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16 Contracepção

Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação   © Permanyer Portugal 2011
Maria Gil Varela

1. INTRODUÇÃO e físico da mulher, que se traduz no aumento


da sua eficácia e na diminuição dos efeitos
A ideia de contracepção existe desde a Anti- adversos. Embora a escolha do método deva
guidade. Há registos de várias práticas con- ser da responsabilidade da mulher, o médico
traceptivas em papiros egípcios datados de tem como obrigação informar sobre as van-
2000 a.c. e que se baseavam nos métodos de tagens e inconvenientes, riscos e benefícios
barreira utilizados pela mulher. e contra-indicar quando é o caso. Para uma
A contracepção, no entanto só nas últimas contracepção consciente, todos os esclare-
décadas foi aceite e reconhecida socialmen- cimentos focando a eficácia, a inocuidade, a
te como parte integrante da vida actual. A tolerância e a reversibilidade devem ser da-
contracepção permitiu separar o sexo da dos antes de se iniciar a contracepção.
procriação e teve como consequência uma
diminuição da natalidade, mas também
contribuiu de forma significativa para o 2. EFICÁCIA DOS MÉTODOS
bem-estar e saúde da mulher e da criança, CONTRACEPTIVOS  ÍNDICE DE PEARL
espaçando os nascimentos e diminuindo a
taxa de abortos por gravidezes indesejadas. A eficácia de um método exprime-se em nú-
A multiplicidade de métodos veio permitir mero de gravidezes por 100 mulheres por ano
uma escolha adequada ao perfil psicológico e denomina-se índice de Pearl (Quadro 1).

Quadro 1. Eficácia dos métodos contraceptivos


Método Índice de Pearl (%)
Contraceptivos orais combinados 0,03-0,5
Minipílula 0,4-4,3
Progestativo injectável 0,03-0,9
Implantes 0-0,2
DIU de cobre 0,5-1,0
SIU com levonorgestrel 0,09-0,2
Espermicida 2-30
Preservativo 7-14
Métodos naturais 7-38
Esterilização 0-0,3
Ausência de contracepção > 80

257
3. MÉTODOS CONTRACEPTIVOS o seu desaparecimento. Dada a dificuldade
de avaliação destas alterações, é um método
3.1.MÉTODOS NATURAIS/ABSTINÊNCIA de difícil aceitabilidade e com baixa eficácia.

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PERIÓDICA
3.2. MÉTODOS DE BARREIRA
Os métodos de abstinência periódica estão
relacionados com a fisiologia da reprodução, Os métodos de barreira estão descritos desde
nomeadamente a identificação do dia da ovu- a Antiguidade. Apresentam como vantagem
lação, o tempo de viabilidade do óvulo e dos a protecção contra as doenças de transmissão
espermatozóides e na observância das modi- sexual (em cerca de 50%). Estas incluem in-
ficações hormonais ao longo do ciclo, com as fecções causadas por Chlamydia Trachomatis,
respectivas repercussões a nível do muco e Neisseria Gonorrhoeae, trichomonas, herpes
da temperatura basal. Podem estar indicados, simplex, citomegalovírus e pelo vírus da sín-
por períodos curtos, em mulheres com baixa drome de imunodeficiência adquirida (VIH).
fertilidade e que tenham ciclos regulares. Es- Quanto ao vírus da SIDA, só o preservativo foi
tes métodos têm muito baixa eficácia. aprovado na protecção contra esta doença.
Os métodos de barreira protegem também
3.1.1. MÉTODO DO CALENDÁRIO contra a displasia e o cancro do colo, mas têm
OGINOKNAUS como desvantagem a baixa eficácia e o facto
de interferirem com o acto sexual.
Para a aplicação deste método a mulher deve
fazer o estudo dos ciclos durante um perío- 3.2.1. DIAFRAGMA
do longo para se aperceber do seu período
fértil evitando as relações sexuais durante Os diafragmas são discos fabricados em
esse período, sendo o método contraceptivo látex com o formato de cúpula. Existem
com menor eficácia. em diferentes tamanhos e é necessária a
participação do médico para avaliação do
3.1.2. MÉTODO DAS TEMPERATURAS tamanho adequado para cada caso. A sua
eficácia aumenta com o uso associado de
O método das temperaturas baseia-se nos espermicida. Aplica-se no fundo de saco
dados fornecidos pelo registo da tempera- vaginal ficando apoiado à frente na fosseta
tura rectal em condições basais, de manhã retropúbica e posteriormente no fundo de
antes de qualquer esforço. Este método tem saco de Douglas. Ao ocultar o colo, impede
por base o facto de ocorrer uma subida da o contacto deste com o esperma. Deve ser
temperatura após a ovulação. Assim são per- colocado até quatro horas antes das rela-
mitidas as relações sexuais desprotegidas três ções sexuais, ou imediatamente antes do
dias após essa elevação da temperatura. É um acto sexual, e só pode ser retirado oito ho-
método pouco prático e com baixa eficácia. ras depois. É reutilizável. As vantagens são a
inocuidade e o efeito protector em relação
3.1.3. MUCO CERVICAL BILLINGS a algumas doenças de transmissão sexual.
Está contra-indicado em caso de alergia ao
Ao longo da fase folicular vai sendo produzi- látex ou aos espermicidas, nos casos de in-
do muco que atinge o máximo na altura da fecções urinárias de repetição, em situações
ovulação este método consiste na apreciação anatómicas particulares como prolapso uro-
das modificações do muco ao longo do ciclo genital importante, retroversão uterina fixa
não sendo permitidas as relações no período ou vagina estreita e no caso de dificuldade
em que existe muco e até ao terceiro dia após do seu manuseamento (Fig. 1).

258 Capítulo 16
Fase I Fase II

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Figura 1. Colocação do diafragma (adaptado de Speroff, et al.1).

3.2.2. CAPA CERVICAL 3.2.3. PRESERVATIVO FEMININO

Tal como o diafragma, é fabricada em látex, O preservativo feminino não teve grande
embora mais duro, tem um formato mais aceitabilidade provavelmente pela dificul-
pequeno e coloca-se directamente no colo dade de manuseamento. É fabricado em
(Fig. 2). O seu uso está indicado em substitui- látex ou poliuretano e tem o formato de
ção do diafragma no caso de contra-indica- um cilindro fechado na porção distal e na
ção à utilização deste. Tal como o diafragma porção externa tem um anel flexível, que o
é reutilizável e deve ser utilizada em associa- mantém aberto apoiando-se na vulva. Pos-
ção com espermicida mas é menos eficaz e sui ainda um anel interno destinado a faci-
de maior dificuldade de colocação. litar a introdução (Fig. 3). É pré-lubrificado e
utilizado uma única vez, tendo a vantagem
de proteger em relação às doenças de trans-
missão sexual, concretamente ao VIH. Pode
ser colocado em qualquer altura antes da
penetração.

3.2.4. ESPONJA VAGINAL


CONTRACEPTIVA

A esponja vaginal tem dupla acção, uma


vez que oculta o orifício do colo e é esper-
micida uma vez que está embebida em
cloreto de benzalcónio ou em nonoxinol e
coloca-se no fundo da vagina. O efeito con-
traceptivo é imediato e pode permanecer
na vagina durante 24 horas. Não deve ser
Figura 2. Colocação de capa cervical (adaptado de Spe- retirada antes de duas horas após a relação
roff, et al.1). sexual.

Contracepção 259
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Figura 3. Preservativo feminino e sua colocação (adaptado de Speroff, et al.1).

3.2.5. ESPERMICIDAS substancialmente a sua eficácia. A partir de


1980, com o aparecimento da SIDA, aumen-
Os espermicidas classificam-se em agentes tou o uso do preservativo à escala mundial.
surfactantes que actuam diminuindo a tensão O preservativo é um cilindro estreito com a
superficial dos espermatozóides ou em agen- parte terminal fechada e com um reservató-
tes bactericidas que alteram o seu metabolis- rio, sendo habitualmente lubrificado. Deve
mo. Existem espermicidas à base de cloreto ser colocado antes da penetração e estando o
de benzalcónio ou de nonoxinol, protegendo pénis em erecção. Tem como indicação major
em relação a algumas doenças de transmis- a protecção em relação às doenças de trans-
são sexual e apresentando-se sob a forma de missão sexual, oferecendo protecção contra
óvulos, cápsulas ou creme. Quando utilizados a infecção pelo HPV e consequentemente
isoladamente são pouco eficazes pelo que lesões displásicas e cancro do colo. Está in-
são habitualmente usados em associação dicado nas situações de relações sexuais im-
com os contraceptivos vaginais ou com o pre- previstas ou ocasionais, nos casos de neces-
servativo masculino. Os espermicidas à base sidade de protecção em relação às doenças
de nonoxinol estão contra-indicados durante de transmissão sexual, em particular ao VIH
a amamentação pois este produto pode ser e quando há contra-indicação aos métodos
excretado pelo leite. mais eficazes. É recomendado para a preven-
ção da SIDA, hepatite, Chlamydia Trachomatis,
3.2.6. PRESERVATIVO MASCULINO sífilis, gonococcia e tricomoníase. Em relação
ao herpes e aos condilomas, a sua eficácia é
A primeira descrição data de 1564 e foi utili- menor dada a sua multifocalidade1,3.
zado para protecção em relação a sífilis. Foi
no século XVIII que tomaram o nome de pre- 3.3. CONTRACEPÇÃO HORMONAL
servativos e eram feitos com pele de animais.
Com a vulcanização da borracha, passaram a 3.3.1. HISTÓRIA DA CONTRACEPÇÃO ORAL
ser comercializados preservativos de quali-
dade muito superior e em 1930 surgem os Em 1920 Ludwig Haberlandt, professor de
preservativos em látex, o que veio aumentar fisiologia da Universidade de Innsbruck,

260 Capítulo 16
demonstrou que a administração oral de 3.3.2. COMPOSTOS DA
extractos ováricos impedia a ovulação (nas CONTRACEPÇÃO HORMONAL
ratas)1,2 e em 1931 este investigador e Fell-

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ner, ginecologista vienense, propuseram a Da composição dos contraceptivos hor-
administração de hormonas para contracep- monais fazem parte os estrogénios sinté-
ção, uma vez que demonstraram que a fer- ticos e os progestativos. O estrogénio utili-
tilidade era inibida com estes extractos, em zado é o etinilestradiol que foi obtido por
vários animais. O extracto então produzido modificação da estrutura do estradiol en-
era o etinilestradiol, derivado da etisterona e dógeno com a introdução do grupo etinil
denominava-se «Infecundin» e estava pron- na posição C17 que, retardando a sua de-
to a ser utilizado, mas o desaparecimento gradação no organismo e aumentando a
prematuro destes investigadores veio atra- sua semivida, o tornou activo por via oral.
sar o desenvolvimento nesta área. Só em O mestranol foi também utilizado nos pri-
1951 uma nova descoberta veio contribuir meiros compostos hormonais contracepti-
para o avanço na contracepção hormonal, vos mas acabou por ser abandonado, uma
ao ser demonstrado que ao fazer-se a remo- vez que necessitava ser metabolizado em
ção do carbono 19 da etisterona formando etinilestradiol para ser reconhecido nos
a noretindrona a sua acção androgénica era receptores de estrogénios. O metabolismo
atenuada e passava a ter uma acção proges- do etinilestradiol varia de pessoa para pes-
tagénica. Surgiram assim os derivados da soa, daí que possa causar diferentes efei-
19-nortestosterona. tos secundários.
Após anos de investigação, Pincus, em A dose de estrogénios na contracepção hor-
1960, apresenta a primeira pílula contra- monal é da maior importância clínica uma
ceptiva aprovada pela Food and Drug Ad- vez que um dos efeitos secundários mais
ministration, o «Enovid», contendo 150 μg graves da contracepção oral é o risco trom-
de mestranol e 9,85 mg de noretinodrel. boembólico que está relacionado com o
Em1962 surgiu o «Ortho Novim», cujo pro- componente estrogénico. Por esse motivo,
gestativo era a noretindrona e em 1968 a dosagem tem vindo a reduzir substancial-
foi sintetizado o norgestrel. Desde então mente nos preparados mais recentes, man-
a investigação na contracepção oral tem tendo-se a eficácia.
incidido sobretudo na diminuição da dose Quanto aos progestativos, os primeiros en-
de estrogénios e no aperfeiçoamento da saios da sua síntese foram realizados em
molécula de progestativo, tendo em vista 1951 a partir da testosterona. Eliminando
diminuir o seu efeito androgénico e mine- o carbono da posição 19, reduziram-se as
ralocorticóide, reduzindo assim os efeitos propriedades androgénicas e revelaram-se
secundários. A drospirenona é um novo as propriedades progestativas e ainda uma
progestativo derivado da espironolactona acção estrogénica fraca.
que tem sobretudo um efeito antiminera- Os derivados da 19 nortestosterona são: o
locorticóide. noretinodrel, o acetato de noretindrona, o
A contracepção hormonal, nomeadamente diacetato de etinodiol, o linestrenol, o nor-
os contraceptivos orais, constitui o méto- gestrel e o desogestrel.
do contraceptivo mais utilizado sobretudo Os progestativos de síntese são classifica-
pela sua elevada eficácia e comodidade, dos em derivados da 19-nor-testosterona e
para além de ter efeitos benéficos em vá- os derivados da 17OH-progesterona.
rias situações clínicas. Deve ser avaliada Os progestativos 19-noresteróides cons-
pela eficácia, efeitos secundário, riscos e tituem o grupo estrano (noretisterona,
benefícios. acetato de noretisterona, norgestrinona

Contracepção 261
e linestrenol) e o grupo gonano (levonor- ações de acne e hirsutismo, como veremos
gestrel, gestodeno, norgestimato e deso- adiante. Estas formulações podem ter inte-
gestrel). resse a nível da protecção cardiovascular. Os

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Os progestativos de síntese derivados da progestativos com acção androgénica têm
17-hidroxiprogesterona constituem o grupo efeito sobre a ficha lipídica, nomeadamente
pregnano (o acetato de medroxiprogeste- baixando a fracção HDL do colesterol e dimi-
rona, o acetato de clormadinona e o aceta- nuem os triglicerídeos (na contracepção oral
to de ciproterona) e o grupo norpregnano combinada o efeito é atenuado pela acção
(promegestona). dos estrogénios).
Ainda na tentativa de diminuir o efeito an-
drogénico dos progestativos, responsável 3.3.3. CONTRACEPÇÃO HORMONAL
pelos efeitos secundários a nível cardiovas- E METABOLISMO
cular, sugiram três novos compostos deriva-
dos da 17-hidroxiprogesterona: o desoges- Metabolismo dos hidratos de carbono
trel, o gestodeno e o norgestimato. Assim Nos contraceptivos de alta dosagem, a gli-
podemos classificar os progestativos em de- cemia bem como a insulina sofriam um
rivados da 17OH-progesterona e derivados aumento, sendo essas alterações maiorita-
dos 19-noresteróides. riamente da responsabilidade dos proges-
Os progestativos de síntese derivados da tativos de primeira geração e dependentes
17-hidroxiprogesterona constituem o grupo da dose. Na contracepção hormonal, os
pregnano (o acetato de medroxiprogeste- estrogénios sintéticos e os progestativos al-
rona, o acetato de clormadinona e o aceta- teram a tolerância à glicose. Os estrogénios
to de ciproterona) e o grupo norpregnano de síntese provocam hiperinsulinismo por
(promegestona). aumento da relação insulina/glucagom na
Os progestativos 19-noresteróides consti- veia-porta, por diminuição da neoglicogé-
tuem o grupo estrano (noretisterona, aceta- nese e da glicogenólise, com aumento do
to de noretisterona norgestrinona e linestre- glicogénio hepático.
nol) e o grupo gonano (levonorgestrel, ges- Os progestativos provocam hiperinsulinis-
todeno, norgestimato e desogestrel). mo com insulinorresistência particularmen-
Todos os progestativos de síntese têm uma te quando utilizados em doses elevadas e
acção progestativa, androgénica e ou an- estão implicados nesta alteração os proges-
tiandrogénica, antiestrogénica ou estrogé- tativos com maior actividade androgénica.
nica, glicocorticóide ou antiglicocorticóide e Nos compostos estroprogestativos actuais,
uma acção mineralocorticóide ou antimine- contendo baixas doses de etinilestradiol o
ralocorticóide. A associação de estrogénios impacto é mínimo e com os progestativos
altera estas propriedades, uma vez que estes de segunda ou terceira geração, estes efeitos
provocam uma subida dos valores da proteí- são negligenciáveis.
na de transporte (SHBG). Estas alterações dependem da sensibilida-
Os progestativos de síntese utilizados na de individual e surgem habitualmente nas
contracepção derivados de progestativos mulheres com risco para diabetes. Podemos
com núcleo pregnano têm efeito androgé- afirmar então que as alterações do metabo-
nico nulo ou fraco e os derivados dos no- lismo glicídico verificadas com os estropro-
resteróides têm efeitos androgénicos con- gestativos mini doseados e utilizando as
sideráveis. O menor efeito androgénico dos novas moléculas de progestativos não têm
novos compostos progestativos revelou-se significado clínico nas mulheres sem predis-
de grande interesse a nível das alterações posição para diabetes e que as excepcionais
do perfil lipídico e no tratamento das situ- alterações que possam surgir nos valores da

262 Capítulo 16
glicemia são reversíveis após suspensão da que se manifesta como trombose venosa
contracepção oral. profunda e embolia pulmonar, bem como
Está actualmente estabelecido que os con- tromboembolismo arterial manifestado

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traceptivos orais não condicionam o au- sob a forma de acidentes vasculares cere-
mento de aparecimento de diabetes em brais e enfarte do miocárdio, em mulheres
mulheres saudáveis e em mulheres com an- sob contracepção estroprogestativa5. O TEV
tecedentes de diabetes gestacional não se é raro nas utilizadoras de contraceptivos
provou o aumento de risco de diabetes sob contendo < 50μg, não excedendo 4/10.000/
contracepção hormonal de baixa dosagem1. ano comparativamente com as não-utiliza-
doras com um risco de 0,53/10.000/ano. A
Metabolismo lipídico incidência de TEV na gravidez é contudo
Os estrogénios de síntese actuam a nível muito superior. Este risco está relacionado
do metabolismo lipídico e as alterações de- com a dose de estrogénios e é particular-
pendem da via de administração e da dose. mente relevante nas pílulas contendo 50 μg
Aumentam os triglicerídeos por aumento da ou mais de etinilestradiol. O risco de trom-
síntese da fracção VLDL e diminuição da ac- boembolismo é mais elevado no primeiro
tividade da lipoproteína lipase, aumentam o ano de toma e decresce ao longo do tem-
colesterol HDL, sobretudo do HDL2 e a sín- po. Os progestativos de terceira geração
tese das apolipoproteínas A1e A2 e baixam possibilitaram o uso de doses mais baixas
a Lp(a). de etinilestradiol, de 20 ou 15 μg, o que nos
Os progestativos com acção androgénica faria prever uma diminuição destes aciden-
têm efeito sobre a ficha lipídica, nomeada- tes, mas tal não se veio a confirmar4. Prova-
mente baixando a fracção HDL do colesterol velmente esta associação resulta num clima
e diminuem os triglicerídeos. Na contracep- mais estrogénico induzido pelos progesta-
ção oral combinada, o efeito dos progestati- tivos de terceira geração quando associa-
vos é atenuado pela acção dos estrogénios dos aos estrogénios4.
e a sua acção androgénica é menor nos pro- Alguns estudos demonstraram que o risco
gestativos de segunda e terceira geração. de tromboembolismo se revelou superior
Na contracepção estroprogestativa estes nos compostos de terceira geração, mas a
efeitos variam com a dose de estrogénios, o qualidade destes estudos foi contestada
tipo de progestativo e a sensibilidade indi- uma vez que a selecção das mulheres foi
vidual. Em termos globais há uma elevação menos exigente e foram encontrados fac-
ligeira do colesterol total por aumento da tores de viés que terão contribuído para
fracção LDL e VLDL e aumento dos triglicerí- os resultados que foram inesperados. De
deos, embora na maioria dos casos se man- qualquer forma não há ainda consenso em
tenha dentro dos valores normais. Na micro- relação com o risco aumentado de trom-
pílula progestativa, embora os progestativos boembolismo nos progestativos de ter-
tenham acção androgénica, como são admi- ceira geração5. Não devemos esquecer en-
nistrados em doses baixas, os efeitos sobre a tretanto que os progestativos de segunda
ficha lipídica são pouco relevantes. geração comportam também algum risco
tromboembólico.
3.3.4. CONTRACEPÇÃO HORMONAL, Os estroprogestativos condicionam altera-
DOENÇA CARDIOVASCULAR E FENÓMENOS ções nos factores da coagulação com au-
TROMBOEMBÓLICOS mento do fibrinogénio e dos factores VII, X
e II, e diminuição de alguns factores inibi-
Vários estudos demonstraram um aumento dores da coagulação como a antitrombina
de risco de tromboembolismo venoso (TEV), e a proteína S, e uma resistência alterada à

Contracepção 263
proteína C activada. Quanto à fibrinólise, em cerca de 5% dos casos, mas a diminui-
os estroprogestativos aumentam a taxa de ção da dose de etinilestradiol veio reduzir
plasminogénio e baixam o factor inibidor esse risco. O mecanismo de acção envolve o

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da fibrinólise, o PAI. Assim, os estroproges- sistema renina-angiotensina com aumento
tativos induzem por um lado uma hiperco- do angiotensinogénio e da angiotensina II,
agulabilidade que favorece a formação de desencadeado pelos estrogénios. A via oral
fibrina e por outro lado são responsáveis tem uma acção mais marcada nestas altera-
pelo aumento da fibrinólise. Estes dois me- ções e estas são reversíveis com a suspen-
canismos deverão teoricamente equilibrar- são da pílula. Os progestativos com acção
se e não aumentar o risco tromboembólico estrogénica e mineralocorticóide contri-
na mulher saudável mas na mulher com buem também para a subida dos valores da
alterações da coagulação poderão induzir tensão arterial.
um desequilíbrio no sentido de aumento de Os compostos de baixa dosagem (30 μg
risco de trombose. O valor da antitrombina ou menos de etinilestradiol) não provocam
sob estroprogestativos baixa normalmente habitualmente elevação da tensão arterial.
em cerca de 10%, mantendo-se ainda den- A monitorização deve, no entanto ser feita
tro dos valores normais. com medição anual da tensão arterial, uma
A trombose arterial e venosa são situações clí- vez que uma subida da tensão arterial pode
nicas raras na mulher jovem e quando surgem surgir em qualquer altura da toma.
estão normalmente associadas a factores de Nas situações de hipertensão controlada
risco (obesidade e hábitos tabágicos, para ou ligeira, a contracepção estroprogestati-
além dos antecedentes pessoais ou familiares va de baixa dosagem pode ser instituída,
de tromboembolismo). É por isso imperio- mas com uma vigilância mais cuidada e em
so fazer-se uma avaliação correcta antes da mulheres com menos de 35 anos e sem ou-
administração de estroprogestativos, nome- tros factores de risco, como sejam a obesi-
adamente a história pessoal e familiar. O ta- dade e os antecedentes familiares directos
bagismo agrava o risco de trombose arterial de hipertensão.
pelo que constitui uma contra-indicação em
mulheres a partir dos 35 anos. Na presença de 3.3.6. CONTRACEPÇÃO HORMONAL
deficiência congénita da coagulação, nome- E CANCRO
adamente défices congénitos de antitrombi-
na, proteína C ou S e de resistência à prote- Cancro do endométrio
ína C activada, com mutação do factor V de Os estroprogestativos protegem em 50%
Leiden ou de história pessoal ou familiar de do risco de cancro do endométrio com uma
tromboembolismo venoso idiopático, a con- maior protecção nas utilizadoras por três ou
tracepção hormonal está contra-indicada6. mais anos. A protecção é maior com os es-
Dada, no entanto, a raridade destes defeitos troprogestativos com dose de progestativo
congénitos da coagulação, não se justifica o mais elevada e persiste por 15 anos após
estudo da coagulação prévio à administra- a suspensão. Alguns estudos constataram
ção da contracepção hormonal, em mulheres uma redução de 80% nas utilizadoras por
sem factores de risco. mais de 10 anos.

3.3.5. CONTRACEPÇÃO HORMONAL Cancro do ovário


E TENSÃO ARTERIAL Os contraceptivos orais diminuem em 40%
o risco de cancro do ovário e a protecção
Os estroprogestativos de alta dosagem aumenta com o tempo de utilização. A di-
provocam uma subida da tensão arterial minuição atinge os 80% nas utilizadoras

264 Capítulo 16
por mais de 10 anos e persiste durante lheres numa faixa etária mais alta e muitas
pelo menos 10 a 15 anos após a suspen- tendo já tido filhos. Actualmente as utili-
são, parecendo haver uma maior protec- zadoras de contraceptivos orais são mais

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ção com os compostos de baixa dosagem. jovens, nulíparas e mais tardiamente vão
O estudo da WHO «Collaborative Study on ter o primeiro filho, factores relevantes
Neoplasms and Steroid Contraceptives» su- na incidência de cancro da mama. A aná-
geria que a protecção era maior nos com- lise do estudo do CDC, o maior estudo de
postos contendo dose mais elevadas de caso-controlo realizado, não comprovou
progestativo7. aumento de risco de cancro da mama rela-
cionado com os diferentes tipos de contra-
Cancro do colo ceptivos orais, pílula só com progestativos
Vários estudos comprovaram que os contra- ou pílula combinada, bem como com o
ceptivos orais aumentam o risco de displa- tipo de componentes dos contraceptivos
sia do colo e de carcinoma in situ e que esse hormonais ou com o tempo de uso.
risco aumenta com o tempo de uso. Há, no Podemos afirmar à luz dos conhecimentos
entanto outros factores que podem enviesar actuais que a toma de contraceptivos hor-
os resultados como seja o facto das mulhe- monais em idade reprodutiva por longos
res sob contracepção hormonal não utilizam períodos não aumenta o risco de cancro
habitualmente métodos de barreira o que da mama depois dos 45 anos de idade. Por
as torna mais vulneráveis ao contacto com outro lado, há a possibilidade de o uso de
HPV. Estudos recentes concluíram não ha- contraceptivos orais em idades jovens e
ver aumento de risco de carcinoma invasivo por um período superior a quatro anos po-
malpighiano mas um risco aumentado de der aumentar ligeiramente o risco relativo
adenocarcinoma2. de cancro da mama antes dos 45 anos RR
A realização de citologia do colo faz parte do < 1,51. Alguns estudos demonstraram uma
controlo nas mulheres sob contracepção. maior incidência quando a toma se inicia
antes da primeira gravidez. Da análise dos
Cancro da mama estudos CDC, não há evidência de aumen-
Nos últimos anos, vários estudos epide- to de cancro de mama na pós-menopausa
miológicos têm sido publicados sobre nas antigas utilizadoras. Todos estes estu-
cancro da mama e contracepção hormo- dos foram realizados em utilizadoras de
nal, mas continua em discussão a exis- contraceptivos orais de doses mais eleva-
tência ou não de risco de aumento da sua das por isso devemos ser cautelosos nas
prevalência em mulheres utilizadoras de informações a dar às mulheres até que
contraceptivos hormonais. O risco está re- novos estudos confirmem ou não estes
lacionado com a dosagem e então os es- dados. Sabemos que o uso de contracepti-
troprogestativos de alta dosagem estarão vos hormonais diminui a ocorrência de do-
associados a um maior risco sendo este ença benigna da mama após dois anos de
independente dos compostos progestati- toma. Esta protecção inclui as utilizadoras
vos (derivados da 17-hidroxiprogesterona actuais e as recentes8.
ou dos 19-noresteróides). Serão neces-
sários mais uns anos de recuo e estudos 3.3.7. CONTRACEPÇÃO HORMONAL
realizados em mulheres sob contracepção E TUMORES DO FÍGADO
hormonal com os novos compostos e em
populações diferentes das estudadas. Nos Os esteróides sexuais estrogénicos e an-
estudos existentes a população em estudo drogénicos podem desencadear o apare-
difere da actual uma vez que incluía mu- cimento de adenomas hepáticos e o risco

Contracepção 265
está relacionado com a duração da toma e 3.3.10. CONTRACEPÇÃO HORMONAL
com a dose. São situações raras e o diagnós- ESTROPROGESTATIVA
tico pode ser feito pela palpação hepática e

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pela ecografia. Contracepção estroprogestativa oral
Os compostos estroprogestativos são cons-
3.3.8. OUTROS EFEITOS SECUNDÁRIOS DOS tituídos por etinilestradiol e por diferentes
CONTRACEPTIVOS HORMONAIS progestativos.
A combinação de estrogénios e progesta-
A pílula pode causar em algumas mulhe- tivos actua inibindo a secreção de gonado-
res náuseas, cefaleias ou tensão mamária, trofinas: o progestativo, inibindo a secreção
sendo estes sintomas mais acentuados nos de LH e assim o pico da LH necessário ao
primeiros meses de toma mas, na maioria desencadear ovulação, e os estrogénios, a
dos casos, com tendência para desaparecer secreção de FSH impedindo o crescimento
gradualmente. O aumento de peso, pre- folicular até ao estádio de folículo domi-
sente em alguns casos deve-se ao efeito nante. Para além da inibição da ovulação, a
anabolizante de alguns compostos o que acção progestativa faz-se sentir a nível do
raramente acontece com os contraceptivos muco cervical tornando-o hostil à ascensão
orais de baixa dosagem. dos espermatozóides e provoca atrofia do
Em 5% dos casos pode surgir cloasma, o que endométrio tornando-o impróprio para a ni-
se tem tornado cada vez menos frequente dação, para além disso os progestativos di-
com os compostos de baixa dosagem. minuem a actividade tubar. Os estrogénios
O aparecimento de depressão mental com potencializam o efeito dos progestativos o
os contraceptivos hormonais é muito raro e que permite reduzir a sua dosagem.
deve-se à interferência dos estrogénios com A contracepção estroprogestativa combi-
o metabolismo do triptofano. Quando surge nada consiste na administração oral, diária
deve ser suspensa a sua administração. durante três semanas em cada quatro. Actu-
almente surgiram preparações com 24 com-
3.3.9. CLASSIFICAÇÃO DOS primidos e quatro de placebo, o que faz com
CONTRACEPTIVOS HORMONAIS que a toma seja diária.

Quadro 2. Classificação dos contraceptivos hormonais

— Consoante a sua composição podemos classificar os contraceptivos hormonais em:


u Contraceptivos de baixa dosagem, contendo < 50 μg de etinilestradiol
u Contraceptivos de primeira geração, contendo 50 μg ou mais de etinilestradiol
u Contraceptivos de segunda geração, contendo: levonorgestrel, norgestrel ou outros derivados da
noretindrona e 20, 30 ou 35 μg de etinilestradiol
u Contraceptivos de terceira geração, contendo desogestrel, gestodeno ou norgestimato e 20, 25 ou
30 μg de etinilestradiol

— Os contraceptivos hormonais podem ainda ser classificados em:


u Contraceptivos combinados, contendo estrogénios e progestativos
u Preparações, contendo só progestativos

266 Capítulo 16
Face à indicação de contracepção oral deve níveis constantes. Este sistema tem as mes-
optar-se por uma dose baixa de estrogénios mas indicações da via transdérmica e a sua
20 a 30 μg e pelos progestativos de segunda eficácia é semelhante. A dosagem é menor e

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ou terceira geração que têm menor efeito a os níveis séricos constantes.
nível da ficha lipídica, embora aparentemen- Coloca-se na vagina onde permanecerá du-
te sem grande benefício para o risco trom- rante três semanas, segue-se uma semana
boembólico, nomeadamente os progestati- de intervalo e nova colocação. A primeira
vos de terceira geração. aplicação é feita no primeiro dia do ciclo.

Contracepção estroprogestativa Contra-indicações da


por via transdérmica contracepção hormonal
A via de administração transdérmica tem A contracepção hormonal estroprogestativa
como vantagem eliminar a passagem pelo tem contra-indicações absolutas e relativas
fígado dos esteróides minimizando os efei- que se resumem no quadro 3.
tos a nível dos lípidos e dos hidratos de
carbono bem como de sistema renina-an- 3.3.11. CONTRACEPÇÃO PROGESTATIVA
giotensina, mas tem as mesmas contra-in-
dicações da via oral. Está indicada em situa- Os primeiros ensaios na contracepção com
ções de polimedicação e nas mulheres que progestativos isolados tiveram início nos
não cumprem a toma da pílula e/ou que anos 60. A maioria dos progestativos sinté-
têm spotting com a pílula, uma vez que esta ticos é derivada da 17-hidroxiprogesterona
via de administração confere níveis séricos ou da 19-nortestosterona.
constantes, ao contrário da via oral em que A contracepção progestativa actua pelo
há flutuações ao longo do dia. Pode ser ten- seu efeito antigonadotrófico parcial, mas
tado o seu uso nas mulheres com dislipide- também pela sua acção a nível periférico
mia ou hipertensão ligeira. antiestrogénico, sobre o muco, tornando-o
A contracepção hormonal transdérmica mais espesso o que dificulta a capacitação
consiste na colocação na pele de um patch e ascensão dos espermatozóides, e sobre o
contendo 750 μg de etinilestradiol e 6 mg endométrio, provocando neste uma atrofia
de norelgestromin e que liberta diariamen- impeditiva de uma boa nidação. Consoante a
te 20 μg de etinilestradiol e 150 μg de no- sua composição apresenta também proprie-
relgestromin de forma constante. A eficácia dades androgénicas ou antiandrogénicas e
será semelhante à da via oral mas há ainda efeito estrogénico. Está indicada nas situa-
pouco tempo de recuo. ções de contra-indicação aos estrogénios.
Coloca-se o patch semanalmente, durante Pode ser administrada por via oral, parenté-
três semanas com uma semana de intervalo. rica, subcutânea e intra-uterina.
Quando se inicia o seu uso aplica-se o patch
no primeiro dia do ciclo. Contracepção progestativa oral
Na contracepção com a micropílula proges-
Contracepção estroprogestativa tativa utilizam-se os progestativos derivados
por via vaginal dos noresteróides. O progestativo utilizado
A via vaginal é também utilizada na contra- em Portugal é o desogestrel na dose de 75
cepção hormonal e consta de um anel em μg/dia (Cerazette). Como os derivados dos
polietileno contendo etinilestradiol e eto- noresteróides exercem um efeito antigo-
norgestrel disponível em tamanho único de nadótropo parcial, o pico ovulatório é por
54x4 mm e que liberta diariamente 15 μg de vezes suprimido, mas ocorre maturação fo-
etinilestradiol e 120 mg de etonorgestrel em licular o que provoca perdas hemáticas des-

Contracepção 267
Quadro 3. Contra-indicações aos estroprogestativos

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— Contra-indicações absolutas
u Acidentes tromboembólicos arteriais ou antecedentes destas situações
u Acidentes tromboembólicos venosos ou antecedentes destas situações
u Alteração grave da função hepática
u Cancro de mama ou sua suspeição
u Hemorragia genital anormal não diagnosticada
u Gravidez
u Grandes fumadoras com mais de 35 anos
u Hipercolesterolemia e/ou hipertrigliceridemia severas
u Hipertensão severa

— Contra-indicações relativas
u Enxaqueca
u Hipertensão
u Diabetes mellitus
u Litíase biliar
u Hiperlipidemia
u Doença hepática/icterícia na gravidez
u Epilepsia
u Hábitos tabágicos
u Lúpus eritematoso

contínuas (spotting). A administração tem doses elevadas de 10 mg/dia tem efeito


pois de ser rigorosa a cada 24 horas e a toma antigonadótropo bloqueando a ovulação
de indutores enzimáticos diminui a sua efi- quando administrados do 5.o ao 25.o dia do
cácia por aceleração da degradação hepáti- ciclo, no entanto, têm como desvantagem o
ca dos esteróides. O risco de uma gravidez efeito deletério sobre a fracção HDL do co-
extra-uterina é aumentado uma vez que os lesterol. Os derivados da 19-nortestosterona
progestativos provocam o abrandamento e alguns derivados da 17OH-progesterona
do trânsito tubar. não têm esse efeito metabólico na dose de
Está indicada no período de aleitamento e 5 mg/dia. Quando administrados do 5.o ao
em situações transitórias em mulheres que 25.o dia do ciclo têm boa tolerância e não são
tenham contra-indicação aos estroproges- frequentes as alterações do ciclo.
tativos nas mulheres de mais de 40 anos.
Pode estar indicada nas mulheres hiperten- Contracepção progestativa injectável
sas, diabéticas, dislipidémicas, fumadoras ou O acetato de medroxiprogesterona na dose
com alto risco vascular trombótico. de 150 mg com uma duração de eficácia de
A administração descontinuada de proges- três meses ou enantato de noretisterona na
tativos derivados da 19-nortestosterona em dose de 200 mg, também em administração

268 Capítulo 16
trimestral, actuam como antigonadotróficos. Este implante é colocado na face interna do
Este tipo de contracepção teve uma grande braço (habitualmente o esquerdo) sob anes-
difusão a nível mundial pelas três grandes tesia local no espaço entre o bicípite e o tri-

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vantagens que apresenta: a comodidade cípite 6 a 8 cm acima da prega do cotovelo.
de administração, o efeito prolongado e a Para a sua remoção é necessário realizar sob
ausência teórica de riscos cardiovasculares anestesia local uma pequena incisão na parte
imputados aos estrogénios. Porém, os seus distal do implante através da qual este vai ser
inconvenientes não são desprezíveis e vão retirado. Deve ser colocado entre o 1.o e o 5.o
desde alterações da ficha lipídica e do me- dia do ciclo. Em caso de a mulher estar a tomar
tabolismo dos hidratos de carbono, até ao contraceptivos orais a colocação deve ser feita
aparecimento de amenorreia ou irregulari- no dia seguinte à toma do último comprimi-
dades menstruais. do. Para nova aplicação de implante esta deve
Em 1981 a OMS aprovou-o como método ter lugar no dia da remoção do anterior. Após
contraceptivo aceitável pois os efeitos se- aborto do 1.o trimestre é colocado de imedia-
cundários se revelaram ser menores do que to e, se se trata de um aborto do 2.o trimestre
os observados com alguns outros métodos ou após parto, entre o 21.o e o 28.o dia.
de contracepção hormonal.
Contracepção progestativa intra-uterina
Contracepção progestativa subcutânea O DIU com progesterona –SIU com o nome
O implante subcutâneo é composto por cáp- comercial de Mirena – tem a forma de um T e
sulas de L-norgestrel (Norplant) ou de etono- contém na haste vertical um reservatório de
gestrel (Implanon) dispersos numa matriz de levonorgestrel contendo um total de 52 mg
etileno de acetato de vinil (EVA). Esta mem- e que difunde para o endométrio 20 μg/dia.
brana garante a libertação controlada do A duração de eficácia é de cinco anos.
princípio activo de forma contínua. O etono- Actua por acção local sobre o endométrio
gestrel é o metabólico activo do desogestrel, provocando atrofia deste e diminuição do
que confere efeito contraceptivo durante três desenvolvimento vascular com diminuição
anos. Actua inibindo a ovulação e alterando importante do fluxo menstrual, para além
as características do muco cervical. do efeito sobre o muco tornando-o mais
Apresenta-se sob a forma de um bastone- espesso. Tem como vantagens a diminuição
te cilíndrico com cerca de 4 cm de com- do fluxo menstrual, baixas taxas de expul-
primento e 2 mm de diâmetro. Tem como são, perfuração e infecção (diminui a taxa
vantagem a comodidade para a doente, o de doença inflamatória pélvica). Tem sido
que a faz estar indicada para as mulheres utilizado como terapêutica nas situações
que não cumprem a toma de outros contra- de menorragias.
ceptivos, mas o inconveniente de alterar o Está particularmente indicado como con-
ciclo menstrual com períodos de perdas he- traceptivo em mulheres com anemia, me-
máticas escassas (spotting) e amenorreia e norragias por hiperplasia do endométrio ou
possíveis efeitos indesejáveis tais como: ce- adenomiose e dismenorreia, na doença de
faleias, mastodinia e um aumento de peso Wilson (nos casos de indicação para DIU). É
na ordem dos 1,5 a 2% por ano e em aproxi- actualmente um método muito utilizado na
madamente 14% dos casos o aparecimento mulher no grupo etário mais elevado. Pode
de acne ou o seu agravamento. provocar spotting nos primeiros meses de
As contra-indicações são os antecedentes de utilização e amenorreia ou irregularidades
fenómeno tromboembólico, de doença he- menstruais nos meses seguintes e tem raros
pática severa, hemorragia genital não diag- efeitos sistémicos (tensão mamária, aumen-
nosticada e gravidez. to de peso).

Contracepção 269
3.3.12. VIGILÂNCIA DA Podem surgir perdas hemáticas durante a
CONTRACEPÇÃO HORMONAL toma e as mais frequentes ocorrem nos pri-
meiros três meses (cerca de 10 a 30% no

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Antes da administração de contraceptivos primeiro mês) sendo mais frequentes com
hormonais deve ser feita uma história clíni- os compostos de baixa dosagem. A atitude
ca completa para a avaliação de eventuais correcta é esclarecer a mulher explicando-lhe
contra-indicações ou a presença de facto- que é frequente acontecer este tipo de perda
res de risco para fenómenos tromboem- e que deve aguardar que se normalize a situ-
bólicos, hipertensão ou diabetes. O exame ação. Quando a perda surge mais tarde a as-
ginecológico com exame mamário deve ser sociação de um estrogénio temporariamente
realizado bem como a medição da tensão resolve a maioria dos casos. Se persistir a per-
arterial. Sob o ponto de vista analítico deve da, e excluída patologia, pode suspender-se a
ser determinada a glicemia em jejum e nas toma por um mês e recomeçar. Estas perdas
mulheres de risco de diabetes a prova de hi- são habitualmente por atrofia do endométrio.
perglicemia provocada por via oral com 75 Nos últimos anos, e tendo em atenção os
g de glicose e avaliação duas horas depois. efeitos secundários dos derivados da 19-
Faz parte ainda do estudo analítico a reali- nortestosterona, têm vindo a surgir cada vez
zação de uma ficha lipídica e o estudo da mais novas vias de administração dos con-
função hepática. traceptivos minimizando esses efeitos e tor-
O ideal quando se inicia a toma da pílula se- nando mais fácil o seu uso, o que aumenta a
ria observar a mulher passados três meses aceitabilidade do método.
para consolidar a aceitação do método e es-
clarecer as possíveis dúvidas. 3.3.13. EFEITOS BENÉFICOS DA
O controlo será feito ao fim de um ano, e aos CONTRACEPÇÃO HORMONAL
seis meses nas situações de risco. Inclui a de-
terminação da tensão arterial e a realização Os efeitos benéficos da contracepção hor-
de glicemia e ficha lipídica. O controlo sub- monal têm por base a anovulação, a atrofia
sequente depende da situação clínica. do endométrio e as propriedades antiandro-
A pílula deve ser tomada de forma continu- génicas de alguns destes compostos. Assim
ada não havendo vantagem em fazer para- os estroprogestativos são utilizados como
gens de toma. terapêutica em diferentes situações:

Quadro 4. Efeitos benéficos da contracepção hormonal

— Dismenorreia
— Menorragias e anemia
— Hemorragia disfuncional – regularização dos ciclos
— Melhoria da síndrome pré-menstrual
— Tratamento da acne e do hirsutismo
— Tratamento e prevenção da endometriose
— Tratamento da amenorreia hipotalâmica
— Prevenção e tratamento de quistos funcionais
— Prevenção da doença benigna da mama

270 Capítulo 16
3.4. CONTRACEPÇÃO INTRAUTERINA no endométrio como resposta a corpo estra-
nho, e da acção da progesterona nível do en-
O DIU foi utilizado como método contracep- dométrio, condicionando atrofia, impedindo

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tivo pela primeira vez em 1909 na Polónia, e a nidação, e a nível do muco cervical, tornan-
foi descrito por Richard Richter sob a forma do-o espesso constituindo uma barreira aos
de um anel em crina. espermatozóides.
Na era moderna, em 1960 surgiu o DIU em
polietileno biologicamente inerte e em 1962 3.4.2. DISPOSITIVO INTRAUTERINO ACTIVO
a junção de cobre permitiu reduzir o tama-
nho e aumentar a eficácia. Posteriormente O DIU activo é o segundo método contra-
surgiram os dispositivos com progesterona ceptivo em termos de escolha uma vez que
que passaram a ter indicações, para além de têm uma eficácia elevada.
contraceptivas, também terapêuticas. Os DIU com cobre são classificados em DIU
de 1.a, 2.a e 3.a geração. O DIU de 1.a geração
3.4.1. MECANISMO DE ACÇÃO contém 200 mm2 de cobre. Os de 2.a geração
são de menores dimensões e maior superfí-
Nos DIU inertes, o mecanismo de acção cie de cobre e têm maior eficácia e durabili-
resultava dos efeitos locais de reacção a dade. O DIU com cobre e prata tem a mesma
corpo estranho e inflamação, a nível do eficácia e durabilidade (três anos). Nos DIU
endométrio o que impedia a nidação, mo- de 3.a geração a superfície de cobre é supe-
tivo pelo qual foi considerado abortivo, não rior com maior eficácia e a duração de eficá-
sendo actualmente utilizado. Com este tipo cia de cinco anos (Fig. 4).
de DIU a taxa de infecções era elevada. Com O DIU activo aumenta a actividade fibrinolí-
o aparecimento dos DIU activos (com cobre tica do endométrio tendo como consequên-
e/ou com cobre e prata) o mecanismo de cia um aumento do fluxo menstrual, pelo
acção deve-se à libertação de prostaglan- que está contra-indicado em situações de
dinas e citocinas a nível do endométrio menorragias.
que exercem um efeito citotóxico sobre os O DIU tem contra-indicações absolutas e re-
espermatozóides e até sobre o óvulo impe- lativas (Quadro 5).
dindo a fecundação. A aplicação do DIU deve ser efectuada na
Nos dispositivos com progesterona o me- fase folicular, de preferência durante a
canismo de acção resulta das modificações menstruação ou logo após esta. A técnica

Cu 380 Nova T Multiload 375 Mirena

Figura 4. Tipos de dispositivos intra-uterinos.

Contracepção 271
Quadro 5. Contra-indicações ao dispositivo intra-uterino

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— Contra-indicações absolutas
u Gravidez
u Infecção pélvica aguda recente ou recidivante
u Hemorragias genitais não diagnosticadas
u Malformações uterinas
u Miomas submucosos
u Pólipos endometriais
u Cancro genital ou suspeita
u Valvulopatias com risco de endocardite
u Tratamentos imunossupressores
u Antecedentes de gravidez extra-uterina (não consensual)
u Doença de Wilson (se DIU de cobre) (não consensual)

— Contra-indicações relativas
u Estenose cervical
u Menorragias anemia
u Coagulopatias e tratamento anticoagulante
u Pós-parto
u Alto risco de salpinge (não consensual)
u Antecedentes de salpinge (não consensual)
u Nuliparidade (não consensual)
u Tratamentos anti-inflamatórios a longo prazo (não consensual)

de inserção depende dos modelos e deve contraceptivos. Tem como vantagens a co-
ser precedida de desinfecção do colo e da modidade e a alta eficácia. Como em todos
vagina e da realização de histerometria os métodos deve ser cumprida a vigilância
para orientação da cavidade e verificação adequada. As complicações são raras e são
da permeabilidade do colo. A extracção as seguintes:
deve ser feita durante a menstruação ou — Gravidez intra-uterina.
imediatamente a seguir, bastando puxar — Gravidez extra-uterina.
suavemente os fios do dispositivo. Em caso — Perfuração.
de dificuldade de acesso aos fios, pode re- — Expulsão.
correr-se à histeroscopia. — Infecção.
Os possíveis efeitos indesejáveis são as dores No caso de gravidez intra-uterina impõe-
pélvicas e as hemorragias, que são temporá- se retirar o DIU, quando os fios ainda estão
rias bem como o aumento do fluxo menstrual. acessíveis.
Está indicado nas situações de contra-in- A gravidez extra-uterina é rara mas é mais
dicação à contracepção hormonal, nas frequente nos DIU com progestativo pelo
mulheres que pretendem suspender a con- efeito que estes têm de abrandamento da
tracepção oral ou nos casos de não cum- motilidade tubar. Deve ter-se em atenção as
primento adequado de outros métodos situações predisponentes como é o caso de

272 Capítulo 16
antecedentes de gravidez extra-uterina, an- 3.5.2. PRESERVATIVO
tecedentes de plastias tubares ou de salpin-
ge. A mulher deve estar alertada para essa O preservativo masculino está descrito no

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eventualidade para que se faça o diagnósti- capítulo dos métodos barreira, pág. 188.
co atempadamente.
A perfuração uterina acontece muito rara- 3.5.3. CONTRACEPÇÃO HORMONAL
mente (0,6 a 3,3 por cada 1.000 colocações) MASCULINA
habitualmente na altura da colocação ou
imediatamente a seguir e em situações A contracepção hormonal masculina tem
favorecedoras como desvios uterinos, di- em vista a inibição da espermatogénese
ficuldade de ultrapassar o orifício interno por inibição da FSH e da LH. Esta inibição
do colo ou fixidez uterina. Pode acontecer foi testada com a inibina, a testosterona, e
mais tardiamente por migração transpa- com os análogos da GnRH, sem êxito. Não
rietal. Neste caso a extracção é feita por foi conseguida uma azoospermia mas sim
laparoscopia. uma oligozoospermia e, por outro lado
A expulsão pode passar despercebida por os efeitos secundários imediatos, nome-
ter lugar durante a menstruação e é também adamente a diminuição do desempenho
rara. Caso aconteça deve reavaliar-se a indi- sexual, quando se utilizam os análogos de
cação antes de se colocar novo DIU. GnRH ou a ginecomastia e acne com os an-
Quanto à infecção é uma complicação gra- drogénios, bem como o aumento do risco
ve que pode acarretar consequências para de cancro da próstata, teve como conse-
a saúde da mulher e pôr em risco a fertili- quência não ser aceite qualquer destes
dade futura e está relacionada com os fac- tipos de contracepção hormonal até ao
tores de risco. Quando a selecção é criterio- momento.
sa e são respeitadas as contra-indicações, São prometedoras as associações de pro-
nomeadamente de ordem infecciosa (an- gestativos com androgénios uma vez que
tecedentes de doença inflamatória pélvica, a taxa de azoospermia conseguida é mais
risco de doenças de transmissão sexual e elevada e os efeitos secundários menos re-
nas mulheres imunodeprimidos) e cum- levantes.
pridas as condições de assepsia durante a
colocação, o risco é muito baixo. O risco de 3.6. ESTERILIZAÇÃO
infecção é menor com os dispositivos con-
tendo progestativos. A esterilização distingue-se dos outros mé-
todos contraceptivos no que se refere à re-
3.4.3. DISPOSITIVO INTRAUTERINO versibilidade. Foi durante anos considerado
COM PROGESTERONA um método irreversível mas com as técnicas
de microcirurgia e de procriação assistida a
Este tipo de dispositivo está descrito em sua reversibilidade passou a ser possível.
3.3.11 deste capítulo.
3.6.1. ESTERILIZAÇÃO FEMININA
3.5. CONTRACEPÇÃO MASCULINA
A laqueação tubar pode ser realizada por
3.5.1. COITO INTERROMPIDO laparoscopia, laparotomia ou por via tran-
suterina.
É um método não recomendável pela baixa Por via laparoscópica são utilizadas dife-
eficácia e os aspectos negativos na vida se- rentes técnicas como seja a electrocoagu-
xual do casal. lação, a colocação de anéis de Yoon ou a

Contracepção 273
colocação de clipes, segundo a preferência 3.7. CONTRACEPÇÃO DE URGÊNCIA
do médico. Esta via é a mais vulgarmente
utilizada hoje em dia. Também chamada pílula do dia seguinte ou

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A técnica de Pomeroy é a utilizada habitu- contracepção pós-coital, é utilizada após uma
almente por laparotomia. A eficácia é mais relação sexual presumivelmente fecundante.
elevada quando se opta pela electroco- Pode recorrer-se a compostos hormonais estro-
agulação mas é também menos provável progestativos, progestativo isolado ou ao DIU.
o êxito nas situações em que se pretende A pílula estroprogestativa é constituída por
fazer a repermeabilização tubar. As com- quatro comprimidos contendo 50 μg de
plicações são as inerentes à laparotomia etinilestradiol e 250 μg de levonorgestrel. A
ou laparoscopia. primeira toma deve ser o mais cedo possível
Por via histeroscópica procede-se à colo- em relação ao coito presumivelmente fecun-
cação de uma hélice metálica (essure) na dante e até às 72 horas após este, e a segun-
porção inicial da trompa o que vai condi- da 12 horas mais tarde.
cionar uma reacção local de destruição da Existe uma elevada incidência de vómitos e
trompa. Tem a vantagem de se realizar sem náuseas.
anestesia o que tem indicações precisas, A contracepção de urgência só com proges-
nomeadamente contra-indicação cirúrgica. tativo é composta por dois comprimidos
É uma técnica ainda com pouco tempo de com 75 μg de levonorgestrel. A toma deve
recuo para avaliação da eficácia e complica- ser o mais perto possível da hora do coito e
ções. Obriga a um período de utilização de até 72 horas.
outros métodos associados durante meses, A eficácia da contracepção de urgência não é
uma vez que a obstrução tubar se dá mais habitualmente quantificada, pois atendendo
tardiamente. Há autores que aconselham à particularidade deste tipo de contracep-
a realização de histerossalpingografia para ção, não é possível saber quais as situações
avaliar a oclusão tubar. em que poderia ocorrer gravidez. A eficácia é
A laqueação tubar está indicada na contra- mais elevada quanto mais cedo for instituída.
indicação médica à gravidez ou aos outros Aceita-se, no entanto, que a contracepção só
métodos contraceptivos e quando a mulher com progestativo é superior à contracepção
o deseja. Em Portugal pode ser realizada de urgência estroprogestativa Há referência a
por vontade da mulher depois dos 25 anos taxas de eficácia de 94 a 99%.
de idade. Como contracepção de urgência, o DIU pode
ser colocado até cinco dias depois das rela-
3.6.2. ESTERILIZAÇÃO MASCULINA ções sexuais não protegidas. Embora tenha
uma alta eficácia, na maioria dos casos não
A vasectomia consiste na laqueação dos de- está indicado por se tratar habitualmente
ferentes por via percutânea sob anestesia de jovens que optam preferencialmente por
local. A azoospermia só se obtém passados contracepção hormonal.
quatro a seis meses e deve ser assegurada A contracepção de urgência está indicada
pela realização de espermograma. nos casos de eventual falhanço de outro
As complicações são raras e sem gravida- método, nas situações de violação ou de re-
de e a reversibilidade é baixa. As técnicas lação sexual inesperada ou ocasional poten-
de procriação assistida podem solucionar cialmente fecundantes.
os casos em que se venha a desejar nova A contracepção de urgência estroprogesta-
gravidez. tiva está contra-indicada nos casos de risco
As indicações são habitualmente a contra- tromboembólico e não há contra-indicação
indicação médica à gravidez na mulher. para a utilização dos progestativos isolados.

274 Capítulo 16
Tal como o nome indica é um tipo de contra- 3.8.2. CONTRACEPÇÃO NA PERIMENOPAUSA
cepção a utilizar como método de excepção.
A contracepção nesta faixa etária tem carac-

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3.8. CONTRACEPÇÃO EM terísticas específicas e que se relacionam com
SITUAÇÕES PARTICULARES uma menor taxa de fertilidade e os riscos
inerentes a uma gravidez nesta idade e, por
3.8.1. CONTRACEPÇÃO NA ADOLESCENTE outro lado há uma menor actividade sexual
e eventualmente contra-indicação aos méto-
A contracepção na adolescente reveste-se de dos mais usuais. A partir dos 40 anos a con-
características particulares. A eficácia de todos tracepção deve ser adaptada ao desequilíbrio
os métodos é menor do que na mulher mais hormonal, muitas vezes já presente, e que se
idosa, o que se deve por um lado a uma maior manifesta por irregularidades menstruais.
dificuldade de cumprimento da contracepção A contracepção recomendada será o DIU
e por outro a uma fertilidade mais elevada e a de cobre ou com progestativo consoante o
mais actividade sexual. Há ainda um factor a caso clínico. O DIU com progestativo é uma
ter em consideração que é o risco de contrair boa escolha nas situações de irregularidades
doenças de transmissão sexual, mais elevado menstruais e fluxo abundante pois confere
neste grupo etário, o que pode pôr em risco a uma elevada eficácia e pode continuar para
fertilidade ou a saúde da adolescente. além da menopausa na terapêutica hormo-
Nesta faixa etária são frequentes também nal associado a estrogénios.
situações que podem beneficiar com o uso Com o aparecimento dos estroprogestati-
da contracepção estroprogestativo como vos de baixa dosagem com progestativos de
a dismenorreia, síndrome pré-menstrual, segunda e terceira geração, a contracepção
irregularidades menstruais e o acne que in- oral pode ser utilizada até à menopausa em
terferem com a qualidade de vida da ado- mulheres saudáveis não fumadoras com a
lescente. O método contraceptivo ideal não vantagem de regularização dos ciclos e da
deveria interferir com o acto sexual, deven- prevenção em relação ao cancro do endo-
do manter os ciclos regulares e não provocar métrio e do ovário, que é particularmente
alterações do peso. relevante nesta idade.
A contracepção aconselhada na adolescen- Quando há contra-indicação aos estrogé-
te9 é a pílula de baixa dosagem de 20 ou 30 nios, a micro pílula progestativa ou os pro-
μg de etinilestradiol e com progestativos de gestativos em doses elevadas 20 dias no mês
segunda ou terceira geração, associada ao podem ser a escolha em situações clínicas
preservativo para a prevenção das doenças como a adenomiose e menorragias.
de transmissão sexual. A escolha do tipo de Os métodos de barreira podem ser uma ou-
pílula depende do perfil da jovem nomea- tra opção quando correctamente utilizados.
damente de situações clínicas que possam A esterilização é um método aconselhado
beneficiar de um tipo específico de compos- para esta faixa etária.
tos. O anel vaginal e o patch são boas opções
para as adolescentes que têm dificuldade 3.8.3. CONTRACEPÇÃO NA MULHER DIABÉTICA
em cumprir a toma diária da pílula.
Nas adolescentes com alto risco de não cum- A contracepção na mulher diabética deve
primento do método pode optar-se pelo im- ser eficaz, uma vez que nestes casos a gravi-
plante de progestativo ou pelo progestativo dez deve ser programada.
injectável, embora com o inconveniente da Como se sabe, os contraceptivos hormonais
perda de regularidade dos ciclos o que pode interferem com o metabolismo dos hidratos
levar a sua suspensão. de carbono podendo provocar aumento da

Contracepção 275
glicemia e da insulinemia e que é dependen- Bibliografia
te da dose.
Quando se coloca o problema da contracepção 1. Speroff L, Darney PD. A Clinical Guide for Contracep-

Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação   © Permanyer Portugal 2011
tion. 4.a ed. Lippincott Williams & Wilkins; 2005.
nestas mulheres é fundamental ter em atenção 2. Speroff L, Fritz M. Clinical Gynecologic Endocrinol-
o tipo de diabetes, se insulinodependente ou ogy and Infertility. 7.a ed. Lippincott Williams &
Wilkins; 2004.
não, os anos de doença e os eventuais riscos 3. Serfaty D. Contracepção. Fundação Calouste Gulben-
associados, como a obesidade, a hipertensão kian; 2002.
4. Jick SS, Kaye JA. Risk of nonfatal venous thromboem-
e a presença ou não de retinopatia. Na mulher bolism with oral contraceptives containing norges-
jovem diabética insulinodependente, o risco timate or desogestrel compared with oral contra-
ceptives containing levonorgestrel. Contraception.
da contracepção hormonal é menor do que na 2006;73:566-70.
mulher mais velha e com diabetes tipo II que 5. Middledorp S, et al. Effects on coagulation of lev-
onorgestrel and desogestrel-containing low dose oral
habitualmente é também obesa. contraceptives: across-over study. Tromb Haemost.
A contracepção com o DIU será o mais indi- 2000;84:4-8.
6. Battaglioli T, Martinell I. Hormone therapy and throm-
cado na diabética e em situações de contra- boembolic disease. Current Opinion Hematology.
indicação ao DIU pode optar-se pela micro- 2007;14:488-93.
7. Cosmi B, Legnani C, Bernardi F, Coccheri S, Palareti G.
pílula progestativa ou pelos estroprogesta- Value of Family History in Identifying Women With
tivos de terceira geração por apresentarem Thrombophilia and Higher Risk of Venous Throm-
boembolism During Oral Contraception. Arch Intern
dose mais baixa. Este tipo de contracepção Med. 2003;163:1105-9.
idealmente deve ser utilizada por períodos 8. Vessey M, Yeates D. Oral contraceptives and benign
breast disease: an update of findings in a large cohort
curtos e sob vigilância mais estreita. study. Contraception. 2007;76:418-24.
O preservativo é inócuo, mas pouco eficaz. 9. Serfaty D. Contraception des adolescentes. EMC; 2009.

276 Capítulo 16

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