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QUE
FASE!

O período de transição é uma fase de grandes desafios devido


às alterações metabólicas e hormonais que ocorrem no final da
gestação e início da lactação. Apesar de as mudanças serem
fisiológicas, práticas incorretas de manejo podem levar a
desequilíbrios e doenças

ADOLFO PÉREZ FONSECA - Doutorando em Reprodução Animal - EV/UFMG


ÁLAN MAIA BORGES - Professor Associado - EV/UFMG
ANA CAROLINA LEITE - Doutoranda em Reprodução Animal - EV/UFMG
BÁRBARA MOTTA - Graduanda em Medicina Veterinária - EV/UFMG
GABRIELA CARDOSO - Graduanda em Medicina Veterinária - EV/UFMG
JULIANA HORTA - Graduanda em Medicina Veterinária - EV/UFMG
TELMA DA MATA MARTINS – Pós-doutora em Reprodução Animal - EV/UFMG

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INTRODUÇÃO
A reprodução é extremamente dependente do meio,
isto é: da sanidade, do manejo, condições ambientais,
conforto, nutrição e nível de produção de leite. Para
garantir maior chance de prenhez aos seus animais,
todos estes aspectos devem estar assegurados. Neste
cenário, o período de transição é um momento muito
importante, pois marca o final da gestação e início da
lactação, além de trazer consigo os desafios inerentes
a estas mudanças. Devido à sua importância, ele
recebe cada vez mais atenção por parte de produtores,
pesquisadores e técnicos.
Na reprodução, para se alcançar a máxima eficiência, necessário utilizarem suas próprias reservas corporais
o ideal é que os intervalos entre partos sejam de 365 para suprirem as exigências energéticas. Mesmo
dias. Para conseguir este índice, é necessário que as quando a nutrição é abundante e de boa qualidade, os
vacas concebam até o 85º dia depois de paridas, o que animais podem passar por um período de BEN, nesse
significa que elas têm que se recuperar rapidamente do caso, menos intenso e com menos efeitos negativos.
último parto, aumentar o consumo de alimentos, para A energia é um nutriente limitante, ou seja, quando
reduzir o balanço energético negativo (BEN), e não restrita, a reprodução e outras funções do organismo
podem ter ocorrências sanitárias. são prejudicadas. A deficiência energética em vacas
Há várias décadas, tem sido observada uma correlação de alta produção pode afetar a fertilidade devido ao
negativa entre o aumento da produção de leite e a seu efeito sobre a secreção de diversos hormônios que
fertilidade das vacas. Uma das hipóteses seria de que controlam o ciclo estral e a qualidade dos oócitos.
esse efeito é decorrente das mudanças fisiológicas, No pré-parto, ocorre uma queda na ingestão de
metabólicas e endócrinas que o animal sofre durante o alimentos da ordem de 30%, enquanto as necessidades
período de transição. Além das alterações fisiológicas, nutricionais do feto aumentam à medida que ele
muitas mudanças de manejo ocorrem neste momento, cresce. Uma hipótese sobre o que leva a esta situação
como troca de lote, de dieta e a adaptação à rotina é que a diminuição do consumo estaria relacionada
de ordenha. São nestes aspectos que nós, técnicos ao efeito inibidor do estrógeno, produzido em grandes
ou produtores, podemos intervir para garantir uma quantidades pela placenta (na forma de estronas) no
transição mais suave e com menos percalços. final da gestação. Essas estronas atuariam no centro
PERÍODO DE TRANSIÇÃO X REPRODUÇÃO da saciedade, localizado no hipotálamo, levando à
As alterações fisiológicas que acontecem no período de redução na ingestão de alimentos.
transição são normais e necessárias para que ocorra Após o parto, as exigências de nutrientes para a
o parto e, posteriormente, se inicie uma nova lactação. produção de grande quantidade de leite aumentam
Algumas destas alterações estão relacionadas à queda de forma desproporcional ao consumo de alimentos.
na ingestão de alimentos, mudanças no metabolismo Enquanto a vaca atinge o pico da lactação entre a quarta
do fígado e ocorrência do balanço energético negativo, e a sétima semanas, a ingestão de alimentos atinge o seu
principalmente em vacas leiteiras de alta produção. O máximo apenas entre o segundo e terceiro mês depois do
BEN ocorre quando a quantidade de energia requerida parto, apresentando assim um desequilíbrio (Figura 1).
pelos animais é maior do que a consumida, sendo

Tabela 1. Requerimentos calculados de energia (Mcal/d) para vacas leiteiras e novilhas dois dias antes do
parto e dois dias após o parto

VACA (~750 KG) NOVILHA (~570 KG)


FUNÇÃO
PRÉ-PARTO PÓS-PARTO PRÉ-PARTO PÓS-PARTO

MANTENÇA 11,2 10,1 9,3 8,5


GESTAÇÃO 3,3 2,8
CRESCIMENTO 1,9 1,7
PRODUÇÃO DE
18,7 14,9
LEITE
TOTAL 14,5 28,8 14,0 25,1
Adaptado de Drackley (2004).

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Meses
Figura 1. Curvas de lactação, ingestão de matéria seca,
ganho de peso e crescimento fetal em vacas de alta produção

O status nutricional influencia na fertilidade devido à No terço final da gestação e fase inicial do pós-parto,
necessidade de nutrientes específicos como cálcio, verifica-se diminuição da secreção das gonadotropinas
fósforo e iodo, dentre outros, para o processo de LH e FSH (hormônio folículo estimulante), hormônios
desenvolvimento folicular, ovulação, maturação do que controlam a atividade ovariana devido ao feedback
oócito, fertilização, sobrevivência embrionária e negativo ocasionado pelas altas concentrações de
estabelecimento da gestação. A nutrição também estrógenos produzidos pela placenta. O nível circulante
influencia indiretamente nas concentrações de de FSH aumenta dentro de algumas semanas após o
hormônios e metabólitos circulantes. parto, iniciando o processo de recrutamento e seleção
O efeito do BEN sobre a fertilidade em vacas de alta folicular. No entanto, para que ocorra a ovulação é
produção tem sido associado a alterações endócrinas necessário que se tenha secreção adequada de LH
e metabólicas, bem como à redução na viabilidade (decorrente do aumento da frequência e amplitude
do oócito. Fêmeas bovinas em situações de BEN dos pulsos de GnRH - hormônio liberador de
apresentam altas concentrações plasmáticas do gonadotropinas). Caso não haja ovulação, devido
hormônio de crescimento (hormônio somatotrópico, à nutrição deficiente, o folículo dominante regride,
GH) e de ácidos graxos não esterificados (AGNEs), atrasando o retorno da atividade ovariana luteal cíclica e,
enquanto que as concentrações de glicose, insulina consequentemente, aumentando o intervalo entre partos.
e fator de crescimento semelhante à insulina (IGF-
1) estão baixas. Também apresentam aumento nas
concentrações plasmáticas de corpos cetônicos,
principalmente betahidroxibutirato, e maior
concentração de ureia circulante. Juntamente
com esses fatores, a menor frequência de pulsos Mesmo quando a nutrição
do hormônio luteinizante (LH), associada à baixa é abundante e de boa
concentração de progesterona plasmática, contribui qualidade, os animais
para atrasar o retorno à ciclicidade, além de influenciar podem passar por um
na qualidade dos oócitos, na fecundação e no período de balanço
desenvolvimento embrionário inicial. energético negativo (BEN)

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Para preservar a glicose, que é preferencialmente usada pela
glândula mamária para formação da lactose, os ácidos graxos
não esterificados (AGNEs), liberados pelas reservas de gordura,
servem como fonte de energia alternativa para outros tecidos.
Porém, altas concentrações de AGNEs influenciam negativamente
a taxa de concepção das fêmeas bovinas, pois podem afetar o
crescimento e o desenvolvimento folicular, devido à sua atuação
direta nas células do ovário, comprometendo a qualidade do
oócito e a viabilidade do embrião.
As baixas concentrações de insulina e glicose após o parto estão
associadas à disfunção ovariana, pois suprimem a secreção de
GnRH pelo hipotálamo e, consequentemente, a liberação de LH
pela hipófise, comprometendo o crescimento e o desenvolvimento
folicular. Além da insulina, os fatores de crescimento semelhantes
à insulina, principalmente o IGF-1, possuem papel importante
no crescimento e desenvolvimento folicular. Concentrações
circulantes reduzidas de IGF-1 influenciam negativamente no
início da atividade ovariana no pós-parto.
Outra importante adaptação metabólica pela qual passam as
vacas leiteiras diz respeito ao metabolismo do cálcio. No início da
lactação, verifica-se grande aumento na sua demanda, pois é um
componente importante do leite. Devido à redução da ingestão de
matéria seca nesse período, a demanda por esse mineral é maior
que sua taxa de absorção, o que provoca a mobilização de cálcio
dos ossos. Nestas condições, algumas vacas podem apresentar
quadros clínicos de hipocalcemia (febre do leite), enquanto
outras apresentam quadros subclínicos, que predispõem os
animais à ocorrência de retenção de placenta, metrite puerperal e
deslocamento de abomaso.

Acima: A retenção de placenta favorece o estabelecimento


de infecções uterinas, comprometendo a saúde do útero e,
consequentemente, o futuro reprodutivo da vaca

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A função das células de defesa também pode contaminação uterina até três semanas após o parto.
ser afetada pela baixa disponibilidade de cálcio, O estabelecimento de infecções uterinas, como a metrite
e sua deficiência pode exacerbar os quadros de puerperal aguda e a endometrite clínica, atrasam a
imunodepressão. A diminuição da capacidade involução do útero e o retorno da atividade ovariana
do sistema imunológico responder aos desafios cíclica, levando ao atraso da primeira cobertura
infecciosos é responsável pelo aumento do risco ou inseminação artificial e, consequentemente, ao
de mastite ambiental no periparto, bem como pela aumento no intervalo entre partos.
alta incidência de infecções uterinas no pós-parto. A síndrome do fígado gorduroso é um distúrbio
As vitaminas A e E, e uma série de oligoelementos metabólico frequentemente encontrado em vacas
(selênio, cobre e zinco, fósforo, etc.) desempenham de alta produção no período de transição. Como
importantes papéis na função imunológica. comentado, esses animais apresentam maior
Estudos recentes sugerem que além do (BEN), o concentração de ácidos graxos não esterificados
balanço proteico negativo está relacionado com na circulação devido ao aumento da mobilização de
os quadros de imunodepressão. A incapacidade de tecido adiposo. O fígado gordo se manifesta quando
suprir a exigência de proteínas com a dieta acarreta este órgão não consegue metabolizar ou exportar
mobilização de reservas corporais e aumento das todo o AGNEs que chega pela circulação sanguínea.
concentrações de amônia e ureia, dois compostos Animais que apresentam obesidade no momento do
que apresentam efeitos tóxicos para o oócito. parto são mais predispostos a desenvolver quadros
de fígado gorduroso no período de BEN. Essa
OCORRÊNCIAS SANITÁRIAS predisposição é decorrente do fato de apresentarem
A maioria dos casos de retenção de placenta está uma redução mais acentuada no consumo de alimentos
associada ao mau funcionamento do sistema e, consequentemente, maior mobilização de reservas
imunológico, e verifica-se uma alta correlação corporais.
entre retenção de placenta e infecções uterinas
puerperais. Estudos mostram que até 40% das vacas
de alta produção podem apresentar sinais clínicos de

Acima e ao lado: Vaca Girolando F1 no pré-parto


com escore de condição corporal igual a 3,75
(escala de 1 a 5). Observe a região das costelas (1),
os processos transversos das vértebras lombares
(2), o íleo (3), a inserção da cauda (4) e o ísquio (5)

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Na época do parto, as fêmeas bovinas devem apresentar Acima: Vaca Girolando 3/4 no pós-parto
reservas corporais suficientes para atender a sua com escore de condição corporal igual a
demanda nutricional, principalmente no período 3,0 (escala de 1 a 5). Atenção à região das
de transição. Obesidade, restrição alimentar e costelas (1), processos transversos das
mudanças bruscas na dieta no periparto são fatores vértebras lombares (2), íleo (3), inserção
de risco para a ocorrência de doenças metabólicas. A da cauda (4) e ísquio (5)
avaliação do escore de condição corporal (ECC) é um
método rápido e não invasivo de monitoramento da
saúde das vacas, que estima a quantidade de gordura
corporal acumulada em pontos específicos (costelas,
processos transversos das vértebras lombares,
inserção da cauda, extremidades do íleo e ísquio), como
apresentado nas fotos desta página e da anterior. A partir
dessa observação, os animais são classificados numa
escala de 1 (muito magro) a 5 (obeso). Recomenda-se
que o ECC no momento do parto seja de 3,0 a 3,5,
porém alguns pesquisadores reduziram este
intervalo para 2,75 e 3,0 para vacas de alta produção.
Independentemente do valor considerado como ideal, Obesidade, restrição
a perda de ECC não deve ser superior a 0,5 ponto alimentar e mudanças
durante o puerpério. Isto está diretamente relacionado bruscas na dieta no
com a gravidade do BEN e as consequências negativas periparto são fatores de
da obesidade, associadas à redução da ingestão de risco para a ocorrência de
matéria seca e ocorrência de doenças metabólicas. doenças metabólicas

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EVITAR A OBESIDADE E VARIAÇÕES NO
ESCORE DE CONDIÇÃO CORPORAL DAS
VACAS LEITEIRAS DURANTE O PERÍODO
DE TRANSIÇÃO É IMPRESCINDÍVEL PARA
PREVENIR A OCORRÊNCIA DE DISTÚRBIOS
METABÓLICOS E HORMONAIS
CONSIDERAÇÕES FINAIS positivos para a produtividade e fertilidade. Além
As alterações metabólicas induzidas pelo sistema do fornecimento de dietas balanceadas no pré e no
somatotrópico, para sustentar uma alta produção de pós-parto, o conforto térmico durante o período de
leite, afetam o sistema reprodutivo ao interferirem na transição também é importante para a saúde das
concentração e equilíbrio dos seus hormônios. Dentre vacas, minimizando os quadros de imunodepressão
outros efeitos negativos, as alterações metabólicas e e, consequentemente, as ocorrências de doenças
hormonais podem prejudicar o desenvolvimento dos puerperais.
folículos e a qualidade do oócito. Evitar a obesidade
e variações no escore de condição corporal das
vacas leiteiras de alta produção durante este período
é imprescindível para prevenir a ocorrência de
distúrbios metabólicos e hormonais, gerando efeitos Abaixo: O período de transição traz desafios
inerentes que devem ser bem manejados para
o animal voltar a reproduzir o mais rápido possível

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