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Tópicos em Direito 1

Sumário
TÓPICO 6 – Direito internacional.....................................................................................05

1 Introdução...............................................................................................................05

2 Características do Direito Internacional Público............................................................06

2.1 Direito Interno vs. Direito Internacional........................................................................06

2.2 Teorias.....................................................................................................................07

2.3 Considerações..........................................................................................................07

3 Fontes do Direito Internacional Público.......................................................................07

3.1 Tratados...................................................................................................................07

3.2 Costume Internacional “Jus non scriptum” (justiça ou direito não escrito).........................08

3.3 Princípios Gerais do Direito........................................................................................08

3.4 Doutrina..................................................................................................................09

3.5 Jurisprudência..........................................................................................................09

3.6 Equidade.................................................................................................................09

4 Sujeitos de Direito Internacional Público......................................................................09

4.1 Estados....................................................................................................................09

4.1.1 Objetivo..........................................................................................................09

4.1.2 Subjetivo.........................................................................................................10

4.1.3 Direitos e deveres dos Estados...........................................................................10

4.1.4 Imunidade de jurisdição....................................................................................11

4.1.5 Representação internacional .............................................................................11

4.2 Organizações ou Organismos Internacionais para fins do Direito Internacional Público.....11

4.2.1 Tratados..........................................................................................................11

4.2.2 Estrutura..........................................................................................................12

4.2.3 Organizações Internacionais..............................................................................12

4.3 Direito de integração.................................................................................................14

4.3.1 Direito comunitário...........................................................................................15

4.3.2 Blocos integrados.............................................................................................16

5 Tratados..................................................................................................................18

5.1 Efeitos jurídicos.........................................................................................................20

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5.2 Expressão de consentimento.......................................................................................20

5.3 Procedimento parlamentar no Brasil............................................................................21

5.4 Conceitos importantes sobre tratados..........................................................................21

5.5 Extinção dos tratados.................................................................................................22

5.6 Ingresso no Direito Interno.........................................................................................22

6 Domínio internacional público...................................................................................22

7 Conflitos internacionais.............................................................................................23

7.1 Formas de solução dos conflitos.................................................................................23

1 Introdução...............................................................................................................25

2 Conflito de leis no espaço.........................................................................................25

3 Distinção entre o direito uniforme, o direito comparado e a lex mercatória......................25

3.1 Direito uniforme........................................................................................................25

3.2 Direito comparado....................................................................................................26

3.3 Lex Mercatória..........................................................................................................26

4 Elementos de conexão – noções gerais e conceito........................................................26

5 Aplicação de direito estrangeiro.................................................................................27

6 Reconhecimento da competência internacional em matéria de jurisdição........................28

7 Homologação de sentença estrangeira........................................................................28

8 Cooperação judiciária internacional...........................................................................29

9 Regime de provas nos processos com conexão internacional.........................................29

10 Contratos internacionais............................................................................................30

10.1 Conceito e características dos contratos internacionais................................................30

10.2 Princípios contratuais internacionais..........................................................................31

10.2.1 Princípio da pacta sunt servanda ......................................................................31

10.2.2 Princípio da ordem pública..............................................................................31

10.2.3 Princípio da autonomia da vontade..................................................................31

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Tópico 6 Direito internacional

I – Direito internacional público

1 Introdução
Muitos doutrinadores entendem que um sinônimo dessa matéria seria consignado pela expressão
“Direito das Gentes”, pela sua incidência generalizada nos Estados Nacionais (Obs.: sempre que
mencionarmos “Estados” estaremos o fazendo no sentido coloquial de “Países”) e demais entes
internacionais.

Trata-se de ramo do Direito composto de tratados, costumes, princípios gerais de Direito e de-
mais formas extraterritoriais de expressão do Direito, que regulamentam as relações entre os
sujeitos de Direito Internacional Público, no âmbito do Direito Público, e a dos entes particulares
em suas relações externas, no âmbito Privado.

Abordaremos as principais questões de Direito Internacional Público que estão diretamente liga-
dos aos seus sujeitos, os quais serão estudados oportunamente.

A visualização da parte pública da matéria é a mais árdua e prevê a análise dos seguintes ele-
mentos:

1. Positivismo: o Direito Internacional Público é o menos positivado dos ramos do Direito.

2. Negação ou confirmação da existência do Direito Internacional.

A seguir, fazemos um contraste entre as negações e as confirmações da existência desse ramo


do Direito.

• Negações:

1) inexistência de órgão legislativo que edite normas atinentes ao Direito Internacional;

2) inexistência de Tribunal, corte ou juiz competente para julgar os Estados e demais


sujeitos de Direito Internacional Público – em outras palavras, ausência de um Poder
Judiciário Internacional acima de todos;

3) inexistência de força pública devidamente revestida de poderes para fazer cumprir o


direito internacional, ou seja, falta coercitividade.

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• Confirmações:

1) tratados, convenções, pactos internacionais e os costumes internacionais normatizariam


o Direito Internacional Público;

2) existência da Corte Internacional de Justiça, do Tribunal Penal Internacional,


subsidiariamente, a ONU e demais organizações ou organismos internacionais,
além dos Tribunais Especiais da ONU: Tribunal de Nuremberg para o julgamento
dos criminosos Nazistas depois da Segunda Guerra Mundial, Tribunal de Tóquio
para o julgamento dos japoneses acusados de crimes de guerra no final da Segunda
Guerra Mundial, Tribunal de Ruanda (África), Tribunal para os Crimes Praticados na
Ex-Iugoslávia etc.;

3) medidas internacionais de pressão por meio de interferência militar e não militar


(embargos, boicotes, pressão, sanções etc.)

2 Características do Direito Internacional


Público
A determinação dos sujeitos de direitos internacional público é importante para o estudo da
matéria, pois é necessário identificar as partes envolvidas. Contudo, a doutrina não é unânime
nessa delimitação.

Há uma concordância geral em relação a dois desses sujeitos: os Estados (nações) e as organi-
zações ou organismos internacionais para fins do Direito Internacional Público.

Assim, temos como sujeitos de Direito Internacional: os Estados (Brasil, Argentina, Alemanha etc.)
e as organizações internacionais (ONU, OMC, FMI, BID, UNICEF, FAO etc.)

Outros sujeitos bem aceitos pela doutrina: Santa-Sé (trata-se do Estado do Vaticano, o qual, por
seu caráter de sede de uma religião, é considerado atípico e, dessa forma, melhor tratado como
exceção) e a Cruz Vermelha Internacional.

Conforme dissemos, existem correntes doutrinárias que incluem outros sujeitos: pessoas naturais
(indivíduos), pessoas jurídicas de Direito Privado, Organizações não Governamentais (ONGs) e
outras organizações diversas.

Esses entes ou sujeitos serão mais bem estudados oportunamente, sendo que o art. 42 do Código
Civil em vigor determina quais seriam estes sujeitos perante o Direito Brasileiro: “São pessoas
jurídicas de direito público externo os Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas
pelo direito internacional público”.

2.1 Direito Interno vs. Direito Internacional


Em muitas situações, o Direito Interno de cada Estado e o Direito Internacional disputam seu
vigor, devendo-se decidir qual desses ramos prevaleceria.

O Direito Interno é o conjunto de normas, princípios e fontes do sistema jurídico de um Estado,


com destaque para as normas e leis que são editadas por um poder (legislativo) e julgadas por
outro poder (Judiciário), ambos superiores a todos os cidadãos desse Estado.

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A diferenciação mais notada é a de que a normatização do Direito Interno se opera verticalmente
(um poder acima de todos cria a norma) e o Direito Internacional é normatizado horizontalmente
– de forma negociada/coordenada pelos Estados.

A disputa de vigência, ocorre geralmente quando determinado Estado se compromete interna-


cionalmente através de um tratado, que, ao ser ratificado, ingressa no Direito Interno e se con-
trapõem com as normas editadas internamente.

2.2 Teorias
Dualismo: independência total entre o Direito Interno e o Direito Internacional – as normas de
um ramo não têm necessariamente que seguir as do outro ramo.

Monismo: toma o Direito como amplo, ou seja, há a integração entre o Direito Interno e o Direito
Internacional.

• Monismo Internacionalista: preponderância, predominância do Direito Único Internacional.

• Monismo Nacionalista: o Direito Interno prevalece e há a aplicação do Direito Internacional


submetido aos interesses internos de cada Estado.

2.3 Considerações
• Monismo: o Direito Internacional e o Direito Interno são dois ramos do mesmo sistema;
todos os direitos emanam da mesma fonte. Defesa do Monismo: o Direito já está se
internacionalizando, pois várias são as áreas que obrigatoriamente se utilizam de normas
internacionais. Ex.: Comunicação, Aviação e Navegação Internacional.

• Dualismo: o Direito Internacional, em casos extremos, somente se aplicaria em um Estado


caso fosse transformado em norma interna.

A corrente adotada pelo Brasil é considerada como Monismo Nacionalista por boa parte da
doutrina.

3 Fontes do Direito Internacional Público


São as bases nas quais se funda o Direito, ou os elementos subsidiários que possam formular ou
esclarecer o direito. As mais aceitas, apesar de o entendimento não ser pacífico, são as constan-
tes do art. 38 do Estatuto da Corte Internacional de justiça.

3.1 Tratados
São compromissos que brotam da deliberação coletiva dos sujeitos de Direito Internacional Públi-
co através de documentos denominados “Tratados Normativos”, ou seja, aqueles que formulam
regras de caráter geral objetivando nortear as relações entre esses mesmos sujeitos de Direito
Internacional. Os tratados, além de serem uma norma internacional, são, também, considerados
um pacto, o que faz com que o tratado tenha duplo efeito: normativo e compromisso.

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Por isso os tratados são mais do que “leis” (ou normas) para o Direito Internacional, por terem
também força contratual. No caso do Brasil, quando ratificados, os tratados são equiparados às
leis ordinárias na ordem hierárquica. Estudaremos os tratados com mais profundidade, pois por
agora nos interessa como fonte primordial do Direito Internacional.

3.2 Costume Internacional “Jus non scriptum”


(justiça ou direito não escrito)
O Direito Consuetudinário é a origem da maioria das normas jurídicas, quer pela sua positiva-
ção via tratados, quer pela sua aplicação através do próprio conceito de costume. Costume é a
prática reiterada com a aceitação como obrigatória pela sociedade internacional.

Trata-se de um conjunto de atos, práticas e normas contínuas e não escritas, admitidas por dila-
tado prazo e observadas pelos Estados em suas relações mútuas como se direito fossem.

Elementos:

• material/objetivo: repetição uniforme de certas práticas em ocorrências semelhantes;

• psicológico/subjetivo: crença de que a norma obedecida é obrigatória e correta;

• consentimento (é um elemento não unânime entre os doutrinadores): o voluntarismo não


é admitido entre todos os juristas, mas alguns entendem que o Estado para o qual se exige
a prática de determinado costume deve aceita-lo.

3.3 Princípios Gerais do Direito


São regras que se impõem a todos os Estados, qualquer que seja o grau de civilização (imposi-
ção do mundo ocidental e seus valores ao resto do mundo), e por eles obedecidos por serem as
mesmas conclusões lógicas do direito à sua existência.

São oito os princípios gerais do Direito:

• respeito à integridade territorial e soberania dos Estados;

• não agressão (militar);

• não interferência aos negócios internos;

• autodeterminação dos povos (cada Estado tem autonomia para firmar compromissos
internacionais para servir suas questões internas);

• igualdade de benefícios e direitos entre os Estados;

• solução pacífica das controvérsias;

• coexistência pacífica; e

• boa-fé no cumprimento das obrigações internacionais.

Há outros princípios, como: liberdade de comunicação marítima; regras do bom Direito etc.

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3.4 Doutrina
É fonte auxiliar do Direito Público Internacional. É o entendimento exposto em livros, pareceres
e opiniões pessoais de estudiosos do Direito e de juristas acerca de questões relativas ao Direito
Internacional.

3.5 Jurisprudência
São regras jurídicas advindas das decisões judiciais; aplicação auxiliar por ser mera prática do
Direito, e não norma propriamente dita. Apenas auxilia o julgador na formação do seu convenci-
mento, e os tribunais internacionais que fornecem e fornecerão as decisões: Corte Internacional
de Justiça, Tribunal Penal Internacional etc.

3.6 Equidade
Combinação entre a razão e a boa-fé, buscando no equilíbrio a função primordial do direito à
justiça. O caso concreto deve ser analisado de forma justa e razoável, de acordo com a forma-
ção do julgador. E a linha entre o Direito Natural e o Direito Positivo.

4 Sujeitos de Direito Internacional


Público
A definição e a designação dos sujeitos de Direito Internacional Público já foi estudada ante-
riormente. Porém, peste tópico, vamos estudar os dois principais grupos de sujeitos do Direito
Internacional Público: Estados e Organizações Internacionais.

4.1 Estados
São pessoas jurídicas de Direito Público Externo, constituindo-se numa criação humana possuin-
do os elementos constitutivos descritos a seguir.

4.1.1 Objetivo
• Território: base física do Estado.

• População: será a base humana do Estado, constituindo seus habitantes/povo.

• Soberania: existem várias definições sobre tal elemento, e uma dessas define: internamente
– como o poder de um governo sobre os elementos anteriores (território e população);
e externamente – como a independência de um Estado em relação aos demais sujeitos.

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4.1.2 Subjetivo
• O reconhecimento da existência de um Estado pelos demais sujeitos de Direito Internacional
Público: é um elemento inerente às relações internacionais e não é aceito por todos os
doutrinadores, posto que os elementos objetivos seriam suficientes para a caracterização
do ente Estatal. De qualquer forma, na prática, tal elemento é aplicável. Por exemplo:

»» Taiwan – possui os elementos objetivos, mas tem sua existência contestada pela China,
a qual a declara como “Província Rebelde”. Além disso, poucos Estados reconhecem
Taiwan como Estado, mas praticamente todos negociam e comercializam com ele;

»» Palestina: possui parte dos elementos objetivos, mas ainda possui controvérsia sobre
território (disputa com Israel).

• Sucessão e extinção: os Estados podem ser sucedidos por outros ou até mesmo deixarem
de existir, e as principais situações são:

»» absorção total ou parcial de um Estado pelo outro. Exemplos: antes parte do território
da Bolívia, hoje se constituí em parte do território brasileiro – Acre; antes parte do
território Russo, hoje se constituí em parte do território dos Estados Unidos da América
– Alasca;

»» fusão: união de dois ou mais Estados para formar um terceiro. Exemplos: formação
da atual Itália; quando formação da antiga União Soviética;

»» dissolução: um Estado que se dissolve formando vários. Exemplo: antiga União


Soviética, que de dissolveu formando vários Estados – Rússia, Ucrânia, Lituânia,
Estônia; Geórgia, Cazaquistão etc.;

»» desmembramento: parte do território de um Estado se emancipa e forma outro Estado.


Exemplos: antiga província Cisplatina, que se separou do Brasil e formou o atual
Uruguai; parte do território da Colômbia, que atualmente forma o Panamá; parte do
território da Etiópia, que atualmente se constituí na Eritreia.

4.1.3 Direitos e deveres dos Estados


Como qualquer pessoa jurídica, os Estados possuem obrigações e prerrogativas.

• Direitos:

»» essenciais: direito à existência e à igualdade perante os demais Estados. Essa igualdade


determina o critério qualitativo das relações internacionais, o qual significa que todos
os Estados são equivalentes simplesmente por terem os elementos necessários à sua
existência. O critério qualitativo se contrapõe ao critério quantitativo, o qual diferencia
os Estados por aspectos mensuráveis (tamanho territorial, economia, número de
habitantes etc.);

»» adquiridos: decorrentes dos pactos firmados (tratados, acordos etc.) e pelos costumes
internacionais.

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• Deveres:

»» morais: humanização, boa-fé, urbanidade das relações internacionais. O


descumprimento desses deveres, em tese, não suscita a aplicação de sanção;

»» jurídicos: obrigações contraídas e que têm o cumprimento legalmente respaldado.


Geralmente são assumidas através de tratados firmados. Têm o condão de permitir a
aplicação de sanções pelo seu descumprimento.

4.1.4 Imunidade de jurisdição


É uma prerrogativa que certos representantes de um Estado (Chefes de Estado, Ministros das
Relações Exteriores, Embaixadores etc.) possuem no território de outro em virtude do cargo ou
função ocupados. Essa imunidade é uma interpretação de que esses representantes, ao respon-
derem em nome de certo Estado, teriam direitos inerentes ao cargo, por exemplo, o de, em certas
situações, serem demandados em seu próprio Estado.

4.1.5 Representação internacional


Os Estados são representados, por serem pessoas jurídicas, por pessoas naturais habilitadas
(Chefes de Estado etc.), os quais serão melhor estudados quando discorrermos sobre a represen-
tação das partes no firmamento dos Tratados.

4.2 Organizações ou Organismos


Internacionais para fins do Direito Internacional
Público
São associações de sujeitos de Direito Internacional Público as criadas por tratado e que pos-
suem um Estatuto regulamentador, órgãos e estrutura, com personalidade internacional distinta
de seus membros. Os membros das Organizações Internacionais são os Estados, mas nada
impede que outras Organizações Internacionais venham também a sê-lo. A finalidade deve ser
nobre e internacionalmente aceita.

*Observação: ressaltamos que as organizações a serem estudadas são as que têm característi-
cas para fins de Direito Internacional Público, o que afasta, para fins didáticos, outros tipos de
organizações com atuação internacional, por exemplo, as ONGs, que, além de terem caráter
privado, não têm todos os elementos que estudaremos.

4.2.1 Tratados
As Organizações Internacionais têm competência para firmar tratados. Por exemplo, os tratados-
-sede, através dos quais uma organização firma um documento para erigir sua sede em deter-
minado Estado.

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4.2.2 Estrutura
As organizações possuem a estruturação descrita a seguir.

• Órgãos

»» Assembleia Geral: órgão perante o qual todos os membros, desde que efetivos, têm
a mesma representação. Reúne-se:

·· ordinariamente: segundo periodicidade prevista no Estatuto da organização para


que seus membros discutam sua atividade;

·· extraordinariamente: mediante convocação para tratar de tema urgente.

»» Secretaria: órgão administrativo da organização, o qual cuida da sua gestão


burocrática.

»» Conselhos: órgãos com função especializada, que auxilia a organização a ter


departamentos específicos para certos temas. Não fazem parte da estrutura básica das
organizações e, dessa forma, somente algumas os têm (geralmente as organizações
políticas). Tais conselhos, não necessariamente, terão todos os membros representados.

• Funcionamento

»» Secretário-geral: gestor principal/diretor/presidente da organização. Geralmente


possui mandato, seguindo a sua escolha, a duração de seu turno, a reeleição, nos
termos do tratado de criação da organização ou do Estatuto.

»» Altos funcionários: são funcionários graduados com funções relevantes e diretivas.


Sua escolha costuma atender, da melhor forma possível, um rateio entre os membros.
Em muitas vezes, têm mandato com regras previstas no Estatuto.

4.2.3 Organizações Internacionais


São exemplo de Organizações Internacionais:

• ONU – Organização das Nações Unidas;

• OEA – Organização dos Estados Americanos;

• FMI – Fundo Monetário Internacional;

• OMC – Organização Mundial do Comércio;

• OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte; etc.

Vale destacar que a organização também está sujeita a uma aceitação da Comunidade Inter-
nacional. Por exemplo, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) não é aceita
por todos os Estados como sendo uma Organização, por se entender que a sua finalidade de
controle da produção e manipulação de preços a constitui como sendo um cartel, o que afasta
sua finalidade nobre.

4.2.3.1 ONU – Organização das Nações Unidas


Vamos nos ater, brevemente, ao estudo da maior e mais importante das Organizações Interna-
cionais para fins do Direito Internacional Público: a ONU.

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A ONU não surgiu de um efeito isolado ou através de um processo de criação curto e sem an-
tecedentes, o seu surgimento é atribuído, em parte, a uma experiência anterior, que era a Socie-
dade das Nações (SDN).

A SDN – foi uma organização que surgiu logo após o final da Primeira Guerra Mundial, com
objetivos pacifistas, e tinha entre seus objetos o de evitar um novo grande conflito militar interna-
cional. Deixou de existir com o começo da Segunda Guerra Mundial, em 1939.

• Membros da ONU

»» Originários ou fundadores: participaram das negociações para a criação ONU.

»» Admitidos: ingressaram posteriormente ao surgimento da ONU; aderiram ao tratado


na Carta das Nações Unidas (elaborada em 1945). Exemplo dos poucos que não fazem
parte é a Suíça, que somente recentemente começou o seu processo de admissão.

• Idiomas oficiais

»» Inglês, Francês, Espanhol, Russo, Chinês e Árabe.

• Sede

»» Estados Unidos da América, precisamente na cidade de Nova York.

• Estrutura

»» Assembleia Geral e Secretaria, Conselhos e Corte Internacional de Justiça (CIJ).


Observação: perante a Assembleia Geral, todos os Estados membros têm a mesma
representação (mesmo número de “cadeiras”, segundo coloquialmente dito).

• Conselhos

»» Conselho de Segurança: analisa conflitos internacionais, decide sob a forma de


solução de certos conflitos, sendo composto de 15 Estados, todos com direito a voto –
10 deles não têm “cadeira” permanente, sendo escolhidos entre os membros da ONU,
e não tem direito a veto, e 5 são permanentes, com direito a veto, sendo representados
pelos seguintes países: Estados Unidos, Grã-Bretanha, China, Rússia e França. Tal
estrutura contemplou, basicamente, os vencedores da Segunda Guerra Mundial e, por
essa razão, a Alemanha e o Japão, apesar de serem potências econômicas mundiais,
não fazem parte dos membros permanentes com direito a veto.

»» Conselho Econômico e Social: discute políticas internacionais voltadas para os


setores socioeconômicos. Sua finalidade é voltada ao desenvolvimento econômico e
social dos Estados.

»» Conselho de Tutela: cuida de Estados que estão passando por dificuldades e


precisando de apoio. Sua finalidade é a melhoria da representatividade dos Estados
frágeis.

»» Corte Internacional de Justiça: julga divergências envolvendo Estados. Sua sede


é Haia, na Holanda. Seus Juízes são escolhidos pelos membros permanentes do
Conselho de Segurança.

»» Secretaria: administra a ONU.

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• Finalidade

»» Busca da pacificação internacional, do desenvolvimento econômico e social


internacional, da melhoria da representação dos Estados “frágeis” (pois trata como
iguais todos os Estados, mesmo os com território ou economia menores), sendo um
fórum permanente para o diálogo internacional.

4.3 Direito de integração


É o estudo do processo de integração dos sujeitos de Direito Internacional Público, principalmen-
te os Estados, visando a formação de blocos regionais, por exemplo: União Europeia, Mercosul,
Nafta etc.

Tal ramo do Direito Internacional determina uma reação de proteção de certos Estados ao fe-
nômeno da globalização como forma de defesa à competitividade internacional através da for-
mação de blocos de Estados. Para alguns doutrinadores, a formação desses blocos é um dos
fenômenos geradores da globalização, e não propriamente uma reação a ela.

Com certeza, essa integração se acentuou com a derrocada do mundo socialista, posto que
criou uma nova realidade no mundo atual: a competição desenfreada entre os próprios Estados
capitalistas.

O estudo é feito através das etapas (fases) de integração, as quais surgem primeiramente para
atender a questões de comércio internacional e avançam sobre aspectos sociais, políticos, mi-
litares, jurídicos etc. Diversas dessas fases têm sido devidamente conceituadas por normas in-
ternacionais de liberalização do comércio internacional, por exemplo, o General Agreement on
Tariffs and Trade (GATT).

A seguir, serão descritas essas fases.

1. Zona de livre comércio

Redução substancial das regulamentações comerciais restritivas, exigências burocráticas diferen-


ciadas para produtos importados em relação aos produtos nacionais etc., objetivando (ao final
do ciclo da fase) a eliminação das barreiras alfandegárias, tarifárias, quotas, bloqueios, direitos
de aduana etc. entre os membros do bloco.

Observação: majoritariamente os blocos permanecem nessa fase em virtude da dificuldade no


avanço sobre as próximas fases, conforme se depreende abaixo.

2. União Aduaneira

Conjunto de regras e tarifas de comércio exterior designadas para os membros de um bloco na


sua relação com terceiros (Estados fora do bloco ou outros blocos). Mesmas regras comerciais,
alfandegárias e tarifárias aplicáveis por todos os membros pertencentes ao bloco.

• Tarifa Externa Comum (TEC): nessa fase da integração, é criada a TEC, designando uma
tarifa uniforme para as relações entre os membros do bloco para com os outros Estados
(terceiros).

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3. Mercado Comum

Após as questões de comércio internacional, outras são abordadas, determinando a liberação do


trânsito de pessoas, bens, capitais etc., sendo as mais importantes as seguintes:

• trânsito de pessoas: permissão para os indivíduos de cada um dos Estados membro


circularem livremente nos Estados do bloco;

• circulação de bens e produtos: eliminação de qualquer impedimento e restrição à entrada


e a saída de bens e produtos entre os Estados;

• liberdade de trabalho: permissão de exercício de atividades profissionais e prestação de


serviços dentro do bloco;

• liberdade na circulação de capitais: admissão sem impedimentos na entrada e saída de


capitais entre os membros do bloco, o que facilita as trocas comerciais entre eles;

• liberdade de competição: regras e órgãos de concorrência com as mesmas determinações


entre os membros, admitindo e fomentando as regras de mercado no bloco, visando
melhorar a qualidade, reduzir custos e preços etc.

4. União econômica e monetária

Designação de política econômica comum, banco central unificado e mesmo meio circulante
(moeda) para todos os membros, visando aprimorar a integração econômica.

5. União política

Fase na qual o bloco chegará muito próximo de uma federação ou confederação, posto que terá
uma intensa integração externa com liderança unificada e constituição comunitária, denotando
uma relativização ainda mais extrema da soberania dos membros. Tal situação ainda é hipoté-
tica, não tendo chegado nenhum bloco em tal elevado grau de unificação. Cogita-se que seria
semelhante à formação atual dos Estados Unidos da América, o qual tem sido considerado a
federação ideal com estados federados fortes, mas uma liderança externa única.

4.3.1 Direito comunitário


Após o estudo do Direito da Integração, vamos entrar em um ramo que é decorrente deste: o
Direito Comunitário. Também denominado de Direito Supranacional, o Direito Comunitário de-
signa o conjunto de normas, preceitos e fontes do Direito a serem aplicadas nas questões que
envolvam os membros de um bloco formado pelo processo de integração, visando regulamentar
a interdependência criada por ele. Dessa forma, ao surgirem questões jurídicas relacionadas
com aspectos que fogem das questões internas dos Estados Membro de um bloco, deverá o Di-
reito Comunitário dirimi-las.

As normas da União Europeia formam o mais sofisticado sistema jurídico do Direito Comunitário,
em virtude do alto grau de integração atingido por esse bloco, conforme será mais bem estudado
adiante.

A partir do momento em que a integração avança em suas fases, as questões meramente de


comércio internacional fazem surgir outras mais peculiares que precisam ser solucionadas pelo
Direito.

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4.3.2 Blocos integrados


A seguir, estudaremos alguns blocos internacionais. Observe que a Área de Livre Comércio das
Américas (ALCA) – a ser formada potencialmente por todos os Estados das Américas, exceto
Cuba – não será abordada, pois a formação desse bloco ainda está em fase de negociação.

4.3.2.1 União Europeia


É a união econômica e monetária formada por Estados europeus, composta de vários órgãos
supranacionais visando alcançar um alto nível de integração. Trata-se da experiência mais bem-
-sucedida do Direito da Integração pela sofisticação de sua estrutura e pela fase adiantada que
atingiu.

• Breve esboço histórico de formação

A Benelux (vide adiante) é considerada a organização predecessora da União Europeia


através das primeiras fases do Direito da Integração entre Bélgica, Holanda e Luxemburgo.
Contudo, com o conturbado período pós Segunda Guerra Mundial, tais planos de
expansão para outros Estados Europeus ficaram paralisados, e somente foram retomados
bem adiante. Com a retomada das negociações, a União Europeia foi formada por seis
Estados: Alemanha, França, Itália e os três da Benelux (Bélgica, Holanda e Luxemburgo).
Em 1973 ingressaram Dinamarca, Irlanda e Reino Unido; em 1981, a Grécia; em 1986,
Espanha e Portugal; em 1995, Áustria, Finlândia e Suécia; e atualmente o bloco avança
sobre o Leste europeu.

• Membros

Os 15 membros em situação mais avançada de integração são: Itália, Holanda, Alemanha,


França, Bélgica, Luxemburgo, Reino Unido*, Irlanda, Dinamarca, Grécia, Espanha,
Portugal, Áustria, Finlândia e Suécia. Os 10 membros que ingressaram recentemente (em
2004) e estão se adequando às exigências da integração são: Polônia, Chipre, Hungria,
Lituânia, República Tcheca, Eslováquia, Estônia, Malta, Eslovênia e Letônia. Dois que
ingressaram em 2007: Bulgária e Romênia; o que ingressou em 2013: Croácia. Há o
caso singular da Turquia, que está avançando em suas reformas para atingir às exigências
europeias de integração, mas possuí resistência por parte de certos Estados membros e,
por conta disso, não se vislumbra previsão de data de ingresso. *Observação: O Reino
Unido decidiu em 2016 não ser mais membro da União Europeia e, dessa forma, está em
processo de saída do bloco.

• Órgãos

»» Parlamento Europeu: composto de deputados representantes de todos os Estados


membros, os quais:

·· legislam mediante normas comunitárias;

·· proferem pareceres, por exemplo, sobre acordos internacionais;

·· opinam acerca das decisões da Comissão Europeia etc.

»» Conselho de Ministros: composto de membros de cada Estado, designando e


auxiliando na implementação de políticas econômicas e nas decisões comunitárias.

16 Laureate- International Universities


»» Comissão Europeia: é formada por indivíduos escolhidos entre os Estados com a
finalidade de assegurar o funcionamento da estrutura do bloco, através de:

·· fiscalização do cumprimento e da implementação das diretivas comunitárias e dos


tratados firmados;

·· estipulação e adoção de medidas de desenvolvimento econômico de seus


membros;

·· criação e administração de fundos de compensação, buscando diminuir a


discrepância econômica entre os Estados etc.

»» Tribunal (Europeu) de Justiça: integrado por seis procuradores e quinze juízes,


nomeados para mandato pelos Estados Membros, julga questões que envolvam a
aplicação das normas comunitárias, tendo, ainda, uma função consultiva perante os
tribunais de cada Estado.

»» Tribunal de Contas: controla a execução do orçamento, da aplicação dos fundos da


União Europeia e de todas as suas receitas e despesas, tanto pela sua licitude como
pelos bons princípios contábeis.

• Euro

Em virtude da sua fase de integração, a União Europeia já dispõe de moeda única. A


adoção dessa moeda pelos membros depende de: aceitação destes através da abolição
da moeda nacional e de aprovação pela União Europeia por meio da análise econômico-
financeira da situação do membro optante.

O Euro é a moeda única de 17 dos membros da União, não tendo sido adotada com
exclusividade, ou seja, com a abolição da moeda local, por: Reino Unido, Suécia e
Dinamarca, e pela maior parte dos novos ingressantes.

4.3.2.2 Mercosul
A designação da fase na qual se encontra o Mercosul não é unânime entre os doutrinadores, o
quais divergem se este se encontra na segunda ou na terceira fase de integração. Como defi-
nição, entende-se como a União Aduaneira com certos tratados e designações de formação de
Mercado Comum entre alguns Estados da América do Sul, visando, primeiramente, a integração
através de comércio internacional, avançando para outros aspectos, principalmente relacionados
com a negociação conjunta com outros sujeitos de Direito Internacional Público fora do bloco.

• Breve Histórico

A cooperação entre os Estados da América Latina já esteve na pauta de negociação


em diversas oportunidades, e a mais conhecida é a relativa a criação da Associação
Latinoamericana de Desenvolvimento e Integração (ALADI), que, apesar de não ter
atingido a finalidade integracionista, serviu para melhorar a cooperação entre esses
Estados. Porém, a criação do Mercosul foi levada a cabo posteriormente pelos seus dois
integrantes com a economia mais relevante: Brasil e Argentina, os quais firmaram, a
partir de 1986, diversos tratados de liberalização comercial que vieram a ser integrados
pelo Paraguai, Uruguai e Venezuela. Dentre esses Tratados, destaca-se o de Assunção
(1991), que é considerado o marco da criação do Mercosul pelo avanço negocial que
representou e pelas estipulações integracionistas que designou.

17
Tópicos em Direito 1

• Membros

Os membros efetivos do Mercosul são: Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela*.


Já os potenciais novos membros (estados associados), que estão em negociação, são:
Chile, Bolívia etc. *A Argentina, o Brasil e o Uruguai votaram em 2016 pela suspensão da
Venezuela do Mercosul até o final de 2016, para que esta cumpra exigências do bloco.
Nessa votação, o Uruguai absteve-se.

• Órgãos Principais

»» Conselho do Mercado Comum: composto de Ministros das Relações Exteriores


(ou Negócios Estrangeiros) e da área econômica dos membros, é o órgão mais
importante do Mercosul, com reuniões periódicas das quais participam, ao
menos uma vez por ano, os presidentes dos Estados membros.

»» Grupo do Mercado Comum: zela pelo cumprimento dos Tratados e pelas


determinações do Conselho do Mercado Comum através de resoluções.

»» Comissão de Comércio do Mercosul: é o órgão de assessoramento do Grupo do


Mercado Comum.

»» Comissão Parlamentar Conjunta: é integrado por parlamentares dos Estados


Membros e elabora recomendações para o Conselho.

»» Foro Consultivo Econômico-Social: presta assessoria através de pareceres


solicitados pelos demais órgãos.

5 Tratados
Os tratados constituem a principal norma de Direito Internacional Público, ou Direito das Gen-
tes, como designam certos doutrinadores. Dentro das fontes do Direito, os tratados ocupam uma
faixa equivalente, apesar de não exata, às Leis, se fizermos um paralelo com o Direito Interno
brasileiro.

A origem dos Tratados remonta à antiguidade, na qual o Império Egípcio já os firmavam, prin-
cipalmente para colocar fim a guerras. Já o Império Romano, com o advento de seu avanço
jurídico, colaborou para aprimorar a qualidade técnica-jurídica desses instrumentos.

Com o passar dos anos, os tratados multilaterais surgiram e começaram a ser cada vez mais
comuns na comunidade internacional. Outro ponto de evolução dos tratados é decorrente da
possibilidade de outro sujeito de Direito Internacional Público, além dos Estados, poder firmá-los:
as Organizações Internacionais.

A evolução da qualidade técnica dos tratados sofreu, como já mencionamos, influência do Direi-
to Romano e, na atualidade, possui alto grau de sofisticação, principalmente após o advento da
Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados (1969), a qual veio a regulamentar a elabora-
ção dos textos desses compromissos internacionais.

• Principais menções aos tratados na Constituição Federal brasileira

»» Artigo 5, §2o e §3o (vide Emenda Constitucional 45/2004)

»» Artigo 49, I

»» Artigo 84, VIII

18 Laureate- International Universities


»» Artigo 102, III, b

»» Artigo 105, III, a

»» Artigo 109, V

• Formato

»» Título: dá o nome ao tratado.

»» Preâmbulo: são os sujeitos de Direito Internacional Público que são parte do acordo
internacional.

»» Consideranda: é o objetivo do tratado determinando as razões que levaram ao


firmamento desse compromisso e seus objetivos.

»» Articulado: são os artigos contendo as disposições normativas, com detalhamento do


documento e da assunção de compromisso pelas partes.

»» Fecho: data, local, número de vias originais e idioma escolhido pelas partes como
oficial.

»» Assinatura: as pessoas naturais que estiverem representando os pactuantes assinam


o tratado (determinaremos mais adiante quais podem assinar).

»» Selo de lacre: cada Estado coloca seu selo, emblema com seu brasão representativo

• Elementos extraídos da definição legal constante da Convenção de Viena sobre o


Direito dos Tratados (1969)

»» Acordo internacional: animus contrahendo e pacta sunt servanda.

»» Por escrito: não pode ser verbal.

»» Entre Estados: alteração posterior, incluindo as Organizações Internacionais de Direito


Internacional Público no rol dos que podem firmar tratados (ONU, por exemplo).

»» Regido pelo Direito Internacional: perante a Comunidade Internacional que


regulamenta sua aplicação, é o Direito Internacional, mas em aspectos internos de
cada pactuante o Direito Interno possui, invariavelmente, disposições que não podem
ser desprezadas.

»» Celebrado em instrumento único mais conexo (anexos, adendos etc.).

»» Ausência de denominação particular: posto que os tratados podem receber outras


denominações (convenções, cartas, compromissos etc.), porém o mais importante é
verificar se o instrumento possui as características necessárias para a sua configuração,
e não necessariamente a denominação está entre elas.

»» Conceito: “Ato jurídico segundo o qual os Estados e organismos internacionais que


obtiverem personalidade por acordo entre diversos Estados criam, modificam ou
extinguem uma relação de direito existente entre eles”.

19
Tópicos em Direito 1

• Terminologia (outras formas de denominação)

Não há consenso sobre o significado de certas denominações correlatas (ou sinônimas)


de tratados, porém as principais são:

»» convenção: tratados multilaterais com grande eficácia internacional;

»» declaração: tratados meramente conceituais ou que determinam direitos sem designar


formas de aplicação prática;

»» carta: tratados de criação de Organizações Internacionais;

»» protocolo: tratados que criam especificações para outros tratados;

»» pacto: acerto de que os pactuantes vão seguir a mesma linha de relações internacionais
em certas questões;

»» acordo: finalização de conflitos, acerto etc.

»» concordata: são os tratados firmados pelo Vaticano;

»» convênio: são os tratados de cooperações;

»» compromisso: são os que instituem a arbitragem para a solução de controvérsias.

5.1 Efeitos jurídicos


Os tratados têm duplo efeito jurídico: de norma e de compromisso. São normas quando criam
determinações internacionais normatizando a relação entre as partes e, até mesmo, outras ques-
tões internacionais, como o Tratado da Antártida, que disciplina o uso dessa área por toda a
comunidade internacional.

Por outro lado, os compromissos não deixam de ser contratos, avenças entre as partes. A carac-
terística contratual do tratado é decorrente de sua própria origem de pacto firmado pela livre
autonomia das partes. Mescla um pouco de lei e de contrato; é um ato jurídico e normativo.

5.2 Expressão de consentimento


O consentimento é expresso pelo representante do Sujeito de Direito Internacional Público, como
já estudado, das formas descritas a seguir.

• Assinatura: expressão de consentimento sobre o texto do tratado, determinando o


compromisso do pactuante em cumprir seus requisitos internos (ratificação etc.) para
colocar o tratado em vigor. Vale relembrar que nos acordos executivos basta a assinatura
para colocar em prática o tratado.

»» Finalidades da assinatura: determina o encerramento das negociações, define o texto


final, do tratado, designa quais serão as vias originais etc.

20 Laureate- International Universities


• Ratificação: coloquialmente, define-se a ratificação como a confirmação do tratado pelo
parlamento após a assinatura pelo representante do Estado. O doutrinador Rezek assim a
define: “É um ato unilateral com que o sujeito de Direito Internacional Público, signatário
de um tratado, exprime definitivamente no plano internacional, sua vontade de abrigar-
se”. De qualquer forma, independentemente dos atos que necessitam ser praticados, a
ratificação tem por finalidade essencial sabermos se ela está vigente, ou seja, se está
valendo. Nessa linha, tem como conceito: é a comunicação internacional emitida por
uma parte às demais de que efetivamente o tratado está em vigor. Isso significa que
o trâmite constitucional interno já foi cumprido, via de regra, pelo Poder Legislativo –
Parlamento. Razões para a existência da ratificação:

»» redução de erro, dolo, coação e corrupção;

»» necessidade de participação parlamentar no poder, posto que o representante do


Poder Executivo negociou e assinou o tratado, e o representante do Judiciário o
aplicará como norma.

5.3 Procedimento parlamentar no Brasil


No Brasil, o procedimento parlamentar se dá da seguinte forma, resumidamente: o Presidente da
República envia uma mensagem ao congresso Nacional, informando as razões do firmamento do
tratado e o pedido a sua ratificação; vai primeiramente para a Câmara dos Deputados votar; se
aprovado, vai para o Senado votar; se rejeitar, arquiva; se aprovado pelo Senado, é emitido um
Decreto Legislativo, ocorre a promulgação, é publicação no Diário Oficial, e, por fim, é enviada a
informação para os demais pactuantes do Tratado de que o compromisso está em vigor no Brasil.

5.4 Conceitos importantes sobre tratados


• Adesão: é o ingresso de determinada parte em tratado do qual não participou da
negociação, aderindo a um compromisso que já está em vigor e aceitando suas disposições.

• Reservas: é o firmamento de certo tratado com ressalvas acerca de certos aspectos, o que
pode significar a limitação da vigência do compromisso, as quais, regra geral, não são
admitidas nos tratados bilaterais.

• Registro do tratado: os tratados são registrados perante a ONU e demais organizações


internacionais de cunho político com as quais o pactuante tenha se comprometido e junto
ao depositário.

• Depositário: é uma das partes do tratado que se incumbe de cuidar dos aspectos
burocráticos e cartoriais dos instrumentos, por exemplo, controle de ratificações.

• Denúncia: ato pelo qual determinado Estado informa aos demais que não fará mais parte
do tratado.

21
Tópicos em Direito 1

5.5 Extinção dos tratados


A extinção dos tratados pode ocorrer por formas específicas, descritas a seguir.

• Pelo encerramento do prazo, caso seja tratado por prazo determinado.

• Pela denúncia de uma das partes em tratado bilateral.

• Pela perda do objeto.

• Pela estipulação comum das partes (espécie de distrato).

5.6 Ingresso no Direito Interno


A questão da integração normativa interna é uma das mais polêmicas sobre os tratados. Segundo
boa parte da doutrina e da jurisprudência, no Brasil, os tratados ingressam em categoria hierár-
quica equivalente às leis ordinárias. Contudo, a recente Emenda Constitucional nº 45/2004 de-
terminou que os tratados que versem sobre direitos humanos e que passem pelo mesmo quórum
de votação de emenda constitucional nas duas casas do Congresso Nacional vão ingressar na
categoria normativa de emenda constitucional, e os tratados sobre direitos humanos aprovados
antes da Emenda Constitucional nº 45/2004 ingressaram na categoria supralegal (abaixo da
Constituição Federal, mas acima das demais normas).

6 Domínio internacional público


Áreas de domínio internacional público são as áreas sobre as quais nenhum Estado tem sobe-
rania e toda a comunidade internacional tem interesse e potencialmente pode desfrutar de sua
utilização para fins de pesquisa científica, aviação, navegação e, até mesmo, em certos casos,
exploração econômica. Sua regulamentação se dá por tratados internacionais, versando sobre a
utilização dessas áreas.

Um exemplo desse tipo de área é o mar territorial, extensão da área de soberania de um Estado
em direção do mar, englobando, o leito, subsolo, a superfície e o espaço aéreo. Há exceção à
soberania absoluta se houver “passagem inocente” e contínua de embarcações, e não se poderá
determinar que houve invasão de soberania, devendo, dessa forma, tal passagem ser tolerada.

O mar territorial brasileiro foi estabelecido por força de lei em 200 milhas marítimas (cerca de
372 quilômetros) e conta-se desde a linha litorânea em maré baixa (linha de base) avançando
sobre o mar. Posteriormente, com a advento de tratados, houve a estipulação de que essa faixa
iria até 12 milhas marítimas de soberania absoluta, e as remanescentes 188 milhas teriam o
tratamento de zona econômica exclusiva.

A zona econômica exclusiva refere-se, então, à faixa litorânea não superior a 188 milhas maríti-
mas contadas. No caso brasileiro, a partir das 12 milhas acima mencionadas, na qual o Estado
pode explorar, pesquisar e preservar recursos naturais. Nessa área, o Estado tem de admitir a
liberdade de navegação, a utilização pacífica do espaço aéreo (voo de aeronaves), a instalação
de cabos subterrâneos e alguns outros usos limitados e que não coloquem em risco a segurança
do Estado costeiro.

22 Laureate- International Universities


7 Conflitos internacionais
Os conflitos internacionais são as controvérsias fáticas ou jurídicas que envolvem direta ou indi-
retamente os sujeitos de Direito Internacional Público, constituindo-se de pontos políticos, econô-
micos, territoriais e outros que levam, principalmente, os Estados a posições antagônicas, e que
devem ser solucionadas pela via pacífica ou pela medição de forças.

As Organizações Internacionais não fazem parte do rol clássico de entes conflitantes, mas, com
certeza, podem ter desavenças e até mesmo serem partícipes em conflitos. Um caso exemplifica-
tivo é a discussão dessas Organizações com outros sujeitos sobre a extensão dos direitos diplo-
máticos que podem ser atribuídas aos seus funcionários, e outro exemplo é o da discussão sobre
a atuação das forças de paz da ONU.

7.1 Formas de solução dos conflitos


• Forma pacífica: são as forças de solução de conflitos sem a utilização da força militar.

»» Diplomacia ou negociação: pelo envolvimento negocial do corpo diplomático dos


sujeitos em conflito e, em alguns casos, de terceiros interessados em auxiliar na
resolução da questão. As negociações podem ser bilaterais ou multilaterais. Mesmo
nas situações mais críticas, os diplomatas costumam se respeitar e serem respeitados
pelos Estados. Esse fato, além de configurar uma praxe internacional, também serve
para que as partes mantenham um canal de negociação (entre os diplomatas), mesmo
que a sua relação publicamente não mais exista.

• Bons ofícios: um terceiro com boa relação entre as partes em conflito as aproxima
utilizando-se de seu prestígio com ambas. A figura prestadora desses “bons ofícios”,
apesar de ser um sujeito internacional, pode contar com o carisma de uma pessoa natural
(Chefe de Estado, Embaixador etc.). Essa forma de solução de conflito serve meramente
para aproximação, sendo que o prestador não decide a questão, não opina e nem toma
conhecimento de detalhes do conflito. Se o prestador for um Estado, este poderá oferecer
seu território como área neutra para facilitar o contato e diálogo entre as partes, as quais,
em muitas das vezes, se negam a ingressar uma no território da outra.

• Consulta: estrutura acertada previamente através da qual as partes em conflito agendam


reuniões para proceder a acertos e tentar solucionar pontos controversos em sua relação.
É comum, em tratados de paz, a utilização das consultas, posto que o simples firmamento
de um tratado às vezes não é suficiente para a resolução de uma questão, havendo a
necessidade de ajustes posteriores.

• Mediação: um terceiro se oferecesse ou é convocado pelas partes, ouvindo-as, obtendo


informações e propondo uma solução para a contenda, a qual não terá efeito vinculante
e, sim, meramente propositivo. Assim, a questão não sofrerá uma decisão, mas receberá
uma opinião de solução pelo mediador. Esse mediador terá de ter seus serviços aceitos
pelas partes.

• Conciliação: trata-se de um conjunto de representantes das partes e outros neutros


em número ímpar que irão ao final de suas reuniões propor uma solução. A utilização
de técnicas de composição das partes para que cheguem à um acordo também é um
instrumento de solução de conflitos, sendo utilizada durante o procedimento conciliatório.

23
Tópicos em Direito 1

• Inquérito: forma prevista por alguns doutrinadores para a solução de conflitos que, na
verdade, é instrumento de averiguação da situação conflituosa para servir na instrução de
eventual medida de solução de conflito, como a solução judicial.

• Forma política: é a solução que envolve Organizações Internacionais, principalmente as


de cunho político. Tal solução irá se operar mediante conflitos que ponham em risco a
segurança internacional, nos quais a comunidade internacional vislumbre a necessidade
de intervenção, operando-se mesmo que as partes em conflito não tenham solicitado a
interferência. Os casos mais importantes envolvem a ONU através de:

»» Assembleia Geral: que pode ser convocada extraordinariamente para discutir e decidir
por uma solução para o conflito;

»» Conselho de Segurança: que pode se reunir e emitir uma ordem denominada resolução
com medidas de solução.

• Jurisdicionais: essa é a forma de solução na qual é proferida uma decisão que deve ser
cumprida pelas partes por ter sido emitida por órgão, organização, tribunal ou sujeito
com poderes suficientes para tanto.

• Arbitragem: instrumento que, apesar de ser jurisdicional, não é judicial de solução de


um conflito, pelo qual as partes designam um árbitro ou uma Câmara de Arbitragem com
poderes para ouvir as partes, apreciar as provas, as alegações, os documentos, as normas
(geralmente tratados) etc., proferindo, ao final de todo o procedimento, uma decisão que
deverá ser cumprida pelas partes.

• Meio jurídico:

»» compromisso arbitral: que é um instrumento independente, geralmente um tratado,


que determina que, para certa situação específica de conflito, as partes decidiram
pela solução através da arbitragem;

»» cláusula/dispositivo compromissório: dentro de um tratado sobre qualquer tema,


pode ser inserido um dispositivo (na parte articulada do tratado), determinando que,
no caso de conflito entre as partes, a arbitragem será a forma de solução.

• Judiciais: será o envolvimento de um tribunal internacional na solução da questão. O


tribunal que mais comumente é utilizado é a Corte Internacional de Justiça (CIJ) ou a Corte
de Haia, com sede em Haia, Holanda – esse tribunal tem competência para julgar Estados
que estejam envolvidos em conflitos. Uma prerrogativa, que também é importante, é a de
proferir pareceres mediante consulta visando evitar conflitos.

• Militar: a guerra é uma forma de solução de conflitos internacionais através da medição


de forças, ao contrário do que coloquialmente se diz. Dessa forma, a guerra não é
o conflito em si, sendo que o conflito é o fato que levou à guerra. Tal solução, por
óbvio, é indesejada e deve ser evitada. Contudo, caso a guerra já esteja em curso, é
importante que seja aplicado o jus in bello (direito da guerra), que é o conjunto de regras
internacionais de proteção a civis, crianças, mulheres, presos de guerra, de prevenção
ao uso de armamentos proibidos e todo o sistema de minimização dos efeitos do conflito
armado.

24 Laureate- International Universities


II – Direito internacional privado

1 Introdução
O direito internacional privado é um sobredireito, pois indica o direito aplicável, e não solu-
ciona um litígio.

Trata de um ramo que possui normas conflituais, indiretas, que não proporcionam uma solu-
ção, mas trazem o direito incidente sobre determinado fato jurídico.

2 Conflito de leis no espaço


O conflito de leis no espaço relaciona-se com a efetiva probabilidade de existir o atingimento
tautócrono de dois ou mais ordenamentos jurídicos independentes sobre dado aconteci-
mento para solucionar uma questão de direito.

3 Distinção entre o direito uniforme, o


direito comparado e a lex mercatória
Há muitas e importantes diferenças entre o Direito Internacional Privado, o Direito Uniforme,
o Direito Comparado e a Lex Mercatoria. São institutos completamente diversos, que jamais
podem ser confundidos. Assim busca-se aqui realizar uma perfunctória distinção, como se pode
detidamente analisar a seguir.

3.1 Direito uniforme


O direito uniforme é delineado por preceitos jurídicos concordantes e indicativos do direito
aplicável que estejam em vigor em dois ou mais Estados.

O instrumento jurídico utilizado para a uniformização das regras do Direito Internacional Priva-
do é o tratado internacional. Os tratados empregam-se, dentro de seu âmbito, somente perante
os Estados em que estão em vigor as normas jurídicas uniformizadas.

As regras nacionais autônomas do Direito Internacional Privado permanecem com vigência pe-
rante os Estados não signatários das convenções. Assim, o Direito Internacional Uniformizado é
fruto de entendimentos entre Estados e se concentram nas atividades econômicas de natureza
internacional.

No século XIX, surgiu a ideia de criação de sistema de regras de Direito Internacional Privado de
caráter universal.

As convenções internacionais de Direito Internacional Privado uniforme são elaboradas em


conferências especializadas, patrocinadas por Organizações Internacionais Intergovernamen-
tais. Não é o objeto do Direito Internacional Privado a formação de um Direito Uniforme.
O que existem são tratados internacionais que promovem a uniformização de algumas normas.

25
Tópicos em Direito 1

3.2 Direito comparado


O Direito comparado é o corpo de conhecimentos sistematizado que estuda, mediante con-
traposição, vários sistemas jurídicos, examinando suas regras positivas, suas fontes, sua história
e os diversos agentes sociais e políticos que os inspiram.

São exames confrontantes entre diversos sistemas jurídicos. A análise consiste na aproximação
e no cotejo de dois ou mais conjuntos de elementos normativos que possuam similitude, ou
não, com o objetivo de estabelecer parâmetros para a aplicação de regras.

O Direito comparado é um processo específico de estudo entre dois ou mais ordenamentos


jurídicos. Trata-se, portanto, de um método de estudo, e não de um ramo jurídico.

O Direito Internacional Privado não é um Direito comparado, pois a disciplina não exige
o conhecimento das normas dos diversos Estados, mas a percepção das regras da ciência que
sejam aplicáveis às relações jurídicas que possuam elementos de estranheza.

3.3 Lex Mercatória


Lex Mercatoria é um conjunto de normas que compõe um sistema jurídico completo, com me-
canismos de solução de controvérsias e sanções próprias, criado com o objetivo de aumentar a
segurança nas diversas relações jurídicas comerciais internacionais realizadas entre indivíduos
que se localizam em diferentes Estados.

A atual Lex Mercatoria data da década de 1960 e traz diferenças em relação à antiga, que foi
criada na Idade Média contemporânea do renascimento comercial. A Lex Mercatoria hodierna
busca sustentação nos sistemas jurídicos dos Estados para a recognição de suas fontes,
execução das decisões arbitrais, e tem suas bases estabelecidas em quatro fundamentos: usos
profissionais, contratos-tipo, regulamentações profissionais ditadas nos limites de cada profissão
por suas associações representativas e a jurisprudência arbitral.

As regras do Direito Internacional Privado não se confundem com a Lex Mercatoria, e são
autônomas em relação a ela.

4 Elementos de conexão – noções gerais


e conceito
Conexão é a ligação, é o contato entre uma situação da vida e a norma que vai regê-la.
Conceitualmente, elementos ou circunstâncias de conexão são normas estabelecidas pelo Di-
reito Internacional Privado que indicam o Direito aplicável a uma ou diversas situações jurídicas
unidas a mais de um sistema legal.

São também denominadas normas indiretas (ou indicativas), pois apontam o Direito que po-
derá ser empregado no caso concreto nas relações particulares com conexão internacional,
sem solucioná-lo. Os elementos de conexão corporificam-se num elemento essencial para a
solução de conflitos de leis no espaço.

As variadas legislações nacionais de Direito Internacional Privado orientam-se por eles, que in-
dicam a norma jurídica adequada à solução de controvérsias entre as partes. Observam-se

26 Laureate- International Universities


diversas circunstâncias imediatamente relacionadas ao caso concreto, utilizadas pela regra de
Direito Internacional Privado para apontar a lei competente.

Como as regras de Direito Internacional Privado são essencialmente indicativas do Direito apli-
cável para resolver discórdias legais ou intersistemáticas, não seria possível colocá-las em
prática sem determinarem-se parâmetros de subordinação jurídica extraterritorial, ou seja, é
fundamental que a regra colisional possua em seu conteúdo um meio instrumental com ca-
pacidade de apontar a ordem jurídica que deve preponderar na solução de desinteligências
interespaciais.

Os elementos de conexão são tradicionalmente enunciados em latim, no Direito Internacional


Privado, e viabilizam a resolução do Direito a ser empregado no caso concreto.

5 Aplicação de direito estrangeiro


É possível a aplicação de lei estrangeira no Brasil. E é importante lembrar que a lei é fonte pri-
mária do Direito. Não se faz distinção entre lei nacional e estrangeira.

A lei a ser aplicada deve levar em consideração a correta subsunção, ou seja, a perfeita ade-
quação entre a norma jurídica abstrata e o caso concreto.

Inicialmente, observa-se que a aplicação de uma lei estrangeira é orientada pela sua invocação
por pelo menos uma das partes em um litígio perante o Poder Judiciário. Desse modo, cabe à
parte que invocar lei estrangeira trazer aos autos a prova do seu teor e de sua vigência.

Quando for completamente inviável a produção da prova do seu teor e da sua vigência, o juiz
brasileiro aplicará o Direito nacional, para que o litígio não fique sem solução.

É relevante destacar que o magistrado brasileiro pode, diante de um caso concreto, aplicar, de
ofício, a lei estrangeira (art. 408, Código Bustamante), lembrando que ao empregá-la ele terá
em vista o que ela dispõe, desconsiderando qualquer remição por ela feita a outra lei estran-
geira (art. 16, Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro).

O Direito estrangeiro é equiparado ao nacional, sem a antipatia de considerá-lo inferior. Ao


aplicar Direito estrangeiro, deve-se atentar para o sentido que se lhe dá no país de origem,
o que significa respeitar a interpretação doutrinária e jurisprudencial que se produz no país do
qual emana a norma jurídica a ser aplicada.

Quando o magistrado conhecer o Direito estrangeiro e ele for o mais adequado ao caso
concreto, é seu dever aplicá-lo de ofício, independentemente de alegação por qualquer dos
litigantes.

As partes têm liberdade para escolher a lei de regência em contratos internacionais, orientadas
pela regra geral de autonomia da vontade em matéria contratual. Há manifestações do judici-
ário, legislativo e executivo que corroboram essa tendência.

No entanto, não prevalecerão as disposições de lei estrangeira que contrariarem a ordem pú-
blica brasileira, os bons costumes ou a soberania nacional (art. 17, Lei de Introdução às Normas
do Direito Brasileiro).

Não se pode olvidar que é exigível a ligação da norma com a relação jurídica. O art. 9º da Lei
de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (“Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-
-á a lei do país em que se constituírem”), datada de 1942, é a base das discussões.

27
Tópicos em Direito 1

Forçosamente, tal artigo visa restringir a autonomia privada na escolha da norma jurídica
aplicável, em especial, aos contratos internacionais. A autonomia da vontade nos contratos in-
ternacionais repousa no emprego da liberdade dentro das restrições determinadas pela lei.
O art. 9º da LINDB é norma cogente, e as partes não podem modificá-la.

Estabelece-se, então, que a melhor forma de interpretar esse artigo é concluir que se vai aplicar
a lei do país em que constituir a obrigação, e se a lex voluntatis for o elemento de conexão ad-
mitido lá, as partes, então, poderão escolher a norma a ser utilizada no caso concreto.

6 Reconhecimento da competência
internacional em matéria de jurisdição
A celeuma da restrição da atuação jurisdicional pode ser resolvida de forma categórica, por in-
dicação precisa, quando o ordenamento jurídico indica as causas que serão submetidas ao juiz,
ou, ao contrário, por meio de um sistema de indicação imprecisa, em que um trabalho exegético
determinará a extensão jurisdicional.

Aliar os interesses do Direito Interno com os do Direito Internacional mostra-se como um assunto
controverso a ser arrostado nas relações exteriores, observado que ao Estado compete a elabo-
ração legislativa para a sua atuação judiciária.

No entanto, a multiplicação de relações jurídicas entre os sujeitos de Direito Internacional, assim


como sua recíproca dependência para o alcance de suas finalidades mediante o auxílio mútuo,
permite inúmeras ilações sobre as restrições de extensão jurisdicional dos Estados.

O conceito de competência internacional possui sua base assentada nas normas domésticas
do Estado. São elas que estabelecem em que proporção um Estado exercerá a sua prerrogativa
de jurisdição sempre que houver um litígio com conexão internacional sob a análise de um juízo
nacional. Desse modo, as regras internas do Estado determinarão os pressupostos que ofere-
cem a possibilidade de um magistrado ou tribunal interno conhecer e decidir uma causa com
conexão internacional.

Exemplificadamente, é possível mencionar que, no Brasil, havendo tramitação de duas ações


idênticas paralelamente (competência concorrente) na jurisdição estrangeira e na jurisdição
nacional e ocorrendo o trânsito em julgado da sentença estrangeira e sua homologação em
território brasileiro, deverá ser extinto o processo no Brasil pela ocorrência de coisa julgada
estrangeira, reconhecendo-se, portanto, a competência internacional em matéria de jurisdição.

7 Homologação de sentença estrangeira


A jurisdição é um ato de soberania do Estado e, inicialmente, restringe-se às suas fronteiras
territoriais. Contudo, preceitos de cooperação jurídica internacional orientam que sentenças
estrangeiras poderão produzir efeitos em outros lugares.

No entanto, não são todos os Estados que aplicam essa regra. Cuida-se de orientação do Direito
Internacional Privado.

Há Estados que não conferem nenhum valor às sentenças estrangeiras (como a Holanda,
por exemplo), outros que aplicam a regra da reciprocidade (como a Alemanha e a Espanha,
por exemplo), há aqueles ainda que atribuem apenas valor de prova às decisões alienígenas em
processos judiciais (como a Inglaterra e os Estados Unidos, por exemplo).

28 Laureate- International Universities


O Brasil confere à sentença estrangeira eficácia idêntica à decisão nacional por meio de uma
preambular avaliação mediante a qual se verifica a presença de condições essenciais à sua
nacionalização. A nossa legislação corrobora com a afirmativa, ao estabelecer regras para a
homologação de sentença estrangeira.

A homologação é realizada pelo Superior Tribunal de Justiça, em razão da modificação


produzida pela Emenda Constitucional nº 45, de dezembro de 2004.

Na mesma toada, apresenta-se o art. 15, da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro,
que expressamente aduz sobre os requisitos para a execução da sentença estrangeira:

“Será executada no Brasil a sentença proferida no estrangeiro, que reúna os seguintes requisitos:
(a) haver sido proferida por juiz competente; (b) terem sido as partes citadas ou haver-se
legalmente verificado a revelia; (c) ter passado em julgado e estar revestida das formalidades
necessárias para a execução no lugar em que foi proferida; (d) estar traduzida por intérprete
autorizado; (e) ter sido homologada pelo Supremo Tribunal Federal” (Superior Tribunal de
Justiça – art. 105, inciso I, alínea i, CF).

8 Cooperação judiciária internacional


A administração da acessibilidade à justiça nos Estados está submetida a fatores que observam
a necessidade de existência de um acordo global de cooperação judiciária, mormente no que
concerne a uma colaboração para uma atividade jurisdicional composta de eficácia e garantida
internacionalmente.

Diversas são as configurações relacionadas à produção de um preceito universal de cooperação


judiciária internacional, que se acham fundamentalmente instaladas no império das normas do
Direito Internacional consuetudinário e têm sido, hodiernamente, convalidadas em tratados e
convenções nas relações exteriores e no ordenamento jurídico dos Estados.

Assim, a cooperação judiciária internacional se baseia nos costumes internacionais que, uma
vez reconhecidos nas relações exteriores, vinculam as partes, como uma norma não escrita e
também nos tratados internacionais dos Estados pactuantes.

9 Regime de provas nos processos com


conexão internacional
O regime das provas nos processos com conexão internacional é objeto de diversos tratados
internacionais, que tem como objetivo disponibilizar a obtenção de provas em território alie-
nígena. No Brasil, a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, de 04/09/1942,
pronuncia-se sobre o assunto.

O Código Bustamante, que foi aprovado pelo Brasil pelo Decreto nº 5.647, de 08/01/1929, e
promulgado pelo Decreto nº 18.871, de 13/08/1929, delineia alguns dispositivos sobre o tema
(arts. 398 a 411).

Nesse aspecto, convém destacar que o referido diploma aduz que a forma por meio da qual se
há de produzir a prova regula-se pela lei vigente no local em que ela foi feita, e a sua apre-
ciação depende da lei do julgador.

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Tópicos em Direito 1

Infelizmente, o diploma possui pouca eficácia no Brasil, preferindo, os magistrados, a aplicação


da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro.

10 Contratos internacionais
Os contratos internacionais são instrumentos importantes no Direito do Comércio Internacio-
nal, motivo pelo qual serão explorados com especial atenção.

10.1 Conceito e características dos contratos


internacionais
Contratos internacionais são aqueles que possuem intrínseco vínculo com mais de um sistema
jurídico, transfixando duas, ou mais, jurisdições internacionais. Eles possuem elementos que
compõem um acordo de vontades bilateral ou plurilateral, com o fim de adquirir, resguardar,
transferir, modificar, conservar ou extinguir direitos.

Os elementos podem ser a localização do estabelecimento das partes, a moeda utilizada, a


procedência ou o destino dos bens, a nacionalidade, o domicílio, o local de celebração, a situ-
ação do objeto do contrato, o local de sua execução.

É importante destacar que o contrato é o acordo de vontades, e não o instrumento que o


forma, que é simples meio de prova da sua existência e de suas condições. Os aspectos gerais
dos contratos internacionais estão relacionados à tentativa de uniformização do Direito Con-
tratual.

Atualmente, há inúmeros modelos contratuais que têm por objetivo oferecer meios de minorar as
incertezas entre os contratantes, com a finalidade de evitar a violação das obrigações interna-
cionalmente firmadas.

Nessa toada, existe a necessidade premente de formação de contratos internacionais que possam
garantir o cumprimento das prestações nas obrigações decorrentes das relações constituídas.
Tudo independentemente de eventuais diferenças, com a devida valorização dos negócios inter-
nacionais.

Os contratos internacionais exigem a observância de suas condições peculiares e autônomas,


sempre respeitando as normas civis e mercantis dos Estados de origem dos pactuantes, bem
como a liberdade contratual. Os atos de comércio têm caráter territorial em virtude da ordem
pública.

Nos contratos internacionais, a norma material aplicável ao caso concreto na solução de lití-
gios decorrentes de contratos internacionais não é fornecida diretamente pelo Direito Interna-
cional Privado, mas por normas internas dos Estados ou por tratados internacionais, cabendo
ao Direito Internacional Privado apenas apontar a regra a ser empregada. Portanto, sua atuação
é indireta. Há no contrato internacional ao menos um elemento de estranheza que o conecta
a mais de um sistema jurídico, vinculando-o a dois ou mais ordenamentos.

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10.2 Princípios contratuais internacionais
Os contratos internacionais são regidos por princípios que são considerados essenciais para
o Direito Internacional Privado. São proposições de caráter geral com papel fundamental no
desenvolvimento das relações comerciais e das quais outras regras poderão ser derivadas.

10.2.1 Princípio da pacta sunt servanda 


O princípio pacta sunt servanda é característico das relações contratuais internacionais, pois
estabelece que os contratos livremente constituídos devem ser fielmente cumpridos, desde
que não haja ofensa à ordem pública, aos bons costumes e à soberania nacional (art. 17, Lei de
Introdução às Normas do Direito Brasileiro).

10.2.2 Princípio da ordem pública


Em conformidade com o princípio da ordem pública, os contratos internacionais possuem vali-
dade no Direito Interno dos Estados e no âmbito das relações exteriores, desde que não exista
nenhuma afronta às suas específicas delimitações.

A ordem pública é o reflexo da filosofia sociopolítico-jurídica de toda legislação e que represen-


ta a moral básica de uma nação, protegendo as necessidades de um Estado, bem como os
interesses essenciais dos sujeitos de direito, constituindo princípio que não pode ser desres-
peitado pela aplicação de lei estrangeira.

10.2.3 Princípio da autonomia da vontade


Já o princípio da autonomia da vontade, que tem por base o elemento de conexão lex voluntatis,
determina que os pactuantes podem celebrar seus interesses de natureza particular, com auto-
rização para elaborar novas formas, modelos, cláusulas e modalidades contratuais, com funda-
mento nas normas de Direito Internacional Privado.

Dentro dessa perspectiva, as partes podem escolher a norma jurídica aplicável aos seus con-
tratos, bem como optar pelo órgão jurisdicional competente para o julgamento de suas con-
tendas.

Todavia, a autonomia da vontade possui restrições de ordem pública que estejam em vigor
no território dos Estados em relação aos quais o contrato internacional produzirá seus efeitos.

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