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5/26/2020 Expoentes do agronegócio são a face menos falada do esquema de venda de sentenças na Bahia - De Olho nos Ruralistas

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Expoentes do agronegócio são a face menos falada do
esquema de venda de sentenças na Bahia
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DE OLHO NOS RURALISTAS


16/12/2019 - UPDATED 18/12/20196:45 PM

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Migrantes paranaenses da época da ditadura estão entre bene ciários da


ambiciosa grilagem de 366 mil hectares, desbaratada em novembro com grande
impacto midiático; um deles tem sociedade com fundo de investimentos dos EUA
Reportagens especiais
Por Caio de Freitas Paes

Em novembro, um escândalo de venda de sentenças envolvendo o alto escalão da


Justiça da Bahia veio à tona nas telas da Rede Globo. Pouco foi dito, porém, sobre
quem são os interessados por trás da grilagem de uma área cinco vezes maior que
o município de Salvador. Entre os envolvidos estão alguns dos mais antigos e

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5/26/2020 Expoentes do agronegócio são a face menos falada do esquema de venda de sentenças na Bahia - De Olho nos Ruralistas
poderosos fazendeiros no Matopiba, região que engloba áreas de Cerrado entre
os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, considerada a última fronteira
agrícola do Brasil.

O esquema se arrastava desde 2007, com


a participação de desembargadores e
juízes que atuavam em Formosa do Rio
Preto, no extremo oeste da Bahia, um dos
polos do agronegócio na região. O caso
acabou tendo ênfase em guras
peculiares, quase folclóricas, como um
falsário que se apresentava como cônsul
da Guiné Bissau no país e um borracheiro,
sócio em uma empresa avaliada em mais de R$ 700 milhões.

Os latifundiários, no entanto, não receberam atenção dos grandes veículos de Últimas reportagens
imprensa. Luiz Ricardi, Walter Horita e Paulo Mizote são donos de grandes terras e
juntos formam uma espécie de “velha guarda” do agronegócio no oeste baiano. Damares diz ter feito ação
sigilosa com generais para
A tentativa de grilagem de mais de 366 mil hectares da fazenda São José, em apurar “contaminação
Formosa do Rio Preto, é mais um episódio de uma antiga disputa por terras na criminosa” de indígenas
região. Esses fazendeiros migraram para o nordeste ainda na década de 80 vindos,  25/05/2020 -  0
em especial, do Paraná. Era a segunda fase do Programa Nipo-Brasileiro para
Desenvolvimento do Cerrado, o Prodecer II, um pacote de incentivos executado
Em carta aberta, industriais
pela ditadura militar em parceria com o governo do Japão que levou à explosão da paraenses apoiam o “passar
concentração fundiária na região, gerando alguns dos maiores latifúndios do país. a boiada” de Ricardo Salles
 25/05/2020 -  0
A luta por terras no oeste baiano envolve casos de pistolagem e violência contra os
geraizeiros, descendentes de indígenas e quilombolas que habitam a região há
séculos. Ali, a atuação de milícias rurais é constante, tal como aportes de milhões Silvio Santos obteve 70 mil
hectares no Araguaia em
de reais e dólares para a compra e venda de latifúndios. Enquanto isso, o Cerrado
1972, durante governo
da região agoniza. Neste ponto do Matopiba, o desmatamento ilegal e outros
Médici
crimes ambientais são recorrentes.
 24/05/2020 -  0

As multas por desmatamento aplicadas somente em Formosa do Rio Preto somam


pouco mais de R$ 71 milhões, segundo dados do Instituto Brasileiro do Meio Mortes de agentes
Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama). Entre as multadas, estão fazendas indígenas de saúde
ligadas aos envolvidos na monumental grilagem. escancaram omissão do
governo federal
Dados do governo federal consolidados pelo Greenpeace mostram que cerca de  24/05/2020 -  0
450 mil hectares de mata nativa — quase o tamanho do Distrito Federal — foram
destruídos ou adaptados à agricultura no município. Isto apenas entre 2001 e Autor de emenda que
2018. bene cia missionários em
terras indígenas já saiu no
INVESTIGADO É SÓCIO DE FUNDO INTERNACIONAL tapa por Cunha
 22/05/2020 -  0
Não é de hoje que controversas decisões nos tribunais movimentam milhões na
Bahia. Nos últimos trinta anos a disputa por terras no oeste é marcada por
manobras jurídicas. No caso da grilagem de 366 mil hectares, por exemplo, foi
usado um documento de gaveta de 1981, de posse de um ilustre desconhecido.
Por causa dessa jogada, o borracheiro José Valter Dias foi de nido pelo ministro
Og Fernandes, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), como “o maior latifundiário do
oeste baiano”.

Ele é sócio da JJF Holding, de capital avaliado em pouco mais de R$ 700 milhões de
acordo com a Receita Federal. Essa é a empresa que recebeu a posse da área
grilada na fazenda São José. Dias é acusado de associar-se a Adaílton Maturino dos
Santos no esquema. Por sua vez, um falsário que se apresentava como cônsul da
Guiné Bissau no Brasil, elo entre o esquema e tradicionais fazendeiros da região.

As investigações revelam que o estelionatário aproximou-se do paranaense Luiz


Ricardi, que o apresentou à região e aos interessados na área. Na decisão que
desmantelou a grilagem, Og Fernandes ligou Ricardi a outros esquemas:

— Luiz Ricardi possui dezenas de atos notariais envolvendo imóveis rurais em litígio,
especialmente na região do oeste baiano.

Junto com outros membros de sua família, o paranaense tem terras em Formosa
do Rio Preto e outros municípios da área, como Barreiras. Ali, é sócio de bilionários

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fundos de investimento internacional — como no caso da Fazenda Parceiros,
avaliada em mais de R$ 19 milhões.

A propriedade é controlada
por uma teia de empresas
ligadas ao fundo TIAA-Cref, e
tem Luiz Ricardi como um de
seus sócios. O grupo é
responsável por investir
bilhões dos fundos de
aposentadoria de professores
dos Estados Unidos e da
pensão nacional da Coreia do
Sul.

Junto a Dirceu Di Domenico,


dono de terras próximas da
Tentáculos internacionais. (Imagem: Receita Federal/De Olho nos
Fazenda São José, e Walter
Ruralistas)
Horita, um dos nomes-chave
do agronegócio no país, Ricardi é acusado de nanciar a grilagem gigante. Com Di
Domenico, o paranaense já teria negociado parte das terras com outros
agricultores da região, como Juca Gorgen e Paulo Mizote, ambos contemporâneos
da época do Prodecer.

O objetivo do grupo era tomar posse da fazenda São José para extorquir trezentos
agricultores e arrendatários, além de negociar outros acordos, como os de Gorgen
e Mizote. Em geral, os valores eram negociados em sacas de soja, a serem pagas
por hectare das propriedades sob ameaça. O total angariado pelos grileiros gira
em torno de R$ 1 bilhão.

Ao m, Domenico e Ricardi ganhariam parte das escrituras da fazenda, tornada


um latifúndio depois de uma decisão judicial em 22 de julho de 2015. Foi quando a
área passou de 43 mil hectares para assombrosos 366 mil hectares. A
desembargadora da Justiça Vilma Costa Veiga, responsável pela decisão,
aposentou-se no dia seguinte à manobra.

Paulo Mizote está ainda envolvido na destruição do Cerrado. Sua família controla a
Mizote Empreendimentos Agrícolas, especializada em plantio de soja, milho e
algodão. Somente em Formosa do Rio Preto o grupo é dono de pouco mais de 9
mil hectares, segundo o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
(Incra).

No mesmo município, a família já foi multada em quase R$ 5,5 milhões pelo


Ibama. Especi camente sobre Mizote recai uma multa de R$ 1,6 milhão por crimes
ambientais contra a ora — desmatamentos ilegais são enquadrados nessa
categoria — identi cados em 2012.

HORITA MOVIMENTOU MAIS DE R$ 22 BILHÕES

É impossível falar sobre grilagem no oeste da Bahia sem mencionar o condomínio


agrícola Estrondo, reconhecido pelo Incra como um dos maiores latifúndios do
país. Ainda nos anos 90, o órgão federal estimava em 444 mil hectares o total da
área sob controle da Estrondo. Um dos seus principais arrendatários, Walter
Horita, foi um dos quarenta alvos de busca e apreensão a pedido do STJ.

A Horita Empreendimentos Agrícolas é


uma das maiores exportadoras
individuais de soja em Formosa do Rio
Preto. Em 2017, a empresa exportou mais
de 58 mil toneladas de soja para países
como Coreia do Sul, Espanha e Holanda.

Walter é mais um que chegou ao oeste


baiano na década de 80. Junto a outros
“pioneiros” (o termo costuma esconder a
Cadeia da grilagem desemboca na produção de soja. existência anterior de povos tradicionais
(Foto: Reprodução) na região) envolvidos no esquema, é dos
nomes fortes por trás da Associação de
Agricultores e Irrigantes da Bahia, a Aiba — cuja atuação foi comparada, por fontes

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ouvidas pela reportagem, à da União Democrática Ruralista (UDR), famosa nos
anos 80.

Também paranaense, Horita é acusado de nanciar a grilagem de outras áreas na


região, como em Barreiras (BA). Suas transações nanceiras nos últimos seis anos
fortalecem as suspeitas: o Ministério Público quebrou seu sigilo bancário e
identi cou uma movimentação de mais de R$ 22 bilhões, entre os quais R$ 7,5
bilhões sem origem ou destino especi cados.

Walter Horita é hoje o nome-forte do condomínio agrícola Estrondo. Nos últimos


dez anos, ele tomou a dianteira dos negócios do grupo controlado pela família do
magnata carioca Ronald Levinsohn. Conheça aqui um pouco da história do
fazendeiro: “Da vida em êxtase das socialites Levinsohn à violência no campo no
oeste da Bahia“.

ESTRONDO LIDERA MULTAS POR DESMATAMENTO 

Os fazendeiros da Estrondo são conhecidos pelo uso da violência para intimidar


opositores — como os geraizeiros, que reclamam a posse de mais de 40 mil
hectares do condomínio na Justiça. Em agosto, seguranças a serviço do grupo
atiraram em Jossinei Lopes Leite, diretor da Associação Comunitária da Cachoeira,
pouco antes de roubarem seu gado.

Como se não bastasse, uma das controladoras da Estrondo é a maior multada por
crimes ambientais em Formosa do Rio Preto. A Companhia Melhoramentos do
Oeste da Bahia, dos Levinsohn, já soma mais de R$ 35 milhões por desmatamento
ilegal, conforme a base de dados do Ibama, consolidada pelo observatório.

Entre 2004 e 2006, a empresa teria sido responsável por desmatar 77 mil hectares
de mata nativa sem autorização. Anos depois, o Ministério Público Federal alegou
que a área de Cerrado devastada era mais que o dobro disso, 167 mil hectares.
Mais que a área do município de São Paulo.

Esse desmatamento teve a bênção de um antigo gerente-executivo do Ibama na


região, José Marcos dos Santos Cardoso. Em 2013, o Tribunal Regional Federal da
1ª região decidiu punir o antigo dirigente do Ibama por falsi car documentos
públicos — o que abriu caminho para o desmatamento ilegal da Melhoramentos.

Segundo levantamento feito pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em um só dia


Cardoso autorizou a derrubada de 49 mil hectares pela empresa do grupo
Estrondo.

Desde novembro, organizações


internacionais divulgaram relatórios sobre
a relação entre disputas fundiárias,
multinacionais do agronegócio e a
devastação do Cerrado neste ponto do
oeste baiano.

A Chain Reaction Research, que monitora


o mercado internacional de
Fazenda São José está inserida em circuito do agronegócio. commodities, analisou o caso da Fazenda
(Imagem: Reprodução) São José e ligou parte dos desmatamentos
recentes ao esquema de grilagem. Sobre
o desmatamento na Coaceral, a organização informou que ele está ligado à
insegurança jurídica da fazenda “por estar vinculado a decisões dos tribunais, que
caram alternando a posse da fazenda nos últimos doze anos”. “Especialmente em
2015 e 2019”, explica Joana Faggin, uma das responsáveis pelo relatório.

Ela diz ainda que os produtores da região notam a insegurança jurídica, acham
que não terão seus títulos de terras reconhecidos e pensam: “Vou abrir a área o
máximo que eu puder, porque não sei se estarei ali na próxima colheita”. Abrir =
desmatar.

BUNGE TEM FAZENDA DENTRO DA ESTRONDO

Gigantes do setor possuem armazéns ou fazendas na região das grilagens. São


empresas como a Amaggi, do ex-ministro da Agricultura e ex-governador mato-
grossense Blairo Maggi. Ou as estrangeiras Bunge e Cargill, donas das marcas

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Elefante, Liza e Soya e fornecedoras de grandes redes como Burger King e
McDonald’s.

Citadas em reportagem da Repórter Brasil, as multinacionais negaram qualquer


vínculo com soja cultivada em áreas desmatadas ilegalmente no município,
alegando que não têm fazendas dentro do condomínio Estrondo. No caso da
Bunge, os dados do Incra apontam o contrário.

Entre armazéns e propriedades, a empresa é dona de quase 2 mil hectares em


Formosa do Rio Preto. Uma delas foi  registrada com o nome “Fazenda Estrondo
Parte B Lote 22”. A Cargill possui pouco mais de 4 mil hectares na zona rural do
município.

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