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NACIONAL
Introdução
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* Doutorando em Ciência da Religião (PUC-SP), Doutor em História Social (PUC-SP), Mestre em
Direito do Trabalho (PUC-SP), Advogado (USP), Jornalista (PUC-SP) e Historiador (UNICAMP).
Especialista em Direto Desportivo e Consultor Jurídico do Sindicato de Atletas de São Paulo.
ou qualidade que caracteriza o poder político supremo do Estado dentro de seu território
e nas relações com outros Estados, e também pode definir o conjunto dos Poderes que
constituem um Estado. Em todas as Constituições nacionais a soberania aparece de
forma explícita, como no Texto de 1988, ou não expresso, mas sob a forma de uma
proposição, como na Constituição de 1946 2. Na Constituição de 1988 o termo está
inscrito em vários dispositivos: como um dos fundamentos da República (artigo 1º) 3,
direitos e liberdades individuais e coletivas (artigo 5º, inciso LXXI e LXXI), poder
popular e o voto (artigo 14), partidos políticos (artigo 17), integridade do território
(artigos 91 e 231) e liberdade econômica (artigo 170). A polissemia do conceito reflete
sua evolução histórica, uma vez que ao longo dos séculos a soberania foi entendida de
formas bem distintas.
Outro viés do conceito foi aplicado no estabelecimento das relações entre os países
no início do processo de criação do Direito Internacional, notadamente após a Paz de
Westfália6. Os tratados do século XVII juntamente com os acordos do Congresso de
Viena (1815), ao final das Guerras Napoleônicas, e o Tratado de Versalhes (1919), no
encerramento da Primeira Guerra Mundial, gradativamente estabeleceram um sistema
de equilíbrio de poder entre os Estados, no qual a soberania de cada um sobre suas leis,
seu Direito, sua economia, sua população e seu território, deveria ser respeitada por
todos. Sem dúvida esse processo foi longo e cheio de nuances, que podem ser mais bem
detalhado em outro espaço. Contudo, para o objetivo imediato deve ser registrado que o
expansionismo colonialista do século XIX, as guerras mundiais e regionais ao longo de
todo o século XX impuseram a necessidade de limites e freios à atuação dos Estados.
Hoje, um conceito absoluto e definitivo de soberania tornaria inviável o próprio Direito
Internacional, assim como a ordem social e econômica mundial. As limitações ao
princípio de soberania são um fenômeno relativamente recente.
6
Conjunto de tratados de paz assinados entre os governos dos Estados da Europa Central em 1648,
colocando fim à chamada Guerra dos Trinta Anos, o mais sangrento conflito até então, que teria matado
mais de oito milhões de pessoas.
7
O simpósio, Political Relevance of the 1648 Peace of Westphalia, realizado em Münster, na Alemanha,
fez parte das comemorações dos 350 do fim da Guerra dos Trinta Anos.
É minha opinião geral que a humanidade e a democracia - dois
princípios essencialmente irrelevantes para a ordem original da
Westfália - podem servir de guia na elaboração de uma nova
ordem internacional, melhor adaptada às realidades e desafios
de segurança da Europa atual. [...] vejo hoje a necessidade de
reexaminar fundamentalmente os conceitos em torno dos quais
nossa segurança foi organizada. [...] o conflito no Kosovo
demonstra que estamos numa encruzilhada: onde termina a
soberania de um Estado e onde começa a obrigação
internacional de defender os direitos humanos e evitar um
desastre humanitário? [...] A maioria dos conflitos que vemos
hoje ocorre entre ou dentro de Estados que desconsideram as
necessidades humanas fundamentais. Não é por acaso que, nos
últimos anos, houve um aumento na demanda por ações
humanitárias. No entanto, apesar da necessidade óbvia, nos
encontramos restringidos pelo princípio da não interferência8.
Solana contrapôs o direito dos Estados à soberania absoluta ao direto das pessoas
que estivessem submetidas ao poder de um país específico; defendeu a limitação da
soberania dos Estados em favor dos interesses da comunidade internacional. Referiu-se
ao Kosovo, na Península Balcânica, que havia declarado sua independência da antiga
Iugoslávia em 1991. O então presidente iugoslavo Slobodan Milošević não aceitou a
independência, permitindo que milícias paramilitares comandassem massacres contra a
população civil kosova. Em março 1999 a OTAN invadiu a região, atacando alvos
iugoslavos. O conflito terminou três meses depois. Em 2000, Milošević foi preso,
acusado de crimes contra a humanidade, de violar as leis e costumes de guerra,
violações graves às Convenções de Genebra9, genocídio e ter causando grande
sofrimento a populações intencionais. Julgado perante Tribunal Penal Internacional
(TPI), em Haia, Holanda, veio a falecer na prisão, em 2006, pouco antes da
proclamação do veredicto.
A geopolítica e a Amazônia
A questão das fronteiras nacionais tem uma longa história, percorrendo a vida do
Brasil desde o descobrimento. Importantes marcos foram o Tratado de Madrid, assinado
em 1750 entre Portugal e Espanha, e o Tratado de Santo Idelfonso, de 1777, que
fixaram as fronteiras ao Sul e ao Norte. Mesmo assim, GOES Filho (2015, p. 28-29)
relata que o processo de delimitação da fronteiras amazônicas ainda requereu do
nascente Império Brasileiro mais de três décadas de negociações com os países
compreendidos na região Amazônica, que também haviam conquistado sua
independência também há poucos anos. Alguns limites definitivos foram firmados por
10
Os Julgamentos de Nuremberg foram tribunais militares instituídos pelos governos aliados após a
Segunda Guerra Mundial para julgar os crimes nazistas.
11
Tribunal ad hoc criado palo Conselho de Segurança das Nações Unidas para julgamento dos
responsáveis pelo genocídio de parte da população de Ruanda em 1994.
12
Votaram contra: China, Estados Unidos, Filipinas, Índia, Israel, Sri Lanka e Turquia.
tratados com o Peru (1851), com a Venezuela (1859) e com a Bolívia (1867) à exceção
do Acre13. Algumas pendências foram resolvidas já período republicano, já com a
atuação do Barão do Rio Branco14: a questão do Amapá após longo litígio com a França
(1900)15, a compra do Acre da Bolívia (1903), a fronteira com o Equador (1904) e com a
Colômbia (1907).
13
GOES FILHO, Synesio Sampaio. Navegantes, bandeirantes, diplomatas: um ensaio sobre a formação
das fronteiras do Brasil.
14
Rio Branco, José Maria da Silva Paranhos Júnior, foi diplomata e historiador; como Ministro das
Relações Exteriores, foi o principal responsável pela política externa do Brasil republicano.
15
O contencioso com a França pela região foi resolvido com a intervenção arbitral da Suiça após longas
negociações mal sucedidas.
16
PARANHOS JÚNIOR, José Maria da Silva. Obras do Barão do Rio Branco IX: discursos.
17
TRAVASSOS, Mário. Projeção Continental do Brasil, p. 52. Destaques no original.
A instabilidade geográfica no Noroeste do continente seria agravada pelas grandes
reservas minerais e petrolíferas da Bolívia, Colômbia e Venezuela, que atraiam o olhar
expansionista yankee para a região18. A floresta tropical, o inferno verde, pouco habitada,
sem recursos, sem transportes ou comunicações, representava uma dificuldade para a
irradiação da política brasileira, que deixava ainda mais frágil o controle soberano sobre
a região19. TRAVASSOS encerra o livro com se perguntando como os novos meios de
transporte – notadamente a aviação – a imigração japonesa no Para, o controle norte-
americano do Canal Panamá, poderiam interferir no mando brasileiro sobre a região.
Conclui: é certo que a série dessas interrogações se desdobra em um numero infinito de
outras. Todas elas superpostas emprestam ao contorno do continente sul-americano,
pela repetição vertiginosa das imagens que provocam, a forma inquietadora do próprio
signo interrogativo20. Suas reflexões inspiraram o pensamento geopolítico militar
brasileiro nas décadas seguintes, assim como o temor de uma ocupação estrangeira na
Amazônia21. Como observa MARTINS (2011, p. 76), a partir da década de 1930 o país
passou a se utilizar da infra-estrutura viária e energética para atender objetivos
geopolíticos. Travassos teria sido o inspirador de ações política estratégicas desde o
Governo Vargas, com o plano geral de viação, prosseguindo com o Plano SALTE no
governo de Gaspar Dutra22. Contudo, durante o Regime Militar, iniciado 1964, suas
ideias ganharam ainda mais penetração no imaginário da Forças Armadas, influenciando
os projetos de ocupação da Amazônia e a abertura de estradas na região.
27
Também chamado: Desenvolvimento e Segurança da região ao norte das calhas dos rios Solimões e
Amazonas.
28
Dados do Ministério da Defesa em sua página eletrônica: https://www.defesa.gov.br.
29
OLIVEIRA FILHO, 1991, p. 336.
30
Idem, p. 340.
31
Idem, p. 341-342.
de minérios em suas reservas32. Para CERQUEIRA LEITE (2002, p. 124), o projeto
utilizava uma tecnologia reconhecidamente obsoleta, que geraria resultados
incompatíveis com os valores gastos em sua execução e manutenção.
32
FUNAI. Projeto Integrado de Proteção às Populações e Terras Indígenas da Amazônia Legal. 2004.
33
UOL, Amazônia une os inimigos olavistas e militares em ofensiva contra Macron, 27 ago 2019.
34
METRÓPOLES, Santos Cruz inaugura conta no Twitter com frase polêmica sobre Macron, 23 ago
2019.
internacional, não de todo equivocada, que o Brasil não cuida de suas florestas e do
meio ambiente.
35
FISCH, Gilberto; MARENGO, José A., e NOBRE, Carlos A. “Uma revisão geral sobre o clima da
Amazônia”. In Acta Amazônica, 1998.
36
Op. cit., p. 115.
(PNUMA) da ONU, criado em dezembro daquele mesmo ano (BERCHIN e
CARVALHO, s/d). Durante a conferência foi elaborada a Declaração sobre o Meio
Ambiente Humano, que, em seus 26 princípios, estabeleceu prioridades e
responsabilidade dos Estados frente às necessidades ambientais, com destaque para a
poluição e as armas nucleares. A segunda grande iniciativa mundial foi a Conferência
das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, também conhecida
como Eco-92, realizada no rio de Janeiro, que foi um marco da internacionalização
definitiva da proteção ambiental e das questões ligadas ao desenvolvimento (SILVA,
2011). Nela foram criados organismos importantes como Agenda 21, um documento
que estabeleceu a importância de cada país a se comprometer na busca por soluções
para os problemas socioambientais, e o Fundo Global para o Meio Ambiente, do Banco
Mundial.
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Sínodo
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Causa incômodo específico aos militares a conexão direta que certos povos
indígenas têm com lideranças internacionais.
De lá para cá, pouca coisa mudou no que pensam os oficiais sobre a política
global de defesa do meio ambiente. As ofensas públicas do presidente
Bolsonaro a Emmanuel Macron e a resposta dos militares à declaração do
presidente francês de que a Amazônia é “nossa casa” e seus problemas “dizem
respeito” a todos expõem duas ideias há muito propagadas dentro das Forças
Armadas: 1) a Amazônia é um território que atrai a cobiça mundial; 2) as
exigências ambientais hoje impostas pelos países desenvolvidos são
subterfúgios para minar a competitividade dos produtos brasileiros. Outra ideia
recorrente é que a concessão de terras às diferentes etnias indígenas que
habitam o bioma pode resultar em uma quebra de soberania, caso esses povos
resolvam se tornar nações independentes.
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Considerações finais
Nonno nnon non noonon no non o non n nonno nnon non noonon no non o non n
Referências Bibliográficas
PARANHOS JÚNIOR, José Maria da Silva. Obras do Barão do Rio Branco IX:
discursos. Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2012.
ALBUQUERQUE, Edu Silvestre de Albuquerque. “80 anos da obra Projeção
Continental do Brasil, de Mário Travassos”. In: Revista do Departamento de
Geografia, v. 29, p. 59-78. São Paulo: USP, 2015.
MARTINS, Marcos Antonio Favaro. Mario Travassos e Carlos Badia Malagrida: dois
modelos geopolíticos sobre a América do Sul. 2011. Dissertação (Mestrado).
Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina, USP, São Paulo,
2011.
COSTA, Ana Clara. “As raízes da teoria da conspiração militar em torno da Amazônia:
As origens do fascínio e do temor da classe pela soberania na floresta”. In> Época,
30 ago 2019. Disponível em: < <https://epoca.globo.com/brasil/as-raizes-da-teoria-
da-conspiracao-militar-em-torno-da-amazonia-23915550>. Acesso em: 020/10/2019.
FISCH, Gilberto; MARENGO, José A., e NOBRE, Carlos A. “Uma revisão geral sobre
o clima da Amazônia”. In Acta Amazônica, v. 28(2), p. 101-126, 1998. Petrópolis:
INPA, 1998.