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Resumo: A mobilidade estudantil angolana sempre se apresentou como uma alternativa para
a formação no ensino superior. A busca pela formação profissional no exterior de Angola é
vista como uma maneira de fomentar o desenvolvimento do país. Assim, a presente pesquisa
se desenvolve em torno da formação dos estudantes angolanos que buscam graduar-se no
Brasil por meio do Programa de Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G), do Ministério
da Educação e Cultura do Brasil, nos últimos cinco anos. Trata-se de um recorte de uma
dissertação que ainda se encontra em andamento. É um estudo de caso que vem se
desenvolvendo por meio da pesquisa qualitativa. A fundamentação teórica parte dos estudos
de Liberato (2012), Samuels (2011 ) entre outros. Os resultados, ainda que prévios, já
apontaram que os estudantes que vêm formar-se no Brasil, através do PEC-G, não procuram
por cursos de licenciatura.
INTRODUÇÃO
1
Mestranda em Educação do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de
Londrina. Email: marinamuanda@hotmail.com
2
Profª Drª no Departamento de Letras Vernáculas na Universidade Estadual de Londrina. Email:
andreiacunhamalheiros@gmail.com
Cultura do Brasil (MEC), para obtermos as informações necessárias a fim de mapearmos o
número de estudantes inscritos e de admitidos, os cursos disponibilizados pelas universidades,
bem como os editais que contém os critérios de acesso a essa forma de ingresso ao Ensino
Superior.
O estabelecimento deste convênio estudantil pauta-se na necessidade verificada por
Angola em relação ao seu plano de ampliar consideravelmente o número de quadros formados
em nível superior para o desenvolvimento do país, tendo em conta dois fatores: os constantes
desafios promovidos pela própria dinâmica social, e, a necessidade de soerguimento que o
país apresenta devido ao longo período de tensão política interna, cujo término se deu no
início da década de 2000.
Estas questões, dentre outras tais como o alto grau de analfabetismo da população de
jovens e adultos e a defasagem escolar, problemas com a saúde e a educação no sentido
macro, impeliram o governo angolano de se mobilizar em torno das possíveis soluções para
tais pendências sociais e estruturais, e o investimento na formação de nível superior é uma das
vias selecionadas.
Assim, tendo em conta o nosso foco de pesquisa pautado na formação de professores,
é necessário adentrar a tais questões por meio da análise desse programa formativo de tal
forma a observarmos as movimentações dos alunos angolanos nesse processo de ingresso e
acesso na formação superior. Para tal trazemos alguns aspectos sobre a mobilidade estudantil
dos angolanos a fim de percebermos que estes processos de idas e vindas ao estrangeiro não é
um processo novo, mas que nos últimos anos vem ganhando cada vez mais força e tem
assumido uma parcela visível na formação dos próprios angolanos.
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Dados conforme o último censo efetuado em 2014. Fonte: Angola, 2016.
administrativa comporta 18 províncias4, com uma capital, Luanda, a qual é o centro das
tomadas de decisões de tudo o que confere à nação angolana. Possui mais vários idiomas
nacionais, porém o Português é a língua oficial do país.
Durante tempo considerável Angola sofreu com o conflito político interno cujo mesmo
desencadeou uma guerra civil que chegou a durar quase trinta anos, arrasando-o e provocando
inúmeros retrocessos em termos naturais e sociais, devastando completamente a nação. Este
teve o seu término no ano de 2002, deixando inúmeros desafios uma vez que foi feito grande
investimento bélico durante as lutas armadas.
Atualmente o país vive em paz, ou seja, há dezesseis anos que este vem
experimentando um clima sereno e propício para um recomeço, nesse sentido, várias
estruturas sociais se encontram em construção, dentre os quais o sistema educacional que
passou recentemente por uma reestruturação legal para atender as novas determinações do
país.
A reformulação legal apresentada pela Lei de Bases do Sistema Educativo Angolano,
Lei nº 13/01, aprovada aos 31 de Dezembro de 2001, trouxe o novo organograma e ditou as
modalidades sobre as quais se exercerá o ensino em Angola. Esta se configura em:
a) Subsistema de educação pré-escolar;
b) Subsistema de ensino geral;
c) Subsistema de ensino técnico-profissional;
d) Subsistema de formação de professores;
e) Subsistema de educação de adultos;
f) Subsistema de ensino superior.
Estes subsistemas se encontram distribuídos nos seguintes níveis de ensino:
a) Primário;
b) Secundário;
c) Superior
Essa nova fase que o país vem atravessando tem sido um momento de certos
investidos na área educacional em geral, e em particular no Ensino Superior e também no
subsistema de formação de professores. O Ensino Superior abrange uma inúmera gama de
cursos, e dentre estes se encontram as Instituições Superiores Pedagógicas, responsáveis pelos
cursos de formação docente.
As mudanças têm favorecido debates em torno da maneira como os docentes
angolanos são preparados para o magistério tanto seja nas chamadas Escolas Superiores
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Que equivalem aos estados brasileiros.
Pedagógicas, bem como nos cursos médios normais cujas formações acontecem nas
denominadas Escolas de Formação de Professores. Essas duas modalidades formativas são
apresentas pela nova LBSE nº13/2001, no qual lê-se no Art. nº 28, o seguinte:
“O subsistema de formação de professores estrutura-se em:
a) formação média normal, realizada em escolas normais;
b) ensino superior pedagógico realizado nos institutos e escolas superiores de ciências de
educação.”
Neste sentido, a formação docente em Angola não acontece apenas no Ensino
Superior, mas também na modalidade normal. Assim, no Ensino Superior Pedagógico são
formados os docentes que irão atuar no Ensino Secundário5, já aqueles das escolas normais
são habilitados a trabalhar com a educação pré-escolar, ensino primário, ensino regular e de
adultos, e com a educação especial.
Desde a reforma de 2001, esta lei tem dirigido o sistema educacional angolano e
também tem promovido outras subreformas em cada nível de ensino, pois a mesma trouxe
novas atribuições, novos perfis formativos tanto para os alunos como para os professores, e a
nova estrutura curricular para o próprio sistema como um todo.
5
Correspondente ao Ensino Médio
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Atualmente corresponde a algumas províncias do norte de Angola, dentre as quais: Cabinda, Záire e Uíge.
trazendo a este um sonho de expansão educativa. (ibid).
Nos anos subsequentes esse trânsito continuou, mesmo que só uma pequena parte da
população era beneficiada com essa escolarização, os quais normalmente eram os membros da
família real e seus acompanhantes. Mas, com o passar dos anos essa relação foi se esfriando
por parte dos portugueses, uma vez que, tendo encontrado outras terras com mais abundância
de riquezas e um clima mais ameno e mais adaptável para investir acabara-se então o fascínio
pelo reino do Congo. (ibid).
Os pedidos deste rei para que Portugal continuasse a investir em suas terras foram em
vão. Nesse momento, a atenção dos portugueses estava voltada principalmente para a
exploração do Brasil, que por conta de suas características naturais lhes parecia muito mais
atraente em relação ao reino do Congo. (ibid).
Com o passar dos anos, propriamente na vigência da era colonial, vários fatores
continuaram a impulsionar fortemente a mobilidade de estudantes ao estrangeiro, essa prática
consistia no envio de pessoas de Angola para Portugal a fim de que aumentassem o seu grau
de estudos. Famílias com certo poder aquisitivo, principalmente os portugueses erradicados na
então província ultramarina angolana, viam-se na obrigação de levar seus filhos à metrópole
portuguesa para que sua escolarização progredisse, já que nessa época eram praticamente
inexistentes escolas que suplantassem o ensino primário, como era o caso de Angola.
Anos mais tarde, com a independência do país em 1975 esta ação continuou, mas
propriamente para a busca de graduações, pois apesar de já haver um ensino de base
praticamente constituído não acontecia o mesmo em relação ao Ensino Superior, uma vez que
este era muito recente, isto é, desde 1962, não tendo condições de abranger toda a população
que se interessasse por este nível de formação. Assim, continuavam as idas a Portugal, e a
outros países para a obtenção de um grau superior de ensino.
Atualmente esta mobilidade continua e se concentra especificamente no Ensino
Superior para cursos de graduação e de pós-graduação. Seja por meios particulares, isto é,
pelas condições financeiras do próprio aluno ou de uma empresa, ou via bolsas promovidas
pelo sistema do país, prevalece tal tipo de trânsito.
Liberato (2012) aponta que com o fim da guerra muitas famílias passaram a usufruir
de uma condição financeira mais abastada, o que lhes permitiu por si mesmas o envio de seus
filhos para fora do país a fim de se profissionalizarem. Como aponta, a oportunidade de se
formar fora do país é uma possibilidade que muitos angolanos gostariam de ter,
independentemente do nível social ao qual esta pessoa pertença.
Nesta afirmação da autora vale destacar dois aspectos relacionados a este desejo de
estudar fora de Angola. Por um lado, podemos mencionar a própria estrutura do Ensino
Superior que se pode considerar ainda recente, tendo neste momento aproximadamente
cinquenta e seis anos de existência, sem contar que ao longo desses anos sofreu duramente os
impactos das tensões políticas vivenciadas pelo país tendo como consequência um número
muito baixo de vagas para os candidatos, realidade que ainda não foi superada. Esse sistema
ainda se encontra em processo de reforma recente, se constituindo atualmente como um
ministério independente (Ministério do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação), e
em processo de expansão nas demais províncias através das denominadas Regiões
Acadêmicas.
Por outro lado, está a questão da qualidade. Não é de se estranhar que com o
sucateamento do próprio país, o ensino superior seja duvidoso em sua qualidade em algumas
áreas. Por exemplo, ao abordarem sobre a formação de professores no Ensino Superior,
Cardoso e Flores (2009) afirmaram que há uma grande dispersão nos objetivos destes,
fazendo com que tais cursos sejam improfícuos no alcance de seus objetivos formativos,
gerando docentes com pouca compreensão de seu campo atuação, ou seja, com certa baixa de
qualidade em relação ao seu perfil de saída que se espera desses formandos.
Este também é um fator que impele a busca de uma graduação fora do país, pois
acredita-se que países que tenham mais experiência e uma longa caminhada em relação ao
Ensino Superior apresentem também cursos com mais qualidade. Mas, não podemos deixar de
considerar que o fator histórico de mobilidade ainda influencia muito nesse pensamento.
É nesse contexto que entram as cooperações estudantis. Até há alguns anos atrás as
relações eram mais próximas com Portugal, porém o Brasil também vem assumindo grande
parcela nesse tipo de movimentações com Angola, como afirma a autora:
Pela sua ligação histórica a Angola, Portugal tem sido, desde sempre, destino
preferencial da imigração estudantil. Mais recentemente, o Brasil tem
conquistado o seu espaço no relacionamento com Angola e tem conseguido
firmar-se como país de destino para os estudantes angolanos darem
continuidade à sua formação (LIBERATO, 2012).7
Desta forma, novos acordos vão aparecendo no cenário estudantil angolano,
participando assim de seus planos estratégicos de formação de quadros para o país. A
necessidade de desenvolvimento tem sido o grande impulsionador para tais cooperações. O
Programa de Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G) tem sido um dos parceiros nessa
busca por profissionalização.
Estes quadros apresentam o trânsito dos estudantes angolanos que vieram ao Brasil por
meio do PEC-G. Nestes, constam as inscrições e admissões ao Ensino Superior brasileiro, que
acontecem nessas duas etapas. Os critérios de acesso são aqueles citados acima.
Assim, pode-se notar que nos anos de 2013 a 2015 não se verifica o registro dos
alunos inscritos, o próprio site não apresenta tais informações. Entretanto, registrou-se um
aumento numérico do número de inscritos para o de admitidos no ano de 2017, mas, também,
não achamos nos editais explicação para tal aumento no qual aparece um acréscimo de 3
alunos no resultado final.
Neste processo de coleta retiramos os dados dos editais presentes na plataforma do
MEC – BRASIL de acordo a maneira como estes estavam disponibilizados. Para nossa
surpresa não encontramos alunos angolanos inscritos nos cursos de formação docente, apesar
desta modalidade constar nas opções e nas recomendações dos editais seletivos, ou seja,
aqueles que se inscrevem no programa têm a possibilidade de saber exatamente em que tipo
de curso este vai se cadastrar, por isso, o fato de não acharmos alunos ingressando nessa área
formativa pode ser um sinal de pouco interesse para aqueles que buscam formar-se fora do
país, em particular no Brasil.
Este trabalho pode sugerir uma nova pesquisa, no sentido de se perceber o porquê
dessa ausência de alunos nos cursos de formação docente. Um trabalho nessa linha poderia
nos esclarecer outras questões que circundam a docência como uma opção profissional para
os estudantes angolanos egressos do Ensino Médio.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
BIBLIOGRAFIA