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PORTUGAL: O ESTADO NOVO

O TRIUNFO DAS FORÇAS CONSERVADORAS


Durante os primeiros anos do regime de ditadura instituído com o golpe militar de 28 de maio de 1926, a crise política acentuou-se e o défice financeiro não
parou de se agravar. Perante as dificuldades, em 1928, os militares fazem um segundo convite a um distinto professor, António Oliveira Salazar, para
superintender à pasta das Finanças.
Pela primeira vez, num período de 15 anos, Salazar conseguiu tornar o saldo do orçamento positivo, progredindo a chefe de governo. Salazar, com o propósito
de instaurar uma nova ordem politica, empenhou-se na criação das necessárias estruturas institucionais. Ainda em 1930 se lançaram as bases orgânicas da
União Nacional e se promulgou o Ato Colonial. Em 1933 foi a vez da publicação do Estatuto do Trabalho Nacional e da Constituição de 1933, submetida a
plebiscito nacional. Ficou, então, consagrado um sistema governativo conhecido por Estado Novo, do qual sobressaíram o forte autoritarismo do Estado e o
condicionamento das liberdades individuais ao interesse da Nação.
Com Salazar no Governo, inicia-se a edificação do Estado Novo, isto é, a imagem do Estado totalitário português inspirado na ideologia fascista, com
particularidades introduzidas por Salazar que deixou o seu nome na identificação do fascismo português – o Salazarismo.
No seu imaginário político, à semelhança de Mussolini, Salazar concebeu um regime:
 Autoritário
- Limitado pelos princípios da moral e do direito, Salazar rejeitou os princípios liberais que constituíam os fundamentos do regime democrático e, por
conseguinte, repudiou o sistema parlamentar pluripartidário.
- O poder executivo era detido pelo Presidente da Republica, mas a verdadeira autoridade era exercida pelo Governo, nomeadamente pelo
Presidente do Conselho de Ministros. Com amplos poderes de legislar, apenas tinha o dever de submeter as propostas de lei a uma Assembleia
Nacional que, todavia era constituída por deputados identificados com o Governo, provenientes de um único partido – a União Nacional. De uma
forma geral, o poder executivo era detido pelo Presidente do Governo que se sobrepunha ao Presidente da Republica.
 Personalizado no chefe – o culto da personalidade/chefe
- Tal como na Itália, a consolidação do Estado Novo passou pelo culto do chefe, onde o chefe era o intérprete do supremo interesse nacional.
- Salazar era apresentado pela propaganda do regime como o “Salvador da Pátria”, a sua imagem estava presente em todos os lugares públicos, era
venerado pelas multidões e só não era aclamado porque era avesso às multidões.
 Conservador – a consagração da tradição e da ruralidade
- Salazar também foi uma personalidade extremamente conservadora. Adverso à ideologia marxista e ao seu caráter urbano e industrial, Salazar
consagrou a tradição e a ruralidade.
- Convictamente católico, ao caráter negativista dos novos tempos marcados pelo progresso da democracia liberal, do parlamentarismo e da agitação
marxista do mundo urbano e industrializado, Salazar procurou incutir na Nação portuguesa os valores do passado glorioso da nossa História,
nomeadamente do passado monárquico autoritário, caracterizado pela ordem e pela disciplina.
- Consagrou a ruralidade como imagem de todas as virtudes, contrapondo-a ao mundo urbano industrial, onde imperava a desordem e a indisciplina
(gerada pela luta de classes da sociedade industrial).
- Repousou em valores e conceitos morais que jamais alguém podia questionar: Deus, Família e Trabalho.
- Protegeu a religião católica definida como religião da Nação portuguesa.
- Respeitou as tradições nacionais e promoveu a defesa de tudo o que fosse genuinamente português.
- Considerou como imagem da sociedade portuguesa uma família rural, tradicional e conservadora, onde a mulher ocupava o papel de mãe, dona
de casa e submissa ao marido, enquanto este se ocupava do ganha-pão.
 Nacionalista – a exaltação dos valores nacionais
- Uma das grandes preocupações do regime era a União de todos os portugueses no engrandecimento da pátria. Como todas as divisões fragilizavam
a Nação, os partidos políticos foram proibidos e todos os portugueses se deviam congregar na União Nacional.
- Para melhor conseguir esta união nacional de todos os portugueses, o Estado empreendeu uma intensa campanha de exaltação dos valores
nacionais, através da consagração dos heróis e do passado glorioso de Portugal e de valorização das produções culturais nacionais.
 Corporativo
- O Estado Novo pretendeu que toda a vida económica e social do país se organizasse em corporações (à semelhança do fascismo italiano).
- As bases do corporativismo foram lançadas por um conjunto de decretos governamentais, onde se destaca o Estatuto do Trabalho Nacional que
estabelecia a organização dos trabalhadores portugueses em sindicatos nacionais e a organização dos patrões em grémios, de acordo com os
respetivos ramos de atividade profissional. Grémios e sindicatos entender-se-iam na negociação das matérias laborais.
- No setor económico, além dos Sindicatos e dos Grémios, havia ainda as Casas do Povo, onde se faziam representar os patrões e trabalhadores
rurais; as Casas dos Pescadores, associações de gentes do mar e seus empresários.
- Incluíam também instituições de assistência e caridade, denominadas como corporações morais, e ainda associações com objetivos científicos,
literários e artísticos reconhecidas como corporações intelectuais.
 Repressivo – a liberdade amordaçada
- O exercício da autoridade implicou que o regime se rodeasse de um poderoso aparelho repressivo através do qual se subordinavam aos interesses
do Estado os direitos e liberdades dos cidadãos, constitucionalmente reconhecidos.
- Através da instituição da Censura Prévia, era exercida uma rigorosa vigilância sobre todas as produções intelectuais que passava pela eliminação de
tudo o que fosse considerado contra a ideologia do regime. Tratava-se de uma verdadeira ditadura intelectual.
- A polícia política, a PVDE (Policia de Vigilância e Defesa do Estado, mais tarde a tenebrosa PIDE), perseguia, prendia, torturava e matava quem
manifestasse o mínimo sinal de oposição ao poder instituído, cometendo o total desrespeito pelos direitos do Homem e mesmo da
constitucionalidade.
 Assente em estruturas de enquadramento das massas – a inculcação de valores
- Criado em 1933, o Secretário da Propaganda Nacional, habitualmente dirigido por António Ferro, desempenhou um papel muito ativo na
divulgação do ideário do regime e na padronização da cultura e das artes.
- Foi criada uma milícia armada para defesa do regime e combate ao comunismo – a Legião Portuguesa, organismo onde determinados funcionários
públicos deviam estar arregimentados. Destinava-se a defender “o património espiritual da Nação”.
- Também foi criada a Mocidade Portuguesa, de inscrição obrigatória para os estudantes dos ensinos primário e secundário, destinava-se a
ideologizar a juventude, incutindo-lhe os valores nacionalistas e patrióticos do Estado Novo.
- Em 1935 fundou-se a FNAT (Federação Nacional para a Alegria no Trabalho) que tinha como intenção, controlar os tempos livres dos
trabalhadores, providenciando atividades recreativas e “educativas” norteadas pela moral oficial.
- Em 1936 surgiu a Obra das Mães para a Educação Nacional, destinada à formação das “futuras mulheres e mães”

UMA ECONOMIA SUBMETIDA AOS IMPERATIVOS POLÍTICOS


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O caráter totalitário do Estado também se fez sentir na atividade económica e financeira. Sujeitar toda a produção e gestão da riqueza nacional aos interesses do
Estado era um objeto constitucionalmente definido. Para o efeito, Salazar abandonou por completo o liberalismo económico e adotou um modelo fortemente
dirigista. Protecionismo e intervencionismo, tendo em vista a autossuficiência do país e consequentemente afirmação do nacionalismo económico, foram as
principais características da economia do Estado Novo.

A PRIORIDADE À ESTABILIDADE FINANCEIRA


Em resumo, Salazar foi convidado para a tutela das finanças públicas com o objetivo de resolver as endémicas dificuldades financeiras e a sua afirmação política
se ficou a dever ao sucesso das suas politicas na consecução do muito ambicionado equilíbrio orçamental.
Salazar impunha aos diversos ministérios uma rigorosa política de limitação de despesas, ao mesmo tempo que lançava sobre a população um conjunto de
impostos tendo em vista o aumento da receita.
O “milagre” financeiro também se ficou a dever em muito à rejeição de Portugal entrar na Segunda Guerra Mundial por escolha de Salazar, que conseguiu
assim evitar as inúmeras consequências negativas da participação na Guerra, assim como aproveitar as necessidades económicas dos países envolvidos para
dinamizar alguns setores ligados à exportação.

A IMPORTÂNCIA DA AGRICULTURA
Fortemente ruralista, Salazar via nas atividades agrícolas, um dos meios mais poderosos para atingir a pretendida autossuficiência económica. Empreendeu
um conjunto de medidas de fomento das atividades agrícolas:
 construção de numerosas infraestruturas tendo em vista facilitar a recuperação e aproveitamento de campos agrícolas;
 adoção de políticas de fixação de populações no interior rural;
 amplas campanhas de florestação;
 dinamização da produção dos bens mais tradicionais na alimentação portuguesa como a batata, o arroz, o vinho, o azeite e as frutas.
De todas as medidas agrícolas, a que mais impacto teve pelos objetivos e resultados foi a dinamização da produção de trigo, visando tornar o país
autossuficiente neste setor ainda fundamental da alimentação da população.

O CONDICIONAMENTO INDUSTRIAL
No âmbito da indústria, os primeiros anos do regime foram marcados pela persistência dos constrangimentos tradicionais do desenvolvimento do país:
 deficiente rede de comunicações;
 processos tecnológicos arcaicos;
 baixos níveis de produtividade;
 dependência das importações;
 falta de iniciativa por parte dos investigadores portugueses;
 manutenção de baixos salários.
A partir da década de 50 assistiu-se a algum desenvolvimento dos setores tradicionais e ao arranque de setores tecnologicamente mais avançados como a
indústria cimenteira, refinação de petróleos, construção naval, adubos químicos e energia elétrica.
Não podemos, todavia, falar de um forte arranque da indústria portuguesa. Os constrangimentos eram agora também de índole política. Efetivamente, o
incipiente desenvolvimento industrial do país explica-se pelo caráter ruralista do regime e pela excessiva presença do Estado no controlo da indústria nacional
e na regulação da atividade produtiva em prejuízo da liberdade dos agentes económicos.

AS GRANDES OBRAS PÚBLICAS


A implementação de amplos programas de obras públicas foi também em Portugal, tal como na Itália e na Alemanha, a manifestação mais visível do
desenvolvimento do país. Pretendia-se também dar uma imagem nacional e internacional de modernização de Portugal, e ao mesmo tempo, resolver o
problema do desemprego.
Em consequência, melhorou-se a rede de estradas, os portos marítimos, a rede telefónica nacional; edificaram-se grandes complexos desportivos, complexos
hidroelétricos, edifícios de serviço público; deu-se particular atenção aos monumentos históricos.

A POLÍTICA COLONIAL
As colónias desempenharam uma dupla função no Estado Novo. Foram um elemento fundamental na política de nacionalismo económico e um meio de
fomento do orgulho nacionalista.
No primeiro caso, porque realizavam a tradicional vocação colonial de mercado para o escoamento de produtos agrícolas e industriais metropolitanos e de
abastecimento de matérias-primas a baixo custo.
No segundo caso, porque constituíam um dos principais temas da propaganda nacionalista, ao integrar os espaços ultramarinos na missão histórica civilizadora
de Portugal e no espaço geopolítico nacional.
A vocação colonial do Estado Novo motivou, logo em 1930, a publicação do Ato Colonial, onde eram clarificadas as relações de dependência das colónias e se
limitava a intervenção que nelas podiam ter as potências estrangeiras.
Para a consecução do segundo objetivo, o regime levou a cabo diversas campanhas tendentes a propagandear, interna e externamente, a mística imperial
(como se o império fosse a razão da existência histórica de Portugal).

O PROJETO CULTURAL DO REGIME


O projeto cultural do Estado Novo também foi submetido aos imperativos políticos, à semelhança do que acontecia nos regimes totalitários do resto da Europa.
Quer dizer que, também em Portugal, a liberdade criativa que caracterizou os primeiros anos do século XX, deu lugar a uma criação artística e literária
fortemente condicionada pelos interesses políticos.
Ora, os interesses políticos eram, por um lado, evitar os excessos intelectuais que pusessem em causa a coesão nacional e, por outro, dinamizar uma produção
cultural que propagandeasse a grandeza nacional.
Para controlar a liberdade criativa foi instituída a censura prévia que submetia os autores portugueses a uma autêntica ditadura intelectual.
Para enquadrar ideologicamente a cultura foi instituído o Secretariado da Propaganda Nacional (SPN) tutelado por António Ferro. António Ferro apresentava-
se como:
- um homem de cultura, mas de simpatias controversas: fascista convicto conservador nas suas ideias;
- patrocinador do movimento modernista português, portanto, vanguardista nas práticas culturais.
Ao Secretariado da Propaganda Nacional coube conciliar a estética moderna com os interesses do Estado de forma a inculcar na mentalidade portuguesa o
amor à Pátria, o culto do passado glorioso e dos seus heróis, a consagração da ruralidade e da tradição, as virtudes da família, a alegria no trabalho, o culto do
chefe providencial, ou seja, o ideário do Estado Novo.

7.3. A degradação do ambiente internacional

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3.1 A Irradiação do Fascismo no mundo
3.1.1. Europa
A partir dos anos vinte o fascismo consolidou-se gradualmente na Europa e no mundo. A Grande Depressão fez aumentar o número de países que adoptaram
políticas autoritárias em toda a Europa. Além da Itália, Portugal, Alemanha, aderiram também ao fascismo, os estados bálticos, Polónia, Hungria, Bulgaria,
Checoslováquia, Roménia, Jugoslávia, Albânia, Grécia e Turquia. Partidos fascistas surgiram também na Inglaterra, França, Holanda, Bélgica, Noruega e mesmo
Suiça.
3.1.2 Outros Continentes
Também em outros continentes surgiram regimes autoritários. Na América do Sul e Central os efeitos da crise americana obrigaram a adoptar politicas
impopulares e ditatoriais em vários países: México, Brasil, Argentina, Chile. No Brasil Getúlio Vargas chegou ao poder com um golpe militar instituindo um
Estado Novo.
Na Ásia, o Japão apoiado no poder absoluto do imperador Hirohito instituiu um estado imperial em 1936, cortando relações com os seus aliados da 1ª GG e
instituiu uma política expansionista com os contornos de autarcia nazi. Em 1936 celebrou-se o pacto do Eixo Roma, Berlim, entre a Alemanha e o Japão o Pacto
anti-Komintern ou eixo Berlim, Tóquio com a posterior adesão da Espanha e Itália.

3.2 Reacções ao Totalitarismo Fascista


3.2.1 Das hesitações face ao Imperialismo e à guerra civil de Espanha à aliança contra o Eixo nazi-fascista.
A política da SDN não impediu a expansão dos autoritarismos.
Em 1931 o Japão invadiu a Manchúria e abandonou a SDN em 1933 procurando libertar-se dos compromissos internacionais. Em 1936 invadiu a China e a partir
de 1941 iniciou uma campanha de conquistas em todo o Pacífico até à Austrália entrando em confronto com os EUA.
A Itália conquistou a Etiópia e a Abissínia em 1935 e 36 apesar de algumas sanções económicas. Em 1939 anexou a Albânia.
A Alemanha iniciou a expansão com o abandono da SDN em 1933, o plebiscito e ocupação do Sarre em 1935, remilitarização da Renânia em 1936, a anexação da
Áustria em 1938, da zona ocidental da Checoslováquia (Sudetas) em 1938 e toda a Checoslováquia na Primavera de 1939. Em Agosto de 1939 assinou um pacto
de não agressão com a URSS abrindo as portas de ambos os países a uma ocupação que se verificou 15 dias depois. Houve algum consentimento da Inglaterra e
França através dos Acordos de Munique em 1938 aceitando a ocupação dos Sudetas.
As situações descritas foram possíveis com a incapacidade da Inglaterra e da França de exercerem uma eficaz acção de monitorização dos tratados de 1919 e a
sua fraca capacidade militar e económica contrastando com a força e impeto económico da Alemanha e Japão. A Guerra Civil de Espanha acabou por provar essa
incapacidade e os desejos expansionistas da Itália e Alemanha.
A invasão da Polónia em 1 de Setembro de 1939 provocou a deflagração da guerra com a França e a Inglaterra a tomarem finalmente o partido da guerra contra
a Alemanha.

3.2.2. A Mundialização do conflito


A guerra dividiu-se em grandes fases nas quais se pode distinguir:
1ª fase de movimentação dos exércitos alemães ocupando diversos países desde a Polónia ao Canal da Mancha e atacando mesmo a Inglaterra depois da
ocupação da maior parte da França. O Japão entra em conflito com os EUA e 1941 em Pearl Harbour ocupando também vários arquipélagos da Ásia e Pacífico
como as Filipinas e a Indonésia. Dá-se também a agressão à URSS pelas tropas alemãs.
2ª fase a partir de 1942 com a estagnação dos avanços da Alemanha na URSS e a contra ofensiva americana no Pacífico contra o Japão depois da Batalha de
Midway. Os Britânicos vencem os alemães no Norte de África e em 1943 os aliados desembarcam na Itália. Em 1944 é o desembarque no sul de França e na
Normandia. Finalmente os russos ocupam Berlim e a zona oriental da Alemanha impondo a derrota aos nazis.

A RECONSTRUÇÃO DO PÓS-GUERRA
A DEFINIÇÃO DE ÁREAS DE INFLUÊNCIA
Com o fim da Segunda Guerra Mundial a Alemanha e o Japão, que sonhavam com grandes domínios territoriais, saíram da guerra totalmente vencidos e
humilhados.
O Reino Unido e a Franca, embora vencedores, estavam empobrecidos e dependentes da ajuda externa.
Perante a ruína do pós-guerra só duas potências permaneciam fortes:
- URSS: escudada na força do Exército Vermelho e na sua imensa extensão geográfica;
-EUA: indiscutivelmente a primeira potência mundial.
* A construção de uma nova ordem internacional: as conferências de paz
Com o aproximar do fim da Segunda Guerra Mundial os Aliados (vencedores) começam a delinear estratégias para o período de paz que viria.
Entre 4 e 11 de fevereiro de 1945, Roosevelt (presidente americano), Churchill (primeiro ministro inglês) e Estaline (secretário geral do partido comunista –
URSS) reúnem-se nas termas de Ialta (nas margens do Mar Negro), com o objetivo de estabelecerem as regras que devem sustentar a nova ordem internacional
do pós-guerra.
»Conferência de Ialta:
- Definiram-se as fronteiras da Polónia, ponto de discórdia entre os ocidentais – que não esqueciam ter sido a violação das fronteiras polacas a causa imediata da
guerra – e os soviéticos – que não desistiam de ocupar a parte oriental do país;
- Estabeleceu-se a divisão provisória da Alemanha em quatro áreas de ocupação, geridas pelas três potências conferencistas e pela França, sob a coordenação de
um Conselho Aliado;
- Marcação da reunião da conferência preparatória da ONU;
- Supervisão dos três grandes na futura constituição dos países de Leste, ocupadas pelo eixo;
- Estabelecimento de 20.000 milhões de dólares como base das reparações da guerra devidas pela Alemanha.

Alguns meses mais tarde, em finais de julho de 1945, reuniu-se em Potsdam (perto de Berlim) uma nova conferência com o fim de consolidar os alicerces da paz.
Decorreu num clima mais tenso que a de Ialta.
Vencida a Alemanha, renasciam as desconfianças face ao regime comunista que Estaline representava e às suas pretensões expansionistas na Europa.
Deste modo, a conferência encerrou sem alcançar uma solução definitiva para os países vencidos, limitando-se a ratificar e a pormenorizar os aspetos já
acordados em Ialta.
»Conferência de Potsdam:
- Perda provisória da soberania alemã e sua divisão em quatro zonas de influências;
- Administração conjunta da cidade de Berlim, igualmente dividida em quatro zonas de ocupação;
- Montante e tipo de indemnizações a pagar pela Alemanha;
- Julgamento dos criminosos de guerra nazis, através da criação do Tribunal Internacional de Nuremberga;
- Divisão, ocupação e desnazificação da Áustria, em moldes semelhantes aos estabelecidos para a Alemanha.

* Um novo quadro político


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Nó pós-guerra aumenta a importância da URSS a nível internacional. No último ano do conflito, na sua marcha vitoriosa até Berlim, coubera ao Exército
Vermelho a libertação dos países da Europa Ocidental. Na Polónia, Checoslováquia, Hungria, Roménia e Bulgária, os soldados russos substituíram os ocupantes
nazis.
Entre 1946 e 1948, estes países encaminharam-se para o socialismo, constituindo as democracias liberais.
Este rápido processo de sovietização foi, de imediato, contestado pelos ocidentais. Churchill denunciou a criação, por parte da URSS, de uma área de influência
impenetrável, isolada do ocidente por uma “cortina de ferro”1.

A ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS


Após o fracasso da SDN a ideia de uma organização internacional que assegurasse a paz e a segurança permaneceu.
Deste modo, Franklin Roosevelt, nas cimeiras da “Grande Aliança” criou uma organização mais consistente – a ONU.
Este projeto ficou acordado em 1943 na Conferência de Teerão e foi ratificado em Ialta onde se decidiu a convocação de uma conferência para redigir e aprovar
a carta fundadora das nações unidas.
Esta, iniciou-se no dia 25 de Abril de 1945 em São Francisco, tendo como princípios fundamentais:
- Manter a paz e reprimir os atos de agressão, utilizando meios pacíficos, de acordo com os princípios da justiça e o direito internacional;
- Desenvolver relações de amizade entre as países do mundo, baseadas na igualdade entre os povos e no seu direito à autodeterminação;
- Desenvolver a cooperação internacional no âmbito económico, social e cultural e promover a defesa dos Direitos Humanos;
- Funcionar como centro harmonizador das ações tomadas para alcançar estes propósitos.

* A defesa dos Direitos do Homem


Após as atrocidades cometidas durante a Segunda Guerra Mundial com o holocausto e disposta a impedi-las no futuro, a ONU tomou uma feição
profundamente humanista, através do reforço, em 1948, da Declaração Universal dos Direitos do Homem substituindo a Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão, que passou a integrar os documentos fundamentais das Nações Unidas.
Este documento definia os direitos e as liberdades fundamentais (direito à vida, liberdade de reunião, expressão, etc.) e também tivera sido atribuído um papel
importante às questões económico-sociais (direito ao trabalho, ao descanso, ao ensino…).

* Órgãos de funcionamento
A Carta das Nações Unidades definiu também os órgãos básicos do funcionamento da instituição:
- Assembleia Geral: formada pela generalidade dos Estados-membros, funciona como um parlamento;
- Conselho de Segurança: formado por 15 membros (cinco dos quais permanentes – EUA, URSS, Reino Unido, França e República Popular da China) e 10
flutuantes eleitos pela Assembleia-Geral por dois anos. É o órgão diretamente responsável pela manutenção da paz e da segurança: atua como mediador,
decreta sanções económicas e em último caso decide a intervenção das forças militares;
- Secretariado-Geral: representa a ONU e, com ela, praticamente todos os povos do mundo;
- Conselho Económico-Social: encarregado de promover a cooperação a nível económico, social e cultural entre as nações. Atua através de instituições
especializadas e outros órgãos específicos que se encontram sob a sua tutela: BIRD, FAO, OIT, OMS. É um dos órgãos mais ativos e importantes da ONU.
- Tribunal Internacional da Justiça: é o órgão máximo da justiça internacional;
- Conselho de Tutela: órgão criado com o fim principal de administrar os territórios que outrora se encontravam sob a alçada da SDN;
A ONU tem sede em Nova Iorque desde 1952, contando com 192 países.

AS NOVAS REGRAS DA ECONOMIA INTERNACIONAL


* O ideal de cooperação económica
O planeamento do pós-guerra não se processou somente a nível político. Em julho de 1944, um grupo de economistas (dos quais um deles era Keynes, ligado ao
intervencionismo) reuniu-se em Bretton Woods (EUA) a fim de prever e estruturar a situação monetária e financeira do período de paz.
Com o fim da guerra tornava-se essencial regularizar o comércio mundial, os pagamentos e a circulação de capitais, evitando o círculo vicioso de desvalorizações
monetárias e a instabilidade das taxas de câmbio dos anos 20 e 30.
Assim, para garantir a estabilidade das moedas criou-se um novo sistema monetário internacional: o dólar era a moeda-padrão e as restantes moedas tiveram
sido convertidas em ouro ou dólar.
Na mesma conferência e com o objetivo de operacionalizar o sistema criaram-se dois organismos importantes:
- FMI (Fundo Monetário Internacional) ao qual recorreriam os bancos centrais dos países com dificuldades em manter a paridade fixa da moeda ou equilibrar a
sua balança de pagamentos;
- Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento (BIRD) também conhecido como Banco Mundial, destinado a financiar projetos de fomento
económico a longo prazo.
Em 1947, na Conferência Internacional de Genebra, assina-se um Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT) onde 23 países se comprometeram a negociar a
redução dos direitos alfandegários e outras restrições comerciais. Isto permitia melhorar as condições de vida, garantia o emprego, permitia o crescimento da
produção e do consumo e a expansão das trocas de mercadorias.
Esta ideia de um espaço económico alargado deu origem, nesse mesmo ano, à BENELUX: aliança entre a Bélgica, Holanda e Luxemburgo, prevendo a abolição
das tarifas alfandegárias entre os três países.

A PRIMEIRA VAGA DE DESCOLONIZAÇÃO


* Uma conjuntura favorável à descolonização
A primeira vaga de descolonização deu-se logo a seguir à Segunda Guerra Mundial, iniciando-se no continente asiático e no Médio Oriente e percorrendo ao
Norte de África.
A guerra tivera exigido pesados sacrifícios às colónias, sendo que esta também tivera posto em evidência as fragilidades da Europa. Até aí, vistos como
invencíveis, os estados europeus mostraram-se incapazes de defender os seus territórios da invasão estrangeira, tal como a Ásia.
Aos efeitos demolidores da guerra juntaram-se as pressões exercidas pelas duas superpotências, que apoiam os esforços de libertação dos povos colonizados.
Os EUA em lembrança do seu próprio passado e em defesa dos seus interesses económicos sempre se mostraram adversos à manutenção do sistema colonial.
A URSS atua em nome da ideologia marxista – que prevê a revolta dos oprimidos pelos interesses económicos capitalistas e não desperdiça a possibilidade de
estender, nos países recém-formados, o modelo soviético.
A ONU, por sua vez, defendia a descolonização, pois segundo a Carta os países tinham direito à autodeterminação.

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* A descolonização asiática
No Médio Oriente tornam-se independentes a Síria, Líbano, Jordânia e Palestina onde em 1948 nasce Israel.
Na Índia, no decorrer da guerra, o partido do congresso liderado por Gandhi obtivera através de Churchill a promessa da retirada inglesa. No entanto, devido ao
antagonismo entre as comunidades hindu e muçulmana os britânicos atrasaram o processo que só em 1947 se concretiza ficando a Índia dividida em dois
estados: União indiana (hindu) e o Paquistão (muçulmano).
Ceilão, Birmânia e Malásia também reclamaram a sua independência. Com exceção da Malásia, cuja posição estratégica dificultou a cedência britânica os
ingleses aceitaram a descolonização.
Também Holandeses e Franceses são obrigados a abrir mão das suas colónias.
Em 1945, o dirigente nacionalista Sukarno proclama a República da Indonésia. Pouco dispostos a abdicar do território, os Holandeses recorrem à força das
armas, mas pressionados pela ONU acabam por reconhecer, em 1949, a independência do novo país.
O processo de descolonização da Indonésia mostrou-se mais violento e sangrento pois a ocupação japonesa fomentara fortes sentimentos antifranceses. A
guerra da Indochina acaba por adquirir um cariz ideológico visto como uma tentativa de extensão do comunismo na Ásia, já que o líder Ho Chi Minh era
comunista. Só em 1945, os franceses vencidos se retiram reconhecendo o nascimento de novas nações: Vietname, Laos e Cambodja.

O TEMPO DA GUERRA FRIA – A CONSOLIDAÇÃO DE UM MUNDO BIPOLAR


UM MUNDO BIPOLAR
* A rutura
Quando em 1946, Churchill afirmou que uma “cortina de ferro” dividia a Europa, o processo de sovietização dos países de Leste era já irreversível. Sob a tutela
diplomática e militar da URSS, os partidos comunistas ganhavam forças e, progressivamente, tomavam o poder. Para coordenar a sua atuação, tornando-se mais
eficiente, criou-se, em 1947, o Kominform (Secretariado de Informação Comunista) que se tornou um importante organismo de controlo por parte da URSS.
Um ano passado sobre o alerta de Churchill, os EUA assumem a liderança da oposição aos avanços do socialismo 2.
É neste contexto que o presidente Truman alarga a divisão europeia ao mundo que está dividido em dois sistemas antagónicos: um baseado na liberdade e
outro na opressão. Aos americanos cabe a liderança do undo livre na contenção do comunismo.
À doutrina Truman opõe-se a doutrina Jdanov, que segundo o dirigente soviético afirma que o mundo se divide, de facto, em dois sistemas contrários: um,
imperialista e antidemocrático – liderado pelos EUA – e outro em que reina a democracia e a fraternidade entre os povos, correspondente ao mundo socialista –
liderado pela URSS.
Para além de formalizar a divisão do mundo em duas forças opostas, a doutrina Truman deixava também clara a necessidade de ajudar a Europa a reerguer-se
economicamente.
As perdas humanas e materiais tinham sido pesadíssimas e os EUA tiveram ajudado a Europa.
É neste contexto que o secretário de Estado americano Marshall anuncia, em junho de 1947, um plano de ajuda económica à Europa.
Este plano foi oferecido a toda a Europa, incluindo os países que se encontravam já sob influência soviética, mas esta ténue tentativa de aproximação não teve
êxito. Moscovo classifica a ajuda americana de “manobra imperialista” e impede os países sob sua influência de a aceitaram.
Em janeiro de 1959, Moscovo lança o plano Molotov, que estabelece as estruturas de cooperação económica da Europa Oriental.
Foi no âmbito deste plano que se criou o COMECON (Conselho de Assistência Económica Mútua), instituição destinada a promover o desenvolvimento integrado
dos países comunistas, sob proteção da União Soviética.
Os países abrangidos pelo Plano Marshall e os países do COMECON funcionaram como áreas transnacionais, coesas e distintas uma da outra.
A divisão do mundo em dois blocos antagónicos consolidou-se, tal como a liderança das duas superpotências.

* O primeiro conflito: a questão alemã


Este clima de desentendimento e confrontação refletiu-se de imediato na gestão conjunta do território alemão, que na sequência da Conferência de Potsdam se
encontrava dividido e ocupado pelas quatro potências vencedoras.
A expansão do comunismo no primeiro ano da paz fez com que ingleses e americanos olhassem a Alemanha, não já como o inimigo vencido, mas como um
aliado imprescindível à contenção do avanço soviético.
O renascimento alemão tornou-se uma prioridade para os americanos, que intensificaram os esforços para a criação de uma república federal constituída pelos
territórios sob ocupação das três potências ocidentais – República Federal Alemã (RFA).
A União Soviética protestou vivamente contra aquilo que considerava uma violação dos acordos estabelecidos, mas acabou por desenvolver uma atuação
semelhante na sua própria zona que conduziu à criação de um Estado paralelo, sob a alçada soviética – República Democrática Alemã (RDA).
Esta divisão fez com que houvessem discórdias quanto a Berlim, uma vez que ainda lá estavam as forças militares das três potências ocidentais.
Numa tentativa de forçar a retirada dessas forças, Estaline bloqueia aos três aliados todos os acessos terrestres à cidade.
O Bloqueio de Berlim, que se prolongou de junho de 1948 a maio de 1949, foi o primeiro medir de forças entre as duas superpotências.
Assim, três anos passados sobre o fim da Segunda Guerra, os antigos aliados tinham-se tornado rivais e a sua rivalidade dividia o mundo, pondo em risco os
esforços da paz.
Nas décadas que se seguiram, as relações internacionais refletiram esta instabilidade e impregnaram-se de um clima de forte tensão: foi o tempo da Guerra Fria.

* A Guerra Fria
O afrontamento entre as duas superpotências e os seus aliados prolongou-se até meados dos anos 80, altura em que o bloco soviético mostrou os primeiros
sinais de fraqueza.
Durante este longo período, os EUA e a URSS intimidaram-se mutuamente gerando um clima de hostilidade e insegurança que deixou o mundo num
permanente sobressalto. É este clima de tensão internacional que se designa por Guerra Fria.
A Guerra fria caracterizou-se por cada bloco se procurar superiorizar ao outro, quer em armamento como na ampliação das suas áreas de influência. Enquanto
isso, a propaganda incutia nas populações a ideia da superioridade do seu sistema e a rejeição e o temor do lado contrário, ao qual se atribuíam as intenções
mais sinistras e os planos mais diabólicos.
As duas superpotências defendiam conceções opostas de organização política, vida económica e estruturação social: de um lado, o liberalismo assente sobre o
princípio da liberdade individual; do outro, o marxismo, que subordina o indivíduo ao interesse da coletividade.

O MUNDO CAPITALISTA
* A política de alianças dos EUA

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Uma vez enunciada a doutrina Truman, os EUA empenharam-se por todos os meios na contenção do comunismo. O Plano Marshall foi o primeiro passo nesse
sentido, pois permitiu a reconstrução da economia europeia em moldes capitalistas mas também estreitou os laços entre a Europa Ocidental e os seus
“benfeitores” americanos.
Em termos político-militares, a aliança entre os ocidentais não tardou a oficializar-se. A tensão provocada pelo bloqueio de Berlim acelerou as negociações que
conduziram, em 1949, ao Tratado do Atlântico Norte, entre os EUA, Canadá e dez nações europeias. A operacionalização deste tratado deu origem à
Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN)3.
Esta aliança apresentava-se como uma organização puramente defensiva, empenhada em resistir a um inimigo: a URSS.
Esta sensação de ameaça e vontade de consolidar a sua área de influência levaram os EUA a constituir várias alianças, um pouco por todo o mundo. Para além
da OTAN, firmaram-se alianças multilaterais:
- América, 1948 a OEA (Organização dos Estados Americanos);
- Oceânia, 1951 a ANZUS (Austrália, Nova Zelândia e Estados Unidos);
- Sudoeste Asiático, 1954 a OTASE (Organização do Tratado da Ásia de Sudoeste);
- Médio Oriente, 1955 Pacto de Bagdade e 1957 CENTO (Organização do Tratado Central).

* A política económica e social das democracias ocidentais


No fim da Segunda Guerra Mundial, o conceito de democracia adquiriu, no Ocidente, um novo significado – para além do respeito pelas liberdades individuais,
do sufrágio universal e do multipartidarismo, considerou-se que o regime democrático deveria assegurar o bem-de-estar dos cidadãos e a justiça social.
A Grande Depressão já tinha mostrado a importância de um estado económico e socialmente interventivo, e o estado da Europa no pós-guerra exigia
orientações firmes de modo a assegurar a reconstrução. Assim, as duas forças políticas que nesta época sobressaíram na Europa – o socialismo reformista e a
democracia cristã – encontravam-se fortemente impregnadas de preocupações sociais.
Embora de quadrantes muito diferentes, socialistas e democratas-cristãos saíram da guerra prestigiados: ambos tinham lutado contra os regimes autoritários
vencidos e apresentando alternativas aos partidos liberais.
É assim, que logo em 1945, as eleições inglesas dão a vitória ao Partido Trabalhista (social-democrata), liderado por Clement Atlee, que substitui Churchill
(partido conservador) à frente do Governo Britânico.
Um pouco por todo o lado, partidos de orientação social-democrata viram elevar-se os seus resultados eleitorais, tendo, em alguns caso, tomando também as
rédeas do poder, como aconteceu na Holanda, nos países escandinavos (Dinamarca, Noruega, Suécia) e na RFA (no fim dos anos 60).
Os adeptos da social-democrata conjugam a defesa do pluralismo democrático e dos princípios da livre concorrência económica com o intervencionismo do
Estado, cujo objetivo é o de regular a economia e promover o bem-estar dos cidadãos.
Assim, os sociais-democratas defendem o controlo estatal dos setores-chave e uma forte tributação aos rendimentos mais elevados. Rejeitavam a ideologia
marxista e contentavam-se com a distribuição da riqueza pelos cidadãos através do reforço da proteção social.
Na Itália e na RFA o receio da ideologia dos socialistas deu vitória eleitoral aos democratas cristãos.
A democracia-cristã tem origem na doutrina social da igreja que condena os excessos do liberalismo capitalista, atribuindo igualmente aos estados a missão de
zelar pelo bem comum. Os democratas-cristãos consideram que o plano temporal e espiritual, embora distintos, não se podem separar. Os princípios do
cristianismo devem influenciar todas as ações dos cristãos.
Propõem uma orientação profundamente humanista, apoiada na liberdade, na justiça e na solidariedade.
Sociais-democratas e democratas-cristãos convergem no mesmo propósito de promover reformas económicas e sociais profundas. Na Europa do pós-guerra, os
governos lançam-se num vasto programa de nacionalizações que atinge bancos, companhias de seguro, transportes, etc. O Estado torna-se o principal agente
económico do país, o que lhe permite exercer a sua funcao reguladora da economia. Revê-se também o sistema de importos reforçando o caráter progressivo
das taxas e permite assegurar uma redistribuição mais equitativa da riqueza nacional.
Estas medidas modificaram a conceção liberal do Estado dando origem ao Estado-Providência.

* A afirmação do Estado-Providência
O Reino Unidade foi o primeiro país com o Estado do bem-estar, onde cada cidadão tem asseguradas as suas necessidades básicas.
Beveridge confiava que um sistema social alargado teria como efeito a eliminação dos “cinco grandes males sociais”: carência, doença, miséria, ignorância e
ociosidade.
A abrangência das medidas adotadas em Inglaterra e, sobretudo, a ousadia do estabelecimento de um sistema nacional de Saúde assente na gratuidade total
dos serviços médicos e extensivos a todos os cidadãos, serviram de modelo à maioria dos países europeus.
A estruturação do Estado-Providência na Europa do pós-guerra fez-se rapidamente. O sistema de proteção social generaliza-se a toda a população passando a
acautelar as situações de desemprego, acidente, velhice e doença; estabelecem-se prestações de ajuda familiar (abono) e outros subsídios aos mais pobres.
Complementarmente, ampliam-se as responsabilidades do Estado no que pertence à habitação, ao ensino e à assistência médica.
Este conjunto de medidas visa um duplo objetivo:
- Reduz a miséria e o mal-estar social contribuindo para uma repartição mais equitativa da riqueza;
- Assegura uma certa estabilidade à economia, já que evita descidas drásticas da procura como a que ocorreu durante a crise dos anos 30.
Assim, o Estado-Providência contribuiu para a prosperidade económica que o Ocidente viveu nas três décadas que se seguiram à Segunda Guerra Mundial.

* A prosperidade económica
O crescimento económico do pós-guerra estruturou-se em bases sólidas.
Os governos não só assumiram grandes responsabilidades económicas, como delinearam planos de desenvolvimento coerentes, que permitiram estabelecer
prioridades, rentabilizar a ajuda Marshall e definir diretrizes futuras.

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Externamente, os acordos de Bretton Woods 4 e a criação de espaços económicos alargados (como a CEE) tiveram um papel semelhante, harmonizando e
fomentando as relações económicas internacionais.
O capitalismo, que na década de 30 parecera condenado pela Grande Depressão, emergiu dos escombros da guerra e atingiu o seu auge. Entre 1945 e 1973, a
produção mundial mais do que triplicou e, em certos setores, como a produção energética e a automóvel, multiplicou-se por dez.
As economias cresceram de forma contínua, sem períodos de crise. As taxas de crescimento, especialmente altas de certos países como a RFA, França ou o Japão
surpreenderam os analistas, que começaram a referir-se-lhes como “milagre económico”. Estes cerca de trinta anos de uma prosperidade material sem
precedentes ficaram na História como os “Trinta Gloriosos”.
A expansão económica dos “Trinta Gloriosos” conjuga o desenvolvimento de processos já iniciados com aspetos completamente novos. Entre os seus traços
característicos podemos destacar:
- Aceleração do progresso tecnológico, que atingiu todos os setores desde as fibras sintéticas, aos plásticos, medicina, aeronáutica, eletrónica, entre muitos
outros. Rapidamente produzidas em série, as inovações tecnológicas revolucionaram a vida quotidiana e os processos de produção;
- Recurso ao petróleo como matéria energética por excelência, em detrimento do carvão. A extração do “ouro negro” coubera até à Segunda Guerra Mundial
aos EUA e a partir dos anos 60 deslocara-se para os países do Médio Oriente, que se tornam os seus principais fornecedores. A abundância e o baixo preço do
petróleo alimentaram a prosperidade económica, permitindo uma autêntica revolução nos transportes, para além de uma enorme gama de novos produtos
industriais;
- Aumento da concentração industrial e do número de multinacionais, verdadeiros gigantes económicos que fabricam e comercializam os seus produtos nos
quatro cantos do Mundo. Presentes em praticamente todos os setores (matérias-primas, transportes, comunicações, siderurgia, eletrónica, alimentação…) estas
empresas investem grandes somas na investigação científica, contribuindo para a aceleração do progresso técnico a que nos referimos;
- Aumento significativo da população ativa proporcionado pelo reforço de mão de obra feminina no mercado de trabalho, o baby-boom5 dos anos 40-60 e a
imigração de trabalhadores oriundos de países menos desenvolvidos. Para além disto, a mão de obra tornou-se mais qualificada, em virtude do prolongamento
da escolaridade, sendo somente os imigrantes a desempenhar os trabalhos que não requeriam um alto nível de formação profissional, e sendo por isso, mal
remunerados;
- Modernização da agricultura, setor onde a produtividade aumenta, de tal como que permite aos países desenvolvidos passarem de importares a exportadores
de produtos alimentares. Renovada por grandes investimentos, novas tecnologias e uma mentalidade verdadeiramente empresarial, a agricultura libera, em
pouco tempo, grandes quantidades de mão de obra, que migra para os núcleos urbanos. Este êxodo rural contribuiu para alterar a relação entre os três setores
de atividade;
- Crescimento do setor terciário, que tende a absorver a maior percentagem de trabalhadores. O surto espetacular das trocas comerciais, a aposta no ensino, os
serviços sociais prestados pelo Estado e a complexidade crescente da administração das empresas multiplicaram o número de postos de trabalho neste setor.
Assim, as classes médias alargam-se, o que contribuiu para a subida do nível de vida e para o equilíbrio social.

* A sociedade de consumo
O efeito mais evidente dos “Trinta Gloriosos” foi a generalização do conforto material. O pleno emprego, os salários altos e a produção maciça de bens a preços
acessíveis conduziram à sociedade de consumo, que transformou os lares e o estilo de vida da maioria da população dos países capitalistas.
Quando os gastos na alimentação e em outros bens essenciais deixaram de absorver a quase totalidade dos orçamentos familiares, as casas tornaram-se
cómodas e bem equipadas. Os aparelhos de aquecimento, o telefone, a televisão e toda uma vasta gama de eletrodomésticos multiplicaram-se rapidamente e o
automóvel tomou o seu lugar nas garagens e nas ruas, proporcionando longos passeios de lazer. As férias pagas, privilégio que se alargou nos anos 60, vieram
acentuar a ideia de que a vida merece ser desfrutada e o dinheiro existe para se gastar. O cidadão comum é permanentemente estimulado a despender mais do
que o necessário. Multiplicam-se os grandes espaços comerciais. Uma publicidade bem orquestrada lembra as maravilhas a que todos “têm direito” e que as
vendas a crédito permitem adquirir.
A oferta e a pressão publicitária são de tal ordem que os bens rapidamente perdem valor, “passam de moda” e se substituem por outros mais atualizados.

O MUNDO COMUNISTA
Em 1945, quando o segundo conflito mundial terminou, existiam no mundo apenas dois países comunistas: a URSS e a Mongólia. Entre 1945 e 1949, o
comunismo implanta-se na Europa Oriental, na Coreia do Norte e na China. Nos anos 50 e 60 continua o seu progresso na Ásia e em Cuba. Na década de 70,
difunde-se na África Negra.
* O expansionismo soviético
A expansão do mundo comunista fez-se, em grande parte, pela URSS. Após a Segunda Guerra Mundial, o reforço da posição militar soviética e o desencadear do
processo de descolonização criaram condições favoráveis quer à extensão do comunismo, quer ao estreitamento dos laços de amizade e cooperação entre
Moscovo e os países recentemente emancipados. A URSS saiu, assim, do isolamento a que estivera votada desde a Revolução de outubro, alargando a sua
influência nos quatro continentes.

Europa:
A primeira vaga de extensão do comunismo atingiu a Europa Oriental e, com exceção da Jugoslávia, fez-se sobre a pressão direta da URSS. Em meados de 1948,
os partidos comunistas dos países de Leste tinham-se já assumido como partidos únicos e, em pouco tempo, a vida política, económica e social destas regiões foi
reorganizada em moldes semelhantes aos da União Soviética.
Os novos países socialistas receberam a designação de democracias populares. Por oposição às democracias liberais, julgadas incapazes de garantir a verdadeira
igualdade devido à persistência dos privilégios de classe, as democracias liberais defendem que a gestão do Estado pertence, somente, às classes trabalhadoras.
Estas constituem a maior, exercem o poder através do Partido Comunista que, supostamente, representa os seus interesses.
Em 1955, os laços entre as democracias populares foram reforçadas com a constituição do Pacto de Varsóvia, aliança militar que previa a resposta conjunta a
qualquer eventual agressão.
Considerando-se a “pátria do socialismo”, a União Soviética impôs um modelo único e rígido, do qual não admitiu desvios. É assim que, quando estalaram
protestos e rebeliões contra o seu excessivo domínio, Moscovo não hesitou em utilizar a força para manter a coesão do seu bloco. Os dois casos mais graves
ocorreram na Hungria, em 1956, e na Checoslováquia, em 1968. As ruas de Budapeste e de Praga viram-se, então, ocupadas pelos tanques soviéticos. Este
desejo de manter intocada a hegemonia comunista na Europa Oriental conduziu também, em 1961, à construção do célebre muro de Berlim, que rapidamente
se tornou no símbolo da Guerra Fria na Europa e no Mundo.

Ásia:
Fora da Europa, o único país em que a implantação do regime comunista que ficou a dever à intervenção direta da URSS foi a Coreia.
Ocupada pelos Japoneses, a Coreia foi, no fim da Segunda Guerra Mundial, libertada pela ação conjunta dos exércitos soviético e americano, que, naturalmente,
não se entenderam quanto ao futuro regime político do país. A Coreia foi, por isso, dividida em dois estados: a norte, a República Popular da Coreia, comunista,
apoiada pela URSS; a sul, a República Democrática da Coreia, conservadora, sustentada pelos Estados Unidos. A posterior invasão da Coreia do Sul pela

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O dólar era a moeda-padrão e as restantes moedas tiveram sido convertidas em ouro ou dólar.

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República Popular do norte, com vista á reunificação do território sob a égide do socialismo, desencadeou uma violenta guerra (1950-1953). Por fim, repôs-se a
separação entre as duas Coreias, que se mantêm estados rivais ainda hoje.
A China, onde, em outubro de 1949, Mao Tsé-Tung proclamou a instauração de uma República Popular. A tomada do poder pelos comunistas chineses foi uma
longa luta, que se iniciara nos anos 20 e se reacendera após a Segunda Guerra Mundial. Embora o apoio de Moscovo aos revolucionários não possa considerar-
se decisivo para a vitória alcançada, poucos meses decorridos desde a formação do novo Governo, Mao Tsé-Tung e o ministro dos Negócios Estrangeiros, Chou
En Lai, assinam, em Moscovo, um Tratado de Amizade, Aliança e Assistência Mútua, que coloca a China na esfera soviética.
Apesar de se ter afastado da URSS, a China seguiu o modelo político e económico do socialismo russo. A China Popular assumiu, ao lado da URSS, as suas
obrigações na difusão do comunismo.

América Latina e África:


A influência soviética estende-se, nos anos 60 e 70, à América Latina e à África (com a descolonização, nomeadamente Angola e Moçambique).
O ponto fulcral da expansão comunista na América Latina foi Cuba. Em 1959, um punhado de revolucionários, sob o comando de Fidel Castro e do mítico Che
Guevara, derruba o ditador pró-americano Fulgêncio Batista. As preocupações socializantes do novo regime cubano valem-lhe a hostilidade de Washington, que
apadrinha mesmo uma tentativa falhada de retoma do poder por exilados anticastristas (desembarque na Baía dos Porcos, com o objetivo de matar Fidel
Castro).
Fidel Castro aceita o apoio da URSS e Cuba transforma-se num bastião avançado do comunismo na América Central. A permanência soviética em Cuba confirma-
se quando, em 1962, aviões americanos obtêm provas fotográficas da instalação, na ilha, de mísseis russos de médio alcance, capazes de atingir o território
americano. A exigência firme de retirada dos mísseis, feita pelo presidente Kennedy, coloca o Mundo perante a eminência de uma guerra nuclear entre as duas
superpotências. Felizmente, a crise acaba por resolver-se com cedências mútuas: Kruchtchev aceita retirar os mísseis, enquanto os Estados Unidos se
comprometem a não tentar derrubar, novamente, o regime cubano. Cuba desempenhará um papel ativo na proliferação do comunismo.
Tal como o continente asiático, a África, recém-descolonizada, mostrou-se bastante permeável à influência soviética.

* Opções e realizações da economia de direção central


Logo que a guerra terminou, a URSS retomou o modelo de planificação económica: planos quinquenais e a partir de 1958 septenais, sendo a primeira prioridade
a indústria pesada. Imensos complexos siderúrgicos e centrais hidroelétricas fazem da União Soviética a segunda potência industrial do Mundo e garantem-lhe o
poder militar necessário ao afrontamento dos tempos da Guerra Fria.
Nos países de Leste, a proclamação das Repúblicas Populares implanta também o modelo económico soviético. Os meios de produção são coletivizados e
reorganizados em moldes idênticos aos da URSS, sendo a prioridade absoluta a industrialização, baseada na indústria pesada.
Os novos países socialistas europeus, com exceção da Checoslováquia e da RDA, eram essencialmente agrícolas, industrializaram-se rapidamente.
No entanto, o nível de vida das populações não acompanha esta evolução económica. As jornadas de trabalho mantêm-se excessivas (cerca de 10 horas), os
salários sobem a um ritmo muito lento e as carências de bens de toda a espécie mantêm-se. Negligenciados pelos primeiros planos, a agricultura, a construção
habitacional e o setor terciário avançam lentamente. Nas cidades, que a industrialização fez crescer a um ritmo muito rápido, a população amontoa-se em
bairros periféricos, superpovoados e doentias. As longas filas de espera para adquirir bens essenciais tornam-se uma rotina diária.

Os bloqueios económicos
Passado o primeiro impulso industrializador, as economias planificadas começam a mostrar, de forma mais evidente, as suas debilidades:
- As empresas não gozam de autonomia na seleção das produções, equipamentos, trabalhadores, fixação de salários e preços ou na escola de fornecedores e
clientes;
- Gestão burocrática que se limita a cumprir as quantidades previstas no plano, sem olhar à qualidade ou rentabilidade dos equipamentos e da mão de obra;
- Bens de consumo escassos;
- Poucos produtos agrícolas, dado que a agricultura não é prioridade;
- Habitações caras, optando a população por viver na periferia sem condições.
Para ultrapassar os bloqueios económicos a URSS permite realizar reformas.
Nikita Krutchev vai alterar a planificação, tendo em conta o que levou ao bloqueio.
Em 1959, inicia-se um novo plano que reforça o investimento nas indústrias de consumo, na habitação e na agricultura. Paralelamente, a duração do trabalho
semanal reduz-se (de 48 para 42 horas), bem como a idade de reforma, que se estende, pela primeira vez aos trabalhadores agrícolas. Nas empresas procura-se
incentivar a produtividade, aumentando a autonomia dos gestores e iniciando um sistema de prémios aos trabalhadores mais ativos.
No entanto, estas medidas não superaram as expectativas. Na década de 70, sob a orientação de Brejnev, a burocracia reforça-se e o 9º e 10º plano voltam a dar
grande prioridade ao complexo militar-industrial e à exploração dos recursos naturais (ouro, gás e petróleo da Sibéria). Porém, os custos de exploração do
território siberiano revelam-se excessivos e a economia soviética entra num período de estagnação.
As dificuldades soviéticas refletiram-se, de forma mais ou menos graves, em todos os países satélite.
Embora não podendo dissociar-se da crise económica que, na década de 70, afetou o mundo industrializado, a estagnação das economias de direção central
reflete, sobretudo, as faltas do sistema, que se foram agravando ao longo das décadas. Inultrapassáveis, estes bloqueios económicos conduzirão à falência dos
regimes comunistas europeus, no fim dos anos 80.

A ESCALADA ARMENTISTA E O INÍCIO DA ERA ESPACIAL


* A escalada armamentista
Em 1945, após a Segunda Guerra Mundial só os EUA tinham a bomba atómica. Em 1949, os Russos fizeram explodir a sua primeira bomba atómica,
desmoronando-se, assim, a confiança do Ocidente.
De imediato, os cientistas incrementaram as pesquisas de uma arma mais destrutiva, testada em 1952 no Pacífico – a bomba de hidrogénio.
No ano seguinte, já a URSS tinha a bomba de hidrogénio.
Embora o caráter revolucionário deste novo rearmamento se encontre na produção de bombas atómicas e no desenvolvimento de mísseis de longo alcance
para as lançar, o Mundo viu também multiplicarem-se as armas ditas “convencionais”.
O poder de destruição das novas armas introduziu na política mundial uma característica nova: a dissuasão. Cada um dos blocos procurava persuadir o outro de
que usaria, sem hesitar, o seu potencial atómico em caso de violação das respetivas áreas de influência. Advertências, ameaças, movimentações de tropas e
material de guerra faziam parte desta estratégia dissuasora que a natureza apocalíptica de um confronto nuclear torno eficaz. O mundo tinha resvalado, nas
palavras de Churchill, para o “equilíbrio instável do terror”.

* O início da era espacial


Cientes de que a superioridade tecnológica poderia ser decisiva, as duas superpotências dedicaram grande atenção aos ramos da Ciência relacionados com o
equipamento militar.
A URSS colocou-se à cabeça da conquista do Espaço quando, em outubro de 1957, conseguiu colocar em órbita o primeiro satélite artificial da História, o Sputnik
1. No mês seguinte, lançou o Sputnik 2, de maiores dimensões, levando a bordo a cadela Laika, que se tornou o primeiro viajante espacial.

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Os Americanos, na ânsia de igualarem, no mesmo ano, a proeza russa, anteciparam o lançamento do seu próprio satélite, mas o foguetão que o impulsionava
explodiu e a experiência foi um fiasco. Só no início de 1958, com o lançamento de Explorer 1, a América efetivaria a sua entrada na corrida ao Espaço.
Nos anos que se seguiram, a aventura espacial alimentou o orgulho nacional das duas nações. Nos primeiros tempos, os soviéticos mantiveram a liderança e, em
1961, fizeram de Yuri Gagarin o primeiro ser humano a viajar na órbita terrestre. No entanto, no fim da década de 60, coube aos americanos Neil Armstrong e
Edwin Aldrin o feito de serem os primeiros homens a pisarem a Lua. Quando o Homem realizou o feito improvável de alcançar a Lua tornou-se evidente que essa
mesma tecnologia estava a ser utilizada para a construção de armas capazes de aniquilarem toda a Humanidade.

A Afirmação de Novas Potências (não é de aprofundamento)


1.3 O Rápido Crescimento do Japão
No final da Segunda Guerra Mundial, o Japão era um país militarmente derrotado, ocupado por uma potência estrangeira (EUA), tinha perdido o seu império
colonial e a sua economia estava completamente arrasada;
A ocupação americana levou à modernização das estruturas políticas e sociais; Os EUA criaram um espécie de “Plano Marshall”, o “Plano Dodge”, para o Japão
que continuou mesmo depois de 1952, quando a ocupação americana terminou; A vitória dos comunistas na China em 1949 transformou o Japão num precioso
aliado para os EUA; Os japoneses souberam aproveitar as condições e no inicio dos anos 70 eram a terceira potência económica mundial;
Os americanos durante a ocupação do Japão: Lançaram o “Plano Dodge”; Promoveram a democratização do país, a nova Constituição aprovada instituía um
regime parlamentar; Desenvolveram uma reforma agrária que levou á expropriação de terras dos grandes proprietários distribuídas pelos camponeses;
Destruíram as indústrias bélicas o que levou a que todo o potencial económico e intelectual fosse transferido para os setores produtivos; A guerra da Coreia em
1950-53 reforçou a importância do japão;
O governo japonês interveio ativamente na economia japonesa, regulando o mercado, protegendo as empresas, concedendo créditos, etc.; Os acordos políticos
de 1952 exigiam que o Japão não poderia gastar mais do que 1% do PIB em despesas militares, o que favoreceu a canalização de recursos financeiros para o
desenvolvimento económico; A mentalidade japonesa também contribuiu para o desenvolvimento económico: cooperação entre empresários e trabalhadores,
reinvestimento dos lucros na renovação tecnológica;
A tradição empresarial japonesa ia no sentido de o emprego ser vitalício; Os empregados retribuíam com uma lealdade incondicional á empresa; A
produtividade japonesa é muito superior ao do resto do Mundo, nos anos 60 trabalham mais 400 horas anualmente se comparados com os trabalhadores
europeus e auferiam salários mais baixos; Um outro ponto importante que favoreceu o desenvolvimento japonês foi o sistema de ensino altamente competitivo;
Estes fatores vão permitir que o Japão se transforme na primeira sociedade de consumo asiática; O desenvolvimento económico é considerado por muitos um
“milagre japonês” pois o país é superpovoado e praticamente importa todas as suas matérias-primas; O primeiro surto de desenvolvimento japonês ocorreu
entre 1955 e 1961, a produção industrial triplicou, os setores que mais se desenvolveram foram a indústria pesada (construção naval, química) e de bens de
consumo duradouros (televisores, frigoríficos, rádios, etc.);
Após uma estagnação no início dos anos 60, dá-se um segundo surto de crescimento entre 1966 e 1971, a produção industrial duplica; Para além dos setores
tradicionais surgem novos como a indústria automóvel; No início dos anos 70, o Japão é a terceira potência económica, apenas atrás dos EUA e da URSS;

-O Afastamento da China do Bloco Soviético


A revolução comunista chinesa foi liderada por Mao Tsé-Tung (1893- 1976); Mao elevou-se ao nível de teórico marxista e postulou que, ao contrário do
marxismo tradicional, não era o operariado que representava o papel revolucionário mas o campesinato (a China era um país atrasado, agrícola); Essa nova
interpretação do marxismo foi designada de maoísmo; A revolução chinesa foi desencadeada pela classe camponesa maioritária na China;
Ao contrário da Rússia, onde a revolução tinha sido desencadeada pelo Partido Bolchevique, na China, a revolução foi liderada pelas massas (camponesas) e não
por um partido; Isso levou ao nascimento de um modelo diferente do soviético para alcançar o comunismo; Após a morte de Estaline, em 1953, a divergência
entre o Partido Comunista Chinês e o soviético acelerou;
Em 1957, Mao, lançou uma campanha de retificação dos erros, a crítica foi estimulada, mas perante a magnitude dessas criticas, a campanha foi suspensa, e os
críticos enviados para campos de reeducação (eufemismo para campos de concentração); Nos finais dos anos 50, Partido Comunista Chinês, lança uma nova
política económica que ficou conhecida por o “Grande Salto em Frente”;
O objetivo central era que a China alcançasse os níveis de produtividade ocidentais; A meta era alcançar, em 15 anos, a Inglaterra; Foi abandonada a prioridade
dada à indústria pesada e privilegiaram a produção agrícola e a criação de pequenas indústrias locais, baseadas na tecnologia tradicional; Foram criadas
comunas populares (agrupavam cerca de 5 mil famílias), estabeleceu-se um modo de vida comunitário dirigido pelos funcionários do Partido Comunista Chinês;
Foi desenvolvida uma massiva campanha publicitária e ideológica para mobilizar a população; Mao crítica a política de coexistência pacífica de Kruchtchev, apoia
a política de Estaline e acusa os soviéticos de se afastarem dos ideais do marxismo; A União Soviética acusa a China de aventureirismo; Estava consumada a
rutura com a URSS, a China considerava-se o “único país verdadeiramente socialista”;
A política do “Grande Salto em Frente” era absolutamente contrária à política que Estaline tinha levado a cabo na URSS; Esta política económica saldou-se por
um enorme desastre, a diminuição da produção de cereais causou a morte a cerca de 30 milhões de chineses; Foi abandonada em 1960, e levou ao afastamento
temporário do poder de Mao;
Para recuperar o poder, Mao Tsé-Tung lançou uma nova grande campanha de massas, a “Revolução Cultural”; O objetivo era criar um “novo homem” através
da transformação das mentalidades; Os apoiantes de Mao, sobretudo jovens estudantes, são organizados em unidades de “Guardas Vermelhos” que são
enviados por toda a China para levarem a cabo uma campanha de politização da população; Em 1964, Mao publica o “Livro Vermelho” que organiza as suas
ideias e se torna a “bíblia” da Revolução Cultural;
Todos os suspeitos de serem opositores ao maoísmo são violentamente perseguidos; Este movimento levou a uma onda de excessos e de violência que causou
2 milhões de mortos, 100 milhões de pessoas perseguidas e 20 milhões enviados para “campos de reeducação”; No entanto Mao, transformado no “Grande
Timoneiro” recuperou o poder;
Nos anos 70, a China iniciou um processo de aproximação com o Ocidente e os EUA; Em 1971, o presidente americano, Richard Nixon, visitou a China; A
República Popular da China foi admitida na ONU e substituiu a China Nacionalista (Formosa) no Conselho de Segurança da ONU;
Os dirigentes chineses acusam a URSS de “social-imperialismo” e consideram-na o principal inimigo da paz; Com a morte, em 1976, de Mao, os dirigentes
chineses abrem a economia à iniciativa privada e ao investimento estrangeiro, embora o PCC mantenha a liderança política; Os territórios de Hong Kong e
Macau são integrados na China, mas mantêm a sua economia capitalista, surge o lema, “Um país, dois sistemas”;

-1.3.3 A Ascensão da Europa


Na primeira metade do século XX a Europa quase se autodestruiu com duas guerras devastadoras; Depois da Segunda Guerra Mundial desenvolve-se a ideia
que era necessário construir uma Europa unida e com identidade e dinâmica própria; Já em 1946, Churchill apelou “ao renascimento da Europa” e a constituição
dos Estados Unidos da Europa; Mas é sobretudo o francês Jean Monnet (1888-1979), por muitos considerado o “pai da Europa”, que advogou a união dos países
do continente europeu;
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Os principais objetivos da união de países europeus seriam: Ajudar à reconstrução europeia do pós-guerra, e a sua integração no bloco das potências ocidentais;
Criar uma entidade económica capaz de competir com os EUA e a URSS; Em 1947 surge o Benelux (Bélgica, Holanda e Luxemburgo) uma união aduaneira.
Logo após o fim da guerra surgiram várias organizações com o objetivo de implementar a união mas que fracassaram; Monnet propõe a união europeia e foi um
dos arquitetos da Declaração Schuman (1950), o primeiro passo consistente para o desenvolvimento da cooperação entre países europeus. Esta documento
previa a cooperação entre a França e a Alemanha nos domínios da produção do aço e do carvão; Em 1951 aderem a esta declaração a Itália, Bélgica, Holanda e
Luxemburgo, é criada a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA);
Em 1957, é criada pelo Tratado de Roma, a Comunidade Económica Europeia (CEE), integrada pelos mesmos 6 países que integravam a CECA; A CEE foi o ponto
de partida da atual União Europeia; Pelo Tratado de Roma, os países signatários, comprometiam-se a implementar progressivamente a livre circulação de
mercadorias, capitais e pessoas. Também previa uma política comum na área da agricultura, dos transportes e da produção energética;
Foi criada a Comunidade da Energia Atómica Europeia (Euratom); A livre circulação de mercadorias (união aduaneira) foi concretizada em 1968; Em 25 de março
de 1957, França, Alemanha, Bélgica, Holanda, Itália e Luxemburgo assinam o Tratado de Roma que criou a Comunidade Económica Europeia.
A em 1970, a CEE era a primeira potência comercial do Mundo e crescia a uma taxa média de 5%; Em 1973 aderem à CEE, a Grã-Bretanha, a Irlanda e a
Dinamarca; A Europa dos Seis passava a ser denominada Europa dos Nove;

- 1.3.4 A Segunda Vaga de Descolonizações.


A Política de Não Alinhamento A descolonização africana iniciou-se no Norte do continente, na África arabizada; A Líbia depois de ter estado sobre a tutela da
ONU acedeu à independência em 1951; Em 1956 seguem-se Marrocos e a Tunísia; A Argélia só conseguiu a independência em 1962 depois de uma guerra com a
potência colonizadora, a França;
As ideias de autodeterminação e independência propaga-se à África subsariana; Surgem movimentos nacionalistas que lutam pela independência dos seus
países contra as potências colonizadoras; Muitas vezes é difícil criar a união destes povos pois o colonialismo juntou e dividiu etnias de acordo com os seus
interesses económicos; Muitos dos líderes independentistas estudaram nas metrópoles e aí contactaram com as ideias de liberdade e justiça social; Os
movimentos de libertação muitas vezes são conotadas com as ideias de socialismo;
Em 1960, a Assembleia-Geral da ONU aprovou a Resolução 1514 que consagra o direito à autodeterminação dos territórios sob administração estrangeira e
condena as tentativas bélicas das metrópoles para manterem as suas colónias; Em 1960, 17 países africanos acedem à independência; Surgem vários líderes
carismáticos que impulsionam a descolonização; Em 1970 em África só existiam as colónias portuguesas e a Namíbia como territórios não independentes e a
Rodésia do Sul (atual Zimbabué) e a África do Sul, países onde as minorias brancas detinham o poder;

- O Terceiro Mundo
Terceiro Mundo – Expressão criada em 1952, por A Sauvy e G. Balandier para designar os países excluídos do desenvolvimento económico;
Na década de 70 cerca de 70 países da África e a Ásia compartilhavam o atraso económico, constituem o Terceiro Mundo; São países recentemente
descolonizados, alcançaram a independência política mas continuaram dependentes economicamente; Na maior parte desses países as grandes companhias
internacionais continuavam a explorar as matérias-primas e a fornecer os produtos manufaturados aos novos países; Criou-se uma situação de neocolonialismo;
Neocolonialismo – Forma de colonialismo que se exerce pelo domínio económico;
Perante um Mundo divido entre a luta das superpotência e dos seus aliados, um grupo de países propõe uma alternativa à luta entre os blocos comunista e
capitalista, a terceira via; Em 1955, um grupo de países asiáticos (Índia, Indonésia, Birmânia (Myanmar), Ceilão (Sri Lanka), e o Paquistão) convocam uma
conferência para discutir estes assuntos; A Conferência de Bandung (Indonésia) reuniu 29 países da África e da Ásia que no seu comunicado Final aprovaram a
condenação do colonialismo, a rejeição da política de blocos e apelavam à resolução pacífica dos conflitos;
A ideia nascida em Bandung foi-se desenvolvendo em diversos encontros internacionais e vieram a dar corpo ao Movimento dos Não Alinhados, criado
oficialmente na Conferência de Belgrado (Jugoslávia, em 1961; Os grandes promotores foram os chefes de Estado da Índia, Nehru, do Egito, Nasser e da
Jugoslávia, Tito; Procuram desenvolver uma alternativa à bipolarização do Mundo; O movimento começou a atrair um número cada vez maior de países (25 em
1961 e 113 em 1995);
Este movimento denunciava a injustiça da ordem económica internacional que favorecia os países ricos em detrimento dos mais pobres; Denunciou as atuações
da França na Argélia, dos EUA no Vietname e de Portugal em Angola, Moçambique e Guiné; Reivindicam a criação de uma nova ordem económica internacional;
No entanto o facto de existirem situações muito diferentes entre estes países (económica, social, religiosa, cultural) fragilizou o Movimento que hoje se encontra
muito dividido;

-1.4 O Termo da prosperidade económica: origens e efeitos


O crescimento económico iniciado após a Segunda Guerra Mundial começa a revelar dificuldades que se tornam visíveis em 1973: quebra na produção
industrial, falências de empresas e aumento do desemprego; As crises do capitalismo eram previsíveis e cíclicas; Mas a crise de 1973 apresentava uma novidade,
ao contrário do que aconteceu anteriormente, os preços continuaram a subir e a inflação tornou-se incontrolável; Este fenómeno recebeu o nome de
estagflação (estagnação (da produção) + inflação);
A crise dos Anos 70 deveu-se à conjugação de dois fatores: a crise energética e a instabilidade monetária; O mundo industrializado dependia do petróleo; Até
1973 o preço do crude manteve-se baixo, mas nesse ano os países produtores de petróleo, em grande parte localizados no Médio Oriente, utilizam o preço
como arma política, como retaliação pelo apoio dos países ocidentais a Israel; O preço quadruplicou e a produção petrolífera foi reduzida em 25%;
Foi agendada um calendário de reduções mensais de 5% da produção até que o apoio a Israel terminasse; Os EUA, a Holanda e a Dinamarca foram considerados
inimigos da causa árabe e foi imposto um boicote total ao fornecimento de petróleo; Em 1979 surgem novos aumentos do preço do petróleo fruto da crise
política no Irão e à guerra Irão-Iraque; O choque petrolífero levou a que o preço do petróleo, em menos de 10 anos, foi multiplicado por 12; O aumento do preço
do petróleo vai provocar o aumento do preço de todos os produtos criando uma aumento da inflação;
Outro fator que provocou a crise económica foi a instabilidade monetária; Os EUA, devido ao aumento da sua despesa com gastos sociais e sobretudo com a
Guerra no Vietname, aumentou excessivamente a quantidade de moeda em circulação; Em agosto de 1971, o presidente americano, Richard Nixon, suspendeu
a convertibilidade do dólar em ouro (era um dos principais fundamentos do sistema monetário internacional, que tinha sido instituído em Bretton Woods); Esta
medida tomada pelos EUA desregulou o sistema financeiro mundial;
A instabilidade económica, conjuntamente com o choque petrolífero, foram os responsáveis pela crise económica dos Anos 70; Outras causas que contribuíram
para a crise foram a falência do sistema de trabalho conhecido por fordismo e a saturação dos mercados; A crise dos Anos 70 provocou o aumento da taxa de
desemprego, ainda não foi resolvida, pelo contrário, foi agravada nos últimos anos;
A crise não atingiu a proporções da dos Anos 30 foi caracterizada por uma baixa do crescimento económico; As despesas dos Estados aumentaram com o as
prestações sociais a subirem; A existência do Estado-Providência permitiu que no aspeto social a crise não tivesse consequências mais graves; No entanto a
diminuição das receitas e o aumento das despesas do Estado levaram a que surgissem as primeiras críticas às políticas keynesianas (fundadoras do Estado-
Providência) e a defesa de políticas neoliberais;

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