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18 Arquivos Catarinenses de Medicina V. 33. no.

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0004-2773/04/33
Arquivos Catarinenses de Medicina

ARTIGO ORIGINAL

Atendimento hospitalar inicial ao politraumatizado


Rubia Maria Albino1, Viviane Riggenbach2

Introdução vem oferecer respostas rápidas.


Em 1982 foi descrito, pela primeira vez, a “distribui- É importante, também, o atendimento às “Precauções
ção trimodal” da morte provocada por trauma. Num pri- Universais”, isto é, uso de máscara, luvas, óculos, aven-
meiro momento, a morte ocorre em segundos a minutos tal impermeável e botas para todos que têm contato com
após a injúria e geralmente é devida a lacerações do cé- o paciente traumatizado; entre as doenças transmissí-
rebro, corda espinhal alta, coração, aorta ou outros va- veis por sangue e secreções estão, em especial, a hepati-
sos calibrosos. Num segundo momento, ocorre em mi- te e a síndrome da imunodeficiência adquirida.
nutos a várias horas após o trauma, sendo geralmente O atendimento ao paciente politraumatizado pode ser
provocada por hematomas sub-dural e epidural, hemop- resumido em quatro fases1:
neumotórax, ruptura de baço, laceração de fígado, fra- - exame primário e ressuscitação, exame secundário,
turas pélvicas e/ou outras injúrias múltiplas associadas reavaliação e tratamento definitivo.
com perda sanguínea significante. Finalmente, a morte
pode ocorrer vários dias a semanas após o trauma inici- Exame Primário e Ressuscitação
al e é devida especialmente à sepsis e à falência de múl- No paciente gravemente lesado as prioridades sequen-
tiplos órgãos e sistemas.1 ciais devem ser estabelecidas após avaliação global, de-
O tratamento oferecido no atendimento hospitalar vendo-se avaliar as funções vitais de forma rápida e efici-
inicial, certamente interfere no desfecho final da segun- ente. As prioridades devem ser estabelecidas baseadas nos
da e terceira fases, de forma que o médico responsável tipos de lesões, estabilidade dos sinais vitais e o mecanis-
pelo atendimento hospitalar inicial do politraumatizado mo causador das lesões. Este processo se constitui no ABC
pode influenciar toda a sua evolução, estando em suas do trauma e identifica as condições que ameaçam a vida.
mãos e sob a sua responsabilidade grande parte do su- O ABC deve ser iniciado simultaneamente.
cesso do tratamento definitivo a ser oferecido. A - Airway (vias aéreas permeáveis com controle da
Os cuidados hospitalares iniciais incluem uma sala coluna cervical);
de reanimação cardio-rrespiratória adequadamente or- B - Breathing (respiração e ventilação);
ganizada, com equipe médica e para-médica com trei- C - Circulation (circulação com controle das hemorragias);
namento específico para politraumatizados. Os equipa- D - Disability (incapacidade neurológica);
mentos, incluindo os mais simples como ressuscitador E - Exposure/Enviromental Control (despir o paciente,
manual e tubos endotraqueais, devem ter sido previa- mas protegendo-o da hipotermia).
mente testados e organizados de forma que o acesso a
eles seja rápido e fácil; as soluções cristalóides devem A - Vias aéreas e Controle da Coluna Cervical
estar colocadas em locais que facilitem o pronto uso; o Devemos procurar por sinais de obstrução das vias
pessoal de laboratório, Raio-X e banco de sangue, de- respiratórias, causadas por corpo estranho, fraturas fa-
ciais, mandibular ou traqueal e laríngea. Ao mesmo tem-
1 - Médica Clínica Geral do Hospital Governador Celso Ramos(HGCR)
Mestranda em Ciências Médicas da UFSC
po que estabelecemos as medidas para manter as vias
2 - Médica Cirurgiã Geral do HGCR aéreas permeáveis, devemos proteger a coluna cervical,
Mestranda em Ciências Médicas da UFSC evitando-se movimentos excessivos do pescoço. A ca-

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beça nunca deve ser hiperestendida, hiperfletida ou ro- pressão manual ou digital; nunca usar torniquete,
dada, pois um exame neurológico normal não exclui le- que pode lesar os tecidos e causar isquemia distal.
são a esse nível. Baseados no relato do incidente trau- A hemorragia oculta se dá para dentro de cavida-
mático devemos suspeitar de lesão de coluna cervical e de torácica ou abdominal, para os músculos que
instalar um colete para a imobilização da cabeça e pes- circundam uma fratura ou como resultado de in-
coço. Se por alguma razão o colete tiver que ser removi- júrias penetrantes com envolvimento de artérias
do temporariamente, a cabeça e o pescoço do paciente ou veias calibrosas.
devem ser estabilizados por um membro da equipe. O Em todo paciente seriamente traumatizado deve-se
colete só pode ser removido depois que a lesão da colu- providenciar dois cateteres intravenosos calibrosos, pre-
na cervical tenha sido excluída. ferentemente nas extremidades superiores. A linha ve-
O controle definitivo das vias aéreas do paciente que nosa central pode ser usada de acordo com a habilidade
apresenta fatores obstrutivos mecânicos, problemas ven- do médico que presta o atendimento. No momento da
tilatórios ou está inconsciente, consegue-se através de punção venosa, deve-se colher material para a tipagem
entubação endotraqueal (via nasal ou oral). Se a entuba- sanguínea e estudos hematológicos, incluindo teste de
ção está contra-indicada, procede-se a cricotirostomia gravidez em toda paciente feminina em idade fértil.
de urgência. Inicia-se, então, reposição intravenosa vigorosa, em
bolo, com solução salina isotônica, que pode chegar a
B - Respiração dois ou três litros em alguns pacientes, até que se obte-
A ventilação envolve uma função adequada dos pul- nha uma resposta hemodinâmica satisfatória. Se o paci-
mões, parede torácica e diafragma. Cada um desses com- ente não respondeu à reposição com cristalóides, muito
ponentes deve ser examinado e avaliado rapidamente, atra- provavelmente necessita de reposição com sangue.
vés de ausculta, percussão, palpação e inspeção visual. No choque hipovolêmico está contra-indicada a ad-
As lesões que podem agudamente impedir a ventila- ministração de vasopressores, esteróides ou bicarbona-
ção são: pneumotórax hipertensivo, contusão pulmonar to de sódio.
maciça e pneumotórax aberto. O hemotórax, pneumo-
tórax simples, fratura de arcos costais e contusão pul- D - Incapacidade Neurológica
monar comprometem a ventilação em menor grau. Uma avaliação neurológica rápida é realizada ao fi-
nal do exame primário, estabelecendo o nível de consci-
C - Circulação e Controle da Hemorragia ência, tamanho e reação pupilar.
Volume Circulante e Débito Cardíaco - toda hipo- O nível de consciência pode ser descrito pelo méto-
tensão em paciente politraumatizado deve ser conside- do AVPU
rada como hipovolêmica em origem, até que se prove o A - Alert (alerta);
contrário. Os três parâmetros que em segundos nos for- V - Vocal (responde a estímulo vocal);
necem informações essenciais são: P - Pain (responde a estímulo doloroso);
• nível de consciência - que diminui quando cai a per- U - Unresponsive (não responde a nenhum estímulo).
fusão cerebral conseqüente à queda do volume cir-
culante, embora devamos lembrar que mesmo um A escala de coma de Glasgow é uma avaliação neu-
paciente consciente pode ter perdido quantidade sig- rológica mais detalhada, com valor prognóstico e de se-
nificativa de sangue; guimento nas reavaliações, podendo ser feita tanto no
• coloração da pele - especialmente avaliada na face e ex- exame primário, quanto no secundário.
tremidades; um paciente com face e extremidades de cor A diminuição do nível de consciência tanto pode ser
rósea, difícilmente está criticamente hipovolêmico; provocada pela diminuição da oxigenação e/ou perfu-
• pulso - um pulso cheio e regular geralmente é si- são cerebral, como pode ser conseqüência de lesão ce-
nal de paciente relativamente euvolêmico, ao pas- rebral traumática. Só depois de excluirmos hipóxia e
so que um pulso fino e rápido é sinal precoce de hipovolemia é que podemos atribuir a mudança no ní-
hipovolemia; um pulso irregular pode significar vel de consciência ao trauma cranioencefálico. Lembrar
disfunção cardíaca. que o álcool e outras drogas também podem ser os res-
• Sangramento - o sangramento externo rápido e vo- ponsáveis pela alteração do nível de consciência.
lumoso pode ser controlado primariamente por As pupilas medem de 3 a 4 mm e reagem à luz direta

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ou indiretamente. Devemos observar o aumento unila- encefálica que podem surgir algumas horas depois de
teral da pupila (anisocoria) e perda do reflexo à luz, que sua liberação do hospital. De maneira geral, quando há
significam compressão do nervo óculo-motor ou de fratura de crânio e/ou perda de consciência por mais de
mesencéfalo. 2 a 3 minutos mantemos o paciente hospitalizado e em
Com essa avaliação rápida e objetiva, podemos observação por 24 a 48 horas.
identificar quatro graus de gravidade num TCE , cada um Devemos ter sempre em mente que o TCE, por si só,
deles com planos diagnósticos e terapêuticos específicos2: não provoca choque, exceto nas fases tardias e termi-
nais de morte cerebral, quando a falência medular leva à
Grupo I - Disfunção do Tronco Cerebral paralisação da respiração e à hipotensão agônica. Em
Uma massa expansiva intracraneana (geralmente he- toda vítima de TCE que apresente hipotensão devemos
matoma epi ou sub-dural) pode desviar o cérebro e, à me- considerar a possibilidade de hipovolemia e procurar por
dida que isso ocorre, a face medial do lobo temporal (un- hemorragias ocultas.3
cus) se desloca medialmente e comprime a parte superior
do tronco cerebral na fosseta tentorial. Esta seqüência cons- E - Exposição do Paciente
titui o que chamamos de Herniação Transtentorial ou Un- O paciente deve ser completamente despido, geral-
cal e se caracteriza pela tríade: reflexo pupilar anormal à mente cortando-se as suas vestes, para facilitar o exa-
luz, depressão da consciência e sinais motores assimétri- me, tendo-se o cuidado de protege-lo da hipotermia.
cos. A alteração pupilar é o “sine-qua-non” da herniação, Perdas significantes de calor podem ocorrer com tem-
sendo um fiel localizador em 95% dos casos - a dilatação peraturas moderadas (15 a 20 graus centígrados) se as
pupilar ocorre ipsilateral à lesão expansiva. As disfunções vestes estão molhadas ou se está presente a vasodilata-
motoras (fraqueza do braço e perna) são contra-laterais à ção provocada por álcool ou outras drogas que compro-
lesão expansiva e não são sinais localizadores tão precisos metem a habilidade do paciente em preservar calor.
- somente 80 a 85% dos pacientes apresentarão fraqueza À medida que realizamos o Exame Primário e as
ou posturas anormais nos membros contralaterais à lesão e Manobras de Ressuscitação, devemos fazer algumas
uma hemiparesia falso-localizadora ipsilateral à lesão ex- ponderações sobre a monitorização do paciente e sua
pansiva nos casos restantes. transferência a outro hospital.
Estes pacientes devem ser submetidos à tomografia Monitorização Eletrocardiográfica - deve ser reali-
axial computadorizada de urgência, enquanto solicita- zada em todo paciente politraumatizado. Arritmias, in-
mos a presença do neurocirurgião. cluindo a taquicardia sinusal inexplicável, fibrilação atri-
al, extra-sístoles e mudanças no segmento ST podem
Grupo II - Déficits Focais ser sinais de contusão cardíaca. Dissociação eletrome-
Os pacientes com déficits neurológicos focais (mo- cânica pode indicar tamponamento cardíaco, pneumo-
tores, visuais ou de fala), sem sinais de compressão do tórax hipertensivo e/ou hipovolemia grave. Bradicardia,
tronco cerebral (principalmente a dilatação pupilar), tam- condução aberrante e extra-sístoles devem levar à sus-
bém devem ser avaliados com Tomografia Axial Com- peita de hipóxa e hipoperfusão.
putorizada (TAC). Cateter Urinário e Sonda Nasogástrica - o cateter
urinário serve para coletar urina para exame, observar a
Grupo III - Déficits Não Focais presença de hematúria macroscópica e monitorizar o
Os pacientes que não apresentam nenhum déficit débido urinário horário, importante na avaliação do es-
neurológico focal, mas que apresentam nível de consci- tado volêmico de certos pacientes. O cateter urinário está
ência diminuído, devem ser mantidos em observação contra-indicado se houver suspeita de transsecção ure-
neurológica cuidadosa para que se observe a evolução. tral. A sonda nasogástrica tem como finalidade reduzir a
Caso não apresentem melhora no decorrer de várias ho- distenção gástrica e evitar a aspiração, especialmente
ras ou se apresentem deterioração clínica, devem ser em pacientes com distúrbios de consciência.
submetidos à TAC. Parâmetros Fisiológicos - a ressuscitação adequada
é monitorizada pela melhora quantitativa dos parâme-
Grupo IV - Exame Neurológico Normal tros fisiológicos, isto é, frequência ventilatória, pulso,
Toda vítima de TCE com exame neurológico normal pressão arterial, pressão do pulso, gasometria arterial,
deve ser orientada quanto aos sinais e sintomas de lesão temperatura corporal e débito urinário.Transferência a

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outro Hospital - durante o exame primário e a ressusci- incluem a região do corpo acometida, os órgãos pró-
tação, o médico adquire as informações necessárias que ximos ao trajeto penetrado e a velocidade do objeto
podem indicar a necessidade de transferência do paci- causador da lesão.
ente a outro hospital. É fundamental que o médico co- Exame Físico
nheça a sua própria capacidade e limitação, bem como o a) Cabeça - examinamos todo o couro cabeludo e crâ-
de sua instituição, sabendo distinguir entre o paciente nio, em busca de laceração, contusão ou evidência
que pode ser tratado no seu hospital daquele que deve de fraturas; observamos os olhos, testamos a acuida-
ser transferido. No entanto, as lesões que causam risco de visual, tamanho pupilar, hemorragias conjuntivais,
de vida imediato e que podem ser estabilizadas, com ou presença de lentes de contato e lesões penetrantes.
sem cirurgia, obrigatoriamente devem ser tratadas antes b) Maxilo-Facial - se as lesões maxilo-faciais não es-
do transporte a um centro de referência. tão associadas à obstrução das vias aéreas ou san-
No momento em que se decide pela transferên- gramentos volumosos, devem ser tratadas só de-
cia, o pessoal administrativo deve ser acionado, enquanto pois que o paciente estiver completamente estabi-
o médico continua a prestar o atendimento. Contudo, é lizado; de uma forma geral, são tratadas num se-
importante que seja estabelecido o contato telefônico de gundo tempo do atendimento.
médico para médico, antes da transferência, pois somente c) Pescoço e Coluna Cervical - todo paciente com trau-
a comunicação direta entre estes dois pode delinear com ma maxilo-facial ou craniano deve ser considerado
detalhes e clareza o estado do paciente em questão. como portador de lesão cervical (fratura ou lesão de
ligamentos), até que se prove o contrário; a ausência
Exame secundário de deficit neurológico não exclui a lesão de coluna
O exame secundário só deve ser iniciado após o exa- cervical, sendo imperativa a imobilização do pesco-
me primário ter sido completado e a ressuscitação inici- ço com um colete cevical. Nos pacientes que esta-
ada. Consiste na avaliação completa do paciente, avali- vam em uso de capacete durante o acidente, deve-se
ando-se cuidadosamente cada região do corpo e inclu- ter todo o cuidado no momento da remoção deste.
indo um exame neurológico completo. Os procedimen- d) Tórax - deve-se palpar toda a caixa torácica, sentin-
tos especiais também são obtidos nesta fase, como lava- do-se cada costela e a clavícula; a palpação sobre o
do peritoneal (nos hospitais que não dispõem de apare- esterno pode ser dolorosa quando existe fratura a este
lho de ultra-som na sala de reanimação ou próximo a nível ou separação condro-costal. A contusão e os
esta) e exames radiológicos. hematomas da parede devem nos alertar para a pos-
História – o paciente ou um familiar podem pres- sibilidade de lesões ocultas e a avaliação das estrutu-
tar informações úteis sobre alergias, medicações em ras internas do tórax é feita com estetoscópio, de for-
uso, doenças pregressas, horário da última refeição e ma que, modificações no murmúrio vesicular podem
as condições em que ocorreu o acidente. A gravidade indicar pneumo ou hemotórax e a hipofonese de bu-
e o tipo de lesão são fortemente influenciados pelo lhas pode significar tamponamento cardíaco. O tam-
mecanismo produtor da injúria, e essa informação ponamento cardíaco e o pneumotórax hipertensivo
deve ser fornecida por aqueles que recolheram o pa- também podem ser sugeridos pela presença de tur-
ciente do local da ocorrência. gência jugular, embora a hipovolemia associada possa
As lesões são classificadas em duas categorias: fe- mascarar o aparecimento deste sinal.
chadas e penetrantes. e) Abdome - o trauma abdominal deve ser identificado e
a) Trauma Fechado - em nosso meio a grande causa é o tratado de forma agressiva, sendo que o diagnóstico
acidente automobilístico e algumas informações são específico não é importante, mas sim o fato de que
fundamentais, como: uso ou não de cinto de segu- se a lesão existe, a intervenção cirúrgica se faz ne-
rança, deformidades no volante, direção do impacto, cessária. É importante lembrar que um exame inicial
danos produzidos no carro com intrusão no compar- normal não exclui lesão grave intra-abdominal, por
timento dos passageiros e projeção do passageiro para isso o reexame freqüente, de preferência pelo mes-
fora do veículo - esta última com implicações de gra- mo médico, é fundamental na avaliação do trauma
vidade bem maiores. abdominal fechado.
b) Trauma Penetrante - os fatores que determinam o tipo, f) Períneo-Reto-Vagina - o períneo deve ser examinado
a extenção da lesão e o seu manuseio subseqüente, em busca de contusão, hematomas, laceração e san-

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gramento uretral. O exame retal pode evidenciar san- Reavaliação


gue dentro do lúmem intestinal ou lesões na parede O paciente Politraumatizado deve ser reavaliado
do reto; o exame vaginal pode revelar sangue dentro constantemente em busca de novos achados ou deterio-
da cavidade vaginal ou laceração em suas paredes. ração dos sinais e sintomas já detectados. A monitoriza-
g) Lesão Músculo-Esquelética e Vascular - as extremi- ção contínua dos sinais vitais e do débito urinário (em
dades devem ser examinadas em busca de deformi- torno de 50 ml/hora) são essenciais.
dades e contusões; palpa-se cada osso, observando o A analgesia efetiva deve ser oferecida a todo pacien-
surgimento de dor, crepitação e movimentos anor- te, evitando-se drogas que possam mascarar os sinto-
mais, em busca de fraturas ocultas. Pressiona-se as mas neurológicos.
espinhas ilíacas anteriores e a sínfise pubiana, no sen-
tido antero-posterior, em busca de fraturas pélvicas. Tratamento definitivo
As fraturas de coluna torácica e lombar devem ser Após esta fase, onde identificamos todas as lesões e
suspeitadas de acordo com a informação sobre o tratamos as condições que impunham risco imediato de
mecanismo causador da lesão e nos achados de exa- vida ao paciente, inicia-se a fase do tratamento definiti-
me físico e radiológicos. vo, que foge ao objetivo desta revisão.
Os pulsos periféricos devem ser palpados para iden-
tificar lesões vasculares. Referências Bibliográficas:
h) Neurológico - o exame neurológico, nesta fase do 1. American College of Surgeons, Committee on Trau-
atendimento, inclui a avaliação motora e sensória das ma: Advanced Trauma Life Suport, 5th edition, 1993.
extremidades, bem como a reavaliação do nível de 2. Pitts LH, Martin N. The Surgical Clinics of North
consciência e tamanho pupilar. A Escala de Coma de America 1982; 62(1).
Glasgow facilita a detecção precoce das alterações 3. Albino RM. Urgências & Emergências. Florianópo-
neurológicas. Qualquer evidência de paralisia ou lis: Papa Livros, 2003, p. 126-41.
paresia sugere lesão importante em coluna espinhal
ou lesão nervosa periférica. Estes pacientes devem
ser mantidos imobilizados - todo imobilizado - até
que se exclua lesão espinhal.

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