Você está na página 1de 12

A FORMAÇÃO DOCENTE E A MOBILIDADE ESTUDANTIL ANGOLANA

Margarida Marina S. C. Muanda1


Andréia da Cunha Malheiros Santana2

Resumo: A mobilidade estudantil angolana sempre se apresentou como uma alternativa para
a formação no ensino superior. A busca pela formação profissional no exterior de Angola é
vista como uma maneira de fomentar o desenvolvimento do país. Assim, a presente pesquisa
se desenvolve em torno da formação dos estudantes angolanos que buscam graduar-se no
Brasil por meio do Programa de Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G), do Ministério
da Educação e Cultura do Brasil, nos últimos cinco anos. Trata-se de um recorte de uma
dissertação que ainda se encontra em andamento. É um estudo de caso que vem se
desenvolvendo por meio da pesquisa qualitativa. A fundamentação teórica parte dos estudos
de Liberato (2012), Samuels (2011 ) entre outros. Os resultados, ainda que prévios, já
apontaram que os estudantes que vêm formar-se no Brasil, através do PEC-G, não procuram
por cursos de licenciatura.

Palavras-chave: Angola; Formação docente; Programa de estudantis-convênio.

INTRODUÇÃO

Este artigo é um recorte da nossa dissertação que ainda se encontra em construção.


Trata-se de um trabalho mais amplo cujos dados levantados ainda não foram plenamente
explorados, porém, no nível em que a pesquisa se encontra já é possível visualizarmos alguns
resultados, daí o nosso interesse em apresentar parte de tal pesquisa.
Nosso trabalho se pauta na atratividade da formação docente para os estudantes
angolanos. Especificamente, pretendemos observar se existe atração na escolha profissional
por parte destes ao optarem por formar-se no Brasil por meio do Programa Estudantis-
Convênio (PEC-G) estabelecido entre o Brasil e alguns países com os quais este mantém
relações, dentre os quais Angola. Trata-se assim de um ensaio que pretende verificar através
das estatísticas levantadas o grau de interesse destes estudantes ao inscreverem-se neste
programa.
Nesse sentido, foi feito um levantamento junto ao Portal do Ministério da Educação e

1
Mestranda em Educação do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de
Londrina. Email: marinamuanda@hotmail.com
2
Profª Drª no Departamento de Letras Vernáculas na Universidade Estadual de Londrina. Email:
andreiacunhamalheiros@gmail.com
Cultura do Brasil (MEC), para obtermos as informações necessárias a fim de mapearmos o
número de estudantes inscritos e de admitidos, os cursos disponibilizados pelas universidades,
bem como os editais que contém os critérios de acesso a essa forma de ingresso ao Ensino
Superior.
O estabelecimento deste convênio estudantil pauta-se na necessidade verificada por
Angola em relação ao seu plano de ampliar consideravelmente o número de quadros formados
em nível superior para o desenvolvimento do país, tendo em conta dois fatores: os constantes
desafios promovidos pela própria dinâmica social, e, a necessidade de soerguimento que o
país apresenta devido ao longo período de tensão política interna, cujo término se deu no
início da década de 2000.
Estas questões, dentre outras tais como o alto grau de analfabetismo da população de
jovens e adultos e a defasagem escolar, problemas com a saúde e a educação no sentido
macro, impeliram o governo angolano de se mobilizar em torno das possíveis soluções para
tais pendências sociais e estruturais, e o investimento na formação de nível superior é uma das
vias selecionadas.
Assim, tendo em conta o nosso foco de pesquisa pautado na formação de professores,
é necessário adentrar a tais questões por meio da análise desse programa formativo de tal
forma a observarmos as movimentações dos alunos angolanos nesse processo de ingresso e
acesso na formação superior. Para tal trazemos alguns aspectos sobre a mobilidade estudantil
dos angolanos a fim de percebermos que estes processos de idas e vindas ao estrangeiro não é
um processo novo, mas que nos últimos anos vem ganhando cada vez mais força e tem
assumido uma parcela visível na formação dos próprios angolanos.

ANGOLA: CONTEXTO SOCIAL E EDUCACIONAL

Angola é um país que pertence ao continente africano, sua localização é propriamente


no sul de África. Suas fronteiras têm as seguintes limitações: ao norte pelos dois países que
apresentam nomes semelhantes, isto é, a República Democrática do Congo e pela República
do Congo. Ao leste é ladeada pela República da Zâmbia, ao Sul pela República da Namíbia, e
ao oeste pelo oceano atlântico, conforme o mapa que se segue.
É nação independente desde 1975. Sua população atual é de aproximadamente
25.789.024,3 destes, 63% residem na área urbana e 37% em localidades rurais. Sua divisão

3
Dados conforme o último censo efetuado em 2014. Fonte: Angola, 2016.
administrativa comporta 18 províncias4, com uma capital, Luanda, a qual é o centro das
tomadas de decisões de tudo o que confere à nação angolana. Possui mais vários idiomas
nacionais, porém o Português é a língua oficial do país.
Durante tempo considerável Angola sofreu com o conflito político interno cujo mesmo
desencadeou uma guerra civil que chegou a durar quase trinta anos, arrasando-o e provocando
inúmeros retrocessos em termos naturais e sociais, devastando completamente a nação. Este
teve o seu término no ano de 2002, deixando inúmeros desafios uma vez que foi feito grande
investimento bélico durante as lutas armadas.
Atualmente o país vive em paz, ou seja, há dezesseis anos que este vem
experimentando um clima sereno e propício para um recomeço, nesse sentido, várias
estruturas sociais se encontram em construção, dentre os quais o sistema educacional que
passou recentemente por uma reestruturação legal para atender as novas determinações do
país.
A reformulação legal apresentada pela Lei de Bases do Sistema Educativo Angolano,
Lei nº 13/01, aprovada aos 31 de Dezembro de 2001, trouxe o novo organograma e ditou as
modalidades sobre as quais se exercerá o ensino em Angola. Esta se configura em:
a) Subsistema de educação pré-escolar;
b) Subsistema de ensino geral;
c) Subsistema de ensino técnico-profissional;
d) Subsistema de formação de professores;
e) Subsistema de educação de adultos;
f) Subsistema de ensino superior.
Estes subsistemas se encontram distribuídos nos seguintes níveis de ensino:
a) Primário;
b) Secundário;
c) Superior

Essa nova fase que o país vem atravessando tem sido um momento de certos
investidos na área educacional em geral, e em particular no Ensino Superior e também no
subsistema de formação de professores. O Ensino Superior abrange uma inúmera gama de
cursos, e dentre estes se encontram as Instituições Superiores Pedagógicas, responsáveis pelos
cursos de formação docente.
As mudanças têm favorecido debates em torno da maneira como os docentes
angolanos são preparados para o magistério tanto seja nas chamadas Escolas Superiores
4
Que equivalem aos estados brasileiros.
Pedagógicas, bem como nos cursos médios normais cujas formações acontecem nas
denominadas Escolas de Formação de Professores. Essas duas modalidades formativas são
apresentas pela nova LBSE nº13/2001, no qual lê-se no Art. nº 28, o seguinte:
“O subsistema de formação de professores estrutura-se em:
a) formação média normal, realizada em escolas normais;
b) ensino superior pedagógico realizado nos institutos e escolas superiores de ciências de
educação.”
Neste sentido, a formação docente em Angola não acontece apenas no Ensino
Superior, mas também na modalidade normal. Assim, no Ensino Superior Pedagógico são
formados os docentes que irão atuar no Ensino Secundário5, já aqueles das escolas normais
são habilitados a trabalhar com a educação pré-escolar, ensino primário, ensino regular e de
adultos, e com a educação especial.

Desde a reforma de 2001, esta lei tem dirigido o sistema educacional angolano e
também tem promovido outras subreformas em cada nível de ensino, pois a mesma trouxe
novas atribuições, novos perfis formativos tanto para os alunos como para os professores, e a
nova estrutura curricular para o próprio sistema como um todo.

A MOBILIDADE ESTUDANTIL DOS ANGOLANOS AO LONGO DOS ANOS: O


PROGRAMA DE ESTUDANTIS-CONVÊNIO DE GRADUAÇÃO (PEC-G)

A movimentação dos angolanos em busca de formação em graus mais elevados é um


fenômeno que vem seguindo a sua história. Desde os tempos idos, antes mesmo da
colonização portuguesa já acontecia tais acordos de escolarização.
Samuels (2011) aponta que nos primeiros contatos com os portugueses, antes da
colonização oficial houveram uma espécie de contratos por meio dos quais alguns indivíduos
eram levados a Portugal com esta finalidade. Na verdade, isto foi consequência de um
processo ocorrido entre o monarca do reino do Congo6, e a corte portuguesa: “Uma troca de
reféns deu aos portugueses oportunidade de educar e impressionar quatro súbditos do Congo
com o esplendor da corte portuguesa em Lisboa. O seu regresso a África deu o início a um
período de comunicação real entre os dois monarcas independentes. (p. 25)”
A volta desses indivíduos já escolarizados animou profundamente o monarca do
Congo que se tornou intensamente desejoso para que seu reino fosse escolarizado e letrado,

5
Correspondente ao Ensino Médio
6
Atualmente corresponde a algumas províncias do norte de Angola, dentre as quais: Cabinda, Záire e Uíge.
trazendo a este um sonho de expansão educativa. (ibid).
Nos anos subsequentes esse trânsito continuou, mesmo que só uma pequena parte da
população era beneficiada com essa escolarização, os quais normalmente eram os membros da
família real e seus acompanhantes. Mas, com o passar dos anos essa relação foi se esfriando
por parte dos portugueses, uma vez que, tendo encontrado outras terras com mais abundância
de riquezas e um clima mais ameno e mais adaptável para investir acabara-se então o fascínio
pelo reino do Congo. (ibid).
Os pedidos deste rei para que Portugal continuasse a investir em suas terras foram em
vão. Nesse momento, a atenção dos portugueses estava voltada principalmente para a
exploração do Brasil, que por conta de suas características naturais lhes parecia muito mais
atraente em relação ao reino do Congo. (ibid).
Com o passar dos anos, propriamente na vigência da era colonial, vários fatores
continuaram a impulsionar fortemente a mobilidade de estudantes ao estrangeiro, essa prática
consistia no envio de pessoas de Angola para Portugal a fim de que aumentassem o seu grau
de estudos. Famílias com certo poder aquisitivo, principalmente os portugueses erradicados na
então província ultramarina angolana, viam-se na obrigação de levar seus filhos à metrópole
portuguesa para que sua escolarização progredisse, já que nessa época eram praticamente
inexistentes escolas que suplantassem o ensino primário, como era o caso de Angola.
Anos mais tarde, com a independência do país em 1975 esta ação continuou, mas
propriamente para a busca de graduações, pois apesar de já haver um ensino de base
praticamente constituído não acontecia o mesmo em relação ao Ensino Superior, uma vez que
este era muito recente, isto é, desde 1962, não tendo condições de abranger toda a população
que se interessasse por este nível de formação. Assim, continuavam as idas a Portugal, e a
outros países para a obtenção de um grau superior de ensino.
Atualmente esta mobilidade continua e se concentra especificamente no Ensino
Superior para cursos de graduação e de pós-graduação. Seja por meios particulares, isto é,
pelas condições financeiras do próprio aluno ou de uma empresa, ou via bolsas promovidas
pelo sistema do país, prevalece tal tipo de trânsito.
Liberato (2012) aponta que com o fim da guerra muitas famílias passaram a usufruir
de uma condição financeira mais abastada, o que lhes permitiu por si mesmas o envio de seus
filhos para fora do país a fim de se profissionalizarem. Como aponta, a oportunidade de se
formar fora do país é uma possibilidade que muitos angolanos gostariam de ter,
independentemente do nível social ao qual esta pessoa pertença.
Nesta afirmação da autora vale destacar dois aspectos relacionados a este desejo de
estudar fora de Angola. Por um lado, podemos mencionar a própria estrutura do Ensino
Superior que se pode considerar ainda recente, tendo neste momento aproximadamente
cinquenta e seis anos de existência, sem contar que ao longo desses anos sofreu duramente os
impactos das tensões políticas vivenciadas pelo país tendo como consequência um número
muito baixo de vagas para os candidatos, realidade que ainda não foi superada. Esse sistema
ainda se encontra em processo de reforma recente, se constituindo atualmente como um
ministério independente (Ministério do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação), e
em processo de expansão nas demais províncias através das denominadas Regiões
Acadêmicas.
Por outro lado, está a questão da qualidade. Não é de se estranhar que com o
sucateamento do próprio país, o ensino superior seja duvidoso em sua qualidade em algumas
áreas. Por exemplo, ao abordarem sobre a formação de professores no Ensino Superior,
Cardoso e Flores (2009) afirmaram que há uma grande dispersão nos objetivos destes,
fazendo com que tais cursos sejam improfícuos no alcance de seus objetivos formativos,
gerando docentes com pouca compreensão de seu campo atuação, ou seja, com certa baixa de
qualidade em relação ao seu perfil de saída que se espera desses formandos.
Este também é um fator que impele a busca de uma graduação fora do país, pois
acredita-se que países que tenham mais experiência e uma longa caminhada em relação ao
Ensino Superior apresentem também cursos com mais qualidade. Mas, não podemos deixar de
considerar que o fator histórico de mobilidade ainda influencia muito nesse pensamento.

É nesse contexto que entram as cooperações estudantis. Até há alguns anos atrás as
relações eram mais próximas com Portugal, porém o Brasil também vem assumindo grande
parcela nesse tipo de movimentações com Angola, como afirma a autora:

Pela sua ligação histórica a Angola, Portugal tem sido, desde sempre, destino
preferencial da imigração estudantil. Mais recentemente, o Brasil tem
conquistado o seu espaço no relacionamento com Angola e tem conseguido
firmar-se como país de destino para os estudantes angolanos darem
continuidade à sua formação (LIBERATO, 2012).7
Desta forma, novos acordos vão aparecendo no cenário estudantil angolano,
participando assim de seus planos estratégicos de formação de quadros para o país. A
necessidade de desenvolvimento tem sido o grande impulsionador para tais cooperações. O
Programa de Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G) tem sido um dos parceiros nessa
busca por profissionalização.

O PEC-G é um programa de cooperação estudantil firmado entre o Brasil e vários


7
Sem paginação no artigo original. Fonte: Scielo. INSERIR LINK
países em desenvolvimento dentre os quais Angola faz parte. Em seu conceito aponta que,
este,

[...] oferece oportunidades de formação superior a cidadãos de países em


desenvolvimento com os quais o Brasil mantém acordos educacionais e
culturais. Desenvolvido pelos ministérios das Relações Exteriores e da
Educação, em parceria com universidades públicas - federais e estaduais - e
particulares [...] (BRASIL, 2018).8
É proporcionado apenas a países em desenvolvimento cujos acordos bilaterais com o
Brasil ainda sejam vigentes. Este programa compõe um conjunto de atividades educacionais
que “caracteriza-se pela formação do estudante estrangeiro em curso de graduação no Brasil e
em seu retorno ao país de origem, ao final do curso.” (BRASIL, 2018).
Os critérios de seleção para frequentar tais cursos acontecem anualmente, isto é, no
ano anterior em relação ao que o aluno vai estudar, são lançados os editais de convocação
para o processo seletivo e respectiva matrícula.
Em nossa busca nos editais dos últimos cinco anos no site do MEC – Brasil não
estavam disponíveis todos dos últimos cinco anos, mas apenas dos últimos três anos, isto é, os
editais de 2015, 2016 e 2017. Não obstante a isso a mesma plataforma mostra que houve o
trânsito de alunos durante os últimos cinco.
Estes critérios apontam que o aluno candidato a uma destas bolsas deve estar de
preferência na faixa dos 18 à 23 anos, tendo concluído o Ensino Médio, provando-o por meio
da apresentação do certificado de conclusão do mesmo. Este candidato deve estar em
condições de pagar seus estudos com 400.00$ dolares americanos por mês, por o programa se
responsabiliza apenas pela recepção e acesso e aos encargos do aluno com as instituições.
A fluência na língua portuguesa é imprescindível, sendo incisivamente eliminátória
pois “a certificação no exame de proficiência em língua portuguesa é condição fundamental
para o ingresso na Instituição de Ensino Superior e no Programa de Estudantes-Convênio de
Graduação.” (BRASIL, 2018). Os estudantes em programas de desenvolvimento
socioedconômico são os de maior aceitação.
Esta oportunidade de estudos beneficiará o estudante a não ter nenhum encargo em
relação aos seus estudos, entrada e permanência no país, sendo necessária apenas a sua
manutenção pessoal. Dentre as exigências está aseguinte a claúsula: “os acordos determinam a
adoção pelo aluno do compromisso de regressar ao seu país e contribuir com a área na qual se
graduou.” (BRASIL, 2018). Outras questões como atestado de boa saúde fisíca e mental
também se encontram entre as exigências de ingresso.
8
Todas as informações que serão aqui apresentadas que se referirem ao PEC-G foram retiradas do site do MEC,
Brasil (2018).
O responsável por tal seleção é a Divisão de Temas Educacionais DCT/MRE e a
Coordenação-Geral de Relações Estudantis SESu/MEC, com o apoio das reitorias das
instituições universitárias afins, bem como orgãos universitários balizados em assuntos
internacionais ligados a educação, como demonstra a Portaria SESu/MEC Nº 510, de 21 de
agosto de 2006, que impõe tais condições.

As informações dos três editais consultados são as mesmas, só diferenciando um


pouco, pois a partir de 2016 passou a constar a natureza do curso, isto é, se se trata de um
barcharelato ou de uma licenciatura:

As IES participantes do Programa cadastrarão, no Sistema Integrado do


MEC – SIMEC, os cursos disponíveis, informando a modalidade
(bacharelado ou licenciatura), o campus, o semestre de ingresso e o número
de vagas ofertadas, bem como quaisquer observações adicionais (BRASIL,
2018, p. 1).
A importância desse detalhamento está no fato de que nos permite avaliar se os
estudantes que vêm estudar fora de Angola. especificamenteno Brasil, optam por cursos de
formação docente (licenciaturas), uma vez que os editais os deixam ciente de tal aspecto.

As instituições interessadas em receber estudantes por meio do PEC-G têm por


obrigação o cadastramento na Coordenação-Geral de Relações Estudantis da Secretaria de
Educação Superior do MEC, no qual se comprometem por meio de um Termo de Adesão ao
mesmo.
Desta forma, as instituições cadastradas reginalmente em todo o Brasil, são:
a) Região Centro-Oeste: 10
b) Região Nordeste: 23
c) Região Norte: 8
d) Região Sudeste: 41
e) Região Sul: 27

A região sudeste apresenta mais instituições inseridas no programa, porém a região


norte é a que menos disponibilizou. Em relação ao cursos, o número é amplo, trazendo
diveras áreas, como se observa no quadro abaixo. (BRASIL, 2018).

Quadro 1 - Cursos geralmente oferecidos pelas universidades brasileiras ao PEC-G


Agronomia , Agroindústria, Ciências Agrícolas, Ciências Agrárias,
Arquitetura e Arquitetura e Urbanismo,
Artes: Cênicas: Teatro, Direção Teatral e Interpretação Teatral; Plásticas, Visuais, Cinema,
Comunicação das Artes do Corpo, Dança, Educação Artística, Música.
Astronomia .
Biologia: Biotecnologia, Bioquímica, Ciências Biológicas, Biomedicina, Microbiologia.
Direito, Ciências Jurídicas e Sociais, Ciências Atuariais.
Design, Design Gráfico, Design de Moda, Estilismo e Moda, Desenho Industrial, Desenho
e Plástica, Decoração.
Ecologia, Ciências Ambientais.
Ciências Físicas e Biomoleculares.
Enfermagem: Enfermagem e Obstetrícia.
Engenharia: Ambiental, Agrícola, Agronômica, Cartográfica, Civil, de Agrimensura, de
Alimentos, de Bioprocesso, da Computação e Informação, de Controle e Automação, de
Materiais, de Minas, de Pesca, de Petróleo, de Produção
( Produção Civil, Produção Elétrica, Produção Mecânica), de Telecomunicações, Elétrica,
Eletrônica, Eletrotécnica, Teleinformática, Física, Florestal, Geológica, Hídrica, Industrial
(de Controle e Automação, Industrial Elétrica, Industrial Madeireira, Industrial Mecânica),
Mecânica, Mecatrônica, Metalúrgica, Naval e Oceânica,Química, Sanitária, Sanitária e
Ambiental, Têxtil,
Ciência Política
Relações Internacionais
Ciências Naturais
Comunicação Social
Filosofia:
Física História
Fonte: Brasil (2018)
Assim está estruturado este programa que nos últimos anos tem servido de ponte para
que os angolanos busquem uma formação superior fora de Angola, constituindo-se em mais
um meio que permite a mobilidade estudantil dos angolanos, que tem o seu fator histórico de
uma forma muito marcante na busca do conhecimento e do desevnolvimento por parte destes,
ou seja, esta movimentação é um fenômeno que vem seguindo a história acadêmica angolana.

A OPÇÃO PELA FORMAÇÃO DOCENTE NO PEC-G

O material coletado para verificarmos se existe escolha da formação docente pelos


alunos angolanos que se cadastram no PEC-G é composto pelas listas dos inscritos e dos
admitidos nos últimos cinco anos (2013-2017), como se segue a apresentação.

a) Editais com o número de inscritos no PEC-G nos últimos cinco anos.


Quadro 2 – Total do número de alunos angolanos inscritos no PEC-G
ANO Nº DE ALUNOS
2013 Não há registro
2014 Não há registro
2015 Não há registro
2016 8
2017 9
Fonte: Elaboração própria a partir dos editais do PEC-G./ Brasil, 2018.

b) Editais com o total de aprovados no PEC-G.

Quadro 3 – Número de alunos angolanos aprovados no PEC-G


ANO Nº DE ALUNOS
2013 43
2014 59
2015 67
2016 7
2017 12
Fonte: Elaboração própria a partir dos editais do PEC-G. / Brasil, 2018.

Estes quadros apresentam o trânsito dos estudantes angolanos que vieram ao Brasil por
meio do PEC-G. Nestes, constam as inscrições e admissões ao Ensino Superior brasileiro, que
acontecem nessas duas etapas. Os critérios de acesso são aqueles citados acima.
Assim, pode-se notar que nos anos de 2013 a 2015 não se verifica o registro dos
alunos inscritos, o próprio site não apresenta tais informações. Entretanto, registrou-se um
aumento numérico do número de inscritos para o de admitidos no ano de 2017, mas, também,
não achamos nos editais explicação para tal aumento no qual aparece um acréscimo de 3
alunos no resultado final.
Neste processo de coleta retiramos os dados dos editais presentes na plataforma do
MEC – BRASIL de acordo a maneira como estes estavam disponibilizados. Para nossa
surpresa não encontramos alunos angolanos inscritos nos cursos de formação docente, apesar
desta modalidade constar nas opções e nas recomendações dos editais seletivos, ou seja,
aqueles que se inscrevem no programa têm a possibilidade de saber exatamente em que tipo
de curso este vai se cadastrar, por isso, o fato de não acharmos alunos ingressando nessa área
formativa pode ser um sinal de pouco interesse para aqueles que buscam formar-se fora do
país, em particular no Brasil.
Este trabalho pode sugerir uma nova pesquisa, no sentido de se perceber o porquê
dessa ausência de alunos nos cursos de formação docente. Um trabalho nessa linha poderia
nos esclarecer outras questões que circundam a docência como uma opção profissional para
os estudantes angolanos egressos do Ensino Médio.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar de se tratar de uma pesquisa em andamento, e muito mais ampla em relação ao


que foi apresentado aqui, já é possível observarmos um dado interessante na busca da
compreensão do fenômeno em questão que é a formação docente e seu espaço de interesse
entre os estudantes angolanos que buscam o Ensino Superior no exterior de Angola,
especificamente no Brasil.
Este estudo permitiu observar que a mobilidade dos angolanos em busca de uma
formação fora de Angola não é um fato novo, mas que é um processo que vem seguindo a sua
história ao longo dos anos. Experiências como aquelas do monarca do antigo reino do Congo
com os portugueses em seus primeiros contatos são uma demonstração disso, e não só, a
própria história mostra que durante a experiência da colonização essa prática continuou tendo
em conta a escassez de escolas na época.
Com a independência do país tal situação continuou, mas já com inclinações para o
Ensino Superior, o que desembocou posteriormente nas relações bilaterais educacionais entre
Angola e outros países, como é o caso do Brasil, através do PEC-G.
Assim, foi possível observar que apesar desta mobilidade ser uma realidade, entre os
estudantes vindos para o Brasil não houve interesse pela opção em cursos de formação
docente, demonstrando de certa forma que talvez a docência não seja tão atrativa para aqueles
que vão se formar fora de Angola, despertando-nos certa curiosidade para prosseguirmos e
futuramente tentarmos entender o porquê desta não adesão.
Enfim, Angola é um país ainda em formação, e sem dúvidas a aposta na formação de
seus quadros é uma das vias para o seu desenvolvimento, o que não poderá ser feito com
resultados mais abrangentes se o investimento na formação docente for um aspecto tido como
secundário.

BIBLIOGRAFIA

ANGOLA. Lei nº 13/01 de 31 de Dezembro de 2001. Lei de Bases do Sistema de


Educação. 2001b. Disponível em: <https://www.unicef.org/angola/reports/lei-de-
base-do-sistema-de-educa%C3%A7%C3%A3o-lei-n%C2%BA-1301>. Acesso em: 8
jul. 2018.
ANGOLA. Resultados do recenseamento geral da população e da habitação de
Angola. Luanda: INE, 2016.

BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. PEC-G: programa de estudantes-


convênio de graduação. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/pec-g>. Acesso
em: 9 maio 2018.

CARDOSO, E. M. S.; FLORES, M. A. A formação inicial de professores em Angola:


problemas e desafios. In: CONGRESSO INTERNACIONAL GALEGO-PORTUGUÊS
DE PSICOPEDAGOGIA, 10., 2009, Braga. Actas... Braga: Universidade do Minho,
2009. Disponível em:
<http://www.educacion.udc.es/grupos/gipdae/documentos/congreso/Xcongreso/pdfs/
t3/t3c44.pdf>. Acesso em: 9 jun. 2018.

LIBERATO, E. A formação de quadros angolanos no Exterior: Estudantes angolanos


em Portugal e no Brasil. Centro de Estudos Internacionais, Lisboa, n. 23, p. 109-
130, mar. 2012. Disponível em: <http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?
script=sci_abstract&pid=S1645-37942012000100005&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em:
9 maio 2018.

SAMUELS, M. A. Educação ou instrução: a história do ensino em Angola (1878-


1914). Luanda: Mayamba, 2011.

Você também pode gostar