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Jose de Xerez Fuma Uchóa
[1 INTHUDUBTUH lll] CAFÉ NU EEAHÁ

José lle Xerez Furna Uchôa foi fillao de Capitão


Francisco (lc Xerez Fnrna, Juiz de Orphãos e natuml :le
Goyanna, e ¡le sua nlulher D. Ignez (le Vasconcellos
Uchôa. Por todos os ramos é -José (le Xerez oriundo
(las mais nobres, amigas e (listinetas familias quer do
Brazil Colonial, quer mesmo de 1'ortugal, o que se pode
verifiear não só com a leitura escrupulosa <l`estas Me-
morias (*) e de clocnmentos authenticos que ainda existem,
como tambem com n testemnnllo (le um grande numero
de pessoas, que ainda vivem e que estão versadas no.
materia. Í
Descende elle por via paterna da dìstincla familia
Xerez, (de orìgem hespanhola), por seu avô, o Capit-ão
¡__.í¢.;-_-í

(') Refere-so ás Menlorías. Genoalogicee escriptas pelo pro-


prìo Caplt-ão-mor Jose de Xerez, as quaes se consorvam no m'el1ì\'u
¡lg ƒgmfilg Llnhareà.
'__ .
no lssrrruro no csaal G7
ïsartholomen Rodrigues de Xerez, que em 1703 residía
em Olinda e era filho de Joao de Xerez, ambos tidalgos
cavalleiros da Casa real e naturaes de Lìsbôa; e da nobre
familia Vaz Carrasco, por sua ave, D. Eugenia Vaz da
Silva, neta de Sebastiao Vaz Carrasco, nobre Oiindense,
e irmã de Francisco Vaz Carrasco, cavalleiro da ordem
de Christo e Padre depois de viuvo. _
Foi este Francisco Vaz Carrasco Capitao de Orde-
nanças de Ipojnca por patente datada de 26 de Agosto
de 1666, que se acha registrada no Livro 2.” da Secretaria,
á folha Se ve d`este documento regio ainda uma vez
comprovada a nohreza d'osta familia, que muito honro-
samente se porton na guerra hollandeza.
Por via materna é elle descendente das nobilissimas
familias Uchoa, Góes e Vasconcellos, I-Iollanda, Albuquerque,
liyra Pessoa, Sá e Oliveira, Vaz Carrasco e entras e por
todos os lados aparentado com os Lins, Cavaloanti, Rego
Barros, Paes Barreto, Barros Pimentel, erntim com as
principaes familias das antigas capitanìas da Bahia, Ala-
göas, Pernanlbuco, Parallyba, Rio Grande e Ceará.
Descende da familia Ucllôa nor ser 2." neto de
Sargento-inór Francisco de Farías Ucl1öa, filho de Marcos
andre. fidalgo da Casa Real, e de sua lunlher D. Maria
de Mendonca Uchoa, irinã do Mestre de Campos Gaspar
de Souza Uehoa, 2,° d`este nome, fidalgo cavalleiro da
Casa Real por Alvará Regio de 20 de Abril de lülô e
filha de Gaspar de Souza Uchüa, 1.” d'este nome, que
por seus altos feitos e serviços relevantissimos na guerra
l1ollandeza` foi tomado no foro de fidalgo eavalleiro da
Casa Real pelo Conde de llagnuolo e Duarte de Albu-
querque, o que foi confirulalo por Alvará Regio de 28
de Marco de 1640, que vent transcripto no filn (lo Livro
2." d`estas Memorias. Era este Gaspar de Souza Uchôa
fillio de Simao Borges, fidalgo da Casa Real e ambos
natnraes de llaçãs, em Portugal. Por padrão regio de
20 de Marco de 1703 Gaspar de Souza Ucl1ña,3.° d`este
nome, fidalgo cavalleiro da Casa Real por Alvará Regio
de 20 de Março de 1699, foi remunerado com a tença
annual de 483000 réìs pelos grandes serriços feìtos 'ciu-
63 nsvtsm ratitausan
rante a guerra liollandeza por seus pai e arö, os referidos
Gaspar de Souza Uchoa, guerra em que muito se dis-
tinguiram. Com forças de infantaria. Gaspar de Souza Uellôa
aprisionou a náo almirante hollandeza, por elle posterior-
mente entregue em perfeito estado ao Vedor Geral da
Armada. 1
Vido seus titulos, que são honrosissimas fés de of-
ficio.
Descende dos Iiollanda, por ser elle :').° neto de
Arnaut de Hollanda, que cliegon ao Brazil a 12 de Marco
de 1550, e era filho de Henrique de Hollanda, lšarão de
Rhenoburgo, descendente ein linha recta e legitima. dos
Condes de Hollanda, antigos soberanos d`esta Naçao, e
de sua mulhcr Margarida de Florencio, irinã do Papa
Adriano GP, que snbin á Cafleira de S. Pedro a 9 de
Janeiro de 1522, tendo sido anteriormente, por diversas
vezes, Vice-Rei das Hespanlias, em nome do Imperador
Carlos V, de quem foi o mestre, i)`este excellente Papa
dá-se circumstanciada noticia no começo do Livro 1.”
das suas Memorias.
Descende o Capitão José de Xerez da familia dos
Góes e Vasconcellos, por ser tainbem, segundo vimos,
5." neto de D. Brites Mendes de Vasconceilos, mnllier
do referido Arnaut de Hollanda e fiilia de Bartliolomeu
Rodrigues e de sua mulher D. Joanna de Góes e Vas-
concellos, Dama da Rainlia D. Catliarina, mnlher de I).
João 3.”
Descende da nobilìssima familia dos Albuquerque por
ser D. Joanna de Goes e Vasconcellos Íillia de Francisco
de Alouquerqile e Vasconcellos, que foi filho de D. The-
reza de Albuquerque e de Pedro de Goes e Vasconcellos.
Esta D. Tliereza de Albuquerque era filha de D. Leonor
de Aliçiuquerque e de João Gonçalves de Gomide, ambos
da mais iilustre e antiga linhagem. Bartliolomeu Rorlrigues
foi lidalgo da Casa real e Camareiro-mór do Infante D. Luiz,
filho do Rei D. Iilanoel. D. Ignez de Vasconcellos Ucliôa, mai
de Xerez,foi neta de D. Anna de Lyra Pessoa, que era neta de
Pedro Afïonso Duro, fidalgo da Casa Real e do Conselho
de S. Magestatle, e de sua inulher, D. Magdalena Gon-
Do msrirnro no of-:.~.n.( 69
calves Pessoa, filha de Diego Martins Pessoa. O Oapitào-
mor José de Xerez era como seu paì, natural de
Goyana; por-em tendo este fallecido retirou-se elle com
-sua mai para o Gaara. á cujo excellente clima ia ella
pedir o restabelecimento de sua saude. Nao querendo
porem residir em lugar d'onde se nd) visse a agua ,sal-
gada, eseollieu para sui residencia uma sìtuação retirada
cerca de duas leguas da ribeira de Acaracú, onde havia
uma lagoa alimentada pelas aguas das altas muros. Mor-
rendo sua mae, retirou-se José de Ã-erez para a villa de
Sobral; residía. poreni, a maior parte do tempo em seu
formoso sitio S. Ursula, sobre a serra da Meruoea, onde
construiu um bom engenho de moer canna, todo o ma-
cliiuismn para a prepamção da farinha de mandioca e
a casa de 1noradia.acl1audo-se tudo ainda hoje como elle
deixon, não se tendo mudado uma so fechadura, nem
uma chavo; nem mesmo uma so tellia fora ainda remo-
vida da coberta da casa até o anno de 1875. Ali ainda
se consewão as enormes cadeiras de sola. onde foram
grarados em grande relevo seus brazoes; diversos bau-
eos de madeira e mezas; o seu tinteiro e até uma. grande
bengala de brajaiiva, com que costumava elle ir visitar
e examinar' suas plantaçoes. A tinta de papeis por elle
escriptos em 1730 ainda está perfeita e essa tinta era
por elle prepara_da.
A' frente da casa lia nm grande terreiro que á pes-
soa algnma permittia o Capitan-mor Xerez trauspor a
cavallo ou com 0 cllapeu ua rabcça: qualquer que fosse
o cavalleiro apear-se-liia antes de entrar u`elle e de ca-
beça descoberta deveria demandar a casa.
Era o Capitão-mor Xerez muito zeloso de seus
foros de descendente de hoa casa e tanto que pnnlia
difficuldades em aceitar por genros pessoas das mais
consideradas de Sobral, como o Gapitão-mor da mesma
villa Manoel José do Monte, o Tenente Coronel de Ca-
rallaria Antonio Manoel do Monte, e o Capitão Antonio
Ah-'es de Hollanda C-avalcanti, que, para tornarem-se seus
geuros, tiveram de raptar as moças com quem easamm.
70 nnvtsrr ratnnnsst
se, apezar das grandes precauçöes tomadas por Xerez.
a ponto de 'sua casa parecer mais um claustro do que
uma habitação de sitio na serra. ¿ _--L

Em uma esplendida noite de luar, como seem ser


as do Ceara, dirigía--se Xerez de Sobral para S. Ursula,
subirdo a ladeira da Meruoca, quando se encontrou com
deus cavalleiros e duas damas que o cumprimentaram e
por deferencia cederam-ll1e"o lugar de cima, o que elle
agradecen, sem receïihecer os nocturnos viajantes. Erao
estes o Gapitão-mor Manoel do Monte e seu filho Ten.°
CF' Antonio de Monte com as filhas de Xerez D. Anna
America Uchoa, que casou-se com o 1.°, e D. Francisca
Xavier de Mendouça Uchoa. que casou-se com o 23°, rapto
de que elle so tere conhecimento no dia seguinte, á hora *Q

do almoco, pelo que mostrou-se muito agastado, apezar


dos muitos protestas de respeito e consideração, que os
dous raptores lhe dirigiram, pedindo permissão para se
effectuar es casamentos, que logo tiveram lugar.
O zelo que elle tinha pela »distincção da familia a
que pertencia, e sobretzt-de es idea-s de tempo em que
ría fizeram com que elle ligasse a maior importancia ao
que propalava um de seus desaffectos: ter Xerez, stmgztc
de clzrfistãïo -none, por una de seus asco-irritantes, peto que
su/rr farndiía todo tz-:tha 0 -ozereei-mento que eííe preíerztiztr.
Foi esta accusação, _r¡r¬az-issiina ct seas elites, que elle "l
quiz desmentir escrevendo suas Memorias genealogicas,
que lhe consumiram 12 longos annos de um trabalho
assiduo e enfadonho, e despezas avultadissimas; estes 12
annos elle empregon quasi que exclusivamente em em-
mirza-›' riocum-cie-tos, rene-r todos os ccmforirs, rcr›oZi=cr todos
es archivos das capitanias da Bahia até o Geará e muitos
da metropole, combi-azar cïarorzoiogias, conheccr o pesando,
"H
como diz elle mesmo na Genealogia de-sua mae D. Ignez
de Vasconcellos Uchoa, trabalho este muito interessante.
Como mostra a leitura de suas Memorias esforçou-se elle
por não deixar de citar nina so pessoa da familia ou com
ella aparentada, pertencente ao Clero, a alguma Irman-
¡lade ou Qrdem Religiosa, de preferencia, nae-$1110 8. qll&e§~ `?
no fssrirtrro no ami-if 71
quer outros titulos, porque parece que estas estavüo acima
de qnaiquer suspeita ou duvida, por concessoes ou pri-
vilegios que lhes fossem particularmente peculiares, en-
nobrecendo o habito a quem o vestía. Nao queria elle des-
cender de indio, nao-nro, joden ou de qualquer' entre rara
reprorada cm dirciio c corzsiderada deshonrosa, declara
elle. Estas cousas nos tempos actnaes, como em ISTS,
são anachronicas, sobretudo no pensar dos que não co-
nlieceram ou não ousão nomear os paes de seus paes;
mas lh`as devemos relevar, porque em seu tempo erão
da maior importancia: sirva-lhe ainda de compensaçiìo o
ter sido muito caritativo; protector dos pobres. que elle
não deixava opprimir injustamente; amigo da justiça, que
elle não inl`ringia por consa alguma no mundo, como
teve muitas occasioes de provar; trabalhador infatigavel no
service publico, de que nunca recebeu rernuneração al-
guma pecuniaria e por todos estes motivos e suas ina-
neiras atfaveis muito estimado e respeitado; seu amor á
justiça, porem, custou-lhe muito caro, como d`aqui a pouco
veremos.
Gloria muito mais subida e invejavel coube ao Ca-
pitão mor Xerez, qual ade ter sido o 1.” introdnctor
do cafe na Capitanía do Ceará senïio no Brazil, como pa-
rece certo.
Vinilo a Portugal. pela 1.” ou 2.” vez, resolveu ir
visitar Pariz. que já entao era considerada a mais famosa
das cidades. a cidade chefe, o coracão de mundo civili-
sado. como Roma fora a cabeca.
Nutiindo desejo ardente de ver de parto os esplen-
dores da Corte de _Franca, onde então ainda reinava Luiz
1:3, partiu de Lisboa José de Xerez mnnido de recom-
mendaçoes das mais distinctas pessoas, o que lhe valen
ser muito bem acceito, obtendo até a honra, entao muito
cubiçada, de ser incluido n'uma apresentação a Corte de
Versailles; porem cousa muito melhor do que tudo isto
obteve elle, graças parece que ao Duque de Choiseul. e
foi arranjar duas peqnenas plantas de café, das existen-
tes no Jardim das Plantas, de Pariz, desceudentes de
J'
te naviera ri'-afiisnszt
outros dous pés trasidos de Moka por marinheiros de
Hollanda e por esta nacão offerecidos a Luiz 14, que
os manden para e dardim das Plantas.
Dos dous pos que conseguía Xerez, pequenos e mes-
quinhos, um morreu na longa travessia e o outro, apoz
trabalhos e fadigas sem ceuta, plantou-o elle no seu já
referido sitio de S. Ursula, n'um ligeiro declive do ter-
reno, atraz da casa de moradia, onde o auctor d'estas
linhas, 3." neto de Xerez, 0 viu muitas vezes, anterior-
mente ao anno de 1861, ainda carregando extraordinaria-
mente em certos annos, apezar de ter uns cern annos (_*),
ponce mais ou menos, graças aos cuidados de genro de
Xerez, Sargento-mor Francisco Antonio Linhares e do
genro e sobrinho (Peste, Tenente Coronel Joaquiin José
Alves Linhares, que lhe succederam no dominio do sitio,
de que é hoje (1878) proprietario o Major Ivo Francisco
Linhares.
Foi este pé de café senão o pai de todos os cafesaes
do Ceará, como muitos affirmão e parece provar o facto
de ser o café do Ceará de qnalidade Moka, com toda
certeza o mais antigo, o primeiro que alli foi plantado.
A epocha da introducção da primeira planta de café
no Ceará, facto este devido ao Capitão-mor José de
Xerez Furna Uchôa, remonta ao anne de 1748, senão
ao de 1747.
Nem somente ao café se limitou a rara sollicitude
de Xerez por seu paiz durante esta sua memoravei via-
gem a Europa: foi elle __o primeiro que introduziu no
Ceará, ha mais de cento e vínte e cinco annos com cer-
teza, a parreira, a mangueira, o tamarineiro e outras ar-
vores frnctiferas. Em S. Ursula ainda se voem os gros-
sos esteios de aroeira, que serviram para as latadas das
.._._.í._-._-¬-._

(*) Em 1868 estivemos na villa da Parahyba do Sul, provincia


do Rio de Janeiro, na fazenda . . . . . .. propriedade de Capìtao Simao
Dias dos Reis. onde este agricultor, um dos mais illustrados que
temes encontrado, mostron-nos um grande cafesal, á esquerda da
casa, tendo mais de 80 annos, no seu dizer.
no Insrrrtrro no onanl 73
parreiras; mangueiras muito mais que secnlares ainda
vivem ali, onde havia tambem um velho tainarineiro, que
ainda chegamos a ver, tendo tudo isto sido plantado por
Xerez, que pouco a ponce foi espalhando caroços e mudas
por todo Ceará e outras capitanias. `
Querem muitos que anteriormente a estas plantacoes
feitas por Xerez, em terra alguma brazileira houvesse
rinda semelhantes arvores fructiferas; porem nao pode-
nos affiançar aqnillo de que não temes toda certeza.
Quanto a parreira já existia nas capitanias do Sun'I
nos parece.
Ainda nãoé tudo. Foi Xerez que trouxe para o C-cara,
poderiamos dizer para o Brazil, a arte de en:-:ertar mua
planta n`outra, tendo elle ieito em S. Ursula innumeros
enxertos, ha mais de cem annos, como ao auctor d'estas
linlias o affirmaram, por muitas occasioes, o Ten.” GF'
Joaquim José Alves Linhares, Capitan Vicente Alves Li-
nhares. Major Ivo Francisco Linhares, Tenf* GFI Joaquim
José Alves Linhares, 2.” d'este nome, e Of' J ese Camille
Linhares, seu aro, pai e tios, alem de muitas outras pes-
soas de toda snpposição.
Actualmente é isto uma cousa muito comesinlia.
e-nscerter uma planta n'ozrtm,' porem, ha mais de cento
e vinte cinco annos, era inacreditavel. fabulosa, perten-
tosa! Na Europa mesmo erão então muito raras as pes-
soas que conheciao esta arte admiravel. Em Paris apren-
den-a Xerez. Ja teria havido algnem que anteriormente
a tivesse pesto em pratica no Brazil? Pode ser; mas
nos parece que não; em todo caso ainda não vimos re-
ferencia a isto em nenhuma das Memorias do tempo, que
nos tem vindo ás mitos. Ainda fez Xerez outros melhora-
mentos ao paiz; mas não os referiremos, para nao tor-
narmos-nos enfadonho.
Digamos agora algumas palavras sobre a vida po-
litica d`esse homem notavel, que se chamou José de
Xerez Furna' Uchoa.
Como vimos em suas Memorias, occnpou elle na villa
de Sobral os cargos de .Iuiz Ordinario, Juiz de 0rphãos¡
74 naviera rnriirsrtsat
Vereador da Camara por muitas vezes e Capitão~mor; ac-
crescentaremos que elle e:-tercen' entre seus conterraneos
a maior influencia possivel nos tempos de entao. prevale-
cendo geralmente, nas decisoes a tomar-se, o seu modo
de pensar. Tanibetn elle sempre cliamou a si toda res-
ponsabilidade dos seus actos on daquelles que olle aren-
selhava, quaesquer que fossom as conseqnencias, que po-
diäo ser terriveis para quem vivia sob um Governo des-
potico, arbitrario, absoluto emfim.
Anteriormente a iiistallação da villa de Sobral a
Rainlia 1). Maria 1.” conccdera varias datas de terra na
Mernora. scrra fcrtilissima e distante dnas leguas de
Sobral; installada a villa deste nome a lo de Julho de
1773, a Camara Municipal pediu que lhe fosse dada por
patrimonio a referida serra da Meruoca, ao que acceden
o Governador do Cearti, que n`este sentido manden as
competentes ordens. Xerez e diversas outras pessoas de
Sohral das mais consideradas resolvcram oppor-se ao cum-
primento d'estas ordens, por elles tida como illegaes, por
estarem em inteira desharmonia com as ordens e con-
cessoes regias. Reiterando o Governador suas ordens,
ameacando com prisão aos que impedissem o sen cum-
primento, os opponentes rccalcitrarao, allegando que -mìo
c2m2¿rJi'í(`io es ordena de Goi'e-metìoi' por c-ntenderenz ser
rtbsurn'rr sua- prctcnçdo de dt-:›¬.s-frrtir' co-nccsmdcs fe¿'¿tts por
S. JI. tt Itrtzirehrt c rcregm' tÍec¡so"c.s por elle- !o›rzrrtlns,°
gn'-fr effes nde crdo Ítomcns rr- .s2{jc:'fo2'er›¿--se ft ordena no-
rn›v1us,- que mesmo prín ,po.sz'ç-do, que of-t-n¡›om. pos-1';-de
d'ct'e`t!n ¿m.¡crtntc›n'c tí bencrolcncíe de S. ,l[tr_qcsirrdc, daría
ser elle Gener-rr-oder' 0 prr`me'¿-ro ri. rlru' o c.rfcm_plo de prompto
ctrinpiírøzenlo es ordena r'eyf`rts, etc., etc.
O Governador manden-os prender; todos fugìram c
depois retrataram-se; Xerez, porem, rejeitando os con-
sellios, que lhe davâo, de proceder do mesmo modo. es-
peren impassivel cm sua casa o official (Tenente-Coronel),
encarregatio de prende]-o. Este ali apresentou-se a noite,
ás occnltas, e pediu-lhe que fugisse. por que sua con-
¡_1emna$ao era certa e a pena muito severa. «.\'äo, Sar
no INSTITUTO 'Do oeanií 75

Ten.” Goro;nel,- -não poseo, :não fiero e nena que-ro fugír,


porque -m-2'-n¡¿-o, df¿_g›tv`d(tde mfo vmpede; cat-mpra an orfleiàs
que tene, sejffto games forem as conscqrreit-cía-s.»
Retirou-se o offieial e no dia seguinte veio effectuar
a prisão, levando-o para Fortaleza, cabeca da Capitanía.
e onde residía o Governador, sem faltar jamais a menor
deferencia para coin o prezo, em vez de algemal-o, como
tìnha ordem, ordein que desde logo elle declaren não
etllnprir.
Levado a presence do Governadoi', diz-lhe eete:
<~< Sm'. Cofpitfìo-mó›', aqzr-¡Í eetão os ofl'Éot`-De rtes2`gnttflo.s por
V. SÍ* _: são es ¿miooo promo, que tenlao, de sue a'ebeH¿fão,-
msgrfe-os e cZeela›°e deso:pp2'oz;an' o que se fifix, ein Sobra-Z
.e tu-do está eoctbo(¿o.›› Jnlgando-se oflendido com ae pa-
lavras da autoridade, exclama o prezo com vehemencia:
« O SUM”. Gonerimrlor es-¿tí erL_t}(¿›z(t(lo,- o Cftpiífïo-1-nor José
de Xerox, Fzmta Uchôa -não engolc jctm-o¿.s aq-zttfílo que
i'o:m;-of ›› O Governador vendo não poder vencer os. ee-
titnulos do brioso 1:-rezo, 'remetteo-o para Pernatnhttco,
d”onde foi para a Bahia e ali foi coudemnado a sete
annoe de prizão com trabaihoe em Podras Brancas, n`-
Afriea; porern, no fiin de dous aunos de prizão seus pa~
rentes e amigos, na Bahia, donde não passou, conse-
guiram a cotntnutação da pena de degredo por quinze
mil cruzados e bem assim a de prieão, Sendo-lhe, porem,
vedada a entrada na capitania do Ceará por mais cinco
annos, resto do tempo da sentença, que lhe fora iinposta.
D`estas despezas indemnisou Xerez seus patentes e
amigos, ficando quasi sem cousa alguma.
Regreseando ao Ceará, ia Xerez mnnido com ordetn
e poderc3 do Vice-Rei do Brazil para mantlar prender
Sens inimigoe e pereeguidoree, o que por generosidade
deixou de fazer, generosidade de que logo teve occaeìão
de arrepen'der-se. por quanto cm 1789 retirou-se para
Pernambuco, onde conserven-se tree annos, para evitar
noves perseguiçöes e intrigas de que estava Sendo alvo.
En; 1792 voitou para 0 Coará, não sobrevìvelldo por
76 naviera ramnnsmz
muito tempo a este facto. D`eile existe descendencia tão
numerosa, que talvez mesmo na provincia do Ceará não
haja maior, no periodo que lhe é relativo. -›-r-
--

Ets os dados que podemos colligir sobre este ho-


mem extraordinario, que se chamou José de Xerez Furna
Uchôa, Gapitao-mor de Sobral por Carta Patente de D.
Maria 1.“, de 30 de Jullio de 1782 e auetor do 1.° vo-
lnme das Memorias Genealogicas dos descendente-s de
Arnaut de Hol1anda,traha1ho curiosissimo e não despido
de importancia, por se referir a nm periodo de perto de
quatrocentos annos
Rio de Janeiro, 25 de Dezembro.

I\1a1voeL no N. Ames LJN1-mans.

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