho trata o caput ao imigrante ficará condicionada ao
Nacional de Imigração. exercício da função que lhe for designada em con-
trato ou em ata devidamente registrada no órgão
Art. 41. O visto temporário para prestação de ser-
competente.
viço voluntário junto a entidade de direito público
§ 2º A concessão do visto temporário de que
ou privado sem fins lucrativos, ou a organização
trata este artigo observará os requisitos, as condi-
vinculada a governo estrangeiro, poderá ser con-
ções, os prazos e os procedimentos estabelecidos
cedido desde que não haja vínculo empregatício
em resolução do Conselho Nacional de Imigração.
nem remuneração de qualquer espécie.
§ 3º Para fins da concessão do visto de que trata
Parágrafo único. A concessão do visto tempo-
o caput, será solicitada, junto ao Ministério do Tra-
rário para prática de serviço voluntário observará
balho, autorização de residência prévia à emissão
os requisitos, as condições, os prazos e os procedi-
do visto, ressalvadas as hipóteses definidas em re-
mentos estabelecidos em resolução do Conselho
solução do Conselho Nacional de Imigração.
Nacional de Imigração.
§ 4º A concessão da autorização de residência
Art. 42. O visto temporário poderá ser concedido de que trata o § 3º não implicará a emissão auto-
ao imigrante pessoa física que pretenda, com re- mática do visto temporário de que trata o caput.
cursos próprios de origem externa, realizar inves-
Art. 44. O visto temporário para a realização de
timento em pessoa jurídica no País, em projeto
atividade com relevância econômica, social, cien-
com potencial para geração de empregos ou de
tífica, tecnológica ou cultural poderá ser conce-
renda no País.
dido nas hipóteses e nas condições definidas em
§ 1º Entende-se por investimento em pessoa
ato conjunto dos Ministros de Estado da Justiça
jurídica no País: e Segurança Pública, das Relações Exteriores e
I – investimento de origem externa em empresa do Trabalho, consultado o Conselho Nacional de
brasileira, conforme regulamentação do Banco Imigração.
Central do Brasil;
Art. 45. O visto temporário para fins de reunião
II – constituição de sociedade simples ou em-
familiar será concedido ao imigrante:
presária; e
I – cônjuge ou companheiro, sem discrimina-
III – outras hipóteses previstas nas políticas de
ção alguma, nos termos do ordenamento jurídico
atração de investimentos externos.
brasileiro;
§ 2º A concessão do visto temporário de que
II – filho de brasileiro ou de imigrante beneficiá-
trata este artigo observará os requisitos, as condi-
rio de autorização de residência;
ções, os prazos e os procedimentos estabelecidos
III – que tenha filho brasileiro;
em resolução do Conselho Nacional de Imigração.
IV – que tenha filho imigrante beneficiário de
§ 3º Para fins da concessão do visto de que trata
autorização de residência;
o caput, será solicitada, junto ao Ministério do Tra-
V – ascendente até o segundo grau de brasileiro
balho, autorização de residência prévia à emissão
ou de imigrante beneficiário de autorização de re-
do visto, ressalvadas as hipóteses definidas em re-
sidência;
solução do Conselho Nacional de Imigração.
VI – descendente até o segundo grau de brasi-
§ 4º A concessão da autorização de residência
leiro ou de imigrante beneficiário de autorização
de que trata o § 3º não implicará a emissão auto-
de residência;
mática do visto temporário de que trata o caput.
VII – irmão de brasileiro ou de imigrante benefi-
Art. 43. O visto temporário poderá ser concedido ciário de autorização de residência; ou
ao imigrante administrador, gerente, diretor ou VIII – que tenha brasileiro sob a sua tutela, cura-
executivo com poderes de gestão, que venha ao tela ou guarda.
País para representar sociedade civil ou comercial, § 1º Ato do Ministro de Estado das Relações
grupo ou conglomerado econômico que realize in- Exteriores poderá dispor sobre a necessidade
vestimento externo em empresa estabelecida no de entrevista presencial e de apresentação de
72
DECRETO Nº 9.199, DE 20 DE NOVEMBRO DE 2017


documentação adicional para comprovação, quan- requisitos, as condições, os prazo e os procedi-


do necessário, do vínculo familiar. mentos estabelecidos em resolução do Conselho
§ 2º Ato conjunto dos Ministros de Estado da Nacional de Imigração.
Justiça e Segurança Pública e das Relações Ex- § 5º Para fins da concessão do visto de que trata
teriores estabelecerá outras hipóteses de paren- o caput, será solicitada, junto ao Ministério do Tra-
tesco para fins de concessão do visto de que trata balho, autorização de residência prévia à emissão
o caput, além dos requisitos, dos prazos, das con- do visto, ressalvadas as hipóteses definidas em re-
dições e dos procedimentos. solução do Conselho Nacional de Imigração.
§ 3º O titular do visto mencionado no caput po- § 6º A concessão da autorização de residência
derá exercer qualquer atividade no País, inclusive de que trata o § 5º não implicará a emissão auto-
remunerada, em igualdade de condições com o mática do visto temporário de que trata o caput.
nacional brasileiro, nos termos da lei. Art. 47. O visto temporário poderá ser concedido
§ 4º A solicitação de visto temporário para fins ao imigrante beneficiário de tratado em matéria
de reunião familiar poderá ocorrer concomitante- de vistos.
mente à solicitação do visto temporário do fami- Parágrafo único. Para a concessão do visto men-
liar chamante. cionado no caput, será observado o disposto no
§ 5º O visto mencionado no caput não poderá tratado bilateral ou multilateral que regulamente
ser concedido quando o chamante for beneficiário o assunto e, subsidiariamente, o disposto neste
de visto ou autorização de residência por reunião Decreto, no que couber.
familiar ou de autorização provisória de residência. Art. 48. O visto temporário poderá ser concedido,
Art. 46. O visto temporário para atividades ar- para atender a interesses da política migratória na-
tísticas ou desportivas poderá ser concedido ao cional, em outras hipóteses definidas em ato con-
imigrante que venha ao País para participar de junto dos Ministros de Estado da Justiça e Seguran-
exposições, espetáculos, apresentações artísticas, ça Pública, das Relações Exteriores e do Trabalho.
encontros de artistas, competições desportivas e Art. 49. Além dos documentos a que se refere o
outras atividades congêneres, com intenção de art. 10, caput, incisos I, II, III e IV, poderão ser exigi-
permanecer no País por período superior a no- dos para a concessão de vistos temporários:
venta dias, com contrato por prazo determinado, I – comprovante de meio de transporte de en-
sem vínculo empregatício com pessoa física ou trada no território nacional;
jurídica sediada no País. II – comprovante de meio de transporte de
§ 1º O visto temporário concedido para ativida- saída do território nacional, quando cabível;
des artísticas e desportivas abrange, também, os III – comprovação de meios de subsistência
técnicos em espetáculos de diversões e demais compatíveis com o prazo e com o objetivo da via-
profissionais que, em caráter auxiliar, participem gem pretendida;
da atividade do artista ou desportista. IV – documentação que ateste a natureza das
§ 2º A concessão do visto temporário para ati- atividades que serão desenvolvidas no País, de
vidades artísticas ou desportivas para maiores acordo com o tipo de visto, conforme definido
de quatorze anos e menores de dezoito anos que em atos específicos;
vierem ao País para realizar treinamento em cen- V – atestado de antecedentes criminais expe-
tro cultural ou entidade desportiva será definida dido pelo país de origem, ou, a critério da autori-
em resolução do Conselho Nacional de Imigração, dade consular, atendidas às peculiaridades do país
hipótese em que a renovação do visto ficará con- onde o visto foi solicitado, documento equivalente.
dicionada à comprovação de matrícula e ao apro- Parágrafo único. Para confirmação do objetivo
veitamento escolar. da viagem, documentos adicionais e entrevista
§ 3º O imigrante que se encontre no País sob o presencial dos imigrantes poderão ser requeridos.
amparo do visto temporário de que trata o caput Art. 50. Os vistos temporários poderão ser trans-
somente poderá exercer atividades remuneradas formados em autorização de residência ou em vis-
no País de caráter artístico ou desportivo. to diplomático, oficial ou de cortesia, no território
§ 4º A concessão do visto temporário para ati- nacional, desde que o imigrante preencha os re-
vidades artísticas ou desportivas observará os quisitos estabelecidos neste Decreto.
73
Seção IV § 1º O dependente de funcionário estrangeiro
Dos Vistos Diplomático, Oficial e de Cortesia acreditado no País, observado o tratado de dis-
Art. 51. Os vistos diplomático, oficial e de cortesia pensa de visto, receberá o mesmo tratamento con-
serão concedidos, prorrogados ou dispensados em ferido ao dependente de titular de visto diplomá-
ato do Ministro de Estado das Relações Exteriores. tico ou oficial.
Parágrafo único. O ato de que trata o caput de- § 2º Na hipótese de o titular de visto diplomá-
finirá as regras de concessão, prorrogação e dis- tico estar em missão oficial a serviço de Estado
pensa, observados os tratados de que o País seja estrangeiro, a reciprocidade de tratamento ao
parte. nacional brasileiro em situação análoga naquele
Estado deverá ser assegurada por meio de comu-
Art. 52. Os vistos diplomático e oficial poderão
nicação diplomática.
ser transformados em autorização de residência,
§ 3º Na hipótese de o titular de visto diplomá-
desde que atendidos os requisitos para a obten-
tico ser funcionário de organização internacional,
ção da autorização de residência e importará ces-
a exigência de reciprocidade de tratamento será
sação de todas as prerrogativas, os privilégios e as
considerada atendida se houver tratamento equi-
imunidades decorrentes do visto.
valente para o nacional brasileiro no país em que
Parágrafo único. Excepcionalmente, nas hipóte-
a referida organização estiver sediada.
ses previstas no caput, o cumprimento dos requi-
§ 4º Se houver a necessidade em assegurar re-
sitos para a obtenção da autorização de residência
ciprocidade de tratamento junto a Estado estran-
poderá ser dispensado, mediante recomendação
geiro, a critério do Ministério das Relações Exte-
do Ministério das Relações Exteriores, observadas
riores, a comunicação diplomática poderá ser
as hipóteses de denegação de autorização de re-
efetuada por meio de troca de notas que permita
sidência com fundamento nos incisos I, II, III, IV e
o exercício de atividade remunerada de depen-
IX do caput do art. 171.
dentes estrangeiros no País e de dependentes bra-
Art. 53. Os vistos diplomático e oficial poderão sileiros no exterior, desde que observados o dis-
ser concedidos a autoridades e funcionários es- posto na Lei nº 13.445, de 2017, e neste Decreto.
trangeiros que viajem ao País em missão oficial de
Art. 56. A autorização para exercício de atividade
caráter transitório ou permanente e representem
remunerada no País será concedida por meio de
Estado estrangeiro ou organismo internacional
solicitação específica, que será encaminhada por
reconhecido.
via diplomática ao Ministério das Relações Exte-
§ 1º O disposto na legislação trabalhista brasi-
riores, e dependerá da aprovação do Ministério do
leira não se aplica aos titulares dos vistos de que
Trabalho, observado o seguinte:
trata o caput.
I – o dependente autorizado a exercer atividade
§ 2º Os vistos diplomático e oficial poderão ser
remunerada iniciadas não gozará de imunidade
estendidos aos dependentes das autoridades
mencionadas no caput, conforme o disposto em de jurisdição civil ou administrativa por atos dire-
ato do Ministro de Estado das Relações Exteriores. tamente relacionados com o desempenho da ati-
vidade, o dependente não gozará de imunidade
Art. 54. O titular de visto diplomático ou oficial de jurisdição civil ou administrativa no território
somente poderá ser remunerado por Estado es- nacional;
trangeiro ou organismo internacional, ressalvado II – a autorização para exercer atividade remu-
o disposto no art. 55 ou em tratado que contenha nerada terminará quando o beneficiário deixar de
cláusula específica sobre o assunto. atender a condição de dependente ou na data de
Parágrafo único. Na hipótese de tratado com partida definitiva do titular do território nacional,
cláusula específica, os termos do referido tratado após o término de suas funções;
prevalecerão sobre o disposto no art. 55. III – a legislação nacional será observada quan-
Art. 55. O dependente de titular de visto diplo- to aos cargos ou às funções privativos de nacio-
mático ou oficial poderá exercer atividade remu- nais brasileiros;
nerada no País, observada a legislação trabalhista IV – o reconhecimento de diplomas e títulos ob-
brasileira, desde que haja reciprocidade de trata- tidos no exterior, quando necessário ao exercício
mento em relação ao nacional brasileiro. do cargo ou da função, dependerá da observância
74
DECRETO Nº 9.199, DE 20 DE NOVEMBRO DE 2017


das normas e dos procedimentos aplicáveis a na- II – produzir a Carteira de Registro Nacional Mi-
cionais brasileiros ou estrangeiros residentes; gratório; e
V – na hipótese de profissões regulamentadas, III – administrar a base de dados relativa ao Re-
serão atendidas as mesmas exigências aplicáveis a gistro Nacional Migratório.
nacionais brasileiros ou estrangeiros residentes; e Art. 59. Compete ao Ministério das Relações Ex-
VI – os dependentes estarão sujeitos à legisla- teriores:
ção trabalhista, previdenciária e tributária brasi- I – organizar, manter e gerir os processos de
leira em relação à atividade exercida e recolherão identificação civil dos detentores de vistos diplo-
os tributos e os encargos decorrentes do exercício mático, oficial e de cortesia;
dessa atividade. II – produzir o documento de identidade dos
Art. 57. O visto de cortesia poderá ser concedido: detentores de vistos diplomático, oficial e de cor-
I – às personalidades e às autoridades estran- tesia; e
geiras em viagem não oficial ao País; III – administrar a base cadastral dos detentores
II – aos companheiros, aos dependentes e aos de vistos diplomático, oficial e de cortesia.
familiares em linha direta que não sejam benefi- Art. 60. O Ministério das Relações Exteriores e a
ciários do visto de que trata o § 2º do art. 53; Polícia Federal integrarão, em meio eletrônico, as
III – aos empregados particulares de beneficiá- suas bases de dados relacionadas ao registro de
rio de visto diplomático, oficial ou de cortesia; estrangeiros.
IV – aos trabalhadores domésticos de missão Art. 61. O pedido de registro é individual.
estrangeira sediada no País; Parágrafo único. Na hipótese de pessoa inca-
V – aos artistas e aos desportistas estrangeiros paz, o pedido será feito por representante ou as-
que venham ao País para evento gratuito, de ca- sistente legal.
ráter eminentemente cultural, sem percepção de
Seção II
honorários no território brasileiro, sob requisição
Do Registro e da Identificação Civil do
formal de missão diplomática estrangeira ou de
Imigrante Detentor de Visto Temporário
organização internacional de que o País seja parte; ou de Autorização de Residência
VI – excepcionalmente, a critério do Ministério
Art. 62. O registro consiste na inserção de dados
das Relações Exteriores, a outras pessoas não elen-
em sistema próprio da Polícia Federal, mediante
cadas nas demais hipóteses previstas neste artigo.
a identificação civil por dados biográficos e bio-
§ 1º O empregado particular ou o trabalhador do-
métricos.
méstico titular de visto de cortesia somente poderá
§ 1º O registro de que trata o caput será obriga-
exercer atividade remunerada para o empregador
tório a todo imigrante detentor de visto temporá-
a que esteja vinculado, sob o amparo da legislação
rio ou de autorização de residência.
trabalhista brasileira, nos termos estabelecidos em
§ 2º A inserção de que trata o caput gerará nú-
ato do Ministro de Estado das Relações Exteriores.
mero único de Registro Nacional Migratório, que
§ 2º O empregador de portador de visto de corte-
garantirá ao imigrante o pleno exercício dos atos
sia será responsável pela saída de seu empregado
da vida civil.
particular ou de seu trabalhador doméstico do ter-
ritório nacional, no prazo de trinta dias, contado da Art. 63. A Carteira de Registro Nacional Migrató-
data em que o vínculo empregatício cessar. rio será fornecida ao imigrante registrado, da qual
constará o número único de Registro Nacional Mi-
CAPÍTULO III gratório.
DO REGISTRO E DA IDENTIFICAÇÃO CIVIL DO
§ 1º Não expedida a Carteira de Registro Nacio-
IMIGRANTE E DOS DETENTORES DE VISTOS
DIPLOMÁTICO, OFICIAL E DE CORTESIA nal Migratório, o imigrante registrado apresentará
o protocolo recebido, quando de sua solicitação,
Seção I acompanhado do documento de viagem ou de
Disposições Gerais outro documento de identificação estabelecido
Art. 58. Compete à Polícia Federal: em ato do Ministro de Estado do Ministério da
I – organizar, manter e gerir os processos de Justiça e Segurança Pública, e terá garantido os
identificação civil do imigrante; direitos previstos na Lei nº 13.445, de 2017, pelo
75
prazo de até cento e oitenta dias, prorrogável pela em outra hipótese que não a de trabalho como
Polícia Federal, sem ônus para o solicitante. marítimo; ou
§ 2º A Carteira de Registro Nacional Migratório III – na unidade da Polícia Federal em que haja
poderá ser expedida em meio eletrônico, nos ter- atendimento a imigrantes do Município onde o re-
mos estabelecidos em ato da Polícia Federal, sem sidente fronteiriço pretenda exercer os direitos a
prejuízo da emissão do documento em suporte ele atribuídos pela Lei nº 13.445, de 2017.
físico. § 1º Observado o disposto na Lei nº 10.048, de
Art. 64. O imigrante de visto temporário que tenha 8 de novembro de 2000, poderão solicitar registro
ingressado no País deverá proceder à solicitação na unidade da Polícia Federal mais próxima ao seu
de registro no prazo de noventa dias, contado da domicílio:
data de ingresso no País, sob pena de aplicação da I – as pessoas com deficiência;
sanção prevista no inciso III do caput do art. 307. II – os idosos com idade igual ou superior a ses-
§ 1º Na hipótese de empregado doméstico, o senta anos;
registro deverá ocorrer no prazo de trinta dias, III – as gestantes;
contado da data de ingresso no País, com a com- IV – as lactantes;
provação da anotação na Carteira de Trabalho e V – as pessoas com criança de colo; e
Previdência Social e do registro na Escrituração VI – os obesos.
Digital das Obrigações Fiscais, Previdenciárias e § 2º A Polícia Federal poderá, por meio de reque-
Trabalhistas (e-Social). rimento e decisão fundamentada, em casos excep-
§ 2º Na hipótese de não comprovação da anota- cionais, permitir o registro do imigrante em uni-
ção na Carteira de Trabalho e Previdência Social e dades diferentes daquelas estabelecidas no caput.
do registro no e-Social no prazo de que trata o § 1º, Art. 68. O registro de dados biográficos do imi-
a Polícia Federal realizará o registro do imigrante grante ocorrerá por meio da apresentação do do-
e comunicará o Ministério do Trabalho. cumento de viagem ou de outro documento de
Art. 65. O documento de viagem do imigrante com identificação aceito nos termos estabelecidos em
visto temporário válido é apto para comprovar a ato do Ministro de Estado da Justiça e Segurança
sua identidade e demonstrar a regularidade de sua Pública.
estada no País enquanto não houver expirado o § 1º Na hipótese de a documentação apresentar
prazo para o registro, independentemente da expe- contradições ou não conter dados de filiação, o
dição da Carteira de Registro Nacional Migratório. imigrante deverá apresentar:
I – certidão de nascimento;
Art. 66. O imigrante a quem tenha sido deferido, II – certidão de casamento;
no País, o pedido de autorização de residência de- III – certidão consular do país de nacionalidade; ou
verá proceder à solicitação de registro no prazo de IV – justificação judicial.
trinta dias, contado da data da publicação do defe- § 2º O registro e a identificação civil das pessoas
rimento do referido pedido, sob pena de aplicação que tiveram a condição de refugiado ou de apá-
da sanção prevista no inciso IV do caput do art. 307. trida reconhecida, daquelas a quem foi concedido
Parágrafo único. A publicação a que se refere o asilo ou daquelas beneficiadas com acolhida hu-
caput será feita preferencialmente por meio ele- manitária poderão ser realizados com a apresenta-
trônico. ção dos documentos de que o imigrante dispuser.
Art. 67. O registro deverá ser solicitado: § 3º A apresentação da documentação mencio-
I – em qualquer unidade da Polícia Federal em nada nos § 1º e § 2º deverá respeitar as regras de
que haja atendimento a imigrantes, para detentor legalização e tradução, inclusive aquelas constan-
de visto temporário ou com autorização de resi- tes de tratados de que o País seja parte.
dência deferida na condição de marítimo; § 4º Ato do Ministro de Estado da Justiça e Segu-
II – na unidade da Polícia Federal em que haja rança Pública poderá estabelecer os requisitos ne-
atendimento a imigrantes da circunscrição onde cessários ao registro referido no § 2º e à dispensa
esteja domiciliado o requerente com autorização de legalização e tradução, nos termos da lei e dos
de residência deferida no País com fundamento tratados firmados pelo País.

76
DECRETO Nº 9.199, DE 20 DE NOVEMBRO DE 2017


Art. 69. Para fins de registro, o nome e a naciona- § 2º Caberá ao imigrante, durante a tramitação
lidade do imigrante serão aqueles constantes da do seu pedido de registro, acompanhar o envio de
documentação apresentada, preferencialmente, notificações ao seu endereço eletrônico.
o documento de viagem. § 3º A notificação realizada por meio eletrônico
§ 1º Se o documento de identificação apresen- será simultaneamente publicada pela Polícia Fe-
tado consignar o nome de forma abreviada, o imi- deral em seu sítio eletrônico.
grante deverá comprovar a sua grafia por extenso § 4º Na ausência de resposta do imigrante no
com outro documento hábil. prazo de trinta dias, contado da data da publica-
§ 2º Se a nacionalidade houver sido consignada ção de que trata o § 3º, o processo de avaliação
por organismo internacional ou por autoridade de de seu pedido será extinto, sem prejuízo da uti-
terceiro país, somente será anotada no registro lização, em novo processo, dos documentos que
se confirmada por meio da apresentação de do- foram apresentados e ainda permaneçam válidos.
cumento hábil ou por autoridade diplomática ou
Art. 73. Da Carteira de Registro Nacional Migra-
consular competente.
tório constará o prazo de residência do imigrante,
§ 3º Se a documentação apresentada omitir a na-
conforme estabelecido na autorização de residên-
cionalidade do titular, o imigrante será registrado:
I – como apátrida, em caso de ausência de na- cia obtida.
cionalidade; ou § 1º A data de início da contagem do prazo de
II – como de nacionalidade indefinida, caso ela residência do imigrante que tenha ingressado sob
não possa ser comprovada na forma estabelecida o amparo de visto temporário será a da primeira
no § 2º. entrada no País após a sua concessão.
§ 4º O imigrante poderá requerer, a qualquer § 2º A data de início da contagem do prazo de re-
tempo, a inclusão de seu nome social em seus do- sidência do imigrante que tenha obtido autoriza-
cumentos oficiais. (Parágrafo com redação dada pelo ção de residência no País será a de requerimento
Decreto nº 9.631, de 26/12/2018) do registro.
§ 5º Os bancos de dados da administração pú- § 3º Na hipótese de o imigrante que tenha ob-
blica conterão um campo destacado para “nome tido autorização de residência no Brasil não soli-
social”, que será acompanhado do nome civil do citar o registro no prazo previsto no inciso IV do
imigrante e este será utilizado apenas para fins caput do art. 307, a data de início da contagem
administrativos internos. (Parágrafo acrescido pelo do prazo de residência se dará após transcorrido
Decreto nº 9.631, de 26/12/2018) o prazo de trinta dias, contado da data da publi-
cação da decisão que deferiu o requerimento de
Art. 70. No ato de registro, o imigrante deverá
fornecer os seus dados relativos ao seu endereço autorização de residência.
físico e, se possuir, ao seu endereço de correio § 4º Na hipótese de residência temporária, o
eletrônico. prazo de vencimento da Carteira de Registro Na-
Parágrafo único. Caberá ao imigrante manter os cional Migratório coincidirá com o término do
dados a que se refere o caput atualizados. prazo da autorização de residência.

Art. 71. Ressalvados o nome, a nacionalidade, a Art. 74. A Carteira de Registro Nacional Migratório
filiação e a data de nascimento, os demais dados terá a validade de nove anos, contados a partir da
biográficos não constantes dos documentos apre- data do registro, quando se tratar de residência
sentados serão atestados por meio de declaração por prazo indeterminado.
do próprio imigrante, que, na hipótese de declara- Parágrafo único. Na hipótese de que trata o
ção falsa, ficará sujeito às sanções administrativas, caput, a validade da Carteira de Registro Nacional
civis e penais aplicáveis. Migratório será indeterminada quando o titular:
I – houver completado sessenta anos de idade
Art. 72. O imigrante terá o ônus de instruir ade-
até a data do vencimento do documento; ou
quadamente o pedido de registro e de prestar
II – for pessoa com deficiência.
eventuais informações complementares que lhe
forem solicitadas por meio de notificação. Art. 75. Caberá alteração do Registro Nacional
§ 1º A notificação de que trata o caput será feita, Migratório, por meio de requerimento do imi-
preferencialmente, por meio eletrônico. grante endereçado à Polícia Federal, devidamente
77
instruído com as provas documentais necessárias, Seção III
nas seguintes hipóteses: Do Registro e da Identificação
I – casamento; Civil dos Detentores de Vistos
II – união estável; Diplomático, Oficial e de Cortesia
III – anulação e nulidade de casamento, divórcio, Art. 82. O Ministério das Relações Exteriores rea-
separação judicial e dissolução de união estável; lizará o registro e expedirá o documento de iden-
IV – aquisição de nacionalidade diversa daquela tidade civil:
constante do registro; e I – aos detentores de vistos diplomático, oficial
V – perda da nacionalidade constante do registro. e de cortesia; e
§ 1º Se a hipótese houver ocorrido em território
II – aos portadores de passaporte diplomático,
estrangeiro, a documentação que a comprove de-
oficial ou de serviço que tenham ingressado no
verá respeitar as regras de legalização e tradução,
País sob o amparo de acordo de dispensa de visto.
em conformidade com os tratados de que o País
§ 1º O registro a que se refere o caput será obri-
seja parte.
gatório quando a estada do estrangeiro no País for
§ 2º Na hipótese de pessoa registrada como re-
superior ao prazo de noventa dias e deverá ser so-
fugiada ou beneficiário de proteção ao apátrida,
licitado nesse mesmo prazo, contado a partir da
as alterações referentes à nacionalidade serão
data de ingresso no País.
comunicadas, preferencialmente por meio ele-
§ 2º O Ministério das Relações Exteriores poderá
trônico, ao Comitê Nacional para Refugiados e ao
expedir documento de identidade civil aos estran-
Ministério das Relações Exteriores.
geiros que, por reunião familiar, sejam portadores
Art. 76. Ressalvadas as hipóteses previstas no de passaporte diplomático ou oficial brasileiro.
art. 75, as alterações no registro que comportem § 3º O documento emitido nos termos estabe-
modificações do nome do imigrante serão feitas
lecidos neste artigo terá validade no território na-
somente após decisão judicial.
cional e os seus portadores estarão dispensados
Art. 77. Os erros materiais identificados no pro- da realização de registro junto à Polícia Federal.
cessamento do registro e na emissão da Carteira § 4º Na hipótese de agentes ou funcionários de
de Registro Nacional Migratório serão retificados, Estado estrangeiro ou de organismo internacional,
de ofício, pela Polícia Federal. o documento emitido nos termos dos incisos I e II
Art. 78. Ato do dirigente máximo da Polícia Fe- do caput atestará a sua condição de representante
deral disporá sobre os procedimentos de registro estrangeiro ou funcionário internacional.
do detentor de visto temporário ou de autorização § 5º O documento emitido nos termos do caput
de residência e do residente fronteiriço e sobre a conterá informações acerca de eventuais privi-
sua alteração. légios e imunidades aos quais seus portadores
façam jus, nos termos de tratados de que o País
Art. 79. Ato do Ministro de Estado da Justiça e Se-
gurança Pública disporá sobre o processamento seja parte.
concomitante dos requerimentos de registro e de Art. 83. Excepcionalmente, o Ministério das Re-
autorização de residência, nos casos de sua com- lações Exteriores poderá conceder ao nacional
petência. brasileiro, ou ao imigrante residente no País, do-
Art. 80. Ato da Polícia Federal disporá sobre a cumento de identificação que ateste a sua condi-
expedição da Carteira de Registro Nacional Mi- ção de agente ou funcionário de Estado estran-
gratório. geiro ou organismo internacional e eventuais
Parágrafo único. O ato a que se refere o caput privilégios e imunidades dos quais seja detentor.
definirá o modelo a ser adotado para a Carteira Art. 84. Caberá ao Ministério das Relações Exterio-
de Registro Nacional Migratório. res manter registro das datas de início e término
Art. 81. Os Cartórios de Registro Civil remete- dos privilégios e das imunidades aos quais façam
rão mensalmente à Polícia Federal, preferencial- jus as pessoas referidas nos art. 82 e art. 83 e de
mente por meio eletrônico, informações acerca eventuais renúncias apresentadas pelas partes
dos registros e do óbito de imigrantes. autorizadas a fazê-lo.
78
DECRETO Nº 9.199, DE 20 DE NOVEMBRO DE 2017


Art. 85. Ato do Ministro de Estado das Relações IV – declaração, sob as penas da lei, de ausência
Exteriores disporá sobre os procedimentos de re- de antecedentes criminais em qualquer país nos
gistro dos portadores de vistos diplomático, ofi- últimos cinco anos; e
cial e de cortesia. V – recolhimento da taxa de expedição de car-
CAPÍTULO IV teira de estrangeiro fronteiriço, de que trata o in-
DO RESIDENTE FRONTEIRIÇO ciso V do caput do art. 2º da Lei Complementar
Art. 86. Ao residente fronteiriço poderá ser permi- nº 89, de 18 de fevereiro de 1997.
tida a entrada em Município fronteiriço brasileiro Art. 90. A autorização para a realização de atos da
por meio da apresentação do documento de via- vida civil ao residente fronteiriço poderá ser con-
gem válido ou da carteira de identidade expedida cedida pelo prazo de cinco anos, prorrogável por
por órgão oficial de identificação do país de sua igual período, por meio de requerimento, ao final
nacionalidade. do qual a autorização por tempo indeterminado
Art. 87. Para facilitar a sua livre circulação, a auto- poderá ser concedida.
rização para a realização de atos da vida civil po- Art. 91. A autorização para a realização de atos da
derá ser concedida ao residente fronteiriço, por
vida civil ao residente fronteiriço não será conce-
meio de requerimento dirigido à Polícia Federal.
dida nas hipóteses previstas no art. 132 ou quando
Parágrafo único. O residente fronteiriço poderá
se enquadrar em, no mínimo, uma das hipóteses
optar por regime mais benéfico previsto em tra-
de impedimento de ingresso definidos no art. 171.
tado de que o País seja parte.
Art. 92. O documento de residente fronteiriço
Art. 88. A autorização referida no caput do art. 87
será cancelado, a qualquer tempo, se o titular:
indicará o Município fronteiriço no qual o resi-
I – houver fraudado documento ou utilizado do-
dente estará autorizado a exercer os direitos a ele
atribuídos pela Lei nº 13.445, de 2017. cumento falso para obtê-lo;
§ 1º O residente fronteiriço detentor da autori- II – obtiver outra condição migratória;
zação de que trata o caput gozará das garantias III – sofrer condenação penal transitada em jul-
e dos direitos assegurados pelo regime geral de gado, no País ou no exterior, desde que a conduta
migração da Lei nº 13.445, de 2017, observado o esteja tipificada na legislação penal brasileira, ex-
disposto neste Decreto. cetuadas as infrações de menor potencial ofen-
§ 2º O espaço geográfico de abrangência e de sivo; ou
validade da autorização será especificado na Car- IV – exercer direito fora dos limites previstos na
teira de Registro Nacional Migratório. autorização a ele concedida.
Art. 89. O residente fronteiriço que pretenda rea- Art. 93. O residente fronteiriço poderá requerer a
lizar atos da vida civil em Município fronteiriço, expedição de Carteira de Trabalho e Previdência
inclusive atividade laboral e estudo, será regis- Social e a inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas.
trado pela Polícia Federal e receberá a Carteira de Parágrafo único. O Ministério do Trabalho, ao
Registro Nacional Migratório, que o identificará e fornecer a Carteira de Trabalho e Previdência So-
caracterizará a sua condição. cial ao residente fronteiriço, registrará nela a res-
Parágrafo único. O registro será feito por meio trição de sua validade ao Município para o qual o
de requerimento instruído com: imigrante tenha sido autorizado pela Polícia Fe-
I – documento de viagem ou carteira de identi-
deral a exercer os direitos a ele atribuídos pela Lei
dade expedida por órgão oficial de identificação
nº 13.445, de 2017.
do país de nacionalidade do imigrante;
II – prova de residência habitual em Município Art. 94. A autorização de que trata o art. 87 e a
fronteiriço de país vizinho; Carteira de Registro Nacional Migratório não con-
III – certidões de antecedentes criminais ou do- ferem ao residente fronteiriço o direito de residên-
cumento equivalente emitido pela autoridade cia no País, observado o disposto no Capítulo VIII,
judicial competente de onde tenha residido nos nem autorizam o afastamento do limite territorial
últimos cinco anos; do Município objeto da autorização.
79
CAPÍTULO V reconhecimento da condição de apátrida, o Co-
DA PROTEÇÃO DO APÁTRIDA E DA mitê Nacional para Refugiados deverá se mani-
REDUÇÃO DA APATRIDIA festar.
Art. 95. A apatridia será reconhecida à pessoa que § 7º Após manifestação pelo Comitê Nacional
não seja considerada como nacional por nenhum para Refugiados, caberá ao Ministro de Estado da
Estado, segundo a sua legislação, nos termos da Justiça e Segurança Pública, em decisão funda-
Convenção sobre o Estatuto dos Apátridas, de mentada, o reconhecimento ou não da condição
1954, promulgada pelo Decreto nº 4.246, de 2002. de apátrida, a qual será publicada no Diário Oficial
da União e comunicada ao solicitante, preferen-
Art. 96. O processo de reconhecimento da condi-
cialmente por meio eletrônico.
ção de apátrida tem como objetivo verificar se o
§ 8º O procedimento de reconhecimento de
solicitante é considerado nacional pela legislação
apatridia será estabelecido em ato do Ministro de
de algum Estado e poderá considerar informações,
Estado da Justiça e Segurança Pública, consul-
documentos e declarações prestadas pelo próprio
tado o Comitê Nacional para Refugiados.
solicitante e por órgãos e organismos nacionais e
internacionais. Art. 97. O ingresso irregular no território nacional
§ 1º Durante a tramitação do processo de reco- não constitui impedimento para a solicitação de
reconhecimento da condição de apátrida e para a
nhecimento da condição de apátrida, incidirão as
aplicação dos mecanismos de proteção da pessoa
garantias e os mecanismos protetivos e de facili-
apátrida e de redução da apatridia, hipótese em
tação da inclusão social relativos à:
que não incidirá o disposto no art. 307, desde que,
I – Convenção sobre o Estatuto dos Apátridas, de
ao final do procedimento, a condição de apátrida
1954, promulgada pelo Decreto nº 4.246, de 2002;
seja reconhecida.
II – Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugia-
dos, promulgada pelo Decreto nº 50.215, de 28 de Art. 98. O solicitante poderá, no próprio pedido,
janeiro de 1961; e manifestar o seu interesse em obter a nacionali-
III – Lei nº 9.474, de 1997. dade brasileira, caso a sua condição de apátrida
§ 2º O processo de reconhecimento da condição seja reconhecida.
de apátrida será iniciado por meio da solicitação Parágrafo único. Se o solicitante não houver
do interessado apresentada ao Ministério da Jus- manifestado interesse conforme previsto no caput,
tiça e Segurança Pública ou às unidades da Polícia caso a sua condição de apátrida seja reconhecida,
Federal. o Ministério da Justiça e Segurança Pública fará
§ 3º A solicitação de reconhecimento da con- consulta sobre o seu desejo de adquirir a naciona-
dição de apátrida será instruída com cópias dos lidade brasileira por meio da naturalização.
documentos de que o solicitante dispuser, sem Art. 99. Reconhecida a condição de apátrida, na
prejuízo de diligências realizadas perante órgãos hipótese de o beneficiário optar pela naturali-
e instituições nacionais ou internacionais a fim de zação, o Ministério da Justiça e Segurança Pública
comprovar as alegações. publicará, no prazo de trinta dias, ato de instau-
§ 4º O solicitante de reconhecimento da condi- ração de processo simplificado de naturalização
ção de apátrida fará jus à autorização provisória com os atos necessários à sua efetivação.
de residência, demonstrada por meio de proto- Parágrafo único. O solicitante de naturalização
colo, até a obtenção de resposta ao seu pedido. deverá comprovar residência no território nacio-
§ 5º O protocolo de que trata o § 4º permitirá o nal pelo prazo mínimo de dois anos, observadas
gozo de direitos no País, dentre os quais: as demais condições previstas no art. 65 da Lei
I – a expedição de carteira de trabalho provisória; nº 13.445, de 2017.
II – a inclusão no Cadastro de Pessoa Física; e Art. 100. O apátrida reconhecido que não opte
III – a abertura de conta bancária em instituição imediatamente pela naturalização terá a autori-
financeira supervisionada pelo Banco Central do zação de residência concedida por prazo indeter-
Brasil. minado.
§ 6º Na hipótese de verificação de incidência Parágrafo único. Na hipótese prevista no caput,
de uma ou mais circunstâncias denegatórias do reconhecida a condição de apátrida, o solicitante
80
DECRETO Nº 9.199, DE 20 DE NOVEMBRO DE 2017


deverá comparecer a unidade da Polícia Federal tério da Justiça e Segurança Pública, após mani-
para fins de registro. festação do Comitê Nacional para Refugiados, e
Art. 101. Caberá recurso da decisão negativa publicada no Diário Oficial da União.
de reconhecimento da condição de apátrida, no Art. 107. A condição de apátrida será cessada com:
prazo de dez dias, contado da data da notificação I – a naturalização no País do beneficiário da
pessoal do solicitante, preferencialmente, por proteção;
meio eletrônico. II – o reconhecimento como nacional por outro
§ 1º Durante a tramitação do recurso, a estada Estado; ou
no território nacional será permitida ao solicitante. III – a aquisição de nacionalidade diversa da
§ 2º A pessoa cujo reconhecimento da condição brasileira.
de apátrida tenha sido denegado não será devol- § 1º A cessação da condição de apátrida implica-
vida a país onde sua vida, sua integridade pessoal rá perda da proteção conferida pela Lei nº 13.445,
ou sua liberdade estejam em risco. de 2017.
Art. 102. Os direitos atribuídos ao migrante rela- § 2º A autorização de residência concedida ante-
cionados no art. 4º da Lei nº 13.445, de 2017, apli- riormente ao solicitante ou ao beneficiário de pro-
cam-se ao apátrida residente. teção ao apátrida que se enquadre nas hipóteses
de cessação da condição de apátrida previstas nos
Art. 103. O reconhecimento da condição de apá-
incisos II e III do caput permanecerá válida pelo
trida assegurará os direitos e as garantias previs-
prazo de noventa dias.
tos na Convenção sobre o Estatuto dos Apátridas,
§ 3º A cessação da condição de apátrida nas hi-
de 1954, promulgada pelo Decreto nº 4.246, de
2002, além de outros direitos e garantias reco- póteses previstas nos incisos II e III do caput não
nhecidos pelo País. impedirá a solicitação de nova autorização de re-
sidência, observado o disposto no Capítulo VIII.
Art. 104. O direito de reunião familiar será reco-
nhecido a partir do reconhecimento da condição CAPÍTULO VI
de apátrida.
DO ASILO POLÍTICO
Parágrafo único. A autorização provisória de Art. 108. O asilo político, que constitui ato dis-
residência concedida ao solicitante de reconheci- cricionário do Estado, poderá ser diplomático ou
mento da condição de apátrida será estendida aos territorial e será concedido como instrumento de
familiares a que se refere o art. 153, desde que se proteção à pessoa que se encontre perseguida em
encontrem no território nacional. um Estado por suas crenças, opiniões e filiação
Art. 105. No exercício de seus direitos e deveres, política ou por atos que possam ser considerados
a condição atípica do apátrida será considerada delitos políticos.
pelos órgãos da administração pública federal Parágrafo único. Nos termos do Estatuto de
quando da necessidade de apresentação de do- Roma do Tribunal Penal Internacional, de 1998,
cumentos emitidos por seu país de origem ou por promulgado pelo Decreto nº 4.388, de 2002, não
sua representação diplomática ou consular. será concedido asilo a quem tenha cometido:
I – crime de genocídio;
Art. 106. As seguintes hipóteses implicam perda
II – crime contra a humanidade;
da proteção do apátrida conferida pela Lei
III – crime de guerra; ou
nº 13.445, de 2017:
IV – crime de agressão.
I – a renúncia à proteção conferida pelo País;
II – a prova da falsidade dos fundamentos in- Art. 109. O asilo político poderá ser:
vocados para o reconhecimento da condição de I – diplomático, quando solicitado no exterior
apátrida; ou em legações, navios de guerra e acampamentos
III – a existência de fatos que, se fossem conhe- ou aeronaves militares brasileiros; ou
cidos por ocasião do reconhecimento, teriam en- II – territorial, quando solicitado em qualquer
sejado decisão negativa. ponto do território nacional, perante unidade da
Parágrafo único. A perda da proteção do apá- Polícia Federal ou representação regional do Mi-
trida prevista no caput será declarada pelo Minis- nistério das Relações Exteriores.
81
§ 1º Considera-se legação a sede de toda missão Art. 113. Em nenhuma hipótese, a retirada com-
diplomática ordinária e, quando o número de soli- pulsória decorrente de decisão denegatória de soli-
citantes de asilo exceder a capacidade normal dos citação de asilo político ou revogatória da sua con-
edifícios, a residência dos chefes de missão e os cessão será executada para território onde a vida e
locais por eles destinados para esse fim. a integridade do imigrante possam ser ameaçadas.
§ 2º O pedido de asilo territorial recebido pelas Art. 114. O ato de concessão do asilo político dis-
unidades da Polícia Federal será encaminhado ao porá sobre as condições e os deveres a serem ob-
Ministério das Relações Exteriores. servados pelo asilado.
§ 3º O ingresso irregular no território nacional
Art. 115. O asilado deverá se apresentar à Polícia
não constituirá impedimento para a solicitação de
Federal para fins de registro de sua condição mi-
asilo e para a aplicação dos mecanismos de pro-
gratória no prazo de trinta dias, contado da data da
teção, hipótese em que não incidirá o disposto no
publicação do ato de concessão do asilo político.
art. 307, desde que, ao final do procedimento, a
condição de asilado seja reconhecida. Art. 116. O solicitante de asilo político fará jus
à autorização provisória de residência, demons-
Art. 110. O asilo diplomático consiste na proteção trada por meio de protocolo, até a obtenção de
ofertada pelo Estado brasileiro e na condução do resposta do seu pedido.
asilado estritamente até o território nacional, em Parágrafo único. O protocolo previsto no caput
consonância com o disposto na Convenção Inter- permitirá o gozo de direitos no País, dentre os
nacional sobre Asilo Diplomático, promulgada quais:
pelo Decreto nº 42.628, de 13 de novembro de 1957. I – a expedição de carteira de trabalho provisória;
§ 1º Compete à autoridade máxima presente no II – a inclusão no Cadastro de Pessoa Física; e
local de solicitação de asilo diplomático zelar pela III – a abertura de conta bancária em instituição
integridade do solicitante de asilo e estabelecer, financeira supervisionada pelo Banco Central do
em conjunto com a Secretaria de Estado das Rela- Brasil.
ções Exteriores, as condições e as regras para a sua
Art. 117. O direito de reunião familiar será reco-
permanência no local de solicitação e os canais nhecido a partir da concessão do asilo político.
de comunicação com o Estado territorial, a fim de Parágrafo único. A autorização provisória de
solicitar salvo-conduto que permita ao solicitante residência concedida ao solicitante de asilo polí-
de asilo acessar o território nacional. tico será estendida aos familiares a que se refere
§ 2º Considera-se Estado territorial aquele em o art. 153, desde que se encontrem no território
cujo território esteja situado o local de solicitação nacional.
de asilo diplomático.
Art. 118. A saída do País sem prévia comunicação
§ 3º A saída não autorizada do local designado
ao Ministério das Relações Exteriores implicará re-
pela autoridade de que trata o caput implicará a
núncia ao asilo político.
renúncia ao asilo diplomático.
Parágrafo único. O solicitante de asilo político
§ 4º Após a chegada ao território nacional, o
deverá solicitar autorização prévia ao Ministro das
beneficiário de asilo diplomático será imediata-
Relações Exteriores para saída do País, sob pena
mente informado sobre a necessidade de registro
de arquivamento de sua solicitação.
da sua condição.
CAPÍTULO VII
Art. 111. O asilo territorial é ato discricionário e DO REFÚGIO
observará o disposto na Convenção Internacional
Art. 119. O reconhecimento da condição de re-
sobre Asilo Territorial promulgada pelo Decreto
fugiado seguirá os critérios estabelecidos na Lei
nº 55.929, de 19 de abril de 1965, e os elementos
nº 9.474, de 1997.
impeditivos constantes da legislação migratória.
§ 1º Durante a tramitação do processo de reco-
Art. 112. Compete ao Presidente da República nhecimento da condição de refugiado incidirão as
decidir sobre o pedido de asilo político e sobre a garantias e os mecanismos protetivos e de facili-
revogação de sua concessão, consultado o Minis- tação da inclusão social decorrentes da Conven-
tro de Estado das Relações Exteriores. ção relativa ao Estatuto dos Refugiados, de 1951,
82
DECRETO Nº 9.199, DE 20 DE NOVEMBRO DE 2017


promulgada pelo Decreto nº 50.215, de 1961, e da ria, desde que cumpridos os requisitos da moda-
Lei nº 13.445, de 2017. lidade pretendida.
§ 2º O solicitante de reconhecimento da condi- § 2º A posse ou a propriedade de bem no País
ção de refugiado receberá o Documento Provisó- não conferirá o direito de obter autorização de
rio de Registro Nacional Migratório, nos termos do residência no território nacional, sem prejuízo do
disposto no Decreto nº 9.277, de 5 de fevereiro de disposto sobre a autorização de residência para
2018. (Parágrafo com redação dada pelo Decreto nº 9.277, realização de investimento.
de 5/2/2018) Art. 124. O visto de visita ou de cortesia poderá
§ 3º O protocolo de que trata § 2º permitirá o ser transformado em autorização de residência
gozo de direitos no País, dentre os quais: por meio de requerimento.
I – a expedição de carteira de trabalho provisória; § 1º O requerente comprovará a condição mi-
II – a inclusão no Cadastro de Pessoa Física; e gratória de visitante ou de titular de visto de cor-
III – a abertura de conta bancária em instituição tesia e o atendimento aos requisitos exigidos para
financeira supervisionada pelo Banco Central do a concessão de autorização de residência.
Brasil. § 2º A decisão de transformação caberá à au-
§ 4º O reconhecimento de certificados e diplo- toridade competente para avaliar a hipótese de
mas, os requisitos para a obtenção da condição autorização de residência pretendida.
de residente e o ingresso em instituições acadê-
Art. 125. O visto diplomático ou oficial poderá
micas de todos os níveis deverão ser facilitados,
ser transformado em autorização de residência
considerada a situação desfavorável vivenciada
por meio de requerimento.
pelos refugiados.
§ 1º O requerente comprovará que a sua con-
Art. 120. O ingresso irregular no território nacional dição migratória fundamenta-se na concessão de
não constituirá impedimento para a solicitação de visto diplomático ou oficial e o atendimento aos
reconhecimento da condição de refugiado e para a requisitos exigidos para a concessão de autoriza-
aplicação dos mecanismos de proteção da pessoa ção de residência.
refugiada, hipótese em que não incidirá o disposto § 2º A decisão de transformação caberá à au-
no art. 307, desde que, ao final do procedimento, toridade competente para avaliar a hipótese de
a condição de refugiado seja reconhecida. autorização de residência pretendida, consultado
Art. 121. No exercício de seus direitos e deveres, o Ministério das Relações Exteriores.
a condição atípica do refugiado será considerada § 3º A transformação de que trata este artigo
pelos órgãos da administração pública federal importará a cessação das prerrogativas, dos pri-
quando da necessidade de apresentação de do- vilégios e das imunidades decorrentes dos vistos
cumentos emitidos por seu país de origem ou por anteriores.
sua representação diplomática ou consular. § 4º Excepcionalmente, nas hipóteses de trans-
formação previstas neste artigo, o cumprimento
Art. 122. As solicitações de refúgio terão priori- dos requisitos para a obtenção da autorização de
dade de avaliação e decisão na hipótese de existir residência poderá ser dispensado, mediante reco-
contra o solicitante procedimento do qual possa mendação do Ministério das Relações Exteriores,
resultar a aplicação de medida de retirada com- observadas as hipóteses de denegação de autori-
pulsória. zação de residência com fundamento nos incisos I,
CAPÍTULO VIII II, III, IV e IX do caput do art. 171.
DA AUTORIZAÇÃO DE RESIDÊNCIA Art. 126. As hipóteses de negativa de concessão
Seção I e de denegação de autorização de residência apli-
Disposições Gerais cam-se ao procedimento de transformação de vis-
Art. 123. O imigrante, o residente fronteiriço e o vi- tos em autorização de residência.
sitante, por meio de requerimento, poderão solici- Art. 127. Os pedidos de autorização de residên-
tar autorização de residência no território nacional. cia serão endereçados ao Ministério da Justiça e
§ 1º A autorização de residência poderá ser con- Segurança Pública, ressalvadas as hipóteses pre-
cedida independentemente da situação migrató- vistas no § 1º.
83
§ 1º Observado o disposto no art. 142, os pedidos público brasileiro que comprove a identidade do
de autorização de residência serão endereçados ao imigrante, mesmo que este tenha data de vali-
Ministério do Trabalho quando fundamentados dade expirada.
nas seguintes hipóteses: § 2º A legalização e a tradução de que tratam
I – em pesquisa, ensino ou extensão acadêmica; o inciso III do caput poderão ser dispensadas se
II – em trabalho ou oferta de trabalho; assim disposto em tratados de que o País seja parte.
III – na realização de investimento; § 3º A tramitação de pedido de autorização de
IV – na realização de atividade de relevância eco- residência ficará condicionada ao pagamento das
nômica, social, científica, tecnológica ou cultural; multas aplicadas com fundamento no disposto
V – na prática de atividade religiosa; e neste Decreto.
VI – no serviço voluntário.
Art. 130. Nova autorização de residência tempo-
§ 2º Os pedidos de autorização de residência
rária poderá ser concedida por meio de requeri-
serão apresentados, preferencialmente, por meio
mento.
eletrônico.
§ 1º O pedido de nova autorização de residência
Art. 128. O pedido de autorização de residência com amparo legal diverso da autorização de resi-
é individual. dência anterior implicará a renúncia à condição
Parágrafo único. Na hipótese de pessoa inca- migratória pretérita.
paz, o pedido será feito por representante ou as- § 2º O requerimento de nova autorização de
sistente legal. residência, após o vencimento do prazo da auto-
Art. 129. Para instruir o pedido de autorização de rização anterior, implicará a aplicação da sanção
residência, o imigrante deverá apresentar, sem prevista no inciso II do caput do art. 307.
prejuízo de outros documentos requeridos em Subseção I
ato do Ministro de Estado competente pelo rece- Das Taxas
bimento da solicitação:
Art. 131. As seguintes taxas serão cobradas, em
I – requerimento de que conste a identificação,
conformidade com a tabela que consta do Anexo:
a filiação, a data e o local de nascimento e a in-
dicação de endereço e demais meios de contato; I – pelo processamento e pela avaliação de pe-
II – documento de viagem válido ou outro do- didos de autorização de residência;
cumento que comprove a sua identidade e a sua II – pela emissão de cédula de identidade de
nacionalidade, nos termos dos tratados de que o imigrante de que constarão o prazo de autoriza-
País seja parte; ção de residência e o número do Registro Nacional
III – documento que comprove a sua filiação, Migratório; e
devidamente legalizado e traduzido por tradutor III – pela transformação de vistos de visita, di-
público juramentado, exceto se a informação já plomático, oficial e de cortesia em autorização de
constar do documento a que se refere o inciso II; residência.
IV – comprovante de recolhimento das taxas mi- § 1º A cobrança das taxas previstas neste artigo
gratórias, quando aplicável; observará o disposto nos acordos internacionais
V – certidões de antecedentes criminais ou do- de que o País seja parte.
cumento equivalente emitido pela autoridade § 2º A taxa prevista no inciso I do caput não será
judicial competente de onde tenha residido nos cobrada do imigrante portador de visto temporá-
últimos cinco anos; e rio, desde que a sua residência tenha a mesma fi-
VI – declaração, sob as penas da lei, de ausência nalidade do visto já concedido.
de antecedentes criminais em qualquer país, nos § 3º A renovação dos prazos de autorização de
cinco anos anteriores à data da solicitação de au- residência não ensejará a cobrança da taxa pre-
torização de residência. vista no inciso I do caput.
§ 1º Para fins de instrução de pedido de nova § 4º Os valores das taxas de que trata o caput
autorização de residência ou de renovação de poderão ser ajustados pelo órgão competente da
prazo de autorização de residência, poderá ser administração pública federal, de forma a preser-
apresentado o documento a que se refere o in- var o interesse nacional ou a assegurar a recipro-
ciso II do caput ou documento emitido por órgão cidade de tratamento.
84
DECRETO Nº 9.199, DE 20 DE NOVEMBRO DE 2017


Subseção II V – que tenha praticado ato contrário aos prin-


Da Negativa de Concessão, da cípios ou aos objetivos dispostos na Constituição.
Denegação, da Perda e do Cancelamento
Art. 134. Caberá recurso da decisão que negar a
da Autorização de Residência
autorização de residência, no prazo de dez dias,
Art. 132. A autorização de residência não será con- contados da data da ciência do imigrante, asse-
cedida à pessoa condenada criminalmente no País gurados os princípios do contraditório e da ampla
ou no exterior por sentença transitada em julgado, defesa e aplicadas, subsidiariamente, as disposi-
desde que a conduta esteja tipificada na legislação ções da Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999.
penal brasileira, ressalvados as hipóteses em que:
I – a conduta caracterize infração de menor po- Art. 135. A perda da autorização de residência
tencial ofensivo; será decretada nas seguintes hipóteses:
II – o prazo de cinco anos, após a extinção da I – cessação do fundamento que embasou a au-
pena, tenha transcorrido; torização de residência;
III – o crime a que o imigrante tenha sido con- II – obtenção de autorização de residência com
denado no exterior não seja passível de extradição fundamento em outra hipótese; e
ou a punibilidade segundo a lei brasileira esteja III – ausência do País por período superior a dois
extinta; ou anos sem apresentação de justificativa.
IV – o pedido de autorização de residência se § 1º O imigrante deverá comunicar à Polícia Fe-
fundamente em: deral sempre que deixar de possuir as condições
a) tratamento de saúde; que embasaram a concessão de sua autorização
b) acolhida humanitária; de residência durante a sua vigência.
c) reunião familiar; § 2º O disposto no inciso I do caput não impede
d) tratado em matéria de residência e livre cir- o imigrante de solicitar autorização de residência
culação; ou com fundamento em outra hipótese.
e) cumprimento de pena no País. Art. 136. A autorização de residência será cance-
Parágrafo único. O disposto no caput não impe- lada, a qualquer tempo, nas seguintes hipóteses:
dirá a progressão de regime de cumprimento de I – fraude;
pena, nos termos estabelecidos na Lei nº 7.210, II – ocultação de condição impeditiva de con-
de 11 de julho de 1984 (Lei de Execução Penal), cessão de visto, ingresso ou autorização de resi-
hipótese em que a pessoa ficará autorizada a tra- dência no País;
balhar quando assim exigido pelo novo regime de
III – quando a informação acerca da condena-
cumprimento de pena.
ção prevista nos incisos II e III do caput do art. 133
Art. 133. A autorização de residência poderá ser seja conhecida após a concessão da autorização
negada à pessoa: de residência; ou
I – anteriormente expulsa do País, enquanto os IV – se constatado que o nome do requerente
efeitos da expulsão vigorarem; encontrava-se em lista a que se refere o inciso IV
II – nos termos definidos pelo Estatuto de Roma do caput do art. 133 na data da autorização de re-
do Tribunal Penal Internacional, de 1998, promul- sidência.
gado pelo Decreto nº 4.388, de 2002, condenada
Art. 137. A decretação da perda e o cancelamento
ou respondendo a processo por:
da autorização de residência serão precedidos de
a) crime de genocídio;
procedimento administrativo no qual serão obser-
b) crime contra a humanidade;
vados os princípios do contraditório e da ampla
c) crime de guerra; ou
defesa.
d) crime de agressão;
III – condenada ou respondendo a processo em Art. 138. Os procedimentos de decretação da
outro país por crime doloso passível de extradição perda e do cancelamento da autorização de resi-
segundo a lei brasileira; dência serão instaurados em ato do Ministro de
IV – que tenha nome incluído em lista de restri- Estado da Justiça e Segurança Pública ou do Tra-
ções por ordem judicial ou por compromisso assu- balho, conforme o caso, e instruídos, de imediato,
mido pelo País perante organismo internacional; e com o termo de notificação do imigrante.
85
§ 1º O ato a que se refere o caput conterá re- Seção II
lato do fato motivador da decretação da perda ou Das Hipóteses de Autorização de Residência
do cancelamento da autorização de residência e Art. 142. O requerimento de autorização de resi-
a sua fundamentação legal, e determinará que o dência poderá ter como fundamento as seguintes
imigrante seja notificado de imediato e, preferen- hipóteses:
cialmente, por meio eletrônico. I – a residência tenha como finalidade:
§ 2º Nas hipóteses de perda ou cancelamento a) pesquisa, ensino ou extensão acadêmica;
da autorização de residência para fins de trabalho, b) tratamento de saúde;
o empregador poderá ser notificado, observado o c) acolhida humanitária;
disposto no § 1º. d) estudo;
§ 3º Na hipótese de o imigrante não ser encon- e) trabalho;
trado, a administração pública federal dará publi- f) férias-trabalho;
cidade à instauração do procedimento administra- g) prática de atividade religiosa;
tivo de decretação da perda ou do cancelamento h) serviço voluntário;
da autorização de residência em sítio eletrônico e i) realização de investimento;
tal publicação será considerada como notificação j) realização de atividade com relevância econô-
para todos os atos do referido procedimento. mica, social, científica, tecnológica ou cultural; ou
§ 4º O imigrante terá o prazo de dez dias para k) reunião familiar;
apresentação de defesa no procedimento admi- II – a pessoa:
nistrativo. a) seja beneficiária de tratado em matéria de
§ 5º O imigrante que, regularmente notificado, residência e livre circulação;
não apresentar defesa no prazo a que se refere b) possua oferta de trabalho comprovada;
o § 4º será considerado revel. c) já tenha possuído a nacionalidade brasileira
§ 6º O imigrante poderá, por meios próprios ou e não deseje ou não reúna os requisitos para
por meio de defensor constituído, apresentar de- readquiri-la;
fesa no prazo estabelecido no § 4º e fazer uso dos d) seja beneficiária de refúgio, asilo ou proteção
meios e dos recursos admitidos em direito, inclu- ao apátrida;
sive tradutor ou intérprete. e) que não tenha atingido a maioridade civil,
Art. 139. A decisão quanto à decretação da perda nacional de outro país ou apátrida, desacompa-
ou do cancelamento da autorização de residência nhado ou abandonado, que se encontre nas fron-
caberá ao órgão que a houver concedido. teiras brasileiras ou no território nacional;
§ 1º O imigrante terá o prazo de dez dias para in- f) tenha sido vítima de tráfico de pessoas, tra-
terpor recurso contra a decisão de que trata o caput. balho escravo ou violação de direito agravada por
§ 2º Encerrado o procedimento administrativo sua condição migratória;
e decretada a perda ou o cancelamento definitivo g) esteja em liberdade provisória ou em cumpri-
da autorização de residência, o imigrante será no- mento de pena no País; ou
tificado nos termos estabelecidos no art. 176. h) seja anteriormente beneficiada com auto-
rização de residência, observado o disposto no
Art. 140. No procedimento administrativo de que
art. 160; ou
trata o art. 177, os documentos e as provas cons-
III – o imigrante atenda a interesses da política
tantes de procedimentos de decretação da perda
migratória nacional.
ou do cancelamento da autorização de residência
§ 1º A autorização de residência ao imigrante
poderão ser utilizados.
poderá ser concedida com fundamento em ape-
Art. 141. Ato conjunto dos Ministros de Estado da nas uma das hipóteses previstas no caput.
Justiça e Segurança Pública e do Trabalho dispo- § 2º A autorização de residência com fundamen-
rão sobre os procedimentos administrativos refe- to nas hipóteses elencadas nas alíneas a, c, e, g, h
rentes ao cancelamento e à perda de autorização e j do inciso I do caput e na alínea b do inciso II
de residência e ao recurso contra a negativa de do caput poderá ser concedida inicialmente pelo
concessão de autorização de residência. prazo de até dois anos.
86
DECRETO Nº 9.199, DE 20 DE NOVEMBRO DE 2017


§ 3º Decorrido o prazo de residência previsto § 5º O requerimento de autorização de residên-


no § 1º, o órgão que concedeu a autorização de re- cia com fundamento em pesquisa, ensino ou exten-
sidência inicial poderá, por meio de requerimento são acadêmica deverá respeitar os requisitos, as
do imigrante, promover a renovação do prazo ini- condições, os prazos e os procedimentos previstos
cial de residência pelo período de até dois anos em resolução do Conselho Nacional de Imigração.
ou a alteração do prazo de residência para prazo Art. 144. A autorização de residência para fins de tra-
indeterminado. tamento de saúde poderá ser concedida ao imigran-
§ 4º Quando o contrato do imigrante junto a ins- te e ao seu acompanhante, desde que o imigrante
tituição de pesquisa, ensino ou extensão acadê- comprove possuir meios de subsistência suficientes.
mica for por prazo indeterminado, a autorização § 1º Excepcionalmente, a autorização de resi-
de residência por prazo indeterminado poderá ser, dência poderá ser concedida a mais de um acom-
excepcionalmente, concedida. panhante, ainda que não cumpridos os requisitos
§ 5º A autorização de residência para exercer de reunião familiar, desde que comprovada a ne-
cargo, função ou atribuição será concedida por cessidade médica.
prazo indeterminado quando a legislação brasi- § 2º A autorização de residência com fundamen-
leira assim exigir. to na hipótese elencada neste artigo poderá ser
Art. 143. A autorização de residência para fins de concedida inicialmente pelo prazo de até um ano.
pesquisa, ensino ou extensão acadêmica poderá § 3º O imigrante poderá requerer a renovação
ser concedida ao imigrante com ou sem vínculo do prazo da autorização de residência até que o
empregatício com instituição de pesquisa ou de tratamento de saúde seja concluído.
ensino brasileira, exigida, na hipótese de vínculo, § 4º A autorização de residência para fins de
a comprovação de formação superior compatível tratamento de saúde, sem prejuízo do direito à
ou reconhecimento científico equivalente. saúde dos imigrantes estabelecidos no País, es-
§ 1º A autorização de residência para pesquisa, tará condicionada à comprovação de meios de
ensino ou extensão acadêmica com vínculo em- subsistência suficientes para custear o seu tra-
pregatício no País será concedida ao imigrante tamento e a manutenção do imigrante e do seu
que comprovar oferta de trabalho, caracterizada acompanhante durante o período em que o trata-
por meio de contrato de trabalho ou de prestação mento for realizado, por recurso próprio, seguro
de serviços celebrado com instituição de pesquisa de saúde válido no território nacional ou certifi-
ou de ensino brasileira. cado de prestação de serviço de saúde previsto
§ 2º A autorização de residência para pesquisa, em tratado de que o País seja parte.
ensino ou extensão acadêmica sem vínculo em- § 5º Os titulares da autorização de residência
pregatício no País será concedida ao imigrante de que trata o caput não terão direito de exercer
detentor de bolsa ou auxílio em uma das moda- atividade remunerada no País.
lidades previstas no caput, quando o prazo de vi- § 6º O requerimento de autorização de residên-
gência da bolsa for superior a noventa dias. cia para fins de tratamento de saúde deverá res-
§ 3º O imigrante que possua vínculo institucio- peitar os requisitos estabelecidos em ato conjunto
nal exclusivamente no exterior e pretenda reali- do Ministro de Estado da Justiça e Segurança Pú-
zar atividade de pesquisa, ensino ou de extensão blica e das Relações Exteriores.
acadêmica subsidiada por instituição de pesquisa Art. 145. A autorização de residência para fins
ou de ensino estrangeira enquadra-se na hipótese de acolhida humanitária poderá ser concedida
prevista no § 2º, desde que em parceria com ins- ao apátrida ou ao nacional de qualquer país em
tituição brasileira. situação de:
§ 4º O imigrante que se encontre no País sob o I – instabilidade institucional grave ou iminente;
amparo da autorização de residência de que trata o II – conflito armado;
caput, sem vínculo empregatício no País, por prazo III – calamidade de grande proporção;
superior a noventa dias, poderá exercer atividade IV – desastre ambiental; ou
remunerada no País, desde que relacionada à área V – violação grave aos direitos humanos ou ao
de pesquisa, de ensino ou de extensão acadêmica. direito internacional humanitário.
87
§ 1º Ato conjunto dos Ministros de Estado da exerça atividade laboral, com ou sem vínculo em-
Justiça e Segurança Pública, das Relações Exterio- pregatício no País.
res e do Trabalho estabelecerá os requisitos para § 1º A autorização de residência para trabalho
a concessão de autorização de residência com com vínculo empregatício será concedida por
fundamento em acolhida humanitária, a renova- meio da comprovação de oferta de trabalho no
ção do prazo da residência e a sua alteração para País, observado o seguinte:
prazo indeterminado. I – a oferta de trabalho é caracterizada por meio
§ 2º A possibilidade de livre exercício de ati- de contrato individual de trabalho ou de contrato
vidade laboral será reconhecida ao imigrante a de prestação de serviços; e
quem se tenha sido concedida a autorização de II – os marítimos imigrantes a bordo de embar-
residência de que trata o caput, nos termos da le- cação de bandeira brasileira deverão possuir con-
gislação vigente. trato individual de trabalho no País.
§ 2º A autorização de residência para trabalho
Art. 146. A autorização de residência para fins de sem vínculo empregatício será concedida por
estudo poderá ser concedida ao imigrante que meio da comprovação de oferta de trabalho no
pretenda frequentar curso regular ou realizar es- País, quando se tratar das seguintes atividades:
tágio ou intercâmbio de estudo ou de pesquisa. I – prestação de serviço ou auxílio técnico ao
§ 1º A autorização de residência para fins de es- Governo brasileiro;
tudo habilitará o imigrante a realizar as atividades II – prestação de serviço em razão de acordo de
previstas no caput vinculadas a instituição de en- cooperação internacional;
sino definida. III – prestação de serviço de assistência técnica
§ 2º A autorização de residência com fundamen- ou transferência de tecnologia;
to na hipótese elencada neste artigo poderá ser IV – representação, no País, de instituição finan-
concedida inicialmente pelo prazo de até um ano. ceira ou assemelhada sediada no exterior;
§ 3º Na hipótese prevista neste artigo, o imi- V – representação de pessoa jurídica de direito
grante poderá requerer a renovação até que o privado, sem fins lucrativos;
curso seja concluído, desde que apresente com- VI – recebimento de treinamento profissional
provante de matrícula e aproveitamento escolar, junto a subsidiária, filial ou matriz brasileira;
além de meios de subsistência, sem prejuízo de VII – atuação como marítimo: (Inciso com redação
outros documentos exigidos pelo Ministério da dada pelo Decreto nº 9.500, de 10/9/2018)
Justiça e Segurança Pública. a) a bordo de embarcação estrangeira em via-
§ 4º A mudança de curso e estabelecimento de gem de longo curso ou em cruzeiros marítimos ou
ensino será autorizada, desde que a Polícia Federal fluviais pela costa brasileira e a permanência for
seja comunicada para fins de atualização cadastral. por prazo superior a cento e oitenta dias a cada
§ 5º A instituição de ensino da qual o imigrante ano migratório; e (Alínea acrescida pelo Decreto nº 9.500,
tenha se desligado deverá comunicar o fato à Po- de 10/9/2018)

lícia Federal no prazo de trinta dias, contado da b) a bordo de outras embarcações ou platafor-
data do desligamento. mas não mencionadas na alínea a e a permanên-
§ 6º O exercício de atividade remunerada será cia for por prazo superior a noventa dias a cada
ano migratório; (Alínea acrescida pelo Decreto nº 9.500,
permitido ao imigrante a quem se tenha sido con-
de 10/9/2018)
cedida a autorização de residência de que trata o
VIII – realização de estágio profissional ou inter-
caput, desde que compatível com a carga horária
câmbio profissional;
do estudo, nos termos da legislação vigente.
IX – exercício de cargo, função ou atribuição que
§ 7º O requerimento de autorização de residên-
exija, em razão da legislação brasileira, a residên-
cia para fins de estudo deverá respeitar os requi-
cia por prazo indeterminado;
sitos estabelecidos em ato conjunto dos Ministros
X – realização de atividade como correspon-
de Estado da Justiça e Segurança Pública e das
dente de jornal, revista, rádio, televisão ou agên-
Relações Exteriores.
cia noticiosa estrangeira; e
Art. 147. A autorização de residência para fins de XI – realização de auditoria ou consultoria com
trabalho poderá ser concedida ao imigrante que prazo de estada superior a noventa dias.
88
DECRETO Nº 9.199, DE 20 DE NOVEMBRO DE 2017


§ 3º Para a aplicação do inciso VII do § 2º, con- sileiro, em termos definidos pelo Ministério das
sideram-se embarcações ou plataformas estran- Relações Exteriores por meio de comunicação
geiras, entre outras, aquelas utilizadas em na- diplomática.
vegação de apoio marítimo, de exploração ou Parágrafo único. A autorização de residência
prospecção, navegação de cabotagem, levanta- com fundamento no disposto neste artigo so-
mento geofísico, dragas e embarcações de pesca. mente poderá ser concedida ao portador de visto
§ 4º Será dispensada a oferta de trabalho de temporário de férias-trabalho.
que trata o caput e considerada a comprovação Art. 149. A autorização de residência para prática
de titulação em curso de ensino superior ou equi- de atividades religiosas poderá ser concedida a:
valente, na hipótese de capacidades profissionais I – ministro de confissão religiosa;
estratégicas para o País, conforme disposto em ato II – membro de instituto de vida consagrada ou
conjunto dos Ministros de Estado da Justiça e Se- confessional; ou
gurança Pública, Relações Exteriores e do Traba- III – membro de ordem religiosa.
lho, consultado o Conselho Nacional de Imigração. § 1º O requerimento de autorização de residên-
§ 5º Para fins de atração de mão de obra em cia para prática de atividades religiosas deverá
áreas estratégicas para o desenvolvimento nacio- respeitar os requisitos, as condições, os prazos e
nal ou com déficit de competências profissionais os procedimentos estabelecidos em resolução do
para o País, ato conjunto dos Ministros de Estado Conselho Nacional de Imigração.
da Justiça e Segurança Pública, Relações Exterio- § 2º O pedido de renovação do prazo de residên-
res e do Trabalho, consultado o Conselho Nacional cia ou a sua alteração para prazo indeterminado,
de Imigração, estabelecerá condições simplifica- observadas as condições estabelecidas neste ar-
das para a autorização de residência para fins de tigo, será instruído com a comprovação das prá-
trabalho. ticas de atividades religiosas por aqueles a que
§  6º A possibilidade de modificação do local refere o caput.
de exercício de sua atividade laboral, na mesma Art. 150. A autorização de residência para pres-
empresa ou no mesmo grupo econômico, será tação de serviço voluntário junto a entidade de
reconhecida ao imigrante a quem tenha sido con- direito público ou privado sem fins lucrativos, ou
cedida a autorização de residência para fins de a organização vinculada a governo estrangeiro,
trabalho, por meio de comunicação ao Ministério poderá ser concedida desde que não haja vínculo
do Trabalho. empregatício e nem remuneração de qualquer
§ 7º O imigrante deverá requerer autorização ao espécie.
Ministério do Trabalho se pretender exercer ativi- § 1º O requerimento de autorização de residên-
dade junto a empregador diverso daquele que o cia para prestação de serviço voluntário deverá
contratou inicialmente, durante a residência por respeitar os requisitos, as condições, os prazos e
tempo determinado, por meio de pedido funda- os procedimentos estabelecidos em resolução do
mentado e instruído com o novo contrato de tra- Conselho Nacional de Imigração.
balho firmado. § 2º O pedido de renovação do prazo de residên-
§ 8º Após decisão quanto à mudança de empre- cia ou a sua alteração para prazo indeterminado
gador de que trata o § 7º, o Ministério do Trabalho com fundamento na hipótese prevista neste artigo
comunicará a Polícia Federal para fins de atuali- deverá ser instruído com a prova da continuidade
zação de registro. da prestação de serviço voluntário.
§ 9º O requerimento de autorização de residên-
Art. 151. A autorização de residência para fins de
cia com fundamento em trabalho deverá respeitar
realização de investimento poderá ser concedida
os requisitos, as condições, os prazos e os procedi-
ao imigrante pessoa física que pretenda realizar
mentos estabelecidos em resolução do Conselho
ou já realize, com recursos próprios de origem
Nacional de Imigração.
externa, investimento em pessoa jurídica no País,
Art. 148. A autorização de residência para fins de em projeto com potencial para geração de empre-
férias-trabalho poderá ser concedida ao imigrante gos ou de renda no País.
maior de dezesseis anos que seja nacional de país § 1º Entende-se por investimento em pessoa
que conceda benefício idêntico ao nacional bra- jurídica no País:
89
I – investimento de origem externa em empresa V – ascendente até o segundo grau de brasileiro
brasileira, conforme regulamentação do Banco ou de imigrante beneficiário de autorização de re-
Central do Brasil; sidência;
II – constituição de sociedade simples ou em- VI – descendente até o segundo grau de brasi-
presária; e leiro ou de imigrante beneficiário de autorização
III – outras hipóteses previstas nas políticas de de residência;
atração de investimentos externos. VII – irmão de brasileiro ou de imigrante benefi-
§ 2º A autorização prevista no caput poderá ser ciário de autorização de residência; ou
concedida ao imigrante administrador, gerente, VIII – que tenha brasileiro sob a sua tutela, cura-
diretor ou executivo com poderes de gestão, que tela ou guarda.
venha ou esteja no País para representar sociedade § 1º O requerimento de autorização de residên-
civil ou comercial, grupo ou conglomerado econô- cia para fins de reunião familiar deverá respeitar
mico que realize investimento externo em empresa os requisitos previstos em ato conjunto dos Minis-
estabelecida no território nacional, com potencial tros de Estado da Justiça e Segurança Pública e
para geração de empregos ou de renda no País. das Relações Exteriores.
§ 3º A concessão de que trata o § 2º ficará con- § 2º A autorização de residência por reunião
dicionada ao exercício da função que lhe for de- familiar não será concedida na hipótese de o
signada em contrato ou em ata devidamente re- chamante ser beneficiário de autorização de re-
gistrada no órgão competente. sidência por reunião familiar ou de autorização
§ 4º O requerimento de autorização de residên- provisória de residência.
cia para fins de realização de investimento deverá § 3º Na hipótese prevista no inciso VII do caput,
respeitar os requisitos previstos em resolução do a autorização de residência ao irmão maior de
Conselho Nacional de Imigração. dezoito anos ficará condicionada à comprovação
§ 5º A autorização de residência com funda- de sua dependência econômica em relação ao fa-
mento nas hipóteses elencadas neste artigo po- miliar chamante.
derá ser concedida por prazo indeterminado. § 4º Quando a autorização de residência do fa-
§ 6º Na hipótese prevista no caput, a perda da miliar chamante tiver sido concedida por prazo
autorização de residência poderá ser decretada
indeterminado, a autorização de residência do
em observância ao disposto no inciso I do caput
familiar chamado será também concedida por
do art. 135, caso o imigrante não tenha executado
prazo indeterminado.
o plano de investimento que fundamentou a sua
§ 5º Quando o requerimento for fundamentado
autorização.
em reunião com imigrante beneficiado com resi-
Art. 152. A autorização de residência para fins de dência por prazo determinado, a data de venci-
realização de atividade com relevância econômica, mento da autorização de residência do familiar
social, científica, tecnológica ou cultural deverá chamado coincidirá com a data de vencimento da
respeitar os requisitos, as condições, os prazos e autorização de residência do familiar chamante.
os procedimentos estabelecidos em ato conjunto § 6º Ato do Ministro de Estado da Justiça e Segu-
dos Ministros de Estado da Justiça e Segurança rança Pública poderá dispor sobre a necessidade
Pública, das Relações Exteriores e do Trabalho, de entrevista presencial e de apresentação de do-
consultado o Conselho Nacional de Imigração. cumentação adicional para comprovação, quando
Art. 153. A autorização de residência para fins de necessário, do vínculo familiar.
reunião familiar será concedida ao imigrante: § 7º Ato conjunto dos Ministros de Estado da
I – cônjuge ou companheiro, sem discrimina- Justiça e Segurança Pública e das Relações Exte-
ção alguma, nos termos do ordenamento jurídico riores poderá estabelecer outras hipóteses de pa-
brasileiro; rentesco para fins de concessão da autorização de
II – filho de brasileiro ou de imigrante beneficiá- residência de que trata o caput.
rio de autorização de residência; § 8º A solicitação de autorização de residência
III – que tenha filho brasileiro; para fins de reunião familiar poderá ocorrer con-
IV – que tenha filho imigrante beneficiário de comitantemente à solicitação de autorização de
autorização de residência; residência do familiar chamante.
90
DECRETO Nº 9.199, DE 20 DE NOVEMBRO DE 2017


§ 9º A concessão da autorização de residência condições com o nacional brasileiro, nos termos
para fins de reunião familiar ficará condicionada da legislação vigente.
à concessão prévia de autorização de residência § 6º A autorização de residência concedida
ao familiar chamante. àquele cuja condição de refugiado, asilado ou
§ 10. O beneficiário da autorização de residên- apátrida tiver cessado permanecerá válida pelo
cia para fins de reunião familiar poderá exercer prazo de noventa dias.
qualquer atividade no País, inclusive remunerada, § 7º O disposto no § 6º não se aplica às seguintes
em igualdade de condições com o nacional brasi- hipóteses:
leiro, nos termos da legislação vigente. I – perda da proteção ao apátrida;
Art. 154. A autorização de residência poderá ser II – revogação do asilo político; e
concedida à pessoa beneficiada por tratado em III – perda da condição de refugiado.
matéria de residência e livre circulação. § 8º A cessação da proteção ao apátrida ou da
Parágrafo único. Na concessão de autorização condição de refugiado ou asilado político não im-
de residência mencionada no caput, será obser- pedirá a solicitação de nova autorização de resi-
vado o disposto no tratado bilateral ou multila- dência, observado o disposto no art. 142.
teral que regulamente o assunto e, subsidiaria- § 9º O requerimento de autorização de residên-
mente, o disposto neste Decreto, no que couber. cia com fundamento no disposto neste artigo de-
verá respeitar os requisitos previstos em ato do
Art. 155. A autorização de residência poderá ser
Ministro de Estado da Justiça e Segurança Pública,
concedida à pessoa que já tenha possuído a na-
consultados os demais Ministérios interessados.
cionalidade brasileira e não deseje ou não reúna
os requisitos para readquiri-la. Art. 157. A autorização de residência poderá ser
§ 1º O requerimento de autorização de residên- concedida à criança ou ao adolescente nacional
cia com fundamento no disposto neste artigo de- de outro país ou apátrida, desacompanhado ou
verá respeitar os requisitos previstos em ato do abandonado, que se encontre em ponto de con-
Ministro de Estado da Justiça e Segurança Pública. trole migratório nas fronteiras brasileiras ou no
§ 2º A autorização de residência com funda- território nacional.
mento no disposto neste artigo poderá ser conce- § 1º A avaliação da solicitação de autorização
dida por prazo indeterminado. de residência com fundamento no disposto no
Art. 156. A autorização de residência poderá ser caput e da possibilidade de retorno à convivência
concedida à pessoa beneficiária de: familiar deverá considerar o interesse superior da
I – proteção ao apátrida; criança ou do adolescente na tomada de decisão.
II – asilo político; ou § 2º O requerimento da autorização de residên-
III – refúgio. cia prevista neste artigo poderá ser feito pela De-
§ 1º A autorização de residência do refugiado ob- fensoria Pública da União.
servará o disposto no art. 28 da Lei nº 9.474, de 1997. § 3º O prazo da autorização de residência vigo-
§ 2º A autorização de residência do refugiado, rará até que o imigrante atinja a maioridade, al-
do asilado político e do apátrida será concedida cançada aos dezoito anos completos, em obser-
por prazo indeterminado. vância ao disposto no art. 5º da Lei nº 10.406, de
§ 3º O solicitante de refúgio, asilo político ou pro- 10 de janeiro de 2002 (Código Civil).
teção ao apátrida fará jus à autorização provisória § 4º Na hipótese de o imigrante atingir a maiori-
de residência até decisão final quanto ao seu pedido. dade e tiver interesse em permanecer no País, ele
§ 4º A autorização provisória de residência pre- deverá comparecer a unidade da Polícia Federal
vista no § 3º será demonstrada por meio de pro- no prazo de cento e oitenta dias para formalizar o
tocolo de solicitação de reconhecimento da con- pedido de alteração do prazo de residência para
dição de refugiado, asilado político ou apátrida. indeterminado.
§ 5º O beneficiário da autorização de residên- § 5º O requerimento de autorização de residên-
cia do refugiado, do asilado político e do apátrida cia com fundamento no disposto neste artigo de-
ou da autorização de residência provisória a que verá respeitar os requisitos previstos em ato do
se refere o § 3º poderá exercer qualquer atividade Ministro de Estado da Justiça e Segurança Pública,
no País, inclusive remunerada, em igualdade de consultados os demais Ministérios interessados.
91
Art. 158. A autorização de residência poderá ser § 4º Na ausência da apresentação do documento
concedida à vítima de: a que se refere o inciso II do caput do art. 129, de-
I – tráfico de pessoas; verá ser apresentado ofício emitido pelo juízo res-
II – trabalho escravo; ou ponsável do qual conste a qualificação completa
III – violação de direito agravada por sua condi- do imigrante.
ção migratória. Art. 160. A concessão de nova autorização de resi-
§ 1º A autorização de residência com funda- dência para imigrante poderá ser fornecida, aten-
mento no disposto neste artigo será concedida dido o disposto na alínea h do inciso II do caput
por prazo indeterminado. do art. 142 a imigrante que tenha sido anterior-
§ 2º O requerimento previsto neste artigo mente beneficiado com autorização de residência,
poderá ser encaminhado diretamente ao Ministé- fundamentado em reunião familiar, satisfeitos os
rio da Justiça e Segurança Pública pelo Ministério seguintes requisitos:
Público, pela Defensoria Pública ou pela Audito- I – ter residido no País por, no mínimo, quatro
ria Fiscal do Trabalho, na forma estabelecida em anos;
ato conjunto dos Ministros de Estado da Justiça II – comprovar meios de subsistência; e
e Segurança Pública e do Trabalho, consultados III – apresentar certidão negativa de anteceden-
os demais Ministérios interessados, o qual dispo- tes criminais.
rá sobre outras autoridades públicas que poderão § 1º A nova autorização de residência com fun-
reconhecer a situação do imigrante como vítima, damento no disposto neste artigo será concedida
nos termos estabelecidos no caput. por prazo indeterminado.
§ 3º A autoridade pública que representar pela § 2º O disposto neste artigo não se aplica às
hipóteses em que o requisito para o reconheci-
regularização migratória das vítimas a que se re-
mento da condição anterior tenha deixado de ser
fere o caput deverá instruir a representação com
atendido em razão de fraude.
documentação que permita identificar e localizar
o imigrante. Art. 161. A autorização de residência poderá ser
§ 4º O beneficiário da autorização de residência concedida para fins de atendimento ao interesse
concedida a vítima a que se refere o caput deverá da política migratória nacional.
apresentar anuência ao requerimento ofertado Parágrafo único. Ato conjunto do Ministros de
pela autoridade pública. Estado da Justiça e Segurança Pública, das Rela-
ções Exteriores e do Trabalho disporá sobre as hi-
Art. 159. A autorização de residência poderá ser póteses, os requisitos e os prazos da autorização
concedida à pessoa que esteja em liberdade provi- de residência para fins de atendimento ao inte-
sória ou em cumprimento de pena no País. resse da política migratória nacional.
§ 1º O prazo de residência para o imigrante em
Art. 162. O Conselho Nacional de Imigração dis-
liberdade provisória será de até um ano, renová-
ciplinará os casos especiais para a concessão de
vel por meio da apresentação de certidão expe-
autorização de residência associada às questões
dida pelo Poder Judiciário que disponha sobre o
laborais.
andamento do processo.
§ 2º Na hipótese de imigrante sentenciado, o Art. 163. O Ministério da Justiça e Segurança Pú-
prazo de residência estará vinculado ao período blica disciplinará os casos especiais para a con-
da pena a ser cumprido, informado pelo juízo res- cessão de autorização de residência não previstos
expressamente neste Decreto.
ponsável pela execução criminal.
§ 3º Na instrução do requerimento de autoriza- CAPÍTULO IX
ção de residência com fundamento no disposto DA ENTRADA E DA SAÍDA DO
TERRITÓRIO NACIONAL
neste artigo, deverá ser apresentada, além dos
documentos a que se refere o art. 129, decisão Seção I
judicial da concessão da liberdade provisória ou Da Fiscalização Marítima,
certidão emitida pelo juízo responsável pela exe- Aeroportuária e de Fronteira
cução criminal do qual conste o período de pena Art. 164. A entrada no País poderá ser permitida
a ser cumprida, conforme o caso. ao imigrante identificado por documento de via-
92
DECRETO Nº 9.199, DE 20 DE NOVEMBRO DE 2017


gem válido que não se enquadre em nenhuma das II – no porto de saída da embarcação do terri-
hipóteses de impedimento de ingresso previstas tório nacional.
neste Decreto e que seja: § 1º O controle migratório previsto no caput po-
I – titular de visto válido; derá ser realizado em terminal portuário sempre
II – titular de autorização de residência; ou que essa estrutura se mostrar mais adequada.
III – de nacionalidade beneficiária de tratado ou § 2º O controle migratório de navios de turismo
comunicação diplomática que enseje a dispensa poderá ser feito em águas territoriais nacionais,
de visto. conforme estabelecido pela Polícia Federal.
§ 1º Ato do Ministro de Estado da Saúde disporá Art. 169. O direito de passagem inocente no mar
sobre as medidas sanitárias necessárias para en- territorial brasileiro será reconhecido aos navios
trada no País, quando couber. de todas as nacionalidades, observado o disposto
§  2º As autoridades responsáveis pela fiscali- no art. 3º da Lei nº 8.617, de 4 de janeiro de 1993.
zação contribuirão para a aplicação de medidas § 1º A passagem será considerada inocente
sanitárias em consonância com o Regulamento desde que não seja prejudicial à paz, à boa ordem
Sanitário Internacional e com outras disposições ou à segurança do País, e deverá ser contínua e
pertinentes.
rápida.
Art. 165. As funções de polícia marítima aeropor- § 2º A passagem inocente poderá compreender
tuária e de fronteira serão realizadas pela Polícia o parar e o fundear, desde que tais procedimen-
Federal nos pontos de entrada e saída do territó- tos constituam incidentes comuns de navegação,
rio nacional, sem prejuízo de outras fiscalizações, sejam impostos por motivos de força maior ou
nos limites de suas atribuições, realizadas pela Se- por dificuldade grave, ou tenham por fim prestar
cretaria da Receita Federal do Brasil do Ministé- auxílio a pessoas ou a navios em perigo ou em di-
rio da Fazenda e, quando for o caso, pelo Minis- ficuldade grave.
tério da Saúde. § 3º A fiscalização de passageiros, tripulantes e
Parágrafo único. O imigrante deverá permanecer estafes de navios em passagem inocente não será
em área de fiscalização até que o seu documento realizada, exceto nas hipóteses previstas no § 2º,
de viagem tenha sido verificado, exceto nos casos quando houver necessidade de descida de pes-
previstos em lei. soas à terra ou subida a bordo do navio.
Art. 166. Quando a entrada no território nacional Art. 170. Na fiscalização de entrada, poderão ser
ocorrer por via aérea, a fiscalização será realizada exigidos:
no aeroporto do local de destino de passageiros I – comprovante de meio de transporte de saída
e tripulantes ou, caso ocorra a transformação do do território nacional;
voo internacional em doméstico, no lugar onde II – comprovante de meios de subsistência com-
ela ocorrer. patíveis com o prazo e com o objetivo da viagem
Parágrafo único. Quando a saída do território pretendida; e
nacional ocorrer por via aérea, a fiscalização será III – documentação que ateste a natureza das
realizada no aeroporto internacional do local de atividades que serão desenvolvidas no País, con-
embarque ou, caso ocorra a transformação do forme definido em atos específicos.
voo doméstico em internacional, no lugar onde Parágrafo único. Para confirmação do objetivo
ela ocorrer. da viagem, documentos adicionais poderão ser
Art. 167. Na hipótese de entrada ou saída por via requeridos.
terrestre, a fiscalização ocorrerá no local desig- Seção II
nado para esse fim. Do Impedimento de Ingresso
Art. 168. Nos pontos de fiscalização migratória Art. 171. Após entrevista individual e mediante
marítima, fluvial e lacustre, o controle migratório ato fundamentado, o ingresso no País poderá ser
será realizado a bordo: impedido à pessoa:
I – no porto de entrada da embarcação no ter- I – anteriormente expulsa do país, enquanto os
ritório nacional; e efeitos da expulsão vigorarem;
93
II – nos termos definidos pelo Estatuto de Roma § 2º Nas hipóteses previstas nos incisos XIII e XIV
do Tribunal Penal Internacional, de 1998, promul- do caput, o fundamento para o impedimento de
gado pelo Decreto nº 4.388, de 2002, condenada ingresso será comunicado à Polícia Federal pelo
ou respondendo a processo por: Ministério da Saúde.
a) ato de terrorismo ou crime de genocídio;
Art. 172. A entrada condicional no território na-
b) crime contra a humanidade;
cional de pessoa que não preencha os requisitos
c) crime de guerra; ou
de admissão poderá, na impossibilidade de re-
d) crime de agressão;
torno imediato do imigrante impedido ou clandes-
III – condenada ou respondendo a processo em
tino, ser autorizada pela Polícia Federal, por meio
outro país por crime doloso passível de extradição
da assinatura de termo de compromisso, pelo
segundo a lei brasileira;
transportador ou por seu agente, que assegure o
IV – que tenha o nome incluído em lista de restri-
custeio das despesas com a permanência e com
ções por ordem judicial ou por compromisso assu-
as providências necessárias para a repatriação do
mido pelo País perante organismo internacional;
imigrante.
V – que apresente documento de viagem que:
Parágrafo único. Na hipótese de entrada condi-
a) não seja válido no território nacional;
b) esteja com o prazo de validade vencido; ou cional prevista no caput, a Polícia Federal fixará o
c) esteja com rasura ou indício de falsificação; prazo de estada, as condições a serem observadas
VI – que não apresente documento de viagem e o local em que o imigrante impedido ou clandes-
ou, quando admitido, documento de identidade; tino permanecerá.
VII – cuja razão da viagem não seja condizente Art. 173. O desembarque de marítimo embarcado
com o visto ou com o motivo alegado para a em navio em viagem de longo curso portador de
isenção de visto ou que não possua visto válido, carteira de marítimo expedida por país não signa-
quando exigível; tário de Convenção da Organização Internacional
VIII – que tenha comprovadamente fraudado do Trabalho sobre a matéria não será permitido,
documentação ou prestado informação falsa por hipótese em que ele deverá permanecer a bordo.
ocasião da solicitação de visto;
Art. 174. A admissão excepcional no País poderá
IX – que tenha praticado ato contrário aos prin-
ser autorizada à pessoa que se enquadre em uma
cípios e aos objetivos dispostos na Constituição;
das seguintes hipóteses, desde que esteja de
X – a quem tenha sido denegado visto, enquan-
posse de documento de viagem válido:
to permanecerem as condições que ensejaram a
I – não possua visto ou seja titular de visto cujo
denegação;
prazo de validade tenha expirado;
XI – que não tenha prazo de estada disponível no
ano migratório vigente, na qualidade de visitante; II – seja titular de visto emitido com erro ou
XII – que tenha sido beneficiada com medida de omissão;
transferência de pessoa condenada aplicada con- III – tenha perdido a condição de residente por
juntamente com impedimento de reingresso no ter permanecido ausente do País por período supe-
território nacional, observado o disposto no § 2º rior a dois anos e detenha condições objetivas para
do art. 103 da Lei nº 13.445, de 2017, desde que a concessão de nova autorização de residência;
ainda esteja no cumprimento de sua pena; IV – seja criança ou adolescente desacompa-
XIII – que não atenda às recomendações tempo- nhado do responsável legal e sem autorização
rárias ou permanentes de emergências em saúde expressa para viajar desacompanhado, indepen-
pública internacional definidas pelo Regulamento dentemente do documento de viagem que portar,
Sanitário Internacional; ou hipótese em que haverá encaminhamento ao Con-
XIV – que não atenda às recomendações tempo- selho Tutelar ou, se necessário, a instituição indi-
rárias ou permanentes de emergências em saúde cada pela autoridade competente;
pública de importância nacional definidas pelo V – outras situações emergenciais, caso fortuito
Ministério da Saúde. ou força maior.
§ 1º O procedimento de efetivação do impedi- § 1º Nas hipótese previstas no incisos I, II e V do
mento de ingresso será disciplinado em ato do caput, o prazo da admissão excepcional será de
dirigente máximo da Polícia Federal. até oito dias.
94
DECRETO Nº 9.199, DE 20 DE NOVEMBRO DE 2017


§ 2º Nas hipóteses previstas nos incisos III e IV § 6º Na hipótese de o imigrante notificado nos
do caput, o prazo da admissão excepcional será termos estabelecidos neste artigo não regularizar
de até trinta dias. a sua situação migratória e comparecer a ponto
§ 3º A admissão excepcional poderá ser solici- de fiscalização para deixar o País após encerrado
tada pelo Ministério das Relações Exteriores, por re- o prazo estabelecido no caput, será lavrado termo
presentação diplomática do país de nacionalidade e registrada a saída do território nacional como
da pessoa ou por órgão da administração pública, deportação.
por meio de requerimento dirigido ao chefe da uni- § 7º A notificação será dispensada quando a ir-
dade da fiscalização migratória, conforme disposto regularidade for constatada no momento da saída
em ato do dirigente máximo da Polícia Federal. do imigrante do território nacional, e será lavrado
termo e registrada a saída do território nacional
Art. 175. O tripulante ou o passageiro que, por
como deportação, sem prejuízo da aplicação de
motivo de força maior, seja obrigado a interrom-
multa, nos termos estabelecidos no inciso II do
per a viagem no território nacional poderá ter o
caput do art. 307.
seu desembarque permitido por meio de termo
§ 8º O prazo para regularização migratória de
de responsabilidade pelas despesas decorrentes
que trata o caput será deduzido do prazo de es-
do transbordo.
tada do visto de visita estabelecido no art. 20.
CAPÍTULO X
Art. 177. O procedimento administrativo de re-
DA REGULARIZAÇÃO DA
SITUAÇÃO MIGRATÓRIA gularização da situação migratória será instruí-
do com:
Art. 176. O imigrante que estiver em situação mi-
I – a comprovação da notificação do imigrante
gratória irregular será pessoalmente notificado
para regularizar a sua condição migratória ou dei-
para que, no prazo de sessenta dias, contado da
xar voluntariamente o País; e
data da notificação, regularize a sua situação mi-
II – a manifestação do interessado, quando
gratória ou deixe o País voluntariamente.
apresentada.
§ 1º A irregularidade migratória poderá ocorrer
em razão de: CAPÍTULO XI
DAS MEDIDAS DE RETIRADA COMPULSÓRIA
I – entrada irregular;
II – estada irregular; ou Seção I
III – cancelamento da autorização de residência. Disposições Gerais
§ 2º Ato do dirigente máximo da Polícia Fede- Art. 178. São medidas de retirada compulsória:
ral disporá sobre a notificação pessoal por meio I – a repatriação;
eletrônico, a publicação por edital em seu sítio II – a deportação; e
eletrônico e os demais procedimentos de que III – a expulsão.
trata este Capítulo.
Art. 179. A repatriação, a deportação e a expul-
§ 3º As irregularidades verificadas na situação
são serão feitas para o país de nacionalidade ou de
migratória constarão, expressamente, da notifica-
procedência do migrante ou do visitante, ou para
ção de que trata o caput.
outro país que o aceite, em observância aos trata-
§ 4º O prazo estabelecido no caput será prorro-
dos de que o País seja parte.
gável por até sessenta dias, desde que o imigrante
notificado compareça a unidade da Polícia Fe- Art. 180. Não se procederá à repatriação, à depor-
deral para justificar a necessidade da prorrogação tação ou à expulsão de nenhum indivíduo quando
e assinar termo de compromisso de que manterá subsistirem razões para acreditar que a medida
as suas informações pessoais e relativas ao seu poderá colocar em risco sua vida, sua integridade
endereço atualizadas. pessoal ou sua liberdade seja ameaçada por mo-
§ 5º A notificação a que se refere o caput não tivo de etnia, religião, nacionalidade, pertinência
impedirá a livre circulação no território nacional, a grupo social ou opinião política.
hipótese em que o imigrante deverá informar à Art. 181. O beneficiário de proteção ao apátrida,
Polícia Federal o seu local de domicílio e as ativi- refúgio ou asilo político não será repatriado, de-
dades por ele exercidas no País e no exterior. portado ou expulso enquanto houver processo
95
de reconhecimento de sua condição pendente prazo de estada, as condições e o local em que o
no País. imigrante.
Parágrafo único. Na hipótese de deportação de § 3º A Defensoria Pública da União será noti-
apátrida, a medida de retirada compulsória so- ficada, preferencialmente por meio eletrônico,
mente poderá ser aplicada após autorização do quando o imigrante que não tenha atingido a
Ministério da Justiça e Segurança Pública. maioridade civil estiver desacompanhado ou se-
Art. 182. O procedimento de deportação depen- parado de sua família e quando a sua repatriação
derá de autorização prévia do Poder Judiciário no imediata não for possível.
caso de migrante em cumprimento de pena ou § 4º A ausência de manifestação da Defenso-
que responda criminalmente em liberdade. ria Pública da União, desde que prévia e devida-
mente notificada, não impedirá a efetivação da
Art. 183. As medidas de retirada compulsória não
serão feitas de forma coletiva. medida de repatriação.
§ 1º Entende-se por repatriação, deportação ou Art. 186. Ato do dirigente máximo da Polícia Fe-
expulsão coletiva aquela que não individualiza a deral estabelecerá os procedimentos administra-
situação migratória irregular de cada migrante. tivos necessários para a repatriação, conforme os
§ 2º A individualização das medidas de repatria- tratados de que o País seja parte.
ção ocorrerá por meio de termo do qual constarão:
Seção III
I – os dados pessoais do repatriando;
Da Deportação
II – as razões do impedimento que deu causa
à medida; e Art. 187. A deportação consiste em medida de-
III – a participação de intérprete, quando neces- corrente de procedimento administrativo da qual
sária. resulta a retirada compulsória da pessoa que se
§ 3º A individualização das medidas de depor- encontre em situação migratória irregular no ter-
tação e expulsão ocorrerá por meio de procedi- ritório nacional.
mento administrativo instaurado nos termos es- Parágrafo único. Os procedimentos concernen-
tabelecidos nos art. 188 e art. 195. tes à deportação observarão os princípios do con-
Art. 184. O imigrante ou o visitante que não tenha traditório, da ampla defesa e da garantia de re-
atingido a maioridade civil, desacompanhado curso com efeito suspensivo.
ou separado de sua família, não será repatria- Art. 188. O procedimento que poderá levar à de-
do ou deportado, exceto se a medida de retirada portação será instaurado pela Polícia Federal.
compulsória for comprovadamente mais favorável § 1º O ato de que trata o caput conterá relato do
para a garantia de seus direitos ou para a reintegra- fato motivador da medida e a sua fundamentação
ção a sua família ou a sua comunidade de origem. legal, e determinará:
Seção II I – a juntada do comprovante da notificação
Da Repatriação pessoal do deportando prevista no art. 176;
Art. 185. A repatriação consiste em medida admi- II – notificação, preferencialmente por meio
nistrativa da devolução ao país de procedência ou eletrônico:
de nacionalidade da pessoa em situação de impe- a) da repartição consular do país de origem do
dimento de ingresso, identificada no momento da imigrante;
entrada no território nacional. b) do defensor constituído do deportando,
§ 1º Caso a repatriação imediata não seja possí- quando houver, para apresentação de defesa téc-
vel, a entrada do imigrante poderá ser permitida, nica no prazo de dez dias; e
desde que atenda ao disposto no § 2º. c) da Defensoria Pública da União, na ausên-
§ 2º Na hipótese prevista no § 1º, o transporta- cia de defensor constituído, para apresentação de
dor ou o seu agente deverá assinar termo de com- defesa técnica no prazo de vinte dias.
promisso que assegure o custeio das despesas § 2º As irregularidades verificadas no procedi-
com a permanência e com as providências para a mento administrativo da deportação constarão,
repatriação do imigrante, do qual constarão o seu expressamente, das notificações de que trata o § 1º.
96
DECRETO Nº 9.199, DE 20 DE NOVEMBRO DE 2017


§ 3º A assistência jurídica providenciará defesa a) tiver filho brasileiro que esteja sob a sua
técnica no prazo a que se refere o § 1º, e, se enten- guarda ou dependência econômica ou socioafe-
der necessário: tiva ou tiver pessoa brasileira sob a sua tutela;
I – tradutor ou intérprete; e b) tiver cônjuge ou companheiro residente no
II – exames ou estudos. País, sem discriminação alguma, reconhecido ju-
§ 4º A ausência de manifestação da Defenso- dicial ou legalmente;
ria Pública da União, desde que prévia e devida- c) tiver ingressado no País antes de completar
mente notificada, não impedirá a efetivação da os doze anos de idade, desde que resida, desde
medida de deportação. então, no País; ou
Art. 189. Caberá recurso com efeito suspensivo d) seja pessoa com mais de setenta anos que
da decisão sobre deportação no prazo de dez dias, resida no País há mais de dez anos, considerados
contado da data da notificação do deportando. a gravidade e o fundamento da expulsão.

Art. 190. Não se procederá à deportação se a me- Art. 194. Enquanto o procedimento de expul-
dida configurar extradição não admitida pela le- são estiver pendente, o expulsando permanecerá
gislação brasileira. aguardando a sua decisão, sem alteração de sua
condição migratória.
Art. 191. Ato do dirigente máximo da Polícia Fe-
deral disporá sobre os procedimentos administra- Art. 195. O procedimento de expulsão será ini-
tivos necessários para a deportação. ciado por meio de Inquérito Policial de Expulsão.
Parágrafo único. Ato do Ministro de Estado da § 1º O Inquérito Policial de Expulsão será instau-
Justiça e Segurança Pública definirá as hipóteses rado pela Polícia Federal, de ofício ou por deter-
de redução do prazo de que trata o § 6º do art. 50 minação do Ministro de Estado da Justiça e Segu-
da Lei nº 13.445, de 2017. rança Pública, de requisição ou de requerimento
fundamentado em sentença, e terá como objetivo
Seção IV
produzir relatório final sobre a pertinência ou não
Da Expulsão
da medida de expulsão, com o levantamento de
Art. 192. A expulsão consiste em medida adminis- subsídios para a decisão, realizada pelo Ministro
trativa da retirada compulsória do território nacio- de Estado da Justiça e Segurança Pública, acerca:
nal instaurada por meio de Inquérito Policial de I – da existência de condição de inexpulsabili-
Expulsão, conjugada com impedimento de rein- dade;
gresso por prazo determinado do imigrante ou do II – da existência de medidas de ressocialização,
visitante com sentença condenatória transitada se houver execução de pena; e
em julgado pela prática de: III – da gravidade do ilícito penal cometido.
I – nos termos definidos pelo Estatuto de Roma § 2º A instauração do Inquérito Policial de Expul-
do Tribunal Penal Internacional, de 1998, promul- são será motivada:
gado pelo Decreto nº 4.388, de 2002: I – na hipótese prevista no inciso I do caput do
a) crime de genocídio; art. 192, pelo recebimento, a qualquer tempo, por
b) crime contra a humanidade; via diplomática, de sentença definitiva expedida
c) crime de guerra; ou pelo Tribunal Penal Internacional; ou
d) crime de agressão; ou II – na hipótese prevista no inciso II do caput do
II – crime comum doloso passível de pena pri- art. 192, pela existência de sentença.
vativa de liberdade, consideradas a gravidade e § 3º Os procedimentos concernentes à expul-
as possibilidades de ressocialização no território são observarão os princípios do contraditório e
nacional. da ampla defesa.
Art. 193. O Ministério da Justiça e Segurança Pú- § 4º O ato de que trata o caput conterá relato
blica não procederá à expulsão daqueles a que se do fato motivador da expulsão e a sua fundamen-
refere o art. 192 quando: tação legal, e determinará que seja realizada, de
I – a medida configurar extradição não admitida imediato, a notificação, preferencialmente por
pela lei brasileira; meio eletrônico:
II – o expulsando: I – do expulsando;
97
II – da repartição consular do país de origem do III – o documento do juízo de execução penal
imigrante; que ateste se o expulsando é beneficiário de medi-
III – do defensor constituído do expulsando, das de ressocialização em cumprimento de penas
quando houver; e cominadas ou executadas no território nacional,
IV – da Defensoria Pública da União. se já houver execução;
§ 5º A assistência jurídica providenciará defesa IV – o termo de notificação pessoal do expul-
técnica no prazo a que se refere o art. 196, e, se sando ou a cópia da notificação publicada no sítio
entender necessário, tradutor ou intérprete. eletrônico da Polícia Federal;
§ 6º A expulsão somente ocorrerá após o trân- V – os termos de notificação:
sito em julgado da ação que julgar o processo de a) do representante consular do país de nacio-
expulsão. nalidade do expulsando; e
Art. 196. O defensor constituído terá o prazo de b) do defensor constituído do expulsando ou,
dez dias para apresentação de defesa técnica no em sua ausência, da Defensoria Pública da União
procedimento administrativo de expulsão e dez ou de defensor dativo;
dias para interposição de pedido de reconsidera- VI – o auto de qualificação e interrogatório;
ção, quando for o caso. VII – a defesa técnica apresentada:
Parágrafo único. Os prazos estabelecidos no a) pelo defensor constituído do expulsando,
caput serão contados em dobro em relação à De- quando houver; ou
fensoria Pública da União. b) pela Defensoria Pública da União ou por de-
fensor dativo;
Art. 197. Iniciado o processo de expulsão, o expul- VIII – o termo das diligências realizadas; e
sando será notificado da sua instauração, além da IX – o relatório final.
data e do horário fixados para o seu interrogatório. § 1º O Inquérito Policial de Expulsão poderá ser
Parágrafo único. Se o expulsando não for encon- instruído com outros documentos, a critério da
trado, a Polícia Federal dará publicidade à instau- autoridade que o presidir.
ração do Inquérito Policial de Expulsão em seu § 2º O documento a que se refere o inciso VII
sítio eletrônico e tal publicação será considerada do caput será dispensado quando não for apre-
como notificação para todos os atos do referido sentado pela defesa do expulsando, desde que os
procedimento. termos de notificação tenham sido devidamente
Art. 198. Na hipótese de expulsando preso fora apresentados.
das dependências da Polícia Federal, a sua pre- § 3º O termo de compromisso assinado pelo ex-
sença na repartição policial será solicitada ao pulsando constará do auto de qualificação e in-
juízo de execuções penais, sem prejuízo da auto- terrogatório, no qual assegurará que manterá as
rização para realização de qualificação e interro- suas informações pessoais e relativas ao local de
gatório no estabelecimento penitenciário. domicílio atualizadas.
Art. 199. O expulsando que, regularmente noti- § 4º Durante o inquérito, suscitada a hipótese de
ficado, não se apresentar ao interrogatório será inexpulsabilidade, as diligências para a sua confir-
considerado revel e a sua defesa caberá à Defen- mação serão providenciadas.
soria Pública da União ou, em sua ausência, a de- § 5º Na hipótese de indeferimento das diligên-
fensor dativo. cias requeridas pela defesa do expulsando, a au-
Parágrafo único. Na hipótese de revelia e de o toridade que presidir o Inquérito Policial de Ex-
expulsando se encontrar em lugar incerto e não pulsão deverá elaborar despacho fundamentado.
sabido, a Polícia Federal providenciará a qualifi- Art. 201. O direito à palavra deverá ser dado ao
cação indireta do expulsando. expulsando e ao seu defensor na oitiva de teste-
Art. 200. O Inquérito Policial de Expulsão será ins- munhas e no interrogatório, anteriormente ao
truído com os seguintes documentos: encerramento do Inquérito Policial de Expulsão.
I – o ato a que se refere o art. 195, § 1º, e a do- Art. 202. O relatório final com a recomendação
cumentação que fundamentou a sua edição; técnica pela efetivação da expulsão ou pelo reco-
II – a cópia da sentença penal condenatória e nhecimento de causa de impedimento da medida
a certidão de trânsito em julgado, se disponíveis; de retirada compulsória será encaminhado para
98
DECRETO Nº 9.199, DE 20 DE NOVEMBRO DE 2017


apreciação e deliberação do Ministro de Estado da tica brasileira e será enviado ao Ministério da Jus-
Justiça e Segurança Pública. tiça e Segurança Pública para avaliação.
§ 2º O efeito da medida impeditiva de reingresso
Art. 203. Publicado o ato do Ministro de Estado da
não será automaticamente suspenso com a apre-
Justiça e Segurança Pública que disponha sobre a
sentação do requerimento a que se refere o caput,
expulsão e o prazo determinado de impedimento
hipótese em que a suspensão ficará sujeita à deci-
para reingresso no território nacional, o expul-
são do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
sando poderá interpor pedido de reconsideração
§ 3º O requerimento a que se refere o caput terá
no prazo de dez dias, contado da data da sua no-
prioridade em sua instrução e sua decisão.
tificação pessoal.
§ 4º Caberá ao Ministro de Estado da Justiça e
Parágrafo único. Ato do dirigente máximo da Po-
Segurança Pública decidir sobre a revogação da
lícia Federal disporá sobre a notificação pessoal medida de expulsão.
por meio eletrônico nas hipóteses de expulsão.
Seção V
Art. 204. O prazo de vigência da medida de im- Da Efetivação e do Custeio das
pedimento vinculada aos efeitos da expulsão será Medidas de Retirada Compulsória
proporcional ao prazo total da pena aplicada e
Art. 207. Ato do Ministro de Estado da Justiça e
não será superior ao dobro de seu tempo.
Segurança Pública disporá sobre o regramento
§ 1º O prazo de vigência da medida de impedi- específico para efetivação em caráter excepcio-
mento definido no ato a que se refere o art. 203 nal da repatriação e da deportação de pessoa que
será contado da data da saída do imigrante ex- tenha praticado ato contrário aos princípios e aos
pulso do País. objetivos dispostos na Constituição, nos termos
§ 2º O Ministério da Justiça e Segurança Pública estabelecidos no art. 45, caput, inciso IX, da Lei
registrará e informará à Polícia Federal sobre o de- nº 13.445, de 2017.
curso do período de impedimento de retorno do
Art. 208. A efetivação da medida de retirada com-
imigrante expulso ao País.
pulsória será feita por meio de termo da Polícia
§ 3º Encerrado o prazo para o pedido de recon-
Federal, que também comunicará, por meio da
sideração sem que haja formalização do pedido
Organização Internacional de Polícia Criminal
pelo expulsando ou no caso de seu indeferimento, (Interpol), as autoridades policiais e migratórias
a Polícia Federal ficará autorizada a efetivar o ato dos países de escala, conexões e destino.
expulsório.
Art. 209. As medidas de cooperação internacional
Art. 205. A existência de procedimento de expul- poderão ser aplicadas conjuntamente com qual-
são não impedirá a saída do expulsando do País. quer medida de retirada compulsória e, se for o
§ 1º A saída voluntária do expulsando do País caso, de impedimento de reingresso no território
não suspenderá o processo de expulsão. nacional.
§ 2º Quando verificado que o expulsando com Parágrafo único. A efetivação prévia de medida
expulsão já decretada tenha comparecido a ponto de cooperação internacional não prejudicará o pro-
de fiscalização para deixar voluntariamente o País, cessamento de medida de retirada compulsória.
será lavrado termo e registrada a saída do territó-
Art. 210. A pessoa em situação de impedimento
rio nacional como expulsão. de ingresso, identificada no momento da entrada
Art. 206. O requerimento de suspensão dos efei- no território nacional, que não possa ser repa-
tos e de revogação da medida de expulsão e de triada de imediato, será mantida em liberdade vi-
impedimento de ingresso e permanência no ter- giada até a sua devolução ao país de procedência
ritório nacional deverá ter por fundamento a ocor- ou de nacionalidade, quando essa necessidade for
rência de causa de inexpulsabilidade prevista no identificada pela Polícia Federal.
art. 193, caput, inciso II, alíneas a a d, quando não Art. 211. O delegado da Polícia Federal poderá
observada ou não existente no decorrer do pro- representar perante o juízo federal pela prisão ou
cesso administrativo. por outra medida cautelar, observado o disposto
§ 1º O requerimento a que se refere o caput po- no Título IX do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outu-
derá ser apresentado em representação diplomá- bro de 1941 (Código de Processo Penal).
99
§ 1º A medida cautelar aplicada vinculada à mo- em repartição consular poderá, a qualquer tempo,
bilidade do imigrante ou do visitante deverá ser desde que esteja residindo no País, promover
comunicada ao juízo federal e à repartição consu- ação de opção de nacionalidade.
lar do país de nacionalidade do preso e registrada Art. 215. O filho de pai ou mãe brasileira nascido
em sistema próprio da Polícia Federal.
no exterior e cujo registro estrangeiro de nasci-
§ 2º Na hipótese de o imigrante sobre quem
mento tenha sido transcrito diretamente em car-
recai a medida estar preso por outro motivo, o fato
tório competente no País terá a confirmação da na-
deverá ser comunicado ao juízo de execuções pe-
cionalidade vinculada à opção pela nacionalidade
nais competente, para determinar a apresentação
brasileira e pela residência no território nacional.
do deportando ou do expulsando à Polícia Federal.
§ 1º Depois de atingida a maioridade e até que
§ 3º O deportando ou o expulsando preso será
se faça a opção pela nacionalidade brasileira, a
informado de seus direitos, observado o disposto
condição de brasileiro nato ficará suspensa para
no inciso LXIII do caput do art. 5º da Constituição
todos os efeitos.
e, caso ele não informe o nome de seu defensor, a
§ 2º Feita a opção pela nacionalidade brasileira,
Defensoria Pública da União será notificada.
os efeitos da condição de brasileiro nato retroa-
Art. 212. O custeio das despesas com a retirada gem à data de nascimento do interessado.
compulsória correrá com recursos da União so-
Art. 216. A comprovação da opção pela naciona-
mente depois de esgotados todos os esforços
lidade brasileira ocorrerá por meio do registro da
para a sua efetivação com recursos da pessoa
sentença no Cartório de Registro Civil das Pessoas
sobre quem recair a medida, do transportador ou
Naturais, observado o disposto no art. 29, caput, in-
de terceiros.
ciso VII, da Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973.
Parágrafo único. A retirada compulsória às ex-
Parágrafo único. O órgão de registro deverá infor-
pensas da União conterá, para efeito de programa-
mar, periodicamente, os dados relativos à opção
ção financeira, o detalhamento prévio das despe-
pela nacionalidade brasileira à Polícia Federal.
sas com a efetivação da medida.
Art. 217. O registro consular de nascimento de-
CAPÍTULO XII
verá ser trasladado em Cartório de Registro Civil
DA NACIONALIDADE E DA NATURALIZAÇÃO
das Pessoas Naturais para gerar efeitos plenos
Seção I no território nacional, observado o disposto no
Da Opção pela Nacionalidade Brasileira art. 32 da Lei nº 6.015, de 1973.
Art. 213. A opção pela nacionalidade é o ato Seção II
pelo qual o brasileiro nascido no exterior e que Das Condições da Naturalização
não tenha sido registrado em repartição consular
Art. 218. A naturalização, cuja concessão é de
confirma, perante a autoridade judiciária compe-
competência exclusiva do Ministério da Justiça e
tente, a sua intenção de manter a nacionalidade
Segurança Pública, poderá ser:
brasileira.
I – ordinária;
§ 1º A opção de nacionalidade não importará a
II – extraordinária;
renúncia de outras nacionalidades.
III – especial; ou
§ 2º A opção de nacionalidade é ato personalís-
IV – provisória.
simo e deverá ocorrer por meio de procedimento
específico, de jurisdição voluntária, perante a Jus- Art. 219. Ato do Ministro de Estado da Justiça e
tiça Federal, a qualquer tempo, após atingida a Segurança Pública disporá sobre os documentos
maioridade civil. e as diligências necessários à comprovação dos
§ 3º A União sempre será ouvida no processo requisitos para a solicitação de cada tipo de natu-
de opção de nacionalidade por meio de citação ralização.
dirigida à Advocacia-Geral da União, observado Art. 220. Ato do Ministro de Estado da Justiça
o disposto no art. 721 da Lei nº 13.105, de 16 de e Segurança Pública concederá a naturalização,
março de 2015 (Código de Processo Civil). desde que satisfeitas as condições objetivas ne-
Art. 214. O filho de pai ou de mãe brasileira nas- cessárias à naturalização, consideradas requisito
cido no exterior e que não tenha sido registrado preliminar para o processamento do pedido.
100
DECRETO Nº 9.199, DE 20 DE NOVEMBRO DE 2017


Art. 221. Para fins de contagem dos prazos de IV – poderá apresentar outras informações que
residência mencionados nas exigências para ob- instruam a decisão quanto ao pedido de naturali-
tenção da naturalização ordinária e extraordiná- zação.
ria, serão considerados os períodos em que o imi- Parágrafo único. Na hipótese de naturalização
grante tenha passado a residir no País por prazo especial, a coleta dos dados biométricos prevista
indeterminado. no inciso I do caput será realizada pelo Ministério
Parágrafo único. A residência será considerada das Relações Exteriores.
fixa, para fins da naturalização provisória prevista
Art. 228. O procedimento de naturalização se en-
no art. 244, a partir do momento em que o imi-
cerrará no prazo de cento e oitenta dias, contado
grante passar a residir no País por prazo indeter-
da data do recebimento do pedido.
minado.
§ 1º Na hipótese de naturalização especial, a
Art. 222. A avaliação da capacidade do naturali- contagem do prazo se iniciará a partir do recebi-
zando de se comunicar em língua portuguesa será mento do pedido pelo Ministério da Justiça e Se-
regulamentada por ato do Ministro de Estado da gurança Pública.
Justiça e Segurança Pública. § 2º Caso sejam necessárias diligências para o
Parágrafo único. Para fins do disposto no inciso III procedimento de naturalização, o prazo previsto
do caput do art. 233 e no inciso II do caput do no caput poderá ser prorrogado por meio de ato
art. 241, as condições do naturalizando quanto à do Ministro de Estado da Justiça e Segurança Pú-
capacidade de comunicação em língua portugue- blica que fundamente a prorrogação.
sa considerarão aquelas decorrentes de deficiên-
Art. 229. O brasileiro que tenha optado pela na-
cia, nos termos da legislação vigente.
cionalidade brasileira ou aquele naturalizado que
Art. 223. O naturalizando poderá requerer a tra- tenha cumprido as suas obrigações militares no
dução ou a adaptação de seu nome à língua por- país de sua nacionalidade anterior fará jus ao Cer-
tuguesa. tificado de Dispensa de Incorporação.
Art. 224. O interessado que desejar ingressar com Art. 230. A naturalização produz efeitos após a
pedido de naturalização ordinária, extraordinária,
data da publicação no Diário Oficial da União do
provisória ou de transformação da naturalização
ato de naturalização.
provisória em definitiva deverá apresentar reque-
§ 1º Publicado o ato de naturalização no Diário
rimento em unidade da Polícia Federal, dirigido ao
Oficial da União, o Ministério da Justiça e Segu-
Ministério da Justiça e Segurança Pública.
rança Pública comunicará as naturalizações con-
Parágrafo único. Na hipótese de naturalização
cedidas, preferencialmente por meio eletrônico:
especial, a petição poderá ser apresentada a au-
I – ao Ministério da Defesa;
toridade consular brasileira, que a remeterá ao
II – ao Ministério das Relações Exteriores; e
Ministério da Justiça e Segurança Pública.
III – à Polícia Federal.
Art. 225. As notificações relacionadas com o pro- § 2º O registro do ato de concessão da naturali-
cesso de naturalização serão efetuadas preferen- zação será realizado, em sistema próprio do Minis-
cialmente por meio eletrônico. tério da Justiça e Segurança Pública, com o nome
Art. 226. Os Ministérios da Justiça e Segurança anterior e, caso exista, o traduzido ou o adaptado.
Pública e das Relações Exteriores tramitarão os Art. 231. No prazo de até um ano após a concessão
pedidos de naturalização por meio de sistema da naturalização, o naturalizado maior de dezoito
eletrônico integrado. anos e menor de setenta anos deverá comparecer
Art. 227. A Polícia Federal, ao processar o pedido perante a Justiça Eleitoral para o devido cadastra-
de naturalização: mento.
I – coletará os dados biométricos do naturali- Parágrafo único. A informação quanto à neces-
zando; sidade de comparecimento ou não perante a Jus-
II – juntará as informações sobre os anteceden- tiça Eleitoral constará da decisão de naturalização
tes criminais do naturalizando; publicada pelo Ministério da Justiça e Segurança
III – relatará o requerimento de naturalização; e Pública no Diário Oficial da União.
101
Art. 232. O prazo para apresentação de recurso III – demonstração do naturalizando de que se
na hipótese de indeferimento do pedido de natu- comunica em língua portuguesa, consideradas as
ralização será de dez dias, contado da data do re- suas condições;
cebimento da notificação. IV – apresentação de certidões de antecedentes
§ 1º O recurso deverá ser julgado no prazo de criminais expedidas pelos Estados onde tenha re-
sessenta dias, contado da data da sua interposição. sidido nos últimos quatro anos e, se for o caso, de
§ 2º A manutenção da decisão não impedirá a certidão de reabilitação; e
apresentação de novo pedido de naturalização, V – apresentação de atestado de antecedentes
desde que satisfeitas as condições objetivas ne- criminais expedido pelo país de origem.
cessárias à naturalização.
Art. 235. O prazo de residência mínimo estabele-
§ 3º Na hipótese de naturalização especial, o
cido no inciso II do caput do art. 233 será reduzido
prazo estabelecido no caput será contado da data
da notificação do requerente pelo Ministério das para um ano se o naturalizando preencher um dos
Relações Exteriores. seguintes requisitos:
I – ter filho brasileiro nato ou naturalizado, res-
Seção III
salvada a naturalização provisória; ou
Da Naturalização Ordinária
II – ter cônjuge ou companheiro brasileiro e não
Art. 233. No procedimento para a concessão de estar dele separado legalmente ou de fato no mo-
naturalização ordinária, deverão ser comprovados: mento de concessão da naturalização.
I – capacidade civil, segundo a lei brasileira;
Art. 236. O prazo de residência mínimo estabele-
II – residência no território nacional, pelo prazo
cido no inciso II do caput do art. 233 será reduzido
mínimo de quatro anos;
para dois anos se o naturalizando preencher um
III – capacidade de se comunicar em língua por-
tuguesa, consideradas as condições do naturali- dos seguintes requisitos:
zando; e I – ter prestado ou poder prestar serviço rele-
IV – inexistência de condenação penal ou com- vante ao País; ou
provação de reabilitação, nos termos da legisla- II – ser recomendo por sua capacidade profis-
ção vigente. sional, científica ou artística.
§ 1º O prazo de residência no território nacional Parágrafo único. A avaliação sobre a relevância
a que se refere o inciso II do caput deverá ser ime- do serviço prestado ou a ser prestado ao País e
diatamente anterior à apresentação do pedido. sobre a capacidade profissional, científica ou ar-
§ 2º Na contagem do prazo previsto no inciso II tística será realizada pelo Ministério da Justiça e
do caput, as viagens esporádicas do naturalizando Segurança Pública, que poderá consultar outros
ao exterior cuja soma dos períodos de duração órgãos da administração pública.
não ultrapassem o período de doze meses não im- Art. 237. Observado o disposto no art. 12, caput,
pedirão o deferimento da naturalização ordinária. inciso II, alínea a, da Constituição, para os imi-
§ 3º A posse ou a propriedade de bens no País
grantes originários de países de língua portuguesa
não será prova suficiente do requisito estabele-
serão exigidas:
cido no inciso II do caput, hipótese em que deverá
I – residência no País por um ano ininterrupto; e
ser comprovada a residência efetiva no País.
II – idoneidade moral.
§ 4º O Ministério da Justiça e Segurança Pública
consultará bancos de dados oficiais para compro- Seção IV
var o prazo de residência de que trata o inciso II Da Naturalização Extraordinária
do caput. Art. 238. A naturalização extraordinária será con-
Art. 234. O pedido de naturalização ordinária se cedida a pessoa de qualquer nacionalidade que
efetivará por meio da: tenha fixado residência no território nacional há
I – apresentação da Carteira de Registro Nacio- mais de quinze anos ininterruptos e sem conde-
nal Migratório do naturalizando; nação penal, ou já reabilitada na forma da legis-
II – comprovação de residência no território na- lação vigente, desde que requeira a nacionalidade
cional pelo prazo mínimo requerido; brasileira.
102
DECRETO Nº 9.199, DE 20 DE NOVEMBRO DE 2017


§ 1º O prazo de residência no território nacional tica ou repartição consular, cujo prazo de duração
a que se refere o caput deverá ser imediatamente seja inferior a seis meses.
anterior à apresentação do pedido.
Art. 241. No procedimento para a concessão da
§ 2º Na contagem do prazo previsto no caput, as
naturalização especial deverão ser comprovados:
viagens esporádicas do naturalizando ao exterior
I – capacidade civil, segundo a lei brasileira;
não impedirão o deferimento da naturalização ex-
II – capacidade de se comunicar em língua por-
traordinária.
tuguesa, consideradas as condições do naturali-
§ 3º A posse ou a propriedade de bens no País
zando; e
não será prova suficiente do requisito estabele-
III – inexistência de condenação penal ou com-
cido no caput, hipótese em que deverá ser com-
provação de reabilitação, nos termos da legisla-
provada a residência efetiva no País.
ção vigente.
§ 4º O Ministério da Justiça e Segurança Pública
poderá consultar bancos de dados oficiais para Art. 242. O pedido de naturalização especial se
comprovar o prazo de residência no País previsto efetivará por meio da:
no caput. I – apresentação de documento de identidade
civil válido do naturalizando;
Art. 239. O pedido de naturalização extraordiná-
II – demonstração do naturalizando de que se
ria se efetivará por meio da apresentação:
comunica em língua portuguesa, consideradas as
I – da Carteira de Registro Nacional Migratório
suas condições;
do naturalizando;
III – apresentação de atestado de antecedentes
II – de certidões de antecedentes criminais ex-
criminais expedido pelo país de origem e, se residir
pedidas pelos Estados onde tenha residido nos
em país diferente, também pelo país de residência.
últimos quatro anos e, se for o caso, de certidão
de reabilitação; e Art. 243. Ato conjunto dos Ministros de Estado da
III – de atestado de antecedentes criminais ex- Justiça e Segurança Pública e das Relações Exterio-
pedido pelo país de origem. res disporá sobre os documentos necessários para
a comprovação dos requisitos estabelecidos para a
Seção V
Da Naturalização Especial solicitação de naturalização especial.

Art. 240. A naturalização especial poderá ser con- Seção VI


cedida ao estrangeiro que se enquadre em uma Da Naturalização Provisória
das seguintes hipóteses: Art. 244. A naturalização provisória poderá ser
I – ser cônjuge ou companheiro, há mais de concedida ao migrante criança ou adolescente
cinco anos, de integrante do Serviço Exterior Bra- que tenha fixado residência no território nacional
sileiro em atividade ou de pessoa a serviço do Es- antes de completar dez anos de idade e deverá
tado brasileiro no exterior; ou ser requerida por intermédio de seu represen-
II – ser ou ter sido empregado em missão diplo- tante legal.
mática ou em repartição consular do País por mais
Art. 245. O pedido de naturalização provisória se
de dez anos ininterruptos.
efetivará por meio da apresentação:
§ 1º Para fins do disposto no inciso I do caput,
I – da Carteira de Registro Nacional Migratório
considera-se pessoa a serviço do Estado brasi-
do naturalizando; e
leiro aquela cujo ato de designação ou nomea-
II – de documento de identificação civil do re-
ção tenha sido feito por autoridade competente
presentante ou do assistente legal da criança ou
e publicado no Diário Oficial da União.
do adolescente.
§ 2º Serão computados na contagem do prazo
estabelecido no inciso II do caput os afastamentos Art. 246. A naturalização provisória será conver-
do empregado por motivo de: tida em definitiva se o naturalizando expressa-
I – férias; mente assim o requerer ao Ministério da Justiça
II – licença-maternidade ou licença-paternidade; e Segurança Pública no prazo de dois anos após
III – saúde; ou atingir a maioridade civil.
IV – licença, nos termos da legislação trabalhista § 1º Na avaliação do pedido de conversão de
do país em que esteja instalada a missão diplomá- que trata o caput, será exigida a apresentação
103
de certidões de antecedentes criminais expedi- Art. 251. Na hipótese de procedimento de perda
das pelos Estados onde o naturalizando tenha de nacionalidade instaurado a pedido do interes-
residido após completar a maioridade civil e, se sado, a solicitação deverá conter, no mínimo:
for o caso, de certidão de reabilitação. I – a identificação do interessado, com a devida
§ 2º O Ministério da Justiça e Segurança Pública documentação;
consultará bancos de dados oficiais para compro- II – o relato do fato motivador e a sua funda-
var a residência do naturalizando no País. mentação legal;
III – a documentação que comprove a incidên-
Seção VII
cia de hipótese de perda de nacionalidade, devi-
Da Igualdade de Direitos entre
damente traduzida, se for o caso;
Portugueses e Brasileiros
IV – endereço de correio eletrônico do interes-
Art. 247. O procedimento para solicitação de sado, se o possuir.
igualdade de direitos entre portugueses e brasi- § 1º O Ministério da Justiça e Segurança Pública
leiros a que se referem a Convenção de Reciproci- dará publicidade da decisão quanto à perda de
dade de Tratamento entre Brasileiros e Portugue- nacionalidade em seu sítio eletrônico, inclusive
ses, promulgada pelo Decreto nº 70.391, de 12 de quando houver interposição de recurso.
abril de 1972, e o Tratado de Amizade, Cooperação § 2º Caberá recurso da decisão a que se refere
e Consulta entre a República Federativa do Brasil o § 1º à instância imediatamente superior, no
e a República Portuguesa, promulgado pelo De- prazo de dez dias, contado da data da publicação
creto nº 3.927, de 19 de setembro de 2001, será no sítio eletrônico do Ministério da Justiça e Se-
previsto em ato do Ministro de Estado da Justiça gurança Pública.
e Segurança Pública. Art. 252. O Ministério da Justiça e Segurança Pú-
Seção VIII blica dará ciência da perda da nacionalidade:
Da Perda da Nacionalidade I – ao Ministério das Relações Exteriores;
II – ao Conselho Nacional de Justiça; e
Art. 248. O naturalizado perderá a nacionalidade
III – à Polícia Federal.
em razão de sentença transitada em julgado por
atividade nociva ao interesse nacional, nos ter- Art. 253. O risco de geração de situação de apa-
mos estabelecidos no art. 12, § 4º, inciso I, da tridia será considerado previamente à declaração
da perda da nacionalidade.
Constituição.
Parágrafo único. A sentença judicial que cance- Seção IX
lar a naturalização por atividade nociva ao inte- Da Reaquisição da Nacionalidade
resse nacional produzirá efeitos após o trânsito Art. 254. O brasileiro que houver perdido a nacio-
em julgado. nalidade, em razão do disposto no inciso II do § 4º
Art. 249. A perda da nacionalidade será declarada do art. 12 da Constituição, poderá, se cessada a
ao brasileiro que adquirir outra nacionalidade, ex- causa, readquiri-la ou ter revogado o ato que de-
ceto nas seguintes hipóteses: clarou a sua perda.
I – de reconhecimento de nacionalidade origi- § 1º Cessada a causa da perda de nacionalidade,
o interessado, por meio de requerimento endere-
nária pela lei estrangeira; e
çado ao Ministro da Justiça e Segurança Pública,
II – de imposição de naturalização, pela norma
poderá pleitear a sua reaquisição.
estrangeira, ao brasileiro residente em estado es-
§ 2º A reaquisição da nacionalidade brasileira
trangeiro, como condição para permanência em
ficará condicionada à:
seu território ou para o exercício de direitos civis.
I – comprovação de que possuía a nacionali-
Art. 250. A declaração da perda de nacionalidade dade brasileira; e
brasileira se efetivará por ato do Ministro de Es- II – comprovação de que a causa que deu razão
tado da Justiça e Segurança Pública, após proce- à perda da nacionalidade brasileira cessou.
dimento administrativo, no qual serão garantidos § 3º A cessação da causa da perda da nacionali-
os princípios do contraditório e da ampla defesa. dade brasileira poderá ser demonstrada por meio
104
DECRETO Nº 9.199, DE 20 DE NOVEMBRO DE 2017


de ato do interessado que represente pedido de com a participação de órgãos da administração


renúncia da nacionalidade então adquirida. pública com atuação nas áreas temáticas mencio-
§ 4º O ato que declarou a perda da nacionali- nadas nos incisos I, II, III e IV, com vistas a assistir
dade poderá ser revogado por decisão do Minis- as comunidades brasileiras no exterior; e
tro de Estado da Justiça e Segurança Pública caso VI – esforço permanente de desburocratização,
seja constatado que estava presente uma das ex- atualização e modernização do sistema de atendi-
ceções previstas nas alíneas a e b do inciso II do mento, com o objetivo de aprimorar a assistência
§ 4º do art. 12 da Constituição. ao emigrante.
§ 5º A decisão de revogação será fundamentada Art. 257. A assistência consular compreende:
por meio da comprovação de reconhecimento de I – o acompanhamento de casos de acidentes,
nacionalidade originária pela lei estrangeira ou hospitalização, falecimento e prisão no exterior;
de imposição de naturalização, o que poderá ser II – a localização e a repatriação de nacionais
realizado por qualquer meio permitido na legis- brasileiros; e
lação brasileira. III – o apoio em casos de conflitos armados e
§ 6º Os efeitos decorrentes da perda da naciona- catástrofes naturais.
lidade constarão da decisão de revogação. § 1º A assistência consular não compreende o
§ 7º O deferimento do requerimento de reaqui- custeio de despesas com sepultamento e traslado
sição ou a revogação da perda importará no resta- de corpos de nacionais que tenham falecido do
belecimento da nacionalidade originária brasileira. exterior, nem despesas com hospitalização, exce-
CAPÍTULO XIII tuados os itens médicos e o atendimento emer-
DO EMIGRANTE gencial em situações de caráter humanitário.
§ 2º A assistência consular observará as dispo-
Art. 255. O recrutamento, no território nacional,
sições do direito internacional e das leis locais do
de brasileiro para trabalhar no exterior em empresa
país em que a representação do País no exterior
estrangeira cujo capital social tenha participação
estiver sediada.
de empresa brasileira será regulamentado em ato
do Ministro de Estado do Trabalho. Art. 258. Caberá aos Ministérios das Relações
Exteriores e da Fazenda buscar garantir a isono-
Seção I
mia de tratamento aos brasileiros que, residentes
Das Políticas Públicas para os Emigrantes
no exterior, recebam suas aposentadorias e suas
Art. 256. As políticas públicas para os emigrantes pensões no âmbito de tratado sobre previdência
observarão os seguintes princípios e diretrizes: social de que o País seja parte.
I – proteção e prestação de assistência consular
Seção II
por meio das representações do País no exterior,
Dos Direitos do Emigrante
a fim de proteger os interesses dos nacionais bra-
sileiros; Art. 259. O emigrante que decidir retornar ao
II – promoção de condições de vida digna, por País com ânimo de residência poderá introduzir
meio, entre outros, da facilitação do registro con- no País, com isenção de direitos de importação e
sular e da prestação de serviços consulares relati- de taxas aduaneiras, os bens novos ou usados que
vos às áreas de educação, saúde, trabalho, previ- o viajante, em compatibilidade com as circunstân-
dência social e cultura; cias de sua viagem, puder destinar para o uso ou o
III – promoção de estudos e pesquisas sobre os consumo pessoal e profissional, sempre que, por
emigrantes e as comunidades de brasileiros no ex- sua quantidade, natureza ou variedade, não per-
terior, a fim de subsidiar a formulação de políticas mitam presumir importação ou exportação com
públicas; fins comerciais ou industriais.
IV – atuação diplomática, nos âmbitos bilateral, Art. 260. Na hipótese de ameaça à paz social e
regional e multilateral, em defesa dos direitos do à ordem pública por instabilidade institucional
emigrante brasileiro, conforme o direito interna- grave ou iminente ou de calamidade de grande
cional; proporção na natureza, deverá ser prestada as-
V – ação governamental integrada, sob a co- sistência especial ao emigrante pelas representa-
ordenação do Ministério das Relações Exteriores, ções brasileiras no exterior.
105
Parágrafo único. Em situação de instabilidade estrangeiros pelo território nacional, observado
política ou catástrofe natural, caberá ao Ministério o disposto na Lei nº 13.445, de 2017.
das Relações Exteriores avaliar a efetiva ameaça à Art. 265. Ato do Ministro de Estado da Justiça e Se-
integridade física dos brasileiros afetados por de-
gurança Pública disporá sobre os procedimentos
sastres naturais, ameaças e conturbações diversas
necessários para efetivar as extradições em que o
e avaliar as ações de apoio que se mostrem efeti-
Estado brasileiro figure no polo ativo ou passivo.
vamente necessárias.
Subseção I
Art. 261. O tripulante brasileiro contratado por Da Extradição Passiva
embarcação ou armadora estrangeira, de cabota-
gem ou a longo curso e com sede ou filial no País Art. 266. A extradição passiva ocorre quando o
que explore economicamente o mar territorial e a Estado estrangeiro solicita ao Estado brasileiro a
costa brasileira terá direito a seguro a cargo do con- entrega de pessoa que se encontre no território
tratante, válido para todo o período da contratação, nacional sobre quem recaia condenação criminal
conforme disposto no Registro de Embarcações definitiva ou para fins de instrução de processo
Brasileiras, contra acidente de trabalho, invalidez penal em curso.
total ou parcial e morte, sem prejuízo de benefícios Parágrafo único. O disposto no caput não im-
de apólice mais favorável vigente no exterior. pedirá a transferência temporária de pessoas sob
custódia para fins de auxílio jurídico mútuo, nos
CAPÍTULO XIV
termos de tratado ou de promessa de reciproci-
DAS MEDIDAS DE COOPERAÇÃO
VINCULADAS À MOBILIDADE dade de tratamento.

Seção I Art. 267. A extradição não será concedida quando:


Da Extradição I – o indivíduo cuja extradição seja solicitada ao
País for brasileiro nato;
Art. 262. A extradição é a medida de cooperação
II – o fato que motivar o pedido não for conside-
internacional entre o Estado brasileiro e outro Es-
rado crime no País ou no Estado requerente;
tado pela qual será concedida ou solicitada a en-
III – o País for competente, segundo as suas leis,
trega de pessoa sobre quem recaia condenação
para julgar o crime imputado ao extraditando;
criminal definitiva ou para fins de instrução de
IV – a lei brasileira impuser ao crime pena de
processo penal em curso.
prisão inferior a dois anos;
§ 1º A tramitação do pedido será feita por via
V – o extraditando estiver respondendo a proces-
diplomática ou pelas autoridades centrais desig-
so ou já houver sido condenado ou absolvido no
nadas para esse fim.
País pelo mesmo fato em que se fundar o pedido;
§ 2º A extradição e a sua rotina de comunicação
VI – a punibilidade estiver extinta pela prescrição,
serão realizadas pelo Ministério da Justiça e Se-
segundo a lei brasileira ou a do Estado requerente;
gurança Pública em coordenação com o Ministé-
VII – o fato constituir crime político ou de opinião;
rio das Relações Exteriores e com as autoridades
VIII – o extraditando tiver de responder, no Es-
judiciárias e policiais competentes.
tado requerente, perante tribunal ou juízo de ex-
Art. 263. São condições para concessão da extra- ceção; ou
dição: IX – o extraditando for beneficiário de refúgio,
I – o crime ter sido cometido no território do nos termos da Lei nº 9.474, de 1997, ou de asilo
Estado requerente ou serem aplicáveis ao extra- territorial.
ditando as leis penais desse Estado; e § 1º A hipótese prevista no inciso VII do caput
II – o extraditando estar respondendo a pro- não impedirá a extradição quando o fato consti-
cesso investigatório ou a processo penal ou ter tuir, principalmente, infração à lei penal comum
sido condenado pelas autoridades judiciárias do ou quando o crime comum, conexo ao delito po-
Estado requerente à pena privativa de liberdade lítico, constituir o fato principal.
superior a dois anos. § 2º A apreciação do caráter da infração caberá
Art. 264. Compete ao Ministério da Justiça e Se- ao Supremo Tribunal Federal.
gurança Pública a autorização de trânsito de pes- § 3º Para determinar a incidência da hipótese
soas extraditadas por pedido de outros Estados prevista no inciso I do caput, a anterioridade do
106
DECRETO Nº 9.199, DE 20 DE NOVEMBRO DE 2017


fato gerador da extradição será observada nos plomática ou pelas autoridades centrais ao Estado
casos de aquisição de outra nacionalidade por requerente, que, no prazo de sessenta dias, con-
naturalização. tado da data da ciência da comunicação, deverá
§ 4º O Supremo Tribunal Federal poderá deixar retirar o extraditando do território nacional.
de considerar crime político: Art. 272. Se o extraditando estiver respondendo
I – atentado contra chefe de Estado ou outras a processo ou tiver sido condenado no País por
autoridades; crime punível com pena privativa de liberdade, a
II – crime contra a humanidade; extradição apenas será executada após a conclu-
III – crime de guerra; são do processo ou o cumprimento total da pena,
IV – crime de genocídio; e exceto nas seguintes hipóteses:
V – ato de terrorismo. I – liberação antecipada do extraditando pelo
§ 5º A extradição de brasileiro naturalizado pela Poder Judiciário; ou
prática de crime comum antes da naturalização II – solicitação do extraditando para ser transfe-
ou o envolvimento em tráfico ilícito de entorpe- rido para cumprir o restante da pena em seu país
centes e drogas afins independerá da perda da de origem ou no país onde possuía residência ha-
nacionalidade. bitual ou possua vínculo pessoal.
Art. 268. O extraditando poderá entregar-se vo- Art. 273. Se o Estado requerente não retirar o
luntariamente ao Estado requerente, desde que extraditando do território nacional no prazo esta-
o declare expressamente, esteja assistido por belecido no art. 272, ele será posto em liberdade,
advogado e seja advertido de que tem direito ao sem prejuízo de outras medidas aplicáveis.
processo judicial de extradição e à proteção que
tal direito encerra, hipótese em que o pedido será Art. 274. A entrega do extraditando não será efe-
decidido pelo Supremo Tribunal Federal. tivada sem que o Estado requerente assuma o
compromisso de:
Art. 269. O pedido de extradição originário de I – não submeter o extraditando a prisão ou a
Estado estrangeiro será recebido pelo Ministé- processo por fato anterior ao pedido de extradição;
rio da Justiça e Segurança Pública e, após o exa- II – computar o tempo de prisão que, no País,
me da presença dos pressupostos formais de tenha sido imposta por força da extradição;
admissibilidade exigidos na Lei nº 13.445, de 2017, III – comutar a pena corporal, perpétua ou de
ou em tratado de que o País seja parte, será enca- morte em pena privativa de liberdade, respeitado
minhado ao Supremo Tribunal Federal. o limite máximo de cumprimento de trinta anos;
§ 1º Os compromissos de que trata o art. 274 de- IV – não entregar o extraditando, sem consenti-
verão ser apresentados no ato de formalização do mento do País, a outro Estado que o reclame;
pedido pelo Estado requerente. V – não considerar qualquer motivo político
§ 2º Não preenchidos os pressupostos de que para agravar a pena; e
trata este artigo, o pedido será arquivado mediante VI – não submeter o extraditando a tortura ou a
decisão fundamentada, sem prejuízo da possibili- outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos
dade de renovação do pedido, devidamente ins- ou degradantes.
truído, uma vez superado o óbice apontado.
Art. 275. Em caso de urgência, o Estado interes-
Art. 270. Nenhuma extradição será concedida sado na extradição poderá, prévia ou conjunta-
sem prévio pronunciamento do Supremo Tribunal mente com a formalização do pedido de extra-
Federal sobre sua legalidade e sua procedência. dição, requerer, por via diplomática ou por meio
Parágrafo único. Não caberá recurso da decisão de autoridade central, no âmbito do Ministério
proferida pelo Supremo Tribunal Federal. da Justiça e Segurança Pública, prisão cautelar
Art. 271. Julgada procedente a extradição pelo com o objetivo de assegurar a executoriedade da
Supremo Tribunal Federal, o Ministério da Justiça medida de extradição, hipótese em que caberá à
e Segurança Pública avaliará se o estrangeiro cum- autoridade central, após o exame da presença dos
pre os requisitos para ser extraditado. pressupostos formais de admissibilidade exigidos
Parágrafo único. Em caso positivo, o cumpri- na Lei nº 13.445, de 2017, ou em tratado de que o
mento dos requisitos será comunicado por via di- País seja parte, representar ao Supremo Tribunal
107
Federal, que ouvirá previamente o Ministério Pú- premo Tribunal Federal a data do cumprimento da
blico Federal. medida e o local onde o extraditando ficará cus-
§ 1º O pedido de prisão cautelar deverá conter todiado no País, hipótese em que o preso ficará à
informação sobre o crime cometido e deverá ser disposição daquele Tribunal.
fundamentado, o qual poderá ser apresentado Subseção II
por correio, fax, mensagem eletrônica ou qual- Da Extradição Ativa
quer outro meio que assegure a comunicação por
Art. 278. A extradição ativa ocorre quando o Es-
escrito.
tado brasileiro requer a Estado Estrangeiro a en-
§ 2º Na ausência de tratado, o Ministério das
trega de pessoa sobre quem recaia condenação
Relações Exteriores será provocado pelo Ministé-
criminal definitiva ou para fins de instrução de
rio da Justiça e Segurança Pública para obtenção,
processo penal em curso.
junto ao país requerente, da promessa de recipro-
Parágrafo único. O disposto no caput não im-
cidade de tratamento necessária à instrução do
pedirá a transferência temporária de pessoas sob
pedido de prisão.
custódia para fins de auxílio jurídico mútuo, nos
§ 3º O pedido de prisão cautelar poderá ser
termos de tratado ou de promessa de reciproci-
transmitido ao Supremo Tribunal Federal para
dade de tratamento.
extradição no País por meio de canal estabele-
cido com o ponto focal da Interpol no País, devi- Art. 279. O pedido que possa originar processo
damente instruído com a documentação compro- de extradição perante Estado estrangeiro deverá
batória da existência de ordem de prisão proferida ser encaminhado ao Ministério da Justiça e Segu-
por Estado estrangeiro, e, na ausência de tratado, rança Pública diretamente pelo órgão do Poder
com a promessa de reciprocidade de tratamento Judiciário responsável pela decisão ou pelo pro-
recebida por via diplomática. cesso penal que a fundamenta.
§ 4º Efetivada a prisão do extraditando, o pe- § 1º Compete ao Ministério da Justiça e Segu-
dido de extradição será encaminhado ao Supremo rança Pública o papel de orientação, de informa-
Tribunal Federal. ção e de avaliação dos elementos formais de ad-
§ 5º Na ausência de disposição específica em missibilidade dos processos preparatórios para
convenção ou tratado internacional, o Estado es- encaminhamento ao Estado requerido, por via
trangeiro deverá formalizar o pedido de extradição diplomática ou por via de autoridades centrais.
no prazo de sessenta dias, contado da data em que § 2º Compete exclusivamente ao órgão do
tiver sido cientificado da prisão do extraditando. Poder Judiciário responsável pelo processo penal
§ 6º A prisão cautelar poderá ser prorrogada até o encaminhamento do pedido de extradição ativa
o julgamento final da autoridade judiciária com- para o Ministério da Justiça e Segurança Pública
petente quanto à legalidade do pedido de extra- devidamente instruído, acompanhado da tradu-
dição, resguardada a manutenção da prisão até a ção juramentada.
entrega efetiva do extraditando ao Estado estran- § 3º Caso o pedido de extradição ativa seja en-
geiro, observado o disposto nos art. 92 e art. 93 da caminhado diretamente ao Ministério das Rela-
Lei nº 13.445, de 2017. ções Exteriores, este deverá necessariamente re-
transmiti-lo ao Ministério da Justiça e Segurança
Art. 276. Ao ser comunicado pelo Supremo Tri-
Pública, a fim de ser realizado o juízo prévio de
bunal Federal a respeito da decisão sobre a con-
admissibilidade.
cessão de prisão cautelar, o Ministério da Justiça
§ 4º O Ministério da Justiça e Segurança Pú-
e Segurança Pública deverá:
blica poderá notificar os órgãos do sistema de
I – se deferida a prisão, dar cumprimento à
Justiça vinculados ao processo gerador do pe-
ordem e comunicar o Estado requerente, sem pre- dido de extradição, a fim de que tais órgãos via-
juízo das comunicações entre as congêneres da bilizem a apresentação ao juízo competente dos
Interpol, realizadas por seu canal oficial; ou documentos, das manifestações e dos demais ele-
II – se denegada a prisão, comunicar pronta- mentos necessários para o processamento do pe-
mente o Estado requerente. dido, acompanhado das traduções oficiais.
Art. 277. Efetivada a prisão, o Ministério da Jus- § 5º O encaminhamento do pedido de extradi-
tiça e Segurança Pública deverá informar ao Su- ção pelo órgão do Poder Judiciário responsável
108
DECRETO Nº 9.199, DE 20 DE NOVEMBRO DE 2017


pelo processo penal ao Ministério da Justiça e Seção III


Segurança Pública confere autenticidade aos do- Da Transferência de Pessoa Condenada
cumentos. Art. 285. A transferência da pessoa condenada,
Art. 280. O Ministério da Justiça e Segurança Pú- mecanismo de cooperação jurídica internacio-
blica realizará o exame da presença dos pressu- nal de natureza humanitária que visa a contribuir
postos formais de admissibilidade exigidos em lei para a reintegração social do beneficiado, poderá
ou em tratado e, caso atendidos, providenciará o ser concedida quando o pedido for fundamentado
encaminhamento imediato do pedido de prisão em tratado de que o País faça parte ou houver pro-
ou de extradição ao Estado requerido, por via di- messa de reciprocidade de tratamento.
plomática ou por via de autoridades centrais. § 1º O condenado no território nacional pode-
rá ser transferido para o seu país de nacionalida-
Seção II
Da Transferência de Execução da Pena de ou para o país em que tiver residência habitual
ou vínculo pessoal, desde que expresse interes-
Art. 281. Nas hipóteses em que couber solicitação se nesse sentido, a fim de cumprir a pena a ele
de extradição executória, o Ministério da Justiça imposta pelo Estado brasileiro por sentença tran-
e Segurança Pública exercerá a função de autori- sitada em julgado.
dade central e realizará o exame da presença dos § 2º A transferência da pessoa condenada no
pressupostos formais de admissibilidade exigidos País poderá ser concedida juntamente com a apli-
na legislação brasileira ou em tratado de que o País cação de medida de impedimento de reingresso
faça parte, a fim de que o pedido de transferência no território nacional.
de execução da pena possa ser processado peran- § 3º Compete ao Ministério da Justiça e Segu-
te as autoridades brasileiras competentes, desde rança Pública o processamento e a autorização
que observado o princípio do non bis in idem. das transferências de pessoas condenadas, além
Art. 282. São requisitos para a transferência de da análise técnica dos processos de negociação
execução de pena: e ampliação da rede de tratados internacionais
I – o condenado em território estrangeiro ser sobre a matéria, em coordenação com o Ministé-
nacional ou ter residência habitual ou vínculo rio das Relações Exteriores.
pessoal no País; § 4º Nas hipóteses de transferência, a Polícia
II – a sentença ter transitado em julgado; Federal providenciará o registro de dados biográ-
III – a duração da condenação a cumprir ou que ficos e biométricos do condenado, do qual cons-
restar para cumprir ser de, no mínimo, um ano na tarão a coleta de impressões digitais e fotografia.
data da apresentação do pedido ao Estado da con- Art. 286. A responsabilidade pela aplicação e pela
denação; administração continuada da pena deverá passar
IV – o fato que originou a condenação constituir do Estado remetente para o Estado recebedor
infração penal perante a lei de ambas as partes; e assim que a pessoa condenada for formalmente
V – a transferência ser baseada em tratado ou entregue à custódia das autoridades do Estado
promessa de reciprocidade de tratamento. recebedor.
Art. 283. O pedido será recebido pelo Ministé- § 1º Quando a pessoa condenada for entregue
rio da Justiça e Segurança Pública, que, após o à custódia das autoridades do Estado recebedor,
exame da presença dos pressupostos formais de a aplicação da sentença pelo Estado remetente
admissibilidade exigidos na legislação brasileira cessará.
ou em tratado de que o País faça parte, encami- § 2º Na hipótese de pessoa condenada transfe-
nhará a solicitação ao Superior Tribunal de Justiça rida que retorne ao Estado remetente depois do
para decisão quanto à homologação da sentença término do cumprimento da sentença no Estado
estrangeira. recebedor, o Estado remetente não deverá apli-
Art. 284. Ato do Ministro de Estado da Justiça e cará novamente a sentença original.
Segurança Pública definirá os procedimentos ne- Art. 287. O Ministério da Justiça e Segurança Pú-
cessários para efetuar as transferências de exe- blica manterá contato com o juízo competente
cução de pena, sejam aquelas solicitadas, sejam no território nacional ou com a autoridade cen-
aquelas autorizadas pelo Estado brasileiro. tral do Estado recebedor, conforme o caso, para
109
monitorar a aplicação continuada da sentença de- III – a duração da condenação a cumprir ou que
pois da transferência. restar para cumprir ser de, no mínimo, um ano na
Art. 288. A aplicação da pena será regida pela data da apresentação do pedido ao Estado da con-
lei do Estado recebedor, inclusive quanto às for- denação;
mas de extinção da punibilidade, exceto se pre- IV – o fato que originou a condenação constituir
visto de maneira diversa em tratado de que o País infração penal perante a lei de ambos os Estados;
seja parte. V – haver manifestação de vontade do condena-
do ou, quando for o caso, de seu representante; e
Art. 289. Nenhuma pessoa condenada será trans-
VI – haver concordância de ambos os Estados.
ferida, a menos que a sentença seja de duração e
§ 1º O Ministério da Justiça e Segurança Pública
natureza exequíveis ou que tenha sido adaptada
poderá atuar junto ao Poder Judiciário, aos esta-
a duração exequível no Estado recebedor por suas
belecimentos penitenciários, às repartições diplo-
autoridades competentes, nos termos da legisla-
máticas ou consulares e ao Estado recebedor, por
ção interna.
via diplomática ou por via de autoridades centrais,
Parágrafo único. O Ministério da Justiça e Segu-
e a outros órgãos envolvidos, a fim de obter in-
rança Pública, no acompanhamento da aplicação
formações quanto ao atendimento aos requisitos
da pena, atentará para que o Estado recebedor
estabelecidos no caput.
não agrave, de qualquer modo, a pena imposta
§ 2º Na hipótese de não haver sentença transi-
no Estado remetente, observada a legislação do
tada em julgado, o processo será sobrestado até
Estado remetente.
a sentença condenatória definitiva.
Art. 290. Ato do Ministro de Estado da Justiça e § 3º Caso os demais requisitos estabelecidos
Segurança Pública disporá sobre os procedimen- no caput além daquele a que se refere o § 2º não
tos necessários para efetivar a transferência de sejam atendidos, o processo será arquivado e o in-
pessoas condenadas. teressado será comunicado imediatamente, sem
Subseção I prejuízo de nova solicitação de transferência.
Da Transferência Passiva
Art. 294. O pedido de transferência será funda-
Art. 291. A transferência passiva ocorre quando a mentado em tratado de que o País seja parte ou,
pessoa condenada pela Justiça brasileira solicitar na sua ausência, em promessa de reciprocidade
ou concordar com a transferência para o seu país de tratamento.
de nacionalidade ou para o país em que tiver resi- Parágrafo único. A promessa de reciprocidade
dência habitual ou vínculo pessoal para cumprir de tratamento será solicitada, por via diplomática,
o restante da pena. ao Estado recebedor pelo Ministério das Relações
Art. 292. O processo de transferência passiva Exteriores.
de pessoa condenada somente será iniciado por Art. 295. Ato do Ministro de Estado da Justiça e
meio de solicitação ao Ministério da Justiça e Se- Segurança Pública disporá sobre a documentação
gurança Pública feita: necessária à instrução dos processos, considera-
I – pela pessoa condenada; ou dos os tratados e os compromissos assumidos por
II – por qualquer pessoa ou autoridade, brasi- reciprocidade de tratamento.
leira ou estrangeira, que tenha conhecimento do
Subseção II
interesse da pessoa condenada em ser transferida.
Da Transferência Ativa
Art. 293. Apresentado o pedido de transferência
Art. 296. A transferência ativa ocorre quando a
de pessoa condenada, o Ministério da Justiça e Se-
pessoa condenada pela Justiça do Estado estran-
gurança Pública verificará o preenchimento dos
geiro solicitar ou concordar com a transferência
seguintes requisitos:
para o País, por possuir nacionalidade brasileira
I – o condenado no território de uma das partes
ou residência habitual ou vínculo pessoal no ter-
ser nacional ou ter residência habitual ou vínculo
ritório nacional, para cumprir o restante da pena.
pessoal no território da outra parte que justifique
a transferência; Art. 297. O processo de transferência ativa de pes-
II – a sentença ter transitado em julgado; soa condenada somente será iniciado por meio de
110
DECRETO Nº 9.199, DE 20 DE NOVEMBRO DE 2017


solicitação ao Ministério da Justiça e Segurança ção dos processos, considerados os tratados e os


Pública feita: compromissos assumidos por reciprocidade.
I – pela pessoa condenada; ou
CAPÍTULO XV
II – por qualquer pessoa ou autoridade, brasi- DAS INFRAÇÕES E DAS PENALIDADES
leira ou estrangeira, que tenha conhecimento do ADMINISTRATIVAS
interesse da pessoa condenada em ser transferida.
Art. 300. As infrações administrativas previstas
Art. 298. Apresentado o pedido de transferência neste Capítulo serão apuradas em procedimento
de pessoa condenada, o Ministério da Justiça e Se- administrativo próprio, assegurados os princípios
gurança Pública verificará o preenchimento dos do contraditório e da ampla defesa e observadas as
seguintes requisitos: disposições da Lei nº 13.445, de 2017, deste regula-
I – o condenado no território de uma das partes mento, e subsidiariamente, da Lei nº 9.784, de 1999.
ser nacional ou ter residência habitual ou vínculo § 1º O cometimento simultâneo de duas ou
pessoal no território da outra parte que justifique mais infrações importará a cumulação das san-
a transferência; ções cabíveis, respeitados os limites estabelecidos
II – a sentença ter transitado em julgado; nos incisos V e VI do caput do art. 301.
III – a duração da condenação a cumprir ou que § 2º A multa atribuída por dia de atraso ou por
restar para cumprir ser de, no mínimo, um ano na excesso de permanência poderá ser convertida
data da apresentação do pedido ao Estado da con- em redução equivalente do prazo de estada do
denação; visto de visita, na hipótese de nova entrada no
IV – o fato que originou a condenação constituir País, conforme disposto em ato do dirigente má-
infração penal perante a lei de ambos os Estados; ximo da Polícia Federal.
V – haver manifestação de vontade do condena- § 3º O pagamento da multa não obstará o impe-
do ou, quando for o caso, de seu representante; e
dimento de ingresso no País se o visitante já hou-
VI – haver concordância de ambos os Estados.
ver excedido o prazo de estada disponível no ano
§ 1º O Ministério da Justiça e Segurança Pública
migratório, observado o disposto no inciso XI do
informará ao juízo competente da Justiça Federal
caput do art. 171.
sobre o pedido de transferência recebido, para
que a vaga em estabelecimento prisional onde a Art. 301. Para a definição do valor da multa apli-
pessoa condenada cumprirá o restante da pena cada, a Polícia Federal considerará:
no território nacional seja providenciada. I – as hipóteses individualizadas na Lei nº 13.445,
§ 2º O Ministério da Justiça Segurança Pública de 2017;
poderá atuar junto ao Poder Judiciário, aos esta- II – a condição econômica do infrator, a reinci-
belecimentos penitenciários, às repartições diplo- dência e a gravidade da infração;
máticas ou consulares, às Secretarias Estaduais de III – a atualização periódica conforme estabe-
Segurança Pública, ao Estado remetente, por via lecido em ato do Ministro de Estado da Justiça e
diplomática ou por via de autoridades centrais, e Segurança Pública;
aos demais órgãos envolvidos, a fim de obter in- IV – o valor mínimo individualizável de R$ 100,00
formações quanto ao atendimento aos requisitos (cem reais);
estabelecidos no caput. V – o valor mínimo de R$ 100,00 (cem reais) e o
§ 3º Na hipótese de não haver sentença transi- valor máximo de R$ 10.000,00 (dez mil reais) para
tada em julgado, o processo será sobrestado até infrações cometidas por pessoa física; e
a sentença condenatória definitiva. VI – o valor mínimo de R$ 1.000,00 (mil reais)
§ 4º Caso os demais requisitos estabelecidos e o valor máximo de R$ 1.000.000,00 (um milhão
no caput além daquele a que se refere o § 3º não de reais) para infrações cometidas por pessoa ju-
sejam atendidos, o processo será arquivado e o in- rídica, por ato infracional.
teressado será comunicado imediatamente, sem Art. 302. A pessoa física ou jurídica que voltar
prejuízo de nova solicitação de transferência. a cometer infração disciplinada no art. 307, no
Art. 299. O Ministério da Justiça e Segurança Pú- prazo de doze meses, será considerada reinci-
blica definirá a documentação necessária à instru- dente em qualquer parte do território nacional.
111
Art. 303. A fixação do valor mínimo individualizá- II – permanecer no território nacional depois de
vel das multas na hipótese de reincidência obede- encerrado o prazo da documentação migratória:
cerá aos seguintes critérios: Sanção: multa por dia de excesso e deportação,
I – na primeira reincidência, o valor será dobrado; caso não saia do País ou não regularize a situação
II – na segunda reincidência, o valor será tripli- migratória no prazo estabelecido;
cado; III – deixar de se registrar, no prazo de noventa
III – na terceira reincidência, o valor será qua- dias, contado da data do ingresso no País, quando
druplicado; e a identificação civil for obrigatória:
IV – da quarta reincidência em diante, o valor Sanção: multa;
será quintuplicado. IV – deixar o imigrante de se registrar, para
§ 1º O critério utilizado para a pessoa jurídica efeito de autorização de residência, no prazo de
na aferição da reincidência será a repetição da trinta dias, quando orientado pelo órgão compe-
conduta e não o número de estrangeiros autuados. tente a fazê-lo:
§ 2º A autuação ocorrida após transcorrido um Sanção: multa por dia de atraso;
ano, contado da data da autuação anterior, será V – transportar para o País pessoa que esteja
desconsiderada para efeitos de reincidência. sem documentação migratória regular:
Sanção: multa por pessoa transportada;
Art. 304. A multa decorrente de infração discipli-
VI – deixar o transportador de atender a com-
nada no art. 307 prescreverá no prazo de cinco
promisso de manutenção da estada ou de promo-
anos, contado da data da prática do ato, ou, na
ção da saída do território nacional de quem tenha
hipótese de infração permanente ou continuada,
sido autorizado a ingresso condicional no País por
contado da data em que houver cessado.
não possuir a documentação migratória devida:
Art. 305. A fixação da pena de multa considerará Sanção: multa; e
a situação econômica do autuado, observada as VII – furtar-se ao controle migratório, na entrada
hipóteses previstas para pessoa física e jurídica. ou na saída do território nacional:
Parágrafo único. O valor da multa poderá ser au- Sanção: multa.
mentado até o máximo previsto em lei se a auto-
Art. 308. As penalidades aplicadas serão objeto
ridade autuadora considerar que, em decorrência
de pedido de reconsideração e de recurso, nos
da situação econômica do autuado, a aplicação
termos deste regulamento e de ato do dirigente
do valor mínimo individualizável será considerada
máximo da Polícia Federal.
ineficaz.
Parágrafo único. Serão respeitados o contra-
Art. 306. Poderão ser considerados como gravi- ditório, a ampla defesa e a garantia de recurso,
dade para a fixação da multa: assim como a situação de hipossuficiência do mi-
I – os fatos e as circunstâncias diretamente rela- grante ou do visitante.
cionadas ao cometimento da infração;
Art. 309. As infrações administrativas com sanção
II – a infração tenha sido cometida após o re-
de multa previstas neste Capítulo serão apuradas
cebimento de esclarecimentos ou comando di-
em processo administrativo, o qual terá como fun-
reto prestados previamente pela autoridade mi-
damento o auto de infração lavrado pela Polícia
gratória; e
Federal.
III – a destruição de barreira ou o obstáculo di-
§ 1º O auto de infração deverá relatar, de forma
retamente relacionado com o cometimento da
circunstanciada, a infração e a sua fundamenta-
infração.
ção legal.
Art. 307. Constitui infração e sujeita o infrator às § 2º O auto de infração será submetido à assi-
seguintes sanções: natura do autuado ou do seu representante legal
I – entrar no território nacional sem estar au- após a assinatura pela autoridade responsável
torizado: pela autuação.
Sanção: deportação, caso não saia do País ou § 3º Caso o autuado ou o seu representante legal
não regularize a situação migratória no prazo es- não possa ou se recuse a assinar o auto de infração,
tabelecido; esse fato deverá ser registrado no referido auto.
112
DECRETO Nº 9.199, DE 20 DE NOVEMBRO DE 2017


§ 4º Lavrado o auto de infração, o infrator será derá solicitar documentação complementar para
considerado notificado para apresentar defesa no fins de comprovação dessa condição.
prazo de dez dias. § 3º Na hipótese de falsidade da declaração
§  5º O infrator que, regularmente notificado, de que trata o § 1º, o solicitante ficará sujeito ao
não apresentar defesa será considerado revel. pagamento de taxa ou emolumento consular cor-
§ 6º O infrator poderá, por meios próprios ou respondente e às sanções administrativas, civis e
por meio de defensor constituído, apresentar de- penais aplicáveis.
fesa no prazo estabelecido no § 4º, e fazer uso dos § 4º Para fins de isenção de taxas e emolumen-
meios e dos recursos admitidos em direito, inclu- tos consulares para concessão de visto, as pessoas
sive tradutor ou intérprete. para as quais o visto temporário para acolhida
§ 7º Encerrado o prazo estabelecido no § 4º, o humanitária seja concedido serão consideradas
processo será julgado e a Polícia Federal dará publi- pertencentes a grupos vulneráveis, nos termos
cidade da decisão proferida em seu sítio eletrônico. estabelecidos em ato conjunto dos Ministros de
§ 8º Caberá recurso da decisão de que trata o § 7º Estado da Justiça e Segurança Pública, das Rela-
à instância imediatamente superior, no prazo de ções Exteriores e do Trabalho.
dez dias, contado da data da publicação no sítio § 5º Para fins de isenção de taxas para obten-
eletrônico da Polícia Federal. ção de documentos de regularização migratória,
§ 9º Na hipótese de decisão final com sanção de os menores desacompanhados, as vítimas de trá-
multa, a Polícia Federal dará publicidade da deci- fico de pessoas e de trabalho escravo e as pessoas
são em seu sítio eletrônico. beneficiadas por autorização de residência por
§ 10. O infrator deverá realizar o pagamento da acolhida humanitária serão consideradas perten-
multa no prazo de trinta dias, contado data da pu- centes a grupos vulneráveis.
blicação a que se refere o § 9º. § 6º A avaliação da condição de hipossuficiên-
§ 11. O processo será encaminhado à Procura- cia para fins de processamento do pedido de visto
doria-Geral da Fazenda Nacional para a apuração será disciplinada pelo Ministério das Relações Ex-
do débito e a inscrição em dívida ativa se o pa- teriores, consideradas, em especial, as peculia-
gamento da multa a que se refere o § 10 não for ridades do local onde o visto for solicitado.
efetuado. § 7º A avaliação da condição de hipossuficiência
econômica para fins de isenção de taxas e para
Art. 310. As infrações administrativas com sanção
pedido de obtenção de documentos de regulari-
de deportação previstas neste Capítulo serão apu-
zação migratória será disciplinada pelo Ministério
radas conforme o processo administrativo a que
da Justiça e Segurança Pública.
se refere o art. 176.
§ 8º O disposto no caput também se aplica às
Art. 311. A saída do território nacional da pessoa multas previstas no Capítulo XV.
sobre a qual tenha sido aberto processo para apu-
Art. 313. Ato do Ministro de Estado da Justiça e
ração de infração administrativa não interromperá
Segurança Pública disporá sobre a notificação ele-
o curso do referido processo.
trônica a que se referem a Lei nº 13.445, de 2017,
CAPÍTULO XVI e este Decreto.
DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
Art. 314. O Anexo ao Decreto nº 9.150, de 4 de se-
Art. 312. Taxas e emolumentos consulares não tembro de 2017, passa a vigorar com as seguintes
serão cobrados pela concessão de vistos ou para alterações:
a obtenção de documentos para regularização mi- Art. 13. [...]
gratória aos integrantes de grupos vulneráveis e VIII – instruir processos e opinar em tema de re-
aos indivíduos em condição de hipossuficiência conhecimento, cassação e perda da condição de
econômica. refugiado, autorizar a saída e o reingresso no País
§ 1º A condição de hipossuficiência econômica e expedir o documento de viagem;
[...]
será declarada pelo solicitante, ou por seu represen-
tante legal, e avaliada pela autoridade competente. Art. 315. O visto emitido até a data de entrada
§ 2º Na hipótese de dúvida quanto à condição em vigor da Lei nº 13.445, de 2017, poderá ser uti-
de hipossuficiência, a autoridade competente po- lizado até a data prevista para a expiração de sua
113
validade e poderá ser transformado ou ter o seu § 4º Os vistos emitidos com fundamento na Lei
prazo de estada prorrogado. nº 6.815, de 1980, poderão ser transformados em
§ 1º Excepcionalmente, na hipótese de vistos autorização de residência ou em visto diplomático,
que dependam de autorização prévia do Ministé- oficial ou de cortesia, quando for o caso, no terri-
rio do Trabalho, a base legal para a sua emissão tório nacional, desde que cumpridos os requisitos
será aquela em vigor na data de início da tramita- estabelecidos neste Decreto.
ção do processo junto ao Ministério do Trabalho, Art. 316. O disposto no art. 315 se aplica, no que
para fins de definição, dentre outros, de tipologia couber, aos procedimentos de controle migratório,
e de prazos do visto, observado o seguinte: renovação de prazo de estada e registro realizados
I – a emissão de vistos com fundamento na Lei pela Polícia Federal.
nº 6.815, de 19 de agosto de 1980, será realizada Parágrafo único. As residências temporárias e
apenas nas hipóteses em que o pedido de visto as permanências requeridas até a data de entrada
seja apresentado a embaixada ou consulado no em vigor da Lei nº 13.445, de 2017, poderão ser
prazo de noventa dias, contado da data da publi- consideradas como autorizações de residência
cação da autorização emitida pelo Ministério do previstas neste Decreto, desde que preenchidos os
Trabalho no Diário Oficial da União; requisitos da modalidade de residência requerida,
II – o pedido de visto apresentado após o prazo nos termos da referida Lei e deste regulamento.
estabelecido no inciso I terá fundamento na Lei
nº 13.445, de 2017, para fins de definição, dentre Art. 317. Os órgãos responsáveis pela implemen-
outros, de tipologia e de prazos do visto; e tação das disposições deste Decreto disporão do
III – nas hipóteses previstas no inciso II, o visto prazo de doze meses, contado da data de sua pu-
será concedido com fundamento na Lei nº 13.445, blicação, para a adaptação de procedimentos e
de 2017, e deverá corresponder ao objetivo da via- sistemas.
gem, conforme emitida pelo Ministério do Trabalho. Art. 318. Ato conjunto dos Ministros de Estado das
§ 2º O pedido de visto apresentado a embai- Relações Exteriores e do Trabalho disporá sobre o
xada ou consulado até a data de entrada em vigor funcionamento do sistema eletrônico integrado
da Lei nº 13.445, de 2017, será processado com para processamento dos pedidos de visto e auto-
fundamento na tipologia de vistos prevista na Lei rização de residência de que tratam os art. 34, § 6º,
6.815, de 1980, independentemente de sua data art. 38, § 9º, art. 42, § 3º, art. 43, § 3º, e art. 46, § 5º.
de emissão. Art. 319. Este Decreto entra em vigor na data de
§ 3º Os vistos a que se referem o art. 4º, caput, sua publicação.
inciso II, e o art. 13, caput, inciso II, da Lei nº 6.815,
Brasília, 20 de novembro de 2017; 196º da
de 1980, independentemente de sua data de emis-
Independência e 129º da República.
são, permitirão a realização das demais atividades
previstas no visto de visita, nos termos estabele- MICHEL TEMER
cidos na Lei nº 13.445, de 2017, e neste Decreto, Torquato Jardim
Aloysio Nunes Ferreira Filho
enquanto estiverem válidos. Ronaldo Nogueira de Oliveira

ANEXO
TABELA DE FAIXAS PARA AUTORIZAÇÃO DE RESIDÊNCIA A QUE SE REFERE O ART. 131
NATUREZA DA ATIVIDADE VALOR
Processamento e avaliação de pedidos de autorização de
R$ 168,13
residência
Emissão de cédula de identidade de imigrante R$ 204,77
Transformação de vistos de visita, diplomático, oficial e de
R$ 168,13
cortesia em autorização de residência

114
DECRETO Nº 9.277, DE 5 DE FEVEREIRO DE 2018


DECRETO Nº 9.277, DE 5 DE 28 de janeiro de 1961, e da Lei nº 13.445, de 24 de


FEVEREIRO DE 2018 maio de 2017; e
(Publicado no DOU de 6/2/2018) e) o acesso aos serviços públicos, em especial,
Dispõe sobre a identificação do solicitante de os relativos à educação, saúde, previdência e as-
refúgio e sobre o Documento Provisório de sistência social.
Registro Nacional Migratório. Parágrafo único. O Documento Provisório de
O presidente da República, no uso das atribuições Registro Nacional Migratório não substitui os do-
que lhe confere o art. 84, caput, incisos IV e VI, alí- cumentos de viagem internacional.
nea a, da Constituição, e tendo em vista o dispos-
Requisitos do documento
to nos art. 21 e art. 22 da Lei nº 9.474, de 22 de ju-
lho de 1997, e no art. 31, § 4º, da Lei nº 13.445, de Art. 4º São elementos essenciais do Documento
24 de maio de 2017, decreta: Provisório de Registro Nacional Migratório:
I – o número do protocolo emitido pela polícia
Âmbito de aplicação
federal;
Art. 1º Este Decreto dispõe sobre a identificação II – os dados biográficos e biométricos;
do solicitante de reconhecimento da condição de III – as informações de que o portador:
refugiado no Brasil e sobre o Documento Provisó- a) não poderá ser deportado fora das hipóteses
rio de Registro Nacional Migratório. legais; e
Emissão do documento b) tem assegurado os mesmos direitos dos de-
mais imigrantes em situação regular no País e não
Art. 2º Recebida a solicitação de refúgio, a polícia
receberá tratamento discriminatório de qualquer
federal emitirá protocolo em favor do solicitante
natureza; e
e de seu grupo familiar que se encontre no terri-
IV – código de barras bidimensional, no padrão
tório nacional.
QR Code.
Parágrafo único. Com a emissão do protocolo a
§ 1º O código de barras de que trata o inciso IV
que se refere o caput, a polícia federal fornecerá
do caput permitirá a consulta da validade do do-
gratuitamente o Documento Provisório de Regis-
tro Nacional Migratório. cumento em sistema próprio ou diretamente em
sítio eletrônico oficial.
Efeitos do documento § 2º Ato do Diretor-Geral do Departamento de
Art. 3º O Documento Provisório de Registro Na- Polícia Federal do Ministério da Justiça e Segu-
cional Migratório produzirá os seguintes efeitos: rança Pública definirá os demais elementos e
I – constituirá, para todos os fins, o documento aprovará o modelo do Documento Provisório de
de identificação do solicitante de refúgio, até a de- Registro Nacional Migratório.
cisão final do processo no Comitê Nacional para
Perda da validade
os Refugiados (Conare), nos termos do disposto
no inciso I do caput do art. 12 da Lei nº 9.474, de Art. 5º O Documento Provisório de Registro Nacio-
22 de julho de 1997; e nal Migratório perderá a validade:
II – permitirá ao seu portador o gozo de direitos I – pela decisão definitiva que indeferir a solicita-
no País, dentre os quais: ção do reconhecimento da condição de refugiado;
a) a expedição da Carteira de Trabalho e Previ- II – pela expedição da Carteira de Registro Na-
dência Social provisória para o exercício de ativi- cional Migratório em decorrência do deferimento
dade remunerada no País; do pedido de reconhecimento da condição de re-
b) a abertura de conta bancária em instituição fugiado; e
integrante do sistema financeiro nacional; III – pelo arquivamento ou pela extinção do pro-
c) a inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas do cesso sem julgamento do mérito.
Ministério da Fazenda (CPF);
Emissão em meio eletrônico
d) o acesso às garantias e aos mecanismos pro-
tetivos e de facilitação da inclusão social decor- Art. 6º O Documento Provisório de Registro Na-
rentes da Convenção relativa ao Estatuto dos Re- cional Migratório poderá ser emitido em meio ele-
fugiados, promulgada pelo Decreto nº 50.215, de trônico, sem prejuízo da emissão em meio físico.
115
Adaptações do Regulamento da Lei de Migração RESOLUÇÃO NORMATIVA CONARE Nº 10, DE 22 DE
SETEMBRO DE 2003
Art. 7º O Decreto nº 9.199, de 20 de novembro de
Dispõe sobre a situação dos refugiados detento-
2017, passa a vigorar com as seguintes alterações:
Art. 119. [...]
res de permanência definitiva.
§ 2º O solicitante de reconhecimento da condi- Publicada no DOU de 25/9/2003.
ção de refugiado receberá o Documento Provisório RESOLUÇÃO NORMATIVA CONARE Nº 14, DE 27 DE
de Registro Nacional Migratório, nos termos do dis- DEZEMBRO DE 2011
posto no Decreto nº 9.277, de 5 de fevereiro de 2018.
Dispõe sobre o Programa de Reassentamento Bra-
[...]
sileiro.
Prazo de adaptação Publicada no DOU de 29/12/2011.

Art. 8º A emissão do Documento Provisório de RESOLUÇÃO NORMATIVA CONARE Nº 17, DE 20 DE


Registro Nacional Migratório de que trata este De- SETEMBRO DE 2013
creto será iniciada até 1º de outubro de 2018. Dispõe sobre a concessão de visto apropriado, em
Parágrafo único. Os protocolos de que trata o conformidade com a Lei nº 6.815, de 19 de agos-
art. 21 da Lei nº 9.474, de 1997, emitidos antes do to de 1980, e do Decreto 86.715, de 10 de dezem-
prazo previsto no caput permanecerão válidos. bro de 1981, a indivíduos forçosamente desloca-
dos por conta do conflito armado na República
Vigência
Árabe Síria.
Art. 9º Este Decreto entra em vigor na data de sua Publicada no DOU de 24/9/2013.
publicação.
RESOLUÇÃO NORMATIVA CONARE Nº 18, DE 30 DE
Brasília, 5 de fevereiro de 2018; 197º da ABRIL DE 2014
Independência e 130º da República.
Estabelece os procedimentos aplicáveis ao pe-
MICHEL TEMER dido e tramitação da solicitação refúgio e dá ou-
Torquato Jardim tras providências.
Aloysio Nunes Ferreira Filho Publicada no DOU de 13/5/2014.
Eliseu Padilha
RESOLUÇÃO NORMATIVA CONARE Nº 19, DE 18 DE
DEZEMBRO DE 2014
Dispõe sobre o Projeto de Migração Regional e In-
LISTA DE OUTRAS NORMAS
serção Sócio Econômica de Refugiados.
DE INTERESSE
Publicada no DOU de 3/2/2015.
CONVENÇÃO DA ORGANIZAÇÃO DE UNIDADE AFRI- RESOLUÇÃO NORMATIVA CONARE Nº 20, DE 21 DE
CANA QUE REGE OS ASPECTOS ESPECÍFICOS DOS SETEMBRO DE 2015
PROBLEMAS DOS REFUGIADOS EM ÁFRICA. (ADIS Prorroga a vigência da Resolução Normativa nº 17,
ABEBA, 1969) de 20 de setembro de 2013, e dá outras providências.
DECLARAÇÃO DE SÃO JOSÉ SOBRE REFUGIADOS E Publicada no DOU de 22/9/2015.
PESSOAS DESLOCADAS. (SAN JOSÉ, 1994) RESOLUÇÃO NORMATIVA CONARE Nº 21, DE 21 DE
DECLARAÇÃO E PLANO DE AÇÃO DO MÉXICO PARA SETEMBRO DE 2015
Amplia a validade da cédula de identidade de
FORTALECER A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS
estrangeiro comprobatória da condição de refu-
REFUGIADOS NA AMÉRICA LATINA. (CIDADE DO
giado de dois para cinco anos.
MÉXICO, 2004)
Publicada no DOU de 22/9/2015.
DECLARAÇÃO DE BRASÍLIA SOBRE A PROTEÇÃO DE
RESOLUÇÃO NORMATIVA CONARE Nº 22, DE 22 DE
REFUGIADOS E APÁTRIDAS NO CONTINENTE AME-
OUTUBRO DE 2015
RICANO. (BRASÍLIA, 2010)
Adota o Formulário de Solicitação de Refúgio e o
DECLARAÇÃO DE PRINCÍPIOS DO MERCOSUL SO- Formulário de Interposição de Recurso e altera a
BRE PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS REFUGIA- redação da Resolução Normativa nº 18 do Conare.
DOS. (FORTALEZA, 2012) Publicada no DOU de 27/10/2015.
116
RESOLUÇÃO NORMATIVA CONARE Nº 23, DE 30 DE trangeiros que estejam desacompanhados no in-
SETEMBRO DE 2016 gresso em território brasileiro.
Estabelece procedimentos de solicitação de pas- Publicada no DOU de 18/8/2017.
saporte e viagem ao exterior para pessoas refugia-
PORTARIA INTERMINISTERIAL Nº 3, DE 27 DE FE-
dos e solicitantes de refúgio.
VEREIRO DE 2018
Publicada no DOU de 16/12/2016.
Dispõe sobre os procedimentos a serem adota-
RESOLUÇÃO NORMATIVA CONARE Nº 24, DE 28 DE dos em relação à tramitação dos requerimentos
JULHO DE 2017 de autorização de residência, registro e emissão
Adota o Formulário de Solicitação de Reconheci- da carteira de registro nacional migratório, espe-
mento da Condição de Refugiado, o Formulário cifica a documentação necessária para instrução
de Identificação de Familiares para Extensão dos dos pedidos e define o procedimento de registro
efeitos da Condição de Refugiado e o Formulário de autorizações de residência concedidas a refu-
para Interposição de Recurso e altera a redação da giados, apátridas e asilados.
Resolução Normativa nº 22 do Conare. Publicada no DOU de 28/2/2018.
Publicada no DOU de 16/8/2017.
PORTARIA INTERMINISTERIAL Nº 4, DE 27 DE FE-
RESOLUÇÃO NORMATIVA CONARE Nº 25, DE 14 DE VEREIRO DE 2018
SETEMBRO DE 2017 Dispõe sobre o procedimento de concessão de au-
Prorroga a vigência da Resolução Normativa nº 17, torização de residência para casos não previstos ex-
de 20 de setembro de 2015. pressamente na Lei nº 13.445, de 24 de maio de 2017
Publicada no DOU de 18/9/2017.
e no Decreto nº 9.199, de 20 de novembro de 2017.
RESOLUÇÃO NORMATIVA CONARE Nº 26, DE 26 DE Publicada no DOU de 28/2/2018.
MARÇO DE 2018
PORTARIA INTERMINISTERIAL Nº 5, DE 27 DE FE-
Altera a Resolução Normativa nº 18 do Conare
VEREIRO DE 2018
para disciplinar hipóteses de extinção do processo
Dispõe sobre o procedimento de reconhecimento
sem resolução do mérito.
da condição de apatridia e da naturalização facili-
Publicada no DOU de 10/4/2018.
tada dela decorrente.
RESOLUÇÃO NORMATIVA CONARE Nº 27, DE 30 DE Publicada no DOU de 28/2/2018.
OUTUBRO DE 2018
PORTARIA INTERMINISTERIAL Nº 9, DE 14 DE MAR-
Disciplina o art. 2º da Lei nº 9.474, de 22 de julho
ÇO DE 2018
de 1997.
Dispõe sobre a concessão de autorização de resi-
Publicada no DOU de 1º/11/2018.
dência ao imigrante que esteja em território brasi-
RESOLUÇÃO NORMATIVA CNIG Nº 2, DE 1º DE DE- leiro e seja nacional de país fronteiriço, onde não
ZEMBRO DE 2017 esteja em vigor o Acordo de Residência para Na-
Disciplina a concessão de autorização de residên- cionais dos Estados-Partes do Mercosul e países
cia para fins de trabalho com vínculo empregatício associados, a fim atender a interesses da política
no Brasil. migratória nacional.
Publicada no DOU de 8/12/2017. Publicada no DOU de 15/3/2018.
RESOLUÇÃO NORMATIVA CNIG Nº 3, DE 1º DE DE- PORTARIA NORMATIVA MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
ZEMBRO DE 2017 Nº 22, DE 13 DE DEZEMBRO DE 2016
Disciplina a concessão de autorização de residên- Dispõe sobre normas e procedimentos gerais de
cia para fins de trabalho sem vínculo empregatício tramitação de processos de solicitação de revali-
no Brasil, para prestar serviço de assistência técnica. dação de diplomas de graduação estrangeiros e
Publicada no DOU de 8/12/2017.
ao reconhecimento de diplomas de pós-gradua-
RESOLUÇÃO CONJUNTA CONANDA/CONARE/ ção stricto sensu (mestrado e doutorado), expedi-
CNIG/DPU Nº 1, DE 9 DE AGOSTO DE 2017 dos por estabelecimentos estrangeiros de ensino
Estabelece novos procedimentos de identificação, superior.
atenção e proteção para criança e adolescente es- Publicada no DOU de 14/12/2016.
117
PORTARIA MINISTÉRIO DA JUSTIÇA Nº 217, DE 27 PORTARIA MINISTÉRIO DA JUSTIÇA Nº 218, DE 27
DE FEVEREIRO DE 2018 DE FEVEREIRO DE 2018
Estabelece os procedimentos administrativos re- Dispõe sobre o procedimento de avaliação da con-
lativos aos pedidos de extradição passiva e ativa e dição de hipossuficiência econômica para fins de
de prisão cautelar para fins de extradição passiva isenção de taxas para obtenção de documentos
e ativa, no âmbito do Ministério da Justiça. de regularização.
Publicada no DOU de 28/2/2018. Publicada no DOU de 28/2/2018.

118
ed
L

edições câmara
L E G I S L AT I V O

Você também pode gostar