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Sumário
TÓPICO 6 – Direito internacional.....................................................................................05
1 Introdução...............................................................................................................05
2.2 Teorias.....................................................................................................................07
2.3 Considerações..........................................................................................................07
3.1 Tratados...................................................................................................................07
3.2 Costume Internacional “Jus non scriptum” (justiça ou direito não escrito).........................08
3.4 Doutrina..................................................................................................................09
3.5 Jurisprudência..........................................................................................................09
3.6 Equidade.................................................................................................................09
4.1 Estados....................................................................................................................09
4.1.1 Objetivo..........................................................................................................09
4.1.2 Subjetivo.........................................................................................................10
4.2.1 Tratados..........................................................................................................11
4.2.2 Estrutura..........................................................................................................12
5 Tratados..................................................................................................................18
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5.2 Expressão de consentimento.......................................................................................20
7 Conflitos internacionais.............................................................................................23
1 Introdução...............................................................................................................25
10 Contratos internacionais............................................................................................30
1 Introdução
Muitos doutrinadores entendem que um sinônimo dessa matéria seria consignado pela expressão
“Direito das Gentes”, pela sua incidência generalizada nos Estados Nacionais (Obs.: sempre que
mencionarmos “Estados” estaremos o fazendo no sentido coloquial de “Países”) e demais entes
internacionais.
Trata-se de ramo do Direito composto de tratados, costumes, princípios gerais de Direito e de-
mais formas extraterritoriais de expressão do Direito, que regulamentam as relações entre os
sujeitos de Direito Internacional Público, no âmbito do Direito Público, e a dos entes particulares
em suas relações externas, no âmbito Privado.
Abordaremos as principais questões de Direito Internacional Público que estão diretamente liga-
dos aos seus sujeitos, os quais serão estudados oportunamente.
A visualização da parte pública da matéria é a mais árdua e prevê a análise dos seguintes ele-
mentos:
• Negações:
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Tópicos em Direito 1
• Confirmações:
Há uma concordância geral em relação a dois desses sujeitos: os Estados (nações) e as organi-
zações ou organismos internacionais para fins do Direito Internacional Público.
Assim, temos como sujeitos de Direito Internacional: os Estados (Brasil, Argentina, Alemanha etc.)
e as organizações internacionais (ONU, OMC, FMI, BID, UNICEF, FAO etc.)
Outros sujeitos bem aceitos pela doutrina: Santa-Sé (trata-se do Estado do Vaticano, o qual, por
seu caráter de sede de uma religião, é considerado atípico e, dessa forma, melhor tratado como
exceção) e a Cruz Vermelha Internacional.
Conforme dissemos, existem correntes doutrinárias que incluem outros sujeitos: pessoas naturais
(indivíduos), pessoas jurídicas de Direito Privado, Organizações não Governamentais (ONGs) e
outras organizações diversas.
Esses entes ou sujeitos serão mais bem estudados oportunamente, sendo que o art. 42 do Código
Civil em vigor determina quais seriam estes sujeitos perante o Direito Brasileiro: “São pessoas
jurídicas de direito público externo os Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas
pelo direito internacional público”.
2.2 Teorias
Dualismo: independência total entre o Direito Interno e o Direito Internacional – as normas de
um ramo não têm necessariamente que seguir as do outro ramo.
Monismo: toma o Direito como amplo, ou seja, há a integração entre o Direito Interno e o Direito
Internacional.
2.3 Considerações
• Monismo: o Direito Internacional e o Direito Interno são dois ramos do mesmo sistema;
todos os direitos emanam da mesma fonte. Defesa do Monismo: o Direito já está se
internacionalizando, pois várias são as áreas que obrigatoriamente se utilizam de normas
internacionais. Ex.: Comunicação, Aviação e Navegação Internacional.
A corrente adotada pelo Brasil é considerada como Monismo Nacionalista por boa parte da
doutrina.
3.1 Tratados
São compromissos que brotam da deliberação coletiva dos sujeitos de Direito Internacional Públi-
co através de documentos denominados “Tratados Normativos”, ou seja, aqueles que formulam
regras de caráter geral objetivando nortear as relações entre esses mesmos sujeitos de Direito
Internacional. Os tratados, além de serem uma norma internacional, são, também, considerados
um pacto, o que faz com que o tratado tenha duplo efeito: normativo e compromisso.
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Por isso os tratados são mais do que “leis” (ou normas) para o Direito Internacional, por terem
também força contratual. No caso do Brasil, quando ratificados, os tratados são equiparados às
leis ordinárias na ordem hierárquica. Estudaremos os tratados com mais profundidade, pois por
agora nos interessa como fonte primordial do Direito Internacional.
Trata-se de um conjunto de atos, práticas e normas contínuas e não escritas, admitidas por dila-
tado prazo e observadas pelos Estados em suas relações mútuas como se direito fossem.
Elementos:
• autodeterminação dos povos (cada Estado tem autonomia para firmar compromissos
internacionais para servir suas questões internas);
• coexistência pacífica; e
Há outros princípios, como: liberdade de comunicação marítima; regras do bom Direito etc.
3.5 Jurisprudência
São regras jurídicas advindas das decisões judiciais; aplicação auxiliar por ser mera prática do
Direito, e não norma propriamente dita. Apenas auxilia o julgador na formação do seu convenci-
mento, e os tribunais internacionais que fornecem e fornecerão as decisões: Corte Internacional
de Justiça, Tribunal Penal Internacional etc.
3.6 Equidade
Combinação entre a razão e a boa-fé, buscando no equilíbrio a função primordial do direito à
justiça. O caso concreto deve ser analisado de forma justa e razoável, de acordo com a forma-
ção do julgador. E a linha entre o Direito Natural e o Direito Positivo.
4.1 Estados
São pessoas jurídicas de Direito Público Externo, constituindo-se numa criação humana possuin-
do os elementos constitutivos descritos a seguir.
4.1.1 Objetivo
• Território: base física do Estado.
• Soberania: existem várias definições sobre tal elemento, e uma dessas define: internamente
– como o poder de um governo sobre os elementos anteriores (território e população);
e externamente – como a independência de um Estado em relação aos demais sujeitos.
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4.1.2 Subjetivo
• O reconhecimento da existência de um Estado pelos demais sujeitos de Direito Internacional
Público: é um elemento inerente às relações internacionais e não é aceito por todos os
doutrinadores, posto que os elementos objetivos seriam suficientes para a caracterização
do ente Estatal. De qualquer forma, na prática, tal elemento é aplicável. Por exemplo:
»» Taiwan – possui os elementos objetivos, mas tem sua existência contestada pela China,
a qual a declara como “Província Rebelde”. Além disso, poucos Estados reconhecem
Taiwan como Estado, mas praticamente todos negociam e comercializam com ele;
»» Palestina: possui parte dos elementos objetivos, mas ainda possui controvérsia sobre
território (disputa com Israel).
• Sucessão e extinção: os Estados podem ser sucedidos por outros ou até mesmo deixarem
de existir, e as principais situações são:
»» absorção total ou parcial de um Estado pelo outro. Exemplos: antes parte do território
da Bolívia, hoje se constituí em parte do território brasileiro – Acre; antes parte do
território Russo, hoje se constituí em parte do território dos Estados Unidos da América
– Alasca;
»» fusão: união de dois ou mais Estados para formar um terceiro. Exemplos: formação
da atual Itália; quando formação da antiga União Soviética;
• Direitos:
»» adquiridos: decorrentes dos pactos firmados (tratados, acordos etc.) e pelos costumes
internacionais.
*Observação: ressaltamos que as organizações a serem estudadas são as que têm característi-
cas para fins de Direito Internacional Público, o que afasta, para fins didáticos, outros tipos de
organizações com atuação internacional, por exemplo, as ONGs, que, além de terem caráter
privado, não têm todos os elementos que estudaremos.
4.2.1 Tratados
As Organizações Internacionais têm competência para firmar tratados. Por exemplo, os tratados-
-sede, através dos quais uma organização firma um documento para erigir sua sede em deter-
minado Estado.
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4.2.2 Estrutura
As organizações possuem a estruturação descrita a seguir.
• Órgãos
»» Assembleia Geral: órgão perante o qual todos os membros, desde que efetivos, têm
a mesma representação. Reúne-se:
• Funcionamento
Vale destacar que a organização também está sujeita a uma aceitação da Comunidade Inter-
nacional. Por exemplo, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) não é aceita
por todos os Estados como sendo uma Organização, por se entender que a sua finalidade de
controle da produção e manipulação de preços a constitui como sendo um cartel, o que afasta
sua finalidade nobre.
A SDN – foi uma organização que surgiu logo após o final da Primeira Guerra Mundial, com
objetivos pacifistas, e tinha entre seus objetos o de evitar um novo grande conflito militar interna-
cional. Deixou de existir com o começo da Segunda Guerra Mundial, em 1939.
• Membros da ONU
• Idiomas oficiais
• Sede
• Estrutura
• Conselhos
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• Finalidade
Tal ramo do Direito Internacional determina uma reação de proteção de certos Estados ao fe-
nômeno da globalização como forma de defesa à competitividade internacional através da for-
mação de blocos de Estados. Para alguns doutrinadores, a formação desses blocos é um dos
fenômenos geradores da globalização, e não propriamente uma reação a ela.
Com certeza, essa integração se acentuou com a derrocada do mundo socialista, posto que
criou uma nova realidade no mundo atual: a competição desenfreada entre os próprios Estados
capitalistas.
O estudo é feito através das etapas (fases) de integração, as quais surgem primeiramente para
atender a questões de comércio internacional e avançam sobre aspectos sociais, políticos, mi-
litares, jurídicos etc. Diversas dessas fases têm sido devidamente conceituadas por normas in-
ternacionais de liberalização do comércio internacional, por exemplo, o General Agreement on
Tariffs and Trade (GATT).
2. União Aduaneira
• Tarifa Externa Comum (TEC): nessa fase da integração, é criada a TEC, designando uma
tarifa uniforme para as relações entre os membros do bloco para com os outros Estados
(terceiros).
Designação de política econômica comum, banco central unificado e mesmo meio circulante
(moeda) para todos os membros, visando aprimorar a integração econômica.
5. União política
Fase na qual o bloco chegará muito próximo de uma federação ou confederação, posto que terá
uma intensa integração externa com liderança unificada e constituição comunitária, denotando
uma relativização ainda mais extrema da soberania dos membros. Tal situação ainda é hipoté-
tica, não tendo chegado nenhum bloco em tal elevado grau de unificação. Cogita-se que seria
semelhante à formação atual dos Estados Unidos da América, o qual tem sido considerado a
federação ideal com estados federados fortes, mas uma liderança externa única.
As normas da União Europeia formam o mais sofisticado sistema jurídico do Direito Comunitário,
em virtude do alto grau de integração atingido por esse bloco, conforme será mais bem estudado
adiante.
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• Membros
• Órgãos
• Euro
O Euro é a moeda única de 17 dos membros da União, não tendo sido adotada com
exclusividade, ou seja, com a abolição da moeda local, por: Reino Unido, Suécia e
Dinamarca, e pela maior parte dos novos ingressantes.
4.3.2.2 Mercosul
A designação da fase na qual se encontra o Mercosul não é unânime entre os doutrinadores, o
quais divergem se este se encontra na segunda ou na terceira fase de integração. Como defi-
nição, entende-se como a União Aduaneira com certos tratados e designações de formação de
Mercado Comum entre alguns Estados da América do Sul, visando, primeiramente, a integração
através de comércio internacional, avançando para outros aspectos, principalmente relacionados
com a negociação conjunta com outros sujeitos de Direito Internacional Público fora do bloco.
• Breve Histórico
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• Membros
• Órgãos Principais
5 Tratados
Os tratados constituem a principal norma de Direito Internacional Público, ou Direito das Gen-
tes, como designam certos doutrinadores. Dentro das fontes do Direito, os tratados ocupam uma
faixa equivalente, apesar de não exata, às Leis, se fizermos um paralelo com o Direito Interno
brasileiro.
A origem dos Tratados remonta à antiguidade, na qual o Império Egípcio já os firmavam, prin-
cipalmente para colocar fim a guerras. Já o Império Romano, com o advento de seu avanço
jurídico, colaborou para aprimorar a qualidade técnica-jurídica desses instrumentos.
Com o passar dos anos, os tratados multilaterais surgiram e começaram a ser cada vez mais
comuns na comunidade internacional. Outro ponto de evolução dos tratados é decorrente da
possibilidade de outro sujeito de Direito Internacional Público, além dos Estados, poder firmá-los:
as Organizações Internacionais.
A evolução da qualidade técnica dos tratados sofreu, como já mencionamos, influência do Direi-
to Romano e, na atualidade, possui alto grau de sofisticação, principalmente após o advento da
Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados (1969), a qual veio a regulamentar a elabora-
ção dos textos desses compromissos internacionais.
»» Artigo 49, I
»» Artigo 109, V
• Formato
»» Preâmbulo: são os sujeitos de Direito Internacional Público que são parte do acordo
internacional.
»» Fecho: data, local, número de vias originais e idioma escolhido pelas partes como
oficial.
»» Selo de lacre: cada Estado coloca seu selo, emblema com seu brasão representativo
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»» pacto: acerto de que os pactuantes vão seguir a mesma linha de relações internacionais
em certas questões;
Por outro lado, os compromissos não deixam de ser contratos, avenças entre as partes. A carac-
terística contratual do tratado é decorrente de sua própria origem de pacto firmado pela livre
autonomia das partes. Mescla um pouco de lei e de contrato; é um ato jurídico e normativo.
• Reservas: é o firmamento de certo tratado com ressalvas acerca de certos aspectos, o que
pode significar a limitação da vigência do compromisso, as quais, regra geral, não são
admitidas nos tratados bilaterais.
• Depositário: é uma das partes do tratado que se incumbe de cuidar dos aspectos
burocráticos e cartoriais dos instrumentos, por exemplo, controle de ratificações.
• Denúncia: ato pelo qual determinado Estado informa aos demais que não fará mais parte
do tratado.
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Um exemplo desse tipo de área é o mar territorial, extensão da área de soberania de um Estado
em direção do mar, englobando, o leito, subsolo, a superfície e o espaço aéreo. Há exceção à
soberania absoluta se houver “passagem inocente” e contínua de embarcações, e não se poderá
determinar que houve invasão de soberania, devendo, dessa forma, tal passagem ser tolerada.
O mar territorial brasileiro foi estabelecido por força de lei em 200 milhas marítimas (cerca de
372 quilômetros) e conta-se desde a linha litorânea em maré baixa (linha de base) avançando
sobre o mar. Posteriormente, com a advento de tratados, houve a estipulação de que essa faixa
iria até 12 milhas marítimas de soberania absoluta, e as remanescentes 188 milhas teriam o
tratamento de zona econômica exclusiva.
A zona econômica exclusiva refere-se, então, à faixa litorânea não superior a 188 milhas maríti-
mas contadas. No caso brasileiro, a partir das 12 milhas acima mencionadas, na qual o Estado
pode explorar, pesquisar e preservar recursos naturais. Nessa área, o Estado tem de admitir a
liberdade de navegação, a utilização pacífica do espaço aéreo (voo de aeronaves), a instalação
de cabos subterrâneos e alguns outros usos limitados e que não coloquem em risco a segurança
do Estado costeiro.
As Organizações Internacionais não fazem parte do rol clássico de entes conflitantes, mas, com
certeza, podem ter desavenças e até mesmo serem partícipes em conflitos. Um caso exemplifica-
tivo é a discussão dessas Organizações com outros sujeitos sobre a extensão dos direitos diplo-
máticos que podem ser atribuídas aos seus funcionários, e outro exemplo é o da discussão sobre
a atuação das forças de paz da ONU.
• Bons ofícios: um terceiro com boa relação entre as partes em conflito as aproxima
utilizando-se de seu prestígio com ambas. A figura prestadora desses “bons ofícios”,
apesar de ser um sujeito internacional, pode contar com o carisma de uma pessoa natural
(Chefe de Estado, Embaixador etc.). Essa forma de solução de conflito serve meramente
para aproximação, sendo que o prestador não decide a questão, não opina e nem toma
conhecimento de detalhes do conflito. Se o prestador for um Estado, este poderá oferecer
seu território como área neutra para facilitar o contato e diálogo entre as partes, as quais,
em muitas das vezes, se negam a ingressar uma no território da outra.
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• Inquérito: forma prevista por alguns doutrinadores para a solução de conflitos que, na
verdade, é instrumento de averiguação da situação conflituosa para servir na instrução de
eventual medida de solução de conflito, como a solução judicial.
»» Assembleia Geral: que pode ser convocada extraordinariamente para discutir e decidir
por uma solução para o conflito;
»» Conselho de Segurança: que pode se reunir e emitir uma ordem denominada resolução
com medidas de solução.
• Jurisdicionais: essa é a forma de solução na qual é proferida uma decisão que deve ser
cumprida pelas partes por ter sido emitida por órgão, organização, tribunal ou sujeito
com poderes suficientes para tanto.
• Meio jurídico:
1 Introdução
O direito internacional privado é um sobredireito, pois indica o direito aplicável, e não solu-
ciona um litígio.
Trata de um ramo que possui normas conflituais, indiretas, que não proporcionam uma solu-
ção, mas trazem o direito incidente sobre determinado fato jurídico.
O instrumento jurídico utilizado para a uniformização das regras do Direito Internacional Priva-
do é o tratado internacional. Os tratados empregam-se, dentro de seu âmbito, somente perante
os Estados em que estão em vigor as normas jurídicas uniformizadas.
As regras nacionais autônomas do Direito Internacional Privado permanecem com vigência pe-
rante os Estados não signatários das convenções. Assim, o Direito Internacional Uniformizado é
fruto de entendimentos entre Estados e se concentram nas atividades econômicas de natureza
internacional.
No século XIX, surgiu a ideia de criação de sistema de regras de Direito Internacional Privado de
caráter universal.
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Tópicos em Direito 1
São exames confrontantes entre diversos sistemas jurídicos. A análise consiste na aproximação
e no cotejo de dois ou mais conjuntos de elementos normativos que possuam similitude, ou
não, com o objetivo de estabelecer parâmetros para a aplicação de regras.
O Direito Internacional Privado não é um Direito comparado, pois a disciplina não exige
o conhecimento das normas dos diversos Estados, mas a percepção das regras da ciência que
sejam aplicáveis às relações jurídicas que possuam elementos de estranheza.
A atual Lex Mercatoria data da década de 1960 e traz diferenças em relação à antiga, que foi
criada na Idade Média contemporânea do renascimento comercial. A Lex Mercatoria hodierna
busca sustentação nos sistemas jurídicos dos Estados para a recognição de suas fontes,
execução das decisões arbitrais, e tem suas bases estabelecidas em quatro fundamentos: usos
profissionais, contratos-tipo, regulamentações profissionais ditadas nos limites de cada profissão
por suas associações representativas e a jurisprudência arbitral.
As regras do Direito Internacional Privado não se confundem com a Lex Mercatoria, e são
autônomas em relação a ela.
São também denominadas normas indiretas (ou indicativas), pois apontam o Direito que po-
derá ser empregado no caso concreto nas relações particulares com conexão internacional,
sem solucioná-lo. Os elementos de conexão corporificam-se num elemento essencial para a
solução de conflitos de leis no espaço.
As variadas legislações nacionais de Direito Internacional Privado orientam-se por eles, que in-
dicam a norma jurídica adequada à solução de controvérsias entre as partes. Observam-se
Como as regras de Direito Internacional Privado são essencialmente indicativas do Direito apli-
cável para resolver discórdias legais ou intersistemáticas, não seria possível colocá-las em
prática sem determinarem-se parâmetros de subordinação jurídica extraterritorial, ou seja, é
fundamental que a regra colisional possua em seu conteúdo um meio instrumental com ca-
pacidade de apontar a ordem jurídica que deve preponderar na solução de desinteligências
interespaciais.
A lei a ser aplicada deve levar em consideração a correta subsunção, ou seja, a perfeita ade-
quação entre a norma jurídica abstrata e o caso concreto.
Inicialmente, observa-se que a aplicação de uma lei estrangeira é orientada pela sua invocação
por pelo menos uma das partes em um litígio perante o Poder Judiciário. Desse modo, cabe à
parte que invocar lei estrangeira trazer aos autos a prova do seu teor e de sua vigência.
Quando for completamente inviável a produção da prova do seu teor e da sua vigência, o juiz
brasileiro aplicará o Direito nacional, para que o litígio não fique sem solução.
É relevante destacar que o magistrado brasileiro pode, diante de um caso concreto, aplicar, de
ofício, a lei estrangeira (art. 408, Código Bustamante), lembrando que ao empregá-la ele terá
em vista o que ela dispõe, desconsiderando qualquer remição por ela feita a outra lei estran-
geira (art. 16, Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro).
Quando o magistrado conhecer o Direito estrangeiro e ele for o mais adequado ao caso
concreto, é seu dever aplicá-lo de ofício, independentemente de alegação por qualquer dos
litigantes.
As partes têm liberdade para escolher a lei de regência em contratos internacionais, orientadas
pela regra geral de autonomia da vontade em matéria contratual. Há manifestações do judici-
ário, legislativo e executivo que corroboram essa tendência.
No entanto, não prevalecerão as disposições de lei estrangeira que contrariarem a ordem pú-
blica brasileira, os bons costumes ou a soberania nacional (art. 17, Lei de Introdução às Normas
do Direito Brasileiro).
Não se pode olvidar que é exigível a ligação da norma com a relação jurídica. O art. 9º da Lei
de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (“Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-
-á a lei do país em que se constituírem”), datada de 1942, é a base das discussões.
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Tópicos em Direito 1
Forçosamente, tal artigo visa restringir a autonomia privada na escolha da norma jurídica
aplicável, em especial, aos contratos internacionais. A autonomia da vontade nos contratos in-
ternacionais repousa no emprego da liberdade dentro das restrições determinadas pela lei.
O art. 9º da LINDB é norma cogente, e as partes não podem modificá-la.
Estabelece-se, então, que a melhor forma de interpretar esse artigo é concluir que se vai aplicar
a lei do país em que constituir a obrigação, e se a lex voluntatis for o elemento de conexão ad-
mitido lá, as partes, então, poderão escolher a norma a ser utilizada no caso concreto.
6 Reconhecimento da competência
internacional em matéria de jurisdição
A celeuma da restrição da atuação jurisdicional pode ser resolvida de forma categórica, por in-
dicação precisa, quando o ordenamento jurídico indica as causas que serão submetidas ao juiz,
ou, ao contrário, por meio de um sistema de indicação imprecisa, em que um trabalho exegético
determinará a extensão jurisdicional.
Aliar os interesses do Direito Interno com os do Direito Internacional mostra-se como um assunto
controverso a ser arrostado nas relações exteriores, observado que ao Estado compete a elabo-
ração legislativa para a sua atuação judiciária.
O conceito de competência internacional possui sua base assentada nas normas domésticas
do Estado. São elas que estabelecem em que proporção um Estado exercerá a sua prerrogativa
de jurisdição sempre que houver um litígio com conexão internacional sob a análise de um juízo
nacional. Desse modo, as regras internas do Estado determinarão os pressupostos que ofere-
cem a possibilidade de um magistrado ou tribunal interno conhecer e decidir uma causa com
conexão internacional.
No entanto, não são todos os Estados que aplicam essa regra. Cuida-se de orientação do Direito
Internacional Privado.
Há Estados que não conferem nenhum valor às sentenças estrangeiras (como a Holanda,
por exemplo), outros que aplicam a regra da reciprocidade (como a Alemanha e a Espanha,
por exemplo), há aqueles ainda que atribuem apenas valor de prova às decisões alienígenas em
processos judiciais (como a Inglaterra e os Estados Unidos, por exemplo).
Na mesma toada, apresenta-se o art. 15, da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro,
que expressamente aduz sobre os requisitos para a execução da sentença estrangeira:
“Será executada no Brasil a sentença proferida no estrangeiro, que reúna os seguintes requisitos:
(a) haver sido proferida por juiz competente; (b) terem sido as partes citadas ou haver-se
legalmente verificado a revelia; (c) ter passado em julgado e estar revestida das formalidades
necessárias para a execução no lugar em que foi proferida; (d) estar traduzida por intérprete
autorizado; (e) ter sido homologada pelo Supremo Tribunal Federal” (Superior Tribunal de
Justiça – art. 105, inciso I, alínea i, CF).
Assim, a cooperação judiciária internacional se baseia nos costumes internacionais que, uma
vez reconhecidos nas relações exteriores, vinculam as partes, como uma norma não escrita e
também nos tratados internacionais dos Estados pactuantes.
O Código Bustamante, que foi aprovado pelo Brasil pelo Decreto nº 5.647, de 08/01/1929, e
promulgado pelo Decreto nº 18.871, de 13/08/1929, delineia alguns dispositivos sobre o tema
(arts. 398 a 411).
Nesse aspecto, convém destacar que o referido diploma aduz que a forma por meio da qual se
há de produzir a prova regula-se pela lei vigente no local em que ela foi feita, e a sua apre-
ciação depende da lei do julgador.
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10 Contratos internacionais
Os contratos internacionais são instrumentos importantes no Direito do Comércio Internacio-
nal, motivo pelo qual serão explorados com especial atenção.
Atualmente, há inúmeros modelos contratuais que têm por objetivo oferecer meios de minorar as
incertezas entre os contratantes, com a finalidade de evitar a violação das obrigações interna-
cionalmente firmadas.
Nessa toada, existe a necessidade premente de formação de contratos internacionais que possam
garantir o cumprimento das prestações nas obrigações decorrentes das relações constituídas.
Tudo independentemente de eventuais diferenças, com a devida valorização dos negócios inter-
nacionais.
Nos contratos internacionais, a norma material aplicável ao caso concreto na solução de lití-
gios decorrentes de contratos internacionais não é fornecida diretamente pelo Direito Interna-
cional Privado, mas por normas internas dos Estados ou por tratados internacionais, cabendo
ao Direito Internacional Privado apenas apontar a regra a ser empregada. Portanto, sua atuação
é indireta. Há no contrato internacional ao menos um elemento de estranheza que o conecta
a mais de um sistema jurídico, vinculando-o a dois ou mais ordenamentos.
Dentro dessa perspectiva, as partes podem escolher a norma jurídica aplicável aos seus con-
tratos, bem como optar pelo órgão jurisdicional competente para o julgamento de suas con-
tendas.
Todavia, a autonomia da vontade possui restrições de ordem pública que estejam em vigor
no território dos Estados em relação aos quais o contrato internacional produzirá seus efeitos.
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