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Ronaldo - Penteado - Teoria - Analise - 3a Sinfonia de Mahler PDF
Ronaldo - Penteado - Teoria - Analise - 3a Sinfonia de Mahler PDF
Resumo: Este trabalho apresenta argumentação, justificativa, técnicas de análise, síntese da bibliografia
fundamental e contextualização histórica de uma pesquisa de mestrado recém iniciada, cujo foco
principal consiste em analisar o primeiro movimento da Terceira Sinfonia em Ré menor de Gustav
Mahler, traçar o desenvolvimento da Forma Sonata nas décadas finais do século XIX e iniciais do
século XX, assim como verificar a contribuição da obra de Mahler e de concepções estruturais do
Romantismo Tardio ao desenvolvimento estrutural da Forma Sonata, que tornou possível a adaptação
de novos materiais e técnicas composicionais a esta forma no século XX.
Palavras-chave: Gustav Mahler; Análise musical; Forma Sonata; Romantismo Tardio; Música do
século XX.
Formal Structure and Thematic Relationship in the First Movement of Symphony nr. 3, by Mahler
Abstract: This work presents the arguments, justification, analytical techniques, main bibliography
synthesis, and historical context of a master's degree research recently started. Its main focus is to
analyze the first movement of the Third Symphony in D minor by Gustav Mahler, to trace the Sonata
Form development at the final decades of Nineteenth-Century and the early decades of the Twentieth-
Century, as well as verify the contribution of Mahler’s work and the structural conceptions of Late
Romanticism to the structural development of Sonata Form, making possible the adaptation of new
materials and of compositional techniques to this form in Twentieth-Century.
Keywords: Gustav Mahler; Musical Analysis; Sonata Form; Late Romanticism; Twentieth-Century
Music.
1. Introdução
Dentre os diversos aspectos inerentes à música do século XX, podemos citar três
parâmetros cuja expansão foi crucial para a busca por novas sonoridades no início do século:
forma, ritmo e harmonia. Paul Griffiths chega a associar o termo “revolução” ao referir-se a
estes parâmetros - respectivamente, em Jeux (1912-13) de Claude Debussy, A Sagração da
Primavera (1913) de Igor Stravinsky e Drei Klavierstücke, op. 11 (1909) de Arnold
Schoenberg: “com estas obras completavam-se os alicerces da música moderna, pois as
aventuras harmônicas do atonalismo de Schoenberg eram igualadas em audácia e influência
pelo novo manancial rítmico revelado na Sagração e a liberdade formal de Jeux.”
(GRIFFITHS, 1998: 38).
Esta revolução, porém, não corresponde a mera ruptura, mas a um esgotamento de
possibilidades harmônicas tonais. Na segunda metade do século XIX, a harmonia cromática
de Richard Wagner (1813-83), vista por seus contemporâneos como o ponto de partida para
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uma nova fase da tonalidade, trazia consigo uma dilatação que a tornava pouco condizente
com as formas que dependiam de estruturas harmônicas tonais.
Tomemos, então, como exemplo a Forma Sonata. Segundo o musicólogo Charles
Rosen, em seu livro Sonata Forms (1988), na forma comumente estabelecida “a Exposição de
uma Forma Sonata apresenta o material temático e articula o movimento da tônica para a
dominante [...]” (ROSEN, 1988: 229). A modulação de um tema à tônica para outro, à
dominante, ocorre em uma parte específica chamada ponte modulante. A seção central da
forma, chamada Desenvolvimento, é onde os temas que foram apresentados na Exposição
sofrem uma série de transformações. Dentre as diversas possibilidades de variação temática
podemos citar fragmentação, intersecção, reapresentação em nova textura e timbre, e
articulação simultânea de dois ou mais temas. A seção do Desenvolvimento é caracterizada
por constantes e rápidas modulações. Na Reexposição, a terceira seção da forma, os temas A e
B são reexpostos, ambos à tônica. Rosen nos chama a atenção para o fato dos temas não
serem literalmente repetidos, havendo “uma reinterpretação do padrão da exposição"
(ROSEN, 1988: 284).
A estrutura da Forma Sonata nasceu sustentada pela harmonia. Porém, com a
expansão da tonalidade na segunda metade do século XIX, passou a haver a possibilidade de
um tema começar em uma tonalidade e modular diversas vezes, sem que fosse necessária a
existência de uma forte cadência de confirmação. Assim, a própria apresentação temática
começou a ganhar características de Desenvolvimento. E, sendo o próprio tema modulante e
instável, partes como as pontes modulantes muitas vezes se tornaram desnecessárias.
Com isto, as estruturas formais já não dependiam unicamente da harmonia, o que
colocou em risco a própria forma. Mas se a forma estava em risco, como a coerência do
discurso musical pôde ser mantida?
Uma resposta foi dada por Franz Liszt (1811-86) que, apesar de ter levado a
dimensões inusitadas a estrutura da Forma Sonata na Sonata para piano em Si menor (1854),
buscou suportes literários para o desenvolvimento temático musical, com base na experiência
adquirida ao compor obras como os 13 Poemas sinfônicos (1848-82). Nesses casos, a leitura
de um programa previamente apresentado prepara para a escuta dos temas e
desenvolvimentos, cuja composição procurou “‘traduzir’ musicalmente imagens narrativas”
(GRIFFITHS, 1998: 13). Richard Strauss (1864-1949) levou adiante a ideia de poema
sinfônico em obras como Assim Falou Zaratustra (1891) e Uma Vida de Herói (1898).
Um caminho alternativo ao discurso narrativo de compositores como Wagner,
Liszt e Strauss foi o da primazia formal de compositores como Johannes Brahms (1833-97) e
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César Franck (1822-90). Na segunda metade do século XIX, estes compositores optaram por
manter a forma e deixar que a estrutura temática sobressaísse sobre a harmonia.
Para ilustrar este pensamento, tomemos como exemplo o segundo movimento da
Sonata para Violino (1886) de Franck, cuja estrutura da Forma Sonata é bastante expandida.
Na Exposição, o grupo temático A (comp. 4-43), é apresentado em Ré menor com
progressão harmônica fortemente cromática que lhe confere característica própria de
Desenvolvimento, além de constituir-se numa pequena forma a-b-a’. O pequeno trecho de
quatro compassos que conecta o grupo temático A ao B (comp. 44-47), não constitui uma
ponte modulante propriamente dita, funcionando apenas como um elo preparatório, por não
estabelecer harmonicamente uma cadência à dominante do grupo temático B. No grupo
temático B (comp. 48- 80.2), a tônica é afirmada somente uma vez, na cadência do comp. 78
(com uma pequena extensão até 80.2) e em Fá menor – o que nos surpreende, pois
esperaríamos uma cadência em Fá Maior, tonalidade relativa de Ré menor.
Uma vez que a harmonia é instável, o que determina as divisões da Exposição são
os temas. A Reexposição, iniciada no compasso 138, repete o mesmo esquema formal da
Exposição, com centro Ré, e uma breve Coda conclui o movimento1.
Este exemplo da Sonata de Franck ilustra como alguns compositores optaram por
manter o pensamento formal, deixando a questão temática se sobressair à harmônica. Uma
vez que a harmonia deixou de ser o suporte convencional formal, aspectos de textura, como
densidade, além de timbre e aspectos rítmicos são trazidos também ao primeiro plano
estrutural.
O ápice destes processos puderam ser notados nas duas últimas décadas do século
XIX e na primeira do século XX, período chamado de Romantismo Tardio. Assim como o
ponto culminante do desenvolvimento do poema sinfônico se deu nas mãos de Richard
Strauss, o auge da harmonia tonal altamente expandida e com sólida estrutura formal
verificou-se na obra de Gustav Mahler (1860-1911).
Em sua época, Mahler se destacou como regente. Como compositor, iniciou sua
carreira escrevendo lieder, dentre as quais podemos destacar Das Knaben Wunderhorn (1887-
1901), cujas canções podem ser encontradas em algumas de suas Sinfonias – seu principal
meio de expressão. Segundo o crítico musical Michael Kennedy, a linhagem sinfônica
germânica de Joseph Haydn (1732-1809), Franz Schubert (1797-1828), Ludwig van
Beethoven (1770-1827) e Anton Bruckner (1824-96) teria atingido um apogeu com as nove
Sinfonias de Mahler (KENNEDY, 1988: 84 e 90). Sua conduta harmônica na obra sinfônica
contribuiu fortemente para a dissolução da tonalidade, de maneira que Arnold Schoenberg
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Ex. 1: Parte da melodia do trombone solo (comp. 166-182), que se torna a principal característica
temática na recorrência do grupo em Ré menor - já variado e desenvolvido na Exposição.
Ex. 2: Parte do trecho em massa sonora executada pela seção das cordas (comp. 605-610).
Juntamente com fragmentos temáticos em contraponto, formam uma textura em camadas,
funcionando como clímax do Desenvolvimento.
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2. Objetivos e justificativa
Referências:
ADLER, Samuel. The Study of Orchestration. 3 ed. New York: W. W. Norton and Company, 2002.
ALDWELL, Edward; SCHATER, Carl. Harmony and Voice Leading. 3 ed. Belmont: Thomson
Schirmer, 2003.
BARFORD, Philip. Mahler: sinfonias e canções. Rio de Janeiro: Zahar Editores S. A., 1983.
BERRY, Wallace. Form in Music. New Jersey: Prentice-Hall, 1966.
BERRY, Wallace. Structural Functions in Music. New York: Dover Publications, 1987.
DUNSBY, Jonathan; WHITTALL, Arnold. Análise musical na teoria e na prática. Tradução de
Norton Dudeque. Curitiba: Editora UFPR, 2012.
FRANCK, César. Violin Sonata in A major. Moscow: Muzgiz, 1979. 1 partitura.
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Notas
1
Nestas observações a respeito da Sonata para Violino, II, de Franck, não nos referimos a parâmetros como
densidade, timbre e orquestração, dinâmica e articulação, tempo, métrica e rítmica. No entanto, em nosso projeto
de pesquisa estes aspectos serão amplamente considerados na análise musical.
2
Quando buscamos informações sobre estas sinfonias ainda encontramos explicações programáticas para os
movimentos puramente instrumentais dessas obras. Este tipo de abordagem parece ter sido uma tendência de
autores que abordaram a obra de Mahler até finais da década de 1980. A partir da década de 1990 esta tendência
começa a mudar e as obras de Mahler passam a serem objetos de exame analítico (conforme relato de Kaplan,
1996: 213, na bibliografia que acompanha este pôster). Atualmente, a abordagem da obra de Mahler conta com
uma gama de explorações analíticas estruturais. Nosso projeto de pesquisa visa contribuir ao fluxo de pesquisa
atual de como Mahler estrutura o primeiro movimento de sua Terceira Sinfonia.