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Casa da

Casa da Agricultura ‫ ׀‬1

ISSN 0100-6541
Ano 18 - N.º 4
out./nov./dez./2015

Agricultura

Assistência Técnica
e Extensão Rural
2 ‫ ׀‬Casa da Agricultura

Assistência Técnica
e Extensão Rural:

Rodrigo Di Carlo – Cecor/CATI


fundamental para o desenvolvimento
da agricultura paulista
Esta edição nos faz observar – por meio de nossa Os projetos que a CATI desenvolve têm como
história e ações atuais – a importância dos 48 anos objetivo fortalecer o setor agrícola, com ações con-
de assistência técnica e extensão rural (Ater) pra- juntas dos órgãos da Secretaria de Agricultura e
ticadas pela Coordenadoria de Assistência Técnica Abastecimento e de parceiros do setor privado, fo-
Integral (CATI), órgão da Secretaria de Agricultura e cando esforços na recuperação de áreas degradadas
Abastecimento do Estado de São Paulo. e nas principais cadeias produtivas do Estado de São
Paulo: aquicultura, bovinocultura de leite, bovinocul-
São cerca de 300 mil estabelecimentos rurais pau-
tura de corte, cafeicultura, fruticultura, heveicultura e
Governador do Estado listas que contam com as orientações e o atendimen-
olericultura.
Geraldo Alckmin to dos mais de dois mil servidores que integram o
quadro funcional da instituição e que trabalham em São estimuladas pela instituição, ações programa-
Secretário de Agricultura e Abastecimento prol do desenvolvimento rural dos pequenos e mé- das e integradas as quais visam: incentivar a adoção
Arnaldo Jardim dios agricultores de São Paulo. Para que esse processo de práticas conservacionistas, por meio do Projeto
de educação constante chegue aos campos, conta- Integra SP; estimular a produção agropecuária com
Secretário-Adjunto mos com cerca de mil extensionistas capacitados nas sustentabilidade econômica, social e ambiental, en-
Rubens Naman Rizek Junior demandas rotineiras e nas específicas da área rural, volvendo todos os elos das cadeias produtivas li-
que atuam, inclusive, graças à parceria entre a CATI e gadas às pequenas e médias propriedades; ampliar
Chefe de Gabinete as prefeituras municipais. as oportunidades de negócio, por meio do Projeto
Omar Cassim Neto Microbacias II – Acesso ao Mercado, uma parceria en-
Desde o início de suas atividades, na década de
tre o governo do Estado e o Banco Mundial, principal-
1970, data que se confunde com a criação da CATI, em
Coordenador/Assistência Técnica Integral mente em relação aos produtores familiares, com a
1967, a extensão rural se aprimorou para atender, de
José Carlos Rossetti realização de capacitações na área de comercialização
forma mais personalizada, às necessidades de cada
e liberação de recursos para a implementação de em-
região. De um atendimento dirigido a um número
Diretor/Departamento de Comunicação e Treinamento preendimentos como agroindústrias, packing houses
pequeno de agricultores, a CATI passou a ampliar sua
Ypujucan Caramuru Pinto ou outros com vistas a atender o mercado consumi-
rede de atuação. Hoje, estamos presentes em quase
dor, revertendo em melhoria de renda para as famílias
todos os municípios paulistas por meio das 594 Casas
Diretor/Departamento de Sementes, Mudas e Matrizes rurais.
da Agricultura, das 40 Regionais e dos 21 Núcleos
Edson Luiz Coutinho
de Produção de Sementes e Mudas. Contamos com Além dos diversos projetos da CATI, as Casas da
uma rede de profissionais prontos para prestar apoio Agricultura investem esforços em ações diretas ou ar-
técnico aos agricultores sobre diversos temas, como ticuladas com outras entidades para garantir o acesso
a obtenção de crédito agrícola, seguro rural, transfe- dos produtores rurais às políticas públicas em diver-
rência de tecnologia, planejamento da propriedade, sas áreas como crédito rural, seguro subsidiado, gera-
elaboração de projetos de recuperação do solo, reflo- ção de renda e adequação ambiental.
restamento, adequação de estradas rurais, entre ou-
tros. Múltiplas atividades e treinamentos são realiza- Nesta Revista especial sobre a Ater praticada pela
dos pela sua equipe de profissionais: dias de campo, CATI, tivemos a honra de contar com as palavras do
organização de cursos sobre noções de administração governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e com as
rural, processamento artesanal, medicina veterinária do secretário de Agricultura e Abastecimento, Arnaldo
preventiva, orientação agronômica sobre pragas e Jardim, sobre a importância da nossa instituição para
doenças e várias outras capacitações. o desenvolvimento da agricultura paulista.

Boa leitura!
José Carlos Rossetti
Coordenador da CATI
Edição e Publicação - Cecor/CATI

Expediente

Sumário
4 Entrevista
Departamento de Comunicação e Treinamento – DCT 7 CATI – importância estratégica para a administração pública e para as ações focadas
Diretor: Ypujucan Caramuru Pinto no desenvolvimento rural
Centro de Comunicação Rural - Cecor
Diretora: Roberta Lage 9 Extensão Rural – Panorama atual e desafios
Editora responsável: Jorn. Roberta Lage (MTB 43.382-SP)
11 CATI: Ater a serviço do desenvolvimento sustentável da produção paulista
Coeditora: Jorn. Graça D’Auria (MTB 18.760-RJ
Revisor: Carlos Augusto de Matos Bernardo 14 CATI: as ações de Assistência Técnica e Extensão Rural para uma Agricultura
Reportagens: Jornalistas Cleusa Pinheiro (MTB 28.487-SP), Sustentável
Graça D’Auria (MTB 18.760-RJ), Juliana Montoya (MTB 31.733-SP),
Roberta Lage (MTB 43.382-SP). 17 Acesso ao mercado - um novo enfoque para a extensão rural paulista
19 Extensão Rural para Povos Tradicionais: unindo etnodesenvolvimento e redes
Supervisão técnica dos textos: Abelardo Gonçalves Pinto – sociotécnicas de cooperação
Engenheiro Agrônomo – Divisão de Extensão Rural (Dextru/CATI)
Fotos: Banco de imagens CATI 21 Extensão Rural – surgem novas ações impostas pela sociedade
Designer gráfico: Lilian Cerveira
Distribuição: Centro de Comunicação Rural – Cecor 24 Extensionista: multifaces de um profissional
Impressão e acabamento: Cássia Simões Santana ME
27 Crédito Rural: uma importante ferramenta para o produtor agropecuário
Os artigos técnicos são de inteira responsabilidade dos autores. 29 Extensão Rural, Economia Solidária e Redes Sociotécnicas
É permitida a reprodução parcial, desde que citada a fonte.
A reprodução total depende de autorização expressa da CATI. 31 Ater para todos os públicos
34 Cadeias Produtivas: fortalecimento da agropecuária paulista rumo ao mercado
Assista aos vídeos das reportagens na versão virtual da consumidor
Revista Casa da Agricultura no site
www.cati.sp.gov.br 38 Projeto Microbacias II: extensão rural para o acesso ao mercado

Não deixe de nos escrever, por carta ou e-mail


42 Ater para populações tradicionais: um trabalho diferenciado
Nosso endereço: CATI – Centro de Comunicação Rural 45 Ater: um pouco de história e o trabalho da Secretaria de Agricultura e Abastecimento
Av. Brasil, 2.340 – CEP 13070-178 – C.P. 960 – CEP 13012-970
Campinas, SP – Tel.: (19) 3743-3870 48 Aconteceu
cecor@cati.sp.gov.br
www.cati.sp.gov.br
Casa da Agricultura ‫ ׀‬7

Entrevista CATI – diferença no gráficas, entre os anos 2000 e 2008. Ele incentivou os
agricultores a adotarem práticas conservacionistas,
processo educativo promovido pela extensão ru-
ral da instituição?
com produção ecologicamente sustentável, e os be-
agronegócio paulista e na neficiou com capacitação, organização e difusão de Geraldo Alckmin – Um dos elementos que mais valo-
alternativas de renda e emprego. rizam o trabalho realizado pela CATI é a sua capilarida-
melhoria de condições de vida de, que permite que as informações cheguem a todos
RCA – Como o Programa Estadual de Microbacias os produtores. Destaco a dedicação de seus profissio-
dos produtores rurais Hidrográficas e o Microbacias II – Acesso ao Merca- nais e a qualidade do material produzido pela CATI
– boletins técnicos, instruções práticas, vídeos, site, a
do, que terá execução até 2017, promovem trans-
formações econômicas, sociais e ambientais na newsletter semanal CATI On-Line, além da revista Casa
RCA - Como o senhor define as da Agricultura. Os instrumentos de comunicação são
vida dos produtores?
ações de assistência técnica e importantes aliados da extensão rural. É um trabalho
extensão rural (Ater) e avalia o que deve ser, cada vez mais, intensificado.
desempenho da Coordenadoria Geraldo Alckmin – A CATI é responsável pela atual
de Assistência Técnica Integral forma de organização da agricultura no Estado, que
(CATI), da Secretaria de conta com associações e cooperativas. E tem a fun- "Um dos elementos que mais valorizam
Agricultura e Abastecimento? ção de levar aos produtores, principalmente os mais
isolados, o conhecimento gerado nas universidades o trabalho realizado pela CATI é a
Geraldo Alckmin – São ambas e nos institutos de pesquisa mantidos pela Secretaria sua capilaridade, que permite que
de Agricultura. Essas informações se transformam em
as informações cheguem a todos os
Geraldo Alckmin
fundamentais para o avanço da
economia e o desenvolvimento práticas e sistemas aplicados pelos produtores rurais.
Destaco e festejo o excelente resultado que teve a produtores. Destaco a dedicação de seus
social do Estado de São Paulo. A
Governador de São Paulo extensão rural dá assistência, prin- sexta Chamada Pública do Projeto Microbacias II em
número de inscrições de associações e cooperativas.
profissionais e a qualidade do material
Por: Roberta Lage – Jornalista – Centro de Comunicação Rural (Cecor/CATI)
cipalmente, aos pequenos agricul- produzido pela instituição ."
tores e à agricultura familiar, res- É um projeto emancipador, que realmente fortalece
roberta.lage@cati.sp.gov.br quem produz.
ponsáveis, basicamente, por toda a

N o quinto ano após seu relançamento, a equipe da Revista


Casa da Agricultura encerra a última edição do ano com a
honra de entrevistar o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.
produção de frutas, verduras, leite,
flores e outros itens da cesta pau-
lista de produtos. A CATI atende os
RCA – Outras ações que colaboram para o desen-
volvimento da extensão rural paulista merecem
RCA – Qual o novo perfil do produtor rural e do ex-
tensionista?

Nascido em Pindamonhangaba, em 7 de novembro de 1952, é for- produtores com a missão de tor- destaque, como o Levantamento Censitário das Geraldo Alckmin - Além de conhecer determinada
mado em medicina pela Universidade de Taubaté, com especiali- ná-los mais eficientes, garantindo Unidades de Produção Agropecuária do Estado de cultura ou animal, o produtor hoje precisa explorar
zação em anestesiologia. Sua carreira política teve início em sua que haja produção em quantida- São Paulo (Lupa), uma base de dados, criada em várias áreas: administrativa, econômica, ambiental e
cidade natal, onde foi eleito vereador, presidente da Câmara dos de, com qualidade e maior geração 2008 pela CATI, que fornece informações sobre mercadológica. O conceito de cadeia produtiva é um
Vereadores e prefeito. Em 1982, tornou-se deputado estadual pelo de renda. mais de 300 mil propriedades rurais. Qual a rele- imperativo. A agropecuária, hoje em dia, é uma plu-
PMDB e, quatro anos mais tarde, elegeu-se deputado federal. Foi vância desse levantamento para a administração riatividade, que inclui a produção agrícola e o turismo
vice-líder da bancada na Assembleia Nacional Constituinte e, pos- pública?
RCA - No Brasil, a maioria dos rural. Ao mesmo tempo, há uma multifuncionalidade
teriormente, um dos fundadores do Partido da Social Democracia
estados trabalha no sistema de na produção: ela não diz respeito apenas a alimentos
Brasileira (PSDB). Na Câmara, foi o relator do Código de Defesa do
emateres. Aqui, para prover es- Geraldo Alckmin – Tem grande importância estraté- e sua qualidade, mas também a geração de energia,
Consumidor e também o relator do projeto que originou a Lei de
ses serviços, foi criada a CATI, gica. A partir do primeiro levantamento, entre 1996 e preservação do meio ambiente, além de ter uma fun-
Benefícios da Previdência Social. Em 1994, foi eleito vice-governa-
que dá sequência ao trabalho re- 1997, passamos a conhecer cada unidade de produ- ção social de geração de emprego e renda. Como o
dor de Mário Covas. Com a morte de Covas, em 2001, assumiu o
governo e se reelegeu em 2002. Foi candidato à Prefeitura de São alizado desde 1950 pelas Casas ção agropecuária do Estado, o que permite planejar
Paulo em duas ocasiões, em 2000 e em 2008. Concorreu à presi- da Lavoura, atuais Casas da Agri- em âmbitos municipal, regional e estadual. Sabemos
dência da República em 2006. Em 2009, foi empossado secretário cultura. Como a estrutura pau- qual o uso e a ocupação das áreas rurais e quantos
de Estado de Desenvolvimento. Em 2010, venceu as eleições para lista se diferencia das demais no se dedicam a determinada atividade. Com o desafio
governador do Estado no primeiro turno, recebendo mais de 11,5 País? de completar o Cadastro Ambiental Rural (CAR) e im-
milhões de votos. Foi reeleito em 2014, com mais de 12,2 milhões plementar o Programa de Regularização Ambiental
de votos. (PRA), esse trabalho será ainda mais importante. O
Geraldo Alckmin – A partir da
Lupa é uma ferramenta muito valiosa para implemen-
Alckmin demonstra um carinho muito grande com a década de 1990, a extensão se di-
tar as políticas públicas para o campo com eficiência,
Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) e com a ferenciou do modelo dos demais
apuro técnico e bom uso dos recursos públicos.
Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA), pasta na qual seu estados. Um acordo de emprésti-
pai, o médico veterinário Geraldo José Rodrigues Alckmin, traba- mo assinado entre o governo pau-
lhou por mais de 40 anos. Nesta entrevista, o governador de São lista e o Banco Mundial permitiu à RCA – Os extensionistas da CATI estão presentes
Paulo enaltece a extensão rural paulista e os projetos, programas CATI executar o inovador Progra- em quase todos os municípios, por meio das 594
e as ações da CATI. ma Estadual de Microbacias Hidro- Casas da Agricultura e 40 Regionais. Como avalia o
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"São Paulo tem, hoje,


CATI – importância estratégica para a
uma extensão rural administração pública e para as ações focadas no
preocupada com as
questões ambientais e que desenvolvimento rural
promove o fortalecimento Arnaldo Jardim - Secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo

E
da agricultura familiar, u gostaria de tratar da extensão rural como uma disseminação

João Luiz – SAA


do conhecimento, diminuição de obrigações, uma fonte de mu-
principalmente com
dança social. A extensão rural vem criando, recriando, adaptando
geração de renda. O e desenvolvendo, ao longo dos séculos, a relação do ser humano com o
desafio é incentivar ambiente, por meio das técnicas de produção de alimentos, de energia e
fibras.
a permanência
Historiadores mostram que, embora sua forma atual tenha se inicia-
dos produtores, do nos últimos 200 anos como resposta ao início da era científica e in-
principalmente os jovens, dustrial, sua evolução tem 4.000 mil anos. Arqueólogos encontraram, na
Mesopotâmia, tabuinhas de argila que ensinaram produtores a irrigar as
no campo e promover
culturas e a livrar de ratos as colheitas. Hieróglifos egípcios também davam
a modernização, a conselhos sobre como evitar perdas econômicas nas culturas causadas
produção sustentável e a pelas inundações do rio Nilo. Documentos romanos ensinavam os pro-

Foto: A2img/Ciete Silvério


prietários de terras a manter e melhorar suas propriedades e suas receitas
eficiência na agricultura financeiras. Já naquele tempo, o objetivo governamental era proporcionar
familiar." segurança alimentar para a população e evitar a perda de valor econômico
para os agricultores e de receita para o Estado.
Extensionistas dão vida a um mecanismo especializado de transmissão
do conhecimento gerado nas universidades, nos institutos de pesquisa e
produtor evoluiu, o perfil do extensionista precisa tas de nível superior - agrônomos, veterinários e zoo- nas empresas, para ser utilizado pelos produtores rurais e agroindustriais.

João Luiz – SAA


acompanhar essa evolução, conhecendo todas as no- tecnistas.
vas funções e relações atualmente ligadas à produção Devemos nos orgulhar da Secretaria de Agricultura como uma das maio-
RCA – Quais os principais avanços e desafios da res redes de pesquisa e extensão rural em agricultura tropical do mundo,
agropecuária.
Ater nos últimos anos? com mais de 1.400 técnicos de nível superior. A função precípua dessa or-
RCA – Como evitar o êxodo rural e aumentar a par- ganização de Estado é responder às exigências da sociedade por produtos
Geraldo Alckmin - São Paulo tem, hoje, uma exten-

Lilian Cerveira – Cecor/CATI


ticipação dos jovens no ambiente rural? e serviços agropecuários. Por meio de práticas cada vez mais eficientes e
são rural preocupada com as questões ambientais e sustentáveis, ambiental e socialmente, de utilização racional dos recursos
Geraldo Alckmin - As atividades tradicionalmente que promove o fortalecimento da agricultura familiar, naturais, humanos e financeiros responder às demandas da população.
executadas na agropecuária podem não ser tão atra- principalmente com geração de renda. O desafio é
O serviço de extensão rural da Secretaria deriva de seus departamentos
tivas aos jovens, o que aponta a necessidade de bus- incentivar a permanência dos produtores no campo, de Produção Vegetal e Produção Animal, instituídos na primeira metade
car alternativas. Por exemplo, fazer com que o rendi- principalmente os jovens, e promover a moderniza- do século XX, os quais, por sua vez, se originaram de um serviço de di-
mento anual, que acompanha a safra, seja mensal. Os ção, a produção sustentável e a eficiência na agricul- fusão tecnológica do Instituto Agronômico, de Campinas, cuja missão era
jovens só permanecerão no campo se tiverem maior tura familiar. aumentar a produtividade do café, base da economia paulista no final do
participação na gestão das propriedades. O desafio século XIX.
da extensão rural é justamente promover essas condi- As ações governamentais de assistência técnica e extensão rural com-
ções, que, consequentemente, podem garantir maior põem um processo planejado e desempenhado por uma instituição, a
preparo e sucessão familiar nos negócios na área rural. Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) que, além de forne-
cer assistência técnica aos pequenos agricultores e à agricultura familiar,
RCA – Quais os principais investimentos do gover- responsáveis basicamente por toda a produção de frutas, verduras, leite,
no paulista nos serviços de extensão rural? flores e outros itens da cesta paulista de produtos, atende às políticas pú-
Geraldo Alckmin - Desde 1997, os investimentos são blicas do Estado na área da agricultura e de suas interfaces com o ambiente
realizados com financiamento do Banco Mundial, por e a sociedade.
meio do Microbacias I, no valor de US$ 124 milhões, Braço do Estado que aprimora a utilização dos recursos sociais, a CATI
e do Microbacias II, no valor de US$ 130 milhões. Isso planeja e realiza ações de extensão rural que buscam aumentar a produti-

João Luiz – SAA


tem permitido à CATI obter recursos para a melhoria vidade dos sistemas de produção dos produtores rurais e agroindustriais,
de frotas, edifícios e tecnologias. Fizemos, também, em resposta à necessidade de recursos, especialmente capital humano, fi-
concursos públicos para contratação de extensionis- nanceiro e social, dos setores industrial e de serviços.
10 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬11
João Luiz – SAA

servacionistas, ecologicamente sustentáveis. A atual


forma de organização dos agricultores no Estado, em
associações e cooperativas, repercute fortemente o
sucesso desse Programa. Atualmente, por meio de um

E x te n s ã o R u ra l
acordo de empréstimo entre o governo paulista e o
Banco Mundial, a CATI executa o inovador Projeto de
Desenvolvimento Rural Sustentável - Microbacias II -
Acesso ao Mercado, que os beneficia com capacitação,
organização e difusão de alternativas de renda e em-
prego, com foco no mercado.
Em sua ação, uma das grandes forças do trabalho
Panorama atual e desafios
Abelardo Gonçalves Pinto – Engenheiro Agrônomo – Divisão de Extensão Rural (Dextru/CATI) – abelardo@cati.sp.gov.br
educativo da CATI é sua capilaridade, característica que

O
permite uma interação do Estado com a maior parte serviço de assistência técnica e extensão rural dicionais, os assentados da reforma agrária, integrantes de
Desde o café, fonte do capital inicial de nossa indus- dos seus produtores. A dedicação de seus profissionais (Ater) compõe uma parte essencial da estratégia remanescentes de quilombos, indígenas aldeados, pesca-
trialização, é o desenvolvimento tecnológico da agri- e a qualidade do seu material institucional são partes de desenvolvimento rural no Brasil, ao lado das dores artesanais, caiçaras, ribeirinhos etc.
cultura, apoiada pela nossa pesquisa e extensão rural, importantes desse sistema. políticas de crédito rural, compras governamentais, do se-
Há um consenso de que o segmento mais capitalizado
que tornou São Paulo e o Brasil um dos maiores produ- guro agrícola, da reforma agrária e segurança alimentar, en-
da agricultura e detentor de 80% das terras se organiza in-
tores de alimentos do mundo e a força de equilíbrio de Na atualidade, além de conhecer a parte técnica da tre outras. É conceituado pela legislação federal como sen-
dependentemente da ação governamental. É o caso dos
nossa balança comercial. cultura, vegetal ou animal, o produtor precisa consi- do um “serviço de educação não formal, de caráter continu-
grandes produtores de commodities (produtos com pe-
derar as áreas do sistema de produção: administrativa, ado, no meio rural, que promove processos de gestão, pro-
Por meio de projetos planejados e programados, queno grau de industrialização e negociados em bolsas de
econômica, ambiental e mercadológica. Por essa razão, dução, beneficiamento e comercialização das atividades e
mercadorias), que trabalham com as monoculturas da soja
nossa organização de extensão ajuda as pessoas do utilizar uma análise sistêmica, com uma base conceitu- dos serviços agropecuários e não agropecuários, inclusive
e cana-de-açúcar, bovinocultura de corte etc.
campo a tomarem decisões que respondem tanto às das atividades agroextrativistas, florestais e artesanais”.
al forte, é um imperativo. Ter a visão de cadeia produ-
demandas sociais quanto ao contínuo avanço científi- Então, como promover o desenvolvimento rural sus-
tiva e integrada e também orientar para uma postura Para Markus Brose, autor e consultor de desenvolvi-
tentável da agricultura familiar? Para a agricultura familiar
co e tecnológico. de permanente atualização e inovação. A agropecuária mento rural, a extensão rural é "um instrumento de forta-
e, por conseguinte, para a extensão rural, os principais de-
A CATI tem a missão de ajudar os produtores a criar é uma pluriatividade que inclui as produções agrícola lecimento da capacidade de autogestão e inovação perma-
safios são a melhoria da renda familiar e da qualidade de
e animal, o turismo rural e os serviços ambientais. Hoje nente das comunidades rurais".
sistemas agropastoris ambiental e socialmente mais vida no campo. Para tais propósitos são fundamentais as
eficazes e mais eficientes, garantindo que haja produ- em dia, a agricultura trata da oferta de alimentos de Para a Associação Brasileira das Entidades Estaduais estratégias de organização rural, de dinamização econômi-
ção de bens agropecuários e ambientais em quantida- qualidade, de geração de energia, de preservação do de Assistência Técnica e Extensão Rural (Asbraer), o papel ca – via diversificação produtiva –, a melhoria da gestão das
de e qualidade para a sociedade civil; maior geração meio ambiente, de produção de água, de geração de da extensão rural é "transformar as políticas públicas em propriedades, a regularização ambiental e a inserção nos
de renda, inclusive salarial, para as pessoas; além de emprego e renda. programas, projetos e planos estruturantes, mobilizando mercados de compras governamentais e de produtos or-
preservação ambiental. E tem feito isso com dedicação. os recursos humanos e a infraestrutura disponíveis na rede gânicos.
A sociedade evoluiu, a agricultura também evoluiu nacional de Ater. Nesse contexto, o extensionista rural é um
Sua função é levar aos produtores rurais, princi- e isso demanda que o extensionista também evolua e agente público de mudanças, um dos elos de equilíbrio en- Essa agenda de desenvolvimento rural requer a forma-
inove em suas novas funções sociais. Esta é a razão pela tre o rural e o urbano". ção continuada de agricultores e extensionistas, pois am-
palmente aos mais isolados, além do conhecimento bos precisam desenvolver novas habilidades e competên-
gerado nas universidades e nos institutos de pesqui- qual nossa extensão rural, constituída por homens e A Extensão Rural tem suas raízes históricas ligadas às cri- cias.
sa mantidos pela Secretaria de Agricultura, também mulheres de primeira qualidade, profissionais dedica- ses ocorridas nas economias rurais da Europa e dos Estados
as políticas públicas do Estado. Essas informações se dos e apaixonados pelo que fazem, agora se preocupa Unidos durante o século XIX. No Brasil, a história desse im- No âmbito da extensão rural, tal agenda demanda a re-
transformam em práticas adotadas pelos produtores não apenas com a produção e a produtividade, mas portante serviço público teve início em Minas Gerais, em composição dos quadros de extensionistas, incluindo, além
também com questões ambientais e sociais, como ge- 1948, e hoje está presente em 27 estados, com um quadro da área de ciências agrárias, profissionais das áreas social
rurais.
ração de renda, permanência dos produtores e seus jo- de cerca de 16 mil extensionistas e nove mil profissionais (assistentes sociais, sociólogos, educadores e nutricionis-
A CATI tem importância estratégica para a admi- na área administrativa (Asbraer, 2014). tas), ambiental (engenheiros florestais, ecólogos) e econô-
vens no campo, por meio da promoção da moderniza-
nistração pública conhecer a realidade rural do Estado mica (economistas e administradores). Para atender ade-
ção da produção sustentável, do aumento da eficiência Em São Paulo, atuam cerca de 1.200 extensionis- quadamente às novas exigências da sociedade em geral
e assim propor políticas públicas eficazes e eficientes na agricultura familiar e da busca da saudabilidade dos
na área. Por exemplo, o Levantamento Censitário das tas, em 17 organizações reconhecidas pelo Ministério e da agricultura familiar especificamente, a extensão rural
produtos agropecuários. do Desenvolvimento Agrário (MDA). Somente na precisa oferecer um apoio técnico abrangente e multidisci-
Unidades de Produção Agropecuária (Lupa). O Lupa, Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), órgão plinar, contemplando os aspectos tecnológicos, econômi-
desde o primeiro levantamento, entre 1996 e 1997, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, são 1.000 cos, sociais e ambientais.
tem permitido que o Estado conheça suas unidades
João Luiz – SAA

extensionistas atuando em 594 municípios, por meio de


de produção agropecuária, qual o uso, a ocupação das escritórios locais denominados Casas da Agricultura. Desse Além da busca da multidisciplinaridade, outro ponto
áreas rurais e quantos se dedicam a determinada ati- contingente, 400 extensionistas são vinculados às prefeitu- importante a ser repensado pelas organizações de exten-
vidade e assim por diante. O Lupa é uma ferramenta ras municipais, que atuam em convênio com a CATI. são rural é a avaliação de suas ações, de forma a deixar mais
claro para a sociedade em geral o real valor do seu trabalho.
extremamente valiosa para implementar as políticas A agricultura familiar é o principal público beneficiário É notória a baixa visibilidade dos serviços de Ater, tanto na
públicas direcionadas ao campo com eficiência, apu- dos serviços de extensão rural no Brasil. Esse segmento é sociedade como junto aos poderes executivos e legislati-
ro técnico e bom uso dos recursos públicos. O desa- constituído por cerca de 4,3 milhões de estabelecimentos vos estaduais e federais.
fio atual é apoiar os produtores rurais a completarem (84,4% do total do País), detém 20% das terras e é responsá-
o Cadastro Ambiental Rural (CAR) e implementarem o vel por 30% da produção nacional. É um segmento bastan- Em recente seminário de avaliação dos serviços de Ater
Programa de Regularização Ambiental (PRA). te complexo, com diferentes níveis de capitalização e uma no Brasil, organizado pelo Ministério do Desenvolvimento
rica diversidade cultural e social. São Paulo conta com cerca Agrário (MDA), um dos pontos destacados foi a falta de ava-
O Programa Estadual de Microbacias Hidrográficas de 260 mil unidades familiares de produção (81% do total liação de resultados, isto é, dos efeitos e impactos das ações
incentivou os agricultores a adotarem práticas con- estadual). Nesse conjunto encontram-se os agricultores tra- extensionistas. O monitoramento é feito apenas para medir
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CATI: Ater a serviço do


os esforços realizados e não os impactos gerados na renda produção é destinada aos mercados de compras governa-
familiar, na qualidade de vida, nos indicadores ambientais, mentais, varejista e atacadista.
no fortalecimento das organizações de produtores, na me-
Em Ribeirão Preto, o Assentamento Mario Lago, apoia-
lhoria da qualidade dos produtos etc.
Mas, em que pese não haver ainda metodologias e sis-
temas eficientes de avaliação de efeitos e impactos, pode-
do pelo Instituto BioSistêmico (IBS) e pela CATI (Projeto
Microbacias II), desenvolveu e implantou um "Circuito
Curto de Produção e Consumo", que leva diretamente aos
desenvolvimento sustentável da
mos constatar, nos últimos anos, avanços significativos tan- consumidores urbanos cestas de hortaliças e frutas produ-
to nas ações da extensão rural como no desenvolvimento
da agricultura familiar. Nos anos recentes foi construído um
ambiente institucional que propiciou o desenvolvimento
zidas em sistemas agroflorestais. A Fundação Itesp atua em
Ubatuba junto a uma rede de cooperação (Rede Caiçara)
que desenvolveu e implantou sistema semelhante, levan-
produção paulista
da extensão rural e da agricultura familiar. Quais aspectos do a produção de hortaliças de comunidades tradicionais
Pedro César Avelar – Diretor da CATI Regional Franca – edr.franca@cati.sp.gov.br
conformam esse cenário otimista? quilombolas e caiçaras para os consumidores urbanos. Em
Avaré, a CATI é parceira de uma rede de estudos em agro- Amanda Hernandes Stefani – Engenheira Agrônoma – Casa da Agricultura de Batatais (CATI Regional Franca) – ca.batatais@cati.sp.gov.br
Em primeiro lugar, a promulgação das leis que estabe-
ecologia e produção orgânica, que desenvolveu um siste-
leceram as políticas nacionais de Ater (Pnater) e da agricul-
ma local de produção de hortaliças com certificação par-
tura familiar (Lei da Agricultura Familiar), trazendo parâ-
ticipativa e utilização de biofertilizantes. Em Divinolândia,
metros claros para a compreensão dos propósitos da ação
a Associação dos Cafeicultores de Montanha, em parceria
extensionista e para o desenho de estratégias de desenvol-
com a CATI (Projeto Microbacias II), investiu na construção
vimento rural sustentável.
de uma Unidade de Rebenefício, visando agregar valor ao
Um segundo aspecto foi a criação das políticas de com- produto.
pras governamentais pelos governos federal e estadual
Outras redes de cooperação atuam no saneamento
(PAA, PNAE e PPAIS), que abriram novos horizontes para a
básico rural, na organização de agricultores para a implan-
melhoria da renda e a diversificação produtiva dos agricul-
tação de sistemas agroflorestais visando à recuperação de
tores familiares. A melhoria da qualidade da merenda es-
áreas de preservação permanente etc.
colar, com frutas e olerícolas frescas e a valorização da pro-
dução local, são fatos até há pouco tempo inimagináveis. Finalizando esse panorama da extensão rural, talvez
Novos polos regionais de produção de frutas e olerícolas o maior desafio nesses tempos de crise econômica seja a
estão se formando em função dessas políticas. questão dos orçamentos estaduais necessários para viabili-
zar com qualidade a continuidade desse importante servi-
Outro marco importante foi a normatização ambiental
ço público. É urgente a necessidade de encontrar formas de
trazida pelo novo Código Florestal. Sua inclusão nos pro-
incrementar os investimentos atuais nos serviços de Ater,

A
tocolos de Boas Práticas Agropecuárias garantem a estabi-
pois a realidade orçamentária é que municípios e estados
lidade das "regras do jogo" e propiciam maior confiança e Coordenadoria de Assistência Técnica Por meio do desenvolvimento de projetos de
estão no limite do estabelecido na Lei de Responsabilidade
eficiência para a comercialização dos produtos agrícolas,
Fiscal. Há, portanto, carência de recursos para contratação Integral (CATI) é uma instituição da Secretaria Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater), os exten-
condição indispensável para o acesso a mercados cada vez de Agricultura e Abastecimento do Estado sionistas acompanham as atividades dos produtores
e qualificação dos extensionistas, para melhorias nas condi-
mais exigentes e para a obtenção de selos de certificação de São Paulo que prospecta, coordena e executa ser- em diversos âmbitos, trabalhando junto do produ-
ções de trabalho e para a modernização da infraestrutura.
que são passaportes para mercados especiais, como os do viços de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) ao tor rural, com ações práticas de desenvolvimento
Isso compromete sobremaneira a capacidade operacional
comércio justo (fairtrade), do mercado orgânico e da eco- produtor rural, buscando inserir ações de Boas Práticas do agronegócio, que contribuem para a geração de
das entidades estaduais de Ater.
nomia solidária.
Nesse sentido, muita esperança traz o início efetivo de
Agropecuárias no dia a dia do campo. Sua missão é emprego e renda, segurança alimentar, agregação de
Um último aspecto a ser destacado foi a mobiliza- “promover o desenvolvimento rural sustentável, por valor aos produtos produzidos, competitividade do
atuação da recém criada Agência Nacional de Assistência
ção recente da categoria dos profissionais da extensão meio de programas e ações participativas com o en- agronegócio, inclusão social, o desenvolvimento hu-
Técnica e Extensão Rural (Anater). Com ela ressurge a pos-
rural no sentido da criação de Frentes Parlamentares de volvimento da comunidade, de entidades parceiras e mano e para a preservação ambiental.
sibilidade de criação de um forte Sistema Nacional de Ater,
Apoio à Extensão Rural, tanto na Câmara Federal como na de todos os segmentos dos negócios agrícolas”. Com
capaz de universalizar o atendimento aos agricultores fami-
Assembleia Legislativa de São Paulo. Tais iniciativas já resul- O trabalho dos extensionistas
liares e médios agricultores, prover um robusto programa base em sua missão, é da integração entre governo e
taram em maiores aportes orçamentários para a extensão
de formação extensionista e proporcionar a efetiva implan- sociedade que estão surgindo as novas soluções para Os serviços e produtos da instituição estão dis-
rural e inauguraram novos espaços de debate e valorização
tação das inovadoras políticas de desenvolvimento rural o fortalecimento e a expansão da agropecuária, com poníveis aos agricultores e pecuaristas nas Casas da
da extensão rural e da agricultura.
hoje existentes, tornando factível o alcance dos ambiciosos incentivo às parcerias e aos convênios, respeitando as Agricultura, onde engenheiros agrônomos, enge-
Em São Paulo, esse novo ambiente institucional – tra- objetivos da Política Nacional de Ater. características e as necessidades de cada região. nheiros agrícolas, zootecnistas e médicos veterinários,
zido pela conjunção de novas políticas públicas e de com apoio de profissionais da área administrativa, es-
valorização da agricultura familiar – gerou várias ini- A CATI tem o compromisso com o homem do cam- tão aptos a atender às demandas dos produtores ru-
ciativas inovadoras da CATI, da Fundação Instituto de po, de fazer chegar até ele as tecnologias modernas, rais, prestando as mais adequadas orientações.
Terras do Estado de São Paulo (Itesp) e das organiza- que possibilitam o aumento da produção e produtivi-
ções de Ater prestadoras de serviços nos assentamen- dade, além de fornecer sementes e mudas com garan- Muitos produtores rurais, que detêm alto potencial
tos de reforma agrária. Vejamos alguns exemplos. para produção, ainda não possuem adequada eficiên-
tia de origem genética a preços acessíveis, por meio
O Projeto Microbacias II – Acesso ao Mercado, um
cia, pois esbarram em diversos entraves técnicos e
de produção própria cooperada. sociais, que podem ser minimizados com orientação,
projeto viabilizado pela Secretaria de Agricultura e
Abastecimento por meio da CATI, em parceria com o Além da presença nas Casas da Agricultura, salas de nivelamento, capacitação e acompanhamento. Assim,
Banco Mundial, tem propiciado para associações e co- visitas da Secretaria de Agricultura, a instituição possui a extensão rural no Estado de São Paulo, realizada pe-
operativas de agricultores familiares a construção de uma rede de profissionais prontos para prestar apoio los profissionais da CATI, mostra sua importância na
iniciativas de negócios com subvenções financeiras técnico, os quais estão sediados nos 40 Escritórios de aplicação de tais ações, bem como prospecção da
para a implantação de agroindústrias, logística, trans- Desenvolvimento Rural ou CATI Regionais, como são demanda, no acompanhamento e na orientação dos
porte, beneficiamento e embalagem de produtos. A conhecidos. produtores, no fortalecimento da cadeia produtiva en-
14 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬15

Conformidade ao Programa Paulista da tão da propriedade rural, na comercialização; incenti- aos Comitês; com a realização de capacitações visan-
Agricultura de Interesse Social (Dconp - var a organização rural, objetivando o acesso ao mer- do ao uso racional da água e ao uso adequado da ir-
PPAIS), entre outras. cado, promovendo o desenvolvimento sustentável da rigação.
atividade; e proporcionar competitividade, possibili-
Além disso, estimulam, orientam e acom- Pela sua capilaridade, a CATI realiza o levantamen-
tando a melhoria da qualidade de vida dos produto-
panham projetos de acesso às políticas pú- to de safras da cultura do café e dos citros junto aos
res rurais e de suas famílias.
blicas, vinculadas à aquisição de alimentos produtores rurais, por meio de amostragem origina-
pelo poder público nas diversas esferas Entre os projetos desenvolvidos pela CATI, está o da no universo levantado pelo Lupa. Os dados são
(municipal, estadual e federal). Incentivam a Projeto de Desenvolvimento Rural Sustentável (PDRS) repassados ao Instituto de Economia Agrícola (IEA)
organização de produtores rurais na forma Microbacias II – Acesso ao Mercado, que visa a uma e à Companhia Nacional de Abastecimento (Conab),
de associações e cooperativas nas diversas melhor renumeração e valorização dos produtos da órgão federal responsável pela regularidade do abas-
cadeias produtivas, fortalecendo, orientan- agricultura familiar, com o fortalecimento de suas tecimento de alimentos no mercado nacional.
do e acompanhando a adequação e funcio- associações e cooperativas, levando ao aumento da A CATI também tem entre seus serviços a orien-
namento da organização. qualidade de vida desses produtores. Há incentivos tação técnica para o planejamento e a locação de
Na área de organização rural, os para a agregação de valor aos produtos, favorecendo práticas conservacionistas. Essa prestação de servi-
Conselhos de Desenvolvimento o acesso ao mercado e assegurando a sustentabilida- ço é muito importante para melhorar a produção e
Rural são fóruns permanentes de de ambiental e social da atividade agropecuária. também as questões ambientais, proporcionando a
debate dos interesses munici- conservação do solo em áreas rurais, a manutenção
pais e regionais. Os técnicos A CATI realiza, também, múltiplas atividades e trei- da qualidade dos solos, as áreas de produção agrícola
das Casas de Agricultura, namentos como Dias de Campo, capacitações na área e das estradas vicinais. Os serviços prestados são lo-
volvida e no fomen- juntamente com repre- agropecuária, instalação de Unidades Demonstrativas cação de linhas (nível e desnível), covas para implan-
to da atividade com sentantes dos segmentos e Unidades de Adaptação de Tecnologia com enfoque tação de cultura e bacias de contenção de águas plu-
a adoção correta de do agronegócio, onde em diversos temas, desde o manejo e os tratos cultu- viais em estradas.
gestão profissional estão inseridas, elaboram rais até a gestão e a administração da propriedade, a
e de tecnologias. os Planos Municipais de agregação de valor, as organizações rurais, a medicina
Essas ações, em lon- Desenvolvimento Rural, os veterinária preventiva, o processamento artesanal e
go prazo, estabelecem quais contêm as diretrizes as várias outras capacitações.
novos patamares de pro- e prioridades das atividades Além dos serviços prestados, oferece diversos pro-
dutividade e custo de pro- a serem desenvolvidas no muni- dutos como sementes e mudas a preços acessíveis,
dução, o que pode viabilizar o cípio. As Regionais da CATI também com garantia de qualidade genética, fisiológica e sa-
acesso ao mercado e às políticas pú- auxiliam a elaboração do Plano Regional de nitária, atingida por meio de intensos trabalhos de de-
blicas para agricultores familiares, com aumento Desenvolvimento Rural. senvolvimento tecnológico e ensaios de campo, que
de sua competitividade e da sustentabilidade de seu
Com vistas ao desenvolvimento rural sustentável, resulta do constante aperfeiçoamento tecnológico
empreendimento, com otimização de seus processos
os extensionistas da CATI também orientam os produ- dos sistemas de produção e do controle de qualida-
produtivos e melhora em seus rendimentos.
tores rurais na área ambiental, auxiliando os agricul- de em todas as suas etapas. Oferece também diversas
Os profissionais envolvidos prestam informações e tores familiares tanto no prenchimento do Cadastro publicações técnicas nas mais diversas áreas, conten-
orientam o produtor rural na condução de seus negó- Ambiental Rural (CAR), como na execução de pro- do informações sobre novas tecnologias agropecuá-
cios agrícolas, oferecendo apoio técnico aos agrope- rias. Atuação está em consonância com a Política
jetos, como o Integra SP, que preconiza a recupera- Nacional de Ater
cuaristas sobre diversos temas nas demandas diárias ção de áreas degradadas e a conservação do solo; o
e de acordo com a realidade de cada região, como a A instituição realiza o Levantamento Censitário As atividades de Assistência Técnica e Extensão
Programa Nascentes, que visa reflorestar as nascentes de Unidades de Produção Agropecuária (Lupa) do
obtenção de crédito agrícola, seguro rural, geração de de áreas nos entornos de mananciais; os projetos de Rural são definidas pela Política Nacional de Assistência
renda, transferência de tecnologia, planejamento da Estado de São Paulo, coordenando um amplo banco Técnica e Extensão Rural para a Agricultura Familiar e
readequadação de trechos críticos de estradas rurais, de dados que contém informações sobre a produ-
propriedade, elaboração de projetos de recuperação assunto no qual a instituição desenvolveu know-how Reforma Agrária (Pnater) e o Programa Nacional de
de solo, reflorestamento, adequação ambiental, ade- ção agropecuária paulista, base para a elaboração de Assistência Técnica e Extensão Rural na Agricultura
e metodologias próprias.
quação de estradas rurais, prospecção de demanda políticas agrícolas, organização do setor produtivo e Familiar e na Reforma Agrária (Pronater) como servi-
para elaboração de políticas agrícolas, censo agrope- Ações e Projetos obtenção de informações sobre safras, áreas, espécies ço de educação não formal, de caráter continuado no
cuário para o perfeito entendimento da dinâmica da cultivadas e tecnologias agregadas, além de outras in- meio rural, que promove processos de gestão, produ-
A CATI atende à demanda de diversas cadeias pro-
realidade rural, entre outros. formações de cunho social e econômico nas diferen- ção, beneficiamento e comercialização das atividades
dutivas, possuindo projetos institucionais nas princi-
tes regiões paulistas. e dos serviços agropecuários e não agropecuários.
Os extensionistas também são responsáveis pela pais regiões do Estado, que variam conforme a região,
elaboração de projetos de financiamento e de subven- nas áreas de aquicultura, cafeicultura, bovinocultura Estrutura da CATI
Na área de recursos hídricos, visando auxiliar e
ção do Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista de leite, bovinocultura de corte, olericultura, fruticul- Além das Casas da Agricultura, das Regionais e dos
apoiar os interesses dos produtores rurais, a CATI
(Feap/Banco do Agronegócio Familiar) do governo tura e heveicultura. Os projetos buscam fortalecer os Núcleos de Produção de Sementes e Mudas, a CATI
estadual; bem como pela verificação, pelo enquadra- atua de várias formas: com a participação dos técni- está estruturada em unidades departamentais, locali-
elos envolvidos; orientar e capacitar os produtores
mento e pela emissão de diversas declarações, como rurais em todas as etapas da produção; melhorar o cos, de forma descentralizada no Estado, nos Comitês zadas na sede em Campinas, como o Departamento de
a Declaração de Aptidão ao Feap (DAF), Declaração de manejo; incentivar a adoção do protocolo de Boas de Bacias Hidrográficas, orientando e apresentando Sementes Mudas e Matrizes (DSMM), o Departamento
Aptidão ao Programa Nacional de Apoio à Agricultura Práticas Agropecuárias; aumentar a produtividade; propostas técnicas; como agente técnico do Fundo de Comunicação e Treinamento (DCT), a Divisão de
Familiar (DAP - Pronaf ), Declaração de Conformidade melhorar a qualidade; buscar a certificação; orientar Estadual de Recursos Hídricos (Fehidro), sendo o téc- Extensão Rural (Dextru), o Centro de Informações
da Atividade Agropecuária (DCAA), Declaração de nos planejamentos operacional e estratégico, na ges- nico da CATI que analisa e avalia os projetos enviados Agropecuárias (Ciagro) e o Centro Administrativo.
16 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬17

CATI: as ações de Assistência Técnica e mundial e brasileira, que têm nessa modalidade de pro-
dução de energia animal uma alternativa para suprir a
grande demanda por alimento saudável, de boa quali-
dade e cujo processo produtivo contribui para preservar
Bovinocultura de Leite – A bovinocultura de lei-
te busca proporcionar aos produtores envolvidos uma
assistência técnica objetiva, propondo ações que possi-
bilitem uma exploração leiteira sustentável. A melhoria
Extensão Rural para uma Agricultura Sustentável os recursos naturais.
Atuar na capacitação de aquicultores e trabalhadores,
na eficiência reprodutiva está diretamente relacionada à
produtividade do rebanho. A adequação de pastagens,
para diminuir o custo de produção; o desenvolvimento
Antonio Lopes Junior – Engenheiro Agrônomo – Divisão de Extensão Rural (Dextru/CATI) organizar produtores em grupos, buscar nichos de mer-
de ações de capacitação, para os assistentes agropecuá-
Marcus Vinicius Salomon – Engenheiro Agrônomo – Divisão de Extensão Rural (Dextru/CATI) cado, prestar assistência e orientação técnica visando à
rios e produtores; e a transferência de tecnologias rela-
Martha Regina Lucizano Garcia – Bióloga – CATI Gabinete do Coordenador (CGC) adoção de Boas Práticas de produção, as quais traduzam
tivas à atividade leiteira têm a finalidade de viabilizar o
projetos@cati.sp.gov.br em aumento da produtividade, em boas condições de
desenvolvimento sustentável da atividade.
Colaboradores: trabalho, qualidade de vida e preservação dos recursos
Engenheiro Agrônomo Fernando Jesus do Carmo – CATI Regional Jales naturais, são os objetivos da atuação dos extensionistas O projeto de bovinocultura de leite está presente em
Médico Veterinário Sidney Ezídio Martins – CATI Regional General Salgado
Engenheira Agrônoma Maria de Fátima Caetano Prado – CATI Regional Marília envolvidos no Projeto CATI Aquicultura. 305 CAs e 37 Regionais da CATI, onde foram realizadas
Engenheiro Agrônomo Carlos Alberto De Luca – CATI Regional Votuporanga 1.973 visitas técnicas, 30 levantamentos estatísticos, 82
Engenheiro Agrônomo Gilberto J. B. de Figueiredo – Responsável pela Casa da Agricultura de Caraguatatuba Em 2015, o Projeto teve a adesão de 50 municípios
eventos de capacitação de produtores, 25 eventos de ca-
distribuídos em esferas de atuação de 18 Regionais da
pacitação de assistentes agropecuários e a instalação de
CATI. Atuando em conjunto com universidades, institu-
cinco Unidades Demonstrativas (UDs).
tos, órgãos de pesquisa, prefeituras, sindicatos e outros
parceiros realizou seminários, capacitações de técnicos e Cafeicultura – A cafeicultura representa uma das
produtores, feiras e visitas técnicas. Implantou Unidades principais cadeias produtivas do Estado de São Paulo. De
Demonstrativas (UDs) e Unidade de Adaptação de acordo com o Levantamento Censitário das Unidades de
Tecnologia (UATs), em parceria com produtores. Por Produção Agropecuária (Lupa), em São Paulo existem
meio dele, organizações foram assessoradas para im- 23.700 propriedades rurais produtoras de café, totali-
plantação de unidades de beneficiamento. Os técnicos zando uma área de aproximadamente 215 mil hectares,

A
s ações de Assistência Técnica e Extensão Rural Para priorizar determinada cadeia produtiva, nos do Projeto também prestaram assistência e orientação sendo que a grande maioria dos estabelecimentos é ca-
para uma Agricultura Sustentável (Ateras) ou âmbitos municipal e regional, as Casas da Agricultura técnica individuais aos piscicultores. racterizada como pequena propriedade. Outro fato rele-
“Projetos CATI”, como são conhecidas, têm por (CAs) e os Escritórios de Desenvolvimento Rural (EDRs), vante da atividade é sua capacidade de gerar emprego
Bovinocultura de Corte – A bovinocultura de corte
objetivo orientar os trabalhos desenvolvidos pela insti- conhecidos como Regionais da CATI, levaram em con- e renda. Estima-se que cada hectare cultivado com café
tem por finalidade recuperar a fertilidade dos solos e a
tuição, com ênfase no fortalecimento do setor produtivo sideração sua importância no Plano Municipal de gera, em média, 2,3 empregos diretos e uma renda bruta
produtividade das pastagens degradadas, pela adoção
que, atualmente, é o elo mais frágil da cadeia. Desenvolvimento Rural Sustentável (PMDRS); a área de aproximadamente R$ 8 mil.
de técnicas de cultivo mínimo e de integração da pecuá-
e o número de Unidades de Produção Agropecuária ria com outras atividades econômicas; manejar as áreas O Projeto CATI Cafeicultura abrange 16 Regionais e
Para o atendimento das novas exigências do merca-
(UPAs) – de acordo com o Levantamento Censitário das recuperadas de maneira a propiciar maior sequestro de 60 municípios. Os temas abordados pelo Projeto são:
do consumidor, os assistentes agropecuários da institui-
Unidades de Produção Agropecuária do Estado de São carbono pelo cultivo de forrageiras e racionalizar o uso Protocolo de BPA; gestão da propriedade rural; políticas
ção estão orientando os produtores na adoção das Boas
Paulo (Lupa); o valor da produção da cultura, de acordo da água na exploração; incentivar a intensificação do sis- públicas voltadas para o mercado; capacitação de técni-
Práticas Agropecuárias (BPA), práticas sustentáveis que
com o Instituto de Economia Agrícola (IEA); e a experiên- tema produtivo com base no aumento de produtividade cos; e capacitação de produtores.
levam em consideração os aspectos sociais, econômi-
cia do técnico da CA. Após análise e escolha da cadeia, dos diversos fatores de produção, sobretudo pastagens,
cos, ambientais e da atividade produtiva da propriedade Foram realizados três cursos de capacitação e reci-
os projetos são cadastrados no Sistema de Gestão de instalação e manejo do rebanho, para elevar os índices
rural. As BPA auxiliam na viabilização econômica da pe- clagem para assistentes agropecuários, com o apoio de
Projetos da CATI. O cadastro do projeto permite o plane- zootécnicos e estimular a adoção de medidas de rastrea-
quena propriedade rural, além de ajudar na adequação instituições de pesquisa, universidades e entidades par-
jamento e o gerenciamento das ações, além da melhor bilidade, certificação e da qualidade da produção.
ambiental, possibilitando uma futura certificação. ceiras; implantadas UATs e UDs, em diferentes regiões do
alocação dos recursos, visto que também são cadastra-
Os trabalhos nas cadeias produtivas complementam dos as atividades e o custo previsto para o desenvolvi- Presente em 109 CAs e 26 Regionais da CATI, o pro- Estado; realizados Dias de Campo, encontros técnicos,
as ações das políticas públicas do Projeto Integra SP, mento das mesmas ao longo do ano, de acordo com a jeto de bovinocultura de corte realizou 2.009 visitas visitas técnicas, excursões, cursos e palestras.
que visam à recuperação do solo para que esteja apto particularidade de cada município. técnicas, sete levantamentos estatísticos, 30 eventos
a receber uma atividade agropecuária, e servem como de capacitação de produtores, oito eventos de capaci- Fruticultura – A fruticultura promove ações de âm-
Entre as atividades de assistência técnica e exten- tação de assistentes agropecuários e instalação de nove bito estadual, com o objetivo de organizar a cadeia
base para o Projeto Microbacias II – Acesso ao Mercado,
são rural realizadas pelas CAs e pelas Regionais, e que Unidades Demonstrativas (UDs). produtiva, com ênfase no fortalecimento do setor pro-
que tem como principal objetivo o aumento da renda do
fazem parte dos "Projetos CATI", destacam-se o atendi-
produtor rural.
mento aos agricultores, por meio de visitas técnicas; a
Os “Projetos CATI” orientam os trabalhos nas cadeias promoção de atividades de capacitação para os assis-
produtivas de aquicultura, bovinocultura de corte, bovi- tentes agropecuários e agricultores; o treinamento em
nocultura de leite, cafeicultura, fruticultura, heveicultura novas tecnologias de produção e manejo de culturas e
e olericultura. As demais cadeias são atendidas como rebanhos; a introdução de novas técnicas de produção;
demanda, de acordo com a realidade de cada município. e o trabalho com organizações rurais e conselhos muni-
Essas sete cadeias foram selecionadas por conta de sua cipais.
grande importância social e econômica, já que respon- Aquicultura – A aquicultura no Estado de São Paulo,
dem por 63% do valor da produção das atividades agro- principalmente a produção de peixes no sistema de tan-
pecuárias do Estado de São Paulo, excluindo-se a cana- ques-rede, vem crescendo nos últimos anos, numa es-
de-açúcar e a citricultura destinadas para a indústria. cala em torno de 20% ao ano, seguindo as tendências
18 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬19

dutivo, por meio da transferência de informações e co-


nhecimento; adequar o atual sistema de produção para
o atendimento de novas exigências do mercado consu-
midor; implantlar sistemas sustentáveis dos pontos de
pelo menor tempo entre o plantio e a colheita, uso de
áreas menores e a possibilidade de plantar fora de épo-
ca, quando usado o ambiente protegido, com maiores
ganhos por metro quadrado de área cultivada. Isso pro-
Acesso ao mercado - um novo
vista social, econômico e ambiental, visando oferecer
uma atividade que, além de viabilizar economicamente
as pequenas propriedades rurais, ajudará na adequação
piciou a volta de muitos jovens, que haviam saído da
propriedade, para a atividade agrícola.
A criação do Projeto CATI Olericultura permitiu a
enfoque para a extensão rural paulista
ambiental das mesmas; e organizar a produção local
orientação dos produtores de forma ordenada e susten- João Brunelli Junior – Engenheiro Agrônomo – Gerente Técnico do Projeto Microbacias II – Acesso ao Mercado – brunelli@cati.sp.gov.br
para atender aos programas oficiais de aquisição de ali-
tável, com a criação de uma rede de suporte aos assis-
mentos, bem como estimular o consumo.
tentes agropecuários das Casas da Agricultura, com a
O Projeto CATI Fruticultura está presente em 115 mu- formação de uma rede de compartilhamento de infor-
nicípios e 31 Regionais da CATI, onde foram realizadas mações e de capacitação, de forma a chegar o mais rápi-
3.446 visitas técnicas, efetuados 304 levantamentos es- do possível a todos os produtores rurais, principalmente
tatísticos, realizados 60 eventos de capacitação de pro- aqueles atendidos pelo Projeto.
dutores, 13 eventos de capacitação de assistentes agro-
Além dos produtores, muitas associações e coopera-
pecuários e instaladas sete Unidades Demonstrativas
tivas foram fortalecidas, gerando melhor distribuição de
(UDs).
renda, por meio de compras coletivas e comercialização
Heveicultura – O Projeto CATI Heveicultura está pre- conjunta. Prova disso é o grande número de Iniciativas de
sente em 14 Regionais da CATI, abrangendo 60 municí- Negócios viabilizadas por meio do Projeto Microbacias
pios onde a cultura tem marcante presença, ocupando II – Acesso ao Mercado, voltadas ao processo de emba-
principalmente pequenas propriedades e com o predo- lamento e padronização de produtos, processamento
mínio de mão de obra familiar, sendo de proprietários mínimo e aquisição de veículos para transporte adequa-
ou parceiros. do, como caminhão com baú isotérmico climatizado etc.
Isso vem possibilitando aos produtores rurais o acesso a
São Paulo é o maior produtor de borracha, respon-
clientes diferenciados, que remuneram melhor, mas que
dendo por mais de 50% da produção no Brasil. Diante da
também são mais exigentes, e, na outra ponta da cadeia,
importância da cultura para o Estado, a CATI tem traba-
exigindo uma capacitação cada vez mais constante e
lhado com assistência técnica e extensão rural, levando
aprimorada, principalmente voltada à comercialização e

O
aos produtores e trabalhadores as inovações tecnoló-
à produção de alimentos, e que atendam a essas novas Estado de São Paulo possui uma intensa áreas marginais, acidentadas e com poucos recursos
gicas e as BPA, visando à melhoria social e econômica
necessidades de consumo e comercialização. e diversificada atividade econômica, que e baixa produtividade, o que demanda recursos adi-
dos envolvidos na atividade e à preservação do meio
ambiente. O Projeto CATI Olericultura está presente em 227 mu- tem em setores como a indústria, o mer- cionais para sua correção e obtenção de boa produ-
nicípios e 40 Regionais, onde foram realizadas 7.112 visi- cado financeiro, o setor de serviços e o ramo agrope- tividade.
O Projeto CATI Heveicultura possui 21 UDs espalha- cuário seus expoentes mais nítidos, o que o torna o
tas técnicas, efetuados 1.052 levantamentos estatísticos,
das nas Regionais envolvidas, onde são realizadas ca- Estado mais desenvolvido do País e um dos maiores O agricultor familiar tem o conhecimento básico
realizados 193 eventos de capacitação de produtores, 29
pacitações e palestras para técnicos, produtores e tra- polos econômicos da América Latina. É o maior mer- para produzir com competência, porém enfrenta inú-
eventos de capacitação de assistentes agropecuários e
balhadores, levando as mais recentes informações tec- cado consumidor brasileiro. A agricultura é respon- meras barreiras que impedem seu sucesso. Também
instaladas três Unidades Demonstrativas.
nológicas sobre a cultura, desde a produção de mudas sável por mais da metade da atividade econômica encontram muitas barreiras para acesso ao crédito
até a fase de sangria, passando por técnicas de manejo em 60% dos 645 municípios paulistas, sendo que, de rural, o que impede ou desestimula a busca de no-
correto da explotação de látex até a adoção das BPA para um total de 324.601 unidades agrícolas, que ocupam vos investimentos na atividade agropecuária e, em
a cultura. 20.504.107ha, 262.519 (81%) são pequenas proprie- decorrência, têm produção baixa e fora dos padrões
Por meio do Projeto, entre os anos de 2011 e 2015, dades rurais, segundo o Levantamento Censitário das exigidos pelo mercado consumidor. Os produtos que
Unidades de Produção Agropecuária (Lupa, CATI/IEA/ não se enquadram nesses padrões são descartados,
foram capacitados 1.918 sangradores para suprir a ne-
SAA, 2007/2008). ocasionando desperdícios e prejuízos. Por outro lado,
cessidade de mão de obra especializada na área, um dos
quando promovem individualmente a comercializa-
maiores entraves da heveicultura paulista. A história da agricultura de São Paulo é o resultado
ção de seus produtos, mesmo que sejam produtos de
de um processo histórico que remonta aos primórdios
Olericultura – Por muitos anos, a olericultura desen- reconhecida qualidade, quase sempre ficam nas mãos
da colonização do Brasil. A ocupação das terras cul-
volveu-se próxima aos grandes centros urbanos, com
tiváveis do interior de São Paulo privilegiou grupos dos atravessadores, que operam junto ao mercado
um ou outro produtor espalhado pelo interior. Com o
com maior poder econômico, que adquiriram as ter- nas mais variadas cadeias produtivas.
aumento da renda da população brasileira e a mudança
ras mais férteis localizadas às margens dos grandes Os produtores rurais normalmente são pouco or-
de hábitos de consumo, onde a alimentação saudável
rios, como Tietê e Paranapanema, com título e docu- ganizados e têm baixa influência ou poder de nego-
ganhou destaque, o cultivo de hortaliças se disseminou,
mentação legalizada. A população rural mais pobre ciação nos órgãos de representatividade. Eles têm di-
transformou-se e ganhou espaço, auxiliado pelas polí-
ficou às margens do processo, ocupando terras com ficuldades de escoar sua produção, porque o grande
ticas públicas de aquisição de alimentos da agricultura
topografia menos propícia ao cultivo, inférteis e, em mercado consumidor do Estado se localiza nas regi-
familiar.
muitos casos, sem o título de propriedade. Com o ões metropolitanas, em função do grande contingen-
Ao mesmo tempo, muitos produtores, principalmen- passar do tempo, esses problemas permaneceram. E, te populacional urbano e da maior renda per capita.
te os mais jovens, perceberam a importância da oleri- ainda hoje, os agricultores familiares vivem os resquí- Considerando esta lógica, em grande medida, os pro-
cultura, não só como garantia de fonte de renda, mas cios desse processo. Desenvolvem suas atividades em dutos da agricultura familiar são produzidos no inte-
20 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬21

rior do Estado e transportados até a capital, onde são


processados. Após o processamento, são redistribuí-
dos para o interior nas redes atacadistas ou varejistas,
produtores, de direito privado, implantarem negócios
sustentáveis dos pontos de vista econômico, ambien-
tal e social, de caráter e uso coletivos.
Extensão Rural para Povos Tradicionais:
ocasionando grandes custos e, em decorrência, altos
preços dos alimentos de melhor qualidade e minima-
A aplicação do aspecto inovador do Projeto, que
são os investimentos nos negócios das organizações
unindo etnodesenvolvimento e redes
mente processados.
Em consequência dessa dinâmica de funciona-
mento do mercado, no decorrer dos anos, os produto-
de produtores, tem gerado impactos significativos na
melhoria do emprego e da renda e proporcionado in-
cremento aos comércios local e regional.
sociotécnicas de cooperação
res têm tido dificuldades de permanência nesta ativi- Abelardo Gonçalves Pinto – Engenheiro Agrônomo – Divisão de Extensão Rural (Dextru/CATI) – abelardo@cati.sp.gov.br
As subvenções pagas pelo PDRS – Microbacias II
dade produtiva. A população do campo está cada vez A extensão rural, numa definição
oferecem ferramentas e instrumentos que propiciam
mais envelhecida e se esvazia paulatinamente, pois as simples, é um serviço de educação
aos produtores rurais enxergar a propriedade como

Roberta Lage – Cecor/CATI


novas gerações buscam melhores possibilidades de não formal e de caráter continuado,
uma unidade produtiva empresarial. Na prática, ofe-
vida nas grandes cidades. Vários problemas decorrem realizado no meio rural, que tem
rece às organizações de produtores a possibilidade
desta dinâmica de mercado: a produção e comercia- por objetivo o desenvolvimento
de participação de maneira mais efetiva nos merca-
lização individualizadas; a falta de organização dos sustentável. De que forma, então,
dos direcionados aos produtos agrícolas classificados,
produtores; a falta de recursos para investimentos; as devem trabalhar os extensionistas
manufaturados, minimamente processados, selecio-
dificuldades de acesso ao crédito; as práticas de ma- rurais para promover tal processo
nados e padronizados. Os negócios implantados e
nejo insustentáveis dos pontos de vista econômico e de desenvolvimento nesse difícil
finalizados já estão em processo de inserção nos mer-
ambiental; a qualidade dos produtos, que não aten- contexto em que estão imersas as
cados varejista, atacadista e de políticas públicas de
dem às exigências do mercado; e a falta de perspecti- comunidades tradicionais? Como
compras governamentais.
vas para a população jovem rural. conciliar a formação acadêmica es-
De acordo com o Cadastro de Organizações Rurais pecializada dos extensionistas com
A CATI, com esse diagnóstico, baseando-se em da-
da CATI, existem 1.140 organizações rurais em todo o a complexidade ecológica e socio-
dos e indicadores, planejou e executou o Programa
Estado de São Paulo, das quais 179, ou seja, 15,7% do cultural presente nas comunidades
Estadual de Microbacias Hidrográficas (PEMH), no pe-

O
total, são participantes do PDRS – Microbacias II, com tradicionais?
ríodo de 2000 a 2008, que colaborou para que alguns s povos e as comunidades tradicionais são
210 Iniciativas de Negócios apoiadas e em execução
dos pontos apresentados fossem em grande medida definidos como grupos culturalmente dife- Não é uma resposta simples, não existem modelos
até a quinta Chamada Pública. O Projeto respeita a di-
solucionados. renciados e que se reconhecem como tais, padronizados de atuação. A regra básica é promover
nâmica do mercado e, por meio de uma política de
que possuem formas próprias de organização social, "ações diferentes para etnias e povos diferentes", bus-
Quando da concepção do Projeto de extensão rural calcada no apoio aos negócios das or-
que ocupam e usam territórios e recursos naturais cando praticar o conceito da igualdade na diferença,
Desenvolvimento Rural Sustentável (PDRS) – ganizações de produtores, proporciona a elas a opor-
Microbacias II – Acesso ao Mercado, cujo foco de in- como condição para sua reprodução cultural, social, isto é, atuar com a consciência de que somos todos
tunidade de usufruírem das vantagens comparativas
tervenção visa à promoção da competitividade dos religiosa, ancestral e econômica, utilizando conheci- diferentes, mas com direitos iguais. Outra regra básica
e competitivas em igualdade de condições com a ini-
agricultores organizados, havia a clara percepção da mentos, inovações e práticas gerados e transmitidos é trabalhar com proposições e não com imposições,
ciativa privada.
fragilidade da agricultura familiar paulista diante das pela tradição. compreendendo que essas comunidades possuem
exigências do mercado. Assim, a comercialização da Como consequência das subvenções e, por conse- concepções de vida e de existência muito diferentes
Nessa categoria social encontram-se as comunida-
produção pelos próprios produtores rurais, com va- guinte à implantação das Iniciativas de Negócios, as daquelas as quais os extensionistas estão habituados.
organizações empenham-se em conhecer o mercado, des indígenas, integrantes de comunidades remanes-
lor agregado, representaria uma maior margem de centes de quilombos rurais, pescadores artesanais, Etnodesenvolvimento
lucro, com a diminuição parcial da ação do atraves- buscando informações de preços e novos clientes. Os
ganhos para as organizações são notáveis. Grupos extrativistas e outros segmentos da população rural O objetivo superior de qualquer projeto ou inter-
sador. Dessa forma, o Projeto tem como principais brasileira. venção deve ser o horizonte da perpetuação da iden-
enfoques o apoio às organizações de produtores para antes desarticulados se fortaleceram, passaram a ter
planejamento na produção e garantia de comerciali- Falando especificamente de indígenas e quilom- tidade étnica. A identidade étnica é um conjunto de
investimento em Iniciativas de Negócios dirigidas ao fatores que unem os integrantes de uma determinada
mercado, o fortalecimento das organizações de pro- zação das safras. Passaram a ter mais foco nas ações bolas, seus problemas atuais têm como origem co-
e profissionalismo na gestão do negócio, objetivando mum os processos de dizimação e escravização a que comunidade – a religião, a terra que habitam, a língua
dutores rurais e a integração de políticas públicas. É e a cultura – além da história e de origens comuns.
pioneiro no cofinanciamento de iniciativas coletivas preços competitivos no mercado. O fortalecimento se foram submetidos, tanto no período colonial brasi-
de negócios voltados ao mercado, ou seja, repassa deu também na autoestima e na confiança entre os leiro como no posterior, em continuado processo de Tal propósito de trabalho conforma o que se de-
subvenções econômicas para organizações rurais de associados/cooperados e dirigentes e na sustentabili- exclusão social a que foram e a que ainda estão su- nomina etnodesenvolvimento, isto é, um conjunto
dade das organizações. jeitados, em que pesem as conquistas obtidas com a de ações, projetos e práticas – geridas pelas comu-
Em números, o Projeto Microbacias II – Acesso ao Constituição de 1988. nidades e apoiadas pela rede sociotécnica de coope-
Mercado atendeu 113 associações de produtores, 62 São portadores de uma tradição de lutas e, hoje, ração – objetivando a valorização e potencialização
cooperativas, quatro comunidades indígenas e sete batalham pelo reconhecimento e pela regularização dos recursos endógenos, a produção de alimentos, a
comunidades quilombolas, totalizando 186 organi- de suas terras e pela melhoria da qualidade de vida geração de renda e a recuperação e conservação am-
zações que tiveram 218 Propostas de Negócio apro- de suas comunidades. Como apontou Mércio Gomes, bientais.
vadas, envolvendo o valor total de R$ 128.072.520,31, ex-presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), E como gerar renda e promover a segurança ali-
sendo apoiados pelo governo estadual o total de R$ "os indígenas se sentem lesados e abandonados pelo mentar em comunidades tradicionais? O profes-
85.633.740,02, com contrapartida de R$ 42.438.780,29. descaso das autoridades e não sabem o que fazer sor Paul Singer, secretário Nacional de Economia
Dessa forma, o Projeto tem se mostrado um instru- para encontrar seu próprio caminho diante das difi- Solidária, ressalta que para desenvolver uma comu-
mento emancipador e gerador de riquezas, sob os culdades atuais. Vivem uma situação difícil e sofrida e nidade pobre é preciso "aumentar-lhe a renda mone-
pontos de vista local e regional. precisam do Estado para sobreviver". tária, com a qual possa adquirir bens e serviços ven-
22 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬23

didos fora dela. Ora, a única maneira não casual nem


ilegal duma comunidade pobre aumentar o dinheiro
que seus membros ganham é vender para fora mer-
cadorias, em quantidades crescentes, sem que o seu
e mesmo para profissionais de outras áreas governa-
mentais.
Como aponta o zootecnista Newton José Rodrigues
Extensão Rural – surgem novas
ações impostas pela sociedade
da Silva, da Casa da Agricultura de Santos, o trabalho
preço caia (ao menos no curto prazo). Encontrar tais
em redes de cooperação é a melhor estratégia para a
mercadorias é, portanto, condição essencial mas não
superação de obstáculos gerenciais, jurídicos, produ-
suficiente para dar partida ao processo de desenvol-
tivos e de inserção em mercados. As políticas públicas
vimento". Abelardo Gonçalves Pinto – Engenheiro Agrônomo – Divisão de Extensão Rural (Dextru/CATI) – abelardo@cati.sp.gov.br
somente são eficazes quando apoiadas por uma forte
A experiência da CATI com comunidades indíge- rede local. Beatriz Cantúsio Pazinato – Nutricionista (Dextru/CATI) – beatriz@cati.sp.gov.br
nas e quilombolas, por meio do Projeto Microbacias II Denise Baldan – Nutricionista – Gabinete da Coordenadoria (CATI) – denise.baldan@cati.sp.gov.br
Tal metodologia é passível de replicação para Graça D'Auria – Jornalista – Centro de Comunicação Rural (Cecor/CATI) – gdauria@cati.sp.gov.br
– Acesso ao Mercado, teve início em 2008 e busca jus-
qualquer tipo de situação problema que esteja afe- Escolástica Ramos de Freitas – Engenheira Agrônoma (Dextru/CATI) – escolastica@cati.sp.gov.br
tamente – trabalhando dentro dos princípios do etno-
tando determinada comunidade, em qualquer área Hiromitsu Gervásio Ishicawa – Engenheiro Agrônomo (Dextru/CATI) hiromitsu@cati.sp.gov.br
desenvolvimento e da atuação em redes sociotécni- José Augusto Maiorano – Engenheiro Agrônomo, diretor da CATI Regional Campinas – maiorano@cati.sp.gov.br
do desenvolvimento socioeconômico. A inovação
cas de cooperação – promover a geração de emprego Maria Cláudia Silva Garcia Blanco – Engenheira Agrônoma (Dextru/CATI) – claudia@cati.sp.gov.br
aqui trazida é o mecanismo proposto (as redes) para
e renda a partir de recursos e habilidades já existentes
que esses fatores possam ser alinhados em benefício
nas comunidades, seja na produção de artesanato,
da população.
alimentos básicos em sistemas agroflorestais, seja no
processamento de alimentos, acesso ao mercado de Em linhas gerais, e em conformidade com Newton
compras governamentais etc. Rodrigues, o processo de construção de uma rede so-
Redes Sociotécnicas de Cooperação ciotécnica percorre o seguinte itinerário de ação:
A dificuldade em estabelecer serviços púbicos pro- • O problema deve ser amplamente debatido; os
atores sociais (organizações e indivíduos) devem es-
motores de desenvolvimento para as populações in-
tar comprometidos com a solução consensuada nos
dígena e quilombola está ligada à pouca capacidade debates com a comunidade e com as organizações
de diálogo e articulação entre os órgãos governamen- parceiras; as relações de confiança devem ser cons-
tais e também à reduzida participação e ao controle truídas nas ações diárias; deve-se buscar uma atuação
social por parte dos povos tradicionais na construção coordenada das organizações e despertar a consciên-
e execução das políticas públicas a eles voltadas. cia de que a construção das mudanças é um processo
A Rede Sociotécnica de Cooperação pode ser vista coletivo; é imperativo zelar pela igualdade de impor-
como uma prática extensionista envolvendo organi- tância dos atores e celebrar as conquistas alcançadas

O
zações públicas e privadas, para atuar numa determi- nas diferentes etapas do projeto. s últimos censos agropecuários (1996 e aproveitar melhor a sua produção agregando valor
nada comunidade ou território. No caso das comuni- Outra importante condição para a replicabilida- 2006), realizados pelo Instituto Brasileiro de aos seus produtos seja em forma de embalagens,
dades tradicionais, busca oportunidades de mobilizar de está relacionada com o perfil da(s) liderança(s) da Geografia e Estatística (IBGE), demonstram miniprocessamento ou agroindústria. O objetivo dos
os recursos locais, das organizações municipais, esta- Rede, que deve abranger: capacidade de construir cli- a relevância social e econômica da agricultura familiar técnicos passa a ser auxiliar o produtor na tomada de
duais, federais e do setor privado, para promover o et- ma de cooperação; capacidade de ouvir; capacidade no Brasil. Dos 5.175.489 estabelecimentos agrícolas do decisões para que venha a cumprir a legislação em
nodesenvolvimento. A constituição de redes significa de estabelecer parcerias; o forte engajamento pesso- País, 84,4% são familiares, ocupam 24,3% da área total, relação à preservação de recursos naturais; encon-
implantar uma nova prática extensionista cooperati- al; sólidos conhecimentos técnicos na área trabalha- representam 74,4% das pessoas ocupadas e é respon- trar novos nichos de mercado onde atuar, como as
va, que requer o alinhamento de propósitos e ações da; e habilidade com técnicas participativas, que são sável por 38% do Valor Bruto da Produção (BRASIL, políticas públicas de compra de alimentos; ter maior
de atores sociais heterogêneos, que possuem valores, ferramentas básicas do trabalho em rede. 2009; IBGE, 2009). Essa agricultura familiar é atendida lucratividade e renda em sua atividade e, em conse-
objetivos e lógicas próprios de atuação. Em que pesem as dificuldades en- pelos órgãos de assistência técnica e extensão rural, quência, melhor qualidade de vida no campo, com
no caso de São Paulo pela CATI, por meio da Divisão reflexos positivos também para a população urbana.
Cleusa Pinheiro – Cecor/CATI
A premissa é que qualquer inovação tecnológica frentadas hoje pelas comunidades
tradicionais e pelas organizações de de Extensão Rural (Dextru), que leva aos 40 escritó- Nesse movimento, no qual atitudes pró-ativas e par-
somente se viabiliza pela construção de uma rede so- rios regionais e às centenas de Casas da Agricultura ticipativas são bem-vindas, surgem novos projetos e
ciotécnica. Não bastam apenas a qualidade intrínseca extensão rural em todo o Brasil, a
experiência paulista de atuação em os novos projetos e ações propostos pelo governo do firmam-se outros.
da tecnologia ou os recursos financeiros disponíveis. Estado de São Paulo, pela Secretaria de Agricultura
redes sociotécnicas de cooperação, Agricultura Orgânica
A inovação não se impõe por si, o êxito é resultante e Abastecimento ou pela própria Coordenadoria de
aliada às relativamente recentes po- As ações da Secretaria de Agricultura e
de uma participação interativa da comunidade e dos Assitência Técnica Integral (CATI), que tem por dever e
líticas públicas de compras Abastecimento (SAA) no apoio, na gestão e no desen-
demais atores da rede. missão estar atenta aos anseios dos produtores rurais
governamentais e de crédi- volvimento da agricultura orgânica ocorreram, a par-
O sucesso das redes significa benefícios diretos tos para as comunidades paulistas.
tir da década de 1980, concomitantemente com as
para os usuários indígenas e quilombolas dos servi- tradicionais, aponta A Divisão de Extensão Rural (Dextru) da CATI, além manifestações e preocupações da sociedade por um
ços de extensão rural; valorização e motivação dos para um cenário de trabalhar com projetos voltados às principais ca- modelo de produção de alimentos sustentáveis e com
servidores públicos envolvidos; e benefícios para a otimista em re- deias produtivas, atende as mais variadas demandas segurança alimentar. As ações vieram na forma de
sociedade em geral, não somente pela produção de lação à eficácia surgidas no dia a dia das Casas da Agricultura. Elas apoio à criação de organizações não governamentais
alimentos que os projetos trazem, mas também pela das ações go- vêm de produtores rurais e grupos de mulheres, em (ONG’s) como a Associação de Agricultura Orgânica
otimização dos recursos públicos utilizados. O êxito vernamentais especial. Enquanto uns vão em busca de alternativas, (AAO), criação de Comissão Técnica de Agricultura
na construção desse processo pode ainda ser muito junto aos povos outros são levados pelos técnicos que os atendem a Ecológica e, recentemente, da Câmara Setorial de
útil para a aplicação em outras regiões/comunidades tradicionais. experimentar novas tecnologias e/ou manejos ou a Agricultura Ecológica.
24 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬25

habilidades e competências, inclusive na con- aromáticas e medicinais com dupla finalidade: pro- pelas famílias com o apoio da extensão rural que, em
tribuição pelo aumento da demanda. moção da saúde e alternativa econômica de renda. conjunto com as políticas públicas, incentiva a expan-
São atendidas as demandas provenientes das CATI são e o fortalecimento da agricultura familiar, fazen-
A estratégia principal do Projeto de
Regionais e Casas da Agricultura sobre a temática e do com que as suas organizações possam acessar os
Agricultura Orgânica é a formação de polos
realizados dias de campo, reuniões, visitas técnicas, mercados com produtos de qualidade a fim de que
regionais de produção orgânica e ecoturismo.
capacitações, entre outras metodologias que disponi- alcancem patamares crescentes de sustentabilidade
Para isso, os extensionistas buscam o fortaleci-
bilizam o conhecimento técnico adequado ao cultivo; econômica.
mento de associações e cooperativas de pro-
resgata o conhecimento comunitário e orienta sobre
dutores, que poderão estabelecer processos Diante desta realidade e das exigências das legis-
o uso de Boas Práticas no beneficiamento e proces-
agroindustriais coletivos e a criação de bancos lações sanitárias, que estabelecem regulamentos a
samento das plantas. Há uma atuação maior junto
de sementes, mudas e matrizes orgânicas. Na serem seguidos nas atividades de processamento e
ao Projeto CATI Olericultura e às ações de Assistência
outra ponta, fomenta o consumo de produtos na comercialização de alimentos, torna-se imprescin-
Técnica e Extensão Rural (Ater).
orgânicos por meio de grupos formais e infor- dível a adoção das Boas Práticas de Fabricação, com
mais. Nesse sentido, várias capacitações têm Boas Práticas de Fabricação – agregando valor ao medidas sedimentadas e eficazes a longo prazo, que
sido feitas, tanto básicas, como voltadas a ca- produto agropecuário garantam a segurança dos produtos.
deias específicas como fruticultura, olericultura, Em razão de acentuadas mudanças no estilo de
As capacitações em “Boas Práticas de Fabricação
cereais, cafeicultura e sistemas agroflorestais. vida da população, padrões de consumo, redução das
famílias, busca de conveniência e conscientização da no Processamento de Matérias-Primas Agropecuárias"
Plantas Medicinais e Aromáticas – resgate, têm sido realizadas pela Dextru junto aos produto-
tradição e alternativa sugerindo novos necessidade de uma dieta alimentar saudável e que
atenda às exigências de segurança alimentar, os di- res rurais membros de associações ou cooperativas
sabores e mais saúde como proposta do componente Fortalecimento das
versos produtos do agronegócio, entre eles as frutas,
Na área de plantas aromáticas e medicinais, os legumes e as verduras minimamente processados, Organizações Rurais, do Projeto de Desenvolvimento
A CATI, via Divisão de Extensão Rural e o objetivo é o de promover ações de construção têm impulsionado o surgimento de novas formas de Rural Sustentável (PDRS) – Microbacias II – Acesso ao
Departamento de Comunicação e Treinamento (DCT), do conhecimento sobre o cultivo e o uso seguro des- organizações de sistemas agroindustriais. Mercado. As organizações de produtores rurais que
vem participando ativamente nesses espaços, seja na sas espécies. Os projetos priorizam o saber tradicional tiveram Propostas de Iniciativas de Negócios apro-
e, por meio de ações pedagógicas, estes conhecimen- O processamento mínimo de frutas, legumes e
oferta de capacitações para técnicos e produtores verduras é recente no Brasil, surgiu na década de 1990 vadas e habilitadas nas diversas Chamadas Públicas
rurais; na organização de eventos, como seminários tos são organizados e, junto com a pesquisa científica, passaram a solicitar capacitações com vistas a melho-
é construido um novo saber, que valoriza e garante o quando se iniciaram as pesquisas, permitindo que o
e encontros; e na edição de publicações voltadas ao setor pudesse atuar de forma organizada, sustentável rar os procedimentos e estruturar a comercialização
tema. Desde 2001, várias capacitações têm sido reali- uso eficaz dessas plantas. Essas ações são realizadas
e competitiva. Atualmente, é um nicho de mercado de seus produtos. Foram capacitados até o momento
zadas em todo o Estado culminando, no ano de 2014, de forma multi-institucional e transdisciplinar, envol-
em constante crescimento e uma oportunidade de 225 agricultores familiares, que fazem parte das ca-
com os lançamentos do Programa São Paulo Orgânico vendo os setores da saúde, agricultura e educação,
incremento em vendas para o setor privado, as lojas deias produtivas de olericultura e fruticultura.
e, também, da primeira semente de milho orgânico governamentais e não governamentais.
de conveniência e os pontos estratégicos. Mas é nas
do Brasil produzida pelo Departamento de Sementes, Um exemplo dessa experiência é a realização da compras institucionais (políticas públicas de aquisi- Todas as capacitações têm como material didático
Mudas e Matrizes (DSMM/CATI). No Programa São Semana de Fitoterapia de Campinas, promovida anu- ção de alimentos) como, por exemplo, as feitas por apostilas e Instruções Práticas que também ficam à
Paulo Orgânico, as capacitações divididas em Módulo almente com uma média de 350 participantes, entre escolas, creches, presídios, fundações, autarquias, disposição de interessados e abordam técnicas de fa-
I (Introdução à Produção Orgânica) e Módulo II (espe- agricultores familiares, extensionistas rurais, profis- hospitais e universidades, por meio de programas bricação a partir de variados produtos, sempre visan-
cialização em temas como fruticultura, olericultura, sionais de saúde, estudantes e população em geral. federais como o Programa Nacional de Alimentação do a um aproveitamento integral dos alimentos.
cultivo de cereais, café e sistemas agroflorestais – SAF) Os objetivos da Semana de Fitoterapia são: informar, Escolar (PNAE), Programa de Aquisição
envolveram 158 técnicos da CATI lotados em todas sensibilizar, conscientizar e mobilizar a opinião públi- de Alimentos (PAA) e, no caso de
as regiões do Estado de São Paulo. Durante o ano de ca sobre o cultivo e o uso de plantas medicinais; am- São Paulo, Programa Paulista da
2015, essas capacitações resultaram em 66 projetos pliar os conhecimentos técnicos dos profissionais da Agricultura de Interesse Social (PPAIS),
na cadeia de Fruticultura e 171 projetos na cadeia de rede municipal de saúde e dos extensionistas da CATI; que os maiores avanços vêm sendo
Olericultura, com ênfase em práticas do manejo or- proporcionar a divulgação de saberes tradicionais e notados, com a agroindústria familiar
gânico via projetos executados e em execução pelas científicos sobre fitoterapia, etnobotânica e produção assumindo significativa importância
Casas da Agricultura. de plantas medicinais. O evento, que teve sua 13.ª no espaço rural, sendo capaz de am-
Dando prosseguimento às ações, está em fase de edição realizada em 2015, já é tradicional e conta com pliar a competitividade e proporcionar
implantação o Projeto Piloto de Agricultura Orgânica, a parceria de várias instituições públicas e não gover- o acesso ao mercado aos agricultores,
uma iniciativa que vem ao encontro da crescente de- namentais, constituindo uma rede municipal de pro- principalmente pela capacidade de
manda por produtos saudáveis e pela conservação moção das plantas medicinais e da fitoterapia. geração direta e indireta de trabalho e
dos recursos naturais. O projeto contempla o de- renda para as famílias.
Outra atuação importante da Divisão de Extensão
senvolvimento de sistemas locais de produção, por Rural, junto com o Departamento de Comunicação O mercado institucional é uma das
meio da instalação de Unidades de Adaptação de e Treinamento, é a elaboração de publicações técni- possibilidades mais acessíveis de co-
Tecnologias (UAT), que além de gerar e validar tecno- cas para apoiar esses projetos como, por exemplo, o mercialização e organização dos agri-
logias apropriadas, servem como unidades demons- Boletim Técnico Plantas Aromáticas e Medicinais, a cultores familiares. Ao mesmo tempo
trativas para capacitação de agricultores e técnicos. cartilha de fitoterapia e o folder técnico Farmácia Viva é um desafio, pois as formas de orga-
Segundo os técnicos envolvidos, a transição da agri- – Adote este remédio. O Projeto Farmácia Viva prevê nização e gestão adequadas são pon-
cultura convencional para a produção orgânica é um mais, elaborado pela Dextru, atende à produção rural, tos de partida para um futuro promis-
processo que requer esforços e desenvolvimento de periurbana e urbana visando à produção de plantas sor. Este desafio vem sendo superado
26 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬27

Como extensionista, Sebastião optou pela construção propriedade particular rural ao lado da Fazenda das

Extensionista:
do conhecimento em conjunto com os produtores. Cobras, em Jaciporã. A proprietária foi conhecê-los
e os contratou como funcionários. Esse foi o primei-
ro passo que mudaria o rumo de suas vidas”, conta
saudoso, o agrônomo, continuando: “com o passar do
tempo, a pecuarista Marilene Magres Marques, além

multifaces de um profissional de dar emprego, incentivou o grupo a formar uma as-


sociação. “Ela arrendou 30 alqueires de suas terras para
eles, que iniciaram o plantio de milho e batata doce.
Cleusa Pinheiro – Jornalista – Centro de Comunicação Rural (Cecor/CATI) – cleusa@cati.sp.gov.br Esse fato marcou o início da Associação que foi funda-
da em 2003, com o nome do esposo de Marilene, José

O
meio rural vive transformações profundas, já com Abelardo, a instituição tem expandido, já há alguns Marques Lopes (já falecido). Com o passar do tempo,
não sendo possível pensar em desenvolvi- anos, um novo enfoque para sua prática extensionista, a produção começou a declinar. Em virtude disso, eles
mento sem pensar em produção sustentável trabalhando no sentido de aumentar o protagonismo nos procuraram na CATI, para conhecer alguma cultu-

Arquivo Pessoal
e preservação do meio ambiente, com foco centrado na dos agricultores. “Para isso, vem capacitando seus téc- ra que não dependesse tanto do clima. Começou aí,
família rural. Esse contexto requer um resgate do verda- nicos e, também, o seu corpo administrativo, para atua- uma relação que tem se estreitado e dado excelentes
deiro papel do extensionista, que muito mais que difu- rem de forma a ampliar os horizontes dos agricultores, frutos”, ressalta o extensionista.
sor de tecnologia visando à produção, é um articulador não oferecendo receitas prontas, mas alternativas que
de mudanças na comunidade rural. provoquem mudanças paradigmáticas”. Essa capacita- Após um trabalho de fortalecimento da organi-
ção é importante, pois as ferramentas de trabalho dos tais, programas, projetos e ações que nem sempre zação, adoção de tecnologia e aprimoramento e di-
Segundo o engenheiro agrônomo Vicente de Jesus tinham o produtor como centro das decisões. Mesmo versificação da produção, com total envolvimento dos
técnicos estão mudando. O profissional de extensão
Carvalho (aposentado da CATI), que durante 35 anos foi assim, eu tinha a verve de extensionista, seguindo en- produtores, que foram agentes efetivos de sua mudan-
vive uma época de mudanças que requer novas me-
um extensionista apaixonado, “como filosofia de traba- sinamentos de alguns que trabalharam na região antes ça, e o trabalho árduo de extensão rural, hoje a associa-
todologias de intervenção, necessidade de ações inte-
lho, a extensão rural tem por objetivo a educação ex- de mim (o agrônomo iniciou sua vida funcional na Casa ção promove o desenvolvimento sustentável; capacita
rinstitucionais, por intermédio das redes sociotécnicas,
traescolar, que auxilia as famílias rurais a descobrirem e da Agricultura de Panorama, na efervescência do pro- associados para trabalhar com a terra, preparando-os
abordagens transdiciplinares, novo enfoque de comu-
determinarem suas próprias necessidades, a fim de que cesso de mecanização agrícola e da Revolução Verde, também para a complexidade do mercado de trabalho
nicação e criatividade”.
possam encontrar a solução de seus problemas, ajudan- o que influenciou em sua escolha do local de trabalho e suas constantes transformações, criando condições
do-as a adquirir conhecimento e a agir no sentido de João Batista Vivarelli, diretor da CATI Regional São ,que ficava na fronteira com o Mato Grosso, área que ele para que eles possam elevar suas condições socioeco-
fazer seu uso adequado”. João da Boa Vista, corrobora esse pensamento. “Aprendi visualizou como a melhor para a expansão da agrope- nômicas, participando de projetos que visem propor-
ao longo dos anos – e já são 32 de instituição –, que cuária paulista na época). Aprendi que a gente é meio cionar aumento de renda familiar. Sendo assim, desde
Diante da nova realidade, o profissional de extensão
para ser extensionista é preciso estar aberto ao novo; conselheiro, educador, ouvinte e agente de mudança, 2006, participa das políticas públicas de compras insti-
rural passou por transformações para estabelecer uma
às novas relações no campo, às novas tecnologias e às sociólogo, economista, e ufa... engenheiro agrônomo, tucionais, tendo sido a primeira associação a entregar
relação confiável e criativa com os produtores, visando
transformações na forma de produzir e consumir co- ou veterinário, ou zootecnista, ou engenheiro agrícola; produtos no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA)
ajudá-los a alcançar um nível econômico e social satisfa-
nhecimento. Mas também é imprescindível entender a funções que os técnicos da CATI desempenham”, avalia no Estado de São Paulo. Além disso, processa e vende
tório. Para o engenheiro agrônomo Abelardo Gonçalves
família rural e sua realidade, transmitindo conceitos de o agrônomo. mandioca e farinha de mandioca. Com a utilização do
Pinto, da Divisão de Extensão Rural (Dextru/CATI), na
forma clara para que o produtor compreenda e se apro- excedente da produção de seus associados, beneficia,
última década viveu-se uma fase de transição de um Em um período no qual as tecnologias e os conhe-
prie das informações para ser agente na transformação processa e comercializa variados tipos de produtos,
modelo que privilegiava a assistência técnica para au- cimentos de produção eram passados de forma difu-
da sua realidade. Eu costumo dizer que sou como o mé- como conservas, doces, pães e salgados, com venda
mento de produtividade, para ações mais amplas de sionista (ver conceito na matéria de história na página
dico de família, sou o “agrônomo de família”, que ama direta ao consumidor, o que tem agregado ainda mais
extensão rural, com vistas a garantir melhor qualidade 43), Sebastião inovou ao tornar-se produtor rural e ins-
estar no campo e para fazer bem o seu trabalho e enten- valor à produção.
de vida e renda às famílias rurais. “Nesse novo modelo talar uma Unidade Demonstrativa de Tecnologia na sua
der o modo de vida de seu “paciente”, ouve a ele, a seus
é imprescindível que o extensionista busque novas ha- área para apresentar as metodologias de plantio que a “Como extensionista, sinto-me gratificado porque
filhos e colaboradores”, comenta o agrônomo que se re-
bilidades, tais como capacidade de estabelecer parce- pesquisa desenvolvia. “Eu dividi a área entre algodão, fiz parte desse progresso social – que propiciou às fa-
vela um apaixonado pela extensão rural e pela agrope-
rias, articular projetos de desenvolvimento que gerem amendoim, milho, soja, tomate, olerícolas (algumas mílias ter suas casas, carro e os filhos na escola –, ten-
cuária sustentável, as quais garantem renda e qualidade
emprego e renda, promovam a conservação ambiental eram novidades) e apliquei todas as tecnologias dis- do participado de sua construção e, hoje, vendo que o
de vida para o produtor e sua família.
e melhorem indicadores sociais de saúde e educação”. poníveis no momento; consegui com isso mostrar na modelo de organização aqui praticado tem sido exem-
Extensionistas: a visão de quem prática para uma legião de agricultores que elas davam plo para outros grupos que precisam se desenvolver. A
Além disso, de acordo com o médico veterinário
Ivamney Augusto de Lima, da Dextru, “o extensionis- está no campo certo. Também mostrei formas diversas de comercializa- implantação do projeto de agregação de valor que está
ta precisa estar preparado para planejar o desenvol- ção, por meio do meu exemplo. Um grande número de aprovado pelo Microbacias II para a construção de um
CATI Regional Dracena packing house, com certeza será um novo marco que
vimento rural, com a participação dos agricultores na produtores aderiu em diversas cidades da região, onde
Sebastião Netto de Carvalho e Silva, engenheiro os cereais começaram a ganhar área de produção", re- alavancará ainda mais a organização, trazendo novas
construção do agir localmente e pensar globalmente,
agrônomo da CATI Regional Dracena, está às portas da lembra o agrônomo. oportunidades de aprendizado, tecnologia e conquista
representados por suas organizações e seus Conselhos
aposentadoria... no papel, pois coração de extensionis- de mercado, ampliando a renda e a qualidade de vida
de Desenvolvimento”. Portanto, o novo modelo de ex- Entre os tantos trabalhos desenvolvidos ao longo
ta bate para sempre nas ondas dos sons característicos dos produtores, que hoje tem orgulho de serem chama-
tensão rural deve estar fundamentado no diálogo e na de sua carreira de extensionista, o trabalho que o agrô-
do campo. Formado pela Faculdade de Agronomia e dos assim”, finaliza.
construção do conhecimento junto com os agricultores. nomo considera como símbolo é desenvolvido com a
Zootecnia Manoel Carlos Gonçalves, de Pinhal, em 1973,
Associação dos Trabalhadores de Jaciporã – J. Marques Casa da Agricultura de São Miguel Arcanjo – CATI
A CATI é o órgão que realiza a extensão rural em São ingressou na CATI em 1974. “Ao longo desses anos, vi-
Paulo, por meio das Casas da Agricultura. De acordo venciei muitas transformações, políticas governamen- (distrito de Dracena), cuja história de fundação pode- Regional Itapetininga
ria ser o enredo de um filme, segundo ele. “No início Átila Queiroz de Moura tem 40 anos e atua como ex-
dos anos 2000, um grupo de sem-terras invadiu uma tensionista na Casa da Agricultura (CA) de São Miguel
28 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬29

Arcanjo, a qual pertence à CATI Regional Itapetininga.


Formado pelas Faculdades Integradas Cantareira, em
2004, com especialização em gestão pública, pelo MBA
Executivo da Fundação Getúlio Vargas, o agrônomo in-
grande grupo no Projeto Microbacias II, o que tem per-
mitido uma farta colheita para aqueles que semearam
o associativismo como forma de alcançar novos mer-
cados e obter uma renda melhor para permanecer no
Crédito Rural: uma importante
gressou na CATI, egresso do último concurso realizado
em 2008. “Sou de São Paulo capital, mas passei minha
infância na região de Cerqueira César, onde aprendi a
campo. “Em sete anos como extensionista na CA, posso
comprovar os impactos positivos que o trabalho da CATI
proporciona ao agricultor familiar; são tão profundos,
ferramenta para o produtor agropecuário
gostar das coisas do campo. Por incrível que pareça, fiz que não podem ser medidos em todas as dimensões
Alexandre Mendes de Pinho – Engenheiro Agrônomo – Divisão de Extensão Rural (Dextru/CATI) – almendes@cati.sp.gov.br
agronomia para ser agricultor e pecuarista e não enge- nem mensurados em sua totalidade, em um curto es-
Alexandre Manzoni Grassi – Engenheiro Agrônomo – Divisão de Extensão Rural (Dextru/CATI) – amgrassi@cati.sp.gov.br
nheiro agrônomo. Na época de universitário, ainda não paço de tempo. Por isso, destaco somente como exem-
tinha a clareza e a dimensão exata dessa maravilhosa plo, apenas o Projeto Microbacias II, que se consolidou

D
profissão. Meu caminho na Extensão Rural realmente como uma política pública de sucesso, sem precedentes
teve início na CATI, no dia 21 de maio de 2009, meu pri- na história da agricultura familiar são-miguelense, com á-se o nome de crédito em acessar as linhas de financiamento deve estar
meiro dia de trabalho na CA”, explica. investimentos da ordem de mais de R$ 3 milhões, que rural ao financiamen- preparado para assumir o compromisso de pagar
geraram renda, emprego, qualidade de vida e fixação no to de recursos para uma dívida, ainda que a longo prazo e a juros bai-
Para o agrônomo, ser extensionista significa ter a
campo para um grande número de famílias associadas o produtor rural, por meio xos. E justamente o longo prazo para pagamento da
possibilidade de contribuir para melhorar a vida das
e/ou cooperadas na Associação dos Produtores Rurais de instituições financeiras, dívida e também as baixas taxas de juros é que têm
pessoas. “Para mim é estar comprometido em retribuir
do Bairro Brejaúva e Vizinhos, na Cooperativa Sul Brasil destinados à aplica- sido os maiores atrativos que estimulam a procura
à sociedade as oportunidades que a vida me permitiu,
e na Associação Cultural da Colônia Pinhal, que tiveram ção em atividades e pelo financiamento rural. Desta maneira, reforça-se
com muito esforço pessoal, transformar em realidade.
Propostas de Negócio aprovadas; algumas já finaliza-
No decorrer desses anos e com a proximidade da rea- empreendimentos que o proponente tem que estar preparado, tornan-
das e outras em execução”, comenta emocionado, Átila,
lidade das famílias do município onde atuo, entendi o rurais. Entre seus prin- do o acesso ao crédito rural uma verdadeira conquis-
lembrando também dos cerca de R$ 350 mil, investidos
significado do verdadeiro desenvolvimento sustentável, cipais objetivos estão ta pelo produtor. Isto porque o financiamento des-
na readequação de estradas rurais.
que possibilita a permanência do homem no campo se o estímulo à produção, ao tina-se àqueles produtores que são idôneos, bons
dedicando àquilo que sabe fazer e faz com amor, suor e Além dos benefícios para os produtores, o agrô- armazenamento, ao beneficia- pagadores, apresentem boas propostas para investir
trabalho duro, cumprindo sua nobre missão de produzir nomo destaca os investimentos na Extensão Rural. mento e à industrialização dos em seus empreendimentos e que consigam oferecer
alimentos para sua família e para saciar a fome de seu "Recebemos, por meio do Projeto, dois computadores,
produtos agropecuários, bem as garantias exigidas pelas linhas de crédito e pelos
semelhante, garantindo a soberania alimentar do nosso duas impressoras e dois veículos. Sempre digo que as
Brasil”. conquistas são resultado de esforço, trabalho duro, como o incentivo ao uso de téc- agentes financeiros.
união, dedicação e comprometimento, empreendedo- nicas racionais e conservacionistas nos
Segundo ele, o dia a dia de um extensionista rural O serviço de extensão rural oferecido
rismo, planejamento, esperança, liderança e organiza- sistemas de produção.
não é fácil. “É preciso ter um espírito forte e comprome- pela CATI pode ajudar o produtor a al-
ção dos agricultores familiares e dos órgãos públicos Conforme a opção feita pelo benefi- cançar essa conquista, seja por meio
tido em querer servir, daí a palavra servidor público, e
comprometidos com a agricultura familiar, principal- ciário ou caso seja exigência do agen- da orientação sobre os programas de
isso não é tão simples quanto parece, pois traz desafios,
mente a CATI e a Prefeitura Municipal”, ressalta o agrô-
dificuldades, necessidade de automotivação, supera- te financeiro, o financiamento pode crédito disponíveis, especialmente
nomo que, em relação ao sonho de se tornar agricultor,
ção, criatividade, saber trabalhar em parceria. Além dis- ser concedido juntamente com o aqueles ofertados pelos governos
revela: “ainda não pude concretizar, mas continuo ali-
so, para que o trabalho tenha bons resultados, é preciso acompanhamento de assis- estadual (Fundo de Expansão
mentando essa chama, pois uma vida dedicada à agri-
ser acessível e estar disponível ao nosso público-alvo, tência técnica, ou seja, con- do Agronegócio Paulista –
cultura familiar é uma vida bem vivida”.
quebrar barreiras e paradigmas, atender a todos com tando com recomendações Feap) e federal (Programa
cordialidade e respeito, entender as diferenças e e orientação de técnicos Nacional de Fortalecimento da
limitações de cada indivíduo, não ter preconcei- Átila Queiroz (de azul), extensionistas, como os da Agricultura Familiar – Pronaf ); seja
Arquivo Pessoal

tos e não fazer pré-julgamentos, colocar-se no comemora o sucesso


lugar do outro, desburocratizar os serviços, tor- CATI, para que se faça uma melhor pela emissão de documentos que
do Microbacias II com
nar o que é difícil e complicado uma coisa sim- produtores beneficiados.
aplicação dos recursos na propriedade habilitam o produtor a participar des-
ples. Devemos ainda, transmitir conhecimento e rural.
informações úteis, tornar acessíveis as políticas Há três finalidades básicas do crédito
públicas a quem é de direito, transformar para rural – custeio, investimento e comercia-
melhor o mundo ao nosso redor e cuidar das lização –, sendo que elas compreendem li-
pessoas. Mais importante que fazer do Brasil
nhas de financiamento para diversos perfis de
"Os programas de crédito podem
uma potência agrícola é fazer do meio rural um
lugar melhor para se viver. Diante de tudo isso,
produtores, principalmente os agricultores servir como auxiliares ao produtores
é preciso ter sonhos, vontade, iniciativa, garra
familiares, incluindo-se, também, os jovens,
as mulheres agricultoras, as comunidades rurais no caminho para o êxito de seus
e persistência para realizá-los, sonhando junto
quilombolas indígenas e as organizações empreendimentos."

Fonte: visionquest
com os agricultores, pois ninguém faz nada so-
zinho”. de produtores rurais (associações e coo-
perativas).
E em São Miguel Arcanjo, o sonho dos agri-
cultores, partilhado pelo agrônomo, se tornou É importante lembrar que contratar
realidade a partir do investimento na organiza- crédito é tomar dinheiro empresta-
ção rural, que propiciou a participação de um do, ou seja, o produtor interessado
30 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬31

ses programas; seja, ainda, pela ajuda na elaboração


da proposta de financiamento, considerando alguns
fatores importantes, tais como o potencial produtivo
de contrapartida financeira. O Fundo de Expansão do
Agronegócio Paulista, por outro lado, oferece a estas
organizações a possibilidade de financiar os recursos
Extensão Rural, Economia
Solidária e Redes Sociotécnicas
da propriedade rural, as possibilidades de comerciali- necessários a essa contrapartida por meio de linhas de
zação e a capacidade de pagamento. crédito que lhes darão a oportunidade de fazê-lo a juros
baixos e com longo prazo de reembolso.
O crédito rural pode representar uma importan-
Newton José Rodrigues da Silva – Zootecnista – Casa da Agricultura de Santos – CATI – newtonrodrigues@cati.sp.gov.br
te ferramenta para alavancar um empreendimento Enfim, os programas de crédito podem servir como
Abelardo Gonçalves Pinto – Engenheiro Agrônomo – Divisão de Extensão Rural – (Dextru/CATI) – abelardo@cati.sp.gov.br
agropecuário que participa ou pretende participar de auxiliares aos produtores rurais no caminho para o êxito

A
certas políticas públicas voltadas ao meio rural. Entre de seus empreendimentos. Para tanto, é preciso buscar
elas podemos citar os programas de compras de pro- informações sobre quais as linhas de financiamento Economia Solidária (Ecosol) é integrada por Reciprocidade, Princípio da Redistribuição e Princípio
um conjunto de iniciativas socioeconômicas da Maximização do Lucro, como representado na fi-
dutos oriundos da agricultura familiar pelos governos que mais se adequam às suas necessidades, além de se
privadas, comumente de natureza coope- gura abaixo.
estadual, federal e por algumas prefeituras munici- fazer uma análise criteriosa sobre seus reais benefícios rativista e associativista, autônomas em relação ao
pais e, também, programas de incentivo às organi- e, principalmente, sobre as condições e capacidades Estado, fundamentadas na solidariedade, reciproci- A interseção “A” representa as ações dos EES no
zações de agricultores familiares, com destaque para de pagamento do empréstimo que será contratado. As dade e autogestão. As atividades são desenvolvidas mercado para que se viabilizem economicamente. O
o Projeto de Desenvolvimento Rural Casas da Agricultura da CATI são a melhor opção para pelos Empreendimentos Econômicos Solidários (EES), apoio do Estado aos EES, como a extensão rural, a pes-
Sustentável (PDRS) – Microbacias o produtor rural buscar essas e outras informações. que compreendem as diversas modalidades de orga- quisa científica e o financiamento, está representado
II – Acesso ao Mercado, do nização econômica, originadas da livre associação, na interseção “B”. Esses princípios não são antagôni-
governo do Estado de São como: cooperativas de consumo, cooperativas de cos, pois uma atividade deve se fundamentar sobre os
Paulo. produção e prestação de serviços, bancos popula- três princípios, segundo a autora Odile Castel. Assim,
res, associações, fundos rotativos e grupos informais considerando os EES, é recomendável que haja equilí-
Mas, o que tem a que tenham atuação constante. As cooperativas de
ver o crédito rural com brio entre as ações relacionadas a cada um dos princí-
produtores rurais, associações e os grupos que orga-
essas políticas públi- pios. Caso o Princípio da Redistribuição prepondere na
nizam ações econômicas com base na reciprocidade,
cas? Tomando por gestão dos EES, o empreendimento será dependente
são os EES dos produtores rurais.
base os programas de dos governos, sendo objeto do assistencialismo. Caso
Para o autor Karl Polanyi, a reciprocidade econô- o Princípio da Maximização do Lucro prevaleça sobre
compra de produtos
mica é socialmente construída, pois se trata do apro- os demais, o empreendimento se torna uma empre-
da agricultura familiar
fundamento e da ampliação de relações para a viabi- sa capitalista, não havendo relações de reciprocidade
pelo poder público (por
liazação de um projeto. Portanto, é diferente de uma entre os seus integrantes ou entre os diferentes agen-
exemplo, Programa Paulista pro simples troca realizada entre fornecedor e consumi-
da Agricultura de Interesse lmarke
ting tes da cadeia produtiva. Esse fato reduz a sustentabi-
te: v
i rtua dor, que estabelece uma relação entre o indivíduo e lidade do empreendimento, o descaracteriza como
Social – PPAIS; Programa Nacional de Fon
o objeto de desejo. Ocorre quando cada integrante
Alimentação Escolar – PNAE; Programa EES e não gera renda de forma equitativa ou contribui
do EES e parceiros, como fornecedores, consumido- para o desenvolvimento local. Por isso, é necessário
de Aquisição de Alimentos – PAA), é res e apoiadores, estabelecem relações forjadas pelo
importante mencionar que o que haja vigilância que proporcione o constante for-
coletivo. As pessoas pensam e agem de acordo com talecimento do Princípio da Reciprocidade, não per-
produtor interessado atenda um projeto que representa um quadro de interesse
a alguns critérios de qualida- mitindo que os EES tenham donos, como governos ou
comum, mesmo quando há relações interindividuais
de e de frequência de forne- intermediários oportunistas, que agem como agentes
nas quais os atores buscam diferentes objetivos.
cimento exigidos por esses de mercado entre os produtores e consumidores, os
programas. Logo, a contrata- O sistema econômico é integrado, funda- quais comumente estão maquiados pelo discurso
ção de um financiamento de mentalmente, por três princípios – Princípio da fundamentado nos princípios da Ecosol.
investimento, por exemplo, "O crédito rural pode
viria a melhorar a infraestru-
tura e a qualidade da produ- representar uma importante ferramenta Princípios do Sistema Econômico
ção agropecuária, enquanto um Princípio da Princípio da Princípio da
financiamento de custeio poderia auxiliar a cobrir as para alavancar um empreendimento agropecuário que Maximização do Lucro Reciprocidade Redistribuição
despesas dos consecutivos ciclos produtivos, desde a
compra dos insumos até a fase de colheita. participa ou pretende participar de políticas públicas Empreendimentos
A Econômicos B
Um outro exemplo de emprego do crédito rural voltadas ao meio rural. " Pesquisa Serviços
como ferramenta complementar a certas políticas Atividades Solidários
Comercialização prestados
públicas é o Projeto Microbacias II, citado anterior- capitalistas Financiamento
mente. As associações e cooperativas de produtores pelo Estado
Extensão
que desejam participar desse Projeto devem apresen-
tar, como um de seus pré-requisitos, uma proposta
32 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬33

construída e o extensionista, um pesqui-


sador ou uma liderança dos beneficiários
atuaram, apoiados na credibilidade que
possuem, como o ator que promoveu
as alianças necessárias entre os demais
atores para a construção da rede. Porém,
quando não se constroem as redes so-
ciotécnicas que viabizam os EES de pro-
dutores rurais, pescadores, indígenas ou
quilombolas, o fracasso dos projetos co-
letivos é o resultado a ser colhido.
Considerando os desafios socioeco-
nômicos e ambientais impostos para
o público-alvo da extensão, conclui-se
que a transferência de tecnologia não é

Os integrantes das cooperativas e associações de


suficiente para que sejam superados. É
necessário que os projetos sejam cons-
truídos de forma participativa, com a mobilização dos ATER para todos
os públicos
produtores rurais, pescadores indígenas e quilom- diferentes atores que integrarão a rede sociotécnica,
bolas devem estar atentos para que os EES tenham e que sejam resultado da cooperação e da reciproci-
gestão coletiva das atividades e da alocação dos re- dade. Dessa forma, são reduzidos de forma expressiva
sultados. Nesse quadro é fundamental que os exten- os riscos de fracasso.
sionistas atuem para que haja inovações tecnológi-
A Ecosol é uma forma de organização econômi-
cas, organizacionais e de mercado, sem perderem de
vista que quem inova é o produtor e que ele não é
ca fundamentada na reciprocidade, que é capaz de Qualidade e reconhecimento estão presentes entre os departamentos e as ações da CATI
promover viabilidade socioeconômica de produtores
“dono” do empreendimento, dos produtores ou do
rurais, pescadores, indígenas e quilombolas e, con- Cleusa Pinheiro – Jornalista – Centro de Comunicação Rural (Cecor/CATI) – cleusa@cati.sp.gov.br
município, o que lhe exige trabalhar em equipe, ou
sequentemente, dinamizar o desenvolvimento local. Juliana Montoya – Jornalista – Centro de Comunicação Rural (Cecor/CATI) – juliana.montoya@cati.sp.gov.br
seja, em reciprocidade com outros profissionais. Além
Para isso, há a necessidade da construção de redes

A
disso, devem estar conscientes quanto aos princípios Coordenadoria de Assistência Técnica parte da rotina de trabalho da família há 23 anos. “A
sociotécnicas que tenham o extensionista como um
da Ecosol, principalmente de que a autogestão deve Integral (CATI), órgão da Secretaria de ajuda que recebemos dos técnicos é muito importan-
ator que disponibiliza assessoria técnica, mas tam-
ser o objetivo dos EES. Exige-se, assim, que os exten- Agricultura e Abastecimento (SAA) do te, tanto que a CATI transformou-se em uma referên-
bém apoia, estimula e promove as alianças necessá-
sionistas estejam preparados para o assessoramento Estado de São Paulo, é tradicionalmente conhecida cia para o desenvolvimento das nossas atividades”,
rias entre os diferentes atores para viabilizar a rede.
técnico, o que é condição sine qua non da sua missão, dentro e fora do campo por sua missão de “Promover o afirmou Edson.
mas também integrem e sejam construtores de redes Aprender os princípios e as oportunidades da desenvolvimento rural sustentável por meio de progra-
sociotécnicas que viabilizem os EES. Ecosol e da construção das redes sociotécnicas faz-se Além dos diversos projetos, as Casas da Agricultura
mas e ações participativas, com envolvimento da comu-
necessário para todos os extensionistas. Dessa for- (CAs) buscam garantir o acesso dos produtores rurais
As redes sociotécnicas são heterogêneas, sendo nidade, de entidades parceiras e de todos os segmentos
ma, terão conhecimento dos fatores de sucesso dos às políticas públicas e levantam questões como reor-
integradas por diferentes atores, como: produtores, dos negócios agrícolas”. Agora o que realmente isso
projetos que já desenvolveram, assim como daqueles denamento do uso do solo; aplicação de um plano de
extensionistas, pesquisadores, consumidores, agen- significa em seu trabalho de extensão rural, realizado
que determinaram eventuais insucessos. Além disso, recursos hídricos; intensificação da educação ambien-
tes de financiamento, representantes do poder pú- em quase todos os municípios paulistas, torna-se mais
estarão mais preparados para a obtenção de resulta- tal em todos os níveis de conhecimento e não somen-
blico etc. Essas redes possibilitam as inovações, vis- visível se verificado com quem é atendido diariamen-
dos positivos. A difusão pura e simples de tecnologia te na educação infantil; realização de mais projetos
to que nenhum projeto se impõe por ser definido te pela instituição ou até mesmo pelos extensionistas
não promove desenvolvimento sustentável. A difusão de adequação ambiental nas propriedades rurais; di-
a priori como bom, pois é a rede que o torna bom, que que atuam diretamente com os produtores rurais.
representa uma tecnologia em busca de clientes. A fusão de tecnologias que funcionem para melhorias
o viabiliza, como afirmam os autores Michel Callon e Os programas que a CATI desenvolve fomentam ambientais entre os agricultores, entre outras medi-
construção de redes sociotécnicas são os atores que
Bruno Latour, pesquisadores que elaboraram a teo- e fortalecem o setor agrícola, com ações que, além das que evitam a escassez de água e degradação do
inovam com a escolha e transformação das informa-
ria das redes sociotécnicas. A principal característica de contar com a parceria dos demais órgãos da SAA solo. Mas, para que essas ações obtenham os resulta-
ções técnicas e organizacionais de acordo com o co-
dessas redes é a atuação alinhada e interdependente e do setor privado, focam esforços também na recu- dos esperados, várias capacitações são aplicadas tan-
nhecimento que já possuem e não pode ser ignorado.
dos seus integrantes, sendo um espaço de coopera- peração de áreas degradadas e nas principais cadeias to aos técnicos quanto aos próprios produtores rurais.
ção para que o objetivo de cada um seja alcançado, o A construção de redes é o caminho mais difícil, se produtivas paulistas: aquicultura, bovinocultra de lei- “A nossa preocupação é a de poder capacitar o nosso
que, consequentemente, viabiliza o objetivo coletivo. comparado ao difusionismo, mas é o único capaz de te, bovinocultura de corte, cafeicultura, fruticultura, técnico para que ele possa avaliar como o produtor
As diferentes competências dos profissionais que in- garantir capacidade de superação dos desafios. Essa heveicultura e olericultura. São muitos os exemplos rural vem aplicando o seu trabalho e de que maneira
tegram as redes sociotécnicas garantem o aporte de capacidade é o que determina a sustentabilidade dos de agricultores atendidos pela CATI, consolidados é possível ajudá-lo a melhorar o que já vem sendo fei-
conhecimentos que tornam as redes vigilantes para a EES e deve ser permanentemente fortalecida, pois no mercado e satisfeitos com seus resultados. Edson to. Um bom exemplo disso foi a capacitação oferecida
superação dos desafios impostos pelo mercado ou de não existe sustentabilidade constante e definitiva. e Emerson Cogo, proprietários do Sítio São José, em aos técnicos no começo deste ano, na CATI Regional
outra natureza. A ligação da extensão rural com EES, ancorados em Campinas, dão sequência à tradição familiar no cam- Bragança Paulista, sobre técnicas de irrigação, princi-
Os projetos coletivos desenvolvidos pela CATI, em redes sociotécnicas, mostra-se como um promissor po e produzem frutas como goiaba, pêssego, serigue- palmente em tempos de crise hídrica, quando a ne-
ações como Microbacias I e II ou em outras, consoli- caminho para a promoção do desenvolvimento local la, além de outras culturas como abobrinha, quiabo e cessidade de se trabalhar de forma eficiente e com
daram seu sucesso quando a rede sociotécnica foi integrado e sustentável. feijão. A orientação dos extensionistas da CATI já faz economia de água foi fundamental para evitar maio-
34 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬35

res transtornos à agricultura paulista ao lon- Resgate cultural Estrutura da CATI


go de 2015”, explica José Carlos Rossetti, co- A CATI está estruturada em 40 Regionais, 594
ordenador da CATI. Além da variedade de mudas e de preservar a tra-
dição caipira no campo, por meio do DSMM, a CATI Casas da Agricultura e nos 21 Núcleos de Produção de
A engenheira agrônoma Antonieta Fiori, promoveu também o resgate da cultura indígena. Por Sementes e Mudas distribuídos em todo o território
responsável pela CA de Elias Fausto, perten- intermédio de uma parceria com a Fundação Nacional paulista. Na sua sede, em Campinas, estão as unida-
cente à área de atuação da CATI Regional do Índio (Funai) foi possível reproduzir as sementes do des departamentais essenciais no desenvolvimento
Mogi Mirim, acompanhou e recebeu várias milho preto, que estavam praticamente extintas entre de suas ações:
capacitações pela CATI e reconhece a impor-
tância desse tipo de treinamento para o seu
os remanescentes do grupo Kaingang, localizados na
aldeia Vanuíre, em Tupã; na aldeia de Icatu, na cidade
• Departamento de Sementes Mudas e Matrizes
desempenho como extensionista. "Penso (DSMM), responsável pela produção e comercializa-
de Braúna; e também na aldeia Tamarana, no Paraná –
que a capacitação é importante porque per- onde atualmente se concentram cerca de 1.700 índios ção de sementes e mudas, presta serviços de acom-
mite a reciclagem de conhecimentos, e o da etnia Kaingang. “Foi um resgate da cultura indíge- panhamento da produção, armazenagem e beneficia-
acesso a novas tecnologias e saberes. Com o na por meio do alimento, que é sagrado para eles. E o mento de grãos e sementes, além de realizar análises
universo digital, é possível ter o rápido aces- grande diferencial é que esse trabalho executado pelo físicas, fisiológicas, sanitárias e de qualidade genética
so à informação por meio de buscas na inter- Núcleo de Produção de Sementes de Ataliba Leonel das sementes, supervisionando também os laborató-
net e pela realização de cursos à distância, faz com que as sementes genéticas sejam tratadas rios particulares credenciados pelo Ministério da Agri-
que são ótimas ferramentas. Mas, somente a de forma isolada, para garantir a sua identidade des- cultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA);
capacitação presencial, permite a interação
social entre os técnicos, o que gera. além da
de a origem”, explica João Paulo Whitaker, diretor do • Departamento de Comunicação e Treinamento
Centro de Produção de Sementes, que congrega os (DCT), composto pelo Centro de Comunicação Rural
informação, o relato de experiências, troca 15 Núcleos de Produção de Sementes da CATI (CPS/ (Cecor), responsável pela edição e publicação de ma-
de ideias e maiores questionamentos". DSMM/CATI). terial técnico e informativo; e o Centro de Treinamen-
Agrícola dos Produtores de Vinho de Jundiaí (AVA)
Por meio da CATI, também é possível obter infor- conseguiu ser beneficiada no projeto de um envase Ilda Kené Humbelino, remanescente do grupo in- to (Cetate), responsável pela capacitação do corpo
mações e materiais sobre a produção e comerciali- móvel de vinho, uma proposta inédita no País. “Por dígena Kaingang e nascida na aldeia Vanuíre, hoje técnico da instituição e pela coordenação das ativida-
zação de sementes e mudas. O técnico do Núcleo meio do Microbacias II, nós conseguimos viabilizar mora na Terra Indígena Araribá, localizada na cidade des de treinamento e desenvolvimento de produto-
de Produção de Sementes de Pederneiras, área do um projeto que vai facilitar a vida do viticultor e me- de Avaí e foi a grande responsável por essa iniciativa. res rurais;
Departamento de Sementes, Mudas e Matrizes da
CATI (DSMM/CATI), Romão Berbel Júnior, destaca al-
lhorar, consequentemente, a qualidade do vinho en-
vasado. O apoio da CATI foi fundamental em todos os
Ao perceber que o cultivo do milho preto havia desa-
parecido em sua região, arrumou algumas sementes
• Centro de Informações Agropecuárias (Ciagro),
responsável pelo gerenciamento da rede de infor-
guns dos principais interesses do público atendido sentidos, desde o incentivo à inscrição do projeto; na que ela mesma cultivou para serem multiplicadas por mática da CATI, desenvolvimento de softwares para
pelo Departamento. “A maior parte das pessoas que organização da documentação necessária; quando meio do núcleo especializado da CATI. “Já não tinha suporte às áreas técnicas e administrativas e a manu-
nos procuram são os agricultores familiares e o maior recebemos a capacitação; até a concretização desse mais essa semente em nossa região e, por isso, eu tenção de Bancos de Dados, incluindo informações
interesse é pelas mudas de frutas, que são certificadas, sonho”, conta orgulhosa a presidente da AVA, Solange resolvi procurá-la em outro lugar bem mais distante de mercado, tecnologias agrícolas e estatísticas agro-
e também pelas árvores nativas destinadas à recupe- Paolini Sgarioni. onde vive um sobrinho meu. Com esse apoio que ti- pecuárias, manutenção física da Rede Intragov em
ração florestal. E mesmo quem não é agricultor, fica vemos da Funai e da CATI, para multiplicar as semen-
Em suas participações e apoios em grandes feiras Campinas e nas Regionais e configuração de servido-
impressionado com a nossa variedade de mudas fru- tes, agora eu vou retomar e abastecer a produção da
tíferas nativas e sempre acaba levando alguma para e eventos, como a Agrishow (Feira Internacional de res e equipamentos de informática, além de ditar as
minha família e de toda a aldeia”, contou Ilda.
plantar em seu quintal”, afirma o técnico. Como foi o Tecnologia Agrícola em Ação) e a Agrifam (Feira da normas de uso adequado para a segurança da rede.
caso do produtor de pupunha e lichia, Adan Rodrigo, Agricultura Familiar), realizadas anualmente, a CATI Mantém, ainda, o Serviço de Geoprocessa-
de Eldorado, que por meio da recomendação dos téc- também oferece um atendimento especial por meio mento, com geração de produtos e servi-
nicos da Casa da Agricultura de sua cidade, buscou de seus estandes que agradam não somente os agri- ços destinados, principalmente, à deman-
novas opções de plantio e voltou satisfeito com sua cultores, como o público em geral. Além das informa- da interna da instituição na elaboração de
escolha. “O DSMM oferece espécies que podem ser ções e orientações aplicadas por cada departamen- projetos e políticas públicas. Fornece ser-
cultivadas mesmo em diferentes regiões do Estado e to da instituição, os visitantes têm a oportunidade viços de mapeamento e atendimento às
eu encontrei um tipo de castanha que vou fazer ques- de conhecer toda a linha de publicações técnicas e demandas das Unidades Técnicas de Enge-
tão de acrescentar no meu pomar, para variar ainda instruções práticas sobre o setor agropecuário. São nharia (UTEs), as quais executam serviços
mais a minha produção”. mais de 60 títulos entre boletins e manuais técnicos
de conservação do solo e engenharia rural;
O Projeto de Desenvolvimento Rural Sustentável
disponíveis para a venda, além de outros materiais
impressos como folderes, volantes, as revistas Casa • Divisão de Extensão Rural (Dextru),
– Microbacias II – Acesso ao Mercado é um dos im- da Agricultura, receitas, todos produzidos pela insti- atua como suporte técnico metodológico
portantes projetos executados pela CATI, em parce- tuição e oferecidos gratuitamente durante as Feiras. O no planejamento e na gestão do conheci-
ria com a Secretaria do Meio Ambiente (SMA), por produtor de hortaliças e leite de São José do Rio Preto, mento da CATI na área de Assistência Téc-
meio da Coordenadoria de Biodiversidade e Recursos Hercílio Alves da Silva, é atendido pela CATI há muitos nica e Extensão Rural (Ater), por meio de
Naturais (CBRN) e financiado pelo Banco Mundial, cujo anos e, na Agrifam, aproveitou para se informar sobre assessoria aos seus programas e projetos e
objetivo é promover o desenvolvimento rural susten- novos tipos de plantio. “É muito importante poder do apoio aos extensionistas da rede;
tável e a competitividade, com propostas que visam
o aumento nas oportunidades de emprego e renda
contar com esse apoio dos técnicos da CATI também
nas feiras. Nós aproveitamos para tirar as dúvidas, pe- • Centro Administrativo, responsável
para agricultores familiares, organizados em grupos gamos mais algumas publicações e voltamos satis- pela administração dos Núcleos de Finan-
formais. Quem já foi contemplado ressalta a qualida- feitos com o atendimento que sempre é muito bem ças, Suprimentos e Patrimônio, Atividades
de do atendimento prestado pela CATI. A Cooperativa feito”, aponta o produtor. Complementares, Pessoal e Infraestrutura.
36 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬37

SAA. Foram treinados em quatro anos 1.918


novos sangradores para atender aos plantios
de seringueira que se estendem pelo Estado
de São Paulo, que já é o maior produtor de bor-
racha natural do País. “Além disso, em todas as
Regionais onde a seringueira vem sendo culti-

Cadeias Produtivas:
vada, foram realizadas capacitações em Boas
Práticas Agropecuárias”, frisa De Luca.
No centro-oeste do Estado, a Terra Indígena
Araribá também viu na heveicultura uma al-
ternativa de renda para as famílias. Um viveiro
fortalecimento da agropecuária paulista rumo ao para produção de mudas foi implantado em
2013 e várias capacitações foram organizadas
mercado consumidor pela CATI Regional Bauru. “São quatro aldeias
na região e a maioria vive de culturas perenes.
Graça D’Auria – Jornalista – Centro de Comunicação Rural (Cecor/CATI) – gdauria@cati.sp.gov.br
A ideia foi incentivar o plantio de árvores para
as gerações futuras e oferecer uma alternativa
de renda que possa mantê-los”, explica o enge-

E
m dezembro de 2015, a Secretaria de tor rural, dessa forma as políticas públicas são volta- do médico veterinário Carlos Pagani Neto que reuniu, nheiro agrônomo Johannes Peter Feldenheimer, dire-
Agricultura e Abastecimento do Estado de São das aos grupos, de maneira a ampliar a nossa atuação também no mês de dezembro, 18 técnicos para uma tor da CATI Regional Bauru.
Paulo encerrou as atividades em um evento, e estendê-la ao maior número possível de pessoas, reunião de trabalho. Eles atuam, via CATI Regionais,
com a presença do governador Geraldo Alckmin, que beneficiando toda a comunidade. O setor agrope- em todo o Estado junto aos extensionistas das Casas O Projeto Integra SP, que prega o sistema de
reuniu cerca de 900 pessoas no Palácio Bandeirantes. cuário não produz só alimentos, ele gera emprego da Agricultura que são os responsáveis diretos pela Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), tem o
Na platéia, produtores rurais, presidentes de associa- e renda, protege o meio ambiente, torna o Estado e implantação e divulgação do Projeto entre os produ- objetivo maior de controlar a erosão e recuperar áre-
ções e cooperativas, extensionistas da CATI, pesqui- o País mais competitivo”, afirma José Carlos Rossetti, tores rurais. as degradadas. Com a integração, é possível obter
sadores, professores, membros de Câmaras Setoriais, coordenador da CATI e idealizador do Ateras – Ações melhores áreas para pasto e obter renda em duas
Como mais antigo entre os Projetos Ateras, o CATI atividades, por exemplo, como Lavoura-Pecuária ou
dirigentes e técnicos de empresas ligadas ao setor de Assistência Técnica e Extensão Rural – ou Projetos Leite inspirou o CATI Café, hoje CATI Cafeicultura, que
agropecuário e a classe política voltada ao setor. Foi o CATI, atendendo às principais e mais significativas ca- Pecuária-Floresta, ou até mesmo as três atividades.
teve início na região de Franca, pregando os mesmos Com o pasto entre áreas de eucalipto, o que tem
I Encontro das Cadeias Produtivas, que teve o objetivo deias produtivas do Estado: bovinocultura de corte princípios de gestão e planejamento da propriedade
de valorizar os responsáveis pela assistência técnica e e leite, cafeicultura, fruticultura, olericultura, hevei- sido muito comum, possibilita-se o conforto maior
empregados no CATI Leite. A região é forte nas duas ao animal que pasta à sombra enquanto as árvores
extensão rural e, é claro, aqueles que são atendidos cultura e aquicultura. “O Planejamento Estratégico cadeias, tanto a cafeicultura como a pecuária leiteira
por esses profissionais: o homem do campo, que pro- da instituição faz com que haja interação entre os vão crescendo. O pasto contém a erosão e recupera o
são bastante significativas com muitos produtores solo com maior infiltração da água para os lençóis fre-
duz alimentos, gera emprego e renda, exporta, me- Projetos Integra SP – voltado à conservação do solo e tendo as duas atividades na mesma propriedade. “No
lhora os números da balança comercial. “Em um ano recuperação de áreas degradadas – aos projetos das áticos. Em áreas montanhosas, o Integra SP também
caso da cafeicultura, incentivamos práticas como o tem mostrado vários resultados com a sobressemea-
difícil, marcado pela crise, 2015 foi o ano da agricultu- cadeias produtivas, que encerram e/ou iniciam um ci- controle do mato nas entrelinhas, deixando livre ape-
ra e do agronegócio, que garantiram que o País apre- clo, com as ações do Projeto Microbacias II – Acesso dura em área de pastagens degradada, recuperação
nas a saia do cafeeiro, pois a prática ajuda a conter a de voçorocas e o retorno a uma terra produtiva. Com
sentasse melhores resultados”, afirmou Alckmin, que ao Mercado, que fornece a infraestrutura necessária erosão e as podas auxiliam no revigoramento e na re-
enfatizou o trabalho com todos os setores envolvidos ao crescimento e à inserção dos produtores familiares uma linha de financiamento própria, o Integra SP –
forma dos cafezais”, explica o engenheiro agrônomo Recuperação de Áreas Degradadas (Radge), oferece
no agronegócio "para que em 2016 seja garantido no competitivo mercado do agronegócio. Pedro Avelar, diretor da CATI Regional Franca.
esse setor fundamental para o Estado e também para Como em todas as cadeias, há um incentivo às
Alguns Projetos, como o CATI Leite, já vêm sendo
toda a economia nacional”. Boas Práticas Agropecuárias nas capacitações
trabalhados há longo tempo e fecharam 2015 com
As palestras do I Encontro de Cadeias Produtivas 1.552 propriedades leiteiras atendidas por 286 casas oferecidas pela instituição. Atualmente, 60
foram marcadas pela necessidade de se dar maior im- da Agricultura, estando presente em 37 das 40 CATI municípios de 16 CATI Regionais têm o Projeto
portância ao trabalho com as associações e cooperati- Regionais. Para 2016, os planos são mais ambiciosos Cafeicultura implantado.
vas, fortalecendo-as para que possam ter melhores re- e procuram por uma melhor gestão da atividade que A heveicultura também é outra cadeia que
sultados tecnológicos, financeiros e comerciais; para passará a contar com relatórios contínuos e maior vem se destacando pelo trabalho de extensão
que a coletividade que trabalha no meio rural não atenção às demandas. “Vamos ouvir o que os laticí- executado junto aos sangradores. “Sentimos
perca de vista a sustentabilidade de suas atividades, nios esperam, o que está faltando para que nossos pe- que a maior demanda era pela capacitação de
trabalhando com respeito ao meio ambiente e à saú- quenos produtores alcancem a qualidade e eficiência novos sangradores, principalmente em áreas
de humana, e para que haja mais integração e maior leiteira; vamos verificar quais tecnologias precisam de onde o plantio de seringueira foi se tornando
comunicação entre o setor produtivo e outros setores maior atenção, como a melhoria genética do rebanho uma cultura de destaque, como o noroeste
de forma que venham a trabalhar em maior sincronia. e o efeito positivo das inseminações artificiais; vamos paulista. A sangria é uma operação que requer
A CATI, o órgão responsável pela extensão rural e estar atentos à alimentação do gado, ao conforto ani- uma mão de obra especializada para que as
assistência técnica no Estado de São Paulo, há vários mal e a tudo que faz com que o Projeto CATI Leite, árvores tenham uma vida útil mais longa”, ex-
anos vem se dedicando a fortalecer as associações e quando bem direcionado, leve o pecuarista a ganhos plica o engenheiro agrônomo Carlos Alberto
cooperativas e a unir grupos levando-os à formaliza- significativos mesmo em pequenas áreas”, enfatiza de Luca, diretor da CATI Regional Votuporanga
ção. “Não há como atender individualmente o produ- José Carlos Rossetti. A gestão do Projeto CATI Leite é e membro da Comissão de Heveicultura da
38 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬39

recuperação de áreas; o maior sequestro de do Projeto Aquicultura”, afirma o engenheiro agrôno-


carbono propiciado pelo cultivo de forragei- mo Fernando Jesus do Carmo, da CATI Regional Jales,
ras; a racionalização da água, proporcionada responsável pelo Projeto CATI Aquicultura. Também
por um adequado manejo do rebanho; assim nessa cadeia produtiva o estado de São Paulo se so-
como a melhoria dos índices zootécnicos do bressai no País.
rebanho, são algumas das propostas que estão
Os Projetos CATI Fruticultura e CATI Olericultura fo-
sendo divulgadas na capacitação de extensio-
ram, junto com o Projeto Bovinocultura de Leite, os
nistas e produtores rurais.
que mais se destacaram, equivalendo, juntos a 69%
A degradação de pastagens é um dos dos projetos cadastrados, os quais atingiram a marca
grandes entraves da pecuária brasileira. No de 1.106 Projetos CATI no ano de 2015, sendo 929 exe-
Estado de São Paulo, estima-se que 60% das cutados por Casas da Agricultura e 177 diretamente
pastagens já apresentam alguns casos de de- pelas Regionais CATI. Esse fato comprova a importân-
gradação e outros 20% estão em estágio bas- cia dessas duas cadeias e o impulso que tiveram a par-
tante avançado de degradação. A CATI tem tir das políticas públicas de aquisição de alimentos, houses, adquiridos veículos para transporte de pro-
atuado na capacitação de técnicos e produ- como o Programa Paulista da Agricultura de Interesse dutos e os olericultores, principalmente, agricultores
tores rurais e, também, com implantação de Social (PPAIS), Programa Nacional da Alimentação familiares, tiveram a oportunidade de oferecer produ-
Unidades Demonstrativas (UDs) e Unidades Escolar (PNAE) e o Programa de Aquisição de tos de qualidade, conquistar novos mercados, estar
de Adaptação de Tecnologia (UATs) onde são Alimentos (PAA). em pé de igualdade com grandes produtores de ole-
um incentivo a que os produtores rurais promovam aplicadas tecnologias de recuperação/renova- rícolas. Foi uma mudança substancial na vida desses
“O objetivo do Projeto CATI Fruticultura foi orga-
ações de conservação do solo, tornando-o apto à ção de pastagens. "É evidente que no processo de produtores rurais”, argumenta o engenheiro agrôno-
nizar a cadeia, fortalecer as associações, capacitar os
instalação de diversas culturas. Lembrando que áre- degradação das pastagens ocorre uma queda na ca- mo Gilberto Figueiredo, especialista no tema olericul-
produtores em Boas Práticas Agropecuárias. Cada vez
as degradadas podem, ainda, ser alvo de autuações pacidade de suporte animal por área e, consequen- tura e gestor do Projeto CATI Olericultura.
mais é preciso que os produtores estejam atentos às
e multas pelos fiscais da Coordenadoria de Defesa temente, baixa lotação e queda na produtividade da
questões ambientais e à oferta de produtos mais sau- Desde que a CATI passou a trabalhar mais direta-
Agropecuária, ógão da Secretaria de Agricultura e atividade com prejuízos aos produtores. Existem vá-
dáveis. É preciso se adequar a essas exigências e tor- mente com grupos formais, por meio de suas associa-
Abastecimento (SAA). rias tecnolgias que podem ser aplicadas, dependen-
nar a atividade sustentável dos pontos de vista social,
do de cada caso, o Sistema ILPF é, sem dúvida, a mais ções e cooperativas, foi possível atingir um número
O engenheiro agrônomo Mário Ivo Drugowich, di- econômico e ambiental. As capacitações oferecidas
moderna e sustentável, porém existem outras”, expli- maior de produtores rurais, principalmente os agri-
retor do Centro de Informações Agropecuárias, espe- pela CATI, voltadas tanto aos técnicos quanto aos pro-
ca o médico veterinário Sidney Ezídio Martins, diretor cultores familiares que têm uma atenção destaca-
cialista na área, preparou um material que está à dis- dutores têm sido neste sentido”, afirma o engenheiro
da CATI Regional General Salgado e gestor do Projeto da da instituição porque são essencialmente eles os
posição dos extensionistas da CATI e interessados so- agrônomo José Augusto Maiorano, diretor da CATI
Bovinocultura de Corte. grandes responsáveis pela produção de alimentos.
bre o tema. O Manual Técnico n.º 81 “Boas Práticas Regional Campinas, que congrega importantes cida-
em Conservação do Solo e da Água”, coordenado des do Circuito das Frutas. O Projeto CATI Fruticultura “Quando os agricultores familiares são atendidos pela
por Mário Ivo e escrito com a colaboração dos in- tem atuação em 31 das 40 Regionais CATI. extensão rural nosso trabalho se amplia porque es-
tegrantes da Comissão Técnica de Conservação tamos provocando a mudança na vida de centenas
Já a olericultura deixou de ser praticada apenas nas de famílias, que tiram seu sustento do campo onde
do Solo, foi editado pelo Centro de Comunicação regiões próximas dos grandes centros urbanos para se
Rural (Cecor/CATI). “Esse Projeto está sendo uma fazem aquilo que sabem e gostam de fazer; estamos,
tornar presente em todas as regiões do Estado. “A ole-
vitrine de práticas integradas de conservação do ainda, reduzindo a evasão do campo para as cidades;
ricultura teve um impulso muito grande com as polí-
solo para os produtores e de capacitação para os ticas públicas de aquisição de alimentos. Outro fator estamos trabalhando não apenas com tecnologia,
técnicos extensionistas, pois traz na sua essência que vem contribuindo para esta maior demanda, tan- mas com questões que abrangem mudanças sociais,
a filosofia de trabalhar todo o entorno da proprie- to de olerícolas produzidas de forma tradicional como econômicas e ambientais, pois todos estes concei-
dade e não apenas combater uma erosão pontual”, as de cultivo orgânico, é a mudança de hábitos de tos são trabalhados pela extensão rural”, afirma José
afirma Mário Ivo. consumo da população, cada vez mais atenta a uma Carlos Rossetti. Este ano de 2015, a CATI completou 48
Outro Projeto que vem se somar ao Integra SP alimentação saudável. O Projeto Microbacias II tam- anos, quase meio século fazendo a história da exten-
é o Projeto Bovinocultura de Corte. Muitos produ- bém ajudou a alavancar a cadeia produtiva. Por meio são rural no Estado de São Paulo.
tores já estão se beneficiando de ações propostas das Propostas de Negócio, foram adquiridos pelas as-
pelo Projeto, como promover a integração pecuá- sociações e cooperativas máquinas e equipamentos *Colaborou a jornalista Juliana Montoya, do Centro de Comunica-
ria-floresta e/ou lavoura-pecuária, ou seja, o mes- para processamento mínimo, construídos packing ção Rural (Cecor/CATI) – juliana.montoya@cati.sp.gov.br
mo espaço com dupla finalidade e com possibili-
dade de renda dupla. Além do ganho em conforto
animal, pela sombra causada pelas árvores, como
A aquicultura, principalmente via criação de pei-
é o caso de eucaliptos sobre pastagem de braquiária,
a tecnologia promove a conservação e o enriqueci- xes em tanques-rede, a despeito da seca que atingiu
mento do solo. Outras áreas estão usando o plantio o Estado nos dois últimos anos, teve a adesão de mais
de soja sobre a pastagem dessecada, em rotação, 50 municípios e vem crescendo em torno de 20% ao
com ganhos em produtividade devido ao sistema de ano. “A Comissão de Aquicultura trabalhou no levan-
Plantio Direto na Palha (PDP) utilizado. Além da dupla tamento de dados das aquiculturas do Estado de São
finalidade, com possibilidade de obtenção de dupla Paulo; é o primeiro levantamento deste gênero e com
renda, o aspecto conservacionista do Projeto, com a ele poderemos verificar os gargalos e planejar as ações
40 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬41

São vários os projetos, as conquistas e a mudan-


ça de vida proporcionada e os extensionistas são
os atores principais nesse processo, envolvendo-se
desde a capacitação dos produtores em adotar Boas
Práticas Agropecuárias até a montagem de infraes-
trutura para comercialização da produção. Durante o
último Fórum, em setembro de 2015, foi o momento
de conferir alguns exemplos de projetos que tiveram
o acompanhamento do extensionista durante todo o
processo.
Cooperativa dos Produtores do Circuito das
Águas (antiga Cooperativa dos Produtores de
Chuchu de Amparo – Coopcham) – Amparo
CATI Regional Bragança Paulista
Beneficiários: 34.
Cadeia produtiva: Olericultura.
outros, e estão permitindo a esses grupos maior in- Empreendimento: ampliação do packing house; aqui-

Projeto Microbacias II:


clusão e participação social e econômica em suas re- sição de estrutura de processamento mínimo de ve-
giões, como pode ser conferido na reportagem “Ater getais; aquisição de utilitário.
para populações tradicionais: um trabalho diferencia- Valor Projeto: R$ 1.137.491,00.
do”, na página 42 desta edição. Valor apoiado: R$ 796.243,70.
Contrapartida: R$ 341.247,30.
extensão rural para o acesso ao mercado Todo este trabalho diferenciado de extensão
começou em 2000, com o Programa Estadual de
"Ao percebermos a demanda por produtos proces-
sados, desenvolvemos um Plano de Negócio voltado
Microbacias Hidrográficas (PEMH) e o fortalecimento
Graça D’Auria – Jornalista – Centro de Comunicação Rural (Cecor/CATI) – gdauria@cati.sp.gov.br à aquisição de equipamentos e máquinas para a im-
das associações. Muitas nasceram no rastro do PEMH,
plantação de uma agroindústria para processamento

N
incentivadas pelos extensionistas que fizeram cen-
os dois últimos anos, 2014 e 2015, a CATI zo de execução do Projeto Microbacias II para 2017, foi mínimo de vegetais. Além de agregar valor aos produ-
tenas de diagnósticos participativos levantando os
organizou Fóruns anuais para repassar os possível realizar a quinta e a sexta Chamadas Públicas. tos, pois já não temos apenas o chuchu, o Projeto en-
problemas e as fortalezas de cada grupo. Em seguida,
números, discutir os avanços, ouvir suges- “Era preciso primeiro uni-los e fortalecê-los e, a seguir, globou outros municípios da região e gerou empre-
elas ganharam infraestrutura para darem seguimento
tões de melhorias e divulgar os resultados obtidos em um projeto pioneiro, oferecer subsídios para que go para os familiares dos produtores”, aponta Valéria
às suas ações. “A extensão rural paulista foi mudando
pelo Projeto de Desenvolvimento Rural Sustentável pudessem se inserir no mercado. O governo estadu- Gerbi, gerente da Cooperativa.
ao longo do tempo e se adequando à nova realida-
(PDRS) – Microbacias II – Acesso ao Mercado. Foram al ajudou-os a obter a infraestrutura necessária para
de. Já não era mais possível atender individualmente O extensionista que acompanhou todo o proces-
convocados diretores, técnicos das 40 Regionais CATI isso, e o trabalho de extensão rural foi fundamental
cada propriedade ou problema isolado e o extensio- so até a finalização da Proposta e o encaminhamen-
e responsáveis pelas Casas da Agricultura, que junta- para que alcançassem esse objetivo”, conta o coor-
nista da CATI não só se adaptou, mas aprendeu, em to das ações foi o engenheiro agrônomo Ricardo
ram-se aos convidados especiais: produtores rurais denador, engenheiro agrônomo José Carlos Rossetti,
um processo de interação com os produtores, sobre Moncorvo Tonet, responsável pela Casa da Agricultura
organizados em associações e cooperativas. Durante que esteve à frente da CATI nas duas ocasiões.
as diferenças locais e regionais e, sobretudo, apren- de Amparo. Estiveram juntos desde o início quando
os eventos, esses produtores tiveram a oportunidade “Após as primeiras cinco Chamadas, 205 Propostas deu a valorizar o que era importante para aquele gru- o nome adotado era Cooperativa dos Produtores de
de falar sobre as experiências pelas quais passaram, de Negócio já foram ou estão sendo apoiadas no pro- po específico e passou a dar o suporte necessário. Não Chuchu de Amparo e até a escolha da nova logomarca
comentar os passos, as dificuldades encontradas, os cesso de implantação, beneficiando as mais variadas havia mais um programa estadual a ser lançado e se- teve a participação do técnico.” Tenho muito orgulho
aprendizados e o que os motivaram. Falaram sobre o cadeias produtivas do agronegócio”, frisa João Brunelli guido, mas o governo do estado passou a financiar as desse trabalho, pois é esse tipo de ação, bem próxima
papel fundamental dos extensionistas em cada caso Junior, gerente técnico do Projeto Microbacias II. Já as escolhas dos produtores e a tornar possível o sonho do produtor, que faz de mim um extensionista. Eles
apresentado e como eles os ajudaram a se organi- Manifestações de Interesse da sexta e última Chamada de crescerem e ganharem independência”, diz Rosetti. trabalharam duro para conseguir atingir seus objeti-
zar para atender às Chamadas Públicas, declarar as devem resultar em mais 150 Propostas de Iniciativa vos, mas chegaram lá e, para mim, a sensação é de ter
Manifestações de Interesse e apresentar as Propostas Ao PEMH, se seguiu o Projeto de Desenvolvimento
de Negócio, que estão sendo analisadas pela comis- chegado também”, diz Ricardo Moncorvo.
de Iniciativa de Negócio pretendidas. Discutiram, Rural Sustentável (PDRS) – Microbacias II – Acesso ao
são de avaliação do PDRS – Microbacias II – Acesso ao Associação dos Produtores Rurais, Industriais
ainda, com os técnicos as formas possíveis de pa- Mercado, que manteve a mesma forma de atuação:
Mercado. e Moradores do Município de São João do Pau
gamento da contrapartida de 30% sobre o total do dar suporte às decisões dos grupos formais. O apoio
empreendimento, exigida no caso dos produtores Além das Propostas apresentadas por grupos for- oferecido pelo Projeto está permitindo que as asso- d’Alho (Aprimor) – São João do Pau d’Alho
rurais e assentados, e de 1%, no caso de integrantes mais de produtores rurais, compostos em sua maio- ciações e cooperativas implantem ou melhorem a es- CATI Regional Dracena
de comunidades quilombolas e indígenas, e alguns ria por agricultores familiares, o PDRS – Microbacias trutura física de seus empreendimentos e adquiram Beneficiários: 109.
aproveitaram o financiamento do Fundo de Expansão II – Acesso ao Mercado também atende salvaguardas máquinas e equipamentos diversos para recepção, Cadeia produtiva: Urucum.
do Agronegócio Paulista (Feap), usufruindo mais uma sociais inserindo as comunidades tradicionais, grupos limpeza, classificação, embalagem e armazenamento Empreendimento: compra de máquina para recolha
vez da orientação dos extensionistas da CATI. indígenas e quilombolas, que apresentaram 13 pro- e transporte de produtos da agricultura familiar em e pré-beneficiamento de urucum, proporcionando
jetos comunitários. Para esses grupos, a subvenção especial, até aos clientes. Além destes, vem permi- redução do custo de mão de obra e melhoria da qua-
Até o primeiro Fórum, em setembro de 2014, ha- é de 99% do valor total de suas Propostas, com teto tindo outros benefícios que alavancam a produção lidade do produto.
viam sido aprovadas 156 Propostas, beneficiando as máximo de apoio de R$ 198 mil para cada grupo. Os e a conquista de novos nichos de mercado, somados Valor Projeto: R$ 364.000,00.
mais variadas cadeias produtivas do agronegócio. Em projetos comunitários visam a segurança alimentar, àqueles proporcionados pelas políticas públicas de Valor apoiado: R$ 254.800,00.
julho de 2015, com a boa notícia da ampliação do pra- a inserção no mercado, o incentivo ao turismo, entre compra de alimentos da agricultura familiar. Contrapartida: R$ 109.200,00.
42 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬43

“Com a máquina, reduzimos a mão de obra e com cebido. “É o primeiro registro no município de um Associação dos Produtores de Cafés Especiais da de Sete Barras que afirma: “Esse foi um trabalho liber-
isso 70% dos custos; hoje um tratorista e o produtor grande investimento destinado aos agricultores fa- Região de Garça – Garça Specialty Coffee Associa- tador, a Cooperativa fica em um bairro distante e su-
conseguem realizar o trabalho duro que precisava de miliares e suas entidades representativas, visando tion , “Café com RG” – Garça jeito à atuação dos intermediários, mas aos poucos os
um balaio e seis pessoas, isso sem falar na melhoria estruturar a comercialização de forma coletiva, com CATI Regional Marília produtores foram se organizando e hoje eles conse-
da qualidade do produto. Temos o melhor urucum do ganhos de qualidade, escala, profissionalismo, agre- Beneficiários: 29. guiram essa libertação; saíram do domínio dos inter-
País, produzido pela agricultura familiar; precisáva- Cadeia produtiva: Café. mediários e passaram a acessar o próprio mercado”.
mos melhorar as nossas condições de vida e reduzir gação de valor, diminuição dos riscos, aumento da
renda e geração de emprego. Essa conquista inédita Empreendimento: infraestrutura para beneficiamento
os custos para poder crescer”, destaca José Vilar, pre- Confira os números do Projeto Microbacias II –
e transporte do café; aquisição de classificadora ele-
sidente da Aprimor. é fruto da organização dos produtores e das políticas Acesso ao Mercado para associações e cooperativas
trônica de café; melhoria da qualidade do produto.
públicas estabelecidas, que são comprometidas com de produtores rurais e para comunidades tradicionais.
O extensionista responsável não é dos quadros da Valor Projeto: R$ 725.965,58.
o desenvolvimento rural sustentável e deve ser co- Valor apoiado: R$ 494.545,91. • 218 Propostas aprovadas, sendo 113 de associações,
CATI, mas da Prefeitura, grande parceira neste em-
preendimento. Foi a determinação do responsável memorada por toda a comunidade. É o que eu faço Contrapartida: R$ 231.419,67. 62 de cooperativas, quatro comunidades indígenas,
pelo Projeto, engenheiro agrônomo Roberto Hissao como extensionista da CATI: comemoro com todos da sete comunidades quilombolas. Algumas organiza-
“A escolha da marca 'Café com RG' diz bem sobre
Arakaki, que permitiu essa mudança tão grande na Cooperativa Sul Brasil esta conquista”, confirma Átila. ções tiveram mais de uma Proposta aprovada.
a pretensão dos associados: ter um café diferenciado,
vida dos produtores de urucum. Para Roberto, foi a Cooperativa dos Agropecuaristas Solidários de reconhecido pela qualidade especial, pronto para ser
perseverança de todos os associados da Aprimor, do Itápolis e Região (Coagrosol) – Itápolis • R$ 128.072.520,31, sendo R$ 85.633.740,02 apoiados
exportado”, José Wilson Lopes, associado e presidente
apoio do Conselho Municipal de Desenvolvimento CATI Regional Jaboticabal pelo governo estadual, com recursos próprios e de
da Cooperativa dos Cafeicultores de Garça (Garcafé).
Rural e dos dois prefeitos, o atual e o anterior, que Beneficiários: 28. financiamento do Banco Mundial, e contrapartida de
apoiaram a iniciativa. Cadeia produtiva: Fruticultura. O extensionista responsável por proporcionar R$ 42.438.780,29, verba levantada pelas associações e
Empreendimento: projeto agroindustrial para proces- esse ganho na qualidade do café de Garça e propiciar cooperativas participantes.
“A mecanização para estes produtores familiares ao pequeno cafeicultor que viesse a obter a mesma
era fundamental para garantir a sustentabilidade da samento de frutas tropicais (sucos).
Valor Projeto: R$ 1.480.000,00. qualidade de grãos dos grandes produtores foi o en- *Colaborou a jornalista Juliana Montoya, do Centro de Comunica-
atividade, a qual emprega muita mão de obra a um
Valor apoiado: R$ 800.000,00. genheiro agrônomo Wanderlei Tavares Dias. “A união ção Rural (Cecor/CATI) juliana.montoya@cati.sp.gov.br
custo de 30% a 35% da produção. É um trabalho
pesado, duro e longo e há risco de se perder toda a Contrapartida: R$ 680.000,00. dos pequenos produtores foi fundamental porque
produção durante o processo. Foi essa realidade que unidos eles se organizaram, viram o que precisavam
“’Foi um enorme prazer poder participar do para conseguir colher um café com a mesma qualida-
nos levou a ajudá-los a procurar uma indústria de Projeto Microbacias II; a Cooperativa existe há 15 anos
maquinário que se engajasse nessa causa de adaptar de dos grandes. A colheitadeira propiciou esse ganho,
na produção de sucos e agora pudemos finalmente além de oferecer maior rapidez no processo. Hoje,
uma máquina colheitadeira de grãos para colher o inaugurar a agroindústria. Celebramos um Projeto
urucum. Levou muito tempo, mas ninguém desistiu, com mão de obra cara e escassa, o pequeno tem que
que está trazendo grandes resultados para as famílias unir esforços para ter a qualidade necessária para con-
nem os produtores, nem a indústria, nem a Casa da de muitos agricultores que tinham dificuldade de se
Agricultura, a CATI ou a Prefeitura. Foi uma conquis- tinuar no mercado”, afirmou o técnico que há vários
manter no campo”, anos acompanha os cafeicultores de Garça à frente da
ta coletiva e agora já estamos sendo procurados por conta Reginaldo
outros municípios; o urucum é sinônimo de vida nes- Casa da Agricultura.
Vicentim , diretor da
sa região”. Coagrosol. Cooperativa Agropecuária de Produtos Susten-
Cooperativa Agrícola Sul Brasil de São Miguel táveis do Guapiruvu (Cooperagua) – Sete Barras
Arcanjo – São Miguel Arcanjo – CATI Regional Registro
CATI Regional Itapetininga Beneficiários: 20.
Beneficiários: 39. Cadeia produtivas: Banana.
Cadeias produtivas: Fruticultura e Olericultura. Empreendimento: construção de duas câmaras clima-
Empreendimento: implantação de packing house tizadoras para armazenagem da banana; construção
para classificação, embalagem, armazenamento e O extensionista res- de galpão de 300m² ; aquisição de caminhão-baú re-
transporte. ponsável pela Casa da frigerado para transporte do produto e um utilitário.
Valor Projeto: R$ 1.158.120,38. Agricultura, e que esteve Valor Projeto: R$ 458.900,00.
Valor apoiado: R$ 800.000,00. junto à Cooperativa du- Valor apoiado: R$ 321.230,00.
Contrapartida: R$ 358.120,38. rante toda a fase de apre- Contrapartida: R$ 137.670,00.
"Com o objetivo de competir com mais força no sentação da Proposta de Negócio da Coagrosol até “Nós tivemos a nossa realidade totalmente trans-
mercado, com qualidade e padronização e, desta for- a finalização das ações, foi o engenheiro agrônomo formada por meio do Projeto Microbacias II – Acesso
ma, conseguir preços mais justos aos cooperados, de- Sílvio Carlos Pereira dos Santos. “O Projeto Microbacias ao Mercado. Tiramos os produtores de condições ile-
cidimos participar do Microbacias II. Construímos um estimulou os produtores a empregarem novas tecno- gais, pois precisavam roubar palmito (juçara) para so-
packing house, compramos caminhão e máquinas. logias para aumentar a produtividade de seus poma- breviver. Hoje, por meio dessa oportunidade, temos
Este Projeto é um marco de uma nova fase dos coo- res. Eles também passaram a se interessar e procurar um palmito legal, o pupunha, e conseguimos bus-
perados”, ressalta Francisco Yamashita, ex-presidente por outras organizações municipais que atuam no car apoio para ampliar nossas atividades com uma
da Cooperativa Agrícola Sul Brasil. Atualmente a Sul município para incrementar ainda mais a nova agroin- agroindústria de doces de banana e, principalmente,
Brasil é presidida por Roberto Furuya que está dando dústria. É muito bom ver o quanto o Projeto ajudou temos a satisfação de sermos reconhecidos em todo
sequência às ações. estas famílias e o salto de qualidade que deram em o Estado”, conta João Honório de Sousa, coordenador-
O engenheiro agrônomo Átila Queiroz de Moura suas vidas. O otimismo agora é marca registrada da -executivo da Cooperagua.
acompanhou todos os passos da Cooperativa Sul Coagrosol e eu, como extensionista, tenho a satisfa- O extensionista responsável foi o engenheiro agrô-
Brasil e comemorou cada conquista, cada apoio re- ção de ter participado dessa mudança”, afirma Sílvio. nomo Sidenei Carlos França, da Casa da Agricultura
44 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬45

Ater para populações tradicionais: liares são, em sua maioria, quilombolas. É fato que a
questão de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater)
para populações tradicionais sempre gerou discussão
e o Instituto de Cooperativismo e Associativismo
(ICA), principalmente junto aos quilombolas, que já
renderam bons resultados, há várias comunidades
e posicionamentos diversos, muitas vezes opostos, com ganhos na geração de renda e emprego.

um trabalho diferenciado de como trabalhar com elas. É também evidente que


cada grupo de profissionais – antropólogos, biólogos,
agrônomos, assistentes sociais e tantos outros –, que
O incentivo à organização rural possibilitou às
associações de remanescentes de quilombos acessar
políticas públicas de compras institucionais e ingressar
Cleusa Pinheiro – Jornalista – Centro de Comunicação Rural (Cecor/CATI) – cleusa@cati.sp.gov.br acabam trabalhando com essas populações, possuem no Microbacias II, como foram os casos da Associação
visões diferentes sobre como agir, existindo uma ten- do Quilombo São Pedro, do município de Eldorado,

O
decreto do governo federal, que instituiu em 2008, por meio de consultas públicas do Projeto dência em muitos profissionais de adotarem postura que recebeu um caminhão para comercialização
a Política Nacional de Desenvolvimento Microbacias II. “O atendimento a essas comunidades “paternalista” em relação ao grupo que desenvolve o da produção de pupunha, a qual foi incentivada
Sustentável dos Povos e Comunidades cumpre a política de Salvaguardas Sociais do Banco trabalho. Não discuto se essa postura é a mais correta como alternativa à extração do palmito juçara; do
Tradicionais, define essa população como grupos cul- Mundial, que busca garantir a igualdade de direitos ou não, em certos momentos são benéficas as ações Quilombo Ivaporunduva, que recebeu um veículo
turalmente diferenciados e que se reconhecem como dos povos tradicionais nos projetos que financia”, ex- de caráter mais “paternalista”, sempre em concordân- utilitário e um caminhão para a comercialização da
tais, que possuem formas próprias de organização plica o coordenador da CATI, José Carlos Rossetti. cia com a comunidade, pois os técnicos acabam agi- produção agrícola de banana, pupunha e olerícolas;
social, que ocupam e usam territórios e recursos na- lizando certos procedimentos, têm mais familiaridade e o do Quilombo da Poça, que adquiriu um veículo
Diante desse novo aspecto de trabalho para a ins- com planilhas, documentos, cartórios, atas, que em utilitário e máquinas agrícolas. "Além do investimento
turais como condição para sua reprodução cultural,
tituição, o trabalho de Assistência Técnica e Extensão certos momentos são necessários na formalização de em equipamentos para expandir a agropecuária local,
social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando co-
Rural também teve que ser adaptado a esse novo pú- convênios e cumprimento de prazos; porém, por ou- também foram alocados recursos para a aquisição de
nhecimentos adquiridos empriricamente.
blico, o qual tem características diferenciadas do pú- tro lado, a comunidade não pode ficar à margem do instrumentos e equipamentos para as áreas culturais
Segundo Abelardo Gonçalves Pinto, engenheiro blico tradicionalmente atendido, que são os agricul- conhecimento e ficar na dependência de quem faça, e recreativas das comunidades", informa Mamute.
agrônomo da Divisão de Extensão Rural da CATI e res- tores familiares. A seguir, o exemplo de extensionistas por isso acompanhamos a comunidade e fazemos ca- Comunidades indígenas – o exemplo de Avaí
ponsável pelo componente de Salvaguardas Sociais que agregaram novas formas de trabalho, no dia a dia pacitações em gestão, ação mais emancipadora".
do Projeto Microbacias II, que engloba as ações com de suas Regionais e Casas da Agricultura.
essas comunidades, os povos tradicionais do Estado O agrônomo lembra também que alguns
Comunidades quilombolas e indígenas – pesquisadores e estudiosos querem estabelecer
de São Paulo são pouco conhecidos pela maioria das entendimento de Ater para o Vale do Ribeira
pessoas. “Somente no meio rural existem procedimentos únicos para o trabalho de Ater.
46 aldeias indígenas abrigando cerca Associação do Quilombo São Pedro recebeu caminhão pelo Microbacias II, “Alguns dizem: para trabalhar com indígenas tem
de mil famílias das etnias Guarani, Tupi, para expandir a comercialização de pupunha. de ser assim, fazer isso ou aquilo. Porém, o que
Terena, Krenak e Kaingang. No perímetro observamos na prática é que essas comunidades,
em maior ou menor grau, são diferentes entre si
CA Eldorado

urbano da cidade de São Paulo vivem mais


de 50 mil indígenas de diferentes etnias. e extremamente diversificadas internamente, por-
Em todo o Brasil existem 225 povos indí- tanto é impossível estabelecer padrões de aten-
genas, falando 190 línguas, que são um dimento de Ater para indígenas de forma igual
patrimônio cultural de valor inestimável. aos quilombolas e/ou caiçaras. Um exemplo: en-
As comunidades quilombolas paulistas tre os indígenas, a Ater para uma comunidade de João Pacheco (de chapéu), celebra o fruto do trabalho
são constituídas por cerca de 1.700 famí- etnia Terena é diferente da utilizada para a etnia extensionista com a comunidade da Aldeia Ekeruá.
lias, vivendo em 58 quilombos, dos quais Guarani, pois as dinâmicas e relações econômicas-
33 possuem reconhecimento oficial”, in- sociais-culturais são completamente diversas. Os tere- Para o engenheiro agrônomo João Pacheco de
formando que a categoria “povos tradicio- nas têm a agricultura como inerente à sua cultura; já Almeida Prado, da Casa da Agricultura de Duartina,
nais” também abriga as populações caiça- os guaranis são nômades e basicamente extrativistas. pertencente à CATI Regional Bauru, ser extensionista
ras, ribeirinhas, extrativistas, de pescado- Portanto as abordagens de Ater devem se adequar pode ser traduzido como um técnico que auxilia os
res artesanais e outras. conforme a situação se apresenta”. produtores a se organizarem, traduzindo as lingua-
gens do conhecimento produzido pela pesquisa, dan-
Antônio Eduardo Sodrizeiski (Mamute), diretor Sendo assim, Mamute avalia que é preciso co-
De acordo com estudiosos, num mundo em que do ferramentas para que os produtores possam gerir
da CATI Regional Registro, contabiliza em suas Casas nhecer as comunidades para desenvolver uma Ater
os valores predominantes são o consumo, o indivi- seus negócios ou empreendimentos, com renda para
da Agricultura um trabalho de extensão rural para consistente, que traga benefícios a todos. Para ele,
dualismo e a competição, os povos tradicionais são continuar no campo, com qualidade de vida. “Quando
mais de 30 comunidades quilombolas e indígenas. caiçaras são na essência extrativistas, com demanda
detentores de reservas de possibilidade histórica para trabalhamos com agricultores “tradicionais”, temos
Engenheiro agrônomo com atuação há anos junto de pesquisa em novas tecnologias. “Eles precisam de
reinventar o mundo e reinventar-se no mundo. Seu um foco definido para ser diagnosticado e trabalhado.
a essas comunidades, relata a experiência das ações apoio irrestrito da pesquisa, como é o caso da obten-
modo simples de viver e sua relação não predatória Já nas comunidades indígenas, todo conhecimento
da CATI no Vale do Ribeira, região onde a produção ção das sementes de ostra, para conter o extrativis-
com a natureza são referenciais importantes na busca tem que ser construído, de acordo com a realidade e
agrícola, a conservação ambiental e manutenção mo”, diz. Quanto aos quilombolas e caboclos, apon-
do desenvolvimento rural sustentável. Do ponto de as tradições de cada uma. Além disso, é preciso formar
de culturas seculares andam de “braços dados” com ta que são subgrupos dentro da agricultura familiar,
vista econômico, embora existam diferentes graus de uma Rede Sociotécnica multidisciplinar para atender
as principais fontes de renda desses agricultores. com diferencial cultural, mas enfrentando as mesmas
inserção no mercado, uma grande parte das comuni- às demandas dessas comunidades”, explica João, que
“Apesar de a atuação direta da CATI com essas po- dificuldades“.
dades estão incluídas na categoria de agricultura fa- há alguns anos diversificou sua atuação como exten-
pulações ter se iniciado com o desenvolvimento do Quanto ao trabalho desenvolvido pela sionista, para atender à comunidade indígena Ekeruá,
miliar, de acordo com a legislação em vigor. Projeto Microbacias II, a minha experiência aqui vem Regional, além das ações de Ater realizadas em de Avaí, município da região, onde ele está responsá-
A CATI iniciou o trabalho com as comunidades tra- de longe, desde quando eu trabalhava na Casa da parceria com outras entidades como a Fundação vel pelas ações do Projeto Microbacias II junto às co-
dicionais, especificamente indígenas e quilombolas, Agricultura de Iporanga, onde os agricultores fami- Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp) munidades tradicionais.
46 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬47

O agrônomo relata que o primeiro passo foi ganhar


a confiança dos agricultores indígenas, colocando-os
como protagonistas da ação a ser desenvolvida, após
a identificação da cadeia produtiva que seria traba-
Extensão Pesqueira – o exemplo das Casas da
Agricultura do Litoral Paulista
De acordo com o extensionista Newton Rodrigues,
da Casa da Agricultura de Santos, a extensão pesquei-
Ater: um pouco de história e o trabalho da
lhada, no caso a mandioca. “Na discussão do Plano de
Etnodesenvolvimento, uma das principais reivindica-
ra é o conjunto de atividades de apoio e assessora-
mento à pesca artesanal. “O seu objetivo estratégico é Secretaria de Agricultura e Abastecimento
ções foi a geração de uma alternativa de renda para as contribuir para a sua reprodução social, que se funda-
menta na viabilização socioeconômica e ambiental. A Cleusa Pinheiro – Jornalista – Centro de Comunicação Rural (Cecor/CATI) – cleusa@cati.sp.gov.br
famílias. Diferente de outras comunidades indígenas
do Estado, a aldeia Ekeruá, que congrega 40 famílias atuação dos extensionistas em cada município possui
terenas, está localizada em uma região de pouca mata características específicas, visto que existem diferen-
preservada e muita produção agropecuária. Eles já tes territórios de pesca no litoral paulista, que são
resultado da interação existente entre dois sistemas:
plantavam mandioca, mas em pequenas áreas e sem
ecológico e socioeconômico. Assim, a exploração dos
tecnologia. Fizemos um projeto para aumentar a pro- recursos marinhos e a organização da pesca artesanal
dutividade e agregar valor à produção. Após o aumen- é uma construção social que possui características
to da área plantada e da produtividade, que foi feito territoriais”, explica o agrônomo, citando exemplos da
com a renovação das manivas e com a introdução de diversidade de situações de trabalho: “pode-se citar
novas tecnologias de manejo, o passo seguinte foi que, em determinado território, a pesca com rede de
investir em mudanças na forma de comercialização”, emalhe é a arte mais utilizada e o peixe é o principal
explica João, que junto com o indianista Henrique produto. Em outro, é a rede de arrasto e o camarão
Sérgio Bünge, da Fundação Nacional do Índio (Funai), o produto principal. Ainda em alguns territórios ma-
capacitou os interessados para participar do projeto. rinhos é possível a prática da aquicultura, em outros
isso não é possível por conta das condições ambien-
Atualmente, a produção oriunda de plantios da tais. Enfim, cada território de pesca constitui um eco-
aldeia é comercializada com uma cooperativa de sociossistema”.
agricultores familiares do município de Ubirajara.
Newton avalia também que, a atuação dos exten-
“Fizemos várias reuniões e, conforme aumentou a
sionistas, principalmente no que concerne à emissão
adesão ao 'grupo da mandioca', o entusiasmo cresceu
de DAPs e elaboração de projetos, contribui para o
junto com a criatividade. Com a aprovação de um pro-

A
fortalecimento da pesca artesanal por viabilizar o
jeto comunitário pelo Microbacias II, principal con- Extensão Rural pode ser definida como um “Produzidas por pesquisadores norte-americanos,
acesso ao crédito para a compra de barcos, redes etc. serviço de assessoramento a agricultores, suas sendo o maior expoente Everett M. Rogers, as teorias de
quista da comunidade indígena de Avaí, foram gera-
"Porém, observa-se que outras intervenções são rea- famílias, seus grupos e suas organizações, modernização foram na realidade propostas de busca
dos projetos de curto, médio e longo prazos. A curto
lizadas sobretudo para a melhoria das condições de nos campos da tecnologia da produção agropecuária, do desenvolvimento por meio do emprego da tecnolo-
prazo, foi realizada a construção de um barracão de
comercialização do pescado, o que possibilita que o administração rural, educação alimentar, educação sa- gia. Rogers (1962) entendia que 'a essência do processo
multiuso para processamento de mandioca e outros,
pescador artesanal, de forma organizada, se aproprie nitária, educação ecológica, associativismo e ação co- de difusão é a interação humana na qual uma pessoa
com o qual os indígenas conseguiram agregar valor munitária. Segundo pesquisadores, a Extensão Rural
de um percentual maior da renda gerada pela pesca. comunica uma nova ideia à outra', o que deu início ao
em seus produtos, gerar postos de trabalho e renda, tem a sua origem nos Estados Unidos, após a Guerra
A principal reivindicação dos pescadores dos muni- que se convencionou chamar de difusionismo ou difu-
ampliando o seu horizonte de gestão comercial. A da Secessão de 1861, quando a agricultura americana são de inovações e tecnologia. No Brasil, o difusionismo
cípios do litoral paulista é que haja um Programa de
médio e longo prazos possibilitou a implantação de passou da estrutura escravagista à estrutura mercantil se arraigou nos planejamentos e procedimentos agrí-
Extensão Pesqueira que coordene as ações realizadas
culturas alternativas como as plantas medicinais e a e capitalista. Foi oficializada pelo governo americano colas oficiais, com os pressupostos técnicos tal como
nas Casas da Agricultura e proporcione assistência em 1914, com a finalidade de diminuir os efeitos que o
seringueira. Essas iniciativas permitiram aos produto- foram originalmente concebidos”, explica Abelardo
técnica e extensão de forma contínua” . desenvolvimento acelerado das forças produtivas e as
res indígenas participantes, a autogestão do negócio Gonçalves Pinto, engenheiro agrônomo da Divisão de
e de seu tempo, ampliando o convívio em comunida- As Casas da Agricultura do litoral paulista (Ubatuba, mudanças das relações capitalistas geravam nas comu- Extensão Rural da CATI, cuja dissertação de mestrado
Caraguatatuba, São Sebastião, Santos, Itanhaém, nidades rurais. abordou as nuances e transformações da CATI do mo-
de, resgatando suas tradições culturais, que estavam
prejudicadas, porque muitos tinham se deslocado Peruíbe e Iguape) realizam diferentes atividades de
Newton Rodrigues
Esse modelo foi exportado para o Brasil (sem uma delo difusionista para o enfoque participativo.
para trabalhos na cidade", avalia João, que se diz gra- extensão, que são definidas de acordo com as deman- demanda local, de acordo com estudiosos) e outros No contexto desse modelo difusionista e importa-
tificado e ainda mais atuante como extensionista, de- das do pescador ou do projeto em desenvolvimento países da América Latina, após a Segunda Guerra do, entre a Extensão Rural e os produtores, segundo
pois que iniciou o trabalho de Ater com comunidades em parceria com outros atores, que têm relação com Mundial, e intensificado com a Revolução Verde, na diversos autores, era feita de forma unilateral (saber
as especificidades do território da pesca. década de 1970, que preconizava o aumento da pro- tecnicista do agente de extensão rural levado aos pro-
tradicionais.
dução agrícola com o uso intenso de insumos quími- dutores), com difusão de pacotes tecnológicos e crédi-
cos, de mecanização moderna e assistência técnica. to rural (supervisionado a partir da década de 1940 e
Em seu trabalho “Extensão Rural - histórico, conceitos
orientado para aplicações econômicas, a partir do final
e metodologias”, o professor Luis Carlos F. Oliveira, da
da década de 1960).
Faculdade de Agronomia de Lavras (MG), considera que
ao contrário de outros países (Estados Unidos mais for- Entre as definições, encontradas na literatura, que
temente), onde o serviço de extensão rural se formou a demonstram esse modelo de transmissão de informa-
partir de uma necessidade sentida, no Brasil surgiu, em ções, a da Associação Brasileira de Crédito e Assistência
parte, por influência externa. Rural (Abcar) resume “Extensão Rural como um proces-
48 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬49

so cooperativo, baseado em princípios educacionais, necia a ideia de persuadir os agricultores a adotarem emissoras regionais, que recebeu um troféu da Caminhos da Extensão Rural em São Paulo
que tem por finalidade levar diretamente aos adultos novas tecnologias que possibilitassem a modernização FAO, como o melhor programa agrícola do Brasil); O modelo de São Paulo originou-se nas atividades
e jovens do meio rural, ensinamentos sobre agricultu- da agricultura, com bases no modelo difusionista im- implementou o primeiro programa da TV brasi- realizadas com a organização da Secretaria da Agricultura,
ra, pecuária e economia doméstica, visando modificar plementado no final da década de 1950, pelo movi- leira voltado ao meio rural (também Atualidades Comércio e Obras, pelo Decreto n.° 28, de 1/3/1892 (Martins,
hábitos e atitudes da família, nos aspectos técnico, eco- mento Rogeriano”, explica Abelardo. Agrícolas; cuja primeira transmissão aconteceu 1991). Esse modelo tem características específicas porque
nômico e social, possibilitando-lhe maior produção e em 1973, pela retransmissora da Globo de Bauru não teve suas bases estabelecidas na filosofia extensionista
Esse enfoque, estritamente tecnológico, somente
melhor produtividade, elevando-lhe a renda e melho- e, posteriormente, pela TV Tupi); materiais gráficos exportada pelos Estados Unidos.
foi de fato questionado em 1984, no bojo das reformas
rando seu nível de vida”. diversos, carros com equipamentos audiovisuais;
democráticas e do clamor social, emergentes no final Em sua dissertação, Abelardo ressalta que a CATI nasce,
revista e jornal.
A primeira experiência de ação muito limitada que do regime militar. Busca-se, a partir daí, uma nova filo- em 1967, em uma conjuntura na qual a agricultura passa a
funcionou no Brasil, a partir de 1948, era denomina- sofia de extensão rural, que permita o exercício de uma No final da década de 1990, destacou-se o tra- ter uma dependência do Poder Público Federal, cujas políti-
da “Trabalhos Cooperativos em Santa Rita do Passa democracia participativa. Nesse contexto, novos profis- balho com Microbacias Hidrográficas, o qual con- cas públicas estão voltadas para a intensificação do proces-
Quatro", em São Paulo, mantida com recursos de agri- sionais são contratados pela CATI e inicia-se um amplo solidou um novo enfoque extensionista baseado so de modernização tecnológica. “Temos uma nova modali-
cultores, da indústria local, da Prefeitura, contribui- programa de formação extensionista. na participação e no protagonismo dos agriculto- dade de assistência: a integral, que compreende assistência
ção da Associação Internacional Americana e com Exemplos de projetos e res. “Esse Programa representou a possibilidade técnica educacional; fomento de bens de produção; presta-
a cooperação das secretarias de Educação e Saúde. ações da CATI de uma ação extensionista democrática e eman- ção de serviços; inspeção e classificação de produtos e in-
Segundo Vicente de Jesus Carvalho, engenheiro agrô- cipadora. Os técnicos que se envolveram, apro- sumos agrícolas; defesa sanitária animal e vegetal. O técni-
Ao longo de seus 48 anos, a CATI passou por refor-
nomo aposentado da CATI, que também foi professor priaram-se do conceito de agentes de mudanças e co passa a ser o agente de assistência técnica educacional,
mulações que ampliaram sua visão e atuação exten-
da Universidade de Taubaté, essa organização exer- educadores, internalizando o compromisso com a tendo o papel de capacitar os agricultores com vistas à so-
sionista junto aos agricultores paulistas. Segundo José
ceu influência na fundação da Associação de Crédito e qualidade de vida das famílias rurais e não somen- lução de problemas agrícolas, empresariais e comunitários.
Carlos Rossetti, coordenador da instituição, as ações
Assistência Rural (Acar), em Minas Gerais. “Pode-se con- te com a produção”, avalia o coordenador. A diferença desse modelo em relação ao anterior reside na
desenvolvidas foram determinantes para a expansão
siderar esse o primeiro serviço efetivo de extensão rural ênfase ao homem rural, mas o viés rogeriano está caracte-
agrícola paulista. “Muito do desenvolvimento agrícola
no Brasil. A Acar objetivava estabelecer um programa rizado ao buscar-se mudanças de atitude e criação de con-
do Estado foi difundido pela CATI, por meio de ações
de assistência técnica e financeira que possibilitasse dições para a adoção de novas técnicas que possibilitem a
educativas, campanhas e projetos, dentro de um pro-
a intensificação agropecuária e a melhoria das condi- modernização da agricultura”.
cesso de conscientização”.
ções econômicas e sociais da vida rural. Depois dela,
outras associações foram criadas, formando-se, assim, Nesses anos todos, trabalhos importantes foram Em 1998 é definida a Missão da CATI, que aponta para
a Associação Brasileira de Crédito e Assistência Rural realizados nas décadas de 1960, 1970 e 1980, tais como outra metodologia de trabalho: “Promover o desenvolvi-
(Abcar)”. campanha para expansão da soja; Pró-álcool; Pró- mento rural sustentável, por meio de programas e ações
feijão; combate à febre aftosa, à peste suína africana, ao participativas, com envolvimento da comunidade, de en-
No Estado de São Paulo, apesar da experiência em tidades parceiras e de todos os segmentos dos negócios
cancro cítrico; classificação de produtos agropecuários;
Santa Rita do Passa Quatro, as intervenções no meio ru- agrícolas”.
produção de sementes básicas; campanha de armaze-
ral sempre privilegiaram as ações de assistência técnica
namento comunitário; difusão da tecnologia do silo A partir daí, as ações da instituição ganham um ca-
e o fomento agrícola. Somente com a criação da CATI,
subterrâneo; Plano de Desenvolvimento da Pecuária ráter mais voltado para a extensão rural, com uma nova
em 1967, congregando diversos órgãos da Secretaria
Leiteira (PDPL); criação do Método CATI de Renovação filosofia de trabalho estabelecida na formação de par-
de Agricultura e Abastecimento, busca-se um novo en-
de Pastagens; Plano de Renovação Cafeeira (o qual pro- cerias, englobando novos conceitos: Desenvolvimento
foque de atuação: a Assistência Técnica Integral, com
moveu a renovação da cafeicultura em São Paulo, após Rural Sustentável, Agricultura Familiar, Agroecologia,
destaque ao caráter educacional, representando uma
a grande geada de 1975 que dizimou milhões de pés Desenvolvimento Local e Qualidade de Vida.
opção extensionista.
de café). O coordenador, enfatiza que, para ampliar o
A diferença em relação ao modelo anterior de atua- alcance das informações, a CATI utilizava intensamen-
ção estava, principalmente, na ênfase ao homem rural te meios de comunicação diversos: rádio (levava ao ar
e não apenas nos produtos agropecuários. “Mas perma- o programa Atualidades Agrícolas, por uma rede de

Cronologia da Assistência Técnica e da Extensão Rural em São Paulo 1914 – Criação do ensino itinerante com carros-escola dotados de mostruários de função de prestar orientação técnica especializada aos profissionais ligados à rede
1887 – Criação da primeira Estação Agronômica do País. Contratação do cientista máquinas e instrumentos agrícolas, publicações e sementes para distribuição. assistencial, com setores de informação no que se refere à comunicação rural e
e professor alemão Franz Wilhelm Dafert, para conduzir a implantação. Nascia o 1927 – Diretoria da Agricultura é transformada em Diretoria de Inspeção e Fo- ao planejamento dos programas de assistência técnica, que Oliveira, em obra de
Instituto Agronômico, de Campinas, cidade escolhida por ser o ponto mais central mento Agrícola (Difa). 1984, define como “um conjunto de esforços que tem por objetivo aumentar a
da atividade da Província de São Paulo. 1935 – Extinção da Diretoria de Inspeção e Fomento Agrícola. Criação do Depar-
produção e produtividade do setor agrícola de um país, prescindindo, de certa
1892 – Ações dirigidas ao fomento agrícola e para a defesa fitossanitária das tamento de Fomento da Produção Vegetal (DFPV).
culturas. 1942 – O Departamento de Fomento da Produção Vegetal é incorporado pelo forma, de considerar o elemento humano como objetivo do processo”.
1900 – Criação de Distritos Agronômicos com inspetores agrícolas que tinham Instituto Agronômico. Por meio dessa fusão, nasce o Departamento da Produção 1960 – Criação do Centro de Treinamento de Campinas (Cetrec).
a missão de levantar as necessidades das lavouras, realizar conferências, atender Vegetal (PDV). A função de fomento agrícola passa à Divisão de Fomento Agrícola 1967 – Nesse ano, a Secretaria passa por uma reformulação, que promove a cen-
consultas de lavradores, instalar campos de experiências e demonstração. (Pinto, (DFA). tralização de vários de seus departamentos e divisões em três coordenadorias e
2000) 1942 – São criadas as Casas da Lavoura, que constituíram a base de todo o traba- duas empresas de economia mista, sendo a Companhia de Entrepostos e Arma-
Época marcada em termos econômicos, políticos e sociais pela hegemonia dos lho de assistência técnica aos agricultores e difusão de tecnologias. (No período zéns Gerais do Estado de São Paulo (Ceagesp) e a Companhia Agrícola Imobiliária
grandes proprietários fundiários. Nessas condições, a orientação à lavoura dirigia- de 1927 até 1942 acontece a consolidação da organização da Assistência Técnica e de Colonização (Caic); e as coordenadorias: Coordenadoria de Pesquisa Agro-
se a um público restrito. (Bergamasco,1992) oficial à agricultura paulista, de caráter fomentista, articulada com a pesquisa).
pecuária (CPA), Coordenadoria da Pesquisa de Recursos Naturais (CPRN) e Coor-
1911 – Reestruturação da Secretaria de Estado dos Negócios da Agricultura, 1949 – Efetivação do Departamento de Engenharia e Mecânica da Agricultura
Comércio e Obras Públicas. Criação da Diretoria da Agricultura composta pelo (Dema), criado em 1947. Com o objetivo de atender às necessidades da agricultu- denadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), instituição responsável pela
Serviço de Inspeção e Defesa Agrícola (Sida) e pelo Serviço de Distribuição de ra em termos de mecânica, irrigação e drenagem e combate à erosão. assistência aos produtores paulistas. A partir desse período, as Casas da Lavoura
Sementes (SDS). 1958 – Criação da Divisão de Assistência Técnica Especializada (Date), com a passam a se chamar Casas da Agricultura.
50 ‫ ׀‬Casa da Agricultura

CATI realiza XII Semana de Agricultura Orgânica Governador Alckmin e secretário Arnaldo Jardim
Aconteceu
de Campinas intensificam ações do Projeto Nascentes de
Com o tema “Alimento que nutre e preserva Holambra
a vida”, a Coordenadoria de Assistência Técnica

Roberta Lage – Cecor/CATI


Integral (CATI), órgão da Secretaria de Agricultura
e Abastecimento do Estado de São Paulo, em par-
ceria com instituições governamentais, não gover-
namentais e a iniciativa privada realizou, de 6 a 9
de outubro, a XII Semana de Agricultura Orgânica
de Campinas. A programação proporcionou várias
discussões sobre o tema por meio de minicursos e
oficinas, ofereceu a tradicional feira com os mais va-
riados tipos de produtos orgânicos, artesanato, gas-
tronomia, visitas técnicas que mostraram na prática
como é realizada a produção, além de chamar o pú-
blico a refletir também sobre a importância do con-
sumo e das políticas públicas voltadas à agricultura
orgânica.
No dia 11 de novembro, o governador de São
Paulo, Geraldo Alckmin, e o secretário de Agricultura
Microbacias II – Acesso ao Mercado recebe e Abastecimento, Arnaldo Jardim, estiveram em
menção honrosa do Prêmio Mário Covas Holambra, no interior de São Paulo, para participar de
ações do Projeto Nascentes de Holambra.
Roberta Lage – Cecor/CATI

Executado pela Secretaria de Agricultura e


Abastecimento do Estado de São Paulo, o Projeto
Nascentes de Holambra integra o Programa
Nascentes, do governo paulista, que é uma das
maiores iniciativas já lançadas pelo poder público
para manter e recuperar as matas ciliares e nascen-
tes, dentre outras ações que contribuem para a pre-
servação do solo e da água.
Com apoio da Prefeitura de Holambra, da Agência
das Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari
e Jundiaí (PCJ), da Fundação Banco do Brasil e tam-
bém da Agência Nacional de Águas (ANA), da CATI e
da Companhia de Desenvolvimento Agrícola de São
Paulo (Codasp) serão recuperadas 170 nascentes e
O Projeto de Desenvolvimento Rural Sustentável matas ciliares; readequadas estradas rurais; realizadas
Microbacias II – Acesso ao Mercado recebeu, no dia 5 ações de conservação do solo em áreas degradas de
de novembro, no Palácio dos Bandeirantes, na capital 101 propriedades; feita a impermeabilização de re-
paulista, uma menção honrosa, na categoria Gestão servatórios para captação de água de chuva e sane-
Estadual, na área temática de políticas públicas, ofere- amento ambiental rural. Além disso, será recuperada
cida pela organização da 11.ª edição do Prêmio Mário a bacia do Córrego Borda da Mata, principal curso
Covas. d’água que abastece o Lago do Holandês, de onde
O Microbacias II foi selecionado entre mais de 200 Holambra retira a água que consome e, por isso, são
iniciativas para concorrer ao Prêmio, que reconhece fundamentais a sua conservação e o aumento de sua
ações inovadoras de serviços públicos. Coordenado capacidade hídrica.
pela Secretaria de Planejamento e Gestão, o Prêmio
Mário Covas tem o objetivo de reconhecer ações que
Estas e outras notícias podem ser lidas no site da
introduzam ou aprimorem uma prática que gere me-
CATI - www.cati.sp.gov.br
lhorias nos processos organizacionais, na prestação
de serviços públicos ou em uma política pública.

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