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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS


Procuradoria-Geral de Justiça
20ª Procuradoria de Justiça

Câmaras Reunidas

Se impresso, para conferência acesse o site http://consultasaj.tjam.jus.br/esaj, informe o processo 4000940-50.2016.8.04.0000 e o código 460F07.
Mandado de Segurança
Processo nº. 4000940-50.2016.8.04.0000
Impetrante : Alexandre de Oliveira Rocha
Impetrado : Secretaria de Estado de Educação e Qualidade do Ensino do Estado
Amazonas
Relator: Des. Wellington José de Araújo
______________________________________________________________________

Parecer nº. 031.2016.20.2.1.1084482.2016.12114

Colendas Câmaras,

Eminente Desembargador Relator,

Tratam os presentes autos de Mandado de Segurança,

Este documento foi assinado digitalmente por PUBLIO CAIO BESSA CYRINO.
impetrado por ALEXANDRE DE OLIVEIRA ROCHA, contra suposto ato

coator cometido pelo EXMO. SR. SECRETÁRIO DE ESTADO DE EDUCAÇÃO E


QUALIDADE DO ENSINO DO ESTADO DO AMAZONAS.

Relata o impetrante que obteve a segunda colocação para a

vaga de Professor de Ensino Religioso, para o município de Itacoatiara,

conforme Resultado Final do Concurso Público nº 001-2014/SEDUC, executado

pela Fundação Getúlio Vargas.

Expõe que foi nomeado e empossado, iniciando suas atividades

na escola desde o dia 11.02.2016. Assevera que, a partir do dia 15/02/2016,

iniciou suas atividades em sala de aula pontualmente, desenvolvendo o assunto

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concernente à sua matéria e até aplicando testes para algumas das vinte classes

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que lhes foram designadas.

Aduz que, no dia 25.02.2016, foi informado que deveria

comparecer ao Departamento Pessoal da Coordenadoria Regional de

Itacoatiara – CREI para tomar ciência de assunto de seu interesse.

Ao chegar no local, recebeu cópia de um e-mail, emitido pela

Sra. Sônia de Oliveira, Técnica do Recrutamento e Seleção da Gerência de

Promoção e Valorização do Servidor, no qual informava que não poderia fazer

parte do quadro de servidores da Secretaria, por não preencher os requisitos do

edital do item 3, devendo, portanto, ser afastado de sala de aula.

Salienta, respaldado pela Súmula 21 do STF, que funcionário

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em estágio probatório não poder ser exonerado nem demitido sem inquérito ou

sem as formalidades legais de apuração de sua capacidade. Esclarece, ainda,

que é Bacharel em Teologia, tendo em sua grade curricular as matérias

pertinentes à desenvoltura do ensino religioso.

Requer a concessão da liminar, determinando-se a cassação do

ato ilegal, mantendo o impetrante no exercício efetivo de seu trabalho, bem

como o pagamento de sua remuneração. Ao final, requer a concessão definitiva

da segurança.

Às fls. 200, Decisão do Exmo. Sr. Desembargador Relator,

acautelando-se quanto ao pedido de concessão de liminar.

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Às fls. 205-209, contestação do Estado do Amazonas, aduzindo,

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em síntese, que não houve ilegalidade no ato administrativo, visto que este

apenas determinou o afastamento do impetrante de sala de aula.

É o relatório. Passo a considerar.

I - DA CONCESSÃO DA SEGURANÇA

Como é sabido, a Administração Pública detém o poder-dever

de rever e anular seus atos, quando eivados de vícios que os tornem ilegais,

ante o teor da Súmula 473 do Supremo Tribunal Federal.

Esse poder de autotutela, entretanto, não é absoluto, estando

sujeito a limitações, resguardando-se os princípios da segurança jurídica e do

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devido processo legal.

Conforme se verifica nos autos, a autoridade coatora suprimiu

direitos , anteriormente concedidos, retirando unilateralmente o direito do

impetrante de exercer seu trabalho em sala de aula, mesmo tendo sido

aprovado e nomeado através de certame público.

Em verdade, é imprescindível que tal ato seja precedido do

correspondente procedimento administrativo, assegurando-se o exercício do

contraditório e da ampla defesa, consoante inteligência do art. 5º, LV, da CF.

Embora a Administração possua o poder-dever de anular os

seus próprios atos este poder-dever não se sobrepõe ao princípio da

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segurança jurídica ou ao da estabilidade dos atos administrativos já

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praticados, sob pena de gerar-se o caos.

Desta forma, constata-se, no caso trazido à baila, que foi

imposta ao servidor/professor uma sumária interrupção de seu efetivo

exercício do magistério, sem o regular processo administrativo,

desrespeitando, assim, os direitos individuais fundamentais, bem como do

devido processo legal, ampla defesa e contraditório.

A jurisprudência é pacífica no sentido de que a

Administração Pública não pode cancelar direito, concedido anteriormente,

sem que instaure o devido procedimento administrativo, oportunizando ao

particular a defesa de seus interesses. Vejamos algumas decisões:

Apelação Cível - Direito Administrativo - Ação

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Ordinária - Atos da Administração Pública -
Descontos nos Vencimentos de Servidor - Ausência
de Processo Administrativo - Impossibilidade. Ao
fazer uso de sua prerrogativa de anular os atos
viciados, praticados em sua esfera, a Administração
Pública deve respeitar o interesse do administrado,
possibilitando-lhe participar e impugnar a
anulação, por meio de procedimento próprio, no
qual sejam respeitados o contraditório e a ampla
defesa, o que, na hipótese em análise, não ocorreu.
Não é razoável admitir que, em nome do interesse
da coletividade, possa a Administração Pública
cancelar direito concedido ao particular sem ao
menos ouvi-lo, porquanto estaria, assim,

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prejudicando os direitos individuais fundamentais


do cidadão, dentre os quais o do devido processo

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legal. (TJMG, Número do processo:
1.0153.06.059241-4/002(1); Numeração Única:
0592414-42.2006.8.13.0153; Relator: Des.(a) DÁRCIO
LOPARDI MENDES; Data do Julgamento:
27/10/2011; Data da Publicação: 30/01/2012)

AÇÃO ORDINÁRIA - ALEGAÇÃO DE


PAGAMENTOS FEITOS A MAIOR - DESCONTOS -
AUSÊNCIA DE PRÉVIO PROCESSO
ADMINISTRATIVO - ILEGALIDADE - REVISÃO -
DECURSO DE CINCO ANOS - DECADÊNCIA. -
Pode o Estado anular seus próprios atos quando
eivados de vícios, como por exemplo, aquele que
tenha concedido aos servidores vantagens ou
vencimentos indevidos. Todavia não existe
possibilidade legal de que tais descontos possam

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ser feitos unilateralmente e sem prévio
conhecimento do servidor, sob pena de ofensa ao
princípio do contraditório e da ampla defesa. - A
Administração pode rever os atos por ela praticados
que estejam eivados de nulidade, no entanto, deve
realizar essa alteração no prazo de cinco anos. -
Sentença confirmada. (TJMG, Numeração Única:
0346055-75.2010.8.13.0024; Relator: Des.(a) HELOISA
COMBAT; Data do Julgamento: 29/09/2011; Data da
Publicação: 19/10/2011)

CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO -
MANDADO DE SEGURANÇA - SERVIDORA

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PÚBLICA ESTADUAL - DESCONTOS EM SEUS


VENCIMENTOS - PROCESSO ADMINISTRATIVO -

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AUSÊNCIA DO DEVIDO PROCESSO LEGAL,
CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA -
ILEGALIDADE - NULIDADE DECLARADA -
DIREITO LÍQUIDO E CERTO CARACTERIZADO -
CONCESSÃO DA SEGURANÇA - MANUTENÇÃO
- INTELIGÊNCIA DO ART. 5º, LIV E LV DA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. Inexistindo
instauração de regular processo administrativo e
nem sendo permitida a defesa da parte interessada,
ilegal e arbitrário é ato praticado pela
Administração Pública, sem que se observe os
princípios constitucionais do contraditório, da
ampla defesa e do devido processo legal.
CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO -
MANDADO DE SEGURANÇA - SERVIDORA
PÚBLICA ESTADUAL - DESCONTOS EM SEUS

Este documento foi assinado digitalmente por PUBLIO CAIO BESSA CYRINO.
VENCIMENTOS - PROCESSO ADMINISTRATIVO -
AUSÊNCIA DO DEVIDO PROCESSO LEGAL,
CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA -
ILEGALIDADE - NULIDADE DECLARADA -
DIREITO LÍQUIDO E CERTO CARACTERIZADO
- CONCESSÃO DA SEGURANÇA -
MANUTENÇÃO - INTELIGÊNCIA DO ART. 5º, LIV
E LV DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA.
Inexistindo instauração de regular processo
administrativo e nem sendo permitida a defesa da
parte interessada, ilegal e arbitrário é ato praticado
pela Administração Pública, sem que se observe os
princípios constitucionais do contraditório, da ampla
defesa e do devido processo legal. (TJMG, Número
do processo: 1.0479.06.109191-0/001(1); Numeração

Processo nº. 4000940-50.2016.8.04.0000 6de7


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Única: 1091910-68.2006.8.13.0479; Relator: Des.(a)


DORIVAL GUIMARÃES PEREIRA; Data do

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Julgamento: 01/03/2007; Data da Publicação:
23/03/2007).

Resta caracterizado, portanto, o direito líquido e certo do

impetrante, posto que o afastamento do impetrante de sala de aula não foi

precedido do regular processo administrativo.

II - CONCLUSÃO

Por todo o exposto, manifesta-se este Parquet pela concessão da

segurança, determinando à autoridade coatora que providencie o retorno do

impetrante à sala de aula, devendo este fazer jus ao correspondente pagamento.

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Salienta-se, todavia, que o servidor apenas poderá ser retirado de seu efetivo

exercício após a instauração de processo administrativo, observadas as

garantias constitucionais do contraditório e ampla defesa.

É o parecer.

Manaus/AM, 15 de abril de 2016.

PÚBLIO CAIO BESSA CYRINO


Procurador de Justiça

Processo nº. 4000940-50.2016.8.04.0000 7de7

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