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CAPÍTULO III DA TECNOLOGIA ASSISTIVA: Ticiana!

Art. 74. É garantido à pessoa com deficiência acesso a produtos, recursos, estratégias,
práticas, processos, métodos e serviços de tecnologia assistiva que maximizem sua
autonomia, mobilidade pessoal e qualidade de vida.
comentário: 

  Os obstáculos enfrentados pelas pessoas com deficiência não advêm de seus


impedimentos físicos, sensoriais ou intelectuais, mas, sim, da interação desses
impedimentos com as barreiras presentes no ambiente. 
  No que tange à tecnologia, nota-se que os recursos tecnológicos criam condições
para que se minimizem ou se removam algumas dessas barreiras ambientais, de modo a
prover aos usuários da tecnologia assistiva mais autonomia e, por conseguinte, maior
qualidade de vida e participação social.
A tecnologia, por si mesma, não elimina as barreiras ambientais, mas pode atuar
em prol desta remoção. As barreiras, por sua vez, abrangem também fatores atitudinais,
que transcendem o aspecto tecnológico.
  O presente art. da LBI está diretamente correlacionado ao fato de que se
caracteriza a Tecnologia Assistiva como produtos, equipamentos, dispositivos, recursos,
metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivem promover a funcionalidade,
relacionada à atividade e à participação da pessoa com deficiência ou com mobilidade
reduzida, visando à sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão
social( a Tecnologia Assistiva não constitui apenas um conjunto de produtos, mas, sim,
uma área de conhecimento interdisciplinar que congrega também métodos, estratégias,
práticas e serviços, construídos com a participação conjunta de profissionais e
usuários). 
  Finalmente, o presente artigo aborda a garantia de acesso à Tecnologia Assistiva,
e tal garantia pressupõe um conjunto de medidas concretas e de políticas públicas que a
torne efetiva.

 
Art. 75. O poder público desenvolverá plano específico de medidas, a ser renovado em
cada período de 4 (quatro) anos, com a finalidade de: I - facilitar o acesso a crédito
especializado, inclusive com oferta de linhas de crédito subsidiadas, específicas para
aquisição de tecnologia assistiva; II - agilizar, simplificar e priorizar procedimentos de
importação de tecnologia assistiva, especialmente as questões atinentes a procedimentos
alfandegários e sanitários; III - criar mecanismos de fomento à pesquisa e à produção
nacional de tecnologia assistiva, inclusive por meio de concessão de linhas de crédito
subsidiado e de parcerias com institutos de pesquisa oficiais; IV - eliminar ou reduzir a
tributação da cadeia produtiva e de importação de tecnologia assistiva; V - facilitar e
agilizar o processo de inclusão de novos recursos de tecnologia assistiva no rol de
produtos distribuídos no âmbito do SUS e por outros órgãos governamentais. 

comentário: 

  Os recursos de Tecnologia Assistiva são imprescindíveis à vida de seus usuários.


Eles não se prestam apenas a facilitar ações cotidianas, mas a torná-las possíveis. Por
isso, o acesso a esses recursos é indispensável a essa população, e a falta dele, por
conseguinte, agrava a desigualdade entre essas pessoas e as demais. 
  Logo, facilitar o acesso a esta gama de ferramentas representa promover a
equiparação de oportunidades e, consequentemente, favorecer a inclusão destas pessoas
em diferentes áreas. 
  Conceber e implementar políticas públicas que facilitem o acesso à Tecnologia
Assistiva significa regulamentar esse processo, criando uma gestão articulada entre os
diferentes setores envolvidos, tais como: o setor produtivo, acadêmico/de pesquisa e
governamental. 
  Quanto à disponibilização de linhas de crédito específicas para a aquisição de
recursos de Tecnologia Assistiva, destaca-se a criação, em fevereiro de 2012, do Crédito
Acessibilidade, que adveio de uma parceria entre o Banco do Brasil e o Governo
Federal. Mediante o surgimento desse programa, a Portaria Interministerial nº 362, de
24 de outubro de 2012 estabeleceu o limite de renda mensal dos tomadores de recursos
nas operações de crédito para aquisição de bens e serviços de Tecnologia Assistiva
destinados às pessoas com deficiência, assim como abordou o rol dos bens e serviços
financiáveis.    Posteriormente, por meio da Portaria Interministerial nº 604, de 24 de
dezembro de 2013, houve uma ampliação dos recursos passíveis de financiamento,
incorporando-se novos itens anteriormente 210 Da tecnologia assistiva não
contemplados, tais como: adaptações arquitetônicas e serviços relacionados à
manutenção e avaliação de Tecnologia Assistiva. No que se refere aos produtos de
Tecnologia Assistiva comumente adquiridos pelos usuários, nota-se que grande parte
deles não são de origem nacional, havendo a necessidade de importá-los. Por isso, é
preciso facilitar e agilizar estes procedimentos de importação, desobstruindo, sobretudo,
os aspectos alfandegários e sanitários, bem como reduzindo ou eliminando a respectiva
tributação. Não obstante haver muitos produtos importados, é necessário criar incentivo
à produção nacional, a começar pela pesquisa e pela geração de conhecimento na área, e
posterior transferência desta tecnologia ao mercado. Este é também um aspecto que
envolve a articulação entre os diferentes setores já citados, e assim supõe-se que a
criação destas medidas catalise esta interação. O estímulo à pesquisa em Tecnologia
Assistiva pressupõe, especialmente, o envolvimento das Agências de Fomento, por
meio das quais se abram editais e chamadas públicas destinadas à participação de
institutos ou centros de pesquisa. Destaca-se também a criação da Rede Nacional de
Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação em Tecnologia Assistiva, que congrega núcleos
de pesquisas vinculados a instituições de todo o País, selecionados por meio de edital
específico. A organização dessas pesquisas em rede pressupõe a articulação entre elas,
assim como o mapeamento e a distribuição das diversas temáticas relacionadas à área
por entre estes núcleos. Quanto ao rol de produtos ofertados pelo SUS ou pelos órgãos
governamentais competentes, deve haver uma lista de produtos suficientemente ampla
para contemplar as reais necessidades da população. Atualmente o SUS disponibiliza
uma lista de dispensação de produtos que é periodicamente revista, composta
predominantemente por órteses, próteses e meios auxiliares de locomoção. A revisão da
lista de produtos ofertados e da tabela de procedimentos previstos “é necessária e exige
um olhar permanente para atualizações, visto a necessidade de adequações na relação
entre as demandas existentes e os recursos de Tecnologia Assistiva disponíveis para
efetivamente garantir o direito constitucional da pessoa com deficiência” (Caro, 2014, p.
523). No sentido de subsidiar os Estados membros na formulação de políticas públicas
voltadas à Tecnologia Assistiva, a Organização Mundial de Saúde (OMS) elaborou uma
lista contendo 50 produtos assistivos prioritários, a exemplo da lista de medicamentos
essenciais, já elaborada por essa organização. Trata-se de uma relação que pode servir
de modelo, feitas as ressalvas quanto à adequação desta à realidade de cada país bem
como quanto à periódica atualização dos itens que a compõe, conforme surjam novos
recursos ao longo do tempo. É importante que haja mecanismos de disseminação destas
medidas previstas no plano relativo à Tecnologia Assistiva, de forma que a população
conheça estes direitos e os respectivos modos de fazê-los cumprir. 211 Lei brasileira de
inclusão da pessoa com deficiência - Comentada A dispensação de produtos pelo SUS,
por exemplo, deve ser compreendida pelo seu público-alvo como um direito, e não
como uma prática assistencialista pela qual se realize doação ou caridade. Sendo um
direito, os produtos devem ser corretamente prescritos por profissionais qualificados,
capazes de compatibilizar os recursos disponíveis com as demandas e com as
singularidades do usuário. O usuário, por sua vez, deve ser devidamente capacitado a
utilizar esse recurso, uma vez tendo sido prescrito adequadamente. 

Parágrafo único. Para fazer cumprir o disposto neste artigo, os procedimentos


constantes do plano específico de medidas deverão ser avaliados, pelo menos, a cada 2
(dois) anos. 

comentário:
Recomenda-se que o plano composto pelas medidas aqui mencionadas seja avaliado
pelo menos a cada dois anos, no sentido de monitorar o andamento e os resultados de
suas ações. Ressalta-se também que essa avaliação periódica é relevante em função do
próprio dinamismo da Tecnologia Assistiva, como área do conhecimento passível de
avanços e de atualizações.

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