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Palavras-chave
Água preta; fonte de água; húmus.
Áreas do Conhecimento
Química; Engenharia Química; Processo Industrial; Tratamento de água.
As águas dos rios da Amazônia são classi- elevado nível de acidez, inviabilizando a prática
ficadas de acordo com a sua coloração: a água da agricultura nas margens do rio. Os rios de
branca é barrenta; a água preta é marrom escura; águas claras possuem um valor de pH alto, sen-
e a água clara é esverdeada e transparente. A cor do, portanto, uma água mais básica. Possibilita
da água preta geralmente é causada pela queda a presença de uma grande variedade de espécies
de vegetais, frutas e de carcaças de animais na de vegetais nas margens do rio como também de
água, de modo que com o passar do tempo ocor- plantas subaquáticas. As larvas de insetos po-
re o acúmulo de sedimentos no fundo do rio, pro- dem se desenvolver nesta água mais básica re-
porcionando a tonalidade escura da água. A prin- sultando numa grande população desses animais
cipal característica da água preta é o seu alto capazes de polimerizar em locais distantes do
teor de acidez (baixo pH, na faixa de 3,5 e 6,0). A rio. A água clara possui minérios como sódio, po-
alta acidez da água preta é responsável pela pe- tássio, magnésio e cálcio, já a água preta possui
quena diversidade de espécies de árvores na minérios como alumínio, ferro, cobre, manganês
margem do rio, pois as larvas e os ovos dos inse- e zinco.
tos têm dificuldade de se desenvolver nesta água. Muitas pessoas relacionam os rios de água
Assim, a população de insetos nas proximidades preta da Amazônia à poluição. No entanto, o fato
do rio de água preta é reduzida drasticamente, de a água dos rios apresentar coloração escura,
favorecendo a homogeneidade de determinada semelhante ao café, é devido ao acúmulo de se-
espécie de vegetal na margem do rio. O solo pró- dimentos de materiais orgânicos, produtos da
ximo ao rio de água preta também possui um decomposição de animais, vegetais e insetos.
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Departamento de Engenharia Química, Instituto Militar de Engenharia.
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Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
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Esses materiais orgânicos são conhecidos
como substâncias húmicas. Quimicamente, as
águas escuras apresentam acidez elevada, bai-
xa quantidade de nutrientes e poucos minerais
dissolvidos.
Dificultando, assim, o desenvolvimento de
larvas de insetos e da diversidade das espécies
vegetais nas margens dos rios de água preta.
O solo das margens dos rios de água preta tam-
bém é ácido, pobre em nutrientes, o que
Igarapé Rio Negro
inviabiliza a prática do cultivo. Assim, justifican-
Figura 2 – Os húmus abaixo de solo
do o apelido Fome, dado ao rio Negro pelos
índios. O processo de conversão dos restos de ve-
getais em substâncias húmicas leva muito tem-
po na natureza. A degradação microbiológica ou
bioquímica de animais e plantas mortos fornece
substâncias não húmicas e húmus. Primeiramen-
te, os microorganismos sintetizam substâncias
químicas que possuem o grupamento amina. As
aminas presente no solo fazem reações com açú-
cares, quininas e ligninas modificadas gerando
complexos escuros conhecidos como substân-
cias húmicas. A figura 3 mostra a formação de
húmus.
O húmus
Degradação
As substâncias húmicas, também conheci- Microbiológica Bioquímica
das como húmus, são materiais orgânicos, re-
sultantes da decomposição de animais e plantas
mortos, que alcançam certa estabilidade, não Produtos da degradação Degradação
sofrendo mais degradação para moléculas meno-
res. Esse material orgânico de cor café sedimenta
Substância não húmica
com o tempo, formando camadas abaixo da su- Síntese húmus
Carboidratos
perfície do solo que podem ficar estáveis por sé- Ceras
culos e até milhões de anos. A figura 2 mostra Resinas
uma camada preta de substâncias húmicas
abaixo do solo. Figura 3 – Formação de húmus
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O húmus possui três membros: ácido Lignina
húmico, ácido fúlvico e humina. A humina é uma microrganismos
Celulose
e outras
mistura de substâncias húmicas insolúveis em
Aldeído, fenóis microrganismos
água; o ácido fúlvico é solúvel em água, tanto em
e ácidos
meio ácido quanto em meio básico; o ácido
utilização posterior Polifenóis
húmico é a fração principal do húmus, que são
por microrganismos enzima
substâncias húmicas solúveis em água, porém e oxidação a CO2 fenol-oxidase
Húmus
Figura 5 – Formação de húmus na natureza
Ex tração com base
Insolúvel Solúvel
Precipitado Não
Ácido húmico Precipitado
Ácido fúlvico
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A condensação de açúcar com amina tam- Química de ácido húmico no solo
bém forma produtos marrons.
O ácido húmico é um material orgânico
coloidal com grande quantidade de carbono e pre-
sença de grupos funcionais, tais como fenol, enol,
carboidrato e ácido carboxílico. A figura 9 repre-
senta estrutura de um ácido húmico.
Glicosil-amina
N-substituído
Amino de oxicetose
de-hidratação fragmentação
Polifenóis Polifenóis
Quinomas Quinomas
Figura 8 – Principais vias de formações de substâncias húmicas Figura 10 – Ação de acido húmico no solo compacto
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Os húmus, por intermédio de seus grupos camada de barro. As camadas de barro se repe-
funcionais carboxílicos e fenólicos, atuam em solo lem ocorrendo a desagregação do barro e os
com diferentes acidezes. Pela ligação hidrogênio micronutrientes saem do ácido húmico e se
ele segura a água no solo e, através da quelação deslocam para as membranas das raízes.
com íons metálicos, neutraliza o solo, liberando
os nutrientes para o solo e, assim, melhorando a
qualidade da terra. As figuras 11-13 mostram a
agregação de ácidos húmicos no solo e sua
atuação no barro agregado carregado com íons
positivos por grupo funcionais.
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de húmus nos solos garantem um aumento na Francisco, onde o cultivo de uvas se destaca.
produtividade em 18%. O uso de ácido húmico Neste local, mais da metade dos agricultores uti-
está em evidência na Região Nordeste do Brasil, lizam o ácido húmico, que vem alcançando um
principalmente nas proximidades do Vale de São aumento na produção próximo de 30%.
Referências
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